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O ano de 1912 foi marcado pelo início do movimento sertanejo do Contestado. A rebelião

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SERTANEJOSREBELDES E OPERÁRIOSGREVISTAS: O MOVIMENTO SERTANEJO DO CONTESTADO E A RESISTÊNCIA E LUTA DOS TRABALHADORES DA LUMBER COMPANY.

Alexandre Assis Tomporoski1

O ano de 1912 foi marcado pelo início do movimento sertanejo do Contestado. A re-belião eclodiu na região fronteiriça entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, perdu-rando até outubro de 1916. O movimento resultou na morte de dezenas de milhares de pes-soas entre sertanejos rebeldes, moradores da região e soldados. Complexos elementos atuaram conjuntamente e contribuíram para a deflagração do conflito armado entre sertane-jos rebelados e forças legais.

A disputa territorial que envolveu os estados do Paraná e de Santa Catarina – e co-nhecida como Questão de Limites – não foi uma causa decisiva para a deflagração do movi-mento sertanejo, mas, influenciou decisivamente a ocupação demográfica e o perfil social e político da região. (MACHADO, 2004, pg. 123).

A disputa pela jurisdição do planalto serrano2 – mais especificamente as terras

situa-das entre os rios Uruguai e Iguaçu, e ao sul de Rio Negro – iniciara-se ainda no período co-lonial. Mas foi com o crescente comércio fomentado pelo caminho de tropas no século XIX, e com o seu potencial enquanto geradora de tributos, que a região passou a ser objeto de conflitos, os quais se intensificaram durante todo o período imperial. Já no início do período republicano, a disputa transformara-se em um grave problema político.3

1 Doutorando em História pela UFSC, com pesquisa fomentada pela CAPES.

2 No século XIX, também a região a oeste do estado de Santa Catarina – território situado entre os rios Iguaçu e Uruguai e limitado a leste pelo rio do Peixe – foi reivindicada pela Argentina como sendo parte de sua província de Missiones. Apenas em 1895 a posse brasileira sobre a região passou a ser reconhecida internacionalmente.

3 O argumento de Santa Catarina tinha como base o cumprimento de instruções coloniais, que garan-tiam ao estado o domínio sobre o território naturalmente definido ao sul dos rios Negro e Iguaçu. Os paranaenses embasavam sua argumentação principalmente no Uti Possidetis, a ocupação e coloni-zação de fato, cujos principais realizadores eram lavradores e criadores paranaenses e paulistas.

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Além da tensão entre paranaenses e catarinenses, os pobres da região experiencia-ram um processo de privatização da propriedade da terra, que culminou na expulsão de muitas famílias sertanejas. Até aquele momento, em toda aquela área o processo de apos-samento de terras havia sido o método costumeiramente empregado para a apropriação ter-ritorial. Era comum o estabelecimento de posses por pequenos agricultores, antes da chega-da dos grandes fazendeiros e chega-da administração pública. Nestas posses estabelecichega-das no in-terior da floresta, o sertanejo mantinha pequenas plantações para subsistência e mesmo para o pequeno comércio de excedentes, uma espécie de ‘roça cabocla’, além de efetuar a coleta da erva mate. (CARVALHO, 2002, pg. 84/85).

Com a nova Constituição de 1891, a capacidade de legislar sobre as terras passou do governo central aos estados. A partir de então o objetivo era regularizar as antigas pos-ses e vender terras públicas como estímulo para a pecuária e agricultura. No caso específi-co de Santa Catarina foi formulada uma política de terras que primou pela específi-colonização euro-péia e voltada para a agricultura comercial – através de empresas especializadas na espe-culação com terras – expandindo o espaço disponível para os grandes criadores do planalto. (MACHADO, 2004, pg. 138-9).

Esse processo atingiu de maneira fatal o modo de vida do sertanejo. Pequenos agri-cultores e criadores passaram a ser expulsos de suas terras, as quais habitavam havia gera-ções, e foram transformados em intrusos. Muitos dos que perderam suas terras mais tarde engrossariam as fileiras do movimento sertanejo do Contestado.

Além da instabilidade causada pela disputa de limites e pela expropriação de terras, outro fator foi decisivo para a futura deflagração do movimento, a inserção do capital estran-geiro na região, marcada pela chegada das empresas do Sindicato Farquhar.4

4 O Sindicato Farquhar era controlado pelo magnata norte-americano Percival Farquhar, também pro-prietário da Brazil Railway Company. Em 1906 ele adquiriu a Companhia Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande, a qual possuía a concessão para construir a ferrovia que cortaria a região do planalto norte catarinense. Farquhar possuía um total de seis milhões de acres no Paraná e em Santa Catari-na e pretendia desenvolver a agricultura comercial e a exportação da madeira pelo porto de ParaCatari-na- Parana-guá.

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A Brazil Railway Company foi a responsável pela construção da ferrovia que cortou o planalto catarinense, ligando Sorocaba (SP) e Santa Maria (RS). Em 1910, foram entregues ao tráfego os trezentos e oitenta quilômetros referentes ao trecho catarinense, entre União da Vitória (PR) e o rio Uruguai. Em 1917, foi concluído o ramal leste, que ligou União da Vi-tória à cidade portuária de São Francisco do Sul (SC), abrindo um canal de escoamento para a erva mate e a madeira beneficiada na região.

Através do contrato para construção da estrada de ferro, a Brazil Railway Company recebeu a concessão para explorar as terras marginais à linha tronco da ferrovia, numa ex-tensão de até quinze quilômetros para cada lado do leito. A partir de 1908, a companhia passou a ocupar as terras devolutas – que na verdade eram habitadas por caboclos – às margens da ferrovia. Nos dois anos seguintes milhares de moradores foram expulsos de suas terras. O objetivo era prepará-las para a exploração que seria feita através do corte e exportação da madeira e da venda de lotes a imigrantes europeus e/ou seus descendentes.

A atuação desse conjunto de elementos resultou em um agravamento da tensão so-cial em toda aquela região. Mas, outro fator foi fundamental para a organização dos sertane-jos e a deflagração do movimento: a religiosidade, que funcionou como elemento aglutinador dos diferentes objetivos que os sertanejos levavam para dentro dos redutos.

Os sertanejos eram seguidores dos ensinamentos do monge João Maria. A imagem desse monge, que além de curandeiro e conselheiro dos pobres era profeta, é recorrente, mas para o morador da região do planalto de Santa Catarina houve apenas um monge João Maria. No entanto, ao menos dois monges João Maria circularam pelas extensas regiões que eram atravessadas pelo Caminho de Tropas. O primeiro entre 1840 e 1870, e o segun-do entre 1890 e 1908. Ambos eram vistos como homens santos, andavam em meio à popu-lação pobre receitando remédios naturais e dando conselhos.5 No ano de 1912, outra figura 5 Em algumas localidades, como no interior do município de Três Barras, ainda é possível encontrar batismos realizados em bicas d’água santificadas, que teriam sido benzidas pelo monge. Esse batis-mo é realizado em paralelo com o batisbatis-mo oficial. Maiores informações acerca dos batis-monges podem ser localizadas em GALLO, Ivone Cecília D’AVILA. O Contestado: o sonho do milênio igualitário. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1999; CABRAL, Oswaldo Rodrigues. A Campanha do

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Contes-mítica e misteriosa.monge, chamado José Maria, O monge José Maria, cujo nome verdadei-ro era Miguel Lucena de Boaventura, conseguiu fama e distinção entre os sertanejos tam-bém por suas curas e conselhos. Sua aparição pública no planalto catarinense está ligada aos fatos imediatamente anteriores à deflagração da guerra sertaneja.

Enquanto José Maria peregrinava pela região foi constituída em Três Barras – muni-cípio paranaense contestado por Santa Catarina – a Southern Brazil Lumber and Coloniza-tion Company, subsidiária da Brazil Railway. O objetivo desta empresa era explorar as terras marginais à linha tronca da ferrovia, extraindo a madeira e vendendo as terras a imigrantes europeus e seus descendentes.

Com o início de suas atividades em novembro de 1911, a Lumber passou a desenvo-lver um processo inovador de exploração da madeira, tendo como instrumento um complexo industrial de proporções ímpares. Objetivando aperfeiçoar o processo de extração da madei-ra, foram construídos ramais com extensão de até trinta quilômetros, os quais partiam da serraria e alcançavam os pinhais mais densos. Concluídos os trilhos, as composições avan-çavam sobre as matas municiadas com poderosos guinchos movidos a vapor. As toras que jaziam no chão, já abatidas pelos trabalhadores, eram então arrastadas por cabos de aço, recolhidas aos vagões e conduzidas até o pátio da serraria, onde eram transformadas em tábuas, classificadas e armazenadas mecanicamente. Dali partiam por trem aos portos de São Francisco do Sul e Paranaguá e, subseqüentemente, para o exterior.6

Com a instalação da Lumber Company, novo processo de expulsão de posseiros é desencadeado na região do planalto norte catarinense. A empresa pretendia “limpar” as ter-ras recebidas pela concessão para a construção da ferrovia e de outter-ras áreas adquiridas pela companhia.

tado. Florianópolis: Lunardelli, 1979.

6 Além da exploração da madeira em escala industrial, a Lumber também desenvolveu atividades liga-das ao beneficiamento e à exportação de erva mate. Balancetes do ano de 1917 demonstram gastos com compra de erva mate de terceiros e com a construção de barracões para armazenamento do produto. In: Relatórios mensais da Southern Brazil Lumber and Colonization Company – Abril de 1917. APESC (Arquivo Público do Estado de Santa Catarina).

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A Lumber deu prosseguimento à retirada de posseiros das terras a serem explora-das, muitas vezes empregando seu próprio corpo de segurança, estes guardas tinham como função eliminar qualquer empecilho às atividades exploratórias da companhia, especialmen-te no que tange a expulsão e ao assassínio de famílias de posseiros da região que poderiam vir a reclamar direitos de posse.

Esse processo aumentou significativamente o número de miseráveis por toda aquela região, assim como a indignação e a revolta, especialmente contra o governo e os estran-geiros.

Os sertanejos vão à guerra

Em agosto de 1912, o monge José Maria foi convidado para participar da festa do Bom Jesus, que aconteceria no dia 06, na comunidade de Taquaruçu, município de Campos Novos. Após o encerramento das festividades o povo que se reuniu em torno do monge não se dispersou. O arraial montado para a festa não foi desmontado e mais pessoas chegavam ao local, doentes e curiosos que queriam encontrar o monge. Muitas dessas pessoas eram sertanejos expulsos pela Lumber Company e pela Brazil Railway e que não tinham para onde voltar. O chefe político local, coronel Francisco Ferreira de Albuquerque – devido a dis-putas políticas locais e receio com as intenções do monge e daquele grande número de des-possuídos reunidos na região – solicitou apoio do governo catarinense (a época chefiado por seu compadre Vidal Ramos), o qual enviou 30 homens do Regimento de Segurança de Santa Catarina.

Ao saber da notícia do envio da força armada, José Maria se retirou com seus segui-dores para a região do Irani – território paranaense contestado por Santa Catarina – onde mantinha boas relações. No entanto, este ato foi interpretado pelo governo paranaense como um embuste catarinense para ocupar a força aquelas terras, já declaradas catarinen-ses pelo STF. Rapidamente o Paraná enviou homens de seu Regimento de Segurança, co-mandados pelo Capitão João Gualberto, o qual prometeu desfilar nas ruas de Curitiba com

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os sertanejos amarrados a cordas. Apesar de José Maria e seus seguidores afirmarem que não queriam a luta, foram atacados pelos homens da força paranaense no dia 22 de outubro de 1912, dando início à guerra. Os paranaenses foram destroçados pelos sertanejos. Neste primeiro combate morreram o monge José Maria e o próprio capitão João Gualberto.

O desaparecimento do líder dos sertanejos no primeiro combate imprimiu uma cara-cterística messiânica ao movimento, embebido da crença de que o monge retornaria com to-dos aqueles que tombaram ao seu lado.

No ano de 1913 surgiram novos ajuntamentos de sertanejos no planalto e constituí-ram-se inúmeros redutos ou “quadros santos”. Até meados de 1916, os rebeldes foram ca-çados pelas tropas legalistas, incluindo piquetes civis, soldados catarinenses e do exército brasileiro. Ao tentar impor o seu projeto de mundo a sociedade do planalto, o movimento se expandiu geográfica e socialmente, ocupando uma área semelhante à do estado de Ala-goas. A guerra do Contestado foi oficialmente encerrada em outubro de 1916, após a morte de dezenas de milhares de pessoas, com a assinatura do Acordo de Limites entre Paraná e Santa Catarina.

A Lumber Company, cuja atuação depredatória contribuiu decisivamente para a de-flagração do movimento e que foi alvo dos sertanejos rebelados, continuou em funciona-mento até a década de 1940.7

A instalação da empresa em pleno sertão catarinense impôs um novo ritmo de traba-lho e de vida àquela população e às centenas de trabalhadores que passaram a compor a mão de obra constituída pela companhia. Estes trabalhadores eram moradores do planalto catarinense ou imigrantes recém chegados, estavam expostos aos constantes acidentes de trabalho, jornadas exasperantes, vigilância contínua e repressão imediata.

7 Para maiores informações sobre a Lumber Company ver: TOMPOROSKI, Alexandre Assis. “O

Pes-soal da Lumber”: Um estudo acerca dos trabalhadores da Southern Brazil Lumber and

Coloni-zation Company e sua atuação no planalto norte de Santa Catarina, 1910-1929. (Dissertação Mestrado em História). Florianópolis: UFSC, 2006.

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Nos anos de 1917 e 1919 – paralelamente às maiores mobilizações do movimento operário brasileiro – os trabalhadores da Lumber Company declararam-se em greve, sendo ferozmente reprimidos pelos homens do corpo de segurança da companhia, com o auxílio de força policial. A polícia local, assim como grande parte das autoridades, havia sido coop-tada pela empresa, atuando em favor dos interesses da madeireira. O subdelegado e o mé-dico – Oswaldo de Oliveira, deputado estadual catarinense em dois mandatos – manipula-vam informações referentes aos acidentes de trabalho, isentando a empresa do pagamento de indenizações.

Na greve de 1919, o jornal anarquista A Plebe, de São Paulo, repercutiu os aconteci-mentos relativos à paralisação dos trabalhadores da Lumber.

A primeira publicação ocorreu em uma edição de maio de 1919.8 Em tom nostálgico,

relata a existência de uma liga operária fundada em Três Barras e que fora fechada pela po-lícia a mando do diretor da Lumber. Através de greves forjadas, incêndios inventados e es-pancamentos, a polícia desencadeou violenta repressão sobre os integrantes da Liga, os quais foram ameaçados de processo judicial e de deportação. Durante aproximadamente dois meses (de junho a agosto de 1919), Três Barras se transformou em terra de ninguém, com a polícia em ronda todas as noites, especialmente na estação ferroviária, “onde devia desembarcar o nosso presidente, então em Curitiba”.9 Após intensa repressão, a liga foi

en-fraquecendo, restando “o nome e o triste casebre onde funcionou, e uns poucos sócios que, com esperanças prosseguem na sua propaganda”.10

A segunda reportagem acerca dos trabalhadores da Lumber Company foi publicada em uma edição do jornal “A Plebe” do mês de junho de 1919,11 O texto foi escrito em terceira

pessoa, referindo-se a um informante que participara do movimento. O jornal noticiava a eclosão de uma greve na empresa no dia 1º de junho daquele ano. Os trabalhadores

plei-8 A Plebe. Ano II. Edição de 24 de Maio de 1919. AEL. 9 Idem.

10 Ibidem.

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teavam aumento de salário e a diminuição da jornada de trabalho para 8 horas diárias. O di-retor da companhia, Schermann Bischop, ameaçou os operários com um lockout de três a seis meses e com a demissão daqueles que aderissem ao movimento. Por fim, a reporta-gem celebrava a reabertura da Liga Operária de Três Barras, cuja primeira reunião teria re-cebido número surpreendente de trabalhadores.

A terceira e mais extensa reportagem data do mês de agosto de 1919.12 O texto

re-constrói a greve deflagrada na Lumber e traz importantes informações sobre aquele movi-mento.

A greve teve um início pacífico e mobilizou grande número de trabalhadores da Lum-ber; no entanto, o diretor da companhia demitiu os operários considerados chefes do movi-mento, “acusados de serem anarquistas (...) também fui despedido e tive que transportar-me com família e bagagem para outra localidade”.13 Entretanto, mesmo após as primeiras

de-missões e sob novas ameaças de lockout, a greve continuou. Como resposta, o subdelega-do de Três Barras, Theófilo Becker,14 a mando do diretor da companhia, solicitou o auxílio do

delegado regional de União da Vitória, Alípio Barbosa.

No quarto dia de greve, os operários tentaram realizar um comício na praça pública de Três Barras. O delegado regional chamou os operários, um a um, e os aconselhou a vol-tarem ao trabalho. Em virtude dos operários não declinarem de seu propósito, o delegado proibiu as reuniões e aglomerações de trabalhadores e disse que “não admitia gritos e que mandaria varrer o povo à bala”.

A partir deste ponto a repressão à greve recrudesceu: a polícia passou a prender e ameaçar de morte os integrantes do movimento. Enquanto isso, o diretor da companhia de-mitiu dezenas de operários, “que dentro de quatro horas deveriam desocupar os

ranchos-es-12 A Plebe. Ano III, n.º 27, op. cit. 13 Idem.

14 Theófilo Becker era um grande aliado dos interesses da companhia. No ano de 1920, ele foi destitu-ído do cargo de subdelegado de polícia de Três Barras. Imediatamente foi contratado pela Lumber como chefe da sua guarda particular. Poucas semanas depois, comandou o assassinato de seu subs-tituto, o Tenente Francisco Arruda Câmara Junior. Este episódio e suas implicações para o contexto da região estão sendo investigados.

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peluncas de sua propriedade”. Rapidamente, a cadeia encheu-se de operários e outras pes-soas que não tinham ligação com a greve, todavia eram desafetos de políticos locais.

Neste contexto, o advogado e ex-prefeito de Três Barras, Dídio Augusto, representante dos trabalhadores frente à Lumber foi preso e deportado para São Francisco do Sul. Chegando àquela cidade foi solto sob a condição de não mais retornar a Três Barras. Este fato ocorreu após ele discursar para os operários em greve.15 Além dele, dois operários também foram

presos e enviados à cadeia de São Francisco. Outros trabalhadores abandonaram a região para evitar a prisão. Após tamanha repressão, a greve foi encerrada. E aqueles que não fo-ram presos, exilados, perseguidos ou demitidos, retornafo-ram ao trabalho.

A repressão a esses trabalhadores e a repressão ao movimento do Contestado com-põem um mesmo quadro de luta e resistência nos sertões catarinenses. É preciso uma maior atenção à circulação desses indivíduos e sua possível participação em ambos os mo-vimentos. De qualquer modo, é possível supor, ou ao menos especular, acerca da sobrevi-vência de resquícios. A guerra do Contestado e as décadas de permanência da Lumber Company no planalto catarinense marcaram definitivamente a história da região e de sua população, a qual não compreende a importância desses acontecimentos. Por isso o caráter fundamental e urgente do trabalho de reconstrução de uma história em que os de baixo fo-ram agentes de suas próprias vidas, lutando e resistindo por aquilo que consideravam justo. É possível transformar a concepção que eles têm de sua própria história, a qual – infeliz-mente e não por acaso – parece confirmar um caráter inerente da exploração e da miséria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Tarcísio Motta de. “Nós não tem direito”: Costume e Direito a Terra no Contestado (1912-1916). Niterói. Dissertação (Mestrado em História). UFF. Niterói, 2002. DIACON, Todd A. Millenarian vision, capitalist reality. Brazil’s Contestado rebelion, 1912-1916. Durham: Duke University Press, 1991.

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MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado: a formação das chefias cabo-clas (1912-1916). Campinas, SP. Editora da Unicamp, 2004.

THOMPSON, Edward Palmer. A formação da classe operária inglesa. Vol. I, II e III. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

_________________________. Costumes em Comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

FONTES

Relatórios mensais da Southern Brazil Lumber and Colonization Company – Abril de 1917. APESC (Arquivo Público do Estado de Santa Catarina).

JORNAIS Gazeta do Povo – Curitiba – PR

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