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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL

MUDANÇAS NO CONTEXTO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO:

VISÃO DE ATORES-CHAVE DESTE SISTEMA

MARIA PAULA CAMARGO DE FREITAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS

BRASÍLIA/DF

FEVEREIRO/2005

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL

MUDANÇAS NO CONTEXTO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO:

VISÃO DE ATORES-CHAVE DESTE SISTEMA

MARIA PAULA CAMARGO DE FREITAS

ORIENTADORA: PhD. SUZANA MARIA VALLE LIMA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS

PUBLICAÇÃO: 05/2005

BRASÍLIA/DF FEVEREIRO/2005

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA E CATALOGAÇÃO

FREITAS, M. P. C. Mudanças no contexto do agronegócio brasileiro: visão de atores-chave deste sistema. Brasília: Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 2005, 168 p. Dissertação de Mestrado.

Documento formal, autorizando reprodução desta dissertação de mestrado para empréstimo ou comercialização, exclusivamente para fins acadêmicos, foi passado pelo autor à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade de Brasília e Universidade Federal de Goiás e acha-se arquivado na Secretaria do Programa. O autor reserva para si os outros direitos autorais, de publicação. Nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor. Citações são estimuladas, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA

FREITAS, Maria Paula Camargo de

Mudanças no contexto do agronegócio brasileiro: visão de atores-chave deste sistema. / Maria Paula Camargo de Freitas; orientação de PhD Suzana Maria Valle Lima. – Brasília, 2005.

168 p. : il.

Dissertação de Mestrado (M) – Universidade de Brasília/Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2005.

1. Mudanças no Contexto do Agronegócio. 2. Agronegócio brasileiro. 3. Atores-chave do agronegócio. I. LIMA, S.M.V. II. Mudanças no contexto do agronegócio brasileiro: visão de atores-chave deste sistema.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL

MUDANÇAS NO CONTEXTO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: VISÃO DE ATORES-CHAVE DESTE SISTEMA

MARIA PAULA CAMARGO DE FREITAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIINSTITUCIONAL EM AGRONEGÓCIOS (CONSÓRCIO ENTRE A UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA E A UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS), COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM AGONEGÓCIOS NA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO DE GESTÃO, COORDENAÇÃO E COMPETITIVIDADE DOS SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS.

APROVADA POR:

___________________________________________ SUZANA MARIA VALLE LIMA, PhD. (Embrapa) (ORIENTADOR)

___________________________________________

ANTÔNIO MARIA GOMES DE CASTRO, PhD. (Embrapa) (EXAMINADOR INTERNO)

___________________________________________

TOMÁS DE AQUINO GUIMARÃES, PhD. (UnB, Departamento de Administração) (EXAMINADOR EXTERNO)

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Aos meus pais, Elias e Cristina, e à minha irmã Cláudia pelo estímulo, paciência, amizade e sensatez com que sempre me ajudaram.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profª PhD Suzana Maria Valle Lima pela confiança, paciência, apoio incondicional e amizade em todas as etapas deste estudo.

Ao Prof. PhD Antônio Maria Gomes de Castro pela confiança, presença constante e generosidade no compartilhamento de informações.

Ao Projeto Quo Vadis pelo suporte oferecido ao longo da pesquisa.

Á toda a equipe do Projeto Quo Vadis pela receptividade e generosidade na troca de experiências.

Ao curso de Pós-graduação em Agronegócios, pela oportunidade de realizar o curso, em especial agradeço aos professores Dr. Flávio Borges Botelho Filho e Dr. Josemar Xavier de Medeiros, pela confiança depositada.

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PROJETO QUO VADIS

A realização deste estudo não teria sido possível sem o apoio do Projeto Quo Vadis, um projeto da rede “Nuevo Paradigma” vinculada ao ISNAR (International Service for National Agricultural Research), atualmente uma divisão do IFPRI (International food policy research institute). O Projeto Quo Vadis é um estudo de futuro sobre como as mudanças no contexto macroeconômico e social e no sistema alimentar mundiais vão impactar as organizações de P&D, em cada país da América Latina que participa do projeto. No Brasil, a Embrapa é a instituição ancora. O projeto conta ainda com facilitadores nacionais no México, Costa Rica, Nicarágua, Panamá, Cuba, República Dominicana, Equador, Venezuela e Peru.

A partir do cenário de transformações que estão ocorrendo no sistema alimentar mundial e que estão afetando as organizações públicas e privadas de tecnologia agrícola, o Projeto Quo Vadis possui como objetivo examinar as mudanças ocorridas no sistema alimentar mundial, identificando fatores críticos de seu desempenho atual e futuro, além de analisar as organizações públicas e privadas de P&D agrícola e as oportunidades atuais e futuras para seu desempenho institucional sustentável. A partir de uma melhor compreensão do desempenho atual e futuro do sistema alimentar mundial e das organizações públicas e privadas de P&D agrícola, pode-se derivar diferentes conjuntos de estratégias para os correspondentes cenários identificados.

As entrevistas utilizadas na presente dissertação, com o objetivo de identificar a visão de representantes do agronegócio nacional, foram realizadas pela equipe do Projeto Quo Vadis, do qual esta pesquisadora também é membro.

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ATORES-CHAVE DO AGRONEGÓCIO

Atores-chave são especialistas, estudiosos, formadores de opinião e participantes do agronegócio nacional com elevado conhecimento deste sistema e do contexto no qual ele está inserido. Os atores aqui entrevistados são em sua maioria pesquisadores e nesse sentido, responsáveis pela formação de opinião, nos diferentes segmentos do agronegócio. Na presente dissertação foram utilizadas entrevistas realizadas pelo Projeto Quo Vadis com os seguintes atores-chave do agronegócio nacional: Bruce Johnson (USP); Carlos Prado (produtor rural); Eduardo Assad (Embrapa); Eliseu Alves (Embrapa); Elizabeth Farina (USP); Ennio Candotti (SBPC); James Wright (USP); João Pratagil (Embrapa); João Teixeira Júnior (produtor rural); José Eduardo Cassiolato (UFRJ); José Geraldo Eugênio (Embrapa); José Maria Silveira (Unicamp); Josemar Xavier de Medeiros (UnB); Luis Fernando Vieira (Embrapa); Ondino Bataglia (IAC); Paulo Cruvinel (Embrapa); Paulo Faveret (BNDES); Samuel Giordano (USP); Sergio Salles (Unicamp); e Wenceslau Goedert (UnB).

A generosidade destes representantes em participar das entrevistas foi fundamental, pois desta forma foi possível ao estudo entrar em contato com suas particulares maneiras de entender o agronegócio nacional e desse modo alcançar os objetivos pretendidos.

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MUDANÇAS NO CONTEXTO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO:

VISÃO DE ATORES-CHAVE DESTE SISTEMA

RESUMO

As alterações ocorridas no agronegócio brasileiro e no seu macro-contexto científico, tecnológico, político, econômico, social, cultural e ambiental, nas últimas décadas, têm sido essencialmente mais rápidas e intensas, em conseqüência do desenvolvimento de inovações tecnológicas e da mudança nos padrões de demanda mundial, e podem provocar fortes impactos no agronegócio brasileiro. Esse setor deve apresentar respostas ágeis e consistentes, de adaptação e antecipação a esses impactos. Tais respostas são resultantes da interpretação do que significam essas mudanças, e das oportunidades e ameaças que trarão ao setor, no futuro. O trabalho tem como objetivo identificar as percepções de atores-chave (especialistas, estudiosos, formadores de opinião e participantes do agronegócio nacional) sobre as mudanças ocorridas no contexto deste sistema e seus impactos sobre, o agronegócio brasileiro, por meio da realização de entrevistas com uma amostra desses atores. A compreensão da visão destes atores é importante, pois a partir desta, pode-se identificar rumos alternativos potenciais para o agronegócio nacional, sejam eles compartilhados ou não, e que poderiam ser influenciados pela visão desses diversos atores. Esta percepção e interpretação das mudanças, pelos distintos atores, é um dos fatores que podem alterar as decisões do agronegócio brasileiro, em reação ou antecipação às mudanças. O trabalho teve como bases teóricas a construção social da realidade e a teoria de sistemas, além de vasta revisão de literatura sobre mudanças no contexto do agronegócio segundo critérios pré-definidos. Com a intenção de atender os objetivos propostos, foram realizadas vinte entrevistas junto a especialistas no agronegócio nacional, aqui identificados como atores chave. Com base nestas entrevistas foi aplicada a técnica de análise de conteúdo categorial, de onde emergiram treze categorias que expressam as mudanças no contexto do agronegócio percebidas por esses atores. O estudo obteve como resultado uma rica visão dos entrevistados sobre mudanças no contexto do agronegócio. Todas as mudanças identificadas na literatura possuíram clara menção na fala dos entrevistados. Os entrevistados em alguns pontos extrapolaram os temas abordados pela revisão de literatura sobre o assunto. Embora os entrevistados tenham expressado uma grande variedade de mudanças no contexto do agronegócio, não se pode dizer que a visão destas mudanças é compartilhada por todos. O estudo possui como aspectos limitantes: a abordagem utilizada,

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que merece aprofundamentos no futuro; a pequena presença de representantes de cadeias produtivas brasileiras, no universo de entrevistados. Como aspecto positivo o estudo apresenta seu caráter pioneiro, por abordar o tema de mudanças no contexto do agronegócio, sob a perspectiva de seus atores, pouco estudado pela literatura do agronegócio, além de abordar o tema a partir de duas perspectivas teóricas, a construção social da realidade e a teoria de sistemas, teorias estas não tradicionalmente utilizadas em estudos dessa natureza.

Palavras-Chave: Mudanças no Contexto do Agronegócio. Agronegócio brasileiro. Atores-chave do agronegócio.

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CHANGES IN THE CONTEXT OF THE BRAZILIAN AGRIBUSINESS:

VIEW OF KEY-ACTORS OF THIS SYSTEM

ABSTRACT

Changes in the Brazilian agribusiness and its scientific technological, politician, economic, social, cultural and environmental macro-context, in the last decades, have been increasingly fast and intense. These changes may provoke strong impacts in the Brazilian agribusiness. This sector must transform itself in a consistent and speedy fashion, in adaptation and anticipation to these changes. These transformations result from the interpretation of the meaning of these changes, and of the opportunities and threats that in the future they may bring to the sector, which are made by key actors operating in and/or studying these systems. The objective of this work was to identify the perceptions of some of these key actors (experts, scholars, opinion makers, as well as operators of the national agribusiness) about the changes that are occurring in the context of this system and its impacts on the Brazilian agribusiness, from interviews with a sample of these actors. The understanding of the perceptions of these actors is important, because they may have strong influence on the transformations in the Brazilian agribusiness, so as to get the most benefits from opportunities and to avoid threats to the competitiveness of this system, in the future. These perceptions may or may not be shared by all these actors, and this fact would be another important influence on the definitions of transformations to be made in the system. Social construction of reality and theory of systems are the theoretical basis of this work. Beyond that, it was also helped by a vast literature review about the changes in the context of the agribusiness, according to pre-defined criteria. With the intention to attend the proposed objectives, twenty interviews with experts in the national agribusiness, here identified as key-actors, were carried out. Through the application of content analysis to these interviews, there emerged thirteen categories that express the changes in the context of the agribusiness as perceived by these actors. The results show a rich vision of the interviewed actors on changes in the context of the agribusiness. All the changes identified in literature were mentioned during the interviews. In some points, the interviewed surpassed the issues included on the literature review. Even though, it is not possible to say

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that the perception of these changes is shared by all of them. The study has some setbacks: the analysis needs to be deepened in the future, through the use of quantitative techniques for collecting and analyzing data; the sample of key actors should expand to include a larger number of Brazilian productive chains representatives, among the interviewed ones. As a positive aspect the study presents a pioneering character for focusing the subject of changes in the context of the agribusiness, under the perspective of its actors, a theme that cannot be easily found in the agribusiness literature. Moreover, it approached the subject from two theoretical perspectives, the social construction of the reality and the theory of systems, both of them not traditionally used in similar studies.

Keywords: Changes in the Context of the Agribusiness. Brazilian Agribusiness. Key-actor of the agribusiness.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 . Quantidade anual per capita de alimentos adquiridos para consumo no domicílio por meio de despesas monetárias, em estudos realizados entre os anos de 1974 e 2003 no Brasil... 51 TABELA 2. Aquisições, Joint Ventures e Alianças no setor de Alimentos e Bebidas ... 70

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1:Mudanças no Contexto do Agronegócio segundo Martin (2001), Renard (1999), Gregory (2000) e Neves, Lazzarini e Machado Filho (1997). ... 29

Quadro 2: Relação entre temas identificados na revisão de literatura e tópicos abordados pelo roteiro de entrevistas... 87

Quadro 3: Definição da categoria “Globalização”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 94

Quadro 4: Definição da categoria “Barreiras Não-Tarifárias”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações induzidas... 95

Quadro 5: Definição da categoria “Regulamentação”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 96

Quadro 6: Definição da categoria “Padrão de Consumo”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 97

Quadro 7: Definição da categoria “Produtos Populares”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 98

Quadro 8: Definição da categoria “Diferenciação de Produtos”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 99 Quadro 9: Definição da categoria “Concentração dos Componentes do Agronegócio”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 100

Quadro 10: Definição da categoria “Integração Vertical”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 101

Quadro 11: Definição da categoria “Incorporação de conhecimentos ao agronegócio”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 102

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Quadro 12: Definição da categoria “Competitividade do Agronegócio”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 103 Quadro 13: Definição da categoria “Foco do Agronegócio”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 104

Quadro 14: Definição da categoria “Agricultura Familiar”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 105

Quadro 15: Definição da categoria “Preservação Ambiental”, relação com categoria teórica, temas e conteúdos verbalizados e exemplos de verbalizações espontâneas e induzidas. ... 106

Quadro 16: Comparação entre categorias extraídas da fala dos entrevistados e temas identificados na revisão de literatura ... 114

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

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LISTA DE SIGLAS

ALCA Área de Livre Comércio das Américas Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNT Barreira não-tarifária

BSE Encefalopatia Espongiforme Bovina (mal da vaca louca) CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

C&T Ciência e Tecnologia CE Comunidade Européia

CR Concentration Ratio (índice de concentração) ECT Economia de Custos de Transação

Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAO Food and Agricultural Organization

FDA Food and Drugs Administration F&A Fusões e Aquisições

FLO Fairtrade Labelling Organizations International FMI Fundo Monetário Internacional

GATT General Agreement on Tariffs and Trade IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBD Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural IAC Instituto Agronômico de Campinas

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IFAT International Fair Trade Association

IFPRI International Food Policy Research Institute IFOAM International Federation of Organic Agriculture

Inmetro Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial ISNAR International Service for National Agricultural Research

ISO International Standards Organization

MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

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NAFTA North American Free Trade Agreement NEI Nova Economia Institucional

OGM Organismos Geneticamente Modificados OMC Organização Mundial do Comércio ONG Organização Não Governamental P&D Pesquisa e Desenvolvimento PIB Produto Interno Bruto

PIF Produção Integrada de Frutas PPA Plano Plurianual

PPP Parcerias público-privadas

SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SIF Serviço de Inspeção Federal

SISBOV Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina TI Tecnologia da Informação

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UnB Universidade de Brasília

UNCTAD Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento Unicamp Universidade Estadual de Campinas

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SUMÁRIO

RESUMO ...VIII ABSTRACT ... X LISTA DE TABELAS... XII LISTA DE ILUSTRAÇÕES... XV LISTA DE ILUSTRAÇÕES... XV LISTA DE SIGLAS...XVI 1.INTRODUÇÃO... 19 PROBLEMÁTICA E RELEVÂNCIA... 20 OBJETIVOS... 21 2.REFERENCIAL TEÓRICO ... 23 2.1TERIA DE SISTEMAS... 23

2.2CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE... 26

2.3MUDANÇAS NO CONTEXTO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO... 28

2.3.1 Mudanças no Contexto Sócio-Econômico Internacional ... 30

Globalização...30

Barreiras Comerciais ...35

Regulamentação ...41

2.3.2 Mudanças no Sistema Agroalimentar Mundial... 47

Demandas de Consumidores Finais...47

2.3.3 Mudanças no Agronegócio e em Cadeias Produtivas... 64

Diferenciação de Produtos...64

Concentração de Componentes do Agronegócio...66

Integração Vertical em Cadeias Produtivas ...73

Agricultura com base em conhecimento...76

3.METODOLOGIA... 83

3.1AMOSTRA... 83

3.2COLETA DE DADOS... 84

3.3INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS... 85

3.4ANÁLISE DOS DADOS... 87

4.RESULTADOS E DISCUSSÃO... 92

5.CONCLUSÃO... 120

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1. INTRODUÇÃO

O cenário mundial apresenta mudanças constantes nos ambientes econômico, político, científico, tecnológico, social, cultural e ambiental, as quais afetam a produção e a demanda por produtos do agronegócio1. Essas alterações, na última década, têm sido essencialmente mais rápidas e intensas, em conseqüência do desenvolvimento de novas tecnologias e da mudança nos padrões de demanda mundial.

Esta constante inquietação do cenário mundial induz à necessidade de respostas consistentes do agronegócio brasileiro. Tais respostas são resultantes da interpretação do que significam essas mudanças, e das oportunidades e ameaças que trarão ao setor, no futuro. A compreensão da visão de especialistas, estudiosos, formadores de opinião e participantes deste sistema, aqui identificados como atores-chave, é importante, pois a partir desta, pode-se identificar rumos alternativos potenciais para o agronegócio nacional, sejam eles compartilhados ou não, e que poderiam ser influenciados pela visão desses diversos atores. Esta percepção e interpretação das mudanças, pelos distintos atores, é um dos fatores que podem alterar as decisões do agronegócio brasileiro, em reação ou antecipação às mudanças. Se a interpretação das mudanças no contexto do agronegócio, por parte desses atores, for convergente (e apropriada), pode-se imaginar que será facilitada a adoção de direcionamentos compartilhados

1 Segundo Davis e Goldberg (1957), agronegócio é a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e

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pelos diferentes segmentos influenciados por estes atores. Se, por outro lado, esses atores tiverem percepções e interpretações distintas sobre as mudanças, suas conseqüências para o agronegócio brasileiro, e as alternativas para enfrentá-las, torna-se marcadamente mais difícil a definição de caminhos únicos e consistentes a serem adotados por este sistema.

Problemática e Relevância

A economia nacional é fortemente influenciada pelo agronegócio. Isto se torna claro quando se observa que este é responsável pela geração de 37% dos empregos brasileiros e sua participação no PIB é de 33%. A balança do comércio exterior do agronegócio brasileiro fechou 2004 com saldo positivo de US$ 34 bilhões. Nesse período o setor exportou US$ 39 bilhões, o que representa mais de 40% de toda a produção brasileira vendida ao exterior (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2005). No ano de 2003 foram comercializados cerca de 1,8 mil produtos para 209 mercados em todo o mundo (BRASIL, 2004).

O agronegócio deve ser entendido como um sistema, especialmente pela sua influência sobre as demais atividades econômicas do país e pela sua vinculação ao cenário mundial. O agronegócio brasileiro é fortemente influenciado pelas mudanças ocorridas no sistema agroalimentar mundial, e no contexto sócio-econômico internacional, em decorrência da necessidade da manutenção de sua competitividade neste ambiente. Estas mudanças são de natureza social, cultural, política, econômica, ambiental, entre outras, as quais refletem seu caráter multidisciplinar. No âmbito nacional, o agronegócio permeia a maioria dos setores da economia, sendo difícil estabelecer os limites de seu alcance.

As mudanças ocorridas (ou que possam ocorrer, no futuro) no contexto do agronegócio brasileiro, induzem à necessidade de ações consistentes, que serão resultantes da ação de atores-chave deste segmento. Estes atores são responsáveis pelos direcionamentos

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adotados por este setor, e a maneira como eles entendem as mudanças ocorridas do cenário mundial é fruto de suas diferentes visões de mundo, e é socialmente construída.

O interesse pelo assunto se justifica ainda mais, pela rápida velocidade das mudanças aqui estudadas, as quais exigem que os representantes do agronegócio estejam constantemente observando e interpretando sinais oriundos dos sistemas de interesse, reagindo ou antecipando-se de maneira dinâmica e flexível, sob pena de comprometer o desempenho do agronegócio nacional. Desta forma, a compreensão da visão destes atores é importante, pois a partir desta, pode-se identificar rumos alternativos plausíveis para as estratégias adotadas pelo setor, sejam elas compartilhadas ou não, entre os diversos atores. Esta percepção/interpretação das mudanças, pelos distintos atores, é que vai, enfim, nortear as mudanças necessárias do agronegócio brasileiro, em reação ou antecipação às mudanças, seja em termos de negócios, infra-estrutura, capacitação, obtenção de recursos, ou demais estratégias.

Objetivos

Esse estudo tem como objetivo principal a identificação da visão de atores-chave (especialistas, estudiosos, formadores de opinião e participantes) do agronegócio nacional sobre as principais mudanças ocorridas no contexto sócio-econômico internacional e no sistema agroalimentar mundial que têm potencial de impactar o futuro do agronegócio brasileiro. E como objetivo secundário a comparação da visão destes atores, com a literatura consultada sobre mudanças no cenário mundial.

Para alcançar estes objetivos, participaram da pesquisa atores-chave do agronegócio nacional, da área de pesquisa pública, professores universitários e produtores rurais. As entrevistas foram realizadas pela equipe do Projeto Quo Vadis.

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Esta dissertação está estruturada em quatro partes: na primeira será apresentada a revisão de literatura sobre teoria de sistemas, construção social da realidade, e mudanças no contexto do agronegócio brasileiro, bases teóricas do presente trabalho; na segunda parte apresenta-se a metodologia utilizada na pesquisa; na terceira, são apresentados os resultados da pesquisa e a discussão desses resultados à luz da literatura revisada; e na quarta e última parte são apresentadas as conclusões e considerações finais.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

O presente trabalho sustenta-se, conceitualmente, na teoria de sistemas, que oferece suporte às inter-relações existentes no ambiente do agronegócio brasileiro, à investigação de mudanças recentes no contexto desse sistema; e abordagem da construção social da realidade, que fundamenta a análise a partir da visão de atores-chave do agronegócio. Além destas duas teorias foi realizada uma revisão de literatura sobre as principais mudanças no ambiente do agronegócio, efetuada com base na análise de quatro artigos sobre o tema.

2.1 Teria de Sistemas

O método científico possui duas grandes escolas de análise, a reducionista e a holística ou sistêmica, que compartilham o objetivo comum do avanço do conhecimento. Embora os objetivos sejam comuns, os métodos de análise são distintos e complementares. Na escola reducionista, a compreensão de um fenômeno é buscada a partir da decomposição do mesmo em partes cada vez menores e simplificadas; esta abordagem de conhecimento busca a compreensão do todo, a partir do estudo de suas partes. Castro et al (1999, p. 57) observam que o reducionismo não é suficiente para explicar todos os fenômenos, notadamente aqueles que envolvem a atuação concomitante de mais de uma causa, explicada pela atuação conjunta de variáveis. Dessa limitação do reducionismo, nasceu o enfoque sistêmico. Segundo Spedding (1975), o todo (ou sistema) é um conjunto de componentes interativos, cujo

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conhecimento e estudo devem acontecer sempre relacionando o funcionamento dessas partes em relação ao todo. O estudo do agronegócio a partir da análise sistêmica é fundamental, pois este se constitui como um sistema a partir da forte interação existente entre seus diferentes elos constitutivos.

O enfoque sistêmico possui alguns conceitos essenciais para sua compreensão. Dentre os principais destacam-se os conceitos de limite de sistemas, desempenho do sistema, hierarquia de sistemas e modelo (Castro et al, 1999). Primeiro, é importante mencionar que um sistema possui um limite (critério arbitrário que o separa de seu ambiente). Esse ambiente, por sua vez, é um outro sistema (de ordem superior), onde o sistema que está sendo analisado se insere; quer dizer, existe sempre uma hierarquia de sistemas, em que um macro-sistema engloba um sistema, e este, por sua vez, é ambiente de um sub-sistema de ordem inferior.

De um modo geral, desempenho é a capacidade de um sistema de transformar insumos em produtos. Por exemplo, no caso dos sistemas conhecidos como cadeias produtivas, o desempenho pode ser avaliado qualitativamente ou medido quantitativamente, em relação a vários atributos, entre eles competitividade, eficiência, qualidade, sustentabilidade, equidade ou qualquer outro atributo de desempenho do sistema. O desempenho de um sistema é produto de muitas variáveis, ou fatores, que atuam isoladamente ou em conjunto, de forma interativa, onde cada variável (ou conjunto de variáveis) influencia e é influenciada pelas demais (CASTRO et al, 2001).

A partir deste conceito pode se dizer que o desempenho do agronegócio brasileiro é influenciado por variáveis geradas no ambiente do sistema “agronegócio” (o sistema agroalimentar mundial e o macro-contexto sócio-econômico internacional). Entre outras variáveis, também é afetado pela capacidade que os atores-chave deste segmento possuem em identificar e processar as informações sobre o comportamento atual e potencial dessas

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variáveis, e de desenvolver estratégias e ações eficazes, a partir dessas interpretações desse ambiente.

Os conceitos de limite e de hierarquia de sistemas são extremamente relevantes, para o presente estudo, que se orienta pelo princípio de que o contexto sócio-econômico internacional e o sistema agroalimentar mundial influenciam fortemente o agronegócio brasileiro, seu desempenho e sua configuração. A Figura a seguir expressa o conceito de hierarquia de sistemas, onde o agronegócio nacional está inserido no ambiente de um sistema maior, que é o sistema agroalimentar mundial, que por sua vez está inserido no contexto sócio-econômico internacional; também são indicadas, na Figura, as influências mútuas existentes entre esses sistemas, embora estas possuam maior intensidade na direção do sistema maior para o menor.

Figura 1. Hierarquia de Sistemas

A influência entre os sistemas acima representados ocorre porque cada um destes gera mudanças e novas configurações de atores, a todo o momento. Essa é uma característica dos

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sistemas sociais, que possuem tendência a se tornarem cada vez mais complexos (RODRÍGUEZ;ARNOLD, 1999).

2.2 Construção Social da Realidade

Os indivíduos podem responder de duas maneiras, a mudanças no sistema social em que estão inseridas: de um lado, podem apenas esperar, tranqüilamente, que as mudanças as atinjam, de que modo for; de outro, podem tentar interpretar essas mudanças, construindo “teorias” sobre causas e efeitos do que está acontecendo à sua volta, e atuando de forma consistente com essas teorias, de modo a proteger-se de intempéries e aproveitar-se da bonança. Essa última é exatamente a maneira com que todos os seres humanos, de modo geral, tentam influenciar os sistemas e seus ambientes.

A maneira como determinados atores interagem com a o seu ambiente é fruto da forma como estes atores o percebem. O ambiente dos sistemas sociais (como é o agronegócio) é interpretado, pelos atores sociais, a partir de um conjunto de valores e crenças e desta forma entendido como realidade. Assim, a análise do agronegócio a partir da visão de atores-chave deste sistema, tem como base a realidade tal como ela é interpretada e construída por eles.

A teoria da construção social se preocupa com os processos sociais através dos quais e dentro dos quais as pessoas interagem. Os atores sociais existem em uma rede de crenças e normas e atuam através da linguagem e do comportamento associado na forma de rotinas, discurso e roteiros (BERGUER;LUCKMANN,1966; GERGEN, 1999; JONHSON et al, 2000 apud BEECH et al 2002).

Segundo Berguer e Luckmann (1966), a abordagem da Construção Social da Realidade fundamenta-se no princípio de que a realidade é construída socialmente. O conhecimento é concebido como uma crença socialmente reforçada sobre a realidade, e está inserido nela e nos resultados dos processos sociais. O foco desta abordagem está na

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compreensão dessa realidade, tal como se apresenta ao senso comum dos membros da sociedade. Para os fins deste estudo, o agronegócio se constitui em um segmento da realidade interpretada pelos representantes do agronegócio, que é subjetivamente dotada de sentido, por esses atores, na medida em que eles a percebem como um todo coerente, com suas experiências.

Ainda segundo Berguer e Luckmann (1966), é importante ter em mente que a objetividade do mundo institucional, por mais consistente que pareça ao indivíduo, possui uma objetividade produzida e construída pelo homem. O processo pelo qual os produtos exteriorizados da atividade humana adquirem o caráter de objetividade é a objetivação. É importante acentuar que a relação entre o homem, produtor, e o mundo social, produto dele, é e permanece sendo uma relação dialética, isto é, o homem (evidentemente não o homem isolado, mas em coletividade) e seu mundo social atuam reciprocamente um sobre o outro.

A análise do agronegócio a partir da teoria da construção social da realidade é coerente, pois as posturas adotadas por este sistema são resultantes de ações de seus atores-chave, adotadas a partir de suas interpretações das mudanças ocorridas no contexto do agronegócio nacional. Desta forma, é a partir da visão destes atores que o agronegócio se posiciona e se constitui como um sistema capaz de interagir com os demais segmentos.

A seguir são apresentadas as principais mudanças identificadas na literatura, geradas no contexto do agronegócio nacional, e que têm potencial de influenciá-lo. Tendo sido identificadas por atores sociais (os cientistas sociais que investigam as mudanças no agronegócio) são também, elas mesmas, fruto da construção social desse grupo de atores.

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2.3 Mudanças no Contexto do Agronegócio Brasileiro

O agronegócio nacional sofre constantes e cada vez mais intensas influências de acontecimentos ocorridos no macro-contexto internacional. Estas mudanças possuem as mais diversas naturezas: sociais, culturais, políticas, econômicas, ambientais, tecnológicas, etc., as quais afetam o agronegócio brasileiro, em termos de mudanças nas relações existentes entre seus diferentes segmentos, do desempenho do sistema e de seus subsistemas, e de oferta e demanda por produtos por eles gerados.

A revisão de literatura sobre mudanças no contexto do agronegócio brasileiro inicialmente buscou referências bibliográficas que apresentassem essas mudanças de maneira agrupada e sistêmica. A partir desta busca, foram identificados quatro artigos, os quais foram utilizados para a estruturação dos tópicos a serem abordados nesta revisão de literatura sobre o assunto: Martin (2001), Renard (1999), Gregory (2000), Neves, Lazzarini e Machado Filho (1997). A partir desses textos foram definidas as variáveis em mudança a serem abordados na presente revisão de literatura, conforme mostra o Quadro 1. As variáveis a serem estudados possuem forte correlação entre si e são originadas de diferentes subsistemas componentes do contexto do agronegócio brasileiro. O Quadro 1 apresenta estas variáveis, relacionando-as ao sistema em que são geradas.

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Quadro 1:Mudanças no Contexto do Agronegócio segundo Martin (2001), Renard (1999), Gregory (2000) e Neves, Lazzarini e Machado Filho (1997).

M A R T I N R E N A R D G R E G O R Y N E V E S et al. Globalização X X Barreiras Comerciais X Mudanças no Contexto Sócio-Econômico Internacional Regulamentação X X

Demandas de Consumidores Finais Demandas em relação a produtos

Segurança alimentar (food safety) X X X X Homogeneização hábitos alimentares X

Produtos de conveniência X X

Demandas em relação a processos

Alimentos Geneticamente Modificados X

Alimentos orgânicos X X

Bem estar animal X X

Proteção e preservação do meio-ambiente X X X Mudanças no Sistema Agroalimentar Mundial Comércio Justo X Diferenciação de Produtos X X X

Concentração de componentes do agronegócio X X Integração vertical em cadeias produtivas X

Mudanças no Agronegócio e

em Cadeias Produtivas

Agricultura com base em conhecimento X X

Essas variáveis em mudança são descritas nesta seção, de acordo com os sistemas nos quais estão inseridas. Essas mudanças no contexto do agronegócio são apresentadas segundo seu ambiente de origem, geralmente o cenário internacional, e podem ser mimetizadas pelo agronegócio nacional, em um processo de institucionalização dessas mudanças (DIMAGGIO;POWELL, 1983). Por isso, quando cabível, evidências sobre fenômenos

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similares aos descritos pelas mudanças no contexto, que já estejam ocorrendo no agronegócio brasileiro, são também descritas .

2.3.1 Mudanças no Contexto Sócio-Econômico Internacional

Globalização

“Intensificação das relações sociais em escala mundial que faz com que localidades distantes estejam conectadas de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos

ocorridos em outras partes do mundo” (GIORDANO, 1999).

Albagli (In: CASSIOLATO;LASTRES, 1999) comenta que, enquanto sociedades pré-modernas possuíam em sua maioria, uma dimensão localizada, havendo plena coincidência entre o espaço e o tempo, a modernidade engendrou uma mudança radical nessa relação, promovendo um verdadeiro desencaixe tempo-espaço. Essa nova conjuntura é fruto dos avanços tecnológicos, sobretudo da tecnologia da informação, que atuam de maneira a anular a influência das questões espaciais sobre a comunicação.

Essa intensificação das relações sócio-econômicas, também conhecida como globalização, pode ser analisada de duas maneiras, por um lado, como um fator de aprofundamento da tendência de hegemonia da sociedade ocidental, com base nos valores de mercado e na racionalidade tecnológica. Por outro lado, como fator de valorização e preservação da identidade regional, com bases culturais.

Giddens (1991) destaca dois fatores como sendo particularmente relevantes para a globalização. Um fator refere-se à uniformização da medição do tempo, por meio da invenção e difusão do uso do relógio mecânico, a partir do fim do século XVIII. Um outro fator diz

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respeito à monetização da sociedade, por meio da universalização do dinheiro como moeda de troca.

Dessa nova conjuntura, abrem-se novos espaços de relacionamento e dessa forma novas oportunidades aos produtos do agronegócio. Ortiz (1994) afirma que embora sejam usados como intercambiáveis, os termos internacionalização e globalização não são sinônimos. Internacionalização refere-se ao simples aumento da extensão geográfica das atividades econômicas, através das fronteiras nacionais, não sendo este um fenômeno novo. A globalização da atividade econômica é qualitativamente diferente. Ela é uma forma mais avançada e complexa da internacionalização, implicando em um certo grau de integração funcional entre as atividades econômicas dispersas.

Sob o ponto de vista da hegemonia ocidental, estaria ocorrendo um processo de padronização (estandardização) cultural, com a desconstrução da singularidade e a perda de autenticidade cultural locais, frente às influências externas. Nesta ótica, as redes de comunicação funcionam como principal fonte de alienação do indivíduo de seu ambiente (CASSIOLATO;LASTRES, 1999).

De outro ponto de vista, a globalização atua como fator de influência sobre a valorização do local. Segundo Albagli (In: CASSIOLATO;LASTRES, 1999), a globalização não significa o fim de toda a identidade territorial estável. Ao contrário, cada sociedade ou grupo social é capaz de preservar e desenvolver seu próprio quadro de representações, expressando uma identidade ao mesmo tempo espacial e comunitária em torno da localidade.

Dessa dialética, percebe-se uma resistência da sociedade, no sentido de que, ainda que de forma contraditória, a globalização, se por um lado provoca a homogeneização, por outro influencia a diferenciação e a complexidade com bases culturais.

As transformações econômicas e tecnológicas, ocorridas a partir da década de 70, têm motivado o desenvolvimento de meios de comunicação e transporte, que viabilizaram a

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mobilidade geográfica de capitais, e ampliaram a liberdade de escolha das grandes corporações na opção de sua localização. Nesse sentido, a economia mundial também torna-se sensível às diferenças locais, em termos de custos de produção, padrões de consumo e vantagens competitivas locais (ALBAGLI In:CASSIOLATO;LASTRES, 1999).

No caso brasileiro, os impactos dessas mudanças econômicas e tecnológicas se manifestaram a partir da década de 90, onde se percebeu uma substantiva alteração na estrutura produtiva do país, motivada, sobretudo, pela abertura do mercado interno. As transformações desta ordem provocam sensíveis mudanças e rearranjos nas estruturas de produção e comercialização. A configuração das cadeias produtivas foi influenciada por essas alterações, em termos de redesenho das estruturas de coordenação das firmas e na incorporação de elementos importados na estrutura de produção (CASSIOLATO; LASTRES, 1999).

Nesse sentido, segundo Jank e Nassar (2000), a globalização é um fenômeno irreversível, que decorreu do forte incremento no intercâmbio mundial de mercadorias, serviços, fatores de produção, tecnologias, informações e, sobretudo, capitais. A queda do Muro de Berlim no final dos anos 80 marcou o fim da Guerra Fria e da polarização do mundo entre países capitalistas e socialistas. No seu lugar, ganhou espaço a busca generalizada pela chamada economia de mercado, com todos os seus pontos fortes e fracos, acompanhada da consolidação de um emaranhado de novos blocos de países, do crescimento exponencial dos meios de transportes e tecnologias de informação, do surgimento de massas de capitais capazes de migrar rapidamente de um lado para outro do planeta em busca da melhor relação retorno/risco e do crescimento do poder das grandes corporações multinacionais, que buscam ganhos de escala e reduções de custo em nível global.

A tendência na direção da globalização, integração e liberalização dos mercados tem afetado de forma diferente os participantes do comércio agrícola mundial. Nas exportações,

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alguns países que, reconhecidamente, dispõem de uma infra-estrutura moderna e eficiente, que atuam de forma mais agressiva na expansão dos mercados tradicionais e na conquista de novos mercados, estão tendo bons resultados.

A rápida abertura comercial que ocorreu a partir do final da década de 80, representada pela diminuição do volume de tarifas de 55% em 1987, para 14% em 1995, e o processo de intensa desregulamentação do Estado, que diminuiu seu poder de intervenção, e ainda, a entrada do país no Mercosul, formam um novo contexto de inserção da agricultura brasileira. De início, havia o receio de que essa abertura exporia o setor a concorrentes que vêm recebendo subsídios em seus países e, portanto, muito mais competitivos, causando problemas à agricultura nacional. Isso, no entanto, não aconteceu, tendo-se em vista saldos da balança comercial agrícola cada vez maiores (BRAUN, 2004).

Nesse contexto torna-se necessário destacar que a abertura da política comercial brasileira foi fruto de um processo de liberalização, que está ocorrendo em nível mundial, do qual a Rodada Uruguai é um exemplo. Se nas décadas de 70 e 80, a política comercial brasileira fechava-se aos fluxos de comércio internacional, o mesmo acontecia com a maioria dos países, principalmente, os mais desenvolvidos. O que diferenciou, basicamente, as políticas comerciais foi o grau de proteção aos setores internos, muito maior nos países mais desenvolvidos, o que se tornou mais um empecilho para a inserção da agricultura brasileira no mercado internacional (BRAUN, 2004).

Com a globalização a competição passou a ocorrer em escala mundial e não mais dentro de cada país. Neste ambiente, as empresas que operam em um país ou nele se instalam passam a focar sua produção nos produtos e itens de produção que apresentam maior vantagem competitiva naquele país. Ao mesmo tempo, há também o crescimento no comércio internacional das filiais das empresas multinacionais. Nesta lógica, a filial de uma empresa multinacional instalada em certo país se concentra na produção de certo produto ou insumo

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destinado a filiais posicionadas em outros países. Além disso, a globalização implica também um maior fluxo de investimentos entre as nações (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a).

“Em termos políticos, globalização significa que os governos devem aprender a cooperar em um número maior de áreas do que no passado. Algumas das distinções que costumávamos fazer entre política internacional e política nacional parecem crescentemente superficiais e irrelevantes. Naturalmente, emergem tensões quando os governos são vistos como tendo uma ingerência cada vez maior nas políticas dos demais, e estas tensões devem ser gerenciadas com destreza e agilidade política. Como se expande o escopo da formação de regras internacionais e da coordenação política, e a noção de política ‘nacional’ encolhe, cuidados adequados devem ser tomados para resguardar a diversidade e preservar a democracia. Ao mesmo tempo, os argumentos defensivos baseados em soberania mostram-se ilusórios. A verdadeira expressão da soberania no mundo de hoje é a capacidade de governos eleitos democraticamente articular os interesses dos seus representados através de negociações e compromissos internacionais.” (ALMEIDA, 1997).

A abertura da economia, a desregulamentação dos mercados, a crise das formas tradicionais de intervenção do Estado e a formação de blocos econômicos são as principais mudanças estruturais que promoveram a globalização e a necessidade de incrementar a competitividade para o cotidiano do agronegócio brasileiro. A nova inserção do país em mercados globalizados e integrados em blocos não significa, entretanto, que não existam mais regras de regulação do comércio. Pelo contrário, o longo processo de consolidação do Mercosul e da Alca e a dificuldade de avançar em um amplo acordo multilateral de liberalização do comércio agroalimentar no âmbito da OMC são fatos que mostram a importância da constituição de novos aparatos institucionais. Aparatos estes, que determinem as bases de competição dos agentes produtivos, agora organizados em cadeias produtivas que perpassam os limites geográficos institucionais das nações (JANK;NASSAR, 2000).

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Barreiras Comerciais

”Conjunto de instrumentos adotados pelo governo para controlar o comércio internacional de seu país, reduzindo ou até mesmo impedindo a entrada de concorrentes estrangeiros em

seu território.” (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a)

A competição, o caráter multinacional das organizações, a concentração dos negócios e a criação e o amadurecimento dos blocos econômicos (União Européia, Mercosul, etc.) e de acordos comerciais (NAFTA, ALCA, etc.) têm mostrado a complexidade da economia mundial. Convive-se hoje com o paradoxo a que leva a dualidade da globalização e o regime de abertura comercial – com o protecionismo que obsta ou limita o acesso a mercados (BRASIL, 2002a).

Com a intenção de proteger seus mercados internos, os países utilizam vários mecanismos, na forma de barreiras comerciais, que dificultam ou mesmo impedem o acesso de concorrentes estrangeiros ao seu território. Essas barreiras e/ou restrições comerciais podem ser legítimas e visar à tutela de determinado bem jurídico pelo Estado, como a proteção da saúde do consumidor ou a proteção do meio-ambiente. Ou podem ser utilizadas na forma de protecionismo, promovendo um desestímulo à importação, de maneira artificial. Essas barreiras comerciais podem ocorrer por meio da imposição de tarifas, sendo esta a maneira mais comum de proteção de mercados. Contudo, com as negociações internacionais sobre comércio, que geralmente resultam em reduções das tarifas que os países podem aplicar, também foram desenvolvidos artifícios para dificultar as importações, as chamadas barreiras não-tarifárias. (BRASIL, 2002b e INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a).

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Segundo Fontagné (2001), a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) distingue 7 tipos de barreiras comerciais:

1. Medidas para-tarifárias (sobretaxas aduaneiras, taxas adicionais, taxas arrecadadas sobre importações).

2. Medidas de controle de preços (preços administrados, restrição voluntária da exportação, medidas anti-dumping).

3. Medidas financeiras (requisição de pagamento adiantado, múltiplas taxas de câmbio, atrasos de transferência).

4. Medidas automáticas de licenciamento (licença automática, vigilância prévia). 5. Medidas de controle de qualidade (licenciamento não automático, incluindo

autorização anterior, quotas, proibições, acordos de restrição à exportação, restrições a empresas específicas).

6. Medidas monopolísticas (canal único para importação, serviço nacional compulsório).

7. Medidas técnicas (regulações técnicas inspeções pré-embarque, formalidades aduaneiras especiais, obrigação de retorno de produtos usados, obrigações de reciclagem)

No esforço de reconstrução mundial que marcou o pós-guerra, no fim da década de 40, decidiu-se criar três instituições internacionais: o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial (ou Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento – BIRD) e a Organização Internacional do Comércio. Esta última não se efetivou pelo fato de não ter sido ratificada pelo Congresso dos Estados Unidos. Nesse sentido, e como se tinha consciência de que seria necessário introduzir um mecanismo para estabelecer regras para o comércio internacional, foi negociado em 1947, um acordo provisório entre 23 países (Carta de Havana), inclusive com a adesão dos Estados Unidos. O General Agreement on Tariffs and

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Trade, que ficou conhecido pela sigla correspondente – GATT – passou a ser, na prática, uma

espécie de organismo, realizando, ao longo dos anos, 8 rodadas de negociações multilaterais. Diversos outros países aderiram ao Acordo, que serviu de base para tais negociações, até o término da Rodada do Uruguai, em 1994, quando, finalmente, foi criada a Organização Mundial do Comércio – OMC. As seis primeiras rodadas de negociações do GATT objetivaram, essencialmente, a diminuição dos níveis de proteção tarifários praticados. Na sétima rodada, conhecida por Rodada de Tóquio (1973-1979), foram incluídos outros temas, sendo celebrados vários acordos, entre os quais um acordo sobre barreiras técnicas. Entre 1986 e 1994 teve lugar a Rodada do Uruguai, que alargou muito o âmbito das negociações. Integraram-se às regras do GATT vários setores que não eram ali considerados até então, devendo-se destacar os serviços, a agricultura e os têxteis (BRASIL, 2002a).

A redução progressiva das tarifas no contexto do GATT/OMC fez com que líderes industriais e políticos passassem a buscar outros meios de proteger seus setores. Esses meios de proteção freqüentemente tomam a forma de barreiras não-tarifárias (qualquer meio que não utilize tarifas para proteger setores comerciais). Regulamentos técnicos, normas e procedimentos para avaliação de conformidade são medidas potencialmente não tarifárias, algumas vezes utilizadas com propósitos protecionistas. Como tais, elas podem constituir barreiras potenciais ao comércio internacional (APPLETON, 2003).

A rigor, as barreiras não-tarifárias não são propriamente um “novo foco de atenção” e sim uma decorrência natural do esforço de liberalização comercial empreendido pelo GATT em suas sucessivas rodadas de negociação. Após a expressiva redução de barreiras tarifárias aprovada pela Rodada Kennedy e implementada em 1972, a atenção se deslocou para as barreiras não-tarifárias (ALMEIDA, 1997).

Barreiras não-tarifárias (BNTs) são restrições à entrada de mercadorias importadas que possuem como fundamento requisitos técnicos, sanitários, ambientais, laborais, restrições

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quantitativas (quotas e contingenciamento de importação), bem como políticas de valoração aduaneira, de preços mínimos e de bandas de preços, diferentemente das barreiras tarifárias, que se baseiam na imposição de tarifas aos produtos importados. Normalmente, as BNTs visam a proteção de bens jurídicos importantes para os Estados, como a segurança nacional, a proteção do meio ambiente e do consumidor, e ainda, a saúde dos animais e das plantas. No entanto, é justamente o fato de os países aplicarem medidas ou exigências sem que haja fundamentos nítidos que as justifiquem, que dá origem às barreiras não-tarifárias ao comércio, formando o que se chama de neoprotecionismo. As BNTs classificam-se em: (i) quotas e contingenciamento de importação; (ii) barreiras técnicas ; (iii) medidas sanitárias e fitossanitárias e (iv) exigências ambientais e laborais (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a).

O termo “medida não-tarifária” inclui restrições de exportações e subsídios de exportação ou medidas com efeito similar, não apenas restrições a importações. Este é o termo mais amplamente utilizado pelo GATT e pela UNCTAD, embora os textos geralmente prefiram os termos barreiras ou distorções. Talvez a definição teórica mais satisfatória seja a de Baldwin em 1970, que define distorções não tarifárias "como qualquer medida (pública ou privada) que causa a redução da comercialização de bens e serviços ou recursos voltados a produção destes, de forma a interferir no potencial real da renda mundial” (UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT, 2002).

As barreiras não-tarifárias mais amplamente discutidas no Brasil são: • Quotas e contingenciamento de importação

As quotas nada mais são do que um escalonamento tarifário de restrição ao acesso, composto de dois níveis de tarifa: até um certo volume limitado de importação cobra-se uma tarifa, após escobra-se contingente as importações adicionais sofrem uma cobra-segunda – e mais alta – tarifa. Deve-se ressaltar que a classificação de quotas tarifárias como

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barreiras não-tarifárias não é universal, alguns autores as classificam como barreiras tarifárias. Em tese, as quotas tarifárias foram projetadas para garantir acesso mínimo aos mercados, mas mostram-se instrumento pouco democrático para tais fins.

• Barreiras técnicas

Barreiras técnicas são decorrentes de exigências técnicas estabelecidas pelos compradores para os produtos ou serviços, seja em relação às suas características intrínsecas, seja pela necessidade de se ter, de alguma forma, de demonstrar o atendimento a esses requisitos (por exemplo, a realização de ensaios ou inspeções), que são os chamados procedimentos de avaliação da conformidade. É possível que algumas dessas medidas, por vezes, acabem por ser excessivas em relação aos aspectos que alegadamente se pretendia assegurar, ou seja, passam a ser discriminatórias, ou vão além dos aspectos legítimos referidos, constituindo-se então em medidas de caráter protecionista. Em ambas as circunstâncias pode questionar-se a sua legitimidade. (BRASIL, 2002a).

• Barreiras Sanitárias ou Fito-sanitárias

Este tipo de barreira não-tarifária é regulada, no âmbito da Organização Mundial do Comércio, pelo Acordo sobre aplicação de medidas sanitárias e fito-sanitárias. Conforme o referido acordo:

"Os membros têm o direito de adotar medidas sanitárias e fito-sanitárias para a proteção da vida ou saúde humana, animal ou vegetal, desde que tais medidas não sejam incompatíveis com as disposições do presente acordo" (SILVA NETO, 2002).

A aplicação da medida deve ser realizada apenas na medida do necessário para proteger a vida ou saúde humana, animal ou vegetal, deve ser baseada em princípios científicos, não deve ser aplicada de forma discriminatória (com arbitrariedade ou sem justificação), e não deve ser aplicada de forma a constituir restrição velada ao comércio internacional (SILVA NETO, 2002).

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• Exigências ambientais e laborais

Com a crescente complexidade das relações internacionais, aliada à evolução das sociedades, começa a ser freqüente, o estabelecimento de exigências que se relacionam com questões que tradicionalmente não estavam abrangidas nas relações de compra, como as relativas a aspectos ambientais ou sociais (prevenção do uso de trabalho infantil na produção ou fornecimento do produto ou serviço, por exemplo) (BRASIL, 2002a).

As preocupações sanitárias e fito-sanitárias são as que possuem maior repercussão junto à opinião pública. Dentre as principais doenças que tem gerado barreiras sanitárias e fito-sanitárias nos últimos anos destacam-se: a BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina ou mal da vaca louca) na década de 90, a gripe do frango em 2002, a ferrugem da soja em 2001, e a febre aftosa que, embora seja uma doença identificada há mais de 100 anos, ainda não foi erradicada. Segundo Levantamento do ICONE (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a) em 2002, dos 20 maiores mercados importadores de carne bovina e suína in natura do Brasil, 61% estão fechados e 39% abertos, em virtude de restrições sanitárias e, principalmente à aftosa e à peste suína clássica. Muitas dessas medidas possuem caráter protecionista que vai além do objetivo de proteção à saúde humana e animal.

Com relação às barreiras técnicas, do ponto de vista da competitividade e do acesso a mercados, à medida em que mais e mais mercados requerem requisitos técnicos diferentes para os mesmos produtos ou serviços, esta multiplicidade de exigências cria sérias dificuldades de acesso aos mercados e gera custos adicionais crescentes, até inviabilizando o acesso (BRASIL, 2002 a).

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Regulamentação

Estabelecimento de regras e padrões sobre a produção e comercialização de produtos com a intenção de garantir a segurança do consumidor, a preservação do meio-ambiente e a

preocupação com questões sociais.

Os processos de regulamentação atendem a demandas dos consumidores que se tornam cada vez mais inseguros quanto à qualidade do produto consumido. Esta incerteza se dá geralmente devido à passagem da produção caseira de alimentos para a de mercado, pelo crescimento da troca impessoal e pelo desenvolvimento de novos produtos alimentares (SPERS, 2003).

A história das regulamentações dos produtos alimentares de qualidade iniciou-se na França, no início do século XX (1919), quando foi criada a denominação “Apelação de Origem” para o setor vinícola artesanal se contrapor ao avanço das vinícolas industriais, estando, portanto a política voltada para a proteção de micro-setores. Na década de 60 (Label Rouge) e na década de 80 (Agricultura Biológica e Produtos da Montanha), a política passa a

ter uma visão de desenvolvimento rural, uma saída para a crise agrícola européia dos anos 80 (excedentes agrícolas, alto custo dos subsídios, etc.), onde as normas estipuladas em manuais de qualidade são negociadas entre os diversos atores da cadeia produtiva (FONSECA, 2002).

Ainda segundo Fonseca (2002) na Europa, em meados da década de 80, a Comunidade Econômica Européia iniciou uma política de harmonização dessas normas contidas no documento “Nouvelle Approache” (1985) que culminou com a definição de regulamentações, iniciando-se com a agricultura orgânica, em 1991, para produção orgânica de origem vegetal, e em 1999, para a produção orgânica de origem animal. Desde janeiro de 1993, todo produto fresco e processado de origem vegetal vendido na UE como “orgânico” (ou biológico/ecológico equivalente em oito outras línguas européias) deve estar de acordo com os padrões orgânicos estabelecidos pela EC 2092/91.

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O Brasil, assim como outros países tipicamente agrícolas, tem buscado diferenciar seus produtos no mercado, oferecendo maior qualidade e segurança aos consumidores. Nesse sentido, segue a tendência mundial em direção à proteção de seus alimentos, seus conhecimentos e habilidades (know-how) e atenção à demanda por produtos mais saudáveis, ecologicamente corretos, rastreáveis, dentre outros. A demanda por este tipo de produto é originada pelo temor causado pelas grandes crises alimentares recentes (BSE, gripe do frango e aftosa).

O estabelecimento de regulamentos sobre a produção e comercialização de produtos agropecuários tem intenção de garantir a segurança do consumidor, a preservação do meio-ambiente e a preocupação com questões sociais.

Certificação

A certificação é o reconhecimento formal, emitido por um órgão competente, atestando a conformidade com requisitos especificados por uma norma. Esta certificação pode ocorrer não somente sobre produtos, mas também sobre sistemas, processos e serviços. A certificação envolve três fatores: normas, órgãos certificadores e organismos credenciadores. Portanto, deve possuir um agente regulamentador que dita as normas, que pode ser o governo ou uma instituição internacional; e um agente coordenador, órgão certificador que coordena o processo, que pode ser uma associação privada, uma associação não governamental, uma empresa privada ou uma empresa estatal.

Um exemplo de certificação é o padrão EUREPGAP (EUREP – Euro Retailer Produce Working Group/ GAP – Good Agricultural Practice) que foi constituído nos

princípios de prevenção e análise de riscos (APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), agricultura sustentável, Manejo Integrado de Pragas (MIP), tecnologia aplicada no campo. O EUREPGAP foi criado por supermercados europeus com objetivos de assegurar alimentos seguros, ambientalmente corretos e saudáveis aos consumidores. O EUREPGAP

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proporciona acesso facilitado dos produtos certificados ao mercado externo, além do marketing intrínseco ao selo.

Os principais sistemas de certificação existentes no Brasil são: Certificação de Orgânicos; Certificação de Produção Integrada de Frutas; Certificação de Soja sem OGM; Certificação de Comércio Justo; Certificação – Denominação de Origem; Certificação EUREPGAP. Dentre os principais órgãos brasileiros que atuam na elaboração de normas e certificações destacam-se a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na inexistência de normas referentes a produtos agrícolas e agropecuários elabora instruções normativas em assuntos relacionados ao agronegócio.

Rotulagem

A rotulagem baseia-se no princípio básico do direito do consumidor à informação, sendo esta a maneira utilizada pelo fabricante para informar quais são os itens que integram os alimentos que serão consumidos, assim como quais foram os procedimentos utilizados ao longo de seu processo produtivo. Ou seja, é a necessidade de especificação de um determinado produto para que se possa definir se ele satisfaz certas condições relacionadas a suas características e processo produtivo (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a).

Os sistemas para rotulagem seguem três vertentes: identificadores de sistemas de produção, rótulos de marca e rótulos com conceitos orientados. As principais preocupações dos consumidores refletem-se em rótulos que enfocam aspectos como bem-estar animal, pureza do produto, aspectos ambientais e aspectos sociais (GREGORY, 2000).

O sistema de rotulagem não é uma solução para todas as preocupações dos consumidores, ele não necessariamente aumenta o controle ou segurança entre os

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consumidores, os quais decidem como fazê-lo. Ele também pode ter conseqüências imprevisíveis, pois, por exemplo, a rotulagem de OGM poderá ter dois caminhos, o de levar os supermercados a excluir OGM de suas prateleiras ou o de aumentar a familiaridade desses produtos e levá-los à aceitação pública (GREGORY, 2000).

Para a rotulagem de alimentos orgânicos são considerados aspectos como: se o alimento é produzido sem pesticidas artificiais, herbicidas ou fertilizantes, se a carne orgânica vem de animais crescidos em sistemas extensivos, se são usadas medicações como antibióticos e estimuladores de crescimento, se os animais tiveram acesso ao pasto crescido organicamente, ou se o solo contém fertilizantes inorgânicos ou herbicidas químicos, mas não pulverizado com pesticidas (GREGORY, 2000).

Qualquer que seja a forma do rótulo, deve conter informações obrigatórias e facultativas ao comprador, de modo visível, claro, legível e fidedigno. As informações obrigatórias são aquelas exigidas por normas legais, disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pelo Código de Defesa do Consumidor e pelo Inmetro (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 2002).

Rastreabilidade

A rastreabilidade é um mecanismo que permite traçar os caminhos percorridos por um produto desde sua origem no campo até o consumidor final, podendo ter sido, ou não, transformado ou processado, objetivando a produção de qualidade e com origem garantida (IBA et al, 2003). Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é a capacidade de se rastrear a história, aplicação ou localização de um item, atividade ou similares através de registros de identificação (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 1995). A rastreabilidade permite, por meio da documentação de todos os

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passos do processo de produção, a individualização da responsabilidade das operações envolvidas neste processo.

Vinholis e Azevedo (2000 apud IBA et al, 2003) definem:

“Um sistema de rastreabilidade, seja ele informatizado ou não, permite seguir, rastrear informações de diferentes tipos (referente ao processo, produto, pessoal e ou serviço) a jusante e ou montante de um elo de cadeia ou de um departamento interno de uma empresa. A rastreabilidade possibilita ter um histórico do produto, sendo que a complexidade do conteúdo deste histórico dependerá do objetivo a que se pretende alcançar. Este objetivo pode ser influenciado pelas estratégias adotadas e pelo ambiente externo em que a empresa está inserida”.

IBA et al (2003) afirmam que em função das crises alimentares ocorridas na Europa, a partir de 1996, envolvendo segurança alimentar, o sistema de rastreabilidade passou a ter importância considerável no mercado internacional. Consumidores se conscientizaram e passaram a exigir alimentos de qualidade, de origem conhecida e que não oferecessem riscos a sua saúde. Também a regulamentação do mercado europeu passou a exigir a rastreabilidade de alguns produtos agrícolas importados, e a partir de 2005, de todos os produtos.

No Brasil a cadeia bovina é a pioneira nesse processo e já conta com quase 7 milhões de cabeças rastreadas. Os animais são identificados, registrados e monitorados pelo SISBOV - Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, (2002a) regulamenta a rastreabilidade dos rebanhos bovino e bubalino a partir do SISBOV, que é definido como:

“O conjunto de ações, medidas e procedimentos adotados para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade da pecuária nacional e a segurança dos alimentos provenientes dessa exploração econômica”.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2002b) também define rastreabilidade para a produção de frutas como:

“Um sistema estruturado que permite resgatar a origem do produto e todas as etapas de processos produtivos adotados no campo e nas

Referências

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