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O MUSEU COMO POSSIBILIDADE DE ESPAÇO PARA FÉRIAS ESCOLARES

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Academic year: 2022

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O MUSEU COMO POSSIBILIDADE DE ESPAÇO PARA FÉRIAS ESCOLARES

Alunas: Gabriela Campolina, Letícia Diniz, Marcella Schmidt, Maria Vitória Mariz Orientadora: Cristina Carvalho

Introdução

Com o objetivo de refletir sobre os temas da infância e da formação cultural infantil em espaços não escolares, o presente trabalho é um recorte da pesquisa institucional “As crianças e os museus da cidade do Rio de Janeiro: conhecendo estratégias educativas e repensando uma pedagogia museal para crianças”, realizada pelo Grupo de Pesquisa em Educação, Museu, Cultura e Infância (GEPEMCI). O GEPEMCI é composto por pesquisadores, professores, estudantes de graduação e de pós-graduação que promovem discussões no campo da educação, cultura e sociedade, buscando investigar questões relativas aos espaços museais e suas estratégias educativas, principalmente, para o público de crianças de zero a seis anos. No ano de 2015 foi aplicado pelo GEPEMCI um questionário aos museus e centros culturais do município do Rio de Janeiro com o intuito de ampliar essas discussões e conhecer as atividades oferecidas ao público geral - e particularmente o público infantil -, a estrutura de funcionamento mantida por essas instituições, os agentes que neles atuam e as estratégias pedagógicas desenvolvidas nestes espaços.

É através da instituição escolar que as crianças mais frequentam os museus. Os estudos sobre o público infantil nas instituições museais se voltam, de modo geral, para as visitas escolares. Há, porém, outros fatores que influenciam a presença ou não do público infantil em museus, como as férias escolares. Na perspectiva de Costa (2003) [1], o calendário escolar interfere não só na vida das crianças e dos pais das crianças, mas também em todo o funcionamento das cidades. A escola condiciona a programação de férias das famílias e das empresas às ofertas de redes hoteleiras, de companhias de turismo e também da programação de instituições culturais como os museus. Explorar a cidade com as crianças é permitir que esse segmento conheça e se aproprie do território em que vive. Algumas das possibilidades são as praças públicas, cinemas, teatros, centros culturais e museus.

Carvalho e Lopes (2016) [2] ressaltam a importância de os museus permitirem as modificações das ações educativas de acordo com a realidade, levando em consideração os aspectos internos e externos ao ambiente. No caso das férias escolares, os museus adequam suas ações educativas de acordo com o calendário escolar, criando estratégias que contemplem um público infantil que vem predominantemente acompanhado por seus familiares, contrariamente ao período letivo em que a afluência do público infantil se dá através das visitas escolares.

Por este motivo o estudo aqui apresentado procura mapear e investigar quais instituições culturais da cidade do Rio de Janeiro oferecem atividades destinadas ao público infantil no período das férias escolares, e como se deu o planejamento e manutenção das atividades

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encontradas, investigando as relações que museus e centros culturais estabelecem, principalmente, com o público de 0 a 6 anos.

A partir do questionário enviado pelo GEPEMCI a todos os museus do município, identificamos as instituições que recebem o público infantil com frequência alta e muito alta e, para o desenvolvimento da investigação aqui apresentada, selecionamos três instituições: Casa da Ciência da UFRJ, Museu Histórico Nacional (MHN) e Museu de Arte do Rio (MAR), considerando a diversidade de tipologia - ciências, história, artes.

Cabe ressaltar que a nossa pesquisa tem como foco o público infantil de 0 a 6 anos a partir de reflexões sobre os apontamentos de Carvalho (2013, p. 17) [3]: “as crianças pequenas merecem sim um atendimento e um reconhecimento de que são capazes de frequentar esses espaços, de que tem o direito a- enquanto sujeitos e cidadãos-, de que possuem especificidades que precisam ser atendidas e reconhecidas.”

Enquanto recurso metodológico dessa etapa da pesquisa optamos pela realização de entrevistas com os responsáveis pelo desenvolvimento das atividades nas instituições selecionadas, buscando compreender se o público presente no museu no período de férias se diferencia do público presente durante o período escolar, quantas pessoas em média participaram das atividades, assim como o processo de planejamento, execução, avaliação e divulgação das ações voltadas para esse público.

O planejamento, a avaliação e reformulação das atividades pedagógicas são fatores primordiais para que a experiência da criança seja enriquecida e aproveitada da melhor forma possível. É a partir dessa experiência que ela poderá desenvolver diversas relações, como

“realizar associações entre o que ela vê, toca, cheira e sente com o que já conhece e, a partir daí, construir seu pensamento de maneira processual” (Leite, 2011) [4]. Além disso, buscamos analisar se as instituições participantes da pesquisa têm como princípio para a elaboração das atividades de férias: "a crença na potencialidade das crianças e o reconhecimento da importância da arte e da cultura para a humanidade" (Carvalho e Porto, 2013, p.149) [5].

Ao longo do texto serão apresentados dados gerados pela pesquisa que contempla o questionário GEPEMCI, entrevistas nos três museus mencionados e reflexões acerca da presença do público infantil nas instituições culturais do Rio de Janeiro.

Objetivo

A atual pesquisa busca investigar em três instituições culturais da cidade do Rio de Janeiro - Casa da Ciência da UFRJ, Museu Histórico Nacional (MHN), Museu de Arte do Rio (MAR) - quais atividades foram destinadas ao público infantil espontâneo durante o período de férias e entender as especificidades dessas programações.

Metodologia

As estratégias metodológicas utilizadas na pesquisa foram: (i) levantamento das respostas do questionário aplicado pelo GEPEMCI em 2015 em busca de quais museus afirmaram realizar atividades destinadas ao público infantil de 0 a 6 anos; (ii) mapeamento de atividades nas instituições no período de férias de janeiro e fevereiro de 2019, destinadas ao público infantil e (iii) entrevistas com responsáveis pela elaboração de atividades no período das férias destinadas a esse público.

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O questionário do GEPEMCI contou com um estudo-piloto e, em seguida (2015), o questionário online foi enviado a todos os museus e centros culturais cadastrados no Guia de Museus Brasileiros - IBRAM (2011) e na publicação Museus RJ - Um guia de Memórias e Afetividades (2013). Os integrantes do Grupo realizaram contato com todas as 139 instituições culturais da cidade cadastradas nos guias museais e, a partir deste contato, a amostra foi reduzida para 135 espaços, pois 4 instituições possuíam a mesma gestão administrativa. Devido ao baixo retorno dos questionários por parte dos museus, ao longo de quatro meses - agosto a dezembro de 2015 – o GEPEMCI contatou diretamente as instituições que não responderam ao questionário com o objetivo de obter o maior número de respostas possível.

Ainda no período de aplicação dos questionários foi constatado que 11 espaços não se consideravam museus; 12 estavam desativados sem previsão de reabertura; 2 encontravam-se fechados em decorrência de obras na cidade do Rio de Janeiro para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016; 4 ainda estavam em fase de implementação e 6 encontravam-se temporariamente fechados para reformas. O número de instituições foi reduzido a 99, dentre os quais 85 participaram da pesquisa e 14 não responderam ao questionário.

O recorte do trabalho aqui apresentado partiu de uma pergunta do questionário do GEPEMCI: “Em comparação com os demais públicos, qual é a frequência de visitas das crianças à instituição?” Das 85 instituições respondentes, 38 afirmaram receber o público infantil com frequência alta/muito alta. As instituições foram classificadas por tipologia de museu: 16 museus históricos, 13 museus de arte, 8 museus de ciência e 1 museu comunitário (quadro 1).

Quadro 1: Museus e Centros Culturais da Cidade do Rio de Janeiro que recebem o público infantil com frequência alta/muito alta no ano de 2015

Museus (público infantil frequência muito alta / alta)

Tipologia

1 Centro Histórico e Cultural do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro

MUSEUS HISTÓRICOS (16)

·História

·Militar

·Memória social

·Memória ferroviária

·Memória do futebol

·História natural 2 Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação

da Marinha (Ilha Fiscal) 3 Museu Naval

4 Sítio Histórico da Fortaleza de São João 5 Museu do Corpo de Fuzileiros Navais

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6 Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial

·Etnologia

·Museu-casa 7 Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de

Janeiro

8 Museu Casa de Rui Barbosa 9 Museu Seleção Brasileira 10 Fluminense Football Club 11 Exposição FLA Experience 12 Museu Histórico da Cidade 13 Museu Histórico Nacional 14 Museu do Samba

15 Casa do Patrimônio Ferroviário do Rio de Janeiro

16 Museu do Índio

17 Centro Cultural Municipal Oduvaldo Viana Filho-

Castelinho do Flamengo MUSEUS DE ARTE (13)

·Moderna

·Temática

·Popular Brasileira

·Contemporânea

·Cênicas

·Visuais

·Arquitetura e Paisagismo 18 Museus Castro Maya/Museu do Açude

19 Centro Cultural Banco do Brasil

20 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro 21 Museu de Arte do Rio

22 Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular 23 Centro Cultural Parque das Ruinas

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24 Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea 25 Museu Casa do Pontal

26 Museu Internacional de Arte Naif 27 Casa Daros

28 Casa França Brasil 29 Sítio Roberto Burle Marx 30 Casa da Ciência da UFRJ

MUSEUS DE CIÊNCIA

·Biológicas

·Ciência e Tecnologia

·Planetário

·Ambiental

·Centro de Ciência 31 Espaço Ciência Viva

32 Museu da Vida/Fiocruz

33 Museu do Meio Ambiente/Jardim Botânico do Rio de Janeiro

34 Museu Aeroespacial 35 Fundação Planetário 36 Jardim Zoológico

37 Espaço COPPE Miguel de Simoni

38 Museu da Maré MUSEUS

COMUNITÁRIOS (1)

Fonte: GEPEMCI (2015) Das 38 instituições que sinalizaram receber o público infantil com frequência alta/muito alta, duas encerraram suas atividades - a Casa Daros e o Museu Internacional de Arte Naïf (Mian) - reduzindo o número de instituições para 36.

Após o mapeamento dos espaços que recebem o público infantil com frequência alta e muito alta foi realizada uma busca nos sites e redes sociais com o objetivo de identificar a programação específica das férias de janeiro e fevereiro de 2019. Das 36 instituições investigadas, apenas 5 ofereceram atividades no período selecionado: Casa da Ciência da

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UFRJ, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Museu de Arte do Rio (MAR), Museu Histórico Nacional (MHN), Museu da Vida (Fiocruz).

Gráfico 1 – Instituições participantes da pesquisa

Fonte: GEPEMCI

Contextualizando as instituições investigadas

Das 5 instituições museais que foram identificadas através da pesquisa por oferecerem atividades no período das férias de janeiro e fevereiro de 2019 selecionamos 3 de tipologias diferentes: Museu Histórico Nacional (MHN), Museu de Arte do Rio (MAR) e Museu Casa da Ciência da UFRJ. Abaixo apresentaremos uma breve descrição dos museus selecionados.

A Casa da Ciência da UFRJ está localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro. A Instituição possui fácil acesso por estar próximo ao metrô e a diversos pontos de ônibus que transitam por vários bairros da cidade do Rio de Janeiro. O espaço, no período de julho e agosto de 2019, está recebendo uma exposição chamada Aventura pelo Corpo Humano que, segundo os funcionários, é de longe a exposição mais popular que já receberam em toda a história do Museu. O que não necessariamente é algo positivo. O Museu está superlotado e, como a exposição é interativa, apenas grupos de 15 pessoas podem entrar de cada vez, percorrendo um caminho de 45 minutos. Filas estão demorando mais de 3 horas. Escolas não conseguem mais agendar. Apesar da superlotação fomos muito bem recebidas. Desde o primeiro contato por telefone, a funcionária entrevistada foi solícita e atenciosa.

O Museu Histórico Nacional (MHN) está localizado no Centro do Rio de Janeiro e possui fácil acesso durante a semana, visto que fica localizado próximo ao metrô e pontos de ônibus.

O Museu apresenta exposições de longa duração e também temporárias, relacionadas à história do Brasil, história da arte, além de uma biblioteca com documentos manuscritos, aquarelas,

85

38 36

5 3

0 20 40 60 80 100

1

Instituições participantes da pesquisa

Instituições que participaram da pesquisa

Instituições que recebiam o Público Infantil com frequência Alta/Muito Alta em 2015

Instituições investigadas em 2019

Instituições que ofereceram atividades no período das férias escolares de janeiro de 2019

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ilustrações e fotografias históricas. A entrevista aconteceu em um dia em que o Museu não está aberto ao público. Fomos bem recebidas e a entrevistada foi atenciosa durante o encontro.

O Museu de Arte do Rio (MAR) está igualmente localizado no Centro do Rio de Janeiro. O espaço promove uma leitura da história da cidade, dialogando com sua simbologia, seus conflitos, desafios e contradições. No dia da entrevista, o MAR estava recebendo visitantes de forma gratuita de modo que o fluxo de pessoas era altíssimo. A exposição principal de 2019 é denominada O Rio dos Navegantes, que apresenta a história do Rio de Janeiro como uma cidade portuária a partir dos pontos de vistas de diversos povos desde o século XVI. De acordo com as redes sociais da própria instituição, o dia recebeu um recorde de visitantes, totalizando 6.237 pessoas somente naquele dia. Apesar da superlotação do Museu, fomos bem recebidas pela entrevistada.

A partir dessa seleção, conforme sinalizado anteriormente, optamos por utilizar como recurso metodológico a entrevista semi-estruturada, que segundo Oliveira, Fonseca e Santos (2010) [6], é uma metodologia que permite acrescentar ou retirar novas perguntas do roteiro pré-estabelecido de acordo com o desenvolvimento da entrevista. Dessa forma, esse procedimento permite captar informações sobre o assunto pesquisado por meio da resposta dos entrevistados. O roteiro das entrevistas foi elaborado tendo como base alguns apontamentos de Duarte (2002) [7] e Moura e Ferreira (2005) [8]: decisão e delimitação dos questionamentos, formulação de perguntas com clareza, de modo que o entrevistado não tenha dúvidas do que está sendo perguntado, comunicação presencial com o entrevistado e aprofundamento de questionamentos referentes ao objeto de estudo. Levamos também em consideração as recomendações de Trochim (2002) [9], que aponta que, neste método de coleta de dados, para obter a cooperação dos participantes e respostas adequadas é necessário perguntas que não abram espaço para dúvidas, de modo que a entrevista forneça informações úteis aos objetivos de pesquisa.

Resultados da Pesquisa

Após a elaboração do conjunto de perguntas e realização das entrevistas, obtivemos dados que revelam que o público presente no museu se diferencia, no período de férias, do público presente durante o período escolar. Também foi possível obter dados sobre quantas pessoas em média participaram das atividades, assim como o processo de organização, planejamento, execução, avaliação e divulgação das atividades nos três espaços museais selecionados no período de férias. Os dados coletados e analisados serão apresentados a seguir.

A Casa da Ciência da UFRJ não possui um setor educativo. No momento de realização da pesquisa, a produtora cultural, que foi quem concedeu a entrevista, estava responsável pelas funções educativas. Ela relatou que não tinha experiência com os aspectos relacionados à Pedagogia e acrescentou que gostaria de um pedagogo trabalhando na equipe, mas, por questões financeiras, a Instituição não dispõe deste profissional. O espaço oferece um projeto específico para o período de férias chamado “#PartiuFérias”, criado em julho de 2018. Na temporada de janeiro de 2019, cujo tema foi a biodiversidade, participaram aproximadamente 250 pessoas. Ao analisar os dados da pesquisa, é importante levar em consideração dois aspectos: o tempo que o público permanece no ambiente e o fato da Casa da Ciência ser um local pequeno. Nas atividades oferecidas no período de janeiro deste ano, os participantes chegavam às 10h e saíam às 17h. As oficinas foram ofertadas para faixas etárias difereciadas e

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a partir de atividades interativas, sendo elas: Contação de histórias, Caça ao tesouro ao jardim e Naturigami.

O Museu Histórico Nacional (MHN) conta com a presença de um setor educativo. A educadora museal que nos cedeu a entrevista faz parte do Núcleo de Educação da Instituição.

O Museu tem um projeto denominado Bondinho da História que acontece aos finais de semana durante todo o ano, inclusive durante as férias escolares. Nas férias de janeiro de 2019, de acordo com dados presentes nas redes sociais da própria Instituição, as temáticas foram:

Embarcando com Dom João, Detetives do MHN, O Rio de Janeiro de Leandro Joaquim e Museu de Brincadeiras e, conforme os dados disponibilizados pela entrevistada, verificou-se um total de 59 participantes. Dentro dessa perspectiva de quantidade de público, por meio da entrevista foi perceptível que durante o período escolar o Museu recebe um público maior durante a semana por conta das visitas escolares. Durante as férias o público durante a semana é reduzido e, aos finais de semana aumenta, visto que as famílias frequentam o espaço em momentos de lazer de forma espontânea.

O Museu de Arte do Rio (MAR) também conta com um setor educativo.A educadora de projetos entrevistada nos revela que a programação de férias acontece desde 2013. No entanto, só se tornou de fato um projeto em meados de 2014. A Instituição ofereceu algumas atividades destinadas ao público infantil nas férias de janeiro e fevereiro de 2019, como por exemplo. o Bloco de carnaval infantil, Mini Seres do Mar e as Oficinas de criações com as temáticas:

Moradinha, Livro de artista, Espelho meu, Bebês no MAR, Mergulho do corpo e Imagem e corpo. Durante a entrevista perguntamos sobre a quantidade de participantes no período em que as ações de férias foram realizadas, mas a educadora de projetos não conseguiu dar esta informação. Em relação às oficinas é obrigatório realizar a inscrição previamente e, normalmente, elas têm 3 horas de duração.

Os três museus entrevistados comentam sobre o retorno de crianças que visitaram o espaço com as escolas e sobre o fato de que o público flutua muito dependendo de qual exposição está acontecendo, uma vez que as atividades, de modo geral, estão relacionadas ao que está sendo exposto. Destacamos a fala de uma entrevistada que discorre sobre este aspecto:

(...) Uma exposição que foi durante as férias, um menino vinha todo final de semana, e durante a semana também. A mãe falou que ele ia ao judô do outro lado da rua e obrigatoriamente todo dia antes do judô ele tinha que passar aqui. A exposição era sobre física, tinha muitos experimentos que ele era apaixonado. Ele retornou em janeiro, para a exposição de biodiversidade e ele não gostou tanto. Então o público muda, apesar dessas pessoas que retornam.

(Entrevista Produtora Cultural da Casa da Ciência, 2019.)

No que diz respeito à presença de famílias na programação, as três entrevistas apontam similaridades quanto à importância desta relação. No entanto, duas das instituições mostram a necessidade da família participar das atividades com as crianças e que esse nem sempre é o desejo dos que acompanham os pequenos. Destacamos a fala de uma entrevistada sobre a relação da família com o espaço:

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Às vezes acontecem dos pais quererem vir deixar os filhos no bondinho e circular no museu sem criança (risos) temos um trabalho, um tato para explicar que o objetivo não é esse. Inclusive a proposta pedagógica prevê uma maior integração dos componentes da família. E também uma coisa que a gente têm refletido sobre depois da participação de alguns estagiários curriculares de Pedagogia, de uma integração entre os grupos familiares, entre os diferentes grupos que vem. Porque acaba que na oficina, depois da atividade, do bondinho, cada família fica no seu cantinho fazendo a proposta de atividade e a gente tem pensado em promover a interação entre as famílias.

(Entrevista Educadora Museal do Museu Histórico Nacional, 2019.)

No que diz respeito ao planejamento de atividades, a Casa da Ciência da UFRJ trabalha com parcerias de professores e alunos convidados de universidades. Em cada “#PartiuFérias”

há grupos de docentes e discentes específicos para elaborar as propostas. Como o evento de férias de janeiro deste ano foi relacionado à biodiversidade, foram convocados professores de Biologia e de Nutrição para desenvolverem as oficinas. Os funcionários da Casa da Ciência também estão inseridos nesse processo de desenvolvimento, indicando o melhor espaço para a realização das propostas, o tempo e a quantidade de pessoas por atividade, e contando as experiências vividas nesse ambiente. Normalmente, os professores que planejam as ações não as executam, e sim seus alunos. As avaliações internas destas atividades não são padronizadas.

Como o “#PartiuFérias” é relacionado à exposição, a Instituição avalia o evento como um todo por meio de relatórios e reuniões com a equipe. Já as avaliações externas são realizadas com o apoio de formulários, que apresentam uma baixa adesão de respostas.

Já no processo de planejamento de atividades no MHN os educadores realizam encontros, pesquisas de textos e observações de ações de outras instituições. A equipe pensa em qual será a temática do “Bondinho da História”, pois geralmente essas ações não fazem parte das propostas curatoriais do circuito do Museu. A execução dessas atividades é feita pelas mesmas pessoas que as planejaram, e passam por avaliação tanto externa quanto interna, sendo a externa feita por meio de formulários que o público participante responde e a interna mediante reuniões com a equipe de funcionários participantes da ação.

O MAR divide a organização de suas atividades em duplas. Cada dupla é responsável por realizar a pesquisa e planejamento do que será desenvolvido, além disso, executam as oficinas produzidas. Na programação de férias todas as atividades estão alinhadas com as exposições ou com as relações do Museu com o território em que está inserido. As atividades são pensadas para perfis de público diferentes, a oficina sendo para um público inscrito e faixa etária especificada e há atividades em que qualquer um pode participar. A avaliação das atividades acontece em reuniões internas da equipe e são discutidos aspectos positivos, negativos e possíveis modificações. Ao final de cada atividade os participantes são convidados por funcionários do MAR a responder um questionário opinativo. O resultado dos questionários é levado às reuniões como parte da avaliação das oficinas e atividades.

Considerando os aspectos de elaboração e execução das programações de férias para o público infantil, a presente pesquisa buscou conhecer as razões que levam os museus a avaliarem como relevante oferecer atividades para o público infantil durante as férias. Dessa forma, os entrevistados das três instituições investigadas relatam a importância de o público

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enxergar o museu como um espaço de lazer. Por este motivo, os responsáveis declararam que sentiram a necessidade de elaborar projetos específicos para as férias. O propósito é pensar o museu como um espaço que é público, no qual diferentes pessoas podem ocupar nos mais diversos momentos. Destacamos a fala de uma entrevistada que reforça o museu como um espaço de lazer:

Porque por vezes pensar museu e férias assim né, museu é um lugar chato, pra que? Então, de que forma a gente pensa ludicamente o espaço do museu dentro de um período que não existe essa obrigatoriedade para esse perfil de público estar aqui? Porque numa visita agendada a escola que agenda, né? Então assim, de que forma ele (o público) vai vir por conta própria? Porque ele quer!

(Entrevista Educadora de projetos do MAR, 2019)

No que diz respeito à divulgação, a Casa da Ciência da UFRJ divulga sua programação apenas por meios digitais devido à ausência de recurso financeiro para material impresso. A equipe de comunicação é responsável por fazer a difusão de informações da programação e todas as atividades são postadas em redes sociais, sendo o foco maior no Facebook e Instagram.

Na tentativa de fazer com que pessoas que não possuem internet também tenham acesso à programação, a equipe envia e-mails para outras instituições com o objetivo de que os informes sejam repassados. Além disso, as atividades também são divulgadas por e-mail através de um banco de dados de escolas e outras pessoas que frequentam a Instituição.

No MHN, as atividades destinadas ao público infantil espontâneo durante o período de férias contam com a divulgação realizada pela assessoria de imprensa da direção do Museu. O Núcleo de Educação, responsável pela elaboração e execução das atividades, produz os conteúdos e a assessoria de imprensa é responsável por divulgar seguindo o padrão estético da Instituição.

O setor de comunicação é responsável pelo processo de divulgação das atividades do MAR. Assim como no MHN, o setor educativo elabora materiais como: sinopses das atividades, que tem por objetivo despertar o interesse do público na atividade, e o release, que possui informações mais completas das atividades e da exposição. Além disso, o MAR conta com a presença de folhetos na bilheteria, informações no site e e-mails para o banco de dados que a Instituição tem de pessoas que participaram anteriormente de oficinas.

Conclusão

Na primeira etapa do atual trabalho tornou-se perceptível que apesar de 36 instituições afirmarem, no questionário aplicado pelo GEPEMCI, ter programações com frequência alta e muito alta destinadas ao público infantil, somente 5 instituições sinalizaram em seus sites e redes sociais que realizaram atividades destinadas ao público infantil espontâneo durante as férias de janeiro e fevereiro de 2019. É possível concluir, a partir dos achados aqui apresentados, que há um número reduzido de instituições museais da cidade do do Rio de Janeiro que dialogam com o público espontâneo infantil durante o período de férias e o consideram como uma possibilidade real de audiência.

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A partir das entrevistas realizadas ao longo da pesquisa, é também possível concluir que os três museus selecionados consideram o período das férias importante, por ser uma oportunidade de visita aos espaços museais sob uma nova perspectiva, não relacionada à obrigatoriedade das escolas e sim ao lazer das férias. Assim, quando as crianças vivem momentos de alegria e interação no museu durante as férias, elas se apropriam do direito de frequentar tais espaços e, de modo geral, podem formar vínculos positivos com as instituições culturais. As três entrevistas apontam que há o retorno de crianças que visitaram o museu com suas escolas no período de férias, e também ressaltam a presença da família nessas atividades.

Entretanto, duas instituições mencionam que algumas famílias querem apenas deixar as crianças para que possam visitar o museu, e que há um esforço por parte da equipe dos museus em fazer com que as famílias compreendam que a proposta das atividades é que sejam realizadas em conjunto. Há uma atenção para o desenvolvimento de um aspecto afetivo de interação entre as famílias que, nas vidas agitadas de um cotidiano corrido, pouco têm disponibilizado um tempo juntas que não seja em frente a uma tela.

Foi possível também concluir, mediante os dados obtidos, que existe uma preocupação dos responsáveis pelas atividades desenvolvidas nas instituições com o planejamento das atividades. Em apenas um dos espaços quem elabora a atividade não é quem a executa. As três instituições realizam com frequência uma avaliação das atividades realizadas, embora em algumas a avaliação externa tenha um retorno maior que em outras.

A divulgação das atividades pode estar diretamente relacionada à organização interna do espaço museal. Por exemplo, o MHN e o MAR possuem um setor de comunicações responsável pela divulgação, enquanto na Casa da Ciência o setor responsável pela divulgação é o mesmo que organiza e efetua as atividades.

Tendo em vista os aspectos apontados ao longo do texto, existem poucas instituições que possuem atividades específicas para as férias, principalmente para o público de 0 a 6 anos.

O nosso estudo apresenta-se como relevante nesse campo e dispõe-se a refletir, e possivelmente contribuir para que se pensem atividades destinadas ao público infantil espontâneo durante este período, levando em consideração as especificidades da infância. Considerando o museu como espaço potencial para ações voltadas para o público infantil e também possibilidade de espaço para as férias escolares, acreditamos que as atividades propostas para esse público durante as férias devam ser articuladas com a afirmação de Oliveira (2011) de que as ações para este segmento devem considerar experiências cuja imaginação criadora das crianças possa ser revigorada e ampliada.

Referências:

[1] COSTA, Marisa Vorraber (org) A escola tem futuro? Rio de Janeiro: DP&A. 2003.

[2] CARVALHO, Cristina; LOPES, Thamiris. O Público Infantil nos Museus. Educação &

Realidade, Porto Alegre, Aheadof print, 2016.

[3] CARVALHO, Cristina. Criança menorzinha... ninguém merece! – políticas de infância em espaços culturais. In: KRAMER, Sonia & ROCHA, Eloísa Candal (orgs.). Educação infantil: enfoques em diálogo. 2. Ed. São Paulo: Papirus, 2013.

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[4] LEITE, Maria Isabel. Museu, Crianças e Brincadeira: Combinação possível? In:

ALMEIDA, Marcos Teodorico. O Brincar e a Brinquedoteca: positividades e experiências.

Fortaleza: Premius, 2011.

[5] CARVALHO, Cristina; PORTO, Cristina. Crianças e adultos em museus e centros culturais. In: Kramer, Sonia; Nunes, Fernanda; CARVALHO, Cristina. Educação Infantil:

Formação e Responsabilidade. São Paulo, Papirus, 2013, cap.6.

[6] OLIVEIRA, Ivanilde; FONSECA, Maria; SANTOS, Tânia. A entrevista na pesquisa Educacional. In: Metodologias e técnicas de pesquisa em educação. Organizadoras: Maria Inês Marcondes, Elizabeth Teixeira, Ivanilde Apoluceno de Oliveira- Belém: EDUEPA, 2010, cap.3.

[7] DUARTE, Rosália. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de Pesquisa, n. 115, p. 139-154, março/2002.

[8] MOURA, Maria Lucia Seidl de; FERREIRA, Maria Cristina. Projetos de pesquisa:

elaboração, redação e apresentação. Ed. UERJ, Rio de Janeiro, 2005.

[9] TROCHIM, W.M.K. Research methods knowledge base. 2ª ed. 2002. apud MOURA, Maria Lucia Seidl de; FERREIRA, Maria Cristina. Projetos de pesquisa: elaboração, redação e apresentação. Ed. UERJ, Rio de Janeiro, 2005.

[10] OLIVEIRA, Alessandra. Museu: um lugar para a imaginação e a educação das crianças pequenas. In: Kramer, Sonia; Rocha, Eloisa. Educação Infantil: enfoques em diálogo das crianças pequenas. Campinas: Papirus, 2011, cap 8.

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