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MERCADO CAMBIAL O MERCADO DE CÂMBIO. 1. Conceitos Básicos de Taxa de Câmbio:

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Curso de Especialização em Gestão de Negócios com Ênfase em Finanças

MERCADO CAMBIAL

Fevereiro , 2006

Prof. Dr. Antonio Lopo Martinez

O MERCADO DE CÂMBIO

1. Conceitos Básicos de Taxa de Câmbio:

A Taxa de Câmbio Nominal (E) é a quantidade de moeda estrangeira necessária para adquirir a unidade da moeda nacional. No entanto, no Brasil é costume inverter esta relação e denominar a taxa de câmbio como a quantidade de moeda nacional necessária para adquirir a moeda estrangeira. Costumamos dizer: ontem o dolar fechou a 2,25 reais.

A taxa de câmbio é um dos preços básicos da economia e representa a relação de troca entre duas moedas, por exemplo: 1US$ = 3,12 R$ = 0,6 Libras = 120 Ienes = 0,8 Euros A Teoria da Paridade do Poder de Compra da Moeda: A taxa de câmbio ou relação de troca entre duas moedas, tem uma determinação, em principio, clara e objetiva, embora pouco prática como veremos a seguir, que é a lei do preço único. Produtos idênticos tem preços diferentes quando expressos na moeda de seus respectivos países. A relação entre os diversos preços da mesma mercadoria definiria a relação nominal de troca entre as moedas. Se o Big Mac representasse toda a economia, custando 2,5 US$

nos EU e 5,5 R$ no Brasil, a Taxa de Câmbio Nominal definida pela lei do preço único seria a relação entre estes valores e 1 US$ = 2,2 R$. Isto é: E = 2,2 = Preço em R$ / Preço em US$. Se o preço em reais do Big Mac passasse para, digamos, 6,5 R$, a taxa de câmbio nominal, E, seria maior, teria mudado para 2,6. Neste caso diríamos que o real se desvalorizou, perdeu valor, pois são necessários mais reais para comprar o mesmo produto. Este é o sentido de um conceito fundamental, o conceito de desvalorização cambial.

Como a taxa de câmbio é um preço, sua determinação depende do fluxo de moeda estrangeira o que depende não apenas do comércio de mercadorias, mas também dos serviços de fatores e, especialmente, dos fluxos de capitais refletidos no comportamento da conta de capital do balanço de pagamentos. Desta forma, os estoques da dívida externa e do investimento direto (das multinacionais) no país também influenciam a taxa de câmbio. Assim, a lei do preço único, apesar de clara e simples, tem pouca utilidade, pois a economia moderna não pode ser reduzida a um conjunto de produtos homogêneos transacionados no mercado internacional.

Porém, o valor relevante nas transações com o exterior não é a taxa nominal E, mas a Taxa de Câmbio Real (Er), que representa a relação de preços entre o produto estrangeiro convertido à moeda nacional e o do similar nacional.

$

$ R U

P EP

Er= ; Sendo: PU$, o preço do produto estrangeiro em dólares e PR$, o preço do similar nacional em reais. Como o produto E.PU$ representa o preço do produto estrangeiro em Reais, a taxa de câmbio real é a relação entre o preço do produto estrangeiro e o nacional ambos expressos na moeda local. Portanto, a trajetória do câmbio real no tempo é um excelente indicador do grau de competitividade dos produtos nacionais frente aos concorrentes externos. Se E⋅PU$ = PR$

, Er = 1, a taxa de câmbio nominal é neutra para os efeitos do comércio internacional.

Porém, se E⋅PU$ > PR$ , Er > 1, a taxa de câmbio nominal está desvalorizada, o que

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. estimula as exportações, a tomada de empréstimos, o investimento direto, etc. Ao

contrário, quando Er < 1, o câmbio está valorizado, favorecendo as importações, os pagamentos de dívidas e as remessas de divisas para o exterior.

O Valor de Er depende do câmbio nominal (E) e do nível de preços dos produtos nacionais e estrangeiros. Uma desvalorização da taxa de câmbio nominal modifica no mesmo montante a taxa real, desde que os preços internos e externos não variem. Se o aumento nominal de preços internos for acompanhado por idêntica desvalorização da taxa de câmbio nominal, o câmbio real também não se altera. Na realidade, como no Brasil os preços internos tendem a subir mais do que os externos, se o cambio nominal não se altera, a taxa de câmbio real tende a diminuir, o que prejudica os exportadores.

Neste caso, dizemos que a taxa de câmbio nominal está ficando apreciada (valorizada) e haverá bons motivos para esperar a desvalorização da taxa nominal. Para efeito do comércio internacional e das condições de competitividade dos produtos nacionais é importante conhecer a trajetória no tempo da taxa de câmbio real.

Como o comércio internacional é mais intenso com alguns países do que com outros, os preços dos produtos dos principais parceiros comerciais terão maior influencia na determinação da taxa de câmbio real, o que justifica o uso de um novo conceito, um pouco mais rigoroso, o de Taxa de Câmbio Efetiva, que é a taxa de câmbio real ponderada pelo peso relativo de cada parceiro comercial.

Já a Taxa de Câmbio de Equilíbrio, que é um conceito empírico, seria aquela capaz de manter o equilíbrio de longo prazo das transações autônomas do balanço de pagamentos, igualando os fluxos da oferta e demanda de divisas. Não obstante, estas transações, comerciais e financeiras, são fortemente condicionadas, também, pelos estoques de dívidas e de investimentos externos diretos já realizados, assim como pelas taxas de juros interna e internacional, de modo que: os estoques do passado; os fluxos do presente e as perspectivas do futuro, contribuem para fixar o valor da taxa de câmbio nominal e para explicar sua volatilidade intrínseca. A experiência do Brasil confirma a dificuldade de definir este conceito.

O Mercado de Câmbio determina a relação de troca entre as diversas moedas e é constituído pelo conjunto de instituições que possibilitam a comercialização das moedas conversíveis e dos ativos denominados nestas moedas.

2. A Determinação da Taxa de Câmbio

Como qualquer outro preço, a taxa de câmbio, na ausência de intervenção do governo, é determinada no mercado de divisas pela oferta e procura. A oferta corresponde aos saldos ou créditos em moeda estrangeira conversível, provenientes das exportações de bens e serviços, receitas de serviços de fatores, empréstimos externos, investimentos estrangeiros, etc. A procura de divisas é a solicitação de moeda estrangeira para pagar importações de bens e serviços do exterior, para conceder empréstimos a residentes no exterior, para pagamentos de juros e amortizações, etc. Quando a taxa de câmbio

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aumenta, se desvaloriza, maior será o interesse dos exportadores, dos tomadores de empréstimos externos, etc. De outro lado, quanto menor a quantidade de R$ necessária para obter a divisa, ou menor o câmbio nominal, maior será sua procura para realizar importações, pagar empréstimos, fazer remessas de lucros, etc.

Quando a demanda por moeda estrangeira aumenta, devido a: pagamentos de juros, de amortizações de empréstimos; importações, etc., costumamos dizer que a taxa de câmbio

“aumenta”, porque necessitamos mais moeda nacional para comprar a divisa. O que ocorreu de fato foi que a moeda nacional se desvalorizou frente a moeda estrangeira. A curva de demanda por divisas, D, se desloca para cima. Quando a demanda por divisas diminui ocorre o contrário. Às vezes, a oferta de moeda estrangeira aumenta pelo crescimento do fluxo de capitais externos, especialmente quando as taxas de juros internas são muito atraentes, ou quando surgem condições excepcionais para investimentos externos, ou porque as exportações aumentam. Nestas ocasiões a taxa de câmbio tende a “cair”, isto é, a divisa ao ser mais abundante se torna mais barata. Neste caso dizemos que a taxa de câmbio caiu, de fato o Real se valorizou. A curva de oferta de divisas, S, se deslocou para baixo.

R$/1US$

S S’

3,90 BACEN oferece divisas (Limite superior) E

Tx .C. Banda de flutuação controlada

2,80 BACEN compra divisas (Limite inferior)

D”

D’

D

Qe Q’ Q” Quantidade de Divisas (U$)

Quando o Banco Central estabelece uma faixa de flutuação ou banda cambial, mesmo que informalmente, deve estar disposto e, mais importante, ter os meios para regular o mercado de divisas, comprando ou vendendo a quantidade necessária de moeda estrangeira para sustentar os limites de flutuação, o que pode exigir considerável disponibilidade de reservas. Como a taxa de câmbio é um dos preços básicos da economia é compreensível que as autoridades se esforcem para evitar flutuações excessivas.

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. 3. Tipos de Taxa de Câmbio (Regime Cambial).

Basicamente, os regimes de câmbio são dois. Ou o mercado é livre e a taxa de câmbio flutua sem restrições, ou o Banco Central tem o monopólio e impõe uma relação de troca fixa. Na atualidade os mercados de divisas costumam ser livres mas, dependendo do país e das circunstancias, as autoridades monetárias costumam intervir para atenuar a instabilidade e evitar o excesso de volatilidade.

Desde os acordos de Bretton Woods, ao final da II grande guerra, até o início dos anos setenta, o regime dominante foi o de taxa ce câmbio fixa, sob a égide das regras do FMI.

Desde então tem habido muita instabilidade nos mercados de câmbio, provavelmente em decorrência da volatilidade dos mercados financeiros agora muito menos regulamentados.

3.1 Taxa de Câmbio Fixa.

Neste regime o Banco Central estabelece a taxa de câmbio nominal, comprometendo-se a comprar e vender qualquer quantidade de divisas, a fim de manter a paridade preestabelecida. Deve ser capaz de financiar com divisas, à taxa de câmbio prefixada, qualquer déficit do Balanço de Pagamentos, e com moeda nacional, qualquer superávit. A autoridade monetária se obriga a intervir no mercado de câmbio, com a freqüência e intensidade requeridas para manter a paridade, o que costuma representar um custo considerável pela necessidade de manter um elevado volume de divisas (reservas).

Outra modalidade de câmbio fixo é o Currency Board (Comitê da Moeda), quando a oferta de moeda local está limitada pela disponibilidade da moeda-ancora, formada por reservas em moeda estrangeira. A moeda local deixa de ser fiduciária, pois está totalmente lastreada em divisas e caso venha a existir desconfiança em relação ela, acabará sendo substituída pela divisa. Neste caso não ha possibilidade de crise cambial.

Em ambos os casos o Banco Central perde o controle da oferta de moeda e o poder de emissão. Perde as funções de emprestador de última instancia e de estabilizador da economia através da política de juros. A recessão costuma ser a alternativa para equilibrar os desajustes das contas externas, pois contribui para aumentar as exportações enquanto reduz as importações. É o conhecido ajuste “por baixo”.

O câmbio fixo tem profundas implicações macroeconômicas, especialmente em relação à execução da política monetária, pois sua manutenção impõe ao Banco Central a obrigação de comprar ou vender qualquer quantidade de moeda estrangeira, e assim negociar o equivalente da moeda local, o que na prática elimina a autonomia da autoridade monetária para definir e executar uma política monetária independente.

Quais seriam, então, as vantagens deste regime? Basicamente três. Primeira: maior segurança e previsibilidade nos negócios que envolvem o comércio e as finanças internacionais. Segunda: se o compromisso com a paridade cambial em vigor for

suficientemente forte, estará eliminada a perspectiva de desvalorização e não haverá razão para que a taxa de juros interna seja muito diferente da internacional e, terceira:

dado que a taxa nominal de câmbio é um dos preços básicos da economia, quando fixa, contribui decisivamente para a estabilidade geral dos preços, pois elimina o aumento de preços dos bens importados. A experiência confirma que a taxa de câmbio fixa contribui poderosamente para a estabilização monetária, especialmente após experiências inflacionarias. Ao mesmo tempo, ao representar uma forte restrição sobre a política monetária, o câmbio fixo tem reforçado a credibilidade dos planos de estabilização, como foi comprovado nos Planos Cruzado e Real.

O câmbio fixo também acarreta sérias desvantagens, sendo, talvez, a principal a rigidez imposta á política monetária. A oferta de moeda local passa a depender do montante das reservas em moeda estrangeira conversível, que devem ser elevadas e cuja manutenção poderá ter um custo considerável, especialmente quando provenientes de empréstimos de curto prazo. Ao mesmo tempo, a taxa de juros interna terá de acompanhar o movimento dos juros externos, afim de evitar o movimento especulativo de capital, o que acabaria forçando a alteração do câmbio. Neste regime, a política econômica interna, fiscal e monetária, se subordina à política cambial a fim de garantir sua estabilidade. As fontes dos possíveis desequilíbrios macroeconômicos como, déficits interno ou externo, pressões inflacionarias, fuga de capitais, etc., que alimentariam a expectativa de desvalorização, devem ser evitados.

Como, neste caso, a política monetária não pode ser usada para influenciar a taxa de juros, seja para corrigir as flutuações da economia no curto prazo, ou para alterar as condições da produção e do emprego, se exigirá da política fiscal a flexibilidade para responder aos desequilíbrios, o que dado sua rigidez institucional é uma tarefa praticamente impossível.

Ao mesmo tempo, sob condições de forte movimentação de capital especulativo e alta volatilidade de ativos financeiros, fato concreto do mundo atual, qualquer modificação na credibilidade da política cambial pode afetar o fluxo de capitais e tornar a desvalorização inevitável, pois o “câmbio fixo” impede a possibilidade de defesa rápida e eficaz da moeda nacional contra os ataques especulativos externos. Neste regime, uma entrada especulativa de capitais externos deverá ser monetizada, e a fuga dos mesmos terá efeito fortemente contracionista na base monetária, de modo que a economia nacional fica sujeita a ciclos de expansão e recessão de origem externa e fora de seu controle. Tanto a súbita monetização como seu oposto, a drástica contração monetária, tendem a ser igualmente incompatíveis com o ritmo esperado para o crescimento do PIB, razoavelmente constante e moderado, imposto pelas restrições da expansão física da oferta de bens e serviços.

Não é possível imaginar que alterações rápidas e compensatórias na balança comercial ou de serviços possam equilibrar o balanço de pagamentos, contrabalançando o efeito monetário do fluxo de capitais especulativos em moeda estrangeira. De imediato, a rigidez de preços e salários impede a possibilidade de ajuste no setor real e a política fiscal contracionista, como alternativa, provocará recessão e desemprego. Concluindo,

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. taxa de câmbio fixa e alta mobilidade de capitais voláteis são, com certeza, fenômenos

incompatíveis. São cada vez mais freqüentes as manifestações a favor da necessidade de regulamentação do mercado financeiro internacional com o intuito de exercer algum controle sobre os fluxos do capital especulativo e a correspondente volatilidade do mercado de ativos.

A experiência dos planos de estabilização após 1986 mostra que tem sido muito difícil manter o câmbio fixo sob condições de desequilíbrio externo e alta mobilidade de capitais, e as correções tem sido traumáticas devido à quebra do compromisso das autoridades com a estabilidade de preços. A rigidez deste regime exige grandes ajustes no setor real da economia, que provocam recessão e desemprego, especialmente, quando o câmbio está apreciado, pois a disponibilidade de divisas tende a ser escassa.

3.2. Taxa de Câmbio Flexível ou Flutuante:

Quando determinada no mercado de divisas. Se os preços das moedas flutuam livremente sob condições similares às da concorrência perfeita, dizemos que a flutuação é limpa, quando o mercado sofre algum tipo de intervenção, com limites para a variação, mas sem perder as características básicas, temos a flutuação suja.

Neste regime o ajuste do mercado de câmbio se da no preço da divisa e não na quantidade da mesma a ser negociada, de modo que o Banco Central não precisa manter grandes reservas em moeda estrangeira. Quando, por exemplo, há déficit nas transações correntes de um país, o que significa que a demanda supera a oferta de moeda estrangeira, a moeda local se desvaloriza, a divisa fica mais cara, o que encarece as importações enquanto estimula as exportações. No caso de superavits ocorrerá o contrário. Este ajuste da taxa de câmbio tende a equilibrar automaticamente as contas externas o que torna a política monetária independente do setor externo. Resumindo:

como o mecanismo de preços se encarrega de eliminar os excessos de oferta e demanda de divisas, as contas externas deverão estar equilibradas.

Este sistema também apresenta inconvenientes. As taxas de câmbio tem-se mostrado muito voláteis, tornando instáveis as transações internacionais com bens, serviços e capitais, o que tem levado os Bancos Centrais a aumentar muito suas reservas, para poder intervir nos mercados de divisas e minimizar as flutuações operando no chamado dirty floating. Por sua vez, os agentes recorrem ao mercado futuro de moedas para proteger-se das oscilações indesejadas, realizando operações de hedge. A experiência mostra que as taxas de câmbio tem oscilado em termos reais.

Entre as causas internas, que podem perturbar um regime de taxa de câmbio flexível e dificultar seu ajuste, temos a indisciplina fiscal ou monetária. Alterações bruscas na demanda e nos fluxos do comercio internacional podem provocar déficits na conta de transações correntes, criando condições para a expectativa de desvalorização ou para a elevação da taxa de juros interna frente à externa.

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Uma alternativa pragmática entre o regime de câmbio fixo e flutuante, que procura maximizar as vantagens de cada um deles minimizando as desvantagens, é a modalidade de taxa de câmbio flexível com banda, que pode ser larga ou estreita, com flutuação livre entre limites preestabelecidos. O Banco Central interfere apenas quando a paridade cambial sai fora dos limites.

4. Administração da Taxa de Câmbio:

A taxa de câmbio é um dos preços básicos da economia e exerce enorme influencia sobre o setor real, especialmente nas economias mais abertas. Como também afeta o fluxo de capitais que entram e saem do país, interfere profundamente nas variáveis monetárias, por exemplo, na quantidade de moeda e nas condições do crédito. Daí que, apesar de ser determinada livremente no mercado, seja tratada como um instrumento privilegiado da política econômica. Os Bancos Centrais podem, em circunstancias extremas, impor um regime de câmbio fixo no contexto de um plano de estabilização da moeda, ou intervir para defender a moeda nacional de um ataque especulativo (fuga de capitais). Nestes casos mais graves deverão dispor de Fundos de Estabilização, freqüentemente empréstimos do FMI, o que implica no custo de dispor de elevado volume de reservas.

Podem recorrer também ao Controle Cambial, através de desvalorizações ou apreciações ou, de forma mais radical, pela da centralização das operações de câmbio. Na maioria das vezes as intervenções são esporádicas para executar ajustes na condução da política macroeconômica.

5. Alterações da Taxa de Câmbio:

Em principio, a relação de troca entre duas moedas deve refletir a relação de custos e preços das mesmas mercadorias em ambas as economias, de acordo com o conceito de

“paridade do poder de compra da moeda”. Porém, a variação relativa entre os preços internos e externos altera de imediato a taxa de câmbio real e os fluxos do comércio internacional, o que no longo prazo deve alterar a taxa de câmbio nominal. Ao mesmo tempo, os ativos financeiros denominados nas moedas locais estão sujeitos a variações de preços nos seus respectivos mercados, o que explica a flutuação das taxas de juros, e, especialmente, a intensidade e direção do movimento internacional de capitais e, consequentemente, as modificações no sistema de paridade cambial. Resumindo:

modificações no comércio internacional de mercadorias e serviços, e, sobretudo, nas que registram o fluxo de capitais, dão origem a alterações nas taxas de câmbio. De fato, a crescente movimentação de capitais especulativos, a raiz da desregulamentação do sistema financeiro internacional, tem criado instabilidade nos mercados de câmbio.

Taxa de Câmbio e Taxa de Juros : A dependência entre juros e câmbio decorre da mobilidade internacional de capitais, especialmente, desde que, sob a crescente integração dos mercados financeiros, as aplicações de portfolio se tornaram mais intensas, seguras e baratas. O comportamento dos mercados futuros de câmbio comprova a influencia mutua entre o comportamento das taxas de juros e o sistema de taxas de

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. cambio. A variação da taxa de juros num determinado mercado, seja: por variações na

política monetária; na percepção de risco; alterações na preferência pela liquidez;

mudança no valor dos ativos (valor presente dos rendimentos futuros), ou qualquer outro motivo, afeta o fluxo de capitais de curto prazo e, consequentemente, a taxa de câmbio correspondente. Ao mesmo tempo, alterações nos mercados de câmbio, como por exemplo, a perspectiva de desvalorização cambial, provocam deslocamentos de capitais, o que influencia as taxas de juros e os preços esperados dos ativos financeiros. Este foi o caso das crises financeiras no Leste Asiático (1977), Russia (1988), México (1998) e, mais recentemente na Argentina (2001).

A perspectiva de desvalorização dos ativos reais e financeiros na moeda local da origem à fuga de capitais, isto é, à rejeição da moeda local, o que acaba provocando sua desvalorização prevista e ou a excepcional elevação da taxa de juros interna como medida desesperada para evitá-la, como ocorreu no Brasil em 1999.

Em princípio, a relação juros-câmbio é relativamente simples. Podemos dizer que existe uma relação inversa entre a variação da taxa de juros e da taxa de câmbio. Se a taxa de juros interna se reduz em relação à internacional, haverá saída de capitais e maior demanda por divisas, consequentemente, a taxa de câmbio tende a desvalorizar-se (a taxa de câmbio aumenta), porque a moeda estrangeira se torna relativamente mais escassa. Se, ao contrário, a taxa de juros interna se eleva significativamente acima da externa, como resultado, por exemplo, de forte contração monetária ou excessiva pressão de demanda por recursos para rolagem da dívida pública, haverá entrada de capital estrangeiro, cuja maior oferta levará à apreciação cambial.

De uma forma geral, o surgimento de um diferencial entre a taxa de juros de um determinado mercado em relação a outro é uma boa medida da variação esperada da taxa de câmbio entre suas respectivas moedas. Como resultado desta relação entre juros e câmbio, amplamente conhecida nos mercados financeiros, surge uma variação compensatória entre a taxa de juros e a taxa de câmbio esperada, dado que os especuladores antecipam o comportamento mais provável do mercado de moedas, de modo que alterações na taxa de juros interna em relação à taxa de juros externa, provocadas por mudanças na política monetária do Banco Central, tendem a ser compensadas por mudanças na taxa de câmbio, suficientes para contrabalançar os efeitos da variação da taxa de juros no movimento dos fluxos do capital especulativo.

Por exemplo, se a taxa de juros real do país cair abaixo do que o mercado considera atraente em função de sua avaliação de risco, haverá saída de capitais e redução das reservas em divisas que poderão se tornar claramente escassas. Estão criadas as condições para a desvalorização cambial, que tendera a ser antecipada para evitar a provável fuga de capitais. Resumindo: desconsiderando os diferencias de risco nos diferentes mercados, a relação entre a taxa de juros interna e a internacional tende a coincidir com a relação entre a taxa de câmbio presente e a esperada.

Do exposto se deduz que, para defender uma dada taxa de câmbio, a autoridade monetária poderá estabelecer a taxa de juros e a política monetária correspondente que julgar necessária. Uma política monetária restrita que eleve os juros, tendera a apreciar a taxa de câmbio. Por sua vez, a expansão monetária e o juro barato favorecerão a desvalorização. Um exemplo prático desta relação compensatória entre juros e câmbio é o oferecido pela revalorização do real, imediatamente após a implantação do Plano Real em Junho de 1995, quando o diferencial entre a taxa de juros interna e externa foi responsável por forte entrada de capitais e correspondente valorização da taxa de câmbio.

Temos que, em condições de livre mercado, o excesso de oferta de divisas tende a apreciar a moeda nacional. A apreciação cambial só não ocorre se o BACEN emite moeda para adquirir e reter o acréscimo de divisas, deslocando sua demanda no mesmo sentido da oferta. Esta política, porém, aumentaria a base monetária reduzindo a taxa de juros interna e a razão para a entrada de capitais externos. Um bom exemplo desta suposta relação entre as taxas de câmbio e de juros está contida na receita de política monetária do FMI. Quando na crise de confiança surge a fuga de capitais e a conseqüente desvalorização cambial o receituário ortodoxo recomenda a contração monetária e a elevação da taxa de juros. Outro exemplo, embora em sentido contrário, é o comportamento do Banco Central da China, que para evitar a apreciação de sua moeda retêm enormes reservas em dólares provenientes dos saldos de comercio com os EUA, mantendo o Yuan desvalorizado e a taxa de juros baixa, o que tem impulsionado o crescimento do país.

6. Efeitos da Política Cambial

Por tratar-se de um preço básico da economia é altamente desejável que a taxa de câmbio permaneça estável. Mais importante do que a política cambial e a intervenção no mercado de divisas, o que pode exigir a ação do governo, é evitar as causas que possam levar a sua instabilidade, normalmente os desequilíbrios nos “fundamentos” do sistema econômico, tais como: déficits estruturais no balanço de pagamentos; excessivo endividamento de curto prazo em moeda estrangeira; inflação crônica; déficits fiscais;

dívida pública excessivamente elevada em relação ao PIB, etc.

A desvalorização cambial tende a provocar inflação porque torna mais caros, em moeda nacional, os produtos importados. Aumenta, também, em moeda nacional, o montante da dívida externa e dos passivos, inclusive internos, denominados em dólares (p.ex., dívida pública indexada ao dólar). Ao mesmo tempo, aumenta as receitas das exportações e encarece as importações, favorecendo o saldo da Balança Comercial. Por sua vez, a valorização do câmbio dificulta as exportações e estimula as importações, estimulando, ocasionalmente, o surgimento de déficit no comércio exterior. O câmbio valorizado diminui, também, o valor em moeda nacional da dívida externa e contribui para a redução dos preços, ajudando na estabilização da moeda. Não é por outra razão que os planos de estabilização monetária bem sucedidos costumam vir acompanhados de taxas de juros altas e valorização cambial, como ocorreu no Plano Cruzado em 86 e, de novo, no Plano Real de 94.

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. A política ortodoxa de juros altos e câmbio valorizado visa reduzir a demanda agregada

para combater a inflação, mas com o passar do tempo a recessão original tende para a estagnação econômica, como o comprova a experiência brasileira recente. Países como a China, Coréia do Sul, Indonésia e Malásia, entre outros, tem obtido altas taxas de crescimento econômico sem inflação significativa com a política oposta, de câmbio desvalorizado e taxas de juros baixas, o que coloca em xeque o receituário do FMI para as ditas economias emergentes.

7. A Política Cambial no Brasil

O Brasil tem uma longa tradição no uso da política cambial como instrumento privilegiado de política econômica com o intuito de impulsionar as exportações e baratear as importações. Durante o modelo primário exportador a queda dos preços internacionais costumava ser compensada com a desvalorização da moeda local, como forma de sustentação dos negócios da oligarquia rural exportadora, provocando inflação e a desejada transferência de renda para o grupo político e econômico que ocupava o poder.

Desde 1968 até o Plano Cruzado (03/1986), vigorou a política de minidesvalorizações cambiais, cujo objetivo era manter a taxa de câmbio real praticamente constante, eliminando a especulação em torno de suas possíveis mudanças, que se faziam necessárias devido à elevada inflação do período. Apesar desta política, clara e estabelecida, de indexação cambial, ocorreram duas maxidesvalorizações de 30% em 1979 e 1983.

Durante os primeiros meses de vigência do Plano Cruzado a taxa de câmbio foi mantida fixa, o que resultou em apreciação cambial e forte estímulo para o surgimento de déficit em conta corrente. A fim de evitar os inconvenientes do câmbio fixo e aproveitar, ao mesmo tempo, suas vantagens no controle de preços, o plano Real, de Março de 1994, adotou o sistema de câmbio flexível com banda estreita, mantendo o real claramente valorizado com a ajuda de taxas de juros elevadas. O programa de estabilização contava, na linguagem dos analistas, com uma “ancora cambial”. Novamente a sobrevalorização provocou déficits em conta corrente e, finalmente, maciça fuga de capitais, o que levou a nova desvalorização de mais de 50% em Março de 99. Desde então vigora um regime de câmbio flexível cuja estabilidade depende da saúde dos “fundamentos”

macroeconômicos internos e do comportamento dos mercados de capitais externos, dos quais depende a liquidez do país em moeda conversível. Quando explode uma crise de liquidez internacional, como as que ocorreram no final dos anos noventa, a taxa de câmbio nominal oscila bruscamente e a taxa de juros interna, como medida defensiva, se torna extremamente elevada. A política cambial brasileira continua extrema e perigosamente dependente dos fluxos de capitais externos de curto prazo, dos caprichos das agências de rating e das “exigências” das instituições multilaterais (FMI), devido ao excessivo passivo externo líquido (PEL) do país.

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BIBLIOGRAFIA:

Conjuntura Econômica. FGV.

HALL, R & J.B.Taylor. Macroeconomia. Teoria, Desempenho e Política. Campus. 1989 LOPES, Luiz M. e M.S. de Vasconcellos (org). Manual de Macroeconomia. Ed.

Atlas.1998

Balanço de Pagamentos (Padrão Simplificado)

Milhões US$ 1998 1999 2000 2001 2002 2003

. Balanço Comercial: (Xm - Zm) (+) Exportaçoes(FOB) (-) Importações (FOB)

. Balanço de Serviços (líquido) (Xs-Zs) Viagens Internacionais (Turismo) Transportes

Seguros Rendas dos Capital - Juros Líquidos - Lucros e Dividendos - Diversos

Receitas e Despesas Governamentais . Transferências Unilaterais (Xu - Zu) . (1+2+3): Balança Transações Correntes . Balanço de Capitais

Investimento Líq. Estrangeiro Direto Empréstimos e Financiamentos Amortizaçoes Investimento em Portfólio . (4+5): SALDO: Superávit (+) Déficit (-) . Transações Compensatórias

Variação das reservas Operações de regularização Atrasados

(6.484) 51.120 57.594 (28.798) (4.146) (3.259) 81

(11.948) (7.181) (1.837) (385) 1.778 (33.611) 25.641 26.017 61.984 (33.587) (1.851) (7.970)

(1.261) 48.011 49.272 (25.829) (1.457) (3.071) (128)

(15.237) (4.099) (1.339) (498) 2.027 (25.062) 17.240 29.987 44.264 (49.120) 1.360 (7.822)

(697) 55.086 55.783 (25.706) (2.086) (3.308) 4

(15.088) (3.589) (1.081) (550) 1.796 (25.051) 22.346 30.563 42.494 (34.690) 2.722 (2.262)

2.64 0 58.223 55.583 (27.496) (1.468) (2.956) (275)

(14.881) (4.961) (2.303) (652) 1.638 (23.217)

26.890 22.636 9.605

- 872 3.307

13.126 60.361 47.235 (23.273) (398) (2.084) (420)

(13.130) (5.162) (2.079) (252) 2.390 (7.757) 12.003 16.566 4.958

- (4.797)

302

24.830 73.085 48.254 (23.640) 218 (1.746) (436)

(13.020) (5.640) --- (151) 2.867 4.051 5.543 10.144 --- --- 5.122 8.496

FONTE: CONJUNTURA ECONÔMICA – FGV

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