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Conteúdo Programático aula nº 06

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Conteúdo Programático aula nº 06 5. Aceitação da herança

A. CONCEITO DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA

A aceitação, ou adição da herança, vem a ser o ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro, legítimo ou testamentário, manifesta livremente sua vontade de receber a herança que lhe é, ipso iure, transmitida, visto que ninguém pode ser herdeiro contra sua vontade, em razão da parêmia invito non datur beneftcium, Tem efeito meramente confirmativo da aquisição ipso jure da posse e da proprie-dade do acervo hereditário. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão (CC, art. 1.804). A aceitação produz, portanto, efeito ex tunc.

Como pondera Luigi Ferri, não se pode dizer que a aquisição da herança se dá com a aceitação, porque os direitos hereditários não nascem com ela, mas re-cuam ipso iure à data do óbito do auctor successionis, independentemente de qualquer ato, de modo que a aceitação produz efeito retro operante. A aceitação tão somente confirma o direito que o falecimento do de cujus atribuiu ao herdeiro, consolidando os direitos deste, chamado por ocasião da abertura da sucessão.1

Todavia, não é um ato desnecessário, visto que ninguém deve ser herdeiro contra a própria vontade, dado que deverá assumir algumas obrigações, como a de pagar legado ou de cumprir um encargo, embora não mais substitua o de cujus em todas as suas relações jurídicas, respondendo pelas suas dívidas acima das forças da herança. Assim sucedia no direito anterior, em que para escapar desse risco era preciso que o herdeiro declarasse, formalmente, que aceitava a herança sob benefício de inventário (beneficium inventarii), ou seja, que a sua aceitação só teria eficácia se o ativo superasse o passivo, ficando, então, sua responsabilidade pelos encargos da herança circunscrita ao ativo do acervo hereditário2.

1

Colin e Capitant, Droit civil, cit., v. 3, n. 635; De Page, op. cit., v. 9, n. 533; W. Barros Monteiro, op. cit., p. 46. Aplica-se a parêmia invito non datur beneticium (ao constrangido ou a quem não quer não se dá o benefício). Consulte: Zeno Veloso, Novo Código, cit., p. 1622. Já pelos Códigos Civis italiano (art. 459) e português (art. 2.050), o domínio e a posse da herança adquire-se pela aceitação. A aquisição da herança, nesses países, depende do ato voluntário da aceitação.

2

Deveras, no direito romano e no direito brasileiro, antes do Código Civil de 1916, a responsabilidade do herdeiro era ultra vires hereditatis (além das forças da herança), logo, devia ele pagar, com seu próprio patrimônio, os débitos do de cujus. Com isso, corria o risco de sofrer grande prejuízo econômico. Para escapar desse encargo, o herdeiro aceitava a herança a benefí-cio de inventário, resguardando-se, pois, com isso, as dívidas do espólio seriam pagas pelas forças do acervo hereditário. Com o Código Civil de 1916, confirmado pelo novo Código, operou-se a

bonorum separatio, ou seja, o patrimônio do herdeiro não se confunde com o do de cujus. A

heran-ça responde pelos débitos do espólio e o herdeiro tem responsabilidade intra vires hereditatis (den-tro das forças da herança). Se o passivo for maior do que o ativo e se o herdeiro tivesse o dever de pagá-lo, ter-se-ia herança danosa, que poderia levá-lo à ruína. Silvio Rodrigues, op. cit., p. 37-8; Vitali, op. cit., v. 6, n. 353. Terceiro na qualidade de credor do espólio pode requerer abertura de inventário e alvará para cumprimento de obrigações, como passar escritura de compromisso de compra e venda quitado no curso do inventário para cessão de direito de uso de linha telefônica, para transferência de certificado de propriedade de veículo (Normas de Serviço da CGJ, Capo IV, item 27 com a redação do Provimento 20/89). Tal alvará só autoriza a prática do ato; não obriga

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te, o Código Civil, no art. 1.792, prescreve que o herdeiro não responde pelos en-cargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe a prova do excesso, salvo se houver inventário, que o escuse, demonstrando o valor dos bens herdados e o montante das dívidas. Logo, não será responsável pelos débitos do de cujus que ultrapassem as possibilidades de seu quinhão sucessório (RT; 185:376; CPC, art. 597; CC, arts. 836 e 276), nem será acionado por dívidas do espólio, se os recur-sos deste forem insuficientes para solvê-las (RF, 91:150), de maneira que não haverá herança, desde que o passivo a absorva integralmente

(RT; 131:142). É preciso não olvidar que o quinhão hereditário daqueles que

her-dam por direito de representação não responde pelas dívidas do representado, mas apenas pelas do autor da herança (RT; 200:375), e que os bens doados a título de adiantamento da legítima não respondem pelos encargos da sucessão

(RT; 180:754). O mesmo se aplica ao pecúlio formado por contribuições de

funci-onários públicos, em virtude de lei especial, ante o fato de o herdeiro os adquirir em razão de contrato e não de direito sucessório. Igualmente, as pensões milita-res não milita-respondem pelas dívidas do de cujus, mas pelas contraídas pelo herdeiro no gozo da pensão (Dec.-Lei n. 9.698/46, art. 113, parágrafo único, e Dec. n. 32.389/53, art. 4º)3.

É direito potestativo do herdeiro a decisão pela aceitação ou renúncia da herança.

Com a aceitação da herança, no direito brasileiro, o herdeiro não assume os encargos do de cujus além das forças do acervo hereditário; para tanto não precisará fazer qualquer ressalva de que aceita a sucessão a benefício de inventá-rio, como sucedia antes do Código Civil. Entretanto, nada obsta que o herdeiro renuncie ao benefício do inventário, declarando expressamente que assumirá to-dos os débitos do falecido, ainda que superiores ao ativo da herança.

B. ESPÉCIES DE ACEITAÇÃO

Quanto à sua forma, a aceitação pode ser:

1º) Expressa, se resultar de declaração escrita, pública ou particular (CC,

art. 1.805, 1ª parte), do herdeiro manifestando seu desejo de receber a herança. A mera manifestação verbal do herdeiro no sentido de adir a herança, ainda que pe-rante testemunhas, não vale como aceitação. Tal forma de aceitação não é mais tão frequente como outrora, dado que, hodiernamente, pelo disposto nos arts. 1.792 e 1.805 do Código Civil é desnecessário frisar que se aceita a herança a benefício de inventário. É ociosa a exigência da aceitação expressa por ser ela ato meramente confirmatório da nova relação jurídica estabelecida com a abertura da sucessão, pois somente a renúncia elide a presunção de aceitação (CC, art. 1.804, parágrafo único).

nem supre consentimento do herdeiro, nem substitui o contencioso (RI; 578:95,

563:11,639:60,600:100; RJTJSP, 118:32). Se houver recusa o interessado deverá valer-se de ação

equivalente. 3

É a lição de W. Barros Monteíro, p. 53-6. Benefício do inventário é o privilégio legal concedido ao herdeiro, desobrigando-o de responder pelos encargos além das forças da herança.

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2º) Tácita ou indireta, se inferida da prática de atos, positivos ou negativos, somente compatíveis à condição hereditária do herdeiro (CC, art. 1.805, 2ª parte), que demonstrem a intenção de aceitar a herança, tais como: sua representação por advogado no inventário; cessão onerosa de direitos hereditários; administra-ção, sem caráter provisório, dos bens que integram a herança; cobrança de dívi-das do espólio; intervenção no inventário concordando com avaliações ou com outros atos do processo; transporte de bens da herança para o seu domicílio. Entretanto, há atos que, embora sejam praticados pelo herdeiro, não revelam o propósito de aceitar a herança, tais como: simples requerimento de inventário ou mera outorga de procuração para o processo, por serem obrigações legais inerentes ao herdeiro (RT, 750:264, 375:174, 387:142); atos oficiosos, como o funeral do finado, ou atos meramente conservatórios a fim de impedir a ruína dos bens da herança, ou os de administração e guarda provisória para atender a uma necessidade urgente (CC, art. 1.805, § 1º), por serem meros obséquios, pra-ticados por sentimento humanitário, sem qualquer interesse; cessão gratuita, pura e simples, da herança aos demais coerdeiros (CC, art. 1.805, § 2º), porque impor-ta em repúdio da herança; alienação de coisas suscetíveis de perecimento ou de-terioração, se autorizada pelo magistrado; pagamento de débito da herança, por-que é permitido pagar dívida alheia etc. Não passam de atos praticados para re-solver certas situações de urgência, logo quem os efetivar não age como se fosse herdeiro (pro herede gestio).

3º) Presumida, se algum interessado em saber se o herdeiro aceita ou não a herança (p. ex., credor do herdeiro, legatário, pessoa que o substituiria se hou-vesse renúncia - CC, art. 1.947), requerer ao juiz, após 20 dias da abertura da su-cessão, que dê ao herdeiro prazo de 30 dias para pronunciar-se. Decorrido esse lapso de tempo, o silêncio do herdeiro será interpretado como aceitação (CC, art. 1.807). Nesta espécie de aceitação, há ausência de qualquer manifestação ex-pressa ou ato comissivo, pois a simples omissão de recusa é havida como aceita-ção da herança.

Quanto à pessoa que a manifesta, tem-se4:

1º) Aceitação direta, se oriunda do próprio herdeiro.

2º) Aceitação indireta, se alguém a faz pelo herdeiro, hipótese em que sur-ge a:

a) Aceitação pelos sucessores, se o herdeiro falecer antes de declarar se aceita

ou não a sucessão; o seu direito de aceitar passa aos seus herdeiros, valendo a declaração destes como se daquele partisse. Se "Ali vier a falecer deixando dois filhos, "B" e "C", e, logo em seguida, "B" morre, sem ter tido oportunidade de tar a herança deixada por "Ali; "D", neto de "Ali e filho de "B", poderá, então, acei-tar a herança do avô, por direito de transmissão e não por direito de

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Caio M. S. Pereira, op. cit., p. 48-9; Lacerda de Almeida, Direito das sucessões, cít., § 27; W. Barros Monteiro, op. cit., p. 51 e 48; Vitali, op. cit., v. 5, n. 93, p. 513; R. Limongi França, op. cit., p. 25; Amoldo Wald, Curso de direito civil brasileiro, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1997, v. 5, p. 39.

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ção, visto que não houve premoriência de "B", por ter falecido depois de “A”, sem, contudo, aceitar a herança recebida. Trata-se de sucessão hereditária do direito de aceitar, ou como prefere Clóvis Bevíláqua, de sucessão jure transmissionis. Isto porque a morte do herdeiro, antes da aceitação, impede a transmissão aos seus sucessores de herança ainda não aceita, daí transferir-se-lhes o poder de aceitá-la ou de repudiá-la. Entretanto, essa espécie de aceitação será inadmissível na pendência de condição suspensiva, estipulada pelo testador, ainda não verifi-cada (CC, art. 1.809), pois, se o herdeiro falecer antes do seu implemento, extin-guir-se-á seu direito sucessório, já que a condição suspensiva obsta a aquisição do direito (CC, art. 125), perdendo o direito eventual toda sua força originária, de-vido à inocorrência da condição. P. ex., o testador institui" Ali seu legatário, sob a condição de colar grau em ensino superior; se este herdeiro singular vier a morrer antes de terminar seus estudos, seus herdeiros não o sucederão no direito de aceitar o legado.

Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, se con-cordarem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira (CC, art. 1.809, parágrafo único). Os herdeiros do herdeiro falecido somente pode-rão aceitar ou repudiar herança em nome deste, após terem aceito a herança por eles recebida. Se “A” falecer deixando como herdeiro "B" (seu filho), que vem a morrer após a abertura da sucessão, mas antes da aceitação, transmitindo seus bens a "C" (filho de "B" e neto de “A”), "C" não poderá renunciar ou aceitar a he-rança de “A” (sucessão hereditária do direito de aceitar) sem antes ter aceito a herança de "B".

b) Aceitação pelo tutor ou curador de heranças, legados ou doações, com

ou sem encargos, em lugar do incapaz, desde que devidamente autorizado pelo juiz (CC, arts. 1.748, II, e 1.781).

c) Aceitação por mandatário ou gestor de negócios. Realmente, na sistemá-tica de nosso direito cabe aceitação da herança pelo mandatário, embora seja controvertida a admissibilidade de declaração feita pelo gestor de negócios, su-bordinada tão somente à confirmação do herdeiro.

d) Aceitação pelos credores (CC, art. 1.813 e § 1º), se o herdeiro

prejudicá-las com sua renúncia. A habilitação dos credores far-se-á no prazo decadencial de 30 dias seguintes ao conhecimento do fato abdicativo. Todavia, é imprescindível autorização judicial para que credores possam aceitar herança em nome do re-nunciante, só podendo beneficiar-se até o montante dos créditos; pagos tais débi-tos, o remanescente será devolvido àquele a quem a renúncia beneficia (CC, arts. 1.810 e 1.811; CPC, art. 1.017, § 3º, c/c art. 1.022), e não ao renunciante, que não é mais herdeiro (CC, art. 1.813, § 2º).

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Daí o gráfico:

Sendo a herança uma universalidade juris (CC, art. 91), não se pode admitir sua aceitação parcial, com exclusão de determinados bens. A herança deve ser aceita na sua totalidade, pois, sendo o herdeiro continuador da pessoa do de cujus no que concerne às relações jurídicas patrimoniais, seria inadmissível que ele to-masse parcialmente o lugar do auctor successionis, aceitando apenas a metade, uma terça ou quarta parte do acervo hereditário, ou somente o ativo, repudiando o passivo.

Entretanto, analisemos o caso do herdeiro que sucede simultaneamente a dois títulos. Se o sucessor do de cujus for herdeiro e ao mesmo tempo beneficiário de legado, e como não se confundem a herança e o legado, devido a diversidade de causas, poderá: aceitar a herança e o legado; renunciar a ambos; aceitar inte-gralmente a herança e renunciar ao legado, ou, então, aceitar o legado por inteiro e repudiar a herança (CC, art. 1.808, § 1º). O herdeiro chamado, na mesma su-cessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia (CC, art. 1.808, § 2º). Nada obsta, havendo dupla sucessão, a legítima e a testamentária, que o herdeiro renuncie inteiramente a sucessão legítima, conservando a outra ao aceitar a herança advinda de testamento; só se lhe proíbe a aceitação parcial da herança.

Tampouco poderá ser aceita sob condição ou termo (CC, art. 1.808, caput), porque a suspensão ou resolução do domínio do herdeiro, em razão de condição ou termo, é um fator de insegurança jurídica, repugnando à natureza do ato, que é puro e simples. O herdeiro não pode aceitar herança sob a condição de não

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as-sumir os impostos que onerarem os imóveis do espólio ou de ser aquinhoado com bens imóveis, dado que a qualidade de herdeiro, uma vez adquirida, não pode ser perdida.

D. IRRETRATABILIDADE DA ACEITAÇÃO

Diante de sua irrevogabilidade (CC, arts. 1.804 e 1.812), o herdeiro não po-de arrepenpo-der-se po-dela, pois a aceitação não é passível po-de retratação, nem popo-derá se vier a renunciar, acarretar prejuízo aos credores (RT, 115:645). Se houver le-são aos direitos dos credores, estes poderão salvaguardá-los, reclamando a pro-vidência referida no art. 1.813 do Código Civil.

Suprimiu-se a previsão de retratação da aceitação, que, outrora, podia dar-se a qualquer tempo, mediante simples declaração unilateral do interessado, por termo nos autos, pagos os impostos devidos, porquanto, asseverava Washington de Barros Monteiro, ocorria transmissão de domínio, sujeita a incidência fiscal (RT, 251:357). Como a retratação da aceitação equivalia à renúncia, ao caso aplica-vam-se as normas alusivas a esta, inclusive a da aceitação da herança pelos pre-judicados que a requeriam.

E. ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO

A aceitação pode ser anulada ou revogada, se após sua ocorrência for apu-rado que o aceitante não é o herdeiro ou que o testamento absorvia a totalidade da herança, havendo herdeiro necessário. Com a declaração da ineficácia da acei-tação, a herança passa ao herdeiro a quem regularmente se defere, como se aquela aceitação nunca tivesse havido. Mas, se já houve homologação da partilha, o interessado só poderá reivindicar o que lhe compete por ação de petição de he-rança.

REFERÊNCIAS

Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro; 6. Direito das Sucessões, 24ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2010, p. 66-73.

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