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Celso Sim: Ousado, sim! Mas mais ousado ainda foi Elza [Soares] ter aceitado!

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Academic year: 2022

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Mulher do fim do mundo em processo.

Instantes da produção do novo disco de Elza Soares.

São Paulo, dia 21 de abril de 2015, Praça da Bandeira. 15h03. Entro no estúdio. Guilherme Kastrup, produtor e percussionista, logo me recepciona, me apresenta aos demais e me oferece uma cadeira. Minha timidez não permite que eu cumprimente todos os demais que aquela hora escutavam e analisavam uma gravação recém-realizada. Na sala, os músicos Celso Sim, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Romulo Fróes, Rodrigo Campos e Felipe Roseno, além de um técnico de som. Aquele era o segundo dia de gravação dos arranjos instrumentais do novo disco de Elza Soares. Uma semana antes, o núcleo de criação do disco, composto pelos músicos presentes, (à exceção de Felipe Roseno), havia ensaiado o repertório no estúdio de Guilherme Kastrup, na Lapa. A mim, pesquisador de canção popular- comercial, só cabe abrir meu caderno e escrever. Entre frases soltas e impressões, me surge como questão: como registrar o processo de produção de um disco?

Observo os movimentos, em busca de compreendê-los, e tomo nota.

Naquele momento em que entrei no estúdio, todos escutavam e analisavam as bases de “Benedita”, canção inédita de Celso Sim. Após todos aprovarem as bases gravadas, os músicos partem para a próxima tarefa do dia: gravar os arranjos de “Mulher do fim do mundo”, canção de Romulo Fróes e Alice Coutinho.

Enquanto todos da banda se preparam para entrar novamente ao estúdio de gravação, ficamos a sós, eu e Celso Sim. Quebrando o silêncio, elogio a canção que acabamos de ouvir. “Ousado!”

Celso Sim: “Ousado, sim! Mas mais ousado ainda foi Elza [Soares] ter aceitado!”

Definir ousadia aqui talvez se torne mais fácil com os versos que pinço da canção: “ela leva o cartucho na teta/ela abre a navalha na boca/ela tem uma dupla- caceta/a traveca é tera chefona (sic)”. De memória, Celso Sim ainda diz que Elza Soares, irreverente, ao ouvir, pela primeira vez, logo disse: “você sabe mesmo que eu adoro um cacete, não é?”. Mas quem será Benedita? O compositor me diz que, enquanto andava na rua, lhe surgiu a frase melódica inicial, como se executada por um baixo. “É Itamar Assumpção falando comigo”, concluiu. Em uma forma carinhosa de relembrar o artista falecido em 2003, conta-se a história de que, após “dar um perdido para tudo que é lado”, o Benedito (apelido que Itamar ganhou em sua carreira a partir da canção “Nego dito”, de sua autoria) retorna às ruas como

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Benedita, uma travesti. A periculosidade da personagem, outrora presente na imagem teatral de Itamar Assumpção nos palcos, é mantida, mas agora está nas zonas de confronto entre a polícia e usuários de crack na região central de São Paulo.

Aproveito a conversa para falarmos um pouco da minha missão no momento.

Falo a ele que quero registrar o calor do momento da produção. Não quero ver o processo já concluído e os discursos mais ou menos alinhados com a assessoria de imprensa. Isso não me interessa. A maior dificuldade de quem pesquisa canção popular, como eu, é encontrar o relato da produção de fato do material fonográfico - não a leitura do resultado. Se estou ajudando futuros pesquisadores que, por ventura, se interessem pelo disco? Não sei. Mas a mim é um relato que ainda está em processo de construção, assim como o disco. Abdiquei de qualquer forma inicial para compreender o objeto à minha frente, e falar sobre ele nos termos que ele me pede. O processo de criação que se mostrava não era linear, por que meu relato haveria de ser? Se assim fosse, ele soaria falso, distante da realidade. Portanto, estou a fotografar repentes e impressões.

Músicos a postos, começa a gravação das bases da canção “Mulher do fim do mundo”. Como Elza Soares não está presente no estúdio, Celso Sim e Romulo Fróes dividem a voz-guia nas gravações dos arranjos. A voz, assim como o “clique”

de um metrônomo que marca o tempo nos fones de ouvido de todos no estúdio, guia os instrumentistas.

Como auxílio ao cantor, a letra da canção está impressa em uma folha em cima da mesa.

Mulher do fim do mundo (Romulo Fróes/Alice Coutinho)

Parte A

Meu choro não é nada além de carnaval É lágrima de samba na ponta dos pés A multidão avança como um vendaval Me joga na avenida que não sei qual é Pirata e super-homem cantam o calor Um peixe amarelo beija minha mão As asas de um anjo soltas pelo chão Na chuva de confetes deixo a minha dor

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Parte B

Na avenida deixei lá A pele preta e a minha voz Na avenida deixei lá

O meu juízo e minha opinião A minha casa, minha solidão Joguei do alto do terceiro andar Fechei a tampa e me livrei do

Parte C Resto Dessa Vida Na avenida Dura Até O fim

Mulher Do fim Do mundo Eu sou E vou Até o fim Cantar

Primeiro take.

Rodrigo Campos, no cavaquinho. Kiko Dinucci, na guitarra. Marcelo Cabral, no baixo e na programação eletrônica. Felipe Roseno, no cajón. Guilherme Kastrup, na bateria. Romulo Fróes, nos vocais. Apesar de tocarem juntos e no mesmo ambiente (com exceção do cavaquinho e do cajón, em salas isoladas dentro do estúdio), cada instrumento está sendo gravado em um canal diferente.

Após a primeira rodada, os músicos falam com o técnico de som, que controla a mesa de produção, para acertar o volume de cada canal, além de comentarem sobre algumas escolhas do arranjo da canção.

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Romulo Fróes: “A volta da parte A... podia esvaziar pra cacete (sic), né?”.

Guilherme Kastrup: “Acho que já no fim a gente podia esvaziar para deixar o [Marcelo] Cabral fazer a onda da introdução”.

Romulo Fróes: “É, aquele synth [sintetizador eletrônico] do Cabral voltar [na transição da parte C para a parte A]... Acho legal pra (sic) caramba! Pode ser [Marcelo] Cabral, Kiko [Dinucci] e Felipe [Roseno], no segundo A, sem a

‘percussa’ (sic).”

Guilherme Kastrup, apesar de ser o produtor do disco, não é o único que orquestra os arranjos. Há antes o trabalho coletivo do que a regência feita por uma só pessoa. Esquece-se, por um instante, o mito do artista que sozinho assina um trabalho artístico. Os músicos ali presentes, apesar de lançarem alguns projetos solos, como os discos assinados por Rodrigo Campos, se apresentam ao público através de projetos (como eles mesmo costumam intitular), como o Metá Metá (composto atualmente por Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral e Thiago França) e o Passo Torto (formado por Romulo Fróes, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci e Marcelo Cabral). Diferentemente do que se tentou rotular como um grupo do

“Baixo Augusta”, no final da primeira década deste século, formado por nomes como Tulipa Ruiz, Tiê e Thiago Pehtit, em torno da extinta casa de shows Studio SP, aqui não há só uma coincidência espacial (músicos que produzem na cidade de São Paulo), mas também a comunhão de processos de criação e produção.

Segundo take.

Enquanto Felipe Roseno toca o cajón, Romulo comenta, jocoso, do outro lado do estúdio: “gosto desse pagode indiano!”. E a canção se repete.

Ao final, mais considerações.

Guilherme Kastrup: “Antes do Rodrigo [Campos] e do Kiko [Dinucci] entrar [na repetição da parte A], seria legal ter o dobro do que teve agora. Mas acho que está ficando legal, tem diferença entre as partes”.

Romulo Fróes: “É legal a percussão chegar de ‘manhinha’ (sic)”

Guilherme Kastrup: “O primeiro esvazia, o segundo enche mais um pouquinho”.

Romulo Fróes: “Gui [Kastrup], acho que esse bumbo não... Acho mais legal acústico”

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A escolha estética do grupo não é aleatória e, nesse ponto, podemos até falar de uma poética musical que vem sendo desenvolvida desde pelo menos o disco Padê (2008), de Juçara Marçal e Kiko Dinucci. Como momentos de destaque dessa linguagem sonora que foi sendo elaborada no decorrer do tempo, estão os discos Metá Metá (2011) e Metal Metal (2012), do grupo Metá Metá, os discos Passo Torto (2011) e Passo Elétrico (2013), do projeto Passo Torto, e o Encarnado (2014), de Juçara Marçal – esse último que, como já comentou a cantora em algumas entrevistas, poderia muito bem se chamar Estudando Passo Torto, levando em consideração a sonoridade que se reproduz. Trata-se de uma poética inacabada - não por lhe faltarem recursos, mas por ser fruto de um trabalho coletivo no qual os agentes estão em constante tráfego. Nesse ponto, é interessante notar que tal universo estético vem se espalhando para outros trabalhos, como os EPs Pedra de sal (2015) e Aço (2015), de Alessandra Leão, produzidos por Guilherme Kastrup; o disco a ser lançado por Ná Ozzetti, fruto de uma residência artística da cantora e dos integrantes do Passo Torto no SESC Santo Amaro; e até faixas avulsas como a canção “Declaração”, canção de Kiko Dinucci presente no disco Amigos imaginários (2015), de Anelis Assumpção. E agora, a sonoridade chega ao disco de Elza Soares.

Terceiro take.

Após a execução da canção, mais comentários.

Guilherme Kastrup: “Estou aprendendo a tocar essa música”.

Romulo Fróes: “Está ficando muito bonito. Acho que os overdubs [técnica de adicionar ou dobrar canais com o mesmo instrumento] de percussão vão fazer muito sentido agora”.

Rodrigo Campos: “Não seria bom repetir um pouquinho a percussão [na introdução], como se fosse uma frase mesmo?”

Guilherme Kastrup: “Vamos tentar assim, então”.

Quarto take.

Kiko Dinucci erra logo na primeira execução da parte A e todos param.

Quinto take.

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Guilherme Kastrup: “Está legal, mas vamos indo. Vamos esquentando...”

Romulo Fróes: “Na repetição da parte C, eu estou sem base nenhuma para cantar. Eu acho bonito, mas acho que ela [Elza Soares] vai ficar sem base pra cantar.”

Guilherme Kastrup: “Mas aí nesse momento vai ter a fundação harmônica das cordas”.

Marcelo Cabral: “Eu estou indo super na harmonia, ó!” (e executa a linha de baixo da canção da parte C).

Marcelo Cabral é um dos músicos do núcleo de criação cujo nome não é muito conhecido do grande público - mas é uma peça fundamental na formação.

São deles as linhas de baixo, as programações eletrônicas e os desenhos de cordas do grupo. Acredito que ele talvez não seja tão conhecido do grande público por não ter assinado ainda um trabalho solo, tal como fez Guilherme Kastrup. Acresce-se o fato de ser um homem de poucas palavras.

Sexto take.

Guilherme Kastrup: “Para mim ainda não foi a boa, não...”

Romulo Fróes: “Ficou legal isso, Kiko [Dinucci], quando você soltou pro isso pro synth [sintetizador eletrônico]. Ficou bonito! Tem que repetir mais vezes a parte C. Acho que a gente está desmontando cedo demais”.

Se Marcelo Cabral pouco está em evidência para o público, Romulo Fróes é o oposto. Dono de uma trajetória de cinco discos solos, hoje, do grupo, ele é o mais ativo em textos e discussões sobre canção popular. Aliás, foi dele uma indagação que, em parte, motiva esta reportagem. Ao final de uma palestra proferida pelo professor Lorenzo Mammì, no Centro Universitário Maria Antonia da USP, Romulo disse que sentia falta dos pesquisadores acadêmicos estudando a produção contemporânea. Aqui estamos.

Antes de começar o sétimo take.

Romulo Fróes: “Com ódio agora!”.

Juntamente com o feio, o grotesco e a morte, o ódio é uma temática muito presente nas canções selecionadas para o disco de Elza Soares – mas não se

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restringem a esse trabalho. Versos como “bem que o anão me falou que o mundo vai terminar num grande poço de merda”, de “Quem tem tamanco” (Kiko Dinucci), outra canção selecionada para o disco, orbitam no mesmo universo das imagens presentes no disco Encarnado, de Juçara Marçal, como a canção “Damião”

(Douglas Germano/Everaldo Ferreira da Silva): “dá neles, Damião/e devolve o hematoma/bate mesmo, até o coma/que essa raiva passa nunca, não”.

Após o final do sétimo take, todos retornam à sala do estúdio para ouvir o resultado.

Guilherme Kastrup: “Vamos fazer com a mudança, então?”

Rodrigo Campos: “Qual mudança?”

Guilherme Kastrup: “Não, a sua parte está perfeita!”

Romulo Fróes: “O Marcelo Cabral está escrevendo as cordas em cima do seu cavaquinho”

Celso Sim: “Esse refrão [parte B] é o momento máximo da canção. A voz da Elza [Soares] vai arrasar”.

Antes de recomeçar, repetem mais duas vezes somente a parte C. Celso assume os vocais dessa vez e se aquece.

Oitavo take.

Celso Sim assume os vocais.

Param no meio, pois Kiko Dinucci se perdeu.

Que ninguém se engane. Kiko Dinucci, aparentemente, não estava menos concentrado do que seus colegas. É da natureza do guitarrista o improviso – recurso inventivo que sempre traz o risco de simplesmente não dar certo. Mas desse risco muitas vezes nascem os arranjos que estão registrados em disco.

Nono take.

Pausa no meio.

Guilherme Kastrup: “Você está invertendo [o cavaquinho na última repetição da parte C]?”

Rodrigo Campos: “Não, estou mantendo!”

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Guilherme Kastrup: “Estou achando meio sem chão...”

Romulo Fróes: “Mas ficou tão bonito isso, cambaleando”.

Décimo take.

Romulo Fróes: “Gui [Kastrup], você não ia voltar pro samba no final?”.

No final do ano de 2014, na cozinha da casa e do estúdio de Guilherme Kastrup, entre conversas, o produtor me contou a intenção de produzir um disco de Elza Soares. Essa não era a primeira vez que eu ouvia esse desejo vindo de um artista da safra contemporânea. A ideia inicial de Guilherme Kastrup era regravar sambas do repertório da cantora através da sonoridade desenvolvida pelos trabalhos do Passo Torto e do próprio Kastrup. Logo me opus à ideia de resgate de um repertório. Eu, particularmente, tinha como referência imediata o disco Do cóccix até o pescoço (2002), de Elza Soares, que ressoa até os dias de hoje, pelo frescor de suas composições até então inéditas. Não que regravações em si não possam ser interessantes – muito pelo contrário – mas, naquele momento, somente pensei na força e na voz de uma cantora que já declarou, no início da carreira, ter vindo do

“planeta fome”. Pensava também na cantora que mais recentemente, em shows, tem se posicionado politicamente para temas atuais, como a bancada evangélica no congresso nacional. Elza tem muito o que falar. Como resposta ao Guilherme Kastrup, lancei questões. O que Elza falaria sobre a questão racial hoje, em um momento no qual o “cidadão” se confunde com o “consumidor”? O que é ser (ou tornar-se) mulher em tempos de Lei Maria da Penha? Enfim, muita coisa mudou – outras nem tanto - e Elza é testemunha ocular. No final das contas, a ideia tornou-se uma inscrição em um edital promovido pela empresa Natura e acabou sendo selecionada. Agora, Guilherme Kastrup produziria um disco de canções inéditas de Elza Soares.

Das canções recebidas (mais de 30 inéditas, enviadas por mais de 20 diferentes artistas), durante os meses de janeiro e fevereiro de 2015, foram selecionadas, juntamente com a cantora, 10 composições.

Décimo-primeiro take.

Felipe Roseno: “Acho que essa foi perfeita!”.

Romulo Fróes: “Poxa, Celso [Sim], esse espaçamento na parte C ficou bonito demais” (e cantarola pausadamente: “mulher... eu sou... e vou... cantar”).

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Kiko Dinucci: “Fiz aquele harmônico lá. Eu acho meio brega, mas...”

Felipe Roseno: “Parece algo circular esse final... Não parece uma guitarra e um cavaquinho”.

Tradição (na imagem do cavaquinho) e inovação (nas guitarras de Kiko Dinucci) são dois opostos presentes sobretudo na produção de Rodrigo Campos.

Desde o seu disco de estreia, São Mateus não é um lugar assim tão longe (2009), o compositor e instrumentista parece operar com fragmentos de uma linguagem periférica no desenvolvimento de uma estética em diálogo com a produção do Passo Torto, projeto do qual também faz parte. O samba não é mais samba, mas está ali no cavaquinho. Há uma espécie de saudade moderna - sem tempo, nem espaço.

Guilherme Kastrup: “Eu faria mais uma dessa”.

Romulo Fróes: “Vamos fazer de novo? Eu não entendo por que você querem fazer de novo!”

Guilherme Kastrup: “Acho que a minha parte B não ficou tão interessante”.

Romulo Fróes: “Esses músicos... Ainda bem que eu sou compositor!”

Penso, neste instante, em como a produção (sobretudo, escolha do arranjo e a mixagem) são exercícios de criação no mesmo nível do processo de composição.

As escolhas nessa etapa influenciam (e muito) os sentidos que uma canção terá quando registrada em disco.

Os músicos, então, voltam aos seus lugares. Antes do décimo-segundo take, treinam, afinam seus instrumentos.

Décimo-segundo take.

Décimo-terceiro take.

Celso Sim: “Acho que essa é o melhor take!”

Romulo Fróes: “Mas como fica bonito esse cambalear [no repetição da parte A]! Fica tenso...”

Kiko Dinucci: “Desse take só gostei da introdução, depois eu me perdi...

Prefiro a anterior a essa”.

Guilherme Kastrup: “Felipe [Roseno], vamos gravar as percussões [extra, para o overdub]?”

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Alguns músicos se despedem e deixam Felipe Roseno, Guilherme Kastrup, Celso Sim e o engenheiro de som a sós, para finalizarem os trabalhos (como gravar a percussão extra e organizar os arquivos gerados naquele dia). Amanhã, mais gravação.

No final do dia, tenho em mãos anotações em meu caderno. Como organizá- las? Não sei. Melhor assumir, portanto, o momento ‘entre’, assim como o processo de produção do disco de Elza Soares: escrevo no calor do momento para tentar captar o instante que poderá depois ser remendado pela linguagem. Se amanhã alterarei algumas coisas do que escrevo? Bem provável - tenho a mesma meticulosidade com o verbo que os músicos têm com a gravação. Mas o leitor nunca saberá disso, assim como nunca saberá de alguns remendos que ocorrem no processo de gravação em estúdio. Não que sejam grandes alterações – ao contrário, são pequenas e meticulosas alterações – isolam-se os canais no ProTools, software de gravação e edição utilizado, e há a operação cirúrgica de retirada de um pedaço de um take para transportar para outro. O resultado todos saberão, quando lançado.

Antes de ir embora, falo para Guilherme Kastrup que não há definição mais justa para este disco do que a imagem da mulher do fim do mundo, como na canção do Romulo e da Alice – até sugiro como título do disco. As canções pavimentam um caminho no qual Elza Soares pode transitar entre diferentes tempos que convivem, em uma estranha harmonia, no mesmo agora. Por fim, Celso Sim comenta com Guilherme Kastrup que eu não parei de escrever um só minuto e que eu deveria ter escrito uns três livros durante aquele momento em que eu os acompanhava. Ainda não, respondo, mas quem sabe vou até o fim.

   

Referências

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