DEPA RTAM ENTO DE PA TO LO G IA E C LIN IC A S CIRÚ R G IC A E O BSTÉTR IC A
D IR E T O R : Prof. Dr. Ernerto Airtonio Mater o
H É R N I A I ' N G U I N O - E S C R O T A L DO C Í O * C o n t r i b u i ç ã o i t é c n i c a c i r j r g l c a co ns e rv a d o ra ( I n g u i n a l and s c ro ta l h e r n ia o f th e dog C o n s e r v a t i v e n t t h o d ) E . A . M a t e r a P r o f e s s o r C a t e d r á t i c o A . V . S t o p i g l i a J . S. M a r c o n d e s V e i g a P r o f e s s o r A s s i s t e n t e I n s t r i r t o r
A hér nia inguinal, embora seja paratopia de ocorrência
freqüente na cadela, face a disposição oiiatomica peculiar, response
vel pela sua étio-patogenia (MATEIRA e STOPIGLIA 1950), e, no
entanto, rara nos machos desta espécie, conforme se depreende da rje
visão bibliográfica (REWHRIDGE e HALPERT 1930} 0L3EN 1950}
UBERREITER 195^} LEIGHTON, CORDELL e EWALD I96I).
Não obstante a cirurgia atual inclinar-se, tanto quanto
possível, para os processos preservativos, verificamos que a maio_
ria dos autores ( O ’CONNOR 1950} CINOTTI 1952} L ACR0I2 1952}
McC UNN 195?} oHUTELEWORTff e SMYfflE i960), que trata da técni ca operatória da hérnia inguinal dos cães, embora refirft-ee aos pro cessos conservadores, opina, principalmente, pelos tratamentos radi^ cais, ou seja, a orquiectomia do lado correspondente à hérnia.
Assim, verificamos que O'CONNOR indica técnica idêntica àquela aplicada ao cavalo, esclarecendo, contudo, que n a totalidade
A p re s e n ta d o ao V I I I C o n g re s s o B r a s i l e i r o d• Ve f a r i n â r i a B e l o H o r iz o n t e
212 Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo - Vol. 7, fase. 1, 1963-64
dos casou, a evolução pós-operatória termina em sériaj conseqüências.
CINOTTI pondera que os processos conservadores oferecem garantia
muito relativa, devendo ser substituídos pela orquiectomia unilate_ ral nos casos de recidiva, fato este de ocorrência muito provável. McOTNN opina sobre a questão, esclarecendo que a tentativa de pre servação do testículo, além de duvidosa, só é justificável em anl mais de alto valor, apesar de considerar o método digno de ser te_n tado. 3HLTITLEW0RIH e SMYTHE consideram que os processos conser; vadores exigem técnicas operatórias mais apuradas.
Não obstante ERENCH (1906), citado por CINOTTI e por LACROIX, apresentar a primitiva referência sobre a técnica conser^ vadora, sugerindo a diminuição do lume do processo vagino-peritone^ al, por meio de pontos separados, deixando livre a circulação do fu
nículo espermático, encontramos somente nas obras de PFEIEPER e
WESTHUES (1949), de BEFIOE e WE3THJES (1956), e no trabalho
de LEIGHTON e colaboradores, descrição pormenorizada de técnicas preservativas.
As divergências de opinião existentes entre os diversos
autores, quanto ao tratamento cirúrgico das hérnias ínguino - escro
tais dos cães, incitaram-nos a estudar o problema e cujos resulta
dos, obtidos pela aplicação de técnica baseada em processo conserva dor, são apresentados no presente trabalho.
TÉ C N IC A CONSERVADORA
Após medidas pré-anestésicas adequadas, os animais foram submetidos a anestesia geral pelo Pentobarbital sódico em solução a
Rev. Fac. Med. Vet. S. Paulo - Vol. 7, fase. 1, 1963-64 213 Jí >, por via intravenosa, ou por inalação com mistura éter-oxigênio.
Preparado convenientemente o campo operatório, iniciamos o
l 9 TEMPO Exposição do saco h e m i á r i o :
Incisão cutânea, com tesoura, no sentido do
ma i or eixo da formação, de comprimento variável, confonne o volume d a mesma, expondo o tecido celular subcutâneo.
Encontramos, de imediato, a formação herniária, represejn
tada pela dilatação do processo peritoneal e seu conteúdo. Isolji
mos, por divulsão, os elementos anatômicos vizinhos, até visualiza ção do anel inguinal externo.
2 9 TEMPO Tratamento do saco h e m i á r i o :
Procedemos a seguir, por movimentos de compres_
~ » ~ ,
sao, a redução dos elementos ectopicos para a cavidade abdominal, cib servando-se cuidados no manuseio do cordão testicular.
3 9 TEMPO Fechamento do anel herniário e reconstituição
dos planosj
Reduzido o processo, alguns pontos de sutura foram aplica dos à vaginal, sem abri-la, com a finalidade de diminuir seu lúmen, permitindo tão só, mas livremente, a passagem do funículo espermáti co, o que impedirá o retorno das vísceras à posição anterior.
0 anel inguinal, sempre dilatado, foi parcialmente oclui_ do pela aplicação de alguns pontos de sutura, n a comissura cranial, evitando o comprometimento do cordão espenaático (Figura l). 0 pro cesso repartidor foi realizado em pontos separados simples, utilizan do-se o fio de algodão n 9 00, montado em agulha atraumática.
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Restauração d a pele, com fio de algodão n 9 10, em pon tos contínuos, Intradérmlcos em ziguezague.
CASUÍSTICA
CASO N 9 1 1947 - Cão Dinamarquês, com 4 meses de Idade.
Diagnóstico; hérnia ínguino-escrotal direita, congênita. (Figura 2).
CASO N 9 2 1958 - Cão Pequinês, com 4 meses de idade.
Diagnóstico: hérnia ínguino-escrotal direita,
congênita. (Figura
3) .
CASO N 9 3 Registro n 9 I6OO/6I - Cão Pequinês, com 3 me_
ses de idade. Diagnósticos hér n ia íngulno-
-escrotal esquerda, congênita. (Figura 4).
CASO N 9 4 Registro n 9 4442/61 - Cão Pequinês, com 4 me^
ses de idade. Diagnóstico: hérni a íngulno-
-escrotal esquerda, congênita. (Figura 5 )•
CASO N 9 5 Registro n 9 583/62 - Cao Pequinês, ccu 6 me
ses de idade. Diagnóstico: hér ni a ínguino-
-escrotal esquerda, congênita. (Figura 6).
CASO N 9 6
Registro
n 9 1694/62 -Cão Pequinês, ca»
7 swses
de idade. Diagnóstico:
hérnia
Rev. F a c . Med. V e t. S. Paulo • V o l. 7, fase. 1, 1963-64 215
C O M E N T Á R I O S
A hérnia inguinal, embora seja apaaágio das cadelas
(ROHERTS 1956) entre as fêmeas domésticas, pode ser observada em machos das várias espécies, porém, raraaiente nos cães.
Durante 15 anos de observações no Ambulatório do Depar tamento de Cirurgia desta Faculdade, apenas 6 cães apresentaram hérnias ínguino-escrotais, unilaterais, todas de origem congénita, manifestadas no primeiro mês de vida, sendo a m aior ia (5 ) de raça P e q u i n ê s .
Conforme verificamos n a parte relativa à técnica cirúrgi
ca do tratamento das hérnias inguinais dos cães, os autores ( 0'
C0NN0R, CINOTTI, McCtTNN, SHUTTLESfORTH e SMXTHE) de modo geral
não endossam os processos que procuram respeitar o testículo, con
f o m e sugeriu FRENCH, por considerarem duvidosos os resultados ob tidos pelas técnicas conservadoras, fazendo restrições n a indicação
mesmas *
0 emprego d a técnica por nós descrita no presente trata
lho, ofereceu resultados satisfatórios, não se observando complica
ções, que, em última análise, constituem as «ais fortes objeções
feitas por aqueles autores.
S U M M A R Y
McCUNN, J. - 1952 - Hobday's surgical diseases of the dog and cat.
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gery. v. 2, Springfield, Charles C. Thomas, p. 316
UBERREITER, 0. - 1954 - Inkarzerierte hernien beim pferde und beim
F I G U R A J ■ I l u s t r a ç O o r e f e r e n t e a a p l i c a ç õ o d o s p o n t o s d e s u t u r o no a n e l i n g u i n o l ( 1 ) e b a i n h a v a g i n a l ( 2 - 3 ) .
F I G U R A 2 ■ I l u s t r a ç Õ o r e f e r e n t e a o c a s o n ° 2.
F I G U R A 4 • Ilustração referente ao cas o n° 3. F I G U R A 3 - I l u s t r a ç ã o r e f e r e n t e a o c a s o n ° 2 .
F I G U R A 5 - l l u s t r a çSo r e f e r e n t e o o c o s o n ° 4 .