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NOVO PARADIGMA NA RELAÇÃO ENTRE O FISCO E OS CONTRIBUINTES Vitor Levi Barboza Silva

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XXVI ENCONTRO NACIONAL DO

CONPEDI BRASÍLIA – DF

DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO II

JONATHAN BARROS VITA

LIZIANE ANGELOTTI MEIRA

(2)

Copyright © 2017 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito Todos os direitos reservados e protegidos.

Nenhuma parte desteanal poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meiosempregados sem prévia autorização dos editores.

Diretoria – CONPEDI

Presidente - Prof. Dr. Raymundo Juliano Feitosa – UNICAP

Vice-presidente Sul - Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – PUC - RS

Vice-presidente Sudeste - Prof. Dr. João Marcelo de Lima Assafim – UCAM Vice-presidente Nordeste - Profa. Dra. Maria dos Remédios Fontes Silva – UFRN Vice-presidente Norte/Centro - Profa. Dra. Julia Maurmann Ximenes – IDP Secretário Executivo - Prof. Dr. Orides Mezzaroba – UFSC

Secretário Adjunto - Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto – Mackenzie

Representante Discente – Doutoranda Vivian de Almeida Gregori Torres – USP

Conselho Fiscal:

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Prof. Dr. José Querino Tavares Neto – UFG/PUC PR

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Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas – UFG (suplente)

Secretarias:

Relações Institucionais – Ministro José Barroso Filho – IDP

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Educação Jurídica – Prof. Dr. Horácio Wanderlei Rodrigues – IMED/ABEDi

Eventos – Prof. Dr. Antônio Carlos Diniz Murta – FUMEC Prof. Dr. Jose Luiz Quadros de Magalhaes – UFMG Profa. Dra. Monica Herman Salem Caggiano – USP Prof. Dr. Valter Moura do Carmo – UNIMAR

Profa. Dra. Viviane Coêlho de Séllos Knoerr – UNICURITIBA

D597

Direito tributário e financeiro II [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI

Coordenadores: Jonathan Barros Vita; Liziane Angelotti Meira; Antônio de Moura Borges - Florianópolis: CONPEDI, 2017.

Inclui bibliografia ISBN: 978-85-5505-438-9

Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas

CDU: 34 ________________________________________________________________________________________________ Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC

1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Tributos. 3. Imunidade.

(3)

XXVI ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI BRASÍLIA – DF

DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO II

Apresentação

O XXVI Encontro Nacional do CONPEDI – Conselho Nacional de Pesquisa e

Pós-Graduação em Direito ocorreu em Brasília entre os dias 19 e 21 de julho de 2017, no Centro

Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília-DF, sob o tema: “DESIGUALDADES E

DESENVOLVIMENTO: O papel do Direito nas políticas públicas”.

Esse evento foi realizado em parceria com o Curso de Pós-Graduação em Direito – Mestrado

e Doutorado, da UNB - Universidade de Brasília, Universidade Católica de Brasília – UCB,

Centro Universitário do Distrito Federal – UDF e com o Instituto Brasiliense do Direito

Público – IDP.

Dentre as diversas atividades acadêmicas empreendidas neste evento, tem-se os grupos de

trabalho temáticos que produzem obras agregadas sob o tema comum do mesmo.

Neste sentido, para operacionalizar tal modelo, os coordenadores dos GTs são os

responsáveis pela organização dos trabalhos em blocos temáticos, dando coerência à

produção e estabelecendo um fio condutor evolutivo para os mesmos.

No caso concreto, assim aconteceu com o GT DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO II.

Coordenado pelos professores Jonathan Barros Vita, Liziane Angelotti Meira e Antônio de

Moura Borges, vez que o referido GT foi palco de profícuas discussões decorrentes dos

trabalhos apresentados, os quais são publicados na presente obra.

O direito tributário e financeiro hoje vem ganhando espaço importante nas discussões

acadêmicas, o que vem se refletindo no volume e qualidade de trabalhos apresentados,

colocando esses ramos didaticamente autônomos do direito em posição de destaque nas

discussões contemporâneas, vez que afetam fortemente os cidadãos.

Tendo como pano de fundo esses ramos didaticamente autônomos do direito, foi possível

agrupar os 16 trabalhos apresentados em alguns grupos, os quais se seguem, partindo da

Teoria Geral do Direito Tributário (artigos 01 e 02) para a prática, perpassando Processo

(4)

contemporâneos internacionais da tributação (artigos 08 e 09), Tributação, extrafiscalidade e

meio ambiente (artigos 10 a 12), Políticas tributárias (artigos 13 e 14) e Elementos de tributos

em espécies (artigos 15 e 16), como pode ser visto no sumário abaixo.

É a partir do roteiro firmado, que teoria e prática se encontram no campo do direito tributário

e financeiro, perfazendo uma publicação que se imagina que será de grande valia, dada a

qualidade dos artigos, para a promoção e o incentivo da pesquisa jurídica no Brasil,

consolidando o CONPEDI, cada vez mais, como um importante espaço para discussão e

apresentação das pesquisas desenvolvidas nos ambientes acadêmicos da graduação e

pós-graduação em direito.

Finalmente, deixamos aos leitores nosso desejo de uma boa leitura, fruto da contribuição de

um Grupo de trabalho que reuniu diversos textos e autores de todo o Brasil para servir como

resultado de pesquisas científicas realizadas no âmbito dos cursos de Pós-Graduação Stricto

Sensu de nosso país.

Prof. Dr. Jonathan Barros Vita - Unimar

Profa. Dra. Liziane Angelotti Meira - Universidade Católica de Brasília

Prof. Dr. Antônio de Moura Borges - Universidade Católica de Brasília e Universidade de

(5)

1 Graduado em direito pelo Instituto de Educação Superior de Brasília. Discente do mestrado em Direito e Políticas Públicas pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).

1

DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO ELETRÔNICO: NOVO PARADIGMA NA RELAÇÃO ENTRE O FISCO E OS CONTRIBUINTES

ELECTRONIC TAX DOMICILE: NEW PARADIGM IN THE RELATIONSHIP BETWEEN THE TAXPAYERS AND THE TAX AUTHORITIES

Vitor Levi Barboza Silva 1

Resumo

O artigo aborda o domicílio tributário eletrônico (DTE), no âmbito da Secretaria da Receita

Federal do Brasil, ambiente virtual cujo objetivo principal foi dar maior celeridade às

comunicações, inclusive intimações para prática de atos processuais. A criação do DTE

iniciou um novo paradigma na relação entre o Fisco e seus contribuintes, permitindo, além

das consultas dos processos, a prática de diversos outros atos processuais, como por exemplo

o envio de notificações, intimações, com aviso de recebimento eletrônico, em detrimento do

envio dessa documentação por meio físico, pelos Correios e com posterior Aviso de

Recebimento, para fins de comprovação de ciência.

Palavras-chave: Receita federal do brasil (rfb), Comunicações, Domicílio tributário,

Ciência, Celeridade

Abstract/Resumen/Résumé

This article presents the Electronic Tax Domicile (ETD) in the context of the Brazilian

Federal Revenue Secretariat (RFB). It is a virtual environment, which aims mainly at

speeding up communication, including subpoenas for judicial proceedings. The creation of

the ETD, in the context of the RFB, changed the relationship in between the Taxpayers and

the Tax Authorities. It allows not only visualizations (consultation) of the processes but a

series of other acts, such as mailing notifications and subpoenas with registered electronic

acknowledge receipt instead of physical mailing with a posterior sending of the acknowledge

receipt in conventional postal delivery services.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Brazilian federal revenue secretariat (rfb),

Communications, Tax domicile, Acknowledgement, Celerity

(6)

INTRODUÇÃO

Os atos de comunicação são etapas do processo, por meio pelo qual o

Estado-Administrador se comunica, ouve e interage com seus administrados, seja na cobrança de

deveres seja na informação de direitos.

Segundo DIDIER JR (2015, p. 615), há duas formas de comunicação dos atos

processuais, a real: quando a ciência é dada diretamente à pessoa do interessado (pelo agente

público e por meio de correspondência, correio – AR) e a presumida (ficta): quando a ciência é

feita de forma indireta, seja por meio de publicação de conhecimento público ou por um terceiro

que se presume fazer chegar ao conhecimento do interessado (edital, hora certa, órgão).

Quando há a necessidade de comunicação, o Estado-Administrador realiza seus

atos de comunicação levando em consideração o instituto jurídico domicílio.

Conforme assevera GOMES (2010, p. 172), o conceito de domicílio se integra

de dois elementos: um objetivo, outro subjetivo. O elemento objetivo é o fato de permanecer,

por força da atividade, em certo lugar. O elemento subjetivo, o ânimo de ter esse lugar como a

sede das ocupações habituais. O concurso simultâneo dos dois elementos forma o domicílio.

No âmbito do Direito Processual Civil, por exemplo, a noção de domicílio é

fundamental. Como o domicílio indica uma presunção legal de onde a pessoa esteja presente,

sem ele seria fácil, mormente para as pessoas com constantes deslocações, furtarem-se a

responder a um processo judicial.

Também no Direito Processual Penal, igualmente, é importante a noção de

domicílio, que irá ser considerada para a definição do foro competente. Não sendo conhecido o

local do crime, a competência para julgar o réu e regulada pelo seu domicílio ou residência (art.

72 do Código de Processo Penal).

No campo do Direito Civil, afora outras situações, a importância do domicílio é

enfatizada, principalmente, por ser o lugar onde efetuar-se-á o pagamento do devedor, salvo se

as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da

(7)

Já na esfera do Direito Eleitoral, o domicílio é figura jurídica importante, pois

por meio dele é que o cidadão poderá exercer seu direito-dever de votar na respectiva Zona

Eleitoral. Nesse aspecto, há entendimento do Tribunal Superior Eleitoral no sentido de que, não

comprovado o domicílio na Zona Eleitoral respectiva, deve-se indeferir a transferência de

domicílio eleitoral solicitada.

Na alçada do Controle Externo, segundo o Regimento Interno do Tribunal de

Contas da União, parágrafo único do art. 149, o domicílio tem o condão de influenciar na

distribuição de processos aos ministros e ministros-substitutos, haja vista ser considerado como

critério de distribuição.

O mesmo acontece no âmbito Direito Tributário, nessa ramo o domicílio tem

tanta importância que o Código Tributário Nacional (CTN) prevê no seu art. 127, § 2º a regra

que autoriza a autoridade fiscal recusar o domicílio eleito, quando este impossibilite ou dificulte

a arrecadação ou a fiscalização do tributo. Nessa hipótese, conforme § 1º do mesmo artigo, será

considerado domicílio tributário o local onde se encontrarem os bens, ou onde ocorrerem os

fatos ou atos que deram origem à obrigação tributária. Quando não conhecido ou inaplicáveis

as regras gerais do domicílio tributário, considerar-se-á como domicílio tributário do

contribuinte ou responsável o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que

deram origem à obrigação.

Pode-se concluir, assim, que para o Direito Público é primordial a definição de

um domicílio, pois ao Estado é conveniente que o indivíduo se fixe em determinado ponto do

território para poder ser encontrado, para uma fiscalização no tocante às suas obrigações fiscais,

políticas, civis, administrativas, etc.

1. A PROBLEMÁTICA DO DOMICÍLIO EM RELAÇÃO AOS ATOS PROCESSUAIS

NO BRASIL

Sendo o domicílio a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para

efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negócios jurídicos, é

notório o risco e a fragilidade da ausência de controle e regulamentação no estabelecimento de

(8)

A adversidade no estabelecimento dessa localização do administrado

frequentemente gera inúmeras dificuldades nos atos de comunicação processual. Entre os

principais destacam-se o retardamento das etapas processuais, a anulação do processo por erros

de determinados atos de comunicação e a possibilidade de extinção da punibilidade de alguns

atos por parte do Estado.

Na necessidade de citação de um jurisdicionado que não tem seus dados de

domicílio atualizados junto ao órgão, após duas ou três tentativas de ciência da parte com

devolução de AR pelos Correios, a praxe administrativa adota a sistemática de diligenciar em

busca de atualização dos endereços junto aos órgãos prestadores de serviços públicos de água

e energia elétrica do último estado onde comprovou-se a residência.

Após, em caso de obtenção de possíveis novos endereços do responsável,

tenta-se novamente a comunicação por meio de Correios. Em caso de frustração, quando o

responsável não é localizado, parte-se para a publicação de edital.

Percebe-se que em um processo normal de comunicação o prazo de ciência

estaria em torno de 20 dias no máximo, quando a sistemática é célere e eficiente. Porém, o lapso

temporal entre o início e o fim da ciência é acentuadamente maior nos casos em que o processo

de comunicação é moroso, podendo chegar a durar até mais de 6 meses.

É importante frisar que, além da morosidade, problemas relacionados à citação

podem gerar a nulidade processual, já que podem caracterizar cerceamento de defesa, ou seja,

indo de encontro aos princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa.

Relativamente à anulação do processo por erros de determinados atos de

comunicação, no ano de 2012, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ/SP) entendeu

que não tem validade a advertência inicial em processo administrativo de tomada de contas que

subverte e mitiga o direito ao exercício da ampla defesa.

Desta forma, a decisão anulou um processo no TCE/SP, no qual a parte não foi

notificada pessoalmente sobre a demanda, conforme síntese abaixo:

AÇÃO ANULATÓRIA. Processo de tomada de contas de ex-dirigente de empresa

municipal de transporte coletivo Notificação pessoal inicial que incumbiu o interessado

do acompanhamento de todos os atos posteriores do procedimento administrativo.

(9)

do Estado de São Paulo (LC 709/1993). Impossibilidade de restrição infralegal de

direito constitucionalmente assegurado. Apelação provida.

(Apelação nº 0131220-84.2008.8.26.0053 - TJSP)

E, por fim, sobre a possibilidade de extinção da punibilidade dos atos estatais

por problemas relacionados às comunicações processuais é oportuno ressaltar o curso de

inúmeras ações judiciais de iniciativa do contribuinte com o objetivo de anular o débito fiscal.

Na análise do ponto das nulidades, é prudente os ensinamentos de Leandro

Paulsen sobre as nulidades no processo administrativo-fiscal. Para PAULSEN (2014,

402-403), o reconhecimento da nulidade do processo administrativo fiscal não deve ocorrer em

função de simples irregularidades formais que não sejam capazes, por si só, de comprometer a

sua lisura, sua finalidade e sua legitimidade.

Nesse diapasão, a norma regulamentadora só autoriza o reconhecimento de

nulidade em duas hipóteses: nos atos e termos lavrados por pessoa incompetente e nos

despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de

defesa. É importante ressaltar que a ciência na esfera do processo administrativo fiscal é

regulamentada por meio do Decreto 70.235, de 6 de março de 1972.

Segundo o art. 73 do regulamento, a intimação poderá ser realizada de forma

pessoal (inciso I), por via postal (inciso II) e por meio eletrônico (inciso III). O § 1º do art. 73

preve ainda que, quando resultar improfícuo um dos meios previstos no caput deste artigo ou

quando o sujeito passivo tiver sua inscrição declarada inapta perante o cadastro fiscal, a

intimação poderá ser feita por edital publicado.

O regulamento ainda define como e quando se considera feita a intimação. Se a

intimação for realizada de forma pessoal, considera-se feita na data da ciência do intimado ou

da declaração de quem fizer a intimação (art. 73, § 2º, inciso I). Quando for realizada por via

postal, telegráfica ou por qualquer outro meio ou via, com prova de recebimento, considera-se

feita a intimação na data do recebimento ou, se omitida, quinze dias após a data da expedição

da intimação (art. 73, § 2º, inciso II).

Para regular as situações em que o recebimento era realizada por pessoa diferente

(10)

Súmula CARF nº 9: É válida a ciência da notificação por via postal realizada no

domicílio fiscal eleito pelo contribuinte, confirmada com a assinatura do recebedor da

correspondência, ainda que este não seja o representante legal do destinatário.

Abordando a questão judicial protetiva do contribuinte, MACHADO (2015, p.

485) ensina que a ação anulatória de lançamento tributário recebeu esse denominação em razão

de seu objeto específico, que é o anulamento do procedimento administrativo de lançamento.

Em seu âmbito, o autor exerce de forma mais ampla possível, seu direito de defender-se contra

exigências indevidas de tributa, podendo ser deslindadas todas as questões de direito e de fato,

sem qualquer restrição.

Assim, é possível, ainda, a propositura de ação contra a Fazenda Pública para

anular um ato praticado no procedimento de lançamento, como, por exemplo, a ausência de

intimação regular naquele procedimento.

Do mesmo modo, é oportuno ressaltar registro de MARTINS (2013, p. 249-250)

acerca da possibilidade de impetração de mandado de segurança contra ato de autoridade fiscal

praticado com abuso de poder, com base na Lei nº 12.016/2009.

Exemplo esdrúxulo de invalidação por motivo de ausência de citação é o caso

da anulação da condenação de improbidade administrativa do Senador Lindbergh Farias.

Ao analisar o caso em 2013, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que

houve falha processual porque a defesa não foi citada para apresentar suas considerações na

primeira instância, quando o senador foi considerado inocente das suspeitas de improbidade.

Nesse sentido, o STJ anulou a condenação, pois considerou que houve uma falha insanável no

processo decorrente da falta de devida citação da defesa do réu, conforme ementa abaixo.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECEBIMENTO DA INICIAL.

JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO.

APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. CONDENAÇÃO. VIOLAÇÃO DO

ART. 17, § 9º, DA LIA CONFIGURADA.

1. É nulo o acórdão que, em apelação do Parquet, reforma sentença de improcedência

da demanda, em julgamento antecipado da lide, sem promover a citação dos réus, para

condenar por ato de improbidade administrativa, por violação do art. 17, § 9º, da Lei

8.429/1992. 2. Nulidade reconhecida para determinar o retorno dos autos à 1ª instância,

(11)

contestação e eventual instrução probatória. 3. Acolhida a nulidade apontada por ambos

os recorrentes, fica prejudicada a análise das demais questões ventiladas nos recursos.

4. Recursos especiais providos.

(RE 2013/0157575-0 / Relatora: Ministra Eliana Calmon)

Conforme exposto, norteados pelos princípios da inafastabilidade da jurisdição

e do duplo grau de jurisdição, é comum haver decisões judiciais, impugnações, recursos

administrativos fiscais ou até mesmo do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf)

julgando/decidindo nulos processos por erros de inobservância do princípio do contraditório e

ampla defesa nas comunicações processuais.

Além de contribuir para o sentimento de impunidade por parte da população, as

falhas processuais de comunicação que ocasionam na extinção ou retardamento no poder de

punir do Estado ou na anulação processual nas instâncias superiores são grandes atos

antieconômicos, pois mesmo após utilizar os recursos máquina pública o resultado gerado é

impotente/inapto.

2. DOMICÍLIO ELETRÔNICO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA

Neste capítulo será abordado a previsão normativa do domicílio eletrônico no

âmbito do Novo Código de Processo Civil, bem como sua implementação e utilização por parte

do Poder Judiciário brasileiro.

2.1 A previsão do domicílio eletrônico no atual e Novo Código de Processo Civil

A possibilidade de utilização de meios eletrônicos para fins de comunicação

processual já está prevista no atual (vigente) Código de Processo Civil (art. 221), haja vista as

inovações promovidas pela Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006.

Na ocasião, incluiu-se a possibilidade de realização de intimações, citações e

outros atos por meio eletrônico, contudo, tal possibilidade ficou limitada à edição de lei

(12)

Segundo o art. 1.045 do NCPC, o código entrará em vigor após decorrido 1 (um)

ano da data de sua publicação oficial, que ocorreu no dia 17 de março de 2015, por meio do

Diário Oficial da União, seção 1, páginas 1-51.

De acordo com a exposição de motivos do anteprojeto do NCPC, o código

buscou dar mais celeridade e justiça aos processos, bem como um maior rendimento em prol

das necessidades sociais e uma menor complexidade de seus procedimentos.

Com evidente redução da complexidade inerente ao processo de criação de um novo

Código de Processo Civil, poder-se-ia dizer que os trabalhos da Comissão se orientaram

precipuamente por cinco objetivos: 1) estabelecer expressa e implicitamente verdadeira

sintonia fina com a Constituição Federal; 2) criar condições para que o juiz possa

proferir decisão de forma mais rente à realidade fática subjacente à causa; 3) simplificar,

resolvendo problemas e reduzindo a complexidade de subsistemas, como, por exemplo,

o recursal; 4) dar todo o rendimento possível a cada processo em si mesmo considerado;

e, 5) finalmente, sendo talvez este último objetivo parcialmente alcançado pela

realização daqueles mencionados antes, imprimir maior grau de organicidade ao

sistema, dando-lhe, assim, mais coesão.

(Exposição de Motivos do anteprojeto do Novo Código de Processo Civil Brasileiro)

O novo código trouxe diversos avanços no campo processual, em especial os

relativos às comunicações processuais considerando o uso da tecnologia da informação (TI),

com previsão de uma Seção própria, tratando “Da Prática Eletrônico dos Atos Processuais”,

arts. 193 a 199. Do mesmo modo, em diversas passagens do Novo Código de Processo Civil há

previsões acerca da utilização preferencial de atos por meio eletrônico.

O art. 246, § 1º cria a regra da obrigação de cadastro eletrônico para fins de

comunicação por parte das empresas privadas de grande porte e públicas em geral, sendo que a

sistemática se estende ao Ministério Público, à Defensoria Pública e á Advocacia Pública, por

força do art. 270, parágrafo único.

Art. 246. A citação será feita:

V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei.

§ 1º Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte, as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio.

(13)

Conforme previsões dos artigos 270, 272 e 275, as citações e intimações serão

feitas preferencialmente por meio eletrônicos. Somente no caso de frustação da intimação

eletrônica é que será acionado o oficial de justiça.

Art. 270. As intimações realizam-se, sempre que possível, por meio eletrônico, na forma da lei.

Parágrafo único. Aplica-se ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Advocacia Pública o disposto no § 1º do art. 246.

Art. 272. Quando não realizadas por meio eletrônico, consideram-se feitas as intimações pela publicação dos atos no órgão oficial.

Art. 275. A intimação será feita por oficial de justiça quando frustrada a realização por meio eletrônico ou pelo correio.

Em relação às exigências iniciais, os arts. 287 e 319 garantem a sistemática

eletrônica ao exigirem a indicação de endereço eletrônico na petição inicial e por parte dos

advogados, no caso de procuração.

Art. 287. A petição inicial deve vir acompanhada de procuração, que conterá os endereços do advogado, eletrônico e não eletrônico.

[...]

Art. 319. A petição inicial indicará:

II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;

Os arts. 334 e 945 inclui ainda a possibilidade da audiência de conciliação ou de

mediação serem realizadas por meio eletrônico, bem como do julgamento de recursos e dos

processos de competência originária que não admitem sustentação oral.

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

§ 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico, nos termos da lei.

[...]

Art. 945. A critério do órgão julgador, o julgamento dos recursos e dos processos de competência originária que não admitem sustentação oral poderá realizar-se por meio eletrônico.

§ 1º O relator cientificará as partes, pelo Diário da Justiça, de que o julgamento se fará por meio eletrônico.

(14)

Já o art. 914, § 4º possibilitou a comunicação por meio eletrônico entre

jurisdições diferentes (juiz deprecado ao juiz deprecante).

Art. 914. O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá se opor à execução por meio de embargos.

§ 4º Nos atos de comunicação por carta precatória, rogatória ou de ordem, a realização da citação será imediatamente informada, por meio eletrônico, pelo juiz deprecado ao juiz deprecante.

Por fim, decidiu-se que compete ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e,

supletivamente, aos tribunais regulamentar a prática e a comunicação oficial de atos processuais

por meio eletrônico e velar pela compatibilidade dos sistemas, disciplinando a incorporação

progressiva de novos avanços tecnológicos e editando, para esse fim, os atos que forem

necessários, respeitadas as normas fundamentais (art. 196).

2.2 O domicílio eletrônico no Poder Judiciário brasileiro

Além da Secretaria da Receita Federal do Brasil e das Secretarias de Fazenda

Estadual, há órgãos do Poder Judiciário que já iniciaram ou estão em processo de iniciação da

nova sistemática de comunicação eletrônica.

Recentemente, em 7 de outubro de 2015, em observância à Lei 11.419/2009, por

meio da Resolução n. 10/2015, de 6 de outubro de 2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ)

regulamentou a intimação eletrônica de órgãos públicos1. Sobre o assunto, extraiu-se a seguinte

informação do sítio do STJ:

O Superior Tribunal de Justiça publicou nesta quarta-feira (7) a Resolução 10/2015, que altera a Resolução 14/2013 e regulamenta a intimação eletrônica dos órgãos públicos que têm prerrogativa de intimação pessoal.

Sem caráter obrigatório, o novo sistema de intimações eletrônicas – atualmente em fase de homologação – funcionará por meio de convênios firmados entre o STJ e os órgãos interessados ou mediante cadastramento dos interessados.

A ferramenta tecnológica representa um avanço no quesito da celeridade processual, pois vai permitir que representantes de órgãos públicos sediados em outras unidades federativas sejam intimados eletronicamente e possam visualizar a íntegra do processo em meio virtual.

(15)

http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/noticias/noticias/STJ-De acordo com a resolução, o processamento das intimações eletrônicas poderá ser feito de duas formas: mediante acesso ao Portal de Intimações, após a inclusão de um representante da instituição no cadastro administrado pela Secretaria dos Órgãos Julgadores do tribunal, ou pela comunicação entre sistemas, com a implantação do Modelo Nacional de Interoperabilidade do Poder Judiciário e dos Órgãos de Administração da Justiça (MNI), caso em que o órgão interessado deverá firmar acordo de cooperação técnica com o STJ.

O novo sistema de intimações eletrônicas (Portal de Intimações Eletrônicas),

assegura a observância do prazo de até dez dias corridos para consulta ao teor da intimação,

estabelecido pelo parágrafo 3º do artigo 5º da Lei 11.419/06. Terminado esse prazo, a intimação

ocorrerá de forma automática.

Contudo, o Diário de Justiça Eletrônico continuará a veicular seu conteúdo usual,

ou seja, a intimação eletrônica valerá apenas para as decisões que comportem a observância do

prazo de até dez dias corridos. As intimações que devam ocorrer em prazo inferior, por

determinação legal ou judicial, continuarão a ser feitas da forma convencional.

Ainda de acordo com a notícia, a intimação eletrônica alinha o Superior Tribunal

de Justiça (STJ) ao Plano de Logística Sustentável do Poder Judiciário, instituído pela

Resolução 201/2015 do Conselho Nacional de Justiça, uma vez que sua implantação acarretará

expressiva economia de papel e de insumos utilizados na impressão de milhares de mandados

e ofícios intimatórios.

Na Justiça do Trabalho, por meio da Resolução Administrativa nº 1.589, de 4 de

fevereiro de 2013, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) instituiu o Sistema Processo Judicial

Eletrônico da Justiça do Trabalho (PJe-JT) como sistema de processamento de informações e

prática de atos processuais, registrando a comunicação eletrônico nos arts. 18, 19, 20 e

seguintes, conforme destaques nossos.

Art.18. No processo eletrônico, todas as citações, intimações e notificações, inclusive da Fazenda Pública, far-se-ão por meio eletrônico, preferencialmente mediante publicação no Portal do PJE, sem prejuízo da publicação no Diário de Justiça Eletrônico, quando necessário.

§ 1º As citações, intimações, notificações e remessas que viabilizem o acesso à íntegra do processo correspondente serão consideradas vista pessoal do interessado para todos os efeitos legais.

(16)

Segundo os arts. 20 e 19 da resolução, após a notificação ou citação, que deverá

conter o interior teor da petição inicial no endereço eletrônico referente à consulta pública do

PJe-JT, a contagem do prazo de dez dias corridos terá como dia inicial da contagem o dia

seguinte ao da disponibilização do ato de comunicação no sistema, independentemente de esse

dia ser, ou não, de expediente no órgão comunicante.

Já acerca do término do prazo, o art. 20, inciso II prevê que o dia da consumação

da intimação ou comunicação é o décimo dia a partir do dia inicial, caso seja de expediente

judiciário, ou o primeiro dia útil seguinte, ou seja, cria-se uma ciência ficta com tal regra.

Art. 19. No instrumento de notificação ou citação constará indicação da forma de acesso ao inteiro teor da petição inicial no endereço referente à consulta pública do PJe-JT, cujo acesso também disponibizar-se-á no sítio do Tribunal Superior do Trabalho na Rede Mundial de Computadores.

Art. 20. Para efeito da contagem do prazo de 10 (dez) dias corridos de que trata o art. 5º, § 3º, da Lei nº 11.419/2006, nos sistemas de tramitação eletrônica de processos:

I - o dia inicial da contagem é o dia seguinte ao da disponibilização do ato de comunicação no sistema, independentemente de esse dia ser, ou não, de expediente no órgão comunicante;

II - o dia da consumação da intimação ou comunicação é o décimo dia a partir do dia inicial, caso seja de expediente judiciário, ou o primeiro dia útil seguinte, conforme previsto no art. 5º, § 2º, da Lei nº 11.419/2006.

Parágrafo único. A intercorrência de feriado, interrupção de expediente ou suspensão de prazo entre o dia inicial e o dia final do prazo para conclusão da comunicação não terá nenhum efeito sobre sua contagem, excetuada a hipótese do inciso II.

No campo das relações eleitorais, por meio da Resolução nº 23.405, de 27 de

fevereiro de 2014, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) disciplinou os procedimentos relativos

à escolha e ao registro de candidatos nas Eleições de 2014, prevendo, entre outras hipóteses,

uma espécie de domicílio eletrônico público, utilizado para a realização de comunicações aos

interessados (arts. 33, II e 53).

Art. 33. Apresentados os pedidos de registro das candidaturas, a Secretaria providenciará:

(17)

Partidários (DRAP), emitindo um recibo de protocolo para o candidato e outro a ser encartado nos autos;

II – a publicação de edital contendo os pedidos de registro para ciência dos interessados, no Diário da Justiça Eletrônico (Código Eleitoral, art. 97, § 1º).

Art. 53. Após decidir sobre os pedidos de registro e determinar o fechamento do Sistema de Candidaturas, os Tribunais Eleitorais publicarão no Diário da Justiça Eletrônico a relação dos nomes dos candidatos e respectivos números com os quais concorrerão nas eleições, inclusive daqueles cujos pedidos indeferidos se encontrem em grau de recurso.

Segundo a previsão, a ciência será considerada presumida com a simples

publicação no Diário da Justiça Eletrônico. De acordo com o art. 97, § 2º, do Código Eleitoral,

do pedido de registro caberá, no prazo de 2 (dois) dias, a contar da publicação ou afixação do

edital, impugnação articulada por parte de candidato ou de partido político.

Outro exemplo no âmbito da Justiça Federal, é a experiência dos Juizados

Especiais Cíveis e Criminais. De acordo com a Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2011, compete

ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça

Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças (art. 3º).

No âmbito dos Juizados Especiais Federais, a legislação regulamentadora

normatizou permissão para que os respectivos Tribunais Federais possam organizar serviço de

intimação das partes e de recepção de petições por meio eletrônico (art. 8º, § 2º).

3. DOMICÍLIO ELETRÔNICO NA RECEITA FEDERAL DO BRASIL

A Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) é um órgão subordinado ao

Ministério da Fazenda, que tem como responsabilidade a administração dos tributos federais e

o controle aduaneiro, além de atuar no combate à elisão e evasão fiscal (sonegação),

contrabando, descaminho, pirataria e tráfico de drogas e animais.

De forma prudente, FRANÇA (2012, p. 85) registra que que a fiscalização

tributária objetiva otimizar a arrecadação de tributos. Mas não pode estar voltada pura e

simplesmente para a finalidade arrecadatória, esquecendo-se do bem comum.

Tendo em vista a necessidade constante de comunicação com os seus

(18)

março de 2006, o órgão criou o Domicílio Tributário Eletrônico (DTE), ambiente virtual cujo

objetivo principal foi dar maior celeridade às comunicações, inclusive intimações para prática

de atos processuais.

Em síntese, o DTE é a Caixa Postal disponibilizada nos sistemas eletrônicos de

processamento de dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil, onde são postadas e

armazenadas as correspondências de caráter oficial dirigidas ao contribuinte.

A criação do Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) no âmbito da Receita

Federal do Brasil iniciou um novo ciclo do processo eletrônico, permitindo além das

visualizações (consultas) dos processos, a prática de diversos outros atos processuais, como por

exemplo o envio de notificações, intimações oficiais, com aviso de recebimento eletrônico, em

detrimento do envio dessa documentação por meio físico, pelos Correios e com posterior espera

pelo Aviso de Recebimento (AR), para fins de comprovação de ciência.

Tendo em vista que por meio dos atos processuais é que se observa o devido

processo legal e que a sistemática do domicílio eletrônico tem como pressuposto principal a

presunção de conhecimento dos atos independentemente do acesso por parte do contribuinte,

faz-se relevante a abordagem acerca do princípio.

A Constituição Federal de 1988 assevera que aos litigantes, em processo judicial

ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com

os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, inciso IV).

De acordo com MORAES (2016, 112-113), o devido processo legal configura

dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto no campo material de proteção ao direito de

liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar paridade total de condições com o Estado

persecutor e plenitude de defesa.

Ainda segundo o autor, o devido processo legal tem como corolários a ampla

defesa e o contraditório. Por ampla defesa entende-se o asseguramento que é dado ao réu de

condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer

a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender necessário. Enquanto o contraditório

é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo condução dialética do processo (par

conditio), pois a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito da defesa de opor-se-lhe

ou dar-lhe a versão que melhor lhe apresente, ou ainda, de fornecer uma interpretação jurídica

(19)

Complementando, MARINS (2016, p. 154-156) pontua que o due processo of

law biparte-se nos princípios do devido processo legal substancial (que abarca os postulados do

direito material, como os princípios da legalidade, isonomia, não confisco, etc.) e do devido

processo legal processual, que expressa as garantias elementares do processo administrativo

fiscal a saber: direito de impugnação competente; direito ao contraditório; direito à cognição

formal e material ampla; direito à produção de provas, etc.

Para garantir a sistemática do Domicílio Tributário Eletrônico (DTE), a

legislação vigente teve de ser alterada. Após atualizações do Decreto 70.235, de 6 de março de

1972, norma regulamentadora do processo administrativo fiscal, no âmbito da Receita Federal,

as intimações passaram a ser realizadas por meio eletrônico, conforme transcrição abaixo:

Art. 23. Far-se-á a intimação:

[...]

III - por meio eletrônico, com prova de recebimento, mediante: (Lei n. 11.196/2005)

a) envio ao domicílio tributário do sujeito passivo; ou

b) registro em meio magnético ou equivalente utilizado pelo sujeito passivo.

§ 2° Considera-se feita a intimação:

[...]

III - se por meio eletrônico: (Lei nº 12.844/2013)

a) 15 (quinze) dias contados da data registrada no comprovante de entrega no domicílio tributário do sujeito passivo;

b) na data em que o sujeito passivo efetuar consulta no endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, se ocorrida antes do prazo previsto na alínea a;

c) na data registrada no meio magnético ou equivalente utilizado pelo sujeito passivo;

§ 4º Para fins de intimação, considera-se domicílio tributário do sujeito passivo: (Lei n. 11.196/2005)

I - o endereço postal por ele fornecido, para fins cadastrais, à administração tributária;

II - o endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, desde que autorizado pelo sujeito passivo.

§ 5º O endereço eletrônico de que trata este artigo somente será implementado com expresso consentimento do sujeito passivo, e a administração tributária informar-lhe-á as normas e condições de sua utilização e manutenção. (Lei nº 11.196/2005)

Atualmente a adesão ao Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) é facultativa e

(20)

permitirá que sua Caixa Postal no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (e-CAC)

também seja considerada seu domicílio tributário perante a Administração Tributária Federal.

Na prática, a mudança para o contribuinte com a adesão do Domicílio Eletrônico

é que a ciência por parte do sujeito passivo de quaisquer tipos de atos administrativos,

encaminhamento de notificações e intimações, expedição de avisos gerais, protocolo de

documentos, dentre outros serviços, passou a ser de forma eletrônica.

Ao aderir ao DTE, o contribuinte terá várias facilidades, como cadastrar até três

números de celulares e três endereços de e-mail para recebimento do aviso de mensagem na

caixa postal; redução no tempo de trâmite dos processos administrativos digitais; garantia

quanto ao sigilo fiscal e total segurança contra o extravio de informações; e acesso, na íntegra,

a todos os processos digitais existentes em seu nome, em tramitação na RFB, na

Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais

(CARF)2.

Conforme sintetizado por SALOMÃO (2015, p. 2-3), há inúmeras vantagens e

desvantagens na adoção do Domicílio Tributário Eletrônico da RFB.

Dentre as vantagens, menciona-se a desburocratização, registrando que muitos

serviços que antes, somente eram possíveis por atendimento presencial nas repartições, hoje

com a funcionalidade do domicílio eletrônico ou ambiente virtual com acesso pelo certificado

digital, tornaram-se possíveis pela internet, sem a necessidade de deslocamento e pagamento

de taxas.

Outras vantagens também são citadas: agilidade e redução no tempo de trâmite

dos processos administrativos digitais; economia e celeridade processual; segurança contra

extravio de correspondência, garantia de sigilo fiscal e etc.

A autora, contudo, frisa que a opção pelo Domicílio Tributário Eletrônico por

parte do contribuinte requer conhecimento das regras e acompanhamento constante, bem como

de certificação digital. Nesse diapasão a escritora aponta alguns riscos e/ou desvantagens na

adesão da sistemática do Domicílio Tributário Eletrônico:

(21)

a) O fato de a opção poder ser feita por qualquer pessoa, mediante o uso do

certificado digital, o que pode acarretar um a adesão involuntária ao domicílio eletrônico por

parte do contribuinte;

b) Ao acessar a caixa postal, o simples fato de desmarcar a mensagem como se

fosse para a leitura, o sistema registra e sendo uma intimação, a partir desse momento estará

iniciando a contagem do prazo de uma possível defesa e

c) A possibilidade da perda de prazos processuais, principalmente, para aqueles

que não têm o hábito de acessar a caixa postal eletrônica todos os dias, ou então, para quem

aderiu sem perceber.

SALOMÃO (2015, p. 1-2) assevera, ainda, que o domicílio eletrônico passou a

ser utilizado pela Administração Tributária nos âmbitos Municipal, Estadual e Federal,

possuindo em cada uma delas uma denominação diferente, mas com o mesmo propósito, o de

atingir a maior celeridade e eficiência aos atos administrativos. É a modernização e a

informatização da comunicação entre o fisco e os contribuintes, iniciada com a implementação

do uso da certificação digital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho teve como objetivo examinar o novo paradigma na relação entre o Fisco

Federal e seus contribuintes, tendo em vista a implantação do Domicílio Tributário Eletrônico

(DTE).

Após a abordagem conceitual acerca dos atos de comunicação, analisou-se suas

pecualiradades bem como a problemática brasileira em relação às suas nulidades processuais,

acarretando retardamento das etapas processuais, a anulação do processo por erros de

determinados atos de comunicação e a possibilidade de extinção da punibilidade de alguns atos

por parte do Estado.

Posteriormente, como premissa de regulamentação atual, foi examinado o Novo

Código de Processo Civil enquanto legislação inovadora no âmbito de procedimentos

(22)

na Administração Pública, principalmente no âmbito do Poder Judiciário, com a implantação

do Processo Eletrônico Judicial (PJe).

Após, explorou-se o Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) no âmbito da Receita

Federal do Brasil, expondo seus conceitos, pontos vantajosos e deficitários, bem como aspectos

pertinentes que devem ser observados sob o prisma do devido processo legal.

A sistemática adotada pelo DTE tem como premissa principal a aceitação

facultativa do contribuinte de que haverá presunção de conhecimento dos atos

independentemente da consulta por sua parte. Embora a prática seja facultativa e preveja uma

autorização prévia, a fim de se respeitar o devido processo legal e seus corolários (ampla defesa

e contraditório), entende-se expressivo o treinamento e a educação prévia do novo sistema por

parte de seus contribuintes optantes.

Sendo assim, ao passo que o domicílio eletrônico já é uma realidade no sistema

jurídico-administrativo brasileiro, basta agora que os órgãos responsáveis, principalmente o

Poder Judiciário adequem as novas ferramentes de comunicação aos princípios e normas

jurídicas vigentes, em especial às relativas ao devido processo legal, substancial e processual.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em 25/4/2017.

BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5172.htm>. Acesso em 20/4/2017.

BRASIL. Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972. Dispõe sobre o processo administrativo fiscal. Disponível: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D70235Compilado.htm>. Acesso em 20/4/2017.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Regimento Interno, Resolução TCU nº 246, de 30 de novembro de 2011. Disponível: <http://portal.tcu.gov.br/normativos/regimentos-internos/regimentos-internos.htm>. Acesso em 20/4/2017.

DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil - Com base no novo CPC - 17ª ed. Salvador: Juspodivm, 2015.

(23)

GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 20ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 36ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro: administrativo e judicial. 9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

MARTINS, Sérgio Pinto. Manual de Direito Tributário. 12ª. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 31ª ed. São Paulo: Atlas, 2016.

PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário: completo. 6ª. ed. Porto Alegre: Editora do Advogado, 2014.

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