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Comunidades de prática: um estudo dos grupos de usuários java brasileiros

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Academic year: 2017

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Universidade Católica de Brasília

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu

em

Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação

Daniel Alves de Oliveira Junior

Comunidades de prática: um estudo dos

grupos de usuários Java brasileiros

Dissertação de Mestrado

(2)

Daniel Alves de Oliveira Junior

Comunidades de prática: um estudo dos

grupos de usuários Java

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Gestão do Conhecimento e da

Tecno-logia da Informação da Universidade Católica de

Brasília como requisito para obtenção do grau de

Mestre em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia

da Informação

Orientador: Prof. Dr. Edilson Ferneda

(3)

O48c Oliveira Júnior, Daniel Alves

Comunidades de prática: um estudo dos grupos de usuários Java brasileiros / Daniel Alves de Oliveira Junior – 2005.

112 f.: il ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2005. Orientação: Edílson Ferneda

1. Gestão do conhecimento. 2. Comunidades virtuais. 3. Grupos de trabalho (Software). I. Ferneda, Edilson, orientador. II. Título

CDU 004:658

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DEDICATÓRIA

Think Different / Pense Diferente

Here’s to the crazy ones. The misfits.

The rebels.

The troublemakers.

The round pegs in the square holes. The ones who see things differently. They’re not fond of rules.

And they have no respect for the status quo.

You can praise them, disagree with them, quote them, disbelieve them, glorify or vilify them.

About the only thing you can’t do is ignore them.

Because they change things.

They invent. They imagine. They heal. They explore. They create. They inspire. They push the human race forward. Maybe they have to be crazy.

How else can you stare at an empty canvas and see a work of art?

Or sit in silence and hear a song that’s never been written?

Or gaze at a red planet and see a laboratory on wheels?

We make tools for these kinds of people.

While some see them as the crazy ones, we see genius.

Because the people who are crazy enough to think they can change the world, are the ones who do.

Este é para os loucos. Os que não se encaixam. Os rebeldes.

Os criadores de problemas.

Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêm as coisas diferentes. Eles não são de aceitar regras.

E eles não têm respeito pelo estabelecido.

Você pode elogiá-los, discordar, mencioná-los, desa-creditar, glorificá-los ou vilipendiá-los.

Quase que o único que você não pode fazer é ignorá-los.

Porque eles mudam as coisas.

Eles inventam. Eles imaginam. Eles curam. Eles exploram. Eles criam. Eles inspiram. Eles empurram a raça humana para frente. Talvez tenham que ser loucos.

Como de outra forma você poderia contemplar um quadro vazio e ver uma obra de arte?

Ou sentar em silêncio e ouvir uma canção que nunca foi escrita?

Ou olhar para o planeta vermelho e ver um laboratório sobre rodas?

Nós fazemos ferramentas para este tipo de pessoas. Enquanto alguns os vêm como loucos, nos os vemos como gênios.

Porque as pessoas que são suficientemente loucas para pensar que podem mudar o mundo, são as que o fazem.

(5)

Agradecimentos

Para realizar um trabalho como este, é sempre necessário contar com a colaboração e o apoio de muitos amigos e colegas, aos quais gostaria de humildemente, e de coração, agradecer:

A DEUS, por me aceitar como seu canteiro.

A minha amiga, colega, confidente, amante e ...esposa Luci de Matos Campos de Oliveira, que teve a idéia original de formar um grupo de estudos para a prova de Certificação que posteriormente trans-formou se no Brasília Java Users Group – DFJUG.

Ao meu orientador Prof. Dr.Edilson Ferneda, pela educação e parceria nos projetos. Ao Prof. M.Sc. Jaime Esteban, “Quando crescer quero ser igualzinho a ele”.

Ao meu querido “desorientador” Prof. Dr. Rogério Alvarenga, por mostrar o caminho. Ao Prof. Dr. Paulo Fresneda, por indicar o caminho.

Ao Prof. Dr. Gentil Lucena, por me ouvir pacientemente.

Ao Prof. Dr.Eduardo Moresi, por sua ajuda nos momentos complicados.

À psicóloga do MGCTI Georgiane Jordão, por ser o ombro amigo nas horas de chutar o balde. À Regina MarianieRenato Maletta, por permitirem o uso dos recursos físicos, logísticos, financei-ros e humanos do Instituto CTS e, principalmente, por acreditarem nestes sonhos.

Aos colegas Manoel Fernandes e Rodrigo Nunes, do Instituto CTS, que desenvolveram o sítio e a ferramenta JSP que foi utilizada na VI Pesquisa Nacional Java.

À IBM do Brasil e à revista MundoJava, pelo apoio à VI Pesquisa Nacional Java. À minha mãe Vera Yarovoff, por me ensinar o valor da persistência.

Ao colega Carlos Alberto Mamede Hernandes, pelas primeiras conversas, aconselhamentos e por ter sido “O precursor”.

Ao meu irmão Fernando Anselmo, pelas sugestões, cumplicidade, apoio e moderação em todos es-tes anos.

Ao colega Rogério Morais Carvalho, pelo código de análise da estrutura da linguagem Java. Aos professores, colegas e funcionários do Mestrado em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da InformaçãodaUniversidade Católica de Brasília, pelas oportunidades de aprendizado e pelo apoio durante o curso.

(6)

Sumário

Lista de Quadros... vi

Lista de Tabelas... vii

Lista de Figuras... viii

Resumo... ix

Abstract... x

1. Introdução... 01

1.1 Contextualização da pesquisa ... 01

1.2 Organização do documento ... 08

2. Descrição da pesquisa... 09

2.1 Questão da pesquisa... 09

2.2 Delimitação do estudo ... 11

2.3 Síntese da pesquisa ... 11

2.4 Objetivo da pesquisa... 12

2.4.1 Objetivo geral ... 13

2.4.2 Objetivos específicos ... 13

2.5 Hipótese ... 14

2.5.1 Hipótese primária... 14

2.5.2 Hipótese secundária ... 14

3. Revisão da literatura e referencial teórico... 15

3.1 Sociedade do Conhecimento ... 16

3.2 Gestão do Conhecimento ... 18

3.3 Comunidades de Prática. ... 20

3.3.1 Terminologia utilizada... 20

3.3.2 A estrutura básica das CoP: Domínio, Comunidade e Prática... 22

3.3.3 Elementos fundamentais das CoP... 23

3.3.4 Estágios de desenvolvimento (atividades típicas) ... 25

3.3.5 Trabalhos sobre CoP na literatura... 27

3.3.6 Sete princípios para cultivar uma CoP... 31

3.3.7 Trabalhos sobre CoP no MGCTI ... 34

3.4 Grupos de usuários ... 35

4. Materiais e métodos... 40

4.1 Etapas da pesquisa de campo... 40

4.2 Classificação da pesquisa ... 42

4.3 População... 42

4.4 Procedimento para obtenção da amostra ... 45

(7)

5. Resultados... 48

5.1 Dados e informações sobre o universo da pesquisa... 48

5.2 Apresentação dos resultados da pesquisa. ... 49

6. Análise dos resultados... 69

7. Conclusão... 73

8. Referências ... 78

Anexos Anexo 1: Relação de países com JUG ... 84

Apêndices Apêndice 1: Grupos de usuários brasileiros - JUG... 85

Apêndice 2: A Quinta Pesquisa Nacional Java... 87

Apêndice 3: Os 21 trabalhos e os 234 fatores selecionados ... 96

(8)

Lista de quadros

Quadro 01 Elementos estruturais de uma Comunidade de Prática... 06

Quadro 02 Distinções entre Comunidades de Prática, Times, Força-tarefa e Redes informais ... 07

Quadro 03 Países com mais de 10 JUGs... 09

Quadro 04 Evolução da estrutura da linguagem Java de 1995 a 2004 ... 18

Quadro 05 Características de uma prática... 21

Quadro 06 Os 12 Princípios da colaboração ... 27

Quadro 07 Vantagens para as organizações, para a comunidade e para as pessoas ... 29

Quadro 08 Treze elementos fundamentais para se cultivar as CoP... 31

Quadro 09 Textos selecionados como os mais relevantes ... 96

(9)

Lista de tabelas

Tabela 01 Relação entre os respondentes e os JUGs brasileiros ... 51

Tabela 02a Relação entre afirmações e respondentes, de acordo com o seu respectivo grupo... 53

Tabela 02b Afirmações e respostas extras, relativas ao fator relevante Limite... 54

Tabela 03 Resumo das 15 afirmações da pesquisa de campo ... 70

Tabela 04a Fatores que influenciam uma CoP – Identidade... 98

Tabela 04b Fatores que influenciam uma CoP – Reputação... 99

Tabela 04c Fatores que influenciam uma CoP – Tema... 100

Tabela 04d Fatores que influenciam uma CoP – Membros... 101

Tabela 04e Fatores que influenciam uma CoP – Emocionalidade... 101

Tabela 04f Fatores que influenciam uma CoP – Limites... 102

Tabela 04g Fatores que influenciam uma CoP – Comunicação... 102

Tabela 04h Fatores que influenciam uma CoP – Governança... 103

Tabela 04i Fatores que influenciam uma CoP – Cultura... 103

Tabela 04j Fatores que influenciam uma CoP – Tempo... 103

Tabela 04k Fatores que influenciam uma CoP – Organização... 104

Tabela 04l Fatores que influenciam uma CoP – Ambiente... 105

Tabela 04m Fatores que influenciam uma CoP – Aprendizado... 106

(10)

Lista de Figuras

Figura 01 Características e atividades relacionadas às fases do ciclo de vida de uma CoP... 26

Figura 02 Fases do ciclo de vida de uma CoP em função do tempo e do nível de participação

comunitária ... 26 Figura 03 Graus de participação em CoPs... 32 Figura 04 Relação dos respondentes com os 5 maiores grupos virtuais conhecidos do Brasil... 52 Figura 05 O JUG proporciona discussões sobre temas que são estrategicamente importantes para mim,

como profissional ... 57 Figura 06 Ao participar de um JUG, estou envolvido em algo grande em relação ao tema tratado ... 57 Figura 07 O JUG aborda assuntos que estão no coração do negócio no qual estou envolvido ... 58 Figura 08 Todo JUG de sucesso tem uma pessoa ou grupo chave que detém alguma responsabilidade

ativa na condução da comunidade... 59 Figura 09 Todo JUG tem um grupo principal ativo e apaixonado com o assunto da comunidade... 60 Figura 10 Todo JUG deve ter um respeitado membro da comunidade que atue como coordenador.

Comunidades são mantidas por pessoas que se preocupam com a comunidade ... 61 Figura 11 Todo JUG tem um grupo de formadores de opinião, pois eles colocam "energia" dentro da

comunidade. ... 61

Figura 12 Os coordenadores do JUG e os membros da comunidade assumem voluntariamente

responsabilidades gerenciais, permitindo assim que a comunidade cresça de forma ordenada .. 62 Figura 13 O JUG agrega conhecimentos e experiências ... 63 Figura 14 O JUG auxilia na atualização técnica de seus membros ... 64 Figura 15 O JUG auxilia seus membros no desenvolvimento de suas habilidades técnicas e na

(11)

Resumo

Grande parte dos desenvolvedores de Java no mundo se congrega em grupos de usuários (JUG - Java Users Group), dos quais, 43 estão no Brasil. Os grupos brasileiros contam hoje com quase 26.000 membros. Estes grupos são governados por pessoas que, embora entusias-tas, têm pouca experiência na condução de grandes grupos, o que tem criado dificuldades na gestão de suas comunidades. Neste trabalho, estudou-se os JUG brasileiros sob a ótica das Comunidades de Prática (CoP), conforme o modelo proposto por Etienne Wenger pois, intui-tivamente, vislumbrou-se a possibilidade que os JUG são uma forma de materialização das CoP. Assim, este trabalho buscou elementos que confirmassem a aderência dos JUG ao mo-delo estrutural das CoP. Além de uma ampla pesquisa bibliográfica, onde procurou levantar os fatores relevantes que influenciam o estabelecimento e a operação das CoP, foi realizada uma pesquisa de campo junto à comunidade Java brasileira, pertencente ou não aos JUG. Concluiu-se que a estrutura dos JUG é aderente ao modelo proposto e, seus membros partici-pam dos JUG por causa do interesse pelo tema, no valor da liderança comunitária e a qualida-de do aprendizado. Os resultados foram animadores e fornecem elementos que poqualida-dem vir a apoiar a tomada de decisões dos gestores dos JUGs brasileiros tanto quanto aos rumos da co-munidade quanto à postura frente a seus membros.

(12)

Abstract

Most of the world's Java developers are members of Java User Groups (JUGs). Brazil has 43 groups with a total of almost 26,000 members. These groups are led by enthusiasts who have little experience in leading large groups. This has created difficulties in managing these com-munities. This paper considers the Brazilian JUGs from the vantage point of Communities of Practice (CoP), according to the model proposed by Etienne Wenger. From the intuition that a JUG might be a form of CoP, we look for elements that confirm a typical JUG's conformance to the structural model of a CoP. A broad bibliographic search was done to examine relevant factors that influence the establishment and operation of the CoP, as well as field research ex-tended to all the Java Brazilian community (whether or not they belong to a JUG). The re-search confirms that the structure of a JUG is compatible to the model proposed, and that members participate in JUGs because of their interest, the quality of community leadership and the learning experience. The results were encouraging and furnish data to support deci-sion-making by Brazilian JUG Leaders both at the level of community direction and regard-ing their interaction with members.

(13)

1. Introdução

Busque seu sonho com liberdade. Busque seu sonho independentemente de quanto tempo seja necessário para colocar uma idéia no mercado. Busque seu sonho usando canais informais. Busque seu sonho mesmo que fracasse. (NONAKA &TAKEUCHI, 1997, p. 158)

1.1 Contextualização da pesquisa

O homem é um ser social que desde tempos imemoriais se reúne para trocar experiên-cias com seus pares, seja sobre agricultura, caça, comércio, cultura ou lazer. Esta ação com-partilhada estimulou-o na procura de novos horizontes, à medida que o conhecimento ia se acumulando e se difundindo. As navegações do século XV, na procura de novas rotas para o comércio com o oriente, são fruto de conhecimentos e experiências acumuladas, como a cons-trução naval, mapas, bússola, navegação pelas estrelas, que permitiram o domínio das técnicas de orientação marítima longe das costas continentais. Com o conhecimento das rotas bem se-dimentado e com um comércio gerando enormes lucros, surgem grandes corporações para administrar estas trocas como a Companhia das Índias Ocidentais, Orientais e a Liga Hanseá-tica (GRANDES VELEIROS, 2000). Mas, não só mercadorias foram trocadas neste período. Também, novas idéias e tecnologias foram incorporadas à "base de conhecimento" dos povos envolvidos neste processo de trocas comerciais.

O desejo exacerbado por maiores dividendos financeiros força a expansão comercial que termina levando à expansão geográfica, com os países europeus formando grandes impé-rios coloniais que lhes permitiam ter um mercado cativo para a absorção de seus excedentes de produção. À medida que a demanda de produtos cresce, surge a necessidade de se abando-nar técnicas de produção artesanais, vigentes na época, passando-se para a produção em esca-la, o que leva às grandes corporações de classe mundial e àquilo que se convencionou chamar de Revolução Industrial.

(14)

Essa procura por mais e melhores produtos nos conduziram ao advento daquilo que vem sendo chamado de Sociedade do Conhecimento, na qual o objetivo não é somente criar e produzir mercadorias melhores, mais baratas e em maiores quantidades (economia de escala), mas, também, administrar as informações necessárias para isso. Segundo Drucker (1994), a humanidade, para chegar à Sociedade do Conhecimento, passou por três revoluções. A pri-meira, a mais conhecida delas, chamada de Revolução Industrial, iniciou-se na metade do sé-culo XVIII e foi até a metade do sésé-culo XIX. Nela, saiu-se do artesanato e passou-se à produ-ção seriada. A segunda, que durou algo em torno de setenta anos, foi de 1880 até o final da Segunda Guerra Mundial, foi chamada de Revolução de Produtividade, tendo Frederick W. Taylor como o grande expoente. Suas propostas para o aumento da produtividade podem ser vistas como o resultado da aplicação do conhecimento ao trabalho. A terceira, que tomou algo em torno de cinqüenta anos para se desenvolver, de 1945 a 1990, foi denominada de Revolu-ção do Gerenciamento, quando ficou patente a necessidade de se aplicar, segundo afirmou Drucker (1994, p. 40), o conhecimento aos conhecimentos (applying knowledge to knowled-ge), como conseqüência da necessidade e preocupação em aumentar a qualidade do gerencia-mento dos meios de produção. Este interesse fez com que as organizações começassem a va-lorizar o conhecimento intangível, aquele que existe na mente das pessoas, como forma de apropriação da experiência de seus funcionários, como fator de sucesso comercial (NONAKA &TAKEUCHUI, 1995), o que acaba gerando a área conhecida como Gestão do Conhecimento, ou GC.

Já na metade do século XX, o interesse das corporações se volta para os recém criados computadores e sua capacidade de processar enormes volumes de dados o que gerou, por con-seqüência, grandes avanços na área das comunicações, o que, mais recentemente, vem sendo chamado de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Este novo período da humani-dade traz benefícios inquestionáveis, como, atualmente, o acesso democrático às informações distribuídas na Internet. Por outro lado, o acúmulo dessas informações é de tal ordem veloz e incontrolada que as ferramentas hoje disponíveis para a "mineração de dados" são ainda de difícil manuseio para operadores com poucos conhecimentos técnicos.

(15)

tecno-logia e permitir a absorção, por parte dos desenvolvedores e aficionados, dos complexos re-cursos de programação necessários para esta plataforma (KAWASAKI, 1993). Centenas de gru-pos se formam em todo o mundo como resgru-posta à necessidade de compartilhar esse conheci-mento de forma socializada.

No final do século XX, a Sun Microsystems lança a linguagem de programação para computadores Java, com seus recursos computacionais que privilegiam o acesso a bases de dados e a navegação na Internet. No entanto, o surpreendente interesse de milhões de progra-madores por esta linguagem gera uma demanda crescente por informações úteis para o desen-volvimento de seus projetos. Soma-se a isto a crescente e natural busca da comunidade por recursos (Java Community Process - JCP)1, o que faz com que, rapidamente, à linguagem Ja-va fossem incorporadas noJa-vas características, tornando-a cada vez mais complexa. Atualmen-te, dificilmente uma única pessoa tem a capacidade de dominar todos os recursos disponíveis desta linguagem, devido a enorme quantidade de informações que compõe os vários segmen-tos da plataforma, o que, naturalmente força os profissionais a especialização (veja Quadro 04).

Para amenizar essas dificuldades, cada vez maiores, de acesso às atuais bases de in-formações sobre a linguagem Java, começam a se formar espontaneamente Grupos de Usuá-rios Java (Java Users Groups - JUG) em todo o mundo (Anexo 1), como forma de socializar os conhecimentos sobre essa plataforma. Durante a elaboração deste trabalho, foram identifi-cados 367 JUGs no mundo (Quadro 03). No Brasil, não foi diferente (OLIVEIRA, Mar. 2004). Milhares de desenvolvedores reúnem-se nos 43 JUGs distribuídos em todo o país. E estes grupos não param de crescer (Apêndice 1) (OLIVEIRA, Set. 2004), contando com 25.730 de-senvolvedores.

As dificuldades encontradas pelos desenvolvedores Java quanto à aprendizagem e a-companhamento da evolução tecnológica e prazos cada vez menores para produção de artefa-tos, não são exclusivas dessa comunidade. O enorme acúmulo do conhecimento, no final do século, faz com que também outros grupos, dos mais variados segmentos sociais, culturais e tecnológicos, comecem a se formar para o compartilhamento de experiências.

Atualmente, o conhecimento tem sido apresentado como vantagem competitiva.

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presas de classe mundial, sempre preocupadas em gerir seu conhecimento corporativo, vêm despertando para o fato que o fomento e o apoio a estes grupos lhes trazem benefícios consi-deráveis. Por isso, incentivam seus funcionários a participar do que posteriormente se con-vencionou chamar de Comunidades de Prática (CoP). Estas grandes corporações entenderam que as CoP auxiliam na orientação de estratégias, sugerem novas linhas de negócios, resol-vem problemas mais rapidamente, transferem as melhores práticas, desenvolresol-vem habilidades profissionais e auxiliam no recrutamento e retenção de talento nas empresas. Empresas como a IBM, Xerox, Banco Mundial, Chrysler, Hewlett-Packard e Shell, entre tantas dezenas, têm apoiado esses grupos de conhecimento, interna e externamente, com reconhecidos reflexos nos seus faturamentos (WENGER,MCDERMOTT &SNYDER, 2002).

O termo Comunidades de Prática (Communities of Practice) foi cunhado por Wenger (1991). Wenger, McDermott & Snyder (2002) as definiram da seguinte forma:

“[CoP é] um grupo de pessoas que compartilham uma preocupação, um conjunto de problemas ou uma paixão sobre um tema e aprofundam seus co-nhecimentos e experiências nesta área interagindo de maneira continuada”.

Por outro lado, a Sun Microsystems2 afirma:

“Um Grupo de Usuários Java é um grupo de pessoas que compartilham um interesse comum pela tecnologia Java e se encontram regularmente para compartilhar idéias e informações. Na verdade, a estrutura de um JUG pode variar enormemente, de um pequeno grupo de amigos e colegas de trabalho para um grande grupo de empresas localizadas em uma mesma área geográ-fica. Independentemente do tamanho ou do foco de um JUG em particular, o espírito da comunidade permanece o mesmo”3.

Como se pode observar, as duas definições apresentam algumas semelhanças. As duas definições nos conduzem à expressão “grupo de pessoas que compartilham” Esta ação de compartilhar sinaliza a possibilidade de um JUG ser uma forma de CoP, uma vez que o foco da comunidade é o compartilhamento de um interesse comum e o aprendizado sobre a tecno-logia Java. É neste momento que os JUGs se firmam como ferramentas poderosas, pois, ao facilitam o compartilhamento do conhecimento comunitário, permitem que seus membros a-greguem valor estratégico às organizações em que atuam.

Apesar das estruturas formais das empresas muitas vezes inibirem o aprendizado (BROWN & DUGUID, 1991, apud NONAKA & TAKEUCHI, 1997, p. 296), ao participarem de

2 http://java.sun.com/jugs/

(17)

grupos informais de discussão técnica, por meio de chats, por exemplo, as pessoas se sentem propensas a buscar o conhecimento com os seus pares. A transferência do conhecimento nos JUGs se dá, normalmente, por meio de palestras técnicas periódicas, de blogs, de e-mails tro-cados entre colegas e de listas de discussão onde o compartilhamento de um problema induz sua solução num tempo consideravelmente menor do que o comum. Boletins dos grupos (newsletters) têm sido também instrumentos importantes de disseminação das melhores práti-cas, além de servirem de veículo de oferta de treinamento e de auxiliarem empresas na sele-ção confiável e barata dos melhores profissionais do mercado.

Hernandes (2003) mostra que a área denominada CoP faz parte do âmbito da Gestão do Conhecimento, este trabalho buscará mostrar que os JUGs são uma de suas manifestações. Wenger, McDermott & Snyder (2002) afirmam que as CoP são "um meio prático de gerenciar o domínio da Gestão do Conhecimento" e Wenger (2001) complementa sugerindo que as CoP são um tipo específico de comunidade, pois, são focadas no domínio do Conhecimento, de-senvolvem suas práticas compartilhadas por interação com problemas, soluções, insights e, coletivamente, constróem conhecimento.

“Aprendizado é social e acontece em grupo”, afirmam Lave & Wenger (2004). É difí-cil ter insights quando tudo que se tem são suas próprias visões, crenças e atitudes. É nessa hora que o aprendizado em grupo proporciona seus maiores dividendos por meio do sinergéti-co e poder sinergéti-coletivodas CoP. Portanto, o relacionamento social nas comunidades é crítico para o aprendizado, mais nas virtuais do que nas presenciais, pois, no ensino virtual existe o senti-mento de desconexão, uma vez que o contato entre colegas é reduzido. Por outro lado, na in-teração presencial grande parte do aprendizado vem do diálogo entre os parceiros. Isto nos leva a refletir sobre a importância de se fornecer às CoP um espaço que seja estimulante e que promova o aprendizado. Smith (2004) cita a apresentação do livro de Lave & Wenger (1991), escrita por William F. Hanks, que afirma:

“Mais do que perguntar que tipo de processos cognitivos e estruturas concei-tuais está envolvido, deve-se perguntar que tipo de engajamento social for-nece o contexto apropriado para que a aprendizagem tenha efeito."

(18)

currícu-lo vivo para a aprendizagem. Para Wenger (2004), nem tudo chamado de comunidade é uma CoP. Para ele, três elementos estruturais, Domínio, Comunidade e Prática, são considerados cruciais para que uma comunidade seja considerada uma CoP, conforme apresentadas no Quadro 01.

Quadro 01: Elementos estruturais de uma Comunidade de Prática, segundo Wenger (2002)

Elemento

estrutural Descrição

Domíni

o

Wenger (2002, pg. 45) afirma que são os tópicos e assuntos de interesse de uma comunidade que auxiliam seus membros a desenvolverem uma compreensão compartilhada do que é o domínio de suas atividades, a encontrar sua legitimidade nas organizações e criar a paixão pelo tema. Ou seja, o Domínio cria o terreno e o senso de identidade comum (WENGER, 2002, pg. 27). Um domínio bem definido legitima a comunidade pela afirmação dos propósitos e valores de seus membros participantes. Portanto, entende-se o domínio, para efeito deste trabalho, como sendo o assunto tratado dentro do grupo. É o mote, ou motivo pelo qual as pessoas se reúnem, ou seja, a temática tratada no grupo, são os tópicos que atraem seus membros. O domínio inspira seus membros a contribuir e participar, orienta seus aprendizados e dá significado a suas ações. Conhecer seus limites permite que seus membros decidam exatamente o que vale a pena compartilhar, como apresentar suas idéias, e quais atividades desenvolver. Permite também reconhecer o potencial de uma nova idéia.

Com

unid

ade

Pessoas que se engajam em atividades conjuntas e discussões se auxiliam mutuamente e compartilham informações, cabendo a um moderador da comunidade fomentar as relações e as trocas entre os indivíduos. Pois, segundo Wenger (2002, pg. 45), seus membros necessitam de atenção, organização e estimulo para definir seus papeis, a freqüência dos encontros, as formas de interação entre seus membros, as atividades que produzirão energia e confiança, o equilíbrio entre os vários interesses associados, a forma de atuação diante de conflitos e as formas de receber os novos admitidos. Estes tópicos permitem que a comunidade encontre seus meios de operação, a construção dos relacionamentos e cresça. Wenger (2002, pg. 28) afirma que a comunidade cria um ambiente para o aprendizado, pois estimula a interação e os relacionamentos com base no respeito mútuo e confiança, na boa vontade de compartilhar idéias, expor sua ignorância, fazer perguntas difíceis e escutar com atenção.

Práti

ca

Prática é um conjunto de espaços de trabalho, idéias, ferramentas, informações, estilos, linguagens, historias e documentos que os membros da comunidade compartilham (WENGER, 2002, pg. 29). Membros das CoP desenvolvem um repertório de recursos compartilhados: experiências, historias, ferramentas, maneiras de endereçar problemas recorrentes, na forma de uma prática compartilhada. Wenger (2002, pg. 46) afirma que qualquer comunidade com interações, baseada em um domínio, ira desenvolver algum tipo de pratica em algum momento. Ainda assim, uma comunidade pode se tomar pro ativa ao assumir o desenvolvimento de uma pratica, definindo que conhecimentos compartilhar, documentar, desenvolver, de forma a organizar as atividades de aprendizado, as formas de acesso ao conhecimento persistido, as normas, os projetos assumidos e as fontes de conhecimento, de maneira que a comunidade intencionalmente se torne uma fonte de conhecimento para seus membros e outros que passam se beneficiar destas habilidades.

(19)

nas CoP tais papéis e tarefas são, geralmente, os mesmos. Segundo Wenger et al. (2002), a identificação de seus elementos estruturais é extremamente importante para diferenciar uma CoP de outras formas de participação. Grupos de trabalho, por exemplo, possuem uma estru-tura hierarquizada e formal que restringem bastante a liberdade de seus participantes e os conduzem a um objetivo fixo. Um projeto possui um prazo determinado e metas a serem atin-gidas que reforçam o limite temporal de sua existência, além do fato de seus integrantes serem fortemente coordenados por um líder. Redes informais podem atrair integrantes com base nos temas que abordam, mas não necessariamente existe coesão suficiente entre seus membros para que haja desenvolvimento de prática. Para que um grupo seja de fato uma CoP deve a-presentar nitidamente os três elementos estruturais bem definidos: Domínio, Comunidade e Prática. A distinção entre as diversas categorias de agrupamentos de trabalho é apresentada no Quadro 02.

Quadro 02: Distinções entre Comunidades de Prática, Times, Força-tarefa e Redes informais (WENGER,MCDERMOTT &SNYDER, 2002, p. 42).

Estrutura Qual é o propósito? Quem faz parte? O que os mantêm juntos? Quanto tempo duram?

Comunidades de prática

Desenvolver a perícia de seus membros e definir seu lugar ou papel na comunidade

Auto-selecionado

Envolvimento e identificação com a perícia que forma a base da prática

Enquanto os membros tiverem interesse em melhorar a prática e manter a comunidade

Time de trabalho formal

Realizar o trabalho que foi definido para o time

Qualquer um que foi determinado para o time

Requerimentos da tarefa/performance e metas contínuas e comuns

Enquanto o trabalho ou a organização for reorganizado

Time de projeto e força-tarefa

Atender uma tarefa específica,

normalmente durante tempo específico

Como definido pela gerência

Marcos do projeto e metas

Até que o projeto ou a tarefa seja

encerrado Redes informais Coletar e compartilhar informações de interesse comum

Valor recíproco e aceitação, isto é, membros obtêm e fornecem

informações de valor

Perceber valor em pertencer e participar

Enquanto as pessoas tiverem razões de se conectarem e compartilharem informações

Em outubro de 2003, durante uma entrevista, o Prof. Wenger afirmou ao JUG Leader

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1.2 Organização do documento

Este trabalho encontra-se organizado em sete capítulos. Este Capítulo 1, contextualiza o estudo dentro de uma perspectiva da evolução do tema. São apresentadas as linhas gerais e inquietações que nortearam este estudo.

No Capítulo 2, são expostos os elementos deste estudo, como a questão da pesquisa e a hipótese;

O Capítulo 3 contempla as visões de autores consagrados na área sobre os temas base deste trabalho como, Sociedade do Conhecimento, Gestão do Conhecimento, Comunidades de Prática e Grupos de Usuários.

O Capítulo 4 descreve as etapas da pesquisa, compreendendo a pesquisa de campo, classificação do estudo, definição da população pesquisada, instrumentos utilizados, bem co-mo o tratamento estatístico aplicado aos formulários respondidos.

O Capítulo 5 refere-se aos resultados alcançados. Este capítulo contém os dados e in-formações da pesquisa feita junto à amostra de membros dos grupos de usuários Java brasilei-ros. São apresentados gráficos obtidos a partir dos dados do questionário aplicado e são feitas comparações entre os dados fornecidos pelos respondentes que afirmaram não participar de grupos de usuários, com os que participam e os dos coordenadores de seus respectivos grupos.

No Capítulo 6 é realizada a análise dos resultados alcançados neste trabalho.

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2. Descrição da Pesquisa

Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo espírito, a palavra da ciência. E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé, e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.

1 Coríntios 12, 8-10

2.1 Questão da pesquisa

Até julho de 2004, segundo a Sun Microsystems (2004), existiam mais de 3 milhões de desenvolvedores Java no mundo, sendo que uma parte deles se concentra nos 574 JUGs distribuídos em 98 países (Anexo 1). Observando o Quadro 03, vê-se que oito entre esses 98 países contam com mais de dez grupos de usuários em seu território e concentram 64% dos 574 JUGs existentes no mundo.

Quadro 03: Países com mais de 10 JUGs (Sun Microsystems, 2004)

Região País # de JUGs

África - -

Ásia Índia Paquistão

77 18

Oceania - -

Europa Alemanha Itália

14 21

Oriente Médio - -

América do Norte Canadá México USA

11 10 169 América do Sul Brasil 47

Total 367

O Brasil tem alguns dos maiores, mais organizados e dinâmicos JUG do mundo4 e contava, em Março de 2004, com 27 grupos presenciais e 06 virtuais, com a participação de 20.986 desenvolvedores (OLIVEIRA, 2004). Atualmente, o Brasil conta com 43 JUG (O LIVEI-RA, 2005), que reúnem mais de 25.730 desenvolvedores, listados no Apêndice 1.

Por se tratar de grupos técnicos, formados na sua maioria de forma espontânea por

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profissionais da área, todos carecem de embasamento, seja teórico, administrativo ou prático, sobre como gerir suas respectivas comunidades. O aprendizado da gestão e das potencialida-des dos JUG tem sido feito de forma empírica, através de eventuais trocas de experiências por mensagens eletrônicas na lista dos coordenadores de grupos de usuários ou de um eventual encontro presencial.

Durante o JavaOne, considerado o principal encontro internacional de desenvolvedo-res Java e que ocorre em junho de cada ano, em San Francisco (USA), tem-se uma oportuni-dade de troca de experiências em reuniões programadas com coordenadores dos grupos dos cinco continentes. Nessas reuniões, evidenciou-se como alguns aspectos culturais distingüem os JUG brasileiros dos demais existentes no mundo. Ao contrário dos JUG brasileiros, carac-terizados por um forte viés de trabalho voluntário e com grande vocação social (como a dis-tribuição de cestas básicas para comunidades carentes, por exemplo), os grupos norte-americanos, segundo afirmou Mark Richards, do New England Java Users Group (NEJUG), durante o JavaOne de 2002, são motivados estritamente por razões técnico-profissionais. Já Sridhar Reddy, evangelista indiano da Sun MicroSystems, afirmou, durante o III Sun DFJUG Meeting de agosto de 2004, que o forte individualismo e o pequeno tamanho dos JUG de seu país impedem o compartilhamento social que caracteriza os JUG brasileiros.

No Brasil, desde 2000 e a cada ano, o DFJUG5 vem mapeando o perfil da comunidade Java brasileira por meio da Pesquisa Nacional Java (Apêndice 2). No entanto, nenhum traba-lho nesse sentido foi realizado em qualquer outro país.

Por outro lado, é comum, nos fóruns virtuais de coordenadores de JUG brasileiros, comentários ressentindo-se da falta de conhecimentos que facilitem o entendimento das di-nâmicas que ocorrem dentro da comunidade. Conseqüentemente, abre-se um espaço de possi-bilidades no sentido de atender demandas e anseios de seus participantes. Assim, entende-se que estudar os problemas vivenciados pelos JUG brasileiros do ponto de vista das CoP é rele-vante, uma vez que tal problemática pode contribuir não só para as comunidades dos desen-volvedores Java brasileiros que os enfrentam, mas para qualquer outra que porventura apre-sentem características semelhantes.

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2.2 Delimitação do Estudo

O foco deste trabalho não é a tecnologia Java, mas sim os aspectos sociais das relações humanas dos membros participantes dessa comunidade. O objeto de estudo deste trabalho são as 43 comunidades de desenvolvedores Java brasileiros (Apêndice 1), analisados segundo a percepção que a comunidade tem de seus próprios grupos.

Como discutido anteriormente, Wenger, McDermott & Snyder (2002) afirmam que para uma comunidade ser considerada uma CoP, deve conter três elementos estruturais: Do-mínio, Comunidade e Prática (Quadro 01). Este trabalho identificou na literatura 21 publica-ções (Apêndice 3 – Quadro 9) em que foram identificados 234 fatores relevantes para a carac-terização de uma CoP. Tais fatores foram agrupados em 14 conjuntos que, a nosso ver, apre-sentavam características semelhantes (Apêndice 3 – Quadro 10) que, por sua vez, foram asso-ciadas aos três elementos estruturais do modelo de Wenger (WENGER,MCDERMOTT &S NY-DER, 2002). Para este trabalho, foram levantados alguns dos fatores tidos como relevantes, segundo o modelo de Wenger aqui considerado, para cada elemento estrutural, a saber:

• Para Domínio, foi selecionado o fator Tema (tópico, mote ou assunto);

• Para Comunidade, foi selecionado o fator Governança;

• Para Prática, foi selecionado o fator Aprendizado. Neste trabalho, o sentido de aprendi-zado considerado é o dado por Wenger (1991, p. 34-35), isto é, a aquisição de novos conhecimentos por uma comunidade que os constrói e deles se apropria “como processo cognitivo, dentro de uma prática social”.

2.3 Síntese da pesquisa

Ao participar de grupos de discussão técnicos, tem-se constatado que os membros de um JUG, em geral, se sentem livres para buscar novos conhecimentos com os seus pares. Isso é corroborado por Allee (2000), que afirma ser a construção e a apropriação do conhecimento (aprendizado) social por natureza, e por Pretto (2003), que trabalhou sob a perspectiva do a-prendizado como uma atividade social que ocorre em grupos.

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comparti-lhamento de informações faz com que problemas sejam discutidos e solucionados. E isso, ge-ralmente, num tempo consideravelmente menor que em outros ambientes formais de aprendi-zado. As newsletters (boletins) dos grupos têm-se mostrado instrumentos importantes para a disseminação das melhores práticas, assim como veículo de oferta de treinamento e, também, auxiliando empresas na seleção dos melhores profissionais do mercado, tudo isso dentro de uma conotação social e colaborativa.

Sendo o foco dos JUG o interesse comum pela tecnologia Java, observou-se que é pra-ticamente inexistente alguma literatura que subsidie a formação e organização desses grupos. Nesse sentido, um único documento disponibilizado pela Sun Microsystems data de Janeiro de 19976. No Brasil, também são raras as referências. Em nossa revisão de literatura, foram localizados apenas dois documentos. O primeiro, do JUG SouJava (1999), vem servindo co-mo a única referência prática para os pretendentes a formar novos grupos de usuários brasilei-ros. O segundo, de Mayworm (2004), é um trabalho acadêmico que analisa o Grupo de Usuá-rios Java de Petrópolis sob a ótica dos fatores críticos de sucesso de uma CoP definidos por McDermott (2000).

Assim, a realização de estudos específicos sobre esse tipo de comunidade se mostra pertinente para subsidiar, não apenas a organização dos JUG, mas também, a compreensão desses grupos como fenômeno social. Nesse sentido, este trabalho procura oferecer elementos que permitam responder à seguinte indagação: os JUG brasileiros, como agrupamentos soci-ais, apresentam as mesmas características encontradas na literatura para as CoP? Pois, se as-sim o for, as boas práticas e considerações pertinentes às CoP poderão ser, também, apropria-das no âmbito dos JUG.

2.4 Objetivo da pesquisa

Há uma estimativa de que a comunidade brasileira de desenvolvedores Java conta hoje com aproximadamente 70.000 pessoas (Sun, 2005), das quais 25.000 participam de JUGs. Os coordenadores desses grupos, além de formadores de opinião, têm um papel executivo, no sentido de manter a coesão de seus membros em torno de um foco temático. No entanto, atra-vés da revisão da literatura realizada neste trabalho, observou-se que são poucos os documen-tos que orientam esses coordenadores em suas atividades, todos especialistas em programação

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de computadores, mas com pouca experiência prática no trato das relações sociais que ocor-rem em grupos dessa natureza. Este fato, muitas vezes, os tem frustrado nos seus objetivos de melhor atender suas comunidades.

Intuitivamente, pode-se ver uma proximidade entre uma comunidade de desenvolve-dores Java e o conceito de CoP. Portanto, um estudo dessa comunidade sob o ponto de vista das CoP pode contribuir para seu melhor entendimento e assim subsidiar os coordenadores de JUGs a melhor conduzir suas atividades. Nesse sentido, entendemos que a obra de Etienne Wenger pode servir de fundamentação para embasar a busca por respostas para estas inquieta-ções, haja vista a proximidade entre o tema abordado por este autor e as necessidades dos res-ponsáveis pelos grupos Java no Brasil.

2.4.1 Objetivo geral

O objetivo deste trabalho é verificar, junto à comunidade brasileira de desenvolvedo-res Java, se o modelo estrutural das CoP (Domínio, Comunidade e Prática), conforme propos-to por Etienne Wenger, está presente nos JUGs.

2.4.2 Objetivos específicos

Para atingir tal objetivo, este trabalho busca:

• Identificar, na literatura existente, os fatores relevantes que caracterizam as CoP;

• Identificar os JUG em atividade no Brasil;

• Levantar o perfil dos membros da comunidade brasileira de desenvolvedores Java;

• Verificar se os elementos estruturais do modelo de Wenger, para as CoP, estão presen-tes nos JUG brasileiros;

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2.5 Hipótese

2.5.1 Hipótese primária

A hipótese para este trabalho é que os elementos estruturais de uma CoP (Domínio, Comunidade e Prática) estão presentes na comunidade brasileira de desenvolvedores Java, o que os torna aderentes ao modelo definido por Wenger (WENGER,MCDERMOTT &SNYDER, 2002, p. XX do prefácio).

2.5.2 Hipótese secundária

H1: A participação dos desenvolvedores Java na comunidade é motivada pelo interesse do

Tema em questão;

H2: A atuação de membros respeitados pela comunidade é essencial para sua Governança e a mantém ativa;

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3. Revisão da literatura e referencial teórico

E correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar?

Atos, 8, 30-31

Apesar de ser um tema recente, diversos trabalhos vêm sendo desenvolvidos sobre Comunidades de Prática - CoP, com resultados publicados em diversos veículos. Só a título de exemplo, o mecanismo de busca do sítio Google7 retorna mais de 144.000 links para a con-sulta “Communities of Practice” e, em português, "Comunidades de prática" retorna 882 links. Já o sítio europeu Knowledge Board8, retorna 5.641 referencias para a mesma palavra-chave.

No âmbito acadêmico, porém, uma consulta à Biblioteca Digital de Teses e Disserta-ções do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT9, não foi encon-trada nenhuma ocorrência para a expressão “Comunidades de Prática” ou a sua versão em In-glês, o que nos dá um indício de como este tema tem sido pouco explorado nesse campo de pesquisa no Brasil. Para a expressão “Comunidades Virtuais”, foram encontradas 13 ocorrên-cias, 12 delas só na Universidade Federal de Santa Catarina e uma na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Entretanto, sabe-se de três trabalhos referentes ao tema realizados no Pro-grama de Mestrado em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação da Universida-de Católica Universida-de Brasília, a saber, os Universida-de HernanUniversida-des (2003), Inoue (2003) e Pretto (2004).

Neste capítulo, são discutidos os fundamentos teóricos do presente trabalho. Inicial-mente será apresentada uma breve discussão sobre a Sociedade do Conhecimento e as dificul-dades que as comunidificul-dades da informação encontram, no que tange ao grande volume de da-dos que a sociedade moderna nos impõe. Em seguida, é apresentada a área conhecida como

Gestão do Conhecimento – GC que, no escopo deste trabalho, é considerada a principal força na criação do conhecimento nas comunidades e organizações. Comunidades de Prática é o tema que se segue e, como afirmado por Wenger, Mcdermott & Snyder (2002, p. 12), são "um meio prático de gerenciar conhecimento”. É através dos elementos fundamentais das CoP (Domínio, Comunidade e Prática), que se estuda os Grupos de Usuários, em especial a co-munidade Java brasileira, que encerra esta revisão da literatura.

7 http://www.google.com Março / 2004

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3.1 Sociedade do conhecimento

Nonaka & Takeuchui (1995, p. 43) citam Barnard ao afirmarem que, na sua visão so-bre o conhecimento, este pode ser resumido em dois pontos. Primeiro, o conhecimento consis-te não apenas no conconsis-teúdo lingüístico, mas também no conconsis-teúdo não-lingüístico, comporta-mental. Segundo, os líderes criam valores, crenças e idéias a fim de manter a solidez do tema de conhecimento dentro da organização e para administrar a organização como um sis-tema cooperativo.

No seu sentido construtivo, Hock (1999, p.92) afirma que:

“a base da governança é a clareza do intento comum e a confiança no comportamen-to previscomportamen-to, tudo muicomportamen-to bem temperado com bom senso e comportamen-tolerância. A verdadeira governança é baseada no pressuposto de que até as sociedades mais simples são complexas demais para que haja acordo nos detalhes.”

Mesmo sem um consenso sobre a natureza e concentração do conhecimento, sabe-se que este tem um papel cada vez mais importante na nossa sociedade. Klok, Langley & Pikaart (2003) afirmam que o uso da tecnologia, a internacionalização e a demografia fazem a nossa sociedade mudar rapidamente. Para administrar estas mudanças e para extrair o melhor delas, Drucker (2001) predisse o surgimento de uma sociedade, dita de conhecimento, caracterizada por: (i) ser livre de fronteiras, uma vez que o conhecimento viaja muito mais rápido que o ca-pital, (ii) ter mobilidade ascendente, uma vez que a educação formal faz o conhecimento dis-ponível para todos, e (iii) possuir tanto potencial de falha como de sucesso, uma vez que qualquer um pode se apropriar dos “meios de produção” (o conhecimento requerido para o trabalho). Nesse sentido, Nonaka & Takeuchui (1995) já afirmavam que os trabalhadores do conhecimento seriam o principal recurso e a força dominante na nossa era.

Em uma economia "onde a única certeza é a incerteza", a fonte da vantagem competi-tiva reside no conhecimento (NONAKA e TAKEUCHUI, 1995). Ou seja, o conhecimento se tor-nou crítico para o sucesso das empresas na sociedade de mercado. Novas situações se apre-sentam e geram vantagens competitivas para as organizações que conseguem se adaptar às mudanças em seu ambiente de forma rápida e eficiente.

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gera um estresse não negligenciável (HERCULANO-HOUZEL, 2003, apud JANSEN, 2003). Thornburg (1997) afirma que se vive hoje a Revolução da Comunicação, que tem seus alicer-ces na Lei de Moore10 em combinação com a Lei de Metcalfe11. Segundo Klok (2003), o vo-lume de informações disponíveis pode ser um dos inibidores do conhecimento, pois, o ex-cesso de informação pode ter conseqüências danosas, como será visto mais a frente.

Warren (2002) afirma:

“Estamos nos afogando em informação: Os últimos 30 anos produziram mais infor-mação que os 5.000 anos anteriores; Cerca de 50.000 livros e 10.000 revistas são publicados por ano, somente nos E.U.A; Todos os dias pesquisadores e cientistas produzem 7.000 novos documentos científicos; O homem comum é confrontado com cerca de 140 mensagens de propaganda por dia - 50.000 por ano; Uma edição matutina da maioria dos jornais contém mais informação que uma pessoa do século XVI encontraria em toda a sua vida!”

Segundo Silveira (2002):

“Vivemos uma angústia permanente por não conseguir absorver o volume de infor-mações disponível. Numa simples banca de jornal existem mais de 3 mil títulos à venda, entre jornais, fascículos, edições especiais, etc. No ano 2000, foram lançadas e reeditadas pelas editoras mais de 45 mil obras, segundo dados da Câmara Brasilei-ra do Livro. E há ainda a Internet.”

De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Berkeley (BERKELEY, 2003), se a quantidade total de informação fosse dividida pelos cerca de 6,3 bilhões de habi-tantes do planeta, cada pessoa produziria o equivalente a 800 megabytes por ano, que equiva-lem a uma pilha de 500 livros comuns, de 300 páginas de texto, com dez metros de altura! Chega-se a afirmar que a quantidade de informação produzida dobrou de 1999 a 2002 e au-menta 30% a cada ano, sem perspectiva desse ritmo diminuir. Nos últimos dois anos, foi cria-da mais informação nova do que em tocria-da a história anterior cria-da humanicria-dade (O Globo, 2003). Drucker (1994) afirma que é seguro assumir que, qualquer um, com qualquer conhecimento, dentro da sociedade pós-capitalista, deverá adquirir novos conhecimentos a cada quatro ou cinco anos, sob pena de se tornar obsoleto.

10 O fundador da Intel, o químico americano Gordon Moore em 1965, constatou que a cada 18 meses a

capacidade de processamento dos computadores dobra, enquanto os custos permanecem constantes. Isto é, a cada dois anos a indústria de informática dobra o número de componentes eletrônicos (transistores) gravados numa única pastilha de silício, ou chip, e com isso aumenta na mesma proporção o poder de processamento dos computadores (SILVA, 2002). Isto significa que, na pratica, o preço dos componentes, neste período, caíra para a metade (HELLER, 2001).

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Tomemos o exemplo da comunidade de desenvolvedores Java. A evolução do conhe-cimento em programação Java segue a tendência apresentada acima. O conheconhe-cimento requeri-do para estes profissionais vem crescenrequeri-do a cada ano, aumentanrequeri-do consideravelmente as difi-culdades para assimilação das novas informações. Para se ter uma idéia dessa evolução, essa linguagem, que contava, em maio de 1995, com 1.545 métodos, contava, em setembro de 2004, com 21.073métodos, como mostrado na Quadro 0412. Faz-se pertinente, então, que es-sa comunidade se organize de forma a, entre outras coies-sas, difundir as informações consolida-das sobre o tema e disponibilizar os meios para que seus membros tenham acesso a essas in-formações e às oportunidades que se oferecem.

Quadro 04: Evolução da estrutura da linguagem Java de 1995 a 200413

Versão Ano Pacotes Classes Métodos

JDK 1.0.2 1995 8 212 1545

JDK 1.1 1997 23 504 3841

JDK 1.2 2000 59 1520 15050

SDK 1.3 2001 76 1842 18300

SDK 1.4 2002 135 2991 28722

J2SE 5.0 2004 166 2485 21073

Vale lembrar de Hock (1999), quando afirma que:

“Há um fato inegável: criamos a maior explosão de capacidade de receber, armaze-nar, utilizar, transformar e transmitir informação da História. Não há como recuar. Saibamos ou não, queiramos ou não, gostemos ou não, seja construtivo ou não, fo-mos apanhados juntos, todos nós e a Terra, na mais súbita, na mais profunda, na mais complexa mudança da história da civilização. Talvez da história da própria Terra.”

3.2 Gestão do Conhecimento

Nonaka e Takeuchi (1995) afirmam que o conhecimento humano pode ser identificado como sendo de dois tipos: explícito e tácito. O conhecimento explícito, que pode ser articula-do na linguagem formal, inclusive em afirmações gramaticais, expressões matemáticas, espe-cificações, manuais e assim por diante. Este tipo de conhecimento pode ser então transmitido, formal e facilmente, entre os indivíduos. O conhecimento tácito, definido originalmente por Polanyi (1966, apud NONAKA &TAKEUCHUI, 1995, p. 65), é difícil de ser articulado na

12 Tais dados vêm sendo coletados pelo autor ao longo dos últimos dez anos, a cada nova versão da linguagem Java.

13

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guagem formal. É o conhecimento pessoal incorporado à experiência individual e envolve fa-tores intangíveis como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas e sistemas de valor. Este tipo de conhecimento é difícil de formalizar, o que dificulta sua transmissão e compartilha-mento com os outros. Conclusões, insights e palpites subjetivos incluem-se nessa categoria de conhecimento. Além disso, o conhecimento tácito está profundamente enraizado nas ações e experiências de um indivíduo, bem como suas emoções, valores e ideais. Este contém uma importante dimensão cognitiva. Consiste de esquemas, modelos mentais, crenças e percep-ções tão arraigadas que freqüentemente a tomamos como certos.

Polanyi (1966, apud NONAKA &TAKEUCHUI, 1995, p. 307) definiu conhecimento táci-to:

“Nem sempre o know-how pode ser codificado, pois, em geral, possui uma impor-tante dimensão tácita. Os indivíduos podem saber mais do que são capazes de articu-lar. Quando o conhecimento tem um alto componente tácito, torna-se extremamente difícil transferi-lo sem contato pessoal íntimo, demonstração e envolvimento. Na verdade, na ausência do contato humano íntimo, às vezes, a transferência de tecno-logia torna-se impossível.”

Drucker (1994, página 46) afirma que o conhecimento tácito não pode ser aprendido através de uma educação formal e nem ensinado, pois, tem suas raízes na techné ou conheci-mento do artesão. Porém, a interação entre essas duas formas de conheciconheci-mento (tácita e explí-cita) é a principal força na criação do conhecimento nas organizações.

A Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas – EAESP/FGV segue uma idéia similar ao discutido acima, e define Gestão do Conhecimento como14:

“[...] um processo sistemático, articulado e intencional, apoiado na geração, codifi-cação, disseminação e apropriação de conhecimentos, com o propósito de atingir a excelência organizacional.”

Terra (2003) afirma:

“Gestão do Conhecimento significa organizar as principais políticas, processos, fer-ramentas gerenciais e de tecnologia de informação à luz de uma clara compreensão dos processos de identificação, validação, disseminação, compartilhamento, uso e proteção dos conhecimentos estratégicos para gerar resultados (econômicos) para a empresa e benefícios para seus colaboradores.”

De acordo com Wenger, McDermott & Snyder (2002, p. X), a Gestão do

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to evoluiu de uma primeira onda, onde o foco era a tecnologia, para uma segunda mais dedi-cada à abordagem teórica de temas tais como comportamento, cultura e conhecimento tácito. Uma terceira onda agora está descobrindo que CoP são um meio prático de gerenciar conhe-cimento. Ela fornece uma infra-estrutura organizacional concreta para realizar o sonho da or-ganização que aprende.

3.3 Comunidades de Prática

3.3.1 Terminologia utilizada

Comunidade, para os dicionários brasileiros (FERREIRA, 2002, HUAISS & CARDIM, 1984, SILVA, 1977), é “a qualidade do que é comum”, é “a participação em comum”, é “a co-munhão”, é “o corpo social”, a “sociedade e um grupo de pessoas que vivem submetidas a uma mesma regra”. Comunidades se baseiam na noção do entendimento tácito entre seus membros no interior da qual, em nome da segurança do corpo, os sujeitos renunciam à própria liberdade individual (MOURA, 2005).

Dee Hock (1999, p. 118) define:

“A verdade é que uma empresa comercial, como, aliás, qualquer organização, não passa de uma idéia. Todas as instituições não passam de um constructo mental a que somos levados ao buscar um propósito comum; uma personificação conceitual de uma poderosa idéia muito antiga chamada de comunidade.”

Smith (2004) afirma:

“Comunidades são uma maneira efetiva das organizações manipularem problemas não estruturados e compartilhar conhecimento fora dos limites tradicionais. Porém, é em torno de uma prática que as comunidades freqüentemente se organizam."

Ele nos mostra que são três as características que definem uma prática: (i) empreende-dorismo agregador, (ii) engajamento mútuo e (iii) repertório compartilhado, descritas no Qua-dro 05. Para ele, são dois os indicadores que se sobressaem quando se discute uma prática: (i)

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Quadro 05: Características de uma prática15

Características Descrição

Empreendimento agregador

Os membros da comunidade estão lá para realizar algo de forma contínua, têm algum tipo de trabalho em comum e vêem claramente o propósito maior de seu trabalho. Eles têm uma “missão”. De maneira simplificada diríamos, “estão lá por um motivo”

Engajamento mútuo

Os membros da comunidade interagem uns com os outros não apenas no curso do que estão realizando, mas para entender o trabalho, para definir como é feito a mesmo para mudar o como está sendo feito. Através deste engajamento mútuo os membros também estabelecem suas identidades no trabalho

Repertório comparti-lhado

Os membros da comunidade não apenas tem um trabalho em comum, mas também métodos, ferramentas e mesmo linguagem, histórias e padrões de comportamento Este é o contexto cultural do trabalho

Por outro lado, Levy (1993) procura a definição da palavra virtual no latim virtualis, derivado, por sua vez de virtus (força, potência). Para este autor, o virtual é “... o nó de ten-dências ou força que acompanha uma situação ... ou uma entidade qualquer e que chama um processo de resolução: a atualização.”

Ao se trazer estas definições, anteriormente discutidas, para o âmbito da Informática, encontramos que, as “comunidades virtuais são agregações sociais que emergem na Internet” (RHEINGOLD, 1993) e esta é uma rede de computadores fracamente interconectados que usa a tecnologia CMC (Comunicação Mediada por Computadores) para ligar pessoas em todo o mundo, em discussões públicas. Teixeira (2002) dá uma interpretação particular a essa defini-ção:

“Comunidade na Internet é uma agregação social que surge quando uma quantidade suficiente de indivíduos toma parte em discussões públicas por um período suficien-te para que se desenvolvam redes de relacionamentos pessoais.”

Por outro lado, Tajra, (2002) define as comunidades virtuais como “organizações di-nâmicas que interagem consigo mesmas a partir de relações com o seu meio.”

Mas, o que são, afinal, as CoP? Segundo Wenger & Snyder (2000),

“[...] são grupos de pessoas reunidas informalmente pela expertise e paixão compar-tilhadas por um empreendimento conjunto: engenheiros envolvidos na perfuração de poços, consultores que se especializaram em marketing estratégico, ou advogados defendendo um cliente em uma causa complicada. Algumas delas se reúnem regu-larmente, outras estão conectadas basicamente através de correio eletrônico, e po-dem ou não ter agendas explícitas. Todas elas, no entanto, compartilham sua experi-ência e conhecimento de maneira criativa para promover novas abordagens para problemas que a comunidade identificou”.

15

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Para McDermott (1999):

“[CoP] também podem ser definidas como agrupamento de pessoas que comparti-lham e aprendem uns com os outros por contato físico ou virtual, com um objetivo ou necessidade de resolver problemas, trocar experiências, desvelamentos, modelos padrões ou construídos, técnicas ou metodologias, tudo isso com previsão de consi-derar as melhores práticas.

−Qual o seu propósito? As CoP são criadas ou surgem com o objetivo de desenvol-ver as competências dos seus membros, através da construção de conhecimento, pela troca ou compartilhamento de experiências individuais.

−Quem são os membros deste grupo? Seus membros são selecionados por eles mesmos, em razão de seus conhecimentos e habilidades, ou ainda pela apreciação aos temas específicos, sugeridos por cada um dos grupos.

−O que os mantém juntos? Os membros de uma comunidade de prática permane-cem se relacionando pelo compromisso e identificação destes com as competên-cias e habilidades desenvolvidas no grupo.

−Qual a duração? Um grupo com as características de uma comunidade de prática pode durar enquanto houver interesse, por parte dos seus integrantes, em mantê-lo.”

Segundo Smith (2004), coube a E. Wenger e J. Lave cunharem o termo Communities of Practice (CoP), em 1991. Wenger, McDermott & Snyder (2002) definem CoP como:

“[...] um grupo de pessoas que compartilham uma preocupação, um conjunto de problemas ou uma paixão sobre um tema, aprofundando seus conhecimentos e expe-riências nesta área, interagindo de maneira continuada.”

De acordo com Wenger, McDermott & Snyder (2002, p. 27-29), e corroborados por Hernandes (2003) e Wenger (2004), os elementos estruturais de uma CoP devem atender a três características fundamentais: Domínio, Comunidade e Prática, conforme já descrito no Quadro 01 (seção 1.1). Neste trabalho, essa é a definição considerada de CoP.

3.3.2 A estrutura básica das Comunidades de Prática: Domínio, Comunidade e Prática

Uma CoP pode ser entendida a partir de três dimensões, através das quais a prática serve como fonte de coerência de uma comunidade: empreendimento comum, envolvimento mútuo e repertório compartilhado. Uma prática só existe se as pessoas que fizerem parte dela estiverem envolvidas em ações que tenham a finalidade de concretizar um empreendimento comum, que é negociado entre os membros da comunidade através de processo que reflete o envolvimento das pessoas na comunidade.

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pesso-as, a necessidade do estabelecimento de laços de confiança entre elas e promoção da coopera-ção –, se fundem nos três domínios que regem as comunidades de prática: o envolvimento entre as pessoas, o compartilhamento de um repertório e o empreendimento comum a ser al-cançado. Em que pese a enorme variedade de características das comunidades, existe uma es-trutura básica fundamental que as definem como tal.

O Domínio estabelece as fronteiras e a identidade do grupo. É a fonte de inspiração de seus participantes. Estabelece aos participantes a noção sobre quais temas serão tratados pelo grupo.

A Comunidade constitui uma verdadeira fábrica de aprendizagem, pois proporciona interações entre os seus elementos e encoraja o compartilhamento de idéias. A comunidade deve permitir que seus integrantes exponham suas questões independentemente do nível de conhecimento e as tratem com atenção, criando um clima de confiança, mas desafiador.

A Prática é um conjunto de estrutura de trabalho, idéias, ferramentas, informações, es-tilos, linguagem, histórias e documentos que os membros da comunidade compartilham. En-quanto o Domínio determina o foco da comunidade, a prática representa o conhecimento que é desenvolvido, compartilhado e mantido.

3.3.3 Elementos fundamentais das CoP

Para que uma CoP se desenvolva com sucesso, Wenger (2001) sugere que se priorize os aspectos sociais, culturais e organizacionais e em segundo lugar os aspectos tecnológicos. Entretanto, ressalta a importância desta estrutura para o desenvolvimento da CoP. Nesse estu-do, Wenger sugere treze elementos fundamentais de uma comunidade bem sucedida, que po-dem ser melhor desenvolvidos pelo uso das tecnologias da informação e comunicação:

[Tempo & Espaço]

1. Presença & Visibilidade. Uma comunidade deve fazer parte da vida daqueles que per-tencem a ela;

(36)

[Participação]

3. Variedade de interações. Deve haver uma interação entre os integrantes de uma CoP para que a construção da prática possa ser dita compartilhada;

4. Eficiência de envolvimento. Para que as CoP possam competir com outras prioridades de cada um de seus membros, a participação deve ser facilitada ao máximo.

[Criação de valores]

5. Valores de curto prazo. Cada interação pontual precisa mostrar o seu valor, enquanto ação que possa contribuir com a construção da prática;

6. Valores de longo prazo. Valores que levam em consideração o domínio da comunidade, para fazer com que cada membro tenha um compromisso de longo prazo com seu de-senvolvimento, como forma de “fidelizar” esses membros.

[Conexões]

7. Conexões com o mundo. Criar valores, se conectar com o interesse de outras áreas, tal-vez uma mais ampla, da qual a comunidade faça parte, ou ainda, alguma que seus mem-bros queiram estreitar relações.

[Identidade]

8. Identidade pessoal. Fazer com que a participação em uma comunidade de prática seja parte da identidade do próprio participante;

9. Identidade comunal. Da mesma forma, a identidade da comunidade deve fazer parte da vida de seus integrantes.

[Pertencimento]

10. Pertencimento & Fronteiras. Valor pessoal do pertencimento, como a interação com co-legas, o desenvolvimento de amizades e a construção da confiança;

(37)

[Desenvolvimento da comunidade]

12. Evolução. A evolução das comunidades se dá conforme elas avançam no estabeleci-mento de conexões com o mundo;

13. Construção ativa da comunidade. Geralmente o que se percebe nas comunidades de prá-tica são o surgimento de grupos nucleares que se comprometem com o desenvolvimento das comunidades.

3.3.4 Estágios de desenvolvimento (atividades yípicas)

Segundo Wenger & McDermott (1999), são os estágios do ciclo de vida de uma CoP:

Potencial. Indivíduos encontram-se face a situações similares, sem o benefício de com-partilhar informações. Encontrando-se e descobrindo afinidades.

Em coalizão.Membros agrupam-se e reconhecem seu potencial explorando conectivi-dade e negociando a comuniconectivi-dade.

Ativa. Membros engajam-se e desenvolvem uma prática engajando-se em atividades comuns, criando artefatos, renovando interesses, comprometimento e relacionamento.

Dispersa. Membros não estão mais engajados, mas a comunidade ainda vive como um centro de conhecimento mantendo contato, comunicação, participando de reuniões, so-licitando recomendações.

Memorável. A comunidade não é mais central, mas as pessoas ainda a recordam como parte de suas identidades. Contando histórias, preservando artefatos, coletando memó-rias.

(38)

Figura 01: Características e atividades relacionadas às fases do ciclo de vida de uma CoP (WENGER &MCDERMOTT, 1999)

(39)

3.3.5 Trabalhos sobre CoP na literatura

Todas as comunidades, dentro ou fora da Internet, aderem a princípios básicos para prosperarem. A Mongoose Technology16 codificou uma “doutrina” composta de 12 Princí-pios da Colaboração, embasados em um sistema sociológico. Esses princípios (Quadro 06) se organizam numa hierarquia, onde o primeiro deles, “Propósito”, apóia os demais.

Ao discutir como incentivar o aprendizado dentro de uma comunidade, Wenger (1996) alerta sobre as dificuldades que se pode deparar quando se pretende extrair conhecimento de uma prática. Ele afirma que o aprendizado está tão ligado à prática que, normalmente, não é percebido como aprendizado. Como resultado, a prática nas organizações é, muitas vezes, en-tendida como estática, caótica e desestruturada (WENGER, 1996, pg. 22). Por outro lado, colo-cando-se o foco no aprendizado, a prática não fica tão resistente às mudanças ou alterações impostas por decreto.

Quadro 06: Os 12 princípios da colaboração da Mongoose Technology (2004)

Princípio Descrição

Propósito A comunidade existe porque seus membros compartilham um propósito comum que somente pode ser atingido em conjunto

Identidade Membros conseguem se identificar e construir relacionamentos

Reputação Membros constróem reputação baseada na opinião expressa pelos outros

Governança Os facilitadores e os membros da comunidade assumem responsabilidades gerenciais uns com os outros, permitindo assim que a comunidade cresça

Comunicação Membros devem ser capazes de comunicar uns com os outros

Grupos Os membros da comunidade se agrupam de acordo com seus interesses específicos ou tarefas Ambiente Um ambiente sinergético permite aos membros da comunidade alcançar seus propósitos Limites A comunidade conhece o porque ela existe , o que e quem é externo e interno

Confiança A construção da confiança entre membros e os facilitadores da comunidade aumenta a eficiência do grupo e permite a resolução dos conflitos

Troca A comunidade reconhece as formas de troca de valores, tais como conhecimento, experiência, apoio, trocas e dinheiro

Expressão A comunidade tem uma alma ou personalidade; membros estão conscientes do que os outros membros da comunidade estão fazendo

História A comunidade deve manter registro dos eventos passados e deve reagir e mudar em resposta a eles

Para McDermott (1999), CoP são grupos de pessoas que compartilham idéias e insi-ghts, ajudam uns aos outros a resolver problemas e desenvolvem uma prática ou aproximação comum em um campo. Ele oferece sete orientações que auxiliam na estruturação de uma CoP.

Imagem

Figura 01: Características e atividades relacionadas às fases do ciclo de vida de uma CoP  (W ENGER  & M C D ERMOTT , 1999)
Figura 03: Graus de participação em CoPs
Tabela 01: Relação entre os respondentes e os JUGs brasileiros
Figura 04: Relação dos respondentes com os 5 maiores grupos virtuais conhecidos do Brasil  230 32 35 217 356 289 71 050100150200250300350400 G U J   Jav a- B r  Ja va -B r O rk ut  Ja vaF ree  P or ta lJa va   N enh um  J U G JU G  nao l is tado GUJ   Java
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