XXVI ENCONTRO NACIONAL DO
CONPEDI BRASÍLIA – DF
DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO II
JONATHAN BARROS VITA
LIZIANE ANGELOTTI MEIRA
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D597
Direito tributário e financeiro II [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI
Coordenadores: Jonathan Barros Vita; Liziane Angelotti Meira; Antônio de Moura Borges - Florianópolis: CONPEDI, 2017.
Inclui bibliografia ISBN: 978-85-5505-438-9
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas
CDU: 34 ________________________________________________________________________________________________ Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Tributos. 3. Imunidade.
XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF
DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO II
Apresentação
O XXVI Encontro Nacional do CONPEDI – Conselho Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Direito ocorreu em Brasília entre os dias 19 e 21 de julho de 2017, no Centro
Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília-DF, sob o tema: “DESIGUALDADES E
DESENVOLVIMENTO: O papel do Direito nas políticas públicas”.
Esse evento foi realizado em parceria com o Curso de Pós-Graduação em Direito – Mestrado
e Doutorado, da UNB - Universidade de Brasília, Universidade Católica de Brasília – UCB,
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF e com o Instituto Brasiliense do Direito
Público – IDP.
Dentre as diversas atividades acadêmicas empreendidas neste evento, tem-se os grupos de
trabalho temáticos que produzem obras agregadas sob o tema comum do mesmo.
Neste sentido, para operacionalizar tal modelo, os coordenadores dos GTs são os
responsáveis pela organização dos trabalhos em blocos temáticos, dando coerência à
produção e estabelecendo um fio condutor evolutivo para os mesmos.
No caso concreto, assim aconteceu com o GT DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO II.
Coordenado pelos professores Jonathan Barros Vita, Liziane Angelotti Meira e Antônio de
Moura Borges, vez que o referido GT foi palco de profícuas discussões decorrentes dos
trabalhos apresentados, os quais são publicados na presente obra.
O direito tributário e financeiro hoje vem ganhando espaço importante nas discussões
acadêmicas, o que vem se refletindo no volume e qualidade de trabalhos apresentados,
colocando esses ramos didaticamente autônomos do direito em posição de destaque nas
discussões contemporâneas, vez que afetam fortemente os cidadãos.
Tendo como pano de fundo esses ramos didaticamente autônomos do direito, foi possível
agrupar os 16 trabalhos apresentados em alguns grupos, os quais se seguem, partindo da
Teoria Geral do Direito Tributário (artigos 01 e 02) para a prática, perpassando Processo
contemporâneos internacionais da tributação (artigos 08 e 09), Tributação, extrafiscalidade e
meio ambiente (artigos 10 a 12), Políticas tributárias (artigos 13 e 14) e Elementos de tributos
em espécies (artigos 15 e 16), como pode ser visto no sumário abaixo.
É a partir do roteiro firmado, que teoria e prática se encontram no campo do direito tributário
e financeiro, perfazendo uma publicação que se imagina que será de grande valia, dada a
qualidade dos artigos, para a promoção e o incentivo da pesquisa jurídica no Brasil,
consolidando o CONPEDI, cada vez mais, como um importante espaço para discussão e
apresentação das pesquisas desenvolvidas nos ambientes acadêmicos da graduação e
pós-graduação em direito.
Finalmente, deixamos aos leitores nosso desejo de uma boa leitura, fruto da contribuição de
um Grupo de trabalho que reuniu diversos textos e autores de todo o Brasil para servir como
resultado de pesquisas científicas realizadas no âmbito dos cursos de Pós-Graduação Stricto
Sensu de nosso país.
Prof. Dr. Jonathan Barros Vita - Unimar
Profa. Dra. Liziane Angelotti Meira - Universidade Católica de Brasília
Prof. Dr. Antônio de Moura Borges - Universidade Católica de Brasília e Universidade de
1 Graduado em direito pelo Instituto de Educação Superior de Brasília. Discente do mestrado em Direito e Políticas Públicas pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).
1
DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO ELETRÔNICO: NOVO PARADIGMA NA RELAÇÃO ENTRE O FISCO E OS CONTRIBUINTES
ELECTRONIC TAX DOMICILE: NEW PARADIGM IN THE RELATIONSHIP BETWEEN THE TAXPAYERS AND THE TAX AUTHORITIES
Vitor Levi Barboza Silva 1
Resumo
O artigo aborda o domicílio tributário eletrônico (DTE), no âmbito da Secretaria da Receita
Federal do Brasil, ambiente virtual cujo objetivo principal foi dar maior celeridade às
comunicações, inclusive intimações para prática de atos processuais. A criação do DTE
iniciou um novo paradigma na relação entre o Fisco e seus contribuintes, permitindo, além
das consultas dos processos, a prática de diversos outros atos processuais, como por exemplo
o envio de notificações, intimações, com aviso de recebimento eletrônico, em detrimento do
envio dessa documentação por meio físico, pelos Correios e com posterior Aviso de
Recebimento, para fins de comprovação de ciência.
Palavras-chave: Receita federal do brasil (rfb), Comunicações, Domicílio tributário,
Ciência, Celeridade
Abstract/Resumen/Résumé
This article presents the Electronic Tax Domicile (ETD) in the context of the Brazilian
Federal Revenue Secretariat (RFB). It is a virtual environment, which aims mainly at
speeding up communication, including subpoenas for judicial proceedings. The creation of
the ETD, in the context of the RFB, changed the relationship in between the Taxpayers and
the Tax Authorities. It allows not only visualizations (consultation) of the processes but a
series of other acts, such as mailing notifications and subpoenas with registered electronic
acknowledge receipt instead of physical mailing with a posterior sending of the acknowledge
receipt in conventional postal delivery services.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Brazilian federal revenue secretariat (rfb),
Communications, Tax domicile, Acknowledgement, Celerity
INTRODUÇÃO
Os atos de comunicação são etapas do processo, por meio pelo qual o
Estado-Administrador se comunica, ouve e interage com seus administrados, seja na cobrança de
deveres seja na informação de direitos.
Segundo DIDIER JR (2015, p. 615), há duas formas de comunicação dos atos
processuais, a real: quando a ciência é dada diretamente à pessoa do interessado (pelo agente
público e por meio de correspondência, correio – AR) e a presumida (ficta): quando a ciência é
feita de forma indireta, seja por meio de publicação de conhecimento público ou por um terceiro
que se presume fazer chegar ao conhecimento do interessado (edital, hora certa, órgão).
Quando há a necessidade de comunicação, o Estado-Administrador realiza seus
atos de comunicação levando em consideração o instituto jurídico domicílio.
Conforme assevera GOMES (2010, p. 172), o conceito de domicílio se integra
de dois elementos: um objetivo, outro subjetivo. O elemento objetivo é o fato de permanecer,
por força da atividade, em certo lugar. O elemento subjetivo, o ânimo de ter esse lugar como a
sede das ocupações habituais. O concurso simultâneo dos dois elementos forma o domicílio.
No âmbito do Direito Processual Civil, por exemplo, a noção de domicílio é
fundamental. Como o domicílio indica uma presunção legal de onde a pessoa esteja presente,
sem ele seria fácil, mormente para as pessoas com constantes deslocações, furtarem-se a
responder a um processo judicial.
Também no Direito Processual Penal, igualmente, é importante a noção de
domicílio, que irá ser considerada para a definição do foro competente. Não sendo conhecido o
local do crime, a competência para julgar o réu e regulada pelo seu domicílio ou residência (art.
72 do Código de Processo Penal).
No campo do Direito Civil, afora outras situações, a importância do domicílio é
enfatizada, principalmente, por ser o lugar onde efetuar-se-á o pagamento do devedor, salvo se
as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da
Já na esfera do Direito Eleitoral, o domicílio é figura jurídica importante, pois
por meio dele é que o cidadão poderá exercer seu direito-dever de votar na respectiva Zona
Eleitoral. Nesse aspecto, há entendimento do Tribunal Superior Eleitoral no sentido de que, não
comprovado o domicílio na Zona Eleitoral respectiva, deve-se indeferir a transferência de
domicílio eleitoral solicitada.
Na alçada do Controle Externo, segundo o Regimento Interno do Tribunal de
Contas da União, parágrafo único do art. 149, o domicílio tem o condão de influenciar na
distribuição de processos aos ministros e ministros-substitutos, haja vista ser considerado como
critério de distribuição.
O mesmo acontece no âmbito Direito Tributário, nessa ramo o domicílio tem
tanta importância que o Código Tributário Nacional (CTN) prevê no seu art. 127, § 2º a regra
que autoriza a autoridade fiscal recusar o domicílio eleito, quando este impossibilite ou dificulte
a arrecadação ou a fiscalização do tributo. Nessa hipótese, conforme § 1º do mesmo artigo, será
considerado domicílio tributário o local onde se encontrarem os bens, ou onde ocorrerem os
fatos ou atos que deram origem à obrigação tributária. Quando não conhecido ou inaplicáveis
as regras gerais do domicílio tributário, considerar-se-á como domicílio tributário do
contribuinte ou responsável o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que
deram origem à obrigação.
Pode-se concluir, assim, que para o Direito Público é primordial a definição de
um domicílio, pois ao Estado é conveniente que o indivíduo se fixe em determinado ponto do
território para poder ser encontrado, para uma fiscalização no tocante às suas obrigações fiscais,
políticas, civis, administrativas, etc.
1. A PROBLEMÁTICA DO DOMICÍLIO EM RELAÇÃO AOS ATOS PROCESSUAIS
NO BRASIL
Sendo o domicílio a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para
efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negócios jurídicos, é
notório o risco e a fragilidade da ausência de controle e regulamentação no estabelecimento de
A adversidade no estabelecimento dessa localização do administrado
frequentemente gera inúmeras dificuldades nos atos de comunicação processual. Entre os
principais destacam-se o retardamento das etapas processuais, a anulação do processo por erros
de determinados atos de comunicação e a possibilidade de extinção da punibilidade de alguns
atos por parte do Estado.
Na necessidade de citação de um jurisdicionado que não tem seus dados de
domicílio atualizados junto ao órgão, após duas ou três tentativas de ciência da parte com
devolução de AR pelos Correios, a praxe administrativa adota a sistemática de diligenciar em
busca de atualização dos endereços junto aos órgãos prestadores de serviços públicos de água
e energia elétrica do último estado onde comprovou-se a residência.
Após, em caso de obtenção de possíveis novos endereços do responsável,
tenta-se novamente a comunicação por meio de Correios. Em caso de frustração, quando o
responsável não é localizado, parte-se para a publicação de edital.
Percebe-se que em um processo normal de comunicação o prazo de ciência
estaria em torno de 20 dias no máximo, quando a sistemática é célere e eficiente. Porém, o lapso
temporal entre o início e o fim da ciência é acentuadamente maior nos casos em que o processo
de comunicação é moroso, podendo chegar a durar até mais de 6 meses.
É importante frisar que, além da morosidade, problemas relacionados à citação
podem gerar a nulidade processual, já que podem caracterizar cerceamento de defesa, ou seja,
indo de encontro aos princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa.
Relativamente à anulação do processo por erros de determinados atos de
comunicação, no ano de 2012, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ/SP) entendeu
que não tem validade a advertência inicial em processo administrativo de tomada de contas que
subverte e mitiga o direito ao exercício da ampla defesa.
Desta forma, a decisão anulou um processo no TCE/SP, no qual a parte não foi
notificada pessoalmente sobre a demanda, conforme síntese abaixo:
AÇÃO ANULATÓRIA. Processo de tomada de contas de ex-dirigente de empresa
municipal de transporte coletivo Notificação pessoal inicial que incumbiu o interessado
do acompanhamento de todos os atos posteriores do procedimento administrativo.
do Estado de São Paulo (LC 709/1993). Impossibilidade de restrição infralegal de
direito constitucionalmente assegurado. Apelação provida.
(Apelação nº 0131220-84.2008.8.26.0053 - TJSP)
E, por fim, sobre a possibilidade de extinção da punibilidade dos atos estatais
por problemas relacionados às comunicações processuais é oportuno ressaltar o curso de
inúmeras ações judiciais de iniciativa do contribuinte com o objetivo de anular o débito fiscal.
Na análise do ponto das nulidades, é prudente os ensinamentos de Leandro
Paulsen sobre as nulidades no processo administrativo-fiscal. Para PAULSEN (2014,
402-403), o reconhecimento da nulidade do processo administrativo fiscal não deve ocorrer em
função de simples irregularidades formais que não sejam capazes, por si só, de comprometer a
sua lisura, sua finalidade e sua legitimidade.
Nesse diapasão, a norma regulamentadora só autoriza o reconhecimento de
nulidade em duas hipóteses: nos atos e termos lavrados por pessoa incompetente e nos
despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de
defesa. É importante ressaltar que a ciência na esfera do processo administrativo fiscal é
regulamentada por meio do Decreto 70.235, de 6 de março de 1972.
Segundo o art. 73 do regulamento, a intimação poderá ser realizada de forma
pessoal (inciso I), por via postal (inciso II) e por meio eletrônico (inciso III). O § 1º do art. 73
preve ainda que, quando resultar improfícuo um dos meios previstos no caput deste artigo ou
quando o sujeito passivo tiver sua inscrição declarada inapta perante o cadastro fiscal, a
intimação poderá ser feita por edital publicado.
O regulamento ainda define como e quando se considera feita a intimação. Se a
intimação for realizada de forma pessoal, considera-se feita na data da ciência do intimado ou
da declaração de quem fizer a intimação (art. 73, § 2º, inciso I). Quando for realizada por via
postal, telegráfica ou por qualquer outro meio ou via, com prova de recebimento, considera-se
feita a intimação na data do recebimento ou, se omitida, quinze dias após a data da expedição
da intimação (art. 73, § 2º, inciso II).
Para regular as situações em que o recebimento era realizada por pessoa diferente
Súmula CARF nº 9: É válida a ciência da notificação por via postal realizada no
domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da
correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário.
Abordando a questão judicial protetiva do contribuinte, MACHADO (2015, p.
485) ensina que a ação anulatória de lançamento tributário recebeu esse denominação em razão
de seu objeto específico, que é o anulamento do procedimento administrativo de lançamento.
Em seu âmbito, o autor exerce de forma mais ampla possível, seu direito de defender-se contra
exigências indevidas de tributa, podendo ser deslindadas todas as questões de direito e de fato,
sem qualquer restrição.
Assim, é possível, ainda, a propositura de ação contra a Fazenda Pública para
anular um ato praticado no procedimento de lançamento, como, por exemplo, a ausência de
intimação regular naquele procedimento.
Do mesmo modo, é oportuno ressaltar registro de MARTINS (2013, p. 249-250)
acerca da possibilidade de impetração de mandado de segurança contra ato de autoridade fiscal
praticado com abuso de poder, com base na Lei nº 12.016/2009.
Exemplo esdrúxulo de invalidação por motivo de ausência de citação é o caso
da anulação da condenação de improbidade administrativa do Senador Lindbergh Farias.
Ao analisar o caso em 2013, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que
houve falha processual porque a defesa não foi citada para apresentar suas considerações na
primeira instância, quando o senador foi considerado inocente das suspeitas de improbidade.
Nesse sentido, o STJ anulou a condenação, pois considerou que houve uma falha insanável no
processo decorrente da falta de devida citação da defesa do réu, conforme ementa abaixo.
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECEBIMENTO DA INICIAL.
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO.
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. CONDENAÇÃO. VIOLAÇÃO DO
ART. 17, § 9º, DA LIA CONFIGURADA.
1. É nulo o acórdão que, em apelação do Parquet, reforma sentença de improcedência
da demanda, em julgamento antecipado da lide, sem promover a citação dos réus, para
condenar por ato de improbidade administrativa, por violação do art. 17, § 9º, da Lei
8.429/1992. 2. Nulidade reconhecida para determinar o retorno dos autos à 1ª instância,
contestação e eventual instrução probatória. 3. Acolhida a nulidade apontada por ambos
os recorrentes, fica prejudicada a análise das demais questões ventiladas nos recursos.
4. Recursos especiais providos.
(RE 2013/0157575-0 / Relatora: Ministra Eliana Calmon)
Conforme exposto, norteados pelos princípios da inafastabilidade da jurisdição
e do duplo grau de jurisdição, é comum haver decisões judiciais, impugnações, recursos
administrativos fiscais ou até mesmo do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf)
julgando/decidindo nulos processos por erros de inobservância do princípio do contraditório e
ampla defesa nas comunicações processuais.
Além de contribuir para o sentimento de impunidade por parte da população, as
falhas processuais de comunicação que ocasionam na extinção ou retardamento no poder de
punir do Estado ou na anulação processual nas instâncias superiores são grandes atos
antieconômicos, pois mesmo após utilizar os recursos máquina pública o resultado gerado é
impotente/inapto.
2. DOMICÍLIO ELETRÔNICO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA
Neste capítulo será abordado a previsão normativa do domicílio eletrônico no
âmbito do Novo Código de Processo Civil, bem como sua implementação e utilização por parte
do Poder Judiciário brasileiro.
2.1 A previsão do domicílio eletrônico no atual e Novo Código de Processo Civil
A possibilidade de utilização de meios eletrônicos para fins de comunicação
processual já está prevista no atual (vigente) Código de Processo Civil (art. 221), haja vista as
inovações promovidas pela Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006.
Na ocasião, incluiu-se a possibilidade de realização de intimações, citações e
outros atos por meio eletrônico, contudo, tal possibilidade ficou limitada à edição de lei
Segundo o art. 1.045 do NCPC, o código entrará em vigor após decorrido 1 (um)
ano da data de sua publicação oficial, que ocorreu no dia 17 de março de 2015, por meio do
Diário Oficial da União, seção 1, páginas 1-51.
De acordo com a exposição de motivos do anteprojeto do NCPC, o código
buscou dar mais celeridade e justiça aos processos, bem como um maior rendimento em prol
das necessidades sociais e uma menor complexidade de seus procedimentos.
Com evidente redução da complexidade inerente ao processo de criação de um novo
Código de Processo Civil, poder-se-ia dizer que os trabalhos da Comissão se orientaram
precipuamente por cinco objetivos: 1) estabelecer expressa e implicitamente verdadeira
sintonia fina com a Constituição Federal; 2) criar condições para que o juiz possa
proferir decisão de forma mais rente à realidade fática subjacente à causa; 3) simplificar,
resolvendo problemas e reduzindo a complexidade de subsistemas, como, por exemplo,
o recursal; 4) dar todo o rendimento possível a cada processo em si mesmo considerado;
e, 5) finalmente, sendo talvez este último objetivo parcialmente alcançado pela
realização daqueles mencionados antes, imprimir maior grau de organicidade ao
sistema, dando-lhe, assim, mais coesão.
(Exposição de Motivos do anteprojeto do Novo Código de Processo Civil Brasileiro)
O novo código trouxe diversos avanços no campo processual, em especial os
relativos às comunicações processuais considerando o uso da tecnologia da informação (TI),
com previsão de uma Seção própria, tratando “Da Prática Eletrônico dos Atos Processuais”,
arts. 193 a 199. Do mesmo modo, em diversas passagens do Novo Código de Processo Civil há
previsões acerca da utilização preferencial de atos por meio eletrônico.
O art. 246, § 1º cria a regra da obrigação de cadastro eletrônico para fins de
comunicação por parte das empresas privadas de grande porte e públicas em geral, sendo que a
sistemática se estende ao Ministério Público, à Defensoria Pública e á Advocacia Pública, por
força do art. 270, parágrafo único.
Art. 246. A citação será feita:
V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei.
§ 1º Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte, as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio.
Conforme previsões dos artigos 270, 272 e 275, as citações e intimações serão
feitas preferencialmente por meio eletrônicos. Somente no caso de frustação da intimação
eletrônica é que será acionado o oficial de justiça.
Art. 270. As intimações realizam-se, sempre que possível, por meio eletrônico, na forma da lei.
Parágrafo único. Aplica-se ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Advocacia Pública o disposto no § 1º do art. 246.
Art. 272. Quando não realizadas por meio eletrônico, consideram-se feitas as intimações pela publicação dos atos no órgão oficial.
Art. 275. A intimação será feita por oficial de justiça quando frustrada a realização por meio eletrônico ou pelo correio.
Em relação às exigências iniciais, os arts. 287 e 319 garantem a sistemática
eletrônica ao exigirem a indicação de endereço eletrônico na petição inicial e por parte dos
advogados, no caso de procuração.
Art. 287. A petição inicial deve vir acompanhada de procuração, que conterá os endereços do advogado, eletrônico e não eletrônico.
[...]
Art. 319. A petição inicial indicará:
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
Os arts. 334 e 945 inclui ainda a possibilidade da audiência de conciliação ou de
mediação serem realizadas por meio eletrônico, bem como do julgamento de recursos e dos
processos de competência originária que não admitem sustentação oral.
Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
§ 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico, nos termos da lei.
[...]
Art. 945. A critério do órgão julgador, o julgamento dos recursos e dos processos de competência originária que não admitem sustentação oral poderá realizar-se por meio eletrônico.
§ 1º O relator cientificará as partes, pelo Diário da Justiça, de que o julgamento se fará por meio eletrônico.
Já o art. 914, § 4º possibilitou a comunicação por meio eletrônico entre
jurisdições diferentes (juiz deprecado ao juiz deprecante).
Art. 914. O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá se opor à execução por meio de embargos.
§ 4º Nos atos de comunicação por carta precatória, rogatória ou de ordem, a realização da citação será imediatamente informada, por meio eletrônico, pelo juiz deprecado ao juiz deprecante.
Por fim, decidiu-se que compete ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e,
supletivamente, aos tribunais regulamentar a prática e a comunicação oficial de atos processuais
por meio eletrônico e velar pela compatibilidade dos sistemas, disciplinando a incorporação
progressiva de novos avanços tecnológicos e editando, para esse fim, os atos que forem
necessários, respeitadas as normas fundamentais (art. 196).
2.2 O domicílio eletrônico no Poder Judiciário brasileiro
Além da Secretaria da Receita Federal do Brasil e das Secretarias de Fazenda
Estadual, há órgãos do Poder Judiciário que já iniciaram ou estão em processo de iniciação da
nova sistemática de comunicação eletrônica.
Recentemente, em 7 de outubro de 2015, em observância à Lei 11.419/2009, por
meio da Resolução n. 10/2015, de 6 de outubro de 2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
regulamentou a intimação eletrônica de órgãos públicos1. Sobre o assunto, extraiu-se a seguinte
informação do sítio do STJ:
O Superior Tribunal de Justiça publicou nesta quarta-feira (7) a Resolução 10/2015, que altera a Resolução 14/2013 e regulamenta a intimação eletrônica dos órgãos públicos que têm prerrogativa de intimação pessoal.
Sem caráter obrigatório, o novo sistema de intimações eletrônicas – atualmente em fase de homologação – funcionará por meio de convênios firmados entre o STJ e os órgãos interessados ou mediante cadastramento dos interessados.
A ferramenta tecnológica representa um avanço no quesito da celeridade processual, pois vai permitir que representantes de órgãos públicos sediados em outras unidades federativas sejam intimados eletronicamente e possam visualizar a íntegra do processo em meio virtual.
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/noticias/noticias/STJ-De acordo com a resolução, o processamento das intimações eletrônicas poderá ser feito de duas formas: mediante acesso ao Portal de Intimações, após a inclusão de um representante da instituição no cadastro administrado pela Secretaria dos Órgãos Julgadores do tribunal, ou pela comunicação entre sistemas, com a implantação do Modelo Nacional de Interoperabilidade do Poder Judiciário e dos Órgãos de Administração da Justiça (MNI), caso em que o órgão interessado deverá firmar acordo de cooperação técnica com o STJ.
O novo sistema de intimações eletrônicas (Portal de Intimações Eletrônicas),
assegura a observância do prazo de até dez dias corridos para consulta ao teor da intimação,
estabelecido pelo parágrafo 3º do artigo 5º da Lei 11.419/06. Terminado esse prazo, a intimação
ocorrerá de forma automática.
Contudo, o Diário de Justiça Eletrônico continuará a veicular seu conteúdo usual,
ou seja, a intimação eletrônica valerá apenas para as decisões que comportem a observância do
prazo de até dez dias corridos. As intimações que devam ocorrer em prazo inferior, por
determinação legal ou judicial, continuarão a ser feitas da forma convencional.
Ainda de acordo com a notícia, a intimação eletrônica alinha o Superior Tribunal
de Justiça (STJ) ao Plano de Logística Sustentável do Poder Judiciário, instituído pela
Resolução 201/2015 do Conselho Nacional de Justiça, uma vez que sua implantação acarretará
expressiva economia de papel e de insumos utilizados na impressão de milhares de mandados
e ofícios intimatórios.
Na Justiça do Trabalho, por meio da Resolução Administrativa nº 1.589, de 4 de
fevereiro de 2013, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) instituiu o Sistema Processo Judicial
Eletrônico da Justiça do Trabalho (PJe-JT) como sistema de processamento de informações e
prática de atos processuais, registrando a comunicação eletrônico nos arts. 18, 19, 20 e
seguintes, conforme destaques nossos.
Art.18. No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações, inclusive da Fazenda Pública, far-se-ão por meio eletrônico, preferencialmente mediante publicação no Portal do PJE, sem prejuízo da publicação no Diário de Justiça Eletrônico, quando necessário.
§ 1º As citações, intimações, notificações e remessas que viabilizem o acesso à íntegra do processo correspondente serão consideradas vista pessoal do interessado para todos os efeitos legais.
Segundo os arts. 20 e 19 da resolução, após a notificação ou citação, que deverá
conter o interior teor da petição inicial no endereço eletrônico referente à consulta pública do
PJe-JT, a contagem do prazo de dez dias corridos terá como dia inicial da contagem o dia
seguinte ao da disponibilização do ato de comunicação no sistema, independentemente de esse
dia ser, ou não, de expediente no órgão comunicante.
Já acerca do término do prazo, o art. 20, inciso II prevê que o dia da consumação
da intimação ou comunicação é o décimo dia a partir do dia inicial, caso seja de expediente
judiciário, ou o primeiro dia útil seguinte, ou seja, cria-se uma ciência ficta com tal regra.
Art. 19. No instrumento de notificação ou citação constará indicação da forma de acesso ao inteiro teor da petição inicial no endereço referente à consulta pública do PJe-JT, cujo acesso também disponibizar-se-á no sítio do Tribunal Superior do Trabalho na Rede Mundial de Computadores.
Art. 20. Para efeito da contagem do prazo de 10 (dez) dias corridos de que trata o art. 5º, § 3º, da Lei nº 11.419/2006, nos sistemas de tramitação eletrônica de processos:
I - o dia inicial da contagem é o dia seguinte ao da disponibilização do ato de comunicação no sistema, independentemente de esse dia ser, ou não, de expediente no órgão comunicante;
II - o dia da consumação da intimação ou comunicação é o décimo dia a partir do dia inicial, caso seja de expediente judiciário, ou o primeiro dia útil seguinte, conforme previsto no art. 5º, § 2º, da Lei nº 11.419/2006.
Parágrafo único. A intercorrência de feriado, interrupção de expediente ou suspensão de prazo entre o dia inicial e o dia final do prazo para conclusão da comunicação não terá nenhum efeito sobre sua contagem, excetuada a hipótese do inciso II.
No campo das relações eleitorais, por meio da Resolução nº 23.405, de 27 de
fevereiro de 2014, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) disciplinou os procedimentos relativos
à escolha e ao registro de candidatos nas Eleições de 2014, prevendo, entre outras hipóteses,
uma espécie de domicílio eletrônico público, utilizado para a realização de comunicações aos
interessados (arts. 33, II e 53).
Art. 33. Apresentados os pedidos de registro das candidaturas, a Secretaria providenciará:
Partidários (DRAP), emitindo um recibo de protocolo para o candidato e outro a ser encartado nos autos;
II – a publicação de edital contendo os pedidos de registro para ciência dos interessados, no Diário da Justiça Eletrônico (Código Eleitoral, art. 97, § 1º).
Art. 53. Após decidir sobre os pedidos de registro e determinar o fechamento do Sistema de Candidaturas, os Tribunais Eleitorais publicarão no Diário da Justiça Eletrônico a relação dos nomes dos candidatos e respectivos números com os quais concorrerão nas eleições, inclusive daqueles cujos pedidos indeferidos se encontrem em grau de recurso.
Segundo a previsão, a ciência será considerada presumida com a simples
publicação no Diário da Justiça Eletrônico. De acordo com o art. 97, § 2º, do Código Eleitoral,
do pedido de registro caberá, no prazo de 2 (dois) dias, a contar da publicação ou afixação do
edital, impugnação articulada por parte de candidato ou de partido político.
Outro exemplo no âmbito da Justiça Federal, é a experiência dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais. De acordo com a Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2011, compete
ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça
Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças (art. 3º).
No âmbito dos Juizados Especiais Federais, a legislação regulamentadora
normatizou permissão para que os respectivos Tribunais Federais possam organizar serviço de
intimação das partes e de recepção de petições por meio eletrônico (art. 8º, § 2º).
3. DOMICÍLIO ELETRÔNICO NA RECEITA FEDERAL DO BRASIL
A Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) é um órgão subordinado ao
Ministério da Fazenda, que tem como responsabilidade a administração dos tributos federais e
o controle aduaneiro, além de atuar no combate à elisão e evasão fiscal (sonegação),
contrabando, descaminho, pirataria e tráfico de drogas e animais.
De forma prudente, FRANÇA (2012, p. 85) registra que que a fiscalização
tributária objetiva otimizar a arrecadação de tributos. Mas não pode estar voltada pura e
simplesmente para a finalidade arrecadatória, esquecendo-se do bem comum.
Tendo em vista a necessidade constante de comunicação com os seus
março de 2006, o órgão criou o Domicílio Tributário Eletrônico (DTE), ambiente virtual cujo
objetivo principal foi dar maior celeridade às comunicações, inclusive intimações para prática
de atos processuais.
Em síntese, o DTE é a Caixa Postal disponibilizada nos sistemas eletrônicos de
processamento de dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil, onde são postadas e
armazenadas as correspondências de caráter oficial dirigidas ao contribuinte.
A criação do Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) no âmbito da Receita
Federal do Brasil iniciou um novo ciclo do processo eletrônico, permitindo além das
visualizações (consultas) dos processos, a prática de diversos outros atos processuais, como por
exemplo o envio de notificações, intimações oficiais, com aviso de recebimento eletrônico, em
detrimento do envio dessa documentação por meio físico, pelos Correios e com posterior espera
pelo Aviso de Recebimento (AR), para fins de comprovação de ciência.
Tendo em vista que por meio dos atos processuais é que se observa o devido
processo legal e que a sistemática do domicílio eletrônico tem como pressuposto principal a
presunção de conhecimento dos atos independentemente do acesso por parte do contribuinte,
faz-se relevante a abordagem acerca do princípio.
A Constituição Federal de 1988 assevera que aos litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, inciso IV).
De acordo com MORAES (2016, 112-113), o devido processo legal configura
dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no campo material de proteção ao direito de
liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar paridade total de condições com o Estado
persecutor e plenitude de defesa.
Ainda segundo o autor, o devido processo legal tem como corolários a ampla
defesa e o contraditório. Por ampla defesa entende-se o asseguramento que é dado ao réu de
condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer
a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender necessário. Enquanto o contraditório
é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo condução dialética do processo (par
conditio), pois a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito da defesa de opor-se-lhe
ou dar-lhe a versão que melhor lhe apresente, ou ainda, de fornecer uma interpretação jurídica
Complementando, MARINS (2016, p. 154-156) pontua que o due processo of
law biparte-se nos princípios do devido processo legal substancial (que abarca os postulados do
direito material, como os princípios da legalidade, isonomia, não confisco, etc.) e do devido
processo legal processual, que expressa as garantias elementares do processo administrativo
fiscal a saber: direito de impugnação competente; direito ao contraditório; direito à cognição
formal e material ampla; direito à produção de provas, etc.
Para garantir a sistemática do Domicílio Tributário Eletrônico (DTE), a
legislação vigente teve de ser alterada. Após atualizações do Decreto 70.235, de 6 de março de
1972, norma regulamentadora do processo administrativo fiscal, no âmbito da Receita Federal,
as intimações passaram a ser realizadas por meio eletrônico, conforme transcrição abaixo:
Art. 23. Far-se-á a intimação:
[...]
III - por meio eletrônico, com prova de recebimento, mediante: (Lei n. 11.196/2005)
a) envio ao domicílio tributário do sujeito passivo; ou
b) registro em meio magnético ou equivalente utilizado pelo sujeito passivo.
§ 2° Considera-se feita a intimação:
[...]
III - se por meio eletrônico: (Lei nº 12.844/2013)
a) 15 (quinze) dias contados da data registrada no comprovante de entrega no domicílio tributário do sujeito passivo;
b) na data em que o sujeito passivo efetuar consulta no endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, se ocorrida antes do prazo previsto na alínea a;
c) na data registrada no meio magnético ou equivalente utilizado pelo sujeito passivo;
§ 4º Para fins de intimação, considera-se domicílio tributário do sujeito passivo: (Lei n. 11.196/2005)
I - o endereço postal por ele fornecido, para fins cadastrais, à administração tributária;
II - o endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, desde que autorizado pelo sujeito passivo.
§ 5º O endereço eletrônico de que trata este artigo somente será implementado com expresso consentimento do sujeito passivo, e a administração tributária informar-lhe-á as normas e condições de sua utilização e manutenção. (Lei nº 11.196/2005)
Atualmente a adesão ao Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) é facultativa e
permitirá que sua Caixa Postal no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (e-CAC)
também seja considerada seu domicílio tributário perante a Administração Tributária Federal.
Na prática, a mudança para o contribuinte com a adesão do Domicílio Eletrônico
é que a ciência por parte do sujeito passivo de quaisquer tipos de atos administrativos,
encaminhamento de notificações e intimações, expedição de avisos gerais, protocolo de
documentos, dentre outros serviços, passou a ser de forma eletrônica.
Ao aderir ao DTE, o contribuinte terá várias facilidades, como cadastrar até três
números de celulares e três endereços de e-mail para recebimento do aviso de mensagem na
caixa postal; redução no tempo de trâmite dos processos administrativos digitais; garantia
quanto ao sigilo fiscal e total segurança contra o extravio de informações; e acesso, na íntegra,
a todos os processos digitais existentes em seu nome, em tramitação na RFB, na
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
(CARF)2.
Conforme sintetizado por SALOMÃO (2015, p. 2-3), há inúmeras vantagens e
desvantagens na adoção do Domicílio Tributário Eletrônico da RFB.
Dentre as vantagens, menciona-se a desburocratização, registrando que muitos
serviços que antes, somente eram possíveis por atendimento presencial nas repartições, hoje
com a funcionalidade do domicílio eletrônico ou ambiente virtual com acesso pelo certificado
digital, tornaram-se possíveis pela internet, sem a necessidade de deslocamento e pagamento
de taxas.
Outras vantagens também são citadas: agilidade e redução no tempo de trâmite
dos processos administrativos digitais; economia e celeridade processual; segurança contra
extravio de correspondência, garantia de sigilo fiscal e etc.
A autora, contudo, frisa que a opção pelo Domicílio Tributário Eletrônico por
parte do contribuinte requer conhecimento das regras e acompanhamento constante, bem como
de certificação digital. Nesse diapasão a escritora aponta alguns riscos e/ou desvantagens na
adesão da sistemática do Domicílio Tributário Eletrônico:
a) O fato de a opção poder ser feita por qualquer pessoa, mediante o uso do
certificado digital, o que pode acarretar um a adesão involuntária ao domicílio eletrônico por
parte do contribuinte;
b) Ao acessar a caixa postal, o simples fato de desmarcar a mensagem como se
fosse para a leitura, o sistema registra e sendo uma intimação, a partir desse momento estará
iniciando a contagem do prazo de uma possível defesa e
c) A possibilidade da perda de prazos processuais, principalmente, para aqueles
que não têm o hábito de acessar a caixa postal eletrônica todos os dias, ou então, para quem
aderiu sem perceber.
SALOMÃO (2015, p. 1-2) assevera, ainda, que o domicílio eletrônico passou a
ser utilizado pela Administração Tributária nos âmbitos Municipal, Estadual e Federal,
possuindo em cada uma delas uma denominação diferente, mas com o mesmo propósito, o de
atingir a maior celeridade e eficiência aos atos administrativos. É a modernização e a
informatização da comunicação entre o fisco e os contribuintes, iniciada com a implementação
do uso da certificação digital.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho teve como objetivo examinar o novo paradigma na relação entre o Fisco
Federal e seus contribuintes, tendo em vista a implantação do Domicílio Tributário Eletrônico
(DTE).
Após a abordagem conceitual acerca dos atos de comunicação, analisou-se suas
pecualiradades bem como a problemática brasileira em relação às suas nulidades processuais,
acarretando retardamento das etapas processuais, a anulação do processo por erros de
determinados atos de comunicação e a possibilidade de extinção da punibilidade de alguns atos
por parte do Estado.
Posteriormente, como premissa de regulamentação atual, foi examinado o Novo
Código de Processo Civil enquanto legislação inovadora no âmbito de procedimentos
na Administração Pública, principalmente no âmbito do Poder Judiciário, com a implantação
do Processo Eletrônico Judicial (PJe).
Após, explorou-se o Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) no âmbito da Receita
Federal do Brasil, expondo seus conceitos, pontos vantajosos e deficitários, bem como aspectos
pertinentes que devem ser observados sob o prisma do devido processo legal.
A sistemática adotada pelo DTE tem como premissa principal a aceitação
facultativa do contribuinte de que haverá presunção de conhecimento dos atos
independentemente da consulta por sua parte. Embora a prática seja facultativa e preveja uma
autorização prévia, a fim de se respeitar o devido processo legal e seus corolários (ampla defesa
e contraditório), entende-se expressivo o treinamento e a educação prévia do novo sistema por
parte de seus contribuintes optantes.
Sendo assim, ao passo que o domicílio eletrônico já é uma realidade no sistema
jurídico-administrativo brasileiro, basta agora que os órgãos responsáveis, principalmente o
Poder Judiciário adequem as novas ferramentes de comunicação aos princípios e normas
jurídicas vigentes, em especial às relativas ao devido processo legal, substancial e processual.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972. Dispõe sobre o processo administrativo fiscal. Disponível: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D70235Compilado.htm>. Acesso em 20/4/2017.
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Regimento Interno, Resolução TCU nº 246, de 30 de novembro de 2011. Disponível: <http://portal.tcu.gov.br/normativos/regimentos-internos/regimentos-internos.htm>. Acesso em 20/4/2017.
DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil - Com base no novo CPC - 17ª ed. Salvador: Juspodivm, 2015.
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 20ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 36ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro: administrativo e judicial. 9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
MARTINS, Sérgio Pinto. Manual de Direito Tributário. 12ª. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 31ª ed. São Paulo: Atlas, 2016.
PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário: completo. 6ª. ed. Porto Alegre: Editora do Advogado, 2014.