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2.3 M UDANÇAS NO C ONTEXTO DO A GRONEGÓCIO B RASILEIRO

2.3.1 Mudanças no Contexto Sócio-Econômico Internacional

Globalização

“Intensificação das relações sociais em escala mundial que faz com que localidades distantes estejam conectadas de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos

ocorridos em outras partes do mundo” (GIORDANO, 1999).

Albagli (In: CASSIOLATO;LASTRES, 1999) comenta que, enquanto sociedades pré- modernas possuíam em sua maioria, uma dimensão localizada, havendo plena coincidência entre o espaço e o tempo, a modernidade engendrou uma mudança radical nessa relação, promovendo um verdadeiro desencaixe tempo-espaço. Essa nova conjuntura é fruto dos avanços tecnológicos, sobretudo da tecnologia da informação, que atuam de maneira a anular a influência das questões espaciais sobre a comunicação.

Essa intensificação das relações sócio-econômicas, também conhecida como globalização, pode ser analisada de duas maneiras, por um lado, como um fator de aprofundamento da tendência de hegemonia da sociedade ocidental, com base nos valores de mercado e na racionalidade tecnológica. Por outro lado, como fator de valorização e preservação da identidade regional, com bases culturais.

Giddens (1991) destaca dois fatores como sendo particularmente relevantes para a globalização. Um fator refere-se à uniformização da medição do tempo, por meio da invenção e difusão do uso do relógio mecânico, a partir do fim do século XVIII. Um outro fator diz

respeito à monetização da sociedade, por meio da universalização do dinheiro como moeda de troca.

Dessa nova conjuntura, abrem-se novos espaços de relacionamento e dessa forma novas oportunidades aos produtos do agronegócio. Ortiz (1994) afirma que embora sejam usados como intercambiáveis, os termos internacionalização e globalização não são sinônimos. Internacionalização refere-se ao simples aumento da extensão geográfica das atividades econômicas, através das fronteiras nacionais, não sendo este um fenômeno novo. A globalização da atividade econômica é qualitativamente diferente. Ela é uma forma mais avançada e complexa da internacionalização, implicando em um certo grau de integração funcional entre as atividades econômicas dispersas.

Sob o ponto de vista da hegemonia ocidental, estaria ocorrendo um processo de padronização (estandardização) cultural, com a desconstrução da singularidade e a perda de autenticidade cultural locais, frente às influências externas. Nesta ótica, as redes de comunicação funcionam como principal fonte de alienação do indivíduo de seu ambiente (CASSIOLATO;LASTRES, 1999).

De outro ponto de vista, a globalização atua como fator de influência sobre a valorização do local. Segundo Albagli (In: CASSIOLATO;LASTRES, 1999), a globalização não significa o fim de toda a identidade territorial estável. Ao contrário, cada sociedade ou grupo social é capaz de preservar e desenvolver seu próprio quadro de representações, expressando uma identidade ao mesmo tempo espacial e comunitária em torno da localidade.

Dessa dialética, percebe-se uma resistência da sociedade, no sentido de que, ainda que de forma contraditória, a globalização, se por um lado provoca a homogeneização, por outro influencia a diferenciação e a complexidade com bases culturais.

As transformações econômicas e tecnológicas, ocorridas a partir da década de 70, têm motivado o desenvolvimento de meios de comunicação e transporte, que viabilizaram a

mobilidade geográfica de capitais, e ampliaram a liberdade de escolha das grandes corporações na opção de sua localização. Nesse sentido, a economia mundial também torna-se sensível às diferenças locais, em termos de custos de produção, padrões de consumo e vantagens competitivas locais (ALBAGLI In:CASSIOLATO;LASTRES, 1999).

No caso brasileiro, os impactos dessas mudanças econômicas e tecnológicas se manifestaram a partir da década de 90, onde se percebeu uma substantiva alteração na estrutura produtiva do país, motivada, sobretudo, pela abertura do mercado interno. As transformações desta ordem provocam sensíveis mudanças e rearranjos nas estruturas de produção e comercialização. A configuração das cadeias produtivas foi influenciada por essas alterações, em termos de redesenho das estruturas de coordenação das firmas e na incorporação de elementos importados na estrutura de produção (CASSIOLATO; LASTRES, 1999).

Nesse sentido, segundo Jank e Nassar (2000), a globalização é um fenômeno irreversível, que decorreu do forte incremento no intercâmbio mundial de mercadorias, serviços, fatores de produção, tecnologias, informações e, sobretudo, capitais. A queda do Muro de Berlim no final dos anos 80 marcou o fim da Guerra Fria e da polarização do mundo entre países capitalistas e socialistas. No seu lugar, ganhou espaço a busca generalizada pela chamada economia de mercado, com todos os seus pontos fortes e fracos, acompanhada da consolidação de um emaranhado de novos blocos de países, do crescimento exponencial dos meios de transportes e tecnologias de informação, do surgimento de massas de capitais capazes de migrar rapidamente de um lado para outro do planeta em busca da melhor relação retorno/risco e do crescimento do poder das grandes corporações multinacionais, que buscam ganhos de escala e reduções de custo em nível global.

A tendência na direção da globalização, integração e liberalização dos mercados tem afetado de forma diferente os participantes do comércio agrícola mundial. Nas exportações,

alguns países que, reconhecidamente, dispõem de uma infra-estrutura moderna e eficiente, que atuam de forma mais agressiva na expansão dos mercados tradicionais e na conquista de novos mercados, estão tendo bons resultados.

A rápida abertura comercial que ocorreu a partir do final da década de 80, representada pela diminuição do volume de tarifas de 55% em 1987, para 14% em 1995, e o processo de intensa desregulamentação do Estado, que diminuiu seu poder de intervenção, e ainda, a entrada do país no Mercosul, formam um novo contexto de inserção da agricultura brasileira. De início, havia o receio de que essa abertura exporia o setor a concorrentes que vêm recebendo subsídios em seus países e, portanto, muito mais competitivos, causando problemas à agricultura nacional. Isso, no entanto, não aconteceu, tendo-se em vista saldos da balança comercial agrícola cada vez maiores (BRAUN, 2004).

Nesse contexto torna-se necessário destacar que a abertura da política comercial brasileira foi fruto de um processo de liberalização, que está ocorrendo em nível mundial, do qual a Rodada Uruguai é um exemplo. Se nas décadas de 70 e 80, a política comercial brasileira fechava-se aos fluxos de comércio internacional, o mesmo acontecia com a maioria dos países, principalmente, os mais desenvolvidos. O que diferenciou, basicamente, as políticas comerciais foi o grau de proteção aos setores internos, muito maior nos países mais desenvolvidos, o que se tornou mais um empecilho para a inserção da agricultura brasileira no mercado internacional (BRAUN, 2004).

Com a globalização a competição passou a ocorrer em escala mundial e não mais dentro de cada país. Neste ambiente, as empresas que operam em um país ou nele se instalam passam a focar sua produção nos produtos e itens de produção que apresentam maior vantagem competitiva naquele país. Ao mesmo tempo, há também o crescimento no comércio internacional das filiais das empresas multinacionais. Nesta lógica, a filial de uma empresa multinacional instalada em certo país se concentra na produção de certo produto ou insumo

destinado a filiais posicionadas em outros países. Além disso, a globalização implica também um maior fluxo de investimentos entre as nações (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a).

“Em termos políticos, globalização significa que os governos devem aprender a cooperar em um número maior de áreas do que no passado. Algumas das distinções que costumávamos fazer entre política internacional e política nacional parecem crescentemente superficiais e irrelevantes. Naturalmente, emergem tensões quando os governos são vistos como tendo uma ingerência cada vez maior nas políticas dos demais, e estas tensões devem ser gerenciadas com destreza e agilidade política. Como se expande o escopo da formação de regras internacionais e da coordenação política, e a noção de política ‘nacional’ encolhe, cuidados adequados devem ser tomados para resguardar a diversidade e preservar a democracia. Ao mesmo tempo, os argumentos defensivos baseados em soberania mostram-se ilusórios. A verdadeira expressão da soberania no mundo de hoje é a capacidade de governos eleitos democraticamente articular os interesses dos seus representados através de negociações e compromissos internacionais.” (ALMEIDA, 1997).

A abertura da economia, a desregulamentação dos mercados, a crise das formas tradicionais de intervenção do Estado e a formação de blocos econômicos são as principais mudanças estruturais que promoveram a globalização e a necessidade de incrementar a competitividade para o cotidiano do agronegócio brasileiro. A nova inserção do país em mercados globalizados e integrados em blocos não significa, entretanto, que não existam mais regras de regulação do comércio. Pelo contrário, o longo processo de consolidação do Mercosul e da Alca e a dificuldade de avançar em um amplo acordo multilateral de liberalização do comércio agroalimentar no âmbito da OMC são fatos que mostram a importância da constituição de novos aparatos institucionais. Aparatos estes, que determinem as bases de competição dos agentes produtivos, agora organizados em cadeias produtivas que perpassam os limites geográficos institucionais das nações (JANK;NASSAR, 2000).

Barreiras Comerciais

”Conjunto de instrumentos adotados pelo governo para controlar o comércio internacional de seu país, reduzindo ou até mesmo impedindo a entrada de concorrentes estrangeiros em

seu território.” (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a)

A competição, o caráter multinacional das organizações, a concentração dos negócios e a criação e o amadurecimento dos blocos econômicos (União Européia, Mercosul, etc.) e de acordos comerciais (NAFTA, ALCA, etc.) têm mostrado a complexidade da economia mundial. Convive-se hoje com o paradoxo a que leva a dualidade da globalização e o regime de abertura comercial – com o protecionismo que obsta ou limita o acesso a mercados (BRASIL, 2002a).

Com a intenção de proteger seus mercados internos, os países utilizam vários mecanismos, na forma de barreiras comerciais, que dificultam ou mesmo impedem o acesso de concorrentes estrangeiros ao seu território. Essas barreiras e/ou restrições comerciais podem ser legítimas e visar à tutela de determinado bem jurídico pelo Estado, como a proteção da saúde do consumidor ou a proteção do meio-ambiente. Ou podem ser utilizadas na forma de protecionismo, promovendo um desestímulo à importação, de maneira artificial. Essas barreiras comerciais podem ocorrer por meio da imposição de tarifas, sendo esta a maneira mais comum de proteção de mercados. Contudo, com as negociações internacionais sobre comércio, que geralmente resultam em reduções das tarifas que os países podem aplicar, também foram desenvolvidos artifícios para dificultar as importações, as chamadas barreiras não-tarifárias. (BRASIL, 2002b e INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a).

Segundo Fontagné (2001), a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) distingue 7 tipos de barreiras comerciais:

1. Medidas para-tarifárias (sobretaxas aduaneiras, taxas adicionais, taxas arrecadadas sobre importações).

2. Medidas de controle de preços (preços administrados, restrição voluntária da exportação, medidas anti-dumping).

3. Medidas financeiras (requisição de pagamento adiantado, múltiplas taxas de câmbio, atrasos de transferência).

4. Medidas automáticas de licenciamento (licença automática, vigilância prévia). 5. Medidas de controle de qualidade (licenciamento não automático, incluindo

autorização anterior, quotas, proibições, acordos de restrição à exportação, restrições a empresas específicas).

6. Medidas monopolísticas (canal único para importação, serviço nacional compulsório).

7. Medidas técnicas (regulações técnicas inspeções pré-embarque, formalidades aduaneiras especiais, obrigação de retorno de produtos usados, obrigações de reciclagem)

No esforço de reconstrução mundial que marcou o pós-guerra, no fim da década de 40, decidiu-se criar três instituições internacionais: o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial (ou Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento – BIRD) e a Organização Internacional do Comércio. Esta última não se efetivou pelo fato de não ter sido ratificada pelo Congresso dos Estados Unidos. Nesse sentido, e como se tinha consciência de que seria necessário introduzir um mecanismo para estabelecer regras para o comércio internacional, foi negociado em 1947, um acordo provisório entre 23 países (Carta de Havana), inclusive com a adesão dos Estados Unidos. O General Agreement on Tariffs and

Trade, que ficou conhecido pela sigla correspondente – GATT – passou a ser, na prática, uma

espécie de organismo, realizando, ao longo dos anos, 8 rodadas de negociações multilaterais. Diversos outros países aderiram ao Acordo, que serviu de base para tais negociações, até o término da Rodada do Uruguai, em 1994, quando, finalmente, foi criada a Organização Mundial do Comércio – OMC. As seis primeiras rodadas de negociações do GATT objetivaram, essencialmente, a diminuição dos níveis de proteção tarifários praticados. Na sétima rodada, conhecida por Rodada de Tóquio (1973-1979), foram incluídos outros temas, sendo celebrados vários acordos, entre os quais um acordo sobre barreiras técnicas. Entre 1986 e 1994 teve lugar a Rodada do Uruguai, que alargou muito o âmbito das negociações. Integraram-se às regras do GATT vários setores que não eram ali considerados até então, devendo-se destacar os serviços, a agricultura e os têxteis (BRASIL, 2002a).

A redução progressiva das tarifas no contexto do GATT/OMC fez com que líderes industriais e políticos passassem a buscar outros meios de proteger seus setores. Esses meios de proteção freqüentemente tomam a forma de barreiras não-tarifárias (qualquer meio que não utilize tarifas para proteger setores comerciais). Regulamentos técnicos, normas e procedimentos para avaliação de conformidade são medidas potencialmente não tarifárias, algumas vezes utilizadas com propósitos protecionistas. Como tais, elas podem constituir barreiras potenciais ao comércio internacional (APPLETON, 2003).

A rigor, as barreiras não-tarifárias não são propriamente um “novo foco de atenção” e sim uma decorrência natural do esforço de liberalização comercial empreendido pelo GATT em suas sucessivas rodadas de negociação. Após a expressiva redução de barreiras tarifárias aprovada pela Rodada Kennedy e implementada em 1972, a atenção se deslocou para as barreiras não-tarifárias (ALMEIDA, 1997).

Barreiras não-tarifárias (BNTs) são restrições à entrada de mercadorias importadas que possuem como fundamento requisitos técnicos, sanitários, ambientais, laborais, restrições

quantitativas (quotas e contingenciamento de importação), bem como políticas de valoração aduaneira, de preços mínimos e de bandas de preços, diferentemente das barreiras tarifárias, que se baseiam na imposição de tarifas aos produtos importados. Normalmente, as BNTs visam a proteção de bens jurídicos importantes para os Estados, como a segurança nacional, a proteção do meio ambiente e do consumidor, e ainda, a saúde dos animais e das plantas. No entanto, é justamente o fato de os países aplicarem medidas ou exigências sem que haja fundamentos nítidos que as justifiquem, que dá origem às barreiras não-tarifárias ao comércio, formando o que se chama de neoprotecionismo. As BNTs classificam-se em: (i) quotas e contingenciamento de importação; (ii) barreiras técnicas ; (iii) medidas sanitárias e fitossanitárias e (iv) exigências ambientais e laborais (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a).

O termo “medida não-tarifária” inclui restrições de exportações e subsídios de exportação ou medidas com efeito similar, não apenas restrições a importações. Este é o termo mais amplamente utilizado pelo GATT e pela UNCTAD, embora os textos geralmente prefiram os termos barreiras ou distorções. Talvez a definição teórica mais satisfatória seja a de Baldwin em 1970, que define distorções não tarifárias "como qualquer medida (pública ou privada) que causa a redução da comercialização de bens e serviços ou recursos voltados a produção destes, de forma a interferir no potencial real da renda mundial” (UNITED NATIONS CONFERENCE ON TRADE AND DEVELOPMENT, 2002).

As barreiras não-tarifárias mais amplamente discutidas no Brasil são: • Quotas e contingenciamento de importação

As quotas nada mais são do que um escalonamento tarifário de restrição ao acesso, composto de dois níveis de tarifa: até um certo volume limitado de importação cobra- se uma tarifa, após esse contingente as importações adicionais sofrem uma segunda – e mais alta – tarifa. Deve-se ressaltar que a classificação de quotas tarifárias como

barreiras não-tarifárias não é universal, alguns autores as classificam como barreiras tarifárias. Em tese, as quotas tarifárias foram projetadas para garantir acesso mínimo aos mercados, mas mostram-se instrumento pouco democrático para tais fins.

• Barreiras técnicas

Barreiras técnicas são decorrentes de exigências técnicas estabelecidas pelos compradores para os produtos ou serviços, seja em relação às suas características intrínsecas, seja pela necessidade de se ter, de alguma forma, de demonstrar o atendimento a esses requisitos (por exemplo, a realização de ensaios ou inspeções), que são os chamados procedimentos de avaliação da conformidade. É possível que algumas dessas medidas, por vezes, acabem por ser excessivas em relação aos aspectos que alegadamente se pretendia assegurar, ou seja, passam a ser discriminatórias, ou vão além dos aspectos legítimos referidos, constituindo-se então em medidas de caráter protecionista. Em ambas as circunstâncias pode questionar-se a sua legitimidade. (BRASIL, 2002a).

• Barreiras Sanitárias ou Fito-sanitárias

Este tipo de barreira não-tarifária é regulada, no âmbito da Organização Mundial do Comércio, pelo Acordo sobre aplicação de medidas sanitárias e fito-sanitárias. Conforme o referido acordo:

"Os membros têm o direito de adotar medidas sanitárias e fito- sanitárias para a proteção da vida ou saúde humana, animal ou vegetal, desde que tais medidas não sejam incompatíveis com as disposições do presente acordo" (SILVA NETO, 2002).

A aplicação da medida deve ser realizada apenas na medida do necessário para proteger a vida ou saúde humana, animal ou vegetal, deve ser baseada em princípios científicos, não deve ser aplicada de forma discriminatória (com arbitrariedade ou sem justificação), e não deve ser aplicada de forma a constituir restrição velada ao comércio internacional (SILVA NETO, 2002).

• Exigências ambientais e laborais

Com a crescente complexidade das relações internacionais, aliada à evolução das sociedades, começa a ser freqüente, o estabelecimento de exigências que se relacionam com questões que tradicionalmente não estavam abrangidas nas relações de compra, como as relativas a aspectos ambientais ou sociais (prevenção do uso de trabalho infantil na produção ou fornecimento do produto ou serviço, por exemplo) (BRASIL, 2002a).

As preocupações sanitárias e fito-sanitárias são as que possuem maior repercussão junto à opinião pública. Dentre as principais doenças que tem gerado barreiras sanitárias e fito-sanitárias nos últimos anos destacam-se: a BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina ou mal da vaca louca) na década de 90, a gripe do frango em 2002, a ferrugem da soja em 2001, e a febre aftosa que, embora seja uma doença identificada há mais de 100 anos, ainda não foi erradicada. Segundo Levantamento do ICONE (INSTITUTO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS, 2004a) em 2002, dos 20 maiores mercados importadores de carne bovina e suína in natura do Brasil, 61% estão fechados e 39% abertos, em virtude de restrições sanitárias e, principalmente à aftosa e à peste suína clássica. Muitas dessas medidas possuem caráter protecionista que vai além do objetivo de proteção à saúde humana e animal.

Com relação às barreiras técnicas, do ponto de vista da competitividade e do acesso a mercados, à medida em que mais e mais mercados requerem requisitos técnicos diferentes para os mesmos produtos ou serviços, esta multiplicidade de exigências cria sérias dificuldades de acesso aos mercados e gera custos adicionais crescentes, até inviabilizando o acesso (BRASIL, 2002 a).

Regulamentação

Estabelecimento de regras e padrões sobre a produção e comercialização de produtos com a intenção de garantir a segurança do consumidor, a preservação do meio-ambiente e a

preocupação com questões sociais.

Os processos de regulamentação atendem a demandas dos consumidores que se tornam cada vez mais inseguros quanto à qualidade do produto consumido. Esta incerteza se dá geralmente devido à passagem da produção caseira de alimentos para a de mercado, pelo crescimento da troca impessoal e pelo desenvolvimento de novos produtos alimentares (SPERS, 2003).

A história das regulamentações dos produtos alimentares de qualidade iniciou-se na França, no início do século XX (1919), quando foi criada a denominação “Apelação de Origem” para o setor vinícola artesanal se contrapor ao avanço das vinícolas industriais, estando, portanto a política voltada para a proteção de micro-setores. Na década de 60 (Label Rouge) e na década de 80 (Agricultura Biológica e Produtos da Montanha), a política passa a

ter uma visão de desenvolvimento rural, uma saída para a crise agrícola européia dos anos 80 (excedentes agrícolas, alto custo dos subsídios, etc.), onde as normas estipuladas em manuais de qualidade são negociadas entre os diversos atores da cadeia produtiva (FONSECA, 2002).

Ainda segundo Fonseca (2002) na Europa, em meados da década de 80, a Comunidade Econômica Européia iniciou uma política de harmonização dessas normas contidas no documento “Nouvelle Approache” (1985) que culminou com a definição de regulamentações, iniciando-se com a agricultura orgânica, em 1991, para produção orgânica de origem vegetal,

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