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O E O ESTADO JUDICIAL ENQUANTO ESTADO . Karina Mombelli Sant Anna, Matheus Gonçalves dos Santos Trindade

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XXVI CONGRESSO NACIONAL DO

CONPEDI SÃO LUÍS – MA

DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL

ANDRÉ VIANA DA CRUZ

OTAVIO LUIZ RODRIGUES JUNIOR

(2)

Copyright © 2017 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito Todos os direitos reservados e protegidos.

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D597

Direito civil constitucional [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI

Coordenadores: André Viana Da Cruz; Cláudia Mansani Queda De Toledo; Otavio Luiz Rodrigues Junior;– Florianópolis: CONPEDI, 2017.

Inclui bibliografia ISBN:978-85-5505-541-6

Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: Direito, Democracia e Instituições do Sistema de Justiça

CDU: 34 ________________________________________________________________________________________________

Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC

1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Civil. 3. Constituição. 4. Dano Moral. XXVI Congresso Nacional do CONPEDI (27. : 2017 : Maranhão, Brasil).

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XXVI CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI SÃO LUÍS – MA

DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL

Apresentação

Os artigos contidos na presente publicação foram anunciados no Grupo de Trabalho Direito

Civil Constitucional, durante o XXVI Encontro Nacional do Conpedi, em São Luís,

intitulado Direito, Democracia e Instituições no Sistema de Justiça, promovido em parceria

com a Universidade Ceuma, no Maranhão. A coletânea de temas apresentados como

comunicações científicas envolveu participações de vários Programas de Pós-Graduação em

Direito representados por seus pesquisadores de mestrado e doutorado de todo o país e

consolidam relevantes comunicações científicas a contribuir para a evolução doutrinária que

entrelaça temas relativos ao direito civil e ao direito constitucional, em seus pontos de

aproximação pertinentes. Os artigos foram selecionados por meio de dupla avaliação cega

por pares e levaram ao encontro acadêmico de pós-graduação várias controvérsias e desafios

que se iniciaram desde a análise crítica da teoria do reconhecimento e a democracia,

perpassaram conteúdos sobre o neoconstitucionalismo e a função social do judiciário, o

controle da convencionalidade, para alcançar os pronunciamentos científicos sobre institutos

essencialmente do direito privado como a curatela e a pessoa com deficiência, a

desconsideração da personalidade jurídica, a decadência, algumas dimensões dos direitos da

personalidade, o estudo da boa-fé no sistema brasileiro e da responsabilidade civil, algumas

noções do contrato advindas do direito romano na contemporaneidade, a abordagem da

discussão sobre a responsabilidade pessoal do agente público, o estudo do instituto usucapião

em face do bem hereditário e a função social da propriedade. Acrescidos de exposições sobre

os conceitos de igualdade e de vulnerabilidade e a reparação de danos, assim como a

atualidade necessária à compreensão a respeito do dano moral e da multipropriedade no

direito civil brasileiro.

O número de artigos apresentados foi de 17, todos permeados de intensos debates, desde o

enfrentamento da conformação da disciplina direito civil constitucional até a nítida

abordagem de institutos do direito civil, com a participação desta coordenação que foi

enriquecida pela maciça cooperação dos pesquisados presentes e de convidados e renomados

professores que prestigiaram os trabalhos.

Os objetos sobre os quais se dialogou tem ampla abrangência na ciência do direito e

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preocupação com o entrelaçamento possível e científico entre os ramos do direito civil e

constitucional a demonstrar a singular contribuição acadêmica concretizada no Grupo de

Trabalho.

Registre-se por parte desta coordenação conjunta os agradecimentos pela participação dos

pesquisadores.

Prof. Dr. Otávio Luiz Rodrigues Junior - USP

Profa. Dra. Cláudia Mansani Queda De Toledo - ITE

Prof. Dr. André Viana Da Cruz - UFG

Nota Técnica: Os artigos que não constam nestes Anais foram selecionados para publicação

na Plataforma Index Law Journals, conforme previsto no artigo 7.3 do edital do evento.

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O NEOCONSTITUCIONALISMO E O ESTADO JUDICIAL ENQUANTO ESTADO CONSTITUCIONAL.

THE NEW CONSTITUTIONALISM AND THE JUDICIAL STATE WHILE CONSTITUTIONAL STATE.

Karina Mombelli Sant Anna Matheus Gonçalves dos Santos Trindade

Resumo

A expressão neoconstitucionalismo vem sendo utilizada recorrentemente na doutrina

estrangeira e brasileira como uma promessa de um novo constitucionalismo. Por essa razão, o

presente trabalho tem como escopo conhecer o fenômeno constitucional, a partir de uma

análise histórica e doutrinária sobre tema, bem como enfrentar os seus atuais e principais

reflexos no cenário jurídico brasileiro.

Palavras-chave: Neoconstitucionalismo, Direito constitucional, Nova hermenêutica

constitucional, Efetividade

Abstract/Resumen/Résumé

The expression new constitucionalism has been used recurrently in the foreign and Brazilian

doctrine as a promise of a constitucionalism. For this reason, the present study has scope to

know the prhenomenonneoconstitucionalist from a historical and doctrinal analysis about the

subject, as well as confront your actual and main reflexes in the Brazilian legal contex.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: New constituonalism, Constitutionalright, New

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1. INTRODUÇÃO.

O presente trabalho tem como objetivo central analisar o fenômeno do

neoconstitucionalismo, partindo dos seus marcos de origem, dos seus conceitos, até suas

principais influências, para que, ao final, seja possível tecer algumas considerações acerca das

centrais transformações ocorridas com a sua recepção no cenário jurídico brasileiro.

Sabe-se que, a partir do marco histórico da promulgação da Constituição de 1988, o

Brasil iniciou um processo de redemocratização política, e como conseqüência o Direito

brasileiro viveu uma ruptura do paradigma constitucional, que foi inspirada em movimentos

históricos e jurídicos externos anteriores.

Essas mudanças concederam à vigente Constituição brasileira uma supremacia não

apenas formal, mas também efetivamente material, considerando que, a partir dela, o texto

constitucional começou a tratar fortemente de decisões substantivas que regulam uma série de

temas sociais e políticos até então não disciplinados.

Além do mais, de maneira inovadora, essa mudança constitucional introduziu normas

com elevada carga axiológica ao sistema normativo, que vieram servir de base a toda e

qualquer interpretação, criação, aplicação do Direito, em decorrência do fenômeno da

constitucionalização.

Contudo, diante dessa nova realidade jurídica no país, era previsível que a jurisdição

sofreria grande impacto, tendo em vista que a incorporação desses princípios, interpretações e

conceitos amplos propostos não mais conseguiriam acompanhar o que estabelecia a teoria

clássica da subsunção, proposta pelo positivismo tradicional.

A necessidade de legitimar e justificar as decisões jurisdicionais, bem como de

resolver as tensões provenientes desse contexto novo de pluralismo axiológico fez com que as

fontes1 do direito passassem a contribuir para o tema, em uma tentativa de resolução racional

dos conflitos existentes.

1

São alguns exemplos: DUARTE, Écio Oto Ramos; POZZOLO, Susanna. Neoconstitucionalismo e positivismo jurídico. São Paulo: Landy, 2006; BARROSO, Luís Roberto. O novo direito

constitucional brasileiro: contribuições para a construção teórica e praticada jurisdição constitucional

no Brasil. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2013; DIMOULIS, Dimitri. Neoconstitucionalismo e

Moralismo Jurídico. In: Filosofia e teoria constitucional contemporânea. Rio de Janeiro : Lumen

(7)

Sendo assim, amparados na pioneira doutrina estrangeira2, iniciou-se um processo

teórico dos ideais neoconstitucionalistas, vivido fortemente nos dias de hoje, que busca

refletir e solucionar os problemas jurídicos que envolvem, principalmente, a interpretação

racional dos textos legais.

Ou seja, em linhas gerais, as ideias neoconstitucionalistas sustentam: a superação do

antigo formalismo jurídico; analisam e defendem a manutençãodas mudanças ocorridas

principalmente noconstitucionalismo do século XX e salientam, do mesmo modo, que a

atividade jurisdicional deve estar sempre vigilante na defesa dos valores constitucionais.

O neoconstitucionalismo, se pensado como ideologia do Direito, também pode

representar um ideal humanitário que busca a consagração de uma ciência jurídica realmente

comprometida com o Estado Democrático de Direito e é nesse âmbito que se revela como

uma promessa de um ordenamento jurídico mais justo.

É imprescindível deixar claro que a perspectiva deste trabalho será o contexto

jurídico pátrio, de modo que, muito embora os escritos dos doutrinadores estrangeiros sejam

utilizados como referência, a principal fonte da pesquisa está na doutrina nacional que, ao fim

e ao cabo, refletem como o país incorpora, aplica e efetiva as teses neoconstitucionalistas.

Também deve ser ressaltado que a expressão neoconstitucionalismo possui diversos

significados e entendimentos, razão pela qual o trabalho apresentará diversas posições sobre o

tema, mas não irá se filiar a uma única concepção. Isto porque o cerne do presente artigo não

tem como escopo realizar análises críticas sobre determinados conceitos, autores ou, até

mesmo, sobre posições jusfilosóficas, mas sim visa compreender e refletir sobre as

implicações da adoção dessas teses ao sistema.

Em síntese, pretende-se ao final deste trabalho identificar quais foram as

transformações ocorridas a partir desse novo paradigma constitucional e, igualmente, analisar

se as promessas do denominado “novo” constitucionalismo estão se mostrando eficazes para a solução dos casos concretos no Brasil, pois, afinal, é pertinente indagar se a promessa de uma

ciência jurídica comprometida está sendo compreendida no seio social.

2. “NEO”CONSTITUCIONALISMO(S): TENTATIVA DE DEFINIÇÕES E SEUS

MARCOS HISTÓRICOS, FILOSÓFICOS E TEÓRICOS.

No âmbito doutrinário, não há consenso acerca da origem da expressão

neoconstitucionalismo, tendo em vista que para alguns autores (SARMENTO, 2009, p. 114)

2

(8)

ela ocorreu sobretudo na Itália e na Espanha, enquanto para outros (BARROSO, 2015, p.03),

a sua matriz foi gerada na Alemanha e na Itália.

Independentemente do seu berço, é incontestável que a adoção da terminologia no

Brasil se deve principalmente pela vasta divulgação e importância da coletânea

Neoconstitucionalismo(s), que foi organizada pelo jurista mexicano Miguel Carbonell. Na

referida obra, o doutrinador conseguiu reunir sobre o tema de diversos autores renomados

mundialmente como: Paolo Comanducci, Robet Alexy, Luis Prieto Sanchís, Luigi Ferrajoli e

Susanna Pozzolo.

Como a proliferação de publicações sobre a matéria, o neoconstitucionalismo

começou a ser pensado como um conjunto de novas teorias, metodologias e/ou ideologias que

uniam sob o mesmo rótulo uma vasta variedade de autores que, muito embora, possuíssem

bases filosóficas – positivismo, positivismo inclusivo, não-positivistas- distintas, acabavam

por convergir em alguns pontos centrais relativos à matéria constitucional como um todo.

A fim de comprovar as alegações acima sustentas, utiliza-se como exemplo o fato de

que positivistas como Luigi Ferrajoli, Luiz Prieto Sanchís, Susanna Pozzolo e não-positivistas

como Ronald Dworkin, Robert Alexy, Carlos Santiago Nino são considerados

neoconstitucionalistas, ainda que, pelas suas concepções jusfilosóficas, não estejam em

consenso uníssono quanto à questão relativa à necessidade de separação, ou não, do Direito e

a Moral. (SARMENTO, 2009)

Nesse contexto, importante mencionar as palavras de Humberto Ávila de que “é

certo que inexiste um único conceito do que venha a ser “neoconstitucionalismo”, uma vez

que a diversidade de autores, suas perspectivas, elementos e concepções da palavra não

permite o esboço de uma única teoria constitucional.” (AVÍLA, 2009)

Para Daniel Sarmento, as diversas visões sobre esse fenômeno constitucional da

contemporaneidade contemplam desde doutrinadores positivistas e não positivistas até os

defensores do uso de métodos de aplicação do Direito e opositores do emprego de qualquer

metodologia hermenêutica, o que revela a complexidade da conceituação e, por certo, da

temática. (SARMENTO, 2009)

Entretanto, antes de compreender mais especificamente esse “movimento” do

neoconstitucionalismo e suas características, cabe, todavia, tecer algumas considerações sobre

os seus marcos históricos, filosóficos e teóricos, pois a relevância da compreensão prévia

deles deriva do motivo de que eles sustentam e, por diversas vezes, justificam as teorias que

(9)

A doutrina brasileira mais atualizada utiliza recorrentemente esses marcos - histórico,

filosófico e teórico- quando trata do neoconstitucionalismo. Tal escolha didática ganhou

substancialmente relevância no âmbito acadêmico em decorrência da classificação proposta

pelo professor Luís Roberto Barroso. (BARROSO, 2015).

O marco histórico é ponto inicial desta reflexão e, ao longo da exposição, serão

também tratados os marcos filosóficos e teóricos. Com efeito, para Luís Roberto Barroso, as

constituições representavam, na Europa, até o final da Segunda Guerra Mundial, documento

meramente político, ou seja, não existia um controle constitucional que fizesse valer os

mandamentos constitucionais. Assim, após a derrota dos regimes totalitários –nazista e

fascista, emergiu a necessidade de se criar direitos e garantias fundamentais, bem como os

seus mecanismos de efetivação, que limitassem o poder abusivo do Estado contra o povo.

(CAMBI, 2006, p.663)

Desse modo, as ideias neoconstitucionalistas adviriam de uma nova perspectiva

histórica mundialmente definida após o período bélico, momento em que a cultura jurídica, de

diversos países do velho continente, sofreu mudanças significativas no tocante à forma de

compreensão do Direito, o que fez com que países como Alemanha, Itália, Espanha e Portugal

passassem a contemplar cartas constitucionais muito menos procedimentalistas, e mais

repletas de normas de elevado teor axiológico (valores), que atraíam para a constituição

competência de decidir sobre temas de alta relevância social.

Ainda, segundo Luís Roberto Barroso, a Lei Fundamental de Bonn (Constituição

Alemã) de 1949 e a criação do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha, instituído em

1951, foram os principais marcos legislativos iniciais do desenvolvimento desse novo direito

que redefiniu o conceito, lugar e influência da Constituição sobre as instituições

contemporâneas. Além disso, o novo movimento aproximou salutares ideias constitucionais à

democracia, produzindo uma nova forma de organização política: o Estado democrático de

Direito enquanto Estado Constitucional.(BARROSO, 2015, p.3-4)

A partir desses eventos históricos, o crescimento do estudo teórico e jurisprudencial

acerca da ciência constitucional foi marcante nos países de origem de tradição

romano-germância, o que impulsionou a promulgação da Constituição da Itália em 1947 e a instalação

da sua Corte Constitucional no ano de 1956. Posteriormente, Portugal e Espanha aderiram ao

processo de reconstitucionalização e modificaram as suas cartas constitucionais.

Esse movimento relatado se justifica, em síntese, porque a sociedade europeia se viu

(10)

experimentou verdadeiras barbáries na Segunda Guerra Mundial, o que fez com que as

atenções fossem voltadas para a limitação do poder do Estado e para a consagração de direito

liberais, econômicos e sociais. (FIGUEREDO, 2014)

As atrocidades perpetuadas no período bélico fizeram com que a noção de dignidade

da pessoa humana fosse reestabelecida, no sentido de que não mais apenas as regras do jogo

político seriam definidas previamente, mas também o conteúdo das normas e a sua dimensão.

Para que além da segurança jurídica, o compromisso com a justiça fosse a ser reconhecido e

respeitado.

Nesse contexto - constitucionalismo a partir do Século XX -, percebe-se o marco

filosófico do neoconstitucionalismo: o pós-positivismo, pois as fronteiras entre a moral e

direito passaram a ficar mais estreitas, tendo em vista que as próprias cartas políticas

passaram a contemplar princípios que, por vezes, começaram a legitimar conteúdos

evidentemente morais

Isto porque a adoção de uma interpretação positivista não encontrava mais amparo

após os regimes tirânicos vividos na Europa, quando se verificou que tal postura filosófica,

ainda que fornecesse segurança jurídica e limitação ao poder soberano, mostrou-se muito

pouco interessada na efetivação de direito, ou seja, não conjugava legalidade e efetividade.

MELLO, 2012)

Nos dizeres de Paulo Bonavides, o positivismo clássico acabou por modificar os

princípios em meras pautas programáticas supralegais, que não tinham verdadeira eficácia em

face de uma hermêutica e de uma jurisdição constitucional com baixos mecanismos de

concretização dos conteúdos constitucionais. (BONAVIDES, 2012)

Em vista disso, em um ambiente pós-positivista, começa-se a se pensar nas ideias

neoconstitucionalistas que, antes de primar primordialmente pela legalidade e pelo

formalismo, buscam a excelência na concretização dos direitos fundamentais postos.

Essas alterações internacionais de paradigma no Continente Europeu, trazidas

fortemente nas obras de Luís Roberto Barroso, refletiram seguidamente na esfera legislativa e

jurisprudencial brasileira, notoriamente, após a promulgação da Constituição de 1988, pois, a

partir desse marco histórico nacional, o direito brasileiro da mesma forma passou por uma

espécie de ruptura paradigmática na sua ordem constitucional e acabou por iniciar um

(11)

Somente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, é que houve uma

travessia de perspectiva jurídica constitucional brasileira, tendo em vista que, apenas com o

seu advento, a Carta Maior do país passou a ter valor superior às leis e o Poder Judiciário

ganhou maior poder político. Nesse sentido, impende destacar que a Constituição Federal

retornou, juntamente com os direitos fundamentais, a ser a fonte primária e vinculativa do

Estado de Direito pátrio, mesmo após a vigência de vinte anos de duração do regime militar

no país, o que ainda culminou, nos anos seguintes, certa resistência a tal reconhecimento.

(SARLET, 2012)

Nesse novo horizonte de reconhecimento da Constituição como instrumento

vinculativo de poder, o país centralizou a sua Carta Política e, com ela, passou a normatizar

princípios que, por serem irradiados por todo o globo jurídico, vieram regular e criar

interpretações das normas infraconstitucionais das mais variadas, que agora deveriam estar

em constante harmonia com o texto constitucional, cujo controle é destinado às Cortes

Constitucionais.

Diante desse contexto de constitucionalismo moderno instalado, qual seja, diversos

países do globo - inclusive o Brasil - com constituições tratando não só de direitos

individuais, como também políticos e sociais de natureza prestacional, que passaram a

contemplar na sua maioria normas com abertura e indeterminação semântica, observou-se a

necessidade da criação de novas técnicas de interpretação judicial que superassem a clássica

subsunção proposta pelo positivismo e que conseguissem dar respostas ao modelo

constitucional moderno, tendo em vista que, nas palavras de Santiago Ariza (ARIZA, 2005,

p.241): “El razonamiento lógico-formal disse muypoco acerca de La aplicación de los

princípios”, e é nesse contexto que se encontram as teorias, ideologias, metodologias neoconstitucionalistas atuais.

Da exposição acima realizada, percebe-se que como marco teórico se pode

estabelecer, em síntese, é a valorização da força normativa da constituição, a crescente

expansão da jurisdição constitucional e a necessidade de novo modelo interpretativo

constitucional. Também conclui-se que o marco histórico do neoconstitucionalismo é o

constitucionalismo do Século XX e as suas transformações nos cenários jurídicos e o marco

filosófico é pós-positivismo que supera a tradição positivista clássica.

Porém, antes de finalizar esse panorama histórico-filosófico para dar início a um

(12)

considerações operadas por Dimitri Dimoulis (DIMOULIS, 2009) ao analisar a obra

“Neoconstitucionalismos e a constitucionalização do direito: o triunfo tardio do direito

constitucional no Brasil” e por Luís Afonso Hack (HECK, 2017) que, em certa sintonia, demonstram que o operador do direito deve ter muito cuidado ao lançar a ideia de novidade

quando se fala em neoconstitucionalismo, pois o estudo histórico aprofundado revela que

doutrinadores de séculos anteriores já tratavam dessas questões.

Da leitura de Luís Afonso Heck, é possível extrair muito nitidamente que na obra

“Wesenund Entwicklungder Verfassungsgerichtsbarkeit” de Hans Kelsen, publicada antes do período pós-bélico, já era possível visualizar questões atinentes ao neoconstitucionalismo.

Com efeito, é transcrita no texto de Heck a seguinte frase escrita por Kelsen: “ as

constituições modernas contêm não somente normas relativas aos órgãos e ao procedimento

da dação das leis, mas também um catálogo de direitos fundamentais e direito de liberdade”.

Também é encontrada a seguinte assertiva no artigo elaborada por Kelsen: “a

anticonstitucionalidade de uma lei pode não somente consistir nisto, que o procedimento foi

vicioso, mas também nisto, que o conteúdo da lei contradiz os princípios ou linhas diretivas

estabelecidos na constituição, excede as barreiras lá fixadas”. Igualmente se localiza: “não

está excluída de modo nenhum a possibilidade que um tribunal constitucional, chamado a

decidir sobre a questão de constitucionalidade de uma lei,casse essa lei com a fundamentação

que ela é injusta, porque “justiça” é um princípio constitucional e, por isso, deve ser aplicado pelo tribunal constitucional.”

Quanto aos mecanismos de efetivação desses direitos, ressalta-se o instrumento da

ação popular previsto no artigo 144, da Lei Constitucional Austríaca, cuja reforma, em 1920,

Kelsen participou. Esse dispositivo, posteriormente regulado pela corte, desde logo conferia

uma via processual adequada ao titular do direito em questão para concretizar os direitos

fundamentais violados por atos Estatais.

A par dessas afirmativas, é possível concluir que a ruptura do paradigma

constitucional existia e se propagava desde o início do Século XX e não somente após a queda

dos regimes totalitários. As palavras de Kelsen que reconheciam, em linhas gerais, a força

normativa e superioridade da constituição e modelo axiológico previsto nela, a necessidade de

um controle de constitucionalidade do legislativo pelos tribunais constitucionais e a

importância dos mecanismos de efetivação para a consagração desses preceitos fundamentais

(13)

Seguindo essa linha de retrocesso histórico, imperioso destacar da mesma forma a

posição de Dimitri Dimoulis que, ao analisar a obra de Barroso, crítica o marco histórico por

ele desenvolvido. Para esse doutrinador, a produção acadêmica europeia e americana já

relatava as constituições como sempre e necessariamente supremas à legislação infra desde

17933.

No tocante ao Século XVIII, menciona a posição dos franceses Sieyès (1793) e

Guizot (1833) quanto à supremacia da constituição e a sua pura juridicidade na época.

Posteriormente, utiliza o doutrinador italiano Biscaretti di Ruffía – que na época comentava

sobre o constitucionalismo do país no século XVIII - para justificar a incoerência da ideia de

que a “materialização” da constituição apenas ocorreu no período posterior ao momento bélico. (DIMOULIS, 2009)

O autor sustenta que não se conhece Constituições que contrariem a regra da sua

superioridade e do seu caráter material-valorativo-político dos seus conteúdos. Isto pelo

motivo de que o Poder Judiciário assumiu um papel particularmente ativo na defesa da

supremacia constitucional desde o início do constitucionalismo, defendendo a tutela dos

direitos fundamentais por meio de fiscalização e anulação de atos do Poder Legislativo.

Para embasar tal assertiva, o autor utiliza o caso Marbury vs. Madison da Suprema

Corte Americana de 1803, o controle de constitucionalidade na Grécia e na Noruega no

Século XIX e a Constituição Federal de 1874 da Suíça - que previa controle constitucionais

das leis estaduais pelo Tribunal Federal - para comprovar que a concepção de que as cartas

constitucionais, anteriores ao marcos histórico do final do Século XX, eram apenas

documentos políticos, desprovidos de rigidez e controle com o legislativo está equivocada.

Com isso, o que se pretende estabelecer é a ideia de que, muito embora essa

expansão constitucional tenha se dado mundialmente com maior ênfase no final do século

XX, não é possível sustentar que tais mudanças de perspectivas jurídicas e sociais ocorreram

somente no século citado, após a Segunda Guerra Mundial, dado que principais marcos

teóricos do neoconstitucionalismo já estavam presentes nas doutrinas de séculos anteriores e,

por tal razão, deve-se adotar a expressão “neo”constitucionalismo com cautela, tendo em vista

que algumas dessas teorias, ideologias e metodologias apresentadas na época atual podem

revelar muito pouca originalidade.

3

(14)

Estabelecidos e situados os marcos históricos, filosóficos e teóricos, como também

retomando a explanação realizada no início deste tópico, que estabelecia a imprecisão quanto

à conceituação da expressão neoconstitucionalismo, mostra-se necessário compreender, a

partir daqui, os pontos de convergência entre os doutrinadores neoconstitucionalistas, com o

intuito de conhecer esse fenômeno e as alterações práticas por ele perpetradas.

Preliminarmente, cabe estabelecer que esse fenômeno pode ser compreendido como

teoria do Direito, ideologia do Direito, metodologia de análise do Direito, podendo significar,

à luz do conhecimento doutrinário, a personificação de um certo tipo de Estado de Direito ou

a representação de uma teoria do direito destinada a explicar o modelo constitucional vigente

ou, ainda, traduzir uma ideologia que busca defender e justificar a fórmula política desejada.

(COMANDUCCI, 2003)

Assim, conhecida a complexa estrutura da matéria, revela-se necessário trazer alguns

conceitos estrangeiros e nacionais para que se consiga traçar, ainda que minimamente, uma

concepção geral neoconstitucionalista atual.

Para Susanna Pozzolo, autora Italiana da Universidade de Gênova, as características

do neoconstitucionalismo são: a) adoção de uma noção específica de Constituição, que foi

denominada “modelo prescritiva de constituição como norma; b) a defesa da tese segundo a

qual o direito é composto (também) de princípios; c) a adoção de uma técnica interpretativa

denominada “ponderação” ou “balanceamento”; d) a consignação de tarefas de integração à

jurisprudência e de tarefas pragmáticas à Teoria do Direito. (DUARTE; POZZOLO, 2006,

p.97)

Já para Alfonso Garcia Figueroa, o neoconstitucionalismo pode ser definido como:

Como acabo de señalar, la constitucionalización Del ordenamiento jurídico no se há limitado

a transformar el Derecho, sino que se predica también del estilo de pensamiento de juristas y

teóricos Del Derecho. La constitucionalización de pensamiento jurídico há dado lugar al

"constitucionalismo". Se denominado genericamente "constitucionalismo" (y mas

precisamente "neoconstitucionalismo" com el fin de acentuar El nuevo carácter que há

adquirido em laactualidade) ala teoria o conjunto de teorias que han proporcionado una

cobertura iusteórica conceptual y/o normativa a La constitucionalización del Derechoen

(15)

Na visão de Luis Prieto Sanchís, que busca resumir as características também

propostas por Robert Alexy, Gustavo Zagrebelsky e Riccardo Guastinini, o

neoconstitucionalismo, quando observado como teoria do direito, deve significar:

...más princípios que reglas; más ponderación que subsunción; omnipresencia de la

Constituiciónen todas las áreas jurídicas y em todo los conflitos minimamente relevantes, em

lugar de espacios extensos en favor de laopción legislativa o reflamentaria; omnipontecia

judicial em lugar de autonomia del legislador ordinário; y, por último, coexistência de uma

constelación plural de valores, a veces tendencialmente contradicitorios, en lugar de

homogeneidade ideológica em torno a um puñado de princípios coherentes entre sí y em

torno, sobre todo, a las sucessivas opciones legislativas.(SANCHÍS, 2005, p.123)

Para ele, que compreende o neoconstitucionalismo como expressão sinônima de

Constitucionalismo Contemporâneo, esse novo modelo constitucional instiga a ideia de uma

"ciência jurídica comprometida", o que ressalta a questão da relação do Direito com a Moral.

Pensando em uma perspectiva nacional, o neoconstituconalismo pode ser

compreendido, de uma forma genérica, como um conjunto de transformações na maneira de

pensar e de se praticar o Direito Constitucional. (BARROSO, 2013)

Daniel Sarmento (SARMENTO, 2009) sustenta que a expressão denomina uma

corrente jurídica que, desde de 2003, ano de publicação do livro Neoconstitucionalismo(s),

tem se revelado significativamente recorrente nas produções acadêmicas brasileiras,

possuindo como adeptos declarados alguns autores nacionais como Lênio Luiz Streck no

início dos seus escritos4, Antonio Cavalcanti Maia, Ana Paula Barcellos, Écio Otto Ramos

Duarte, Luís Roberto Barroso.

Apoiado na leitura das obras atinentes ao tema, o referido autor ensina que os pontos

centrais de convergência entre os trabalhos dos autores brasileiros denominados

neoconstitucionalistas são: a) a valorização dos princípios; b) a adoção de métodos ou estilo

mais abertos e flexíveis na hermenêutica jurídica à Moral, mas não utilizando os conceitos

metafísicos do jusnaturalismo; c) o reconhecimento e a defesa da constitucionalização do

Direito e do papel de destaque do Poder Judiciário como garantidor dos valores

constitucionalmente previstos.

4

(16)

Ana Paula Barcellos acrescenta mais três ideais comuns: a) a constituição como

regra, dotada de imperatividade; b) a superioridade da Carta Política frente às demais leis e c)

o fenômeno da constitucionalização que deslocou a Constituição para o centro do

ordenamento jurídico, de modo que todos os ramos do Direito devem ser interpretados pelo

que ela dispõe.(BARCELLOS, 2015)

Humberto Ávila, adotando uma postura mais crítica do que adotiva à corrente,

preconiza pela não existência de um significado único para o neoconstitucionalismo e que,

por essa razão, ele deve ser estudado a partir dos seus elementos e não pelas tentativas

frustrantes de conceituação. Isto posto, ele afirma que o novo constitucionalismo pode ser

entendido por seus fundamentos normativos, metodológicos, axiológico e organizacional.

(ÁVILA, 2012)

Explica-se: por carácter normativo, entende-se pela preferência ou exclusividade de

princípios ao invés de regras. No tocante à perspectiva metodológica, a aplicação do Direito

decorre da ponderação e não pelo modelo da subsunção da época positivista. O fundamento

axiológico trata da busca do justo para cada caso particular em detrimento de um conceito

geral e irrestrito anteriormente pensado de justiça. E por fim, quanto ao organizacional,

pode-se entender como a ampliação do papel do Poder Judiciário que conferiu ao Poder

competência não só para aplicação, como também para a criação do Direito, reduzindo os

limites do Poder Executivo e Legislativo.

Esses elementos encontrados na doutrina se expandiram por todo o ordenamento

jurídico após o advento dita nova ordem constitucional, fazendo com se estabelecesse um

modelo neoconstitucionalista axiológico concreto, envolvendo principalmente questões

relativas aos valores.

Nesse sentido, a Constituição começa a ser entendida como um valor em si desde o

aparecimento das ideias neoconstitucionais, diferentemente da concepção

política-institucional superada, em que as instituições por vezes na história não tinham efetivo

comprometimento com a efetivação dos dispositivos estabelecidos pela Carta Política e

estabeleciam políticas públicas injustas em nome do princípio da soberania popular (poder

majoritário).

De fato, a visão estática e lógica do Direito que privilegia as regras, o formalismo e a

positividade, e que por vezes deixava de lado conceitos como justiça e moral, não consegue

(17)

ela vem sendo superada a cada dia por um conjunto de teorias neoconstitucionalistas que

buscam modificar a hermenêutica constitucional.

Destaca-se que o neoconstitucionalismo se distingue do Constitucionalismo Clássico

justamente no ponto acima delimitado, pois enquanto no segundo diferencia a Constituição e

as normas infraconstitucionais pela hierarquia, no primeiro a distinção decorre também da

axiologia empregada. (AGRA, 2008)

Assim, considerando todos os conceitos, elementos e considerações trazidas até aqui,

pode-se dizer que a principal marca do neoconstitucionalismo é a promessa de um verdadeiro

cuidado com a efetivação dos direitos e garantias fundamentais de previsão constitucional

que, por muitas vezes, se encontram em déficit nas sociedades de constitucionalismo de baixa

intensidade, como a brasileira. (BELLO, 2007)

E essa tutela de direitos constitucionais tem ocorrido quase que predominantemente

pela esfera judicial no ordenamento jurídico brasileiro, tornando quase que indiscutível a ideia

de que o Estado de Direito5 é considerado reconhecido e respeitado a partir da preponderância

do Estado Judicial.

Veja-se, o que se pretende aqui não é defender ideologias positivistas, mas sim, em

decorrência da constatação supramencionada, passar a refletir acercado controle de

constitucionalidade brasileiro e das consequências jurídicas que esse papel protagonizado pelo

Poder Judiciário produz no cenário brasileiro em tempos de neoconstitucionalismo, com

intuito de tentar compreender se as promessas a ele vinculadas estão sendo observadas pelos

operadores do direito e pela sociedade.

3. ANÁLISE CRÍTICA DO PARADIGMA NEOCONSTITUCIONAL: O CONTROLE

JUDICIAL DE CONSTITUCIONALIDADE E A SUA RELAÇÃO COM O ESTADO

CONSTITUCIONAL.

Como já delineado, o neoconstitucionalismo surge como um movimento de

incremento axiológico ao sistema, reforçando ao máximo a vinculação dos poderes

legislativo, executivo e judiciário aos princípios emanados na Constituição Federal, como

também deve a legislação infraconstitucional respeitar os ditames da Constituição emanados,

5

(18)

a fim de que ela não seja declarada inconstitucional, com a sua consequente exclusão do

sistema.

No âmbito nacional, essas concepções neoconsitucionais tiveram reflexos evidentes

na cultura jurídica, pois o que se observa na práxis judiciária é a atual e fortíssima tendência

do Estado Judicial6, ou seja, o reconhecimento da atuação do Poder Judiciário como principal

e central garantidor da guarda do sentido e do alcance das normas constitucionais, por meio

do exercício do controle de constitucionalidade.

Isso muito em razão de que, por ser promulgada uma Constituição dotada de um

catálogo de direitos fundamentais, que, por conseguinte, possuem uma pluralidade de

titulares, passou-se a ocorrer colisões de direitos fundamentais, o que ensejou a busca desses

titulares por resoluções na via jurisdicional.

Vale lembrar que para Anízio Pires Gavião Filho, basta a existência do referido

catálogo para que aconteçam o conflito de direitos fundamentais, razão pela qual é facilmente

justificável o notório aumento da judicialização das demandas. A lógica é evidente: mais

direitos, mais vias processuais adequadas, mais demandas, maior acesso ao Poder Judiciário e

crescente ampliação do papel do órgão na tutela da ordem constitucional.(GAVIÃO FILHO,

2011)

Assim, concretizando a vitória de Hans Kelsen na “disputa” formulada por ele e Carl Schmitt no século passado (SILVA, 2009), o Brasil reconheceu, notoriamente após a

Promulgação da República até os dias de hoje, a supremacia constitucional e a definição da

sua tutela pelo Judiciário (DIMOULIS, 2009), que deve sempre zelar pela consagração dos

mandamentos constitucionais nela contidos.

Como bem sinalizado por Vírgílio Afonso da Silva, ainda que, desde 1890, a

competência delegada aos juízes para deixar de aplicar a lei entendida como inconstitucional

existisse, os magistrados tinham certa resistência ao aplicar o controle, de modo que apenas

com lapso temporal e jurisprudencial essa postura foi sendo alterada. (SILVA, 2009)

Também relata o autor que, após esse período, o sistema de controle constitucional

de “difuso” passou por um processo de “concentração”7

, haja vista que nos anos 1934, 1965,

6

Termo utilizado em DIMOULIS, Dimitri. Sustenta o autor que, ao conferir poder de última palavra ao Poder Judiciário, o Estado seria realisticamente Judicial e não necessariamente Constitucional.

7

Adota-se a posição do autor no sentido de que o modelo de controle constitucional Brasileiro

(19)

1988, 1993, 1999 e 2004, respectivamente, criou-se a ação direta de inconstitucionalidade,

foram proferidas inúmeras alterações no modelo brasileiro para conferir maiores poderes ao

Supremo Tribunal Federal e para aumentar o leque de possibilidades de ingresso com a ação

direta de inconstitucionalidade, introduziu-se a Emenda Constitucional nº 03 que regula a

ação declaratória de constitucionalidade, dentre outras opções legislativas que, ao fim e ao

cabo, demonstram a posição jurídica do Estado em ampliar de modo significativo, cada vez

mais, o papel do Supremo Tribunal Federal, tornando-o quase como um tribunal

constitucional por excelência.

Contudo, essa última palavra dada pelo Poder Judiciário vem sendo alvo de grandes

críticas pela doutrina que, por vezes, não apenas discordam dos conteúdos decisórios

proferidos pelos julgadores, mas também da forma procedimental que está sendo utilizada

nesse controle constitucional.

Na posição de Virgílio Afonso da Silva, existem problemas na postura jurisdicional

adotada pelo Supremo Tribunal Federal quando profere decisões acerca do controle de

constitucionalidade. Afirma o autor que a ausência de troca de argumentos entre os ministros,

a inexistência de uma unidade institucional e decisória e a carência de decisões claras e

objetivas, que vinculem a opinião do tribunal são traços marcantes no modelo brasileiro de

jurisdição em grau máximo. (SILVA, 2009)

Em síntese, a questão que o autor é a inexistência, muito vezes, de um verdadeiro e

interessado diálogo entre os juízes e desembargadores ao proferiram a decisão constitucional

final, que tutela a Constituição Federal. Isso se torna evidente quando o doutrinador menciona

que os julgadores “levam votos prontos para a sessão de julgamento” e não se mostram, por

vezes, interessados em ouvir com atenção tanto as razões de decidir do outros colegas como

as alegações sustentas oralmente por procuradores envolvidos. Ademais, a inexistência de

uma postura institucional é facilmente encontrada, haja vista que a decisões revelam a so ma

de votos individuais dos seus membros, que mesmo concordando entre si, às vezes, utilizam

razões bem distintas.

Talvez, dessa tendência brasileira de supervalorização do controle judicial

constitucional como único é que decorra a justificativa pela qual o fenômeno do

neoconstitucionalismo tenha tomado proporções consideráveis no país. Isto porque esses

(20)

quase unitário da criação do Direito, o que é muito conveniente em um país que sofre

atualmente com uma forte grave crise instalada no Poder Legislativo e Executivo8.

Nas palavras de Daniel Sarmento, a descrença geral da sociedade nos partidos

políticos, no Poder Legislativo e no Executivo propulsiona a ideia de senso geral de que tais

esferas estão totalmente corrompidas, de tal sorte que apenas o Poder Judiciário e as suas

“decisões constitucionais” poderiam salvar a concretização da justiça. (SARMENTO, 2009)

São inúmeros os exemplos de casos midiáticos em que o Supremo Tribunal Federal

adotou interpretações muito mais políticas e sociais que, ao final, foram acolhidas e

aplaudidas pela população em geral como sinônimo de justiça, o que é significativamente

criticado pelo doutrinador. Sustenta, ele, que a vagueza e a abertura de boa parte das normas

constitucionais mais importantes acaba por conferir ao judiciário um poder constituinte

permanente na realidade prática.

O autor ressalta, entretanto, sabiamente que seu objetivo não é proferir injustiças

com as teses neoconstitucionalistas, acusando-as da promoção de tomadas de decisões

judiciais sem a devida racionalidade, mas faz uma observação importante que este trabalho

ressalta.

A prática jurídica brasileira não incorporou por completo as teses interpretativas

neoconstitucionalistas pensadas na academia, posto que, dos conteúdos extraídos das decisões

judiciais proferidas, o que se tem visualizado é um certo descuido com a justificação da

valorização dos princípios e da ponderação desses.

O que se percebe, da prática jurídica, é uma incessante utilização de princípios -

dignidade da pessoa humana, proporcionalidade, razoalibidade - nos julgados para legitimar

decisões que, inclusive, já tinha previsibilidade nas regras do ordenamento jurídico, de modo

a desconsiderar a previsão legal.

Nesse contexto, os dizeres de Humberto Ávila são importantes quanto aos dois

importantes paradoxos existentes no que se pode entender por neoconstitucionalismo:

Eis o paradoxo: a interpretação centrada nos princípios constitucionais culmina com a

violação de três princípios constitucionais – os princípios democrático, da legalidade e da

8

(21)

separação dos Poderes. Obedece-se à parte (parte da) Constituição, violando-a (noutra parte).

Esse primeiro paradoxo conduz a um segundo: quando tudo está na Constituição, e nada na

legislação que deveria estar conforme a ela, a supremacia constitucional perdeu seu

significado, pois a Constituição deixa de servir de referência superior pela inexistência ou

irrelevância do elemento inferior. Privilegia-se a supremacia constitucional, eliminando-a.

(ÁVILA, 2009. p.08)

Não está a se desconsiderar a importância desse catálogo de Direitos fundamentais

ou, ainda, minimizar os grandes avanços por ele advindos. Entretanto, considerando a

orientação de José Joaquim Canotilho, ao qual leciona que o Estado Democrático de Direito

somente será um sistema harmônico, estável e funcional, se aplicadas tanto as regras como os

princípios, sob pena da instalação de um cenário impositivo autoritarista ou de insegurança

jurídica na aplicação do Direito. Os extremos, rigidez das normas ou flexibilidade dos

princípios, devem ser afastados e o diálogo dos Poderes deve ser constante para que as

verdadeiras propostas do neoconstitucionalismo sejam efetivadas e o Estado Constitucional

efetivamente se consagre. (CANOTILHO, 1998)

Nesse sentido, necessário pensar como John Rawls: “o poder final não pode ser

deixado para o Poder Legislativo, mas também não para o Poder Judiciário. O poder final é

“compartilhado” pelos três poderes em conjunto, em uma relação harmoniosa entre si, e todos

eles são responsáveis perante a sociedade civil. Para tanto, é preciso haver diálogo.”

(RAWLS, 1993))

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações históricas, políticas, sociais e jurídicas ocorridas principalmente

após a Segunda Guerra Mundial, em países europeus, localizadas no Constitucionalismo do

século XX, tiveram reflexos no Brasil após promulgação da Constituição Federal de 1988,

onde ocorreu um processo de redemocratização política, a qual originou uma ruptura

paradigmática do Direito Constitucional.

Esse novo horizonte constitucional trouxe definitivamente a supremacia da

Constituição brasileira formal e material,tendo ingressado a Carta Política no sistema

normativo com elevada carga axiológica o que, por ter passado a ser utilizada na

(22)

contribuíssem para a busca de uma resolução racional dos conflitos existentes entre esses

princípios, aos quais estão localizados nesse inédito catálogo de Direito fundamentais.

A partir desse contexto, emerge substancialmente no mundo e no país as teorias,

metodologias, ideologias dos denominados neoconstitucionalistas que consagram a superação

do antigo formalismo da época positivista e fenômeno da constitucionalização, bem como

defendem nos dias atuais que a atividade jurisdicional e a dos demais campos do Direito

devem estar em constante defesa dos valores constitucionais.

Entretanto, essas teorias vêm sofrendo grandes análises críticas no âmbito jurídico,

sendo, muitas vezes, acusadas da promoção da discricionariedade, do decisionismo, da

insegurança jurídica, da ofensa ao princípio da legalidade e da separação do poderes, como

nos casos de ativismo judicial.

Defendem, em síntese, que a ponderação judicial descuidada recorrentemente

utilizada no país, sem compromisso com uma ciência jurídica séria, resulta na

desconsideração do Poder Legislativo e também na perda da supremacia constitucional, pois,

estando o foco quase que único na Constituição e nada na legislação, a Carta Maior deixa de

servir como referência superior pela inexistência ou irrelevância da legislação

infraconstitucional.

Ademais, os extremos devem ser cuidados, pois tanto a intensa rigidez das normas,

como a maleabilidade exacerbada dos princípios podem convergir para um único resultado: a

desconstituição prática do Estado Democrático de Direito.

E, nesse sentido final, importa deixar a reflexão de Luis Barroso de que não sabe,

ainda muito bem, o que é o neoconstitucionalismo, podendo significar apenas um movimento

circular, uma guinada de 360 graus. O estudo é complexo e, de maneira alguma, se esgota

aqui. (BARROSO, 2015)

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Referências

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