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GESTOR COMUNITÁRIO DA EDUCAÇÃO: UMA FIGURA PARA FORTALECER O CARÁTER DEMOCRÁTICO DO CONSELHO ESCOLAR

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Academic year: 2021

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GESTOR COMUNITÁRIO DA EDUCAÇÃO: UMA FIGURA PARA

FORTALECER O CARÁTER DEMOCRÁTICO DO CONSELHO

ESCOLAR

Renata Pierini Ramos Orientador: Prof. Dr. Celso Luiz Aparecido Conti Mestrado em Educação Linha de Pesquisa: Educação Escolar: teorias e práticas

Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo contribuir com estudos realizados em torno da

temática referente à relação escola e comunidade e o desvelamento dos entraves da gestão participativa no ambiente escolar. O envolvimento da comunidade no cotidiano escolar não é algo novo, entretanto a busca pela qualidade da educação revela a necessidade de aprimorar as relações internas e externas. Conselho Escolar é o espaço legalmente instituído para favorecer esta interação, o que aparentemente ocorre é que este processo político formal inibe a interação a que se propõe. Esta pesquisa se justifica a partir da minha prática em uma divisão intitulada Programa Escola Nossa, vinculado a Secretaria Municipal de Educação de São Carlos que tem como objetivo aproximar a comunidade da escola numa perspectiva da “escola sem muros”. Este Programa conta com a atuação do Gestor Comunitário da Educação que atua diretamente no fortalecimento dos Conselhos Escolares e o favorecimento da gestão participativa da escola.

Palavras chaves: Gestão Democrática, Conselhos Escolares, Gestor Comunitário da Educação.

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GESTOR COMUNITÁRIO DA EDUCAÇÃO: UMA FIGURA PARA FORTALECER O CARÁTER DEMOCRÁTICO DO CONSELHO ESCOLAR

Um dos canais estratégicos para fortalecer a gestão escolar participativa e a construção da autonomia organizacional é o Conselho Escolar que surge a partir do movimento de organização participativa da sociedade brasileira e de democratização dos órgãos públicos que passaram a se abrir às representações populares previstas em lei. Segundo Ciseski e Romão (1997) o conselho escolar “é um colegiado normalmente formado por todos os segmentos da comunidade escolar: pais, alunos, professores, direção e demais funcionários.”

O termo conselho, derivado do latim consilium, apresenta diferentes conotações e a que mais deveria se assemelhar com o papel dos conselhos é a de: opinião refletida (RISCAL, 2010). Gestão, a partir das suas origens etimológicas é definida como gestione (do latim) significa ato de gerir, gerenciar, administrar (FERREIRA, 1999, p.985). É um conceito que vai além do ato de administrar. Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização a atingir seus objetivos, cumprir sua função, desempenhar seu papel. Sendo a escola um local onde podem ocorrer inúmeras contradições, a participação constitui-se numa das melhores maneiras de assegurar a gestão democrática nas escolas e este espaço deve ser promotor de diálogo que garanta o respeito às diferenças e a liberdade de expressão. Entretanto, o sistema educacional tem-se caracterizado pela centralização e a maioria da população tem sido tolhida nos processos decisórios.

Na perspectiva de se reverter tal situação, lutas são travadas exigindo que haja comunicação entre a sociedade e o governo e a partir deste cenário surge na educação à idéia de Conselhos Escolares que vem com a incumbência de alterar o direcionamento político e pedagógico das escolas. Em meio a tantas determinações legais para garantir que a participação nas instituições escolares seja legalmente instituída, procede à discussão da gestão democrática na escola favorecendo uma maior participação dos agentes educacionais na construção da efetiva autonomia da escola.

Para que se alcance a participação tão desejada nas escolas, é preciso que se faça um resgate na trajetória histórica da busca democrática e da formação do gestor considerando o momento social, político, cultural e econômico vivido pela educação. Desta forma, a questão sobre a gestão escolar nos faz primeiramente analisar o que vem a ser administração no sentido amplo e escolar, pois, a visão que o gestor tem sobre sua função é fundamental para que seu desempenho tenha êxito. A administração geral e a escolar possuem seus respaldos

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teóricos baseados nos mesmos conhecimentos sobre administração, no entanto sua aplicabilidade está atrelada ao ambiente, clientela e objetivo que pretende alcançar.

Todavia, existem escolas que buscam apenas a democratização, sem pensar na autonomia e descentralização; outras apenas na autonomia sem levar em conta a descentralização e democratização, como se esses fatos fossem isolados possíveis para grandes mudanças. Para construir esse novo modelo de gestão é preciso enfrentar desafios, pois, percebe-se que até hoje o processo para implantar a democratização no interior da escola ainda encontra muitos obstáculos, afinal, não é possível pensar em democracia sem que os sujeitos tornem-se conscientes para exercer esta prática.

Para Paro (2006), quando falamos de gestão democrática na escola parece já estar associada ao termo à participação de toda a comunidade no processo. Porém examinando as relações que a gestão apresenta com a comunidade, percebemos um caráter de exterioridade ao processo democrático da escola, bem como a questão da democratização das relações restringidas às pessoas do âmbito do Estado, sem incluir a comunidade, há o risco de constituir apenas um arranjo entre funcionários para atender a interesses que não serão os mesmos da população.

No município de São Carlos, em 1991, inicia-se o processo de participação em algumas escolas, garantida apenas no regimento escolar. Entretanto, há um avanço no sentido de criar uma legislação específica em 2003, e esta regulamenta e torna obrigatório em todas as unidades municipais de ensino a implantação de Conselhos Escolares. Mas como diria o escritor Carlos Drummond de Andrade “As leis não bastam. Os lírios não nascem das leis”..., isto não foi suficiente para descentralizar o poder pré-instituído na figura do gestor educacional, e que a política da democracia participativa fosse defendida como proposta. O termo “práxis” expressa bem esta relação entre teoria e prática. A atividade teórica não é práxis e para tanto necessidade há de ações transformadoras que se materializam.

Paro (2006), afirma que não existem receitas ou fórmulas infalíveis para promover a participação por completo da comunidade. Pois, se existissem muitos educadores e administradores escolares já teriam aplicadas para fortalecer a participação no âmbito da prática escolar. Como todo processo democrático, a participação da comunidade na escola faz parte de um processo, ou melhor, de um caminho que acontece no próprio caminhar. Porém, vemos muitas vezes que a prática da democracia escolar acontece somente no discurso e sugere que, para caminharmos para tal democratização, precisamos superar a situação atual e criar mecanismos voltados para uma efetiva democratização na escola. Entretanto muito há de

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se caminhar neste tortuoso e novo percurso, pois as relações de poder intrínsecas no processo de democracia participativa, muitas vezes impedem que a participação outrora tão reivindicada, amedronte os que estão no topo da pirâmide de poder escolar que hoje está centralizada na figura do gestor escolar e como diria Paulo Freire:

“O “medo da liberdade”... Este medo da liberdade também se instala nos opressores, mas, obviamente, de maneira diferente. Nos oprimidos, o medo da liberdade é o medo de assumi-la. Nos opressores, é o medo de perder a "liberdade” de oprimir. (Pedagogia do oprimido p.36)

Neste cenário e na ânsia de transformar as teorias presentes nas leis em prática transformadora, cria-se no município de São Carlos a figura do Gestor Comunitário da Educação, função esta prevista no Estatuto da Educação do município - Lei no. 13889-2006 e vinculada a um Programa que tem como objetivo principal aproximar a comunidade da escola. Partindo deste centro de interesse, o objetivo desta pesquisa é o de analisar se a presença desta figura interagindo cotidianamente com a comunidade tem fortalecido esta relação com a escola fomentando a participação dos envolvidos no processo democrático por meio dos Conselhos Escolares e se a informalidade da relação dos Gestores Comunitários da Educação estimula a mudança do comportamento dos indivíduos que atuam como diversos atores presentes no cotidiano escolar, sejam eles internos ou externos.

Partindo da idéia de que a gestão democrática apóia-se em três princípios básicos: a descentralização, a participação e a autonomia, com a implantação do Programa em questão verificou que estes princípios foram fomentados num contexto maior que é a escola e que a prática da gestão democrática, com a participação dos segmentos que contribuem para um progresso no desenvolvimento educacional está sendo fortalecido num âmbito maximizado. Entretanto, apesar do Conselho Escolar ser um processo político, garantido como uma ação politizada, a participação neste órgão colegiado, não se legitima.

Neste sentido, o Programa Escola Nossa articula seus projetos através da atuação dos Gestores Comunitários da Educação e são eles os canais que interligam o sistema escolar com a comunidade a qual está ligada. Considerando que o saber é constante e concomitante, o ambiente escolar se faz necessário em todas as etapas da vida, mesmo sem uma obrigatoriedade. É com tal propósito que esta proposta vem para oferecer a comunidade condições de freqüentar e participar da gestão da escola. Cabe aos Gestores Comunitários da Educação criar mecanismos para que esta participação seja realizada de maneira consciente e

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prazerosa. Sendo assim o trabalho deste agente visa desenvolver um ambiente coletivo e conseqüentemente democrático em relação à vivência na escola. Tal situação poderá ser suprida através da co-relação entre comunidade e gestores, que tem como “tarefa primaz a interação com o meio social, a fim de possibilitar um ambiente escolar, rico em análises e reflexões, durante o processo de aquisições de conhecimentos e prazeres bem como da cidade como um todo, a fim de que seus habitantes usufruam das mesmas oportunidades de formação, desenvolvimento pessoal e de entretenimento que a cidade oferece.

É extremamente necessária a existência de uma reflexão e compreensão da legalidade da educação democrática e participativa para o desenvolvimento social em prol da diminuição da violência entre os indivíduos possibilitando uma melhora na qualidade de vida. Assim diante de tais fatos surge uma inquietação na busca de compreender a importância da efetivação da função de Gestor Comunitário da Educação no município de São Carlos, quais foram os avanços e limitações a partir do auxilio desses gestores no processo de gestão democrático da educação em tal município.

O Gestor Comunitário da Educação pode dedicar-se a construir e cuidar de espaços de diálogo com e entre essas pessoas. Alguns espaços são coletivos. Neles acontece o estudo coletivo, o planejamento coletivo e a reflexão coletiva. Estes são naturalmente alimentados por momentos e trabalhos individuais. Outros diálogos funcionam melhor em espaços reservados. É o caso da gestão de conflitos, e da preparação e articulação de pautas e objetos para os momentos coletivos, entre outros. Essa lógica do diálogo coletivo é algo semelhante ao que acontece num ambiente de escola, tão conhecido da maior parte dos dirigentes. A diferença está nos focos e nos atores, que anteriormente eram concentrados no pessoal de apoio (pedagógico e administrativo) da Secretaria, gestores das instituições escolares, Conselho Municipal de Educação, representantes de Conselhos Escolares, e outras lideranças interessadas na educação no município. Muitas vezes o coletivo ainda nem existe. Existem as pessoas, os cargos, os lugares e momentos, mas não existem articulações e relacionamentos pessoais com qualidade suficiente para que as pessoas sintam-se como parte de um mesmo movimento (Vallin, 2004)

Para isso é necessário que se tenha paciência para o diálogo com o outro. Isso envolve tempo e esforço. Muitas vezes imaginamos que não dispomos de tempo para isso. O tempo do trato democrático é antagônico com o tempo do trato capitalista/produtivo. Este procura racionalizar tudo e não tem tempo a perder. A democracia requer tolerância, solidariedade e gratuidade. Para que possamos exercitar nossa vocação democrática, é preciso deixar de lado a

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pressa, a cobrança exagerada, as programações de conteúdo, e propostas pouco flexíveis. É preciso cuidar para ter uma agenda não congestionada. Todos tendem a perder a capacidade de ser gentil diante da correria, dos horários apertados e cheios de atribulações. O Gestor Comunitário da Educação, desempenhando este papel de mediação, pois ao dispor de toda sua jornada de trabalho, hoje de trinta e cinco horas, está disponível para que por meio de várias iniciativas voltadas para a democratização e autonomia da administração da escola pública em especial ao fortalecimento dos Conselhos Escolares, alcance a interação pretendida. Os Gestores Comunitários da Educação devem promover à transformação da escola a fim de que esta tome consciência de sua autonomia e sua capacidade de tomar decisões quando unem no espaço escolar os diversos segmentos sociais (gestores, educadores, familiares, estudantes e comunidade) de modo que possa refletir sobre a igualdade em sua sociedade e acabar com qualquer tipo de exclusão social.

Schneckenberg (1999, p. 13) afirma que qualquer proposta inovadora referente a políticas educacionais somente terá êxito se o gestor e os membros internos da escola estiverem efetivamente envolvidos no processo. Entretanto, ainda não está claro que a atuação deste agente tem feito diferença na melhora da qualidade e do reconhecimento dos Conselhos Escolares como espaço democrático, embora já obtivessem avanços com relação ao número de interessados em participar do processo de eleição.

O Conselho Escolar, dentro da perspectiva de construir um Brasil como um país de todos, exerce o papel de mediador dos conflitos, construindo entendimentos mínimos, possibilitando que os diversos atores sociais por meio da abertura de espaços concretizem o debate de opiniões e idéias, fundamentando assim a percepção dos interesses existentes na escola. Desta forma, o Gestor Comunitário da Educação, atuando diretamente no fortalecimento da gestão democrática por meio dos Conselhos Escolares, trabalhando com o respeito ao pluralismo, poderá contribuir para a construção de um ambiente efetivamente democrático destruindo, portanto as ações fragmentadas e desconectadas ocorrentes frequentemente na instituição escolar.

Para finalizar usamos as palavras de Demo (1999, p. 13) que diz:

[...] participação é conquista para significar que é um processo, no sentido legítimo do termo: infindável, em constante vir-a-ser, sempre se fazendo conquista processual. Não existe participação suficiente, nem acabada. Participação que se imagina completa, nisto mesmo começa a regridir.

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REFERÊNCIAS

CISESKI, A. e ROMÃO, J. E. Conselho de Escola. Coletivos instituintes da

escola cidadã. In: GADOTTI, Moacir e ROMÃO (Orgs). Autonomia da escola:

princípios e propostas, São Paulo: Cortez, 1997, P.65-74.

DEMO. P. Participação é conquista: noções de política social participativa. São Paulo, Cortez,1999.

ANDRADE, C. D. A Rosa do povo. São Paulo: Ed. Record, 1945.

FERREIRA, N. S. C. Gestão Educacional e Organização do Trabalho

Pedagógico. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009

FERREIRA, H. Diretrizes curriculares para o curso de pedagogia no Brasil

exaradas pelo Conselho Nacional de Educação. 1999, p. 985.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. 17ºed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LEI Nº 13889 – Estatuto da Educação do Município de São Carlos, 2006

PARO,V.H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2006.

RISCAL, S. A. Considerações sobre o conselho escolar e seu papel mediador e conciliador. In: LUIZ, M. C. (Org) Conselho escolar algumas concepções e

propostas de ação. São Paulo. Editora Xamã, 2010.

SCHNECKENBERG, M. A implantação do Proem como política educacional no

cotidiano da gestão escolar. 1999. Dissertação (Mestrado em Educação) –

Pontifícia Universidade Católica, Curitiba, 1999.

VALLIN, C. Projeto CER: Comunidade escolar de estudo, trabalho e reflexão. 2004. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2004.

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BIBLIOGRAFIA BÁSICA

GADOTTI, M. Fórum Mundial de Educação. Pro-posições para um outro mundo

Referências

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