A Dilma Rouseff e Aécio Neves
Candidatos à Presidência da República.
Prezada Senhora e Prezado Senhor:
A boa notícia do fortalecimento econômico da atividade cinematográfica no Brasil não se reflete na democratização do financiamento do audiovisual. O investimento do recurso público segundo critérios econômicos, onde filmes de maior apelo comercial possam ocupar o mercado é necessário, porém a decorrente seleção de projetos exclusivamente por estes critérios e
conseqüente concentração de recursos em empresas produtoras e
distribuidoras somente deste segmento não sustenta de forma isonômica o edifício da atividade.
Esse modelo não elevou a taxa de ocupação dos filmes nacionais nas salas de exibição e seguramente é responsável pelo seu modesto desempenho no exterior.
Pequenas produtoras independentes carecem de maiores oportunidades de acesso ao mercado para seus filmes de orçamento médio, com critérios de seleção de natureza cultural e social, que representam a maior parte do conjunto da produção audiovisual brasileira.
A Ancine concentra atribuições conflitantes de regulamentação e fomento e os poderes de formulação e execução da política para o audiovisual. A
Agência a todos iguala e regula com excessiva, renitente e acachapante burocracia.
Avançamos com a aprovação da Lei 12.485 (TV paga) que impulsiona a produção, ampliou o mercado para veiculação de novas e antigas produções na TV por assinatura, fortalece os produtores e, sobretudo, solidifica a
presença do nosso audiovisual junto à audiência, mas ainda aguardamos há 26 anos a regulamentação plena do Capítulo V, em particular do Artigo 221 da Constituição Federal..
Sob o modelo de lançamentos sustentados por investimentos elevados em propaganda e com elevado número de cópias, reduzidos títulos ocupam a maioria das salas do país. Discussões em curso indicam que o sistema de digitalização das salas a ser adotado será oneroso e, portanto, excludente. A
distribuição de filmes de relevância cultural, inclusive filmes internacionais, ou aqueles que apontem para a experimentação e a inovação de linguagem , com menor apelo mercadológico, será inviável diante do custo da exibição digital.
A preservação das imagens do importante acervo audiovisual da
Cinemateca Brasileira se encontra em suspenso há mais de dois anos. O plano de criar o Centro de Referência do Audiovisual é bem vindo e dependerá da próxima administração.
A revisão da lei do Direito Autoral, elaborada pelo Ministério da Cultura, encontra-‐se na Casa Civil e não qualifica roteiristas e diretores como Autores, embora sejam considerados universalmente como co-‐autores da obra audiovisual pela Convenção de Berna, da qual o Brasil é signatário.
Argentina, Chile, Colômbia e México formaram sociedades de gestão coletiva de direitos autorais que recolhem e distribuem direitos advindos inclusive de obras exibidas na Europa. No Brasil não se pode fazê-‐lo enquanto não houver um dispositivo legal claro que determine o pagamento dos direitos autorais aos roteiristas e diretores e lhes permitam operar as sociedades de gestão coletiva de direitos autorais dos criadores de audiovisual. A
remuneração do Autor tem forte participação na economia da cultura.
Para o aperfeiçoamento das conquistas consolidadas, da criação da Lei do Audiovisual aos programas da Ancine, sobretudo do FSA, é urgente a redução da burocracia, o encurtamento dos prazos para liberação dos recursos e o estabelecimento de políticas de estímulo para
compartilhamentos de estrutura de produção e distribuição, com
mecanismos de incentivo para que produtores independentes distribuam seus próprios filmes, preservando o poder de decisão sobre seus
empreendimentos criativos.
Os presentes desafios do audiovisual no mundo contemporâneo não são apenas econômicos, envolvem também aspectos artísticos, culturais e sociais. Devemos encontrar soluções próprias para uma fertilizante
coexistência dos filmes focados no mercado com os filmes de criatividade inovadora.
É necessária a implantação de consistente programa de ações que busquem a formação e a conquista de novas platéias e trabalhar aquelas já existentes para cada vez mais se interessar pelo produto brasileiro, por um lado. Além
de apoiar o Produtor de filmes de qualidade, é necessária a criação de programas que incentivem o espectador a conhecer esses filmes.
Exemplo notável nesse sentido é a experiência da Argentina. O INCAA, Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales, criou seu próprio canal de televisão e adquiriu 100 salas de cinema, que programam a produção nacional em toda a sua diversidade e os ingressos são ofertados a preços populares, com grande afluxo de público. Na TV a capilaridade é estendida ao território nacional, levando ao conhecimento da população a quase totalidade da produção argentina
Demandamos políticas que equilibrem economia e cultura, para uma maior participação expressiva e diversificada da produção audiovisual brasileira, o reconhecimento e respeito aos autores e diretores do cinema e do
audiovisual, em seu próprio mercado e no mercado internacional.
ABRACI -‐ Associação Brasileira de Cineastas
ABD RJ -‐ Audiovisual Independente (230 associados) FACA -‐ PR -‐ Frente Aberta do Cinema e Audiovisual
E, assinam a carta, também, os seguintes cineastas e profissionais do Cinema Brasileiro:
1. Aída Marques, RJ
2. Amilcar Monteiro Claro, SP 3. Ana Maria Magalhães , RJ 4. Ana Rosa Tendler, RJ 5. André Klotzel, SP 6. Aurélio Michiles, SP 7. Beatriz Seigner, SP 8. Beth Formaggini -‐ RJ 9. Beto Brant, SP 10. Carolina Paiva, RJ 11. Cristiano Burlan, SP 12. Daniela Broitman, RJ 13. David Kullock, SP 14. David Meyer, RJ 15. Douglas Soares, RJ 16. Eduardo Cantarino, MG/RJ 17. Eliana Fonseca, SP 18. Eunice Gutman, RJ 19. Evaldo Mocarzel, SP
21. Felippe Schultz Mussel – RJ 22. Flavio Frederico, SP
23. Frederico Cardoso, RJ, realizador, cineclubista e professor 24. Frederico Neto, RJ, Produtor
25. Guilherme de Almeida Prado, SP
26. Guilherme Whitaker, RJ, produtor e realizador 27. Gustavo Rosa de Moura, SP
28. Gustavo Steinberg, SP 29. Helena Solberg, RJ 30. Icaro Martins, SP 31. Isa Albuquerque, RJ 32. Ivo Branco, SP 33. Joana Nin, RJ
34. Joel Zito Araujo, RJ 35. Jorge Alfredo, BA 36. Jorge Duran, RJ 37. José Joffily, RJ 38. Julia Murat, RJ 39. Lúcia Murat, RJ 40. Ludmila Curi -‐ RJ
41. Luiz Carlos Lacerda, RJ 42. Luiz Giban -‐ RJ
43. Manfredo Caldas, DF 44. Marcelo Machado, SP 45. Marcio Curi, DF
46. Marcos Manhães Marins, RJ 47. Mariana Kaufman – RJ 48. Marina Person, SP 49. Murilo Salles, RJ 50. Nelson Hoineff, RJ 51. Omar Fernandes Ali, SP 52. Oswaldo Caldeira, RJ 53. Paula Gaitán, RJ
54. Rafael Rolim, RJ, diretor de fotografia e realizador 55. Rafael Saar – RJ 56. Reinaldo Pinheiro, SP 57. Renato Ciasca, SP 58. Renato Tapajós, SP 59. Ricardo Dias, SP 60. Ricardo Elias, SP
61. Ricardo Pinto e Silva, RJ 62. Ricardo Pretti, RJ
64. Rodolfo Nanni, SP 65. Rogério Corrêa, SP 66. Rose La Creta, RJ 67. Rossana Foglia, SP 68. Sérgio Bianchi, SP 69. Sérgio Bloch, RJ 70. Sérgio Roizenblit, SP 71. Sérgio Sanz, RJ 72. Silvio Da-‐Rin, RJ 73. Silvio Tendler, RJ 74. Tânia Lamarca, SC 75. Tereza Trautman,RJ 76. Tetê Moraes, RJ 77. Tizuka Yamazaki, RJ 78. Ugo Giorgetti, SP 79. Vera de Figueiredo,RJ 80. Vinicius Reis, RJ 81. Walter Carvalho, RJ 82. Wolney Oliveira, CE