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3. Revisão da literatura e referencial teórico

3.3 Comunidades de Prática

3.3.5 Trabalhos sobre CoP na literatura

Todas as comunidades, dentro ou fora da Internet, aderem a princípios básicos para prosperarem. A Mongoose Technology16 codificou uma “doutrina” composta de 12 Princí-

pios da Colaboração, embasados em um sistema sociológico. Esses princípios (Quadro 06) se

organizam numa hierarquia, onde o primeiro deles, “Propósito”, apóia os demais.

Ao discutir como incentivar o aprendizado dentro de uma comunidade, Wenger (1996) alerta sobre as dificuldades que se pode deparar quando se pretende extrair conhecimento de uma prática. Ele afirma que o aprendizado está tão ligado à prática que, normalmente, não é percebido como aprendizado. Como resultado, a prática nas organizações é, muitas vezes, en- tendida como estática, caótica e desestruturada (WENGER, 1996, pg. 22). Por outro lado, colo- cando-se o foco no aprendizado, a prática não fica tão resistente às mudanças ou alterações impostas por decreto.

Quadro 06: Os 12 princípios da colaboração da Mongoose Technology (2004)

Princípio Descrição

Propósito A comunidade existe porque seus membros compartilham um propósito comum que somente pode ser atingido em conjunto

Identidade Membros conseguem se identificar e construir relacionamentos

Reputação Membros constróem reputação baseada na opinião expressa pelos outros

Governança Os facilitadores e os membros da comunidade assumem responsabilidades gerenciais uns com os outros, permitindo assim que a comunidade cresça

Comunicação Membros devem ser capazes de comunicar uns com os outros

Grupos Os membros da comunidade se agrupam de acordo com seus interesses específicos ou tarefas Ambiente Um ambiente sinergético permite aos membros da comunidade alcançar seus propósitos Limites A comunidade conhece o porque ela existe , o que e quem é externo e interno

Confiança A construção da confiança entre membros e os facilitadores da comunidade aumenta a eficiência do grupo e permite a resolução dos conflitos

Troca A comunidade reconhece as formas de troca de valores, tais como conhecimento, experiência, apoio, trocas e dinheiro

Expressão A comunidade tem uma alma ou personalidade; membros estão conscientes do que os outros membros da comunidade estão fazendo

História A comunidade deve manter registro dos eventos passados e deve reagir e mudar em resposta a eles

Para McDermott (1999), CoP são grupos de pessoas que compartilham idéias e insi-

ghts, ajudam uns aos outros a resolver problemas e desenvolvem uma prática ou aproximação

comum em um campo. Ele oferece sete orientações que auxiliam na estruturação de uma CoP.

Ele sugere que: “(i) se construa comunidades em tópicos estrategicamente importantes; (ii) se construa um necessário contexto de fundo para que as pessoas possam se entender; (iii) se uti- lize tanto pessoas como sistemas de informação para o compartilhamento de idéias; (iv) se utilize fóruns múltiplos para o compartilhamento de conhecimento; (v)ajude as pessoas a ob- ter idéias uns dos outros, quando necessário, em vez de "empurrá-las"; (vi) CoP vivem dentro de uma cultura organizacional; (vii) se crie uma energia natural pelo aprendizado”.

Dentro da mesma abordagem, White (2003) apresenta as cinco maneiras rápidas de se fazer uma Comunidade de prática de sucesso e afirma que “(i) recursos vêm em primeiro; (ii) precisa-se de um líder; (iii) deve-se utilizar a melhor tecnologia possível; (iv) haja cautela com as agendas pessoais; (v) se esteja preparado para o fracasso”.

Wenger & Snyder (2000) afirmam que as CoP adicionam valor às empresas e para se obter o aprendizado organizacional sugerem seis motivos, pois, “(i) elas auxiliam na orienta- ção de estratégias; (ii) sugerem novas linhas de negócios; (iii) resolvem problemas rapida- mente; (iv) transferem as melhores práticas; (v) desenvolvem habilidades profissionais; (vi) auxiliam no recrutamento e retenção de talento nas empresas”.

Wenger (1996) levanta quatorze maneiras de se apropriar o conhecimento nas organi- zações. Ele propõe que, dentro das CoP: “(i) se veja o aprendizado como trabalho e trabalho como aprendizado; (ii) se conte com o informal, pois, é aí que o trabalho é realizado; (iii) se existe um problema de aprendizado, deve-se atentar para os padrões sociais de participação e exclusão; (iv) se mantenha o aprendizado o mais próximo possível da prática; (v) se trate as CoP como recursos; (vi) se veja as pessoas como membros de uma CoP, não as estereotipan- do, mas honrando a significância de suas participações; (vii) se encoraje a formação e o apro- fundamento das CoP, legitimando o trabalho de colocá-los juntos e valorizando o trabalho informal de aprendizado que eles facilitam; (viii) se administre os limites entre as CoP como oportunidades para aprendizado; (ix) se espere por transformações, desentendimentos e rein- terpretações quando pessoas, artefatos e informações cruzam os limites da prática; (x) se adi- cione valor ao trabalho, agenciando o aprendizado dentro das comunidades; (xi) se esteja a- tento para o surgimento de novas práticas; (xii) se veja as organizações como uma constelação de práticas interconectadas; (xiii) se coloque a comunidade como responsável pelo seu próprio treinamento, reconhecendo que eles têm necessidades de acesso a outras práticas para que possam prosseguir; (xiv) se certifique que o aparato organizacional está a serviço das práticas,

e não o contrário”.

Allee (2000) afirma que as CoP são benéficas para os negócios, para a comunidade propriamente dita e para os empregados, pois, são poderosos veículos tanto para compartilhar conhecimento como para alcançar resultados nos negócios. Para isto, ela levanta 17 vantagens para as organizações, para a comunidade e para as pessoas, como mostrado no Quadro 07. Allee também cita John Seely, vice-presidente e cientista-chefe do PARC da Xerox, quando este afirma que CoP são “colegas executando trabalho real. O que os mantêm juntos é um senso comum de propósito e a necessidade real de saber o que cada um sabe”.

Quadro 07: Vantagens para as organizações, para a comunidade e para as pessoas

(ALLEE, 2000)

Tipo Vantagens

Organizações

- Auxiliam no direcionamento de estratégias

- Auxiliam na solução rápida de problemas, tanto localmente como por toda a organização - Auxiliam no desenvolvimento, recrutamento e retenção de talentos

- Desenvolvem capacidade, competência e conhecimento técnicos - Difundem rapidamente práticas para a excelência operacional - Semeiam idéias e aumentam as oportunidades de inovação

Comunidade

- Auxiliam na construção de linguagem, métodos e modelos comuns em torno de competências específicas

- Agregam conhecimentos e experiências em uma população maior

- Auxiliam na retenção do conhecimento quando o empregado deixa a empresa - Aumentam o acesso à experiência dentro da empresa

- Fornecem meios de compartilhamento de poder e influência com a estrutura formal da organização

Pessoas

- Auxiliam as pessoas na execução das suas funções

- Fornecem um sentimento estável de comunidade com outros colegas e com a empresa - Fomentam um senso de identidade focada no aprendizado

- Auxiliam no desenvolvimento de habilidades e competências individuais - Auxiliam na atualização do trabalhador do conhecimento

- Fornecem desafios e oportunidades para contribuição

Ainda na mesma linha de raciocínio, embora com uma abordagem mais voltada para a educação corporativa, outros autores também contribuem para a definição das CoP, citando definições como o Capital Social (RAMOS, 2006), afirma que este conceito surgiu como um dos

componentes essenciais dos processos de desenvolvimento. O Capital Social é o que dá a sus- tentabilidade de uma comunidade, estimulando a colaboração entre os membros de um grupo, visando o benefício e o desenvolvimento mútuo. Este conceito, embora fortemente direciona- do a empresas, também está presente em comunidades formadas para atender demandas não corporativas e ajudam a revelar o nível de desenvolvimento do grupo.

Prusak & Cohen (2001) definem Capital Social, do ponto de vista organizacional, co- mo sendo as relações que fazem uma organização trabalhar de maneira eficiente. Com o intui-

to de reforçar os conceitos de Capital Social, estes autores sugerem que algumas medidas de- vam ser tomadas:

1. Estabelecimento de conexões mais estáveis e duradouras: fazer com que as pessoas permaneçam ligadas ao grupo; garantir a promoção das pessoas, em virtude do seu en- volvimento dentro do grupo e das discussões; permitir e incentivar a aproximação entre as pessoas, estimulando, assim, o crescimento do capital social do grupo;

2. Permissão da confiança: incentivar a transparência entre os relacionamentos e o conví- vio estabelecidos entre os membros do grupo pelas regras de convivência; demonstrar confiança, levando em consideração a opinião dos outros e distribuindo as responsabili- dades; valorizar comportamentos e resultados que sejam aqueles esperados dos mem- bros do grupo;

3. Promoção da cooperação: definir claramente os objetivos do grupo, dando sentido ás discussões; definir regras, criando o hábito da cooperação entre as pessoas; enaltecer a cooperação, com o intuito de estimular as pessoas, através de mensagens de agradeci- mento, por exemplo.

Para o sucesso de uma CoP, vários autores têm apresentado uma série de sugestões, como as de Wenger (2001), mostradas no Quadro 08.

Quadro 08: Treze elementos fundamentais para se cultivar as CoP (WENGER, 2001, p. 45)

Elemento Descrição

Presença e visibilidade

- A comunidade necessita ter uma presença nas vidas de seus membros e fazer-se visível a eles

Ritmo - Comunidades vivem no tempo e tem ritmos de eventos e rituais que reafirmam seus compromissos e valores

Variedade nas interações

- Membros de uma comunidade de prática necessitam interagir de forma a construir suas práticas compartilhadas

Eficiência no envolvimento

- Comunidades de prática competem com outras prioridades nas vidas de seus membros - A participação deve ser fácil

Valores de curto prazo

- Comunidades de prática prosperam pelo valor que agregam aos seus membros e em seus contextos organizacionais

- Cada interação necessita criar seu próprio valor Valores de longo

prazo

- Porque os membros se identificam com o domínio de sua comunidade, eles têm um compromisso de longo prazo com o seu desenvolvimento

Conexão com o mundo

- Uma comunidade de prática pode criar valor fornecendo uma conexão com um campo ou comunidade que seus membros tenham afinidade

Identidade pessoal - Pertencer a uma comunidade de prática identifica a pessoa como um praticante competente

Identidade comum - Comunidades de sucesso têm uma identidade forte que seus membros herdam em suas vidas

Pertencimento e relacionamentos

- O valor de pertencimento não é meramente instrumental, mas também pessoal: interação com os colegas, desenvolvimento de amizades e construção de confiança

Limites complexos

- Comunidades de prática têm múltiplos níveis e tipos de participação

- É importante para as pessoas na periferia que possam participar de alguma forma, bem como as pessoas de dentro da comunidade

- Pessoas formam sub-comunidades em volta de áreas de interesse Evolução:

maturação e integração

- Comunidades de prática evoluem ao atravessarem estágios de desenvolvimento e encontram novas conexões com o mundo

Construção ativa da comunidade

- Comunidades de prática de sucesso normalmente têm uma pessoa ou grupo chave que detêm alguma responsabilidade ativa no conduzir da comunidade

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