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CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMULAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NA AGENDA GOVERNAMENTAL BRASILEIRA

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Academic year: 2021

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CONSIDERAÇÕESSOBREAFORMULAÇÃODOSISTEMAÚNICODEASSISTÊNCIASOCIALNA AGENDAGOVERNAMENTALBRASILEIRA

Dalva Eliá da Silva1 Mônica de Castro Maia Senna2

RESUMO

Este artigo tem por finalidade a apresentação de resultados parciais, das investigações realizadas acerca do processo de formulação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, a partir da inserção da Política de Assistência Social na agenda política do governo federal, no ano de 2003. Os resultados obtidos nessa etapa estão fundamentados na realização de uma pesquisa exploratória, baseada em levantamento bibliográfico e documental, com posterior análise dos mesmos, com vistas à identificação de aspectos importantes acerca do objeto de estudo proposto.

Palavras-chave: Formulação; Política de Assistência Social; Sistema Único de Assistência Social.

1 Mestranda em Política Social pela Universidade Federal Fluminense – UFF em Niterói/RJ, Especialista em Gestão

do SUAS e da Política Nacional de Assistência Social pelo Pitágoras (2011) e Gestão Social pelas Faculdades Integradas de Caratinga (2007). Graduada em Serviço Social pelas Faculdades Integradas de Caratinga (2006) E-mail: dalvaelia@hotmail.com; dalvaelia@gmail.com

2 Professora Associada e Coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social da Universidade

Federal Fluminense – UFF em Niterói/RJ, Doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (2004), Mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1995) e Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense – UFF (1989). E-mail: monica.senna@globo.com

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INTRODUÇÃO

O presente artigo destina-se a apresentar os primeiros resultados da pesquisa intitulada “Análise do processo de formulação do Sistema Único de Assistência Social”. A mesma encontra-se vinculada à linha de pesquisa “Avaliação de Políticas de Seguridade Social”, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, e tem como questão central a análise do processo de formulação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, a partir da inserção da Política de Assistência Social na agenda política3 do governo federal, no ano de 2003.

Entendemos que a realização da análise proposta se constitui num importante objeto de estudo, à medida que pretende contribuir para o aprofundamento da discussão em torno das reais condições que corroboraram para que o processo de formulação do SUAS se materializasse.

Embora a criação de um sistema único, descentralizado e participativo, já estivesse prescrita desde a regulamentação da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742 de 1993), sua formulação foi impulsionada apenas dez anos depois, no primeiro ano de governo do presidente Lula, em 2003. O que aconteceu a partir da realização da IV Conferência Nacional de Assistência Social que deliberou pela imediata formulação e implementação do SUAS.

De acordo com Sátyro e Schettini (2011), a realização da IV Conferência Nacional de Assistência Social entrou em consonância com os objetivos estabelecidos pela agenda governamental voltada para a Assistência Social e contou com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS, que havia sido recém-criado. Assim, foram iniciados esforços para a

3 O conceito de agenda política utilizado no decorrer deste trabalho está fundamentado em Viana e Baptista (2008).

Segundo as autoras, a delimitação desta agenda constitui um artefato de decisão política, em que são definidos os problemas que terão prioridade no tratamento dado pelas autoridades governamentais. Algumas questões da agenda passam, pois, a ser objeto de decisão e de ações políticas que se concretizam, as quais podem ser evidenciadas em meio a Política de Assistência Social nas ultimas décadas.

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regulamentação do SUAS, o que ocorreu no ano seguinte quando o Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, após discutir amplamente a proposta elaborada por diversos sujeitos governamentais e não governamentais, aprovou a Política Nacional de Assistência Social – PNAS/20044.

Todavia, as condições que corroboraram para que o processo de formulação do SUAS adquirisse materialidade não encontram-se explicitadas, o que nos possibilita uma série de indagações: Quais fatores contribuíram para que a formulação do SUAS se efetivasse apenas a partir de 2003? Que aspectos do contexto político-ideológico contribuíram para o resgate de ações voltadas para agenda de governo no âmbito da Política de Assistência Social? Quais sujeitos estiveram envolvidos e qual a importância de cada um desses sujeitos no processo de tomada de decisão que culminou na formulação do SUAS? Quais motivos levaram a escolha de algumas alternativas em detrimento de outras no processo de formulação do SUAS, no momento de elaboração de seus instrumentos normativos: a Política Nacional de Assistência Social, em 2004, e a Norma Operacional Básica/SUAS5, em 2005?

Pretendemos ao final da pesquisa, encontrar respostas para essas indagações. A princípio, a análise em torno do referencial teórico utilizado, que parte de uma perspectiva crítica, tem conduzido ao entendimento de que a formulação do SUAS vem se materializar como uma estratégia política de resistência, devido ao espaço temporal identificado entre a regulamentação da LOAS/93 e a elaboração da PNAS/2004. Estratégia essa, articulada entre os diversos sujeitos e instituições que, historicamente estiveram envolvidos nesse processo.

Outra questão refere-se ao fato de que, embora o SUAS tenha assumido importância significativa no atual contexto configurando-se como um dos eixos estruturadores do Sistema de Proteção Social Brasileiro, torna-se evidente a necessidade de aprofundamento teórico sobre

4 Regulamentada através da Resolução 145 do Conselho Nacional de Assistência Social, de 15 de outubro de 2004

sendo publicada no Diário Oficial da União, em 28 de outubro do mesmo ano.

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A Norma Operacional Básica, aprovada através da Resolução 130 do Conselho Nacional de Assistência Social em 15 de julho 2005, disciplina a operacionalização da gestão da política de assistência social, conforme a Constituição Federal de 1988, a LOAS e legislação complementar aplicável nos termos da Política Nacional de Assistência Social de 2004, sob a égide de construção do SUAS.

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o processo político de formulação do Sistema, pois se constatou a ausência de estudos que tratem da temática proposta sobre esse viés.

Assim, realizar esse aprofundamento teórico faz-se necessário, pois, contribuirá com a discussão que permeia o processo de formulação do SUAS, mas sobretudo subsidiará as análises sobre os seus desdobramentos, uma vez que o desenho final assumido pelo Sistema traz implicações diretas ao momento de sua implementação.

Dadas estas circunstâncias, procuramos ampliar a compreensão acerca do fenômeno estudado, o que nos conduziu a realização de uma pesquisa exploratória com levantamento documental e bibliográfico, cujo objetivo principal foi proporcionar uma maior aproximação com a realidade estudada e o esclarecimento de questões pertinentes ao objeto investigado.

Pretendemos ainda que a realização dessa pesquisa exploratória possa subsidiar o mapeamento de sujeitos e instituições que estiveram direta e/ou indiretamente envolvidos com o processo de formulação do SUAS. O que delineará o quadro empírico da pesquisa.

O levantamento documental teve como enfoque as legislações que normatizam a Política de Assistência Social e o SUAS, e contou ainda com a utilização do Relatório Final da IV Conferência Nacional de Assistência Social. Já em relação ao levantamento bibliográfico foram priorizados referenciais que contemplaram tanto o conteúdo acerca da Política de Assistência Social e do SUAS, como os que compõem a literatura específica sobre análise de formulação de políticas públicas.

Em ambos os casos identificaram-se aspectos significativos que devem ser apropriados ao analisarmos o processo de formulação do SUAS, conforme veremos a seguir. Antes porém, cabe ressaltar que concordamos com Sampaio e Araújo Jr. (2006), ao afirmarem que políticas públicas possuem características processuais, dinâmicas e dialéticas, não sendo possível separá-las em etapas ou fases, para outros fins que não didáticos. Ou seja, o momento de formulação, implementação e avaliação do SUAS, além de estarem intimamente inter-relacionados, são igualmente importantes.

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Assim, a realização da pesquisa exploratória tem proporcionado maior familiarização e a compreensão de aspectos importantes acerca do processo de formulação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, a partir da inserção da Política de Assistência Social na agenda política do governo federal, no ano de 2003, cabendo, nesse momento, à apresentação de resultados parciais conforme veremos a seguir.

DESENVOLVIMENTO

A análise da literatura especializada evidencia que, no decorrer do processo histórico, houve pouca efetividade social e uma lógica de subordinação das políticas sociais em relação a interesses econômicos, e, quando se trata da Política de Assistência Social, agravam-se ainda mais. Muito embora, caracterizada historicamente como não política, a assistência social esteve voltada durante décadas para ações caritativas, de tutela, apadrinhamento, favor e clientelismo (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS, 2010).

Essa realidade começa a ser alterada com a regulamentação da Constituição Federal de 1988, quando são identificados avanços em todas as políticas sociais, inclusive a assistência social que passa a integrar o tripé da Seguridade Social6, juntamente com a saúde e a previdência social. Ao adquirir status de política pública de direito do cidadão e de dever do Estado, são transpostas, pela primeira vez em âmbito legal, as barreiras do apadrinhamento, favor, tutela e das ações de caridade.

Contudo, após sua regulamentação foram demandadas legislações específicas para cada área, o que conduziu à instituição da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, processo lento marcado por conflitos e por ofensivas à estruturação da política de assistência, sendo necessária uma intensa articulação entre os diversos atores – visíveis do Legislativo e invisíveis de diversos segmentos –, a fim de conseguir o apoio necessário à aprovação da lei orgânica (SÁTYRO; SCHETTINI, 2011).

6 De acordo com a Constituição Federal de 1998, em seu artigo 194, “a Seguridade Social, compreende um conjunto

integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e a assistência social”.

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Baseada na descentralização político-administrativa, no comando único das ações, primazia da responsabilidade do Estado e da participação popular, a LOAS se constitui num avanço importante para a política de assistência social no Brasil, sobretudo, ao apresentar as diretrizes norteadoras das ações que visam garantir o atendimento às necessidades básicas da população usuária.

Essa Legislação introduz um novo desenho institucional que atribui à assistência, o caráter de direito não contributivo e dever do Estado, sinalizando para a necessidade de integração entre o social e o econômico, tendo em vista a universalização e garantia de direitos e acesso aos serviços sociais. Propôs ainda parâmetros da democracia e da cidadania que trazem a marca do debate ampliado e da deliberação pública, sendo proposta a participação da sociedade no controle, na formulação e gestão das políticas assistenciais (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS, 2010). Contudo, é possível observar que, embora a criação de um sistema único, descentralizado e participativo já estivesse previsto desde a regulamentação da LOAS, a agenda no âmbito da Política de Assistência Social, imposta por parte do Executivo Federal nos anos subsequentes, foi determinante nos marcos dessa nova política pública.

São identificadas expressivas alterações institucionais na Política de Assistência Social, tanto no período de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso – FHC, entre os anos de 1995 a 2002, como no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2010. No entanto, essas alterações se materializaram de forma divergente em cada um dos períodos.

Influenciado por um contexto político-ideológico de forte ofensiva neoliberal, o governo FHC optou por um ajuste estrutural que conseqüentemente minimizou as ações da agenda política voltada para a assistência social. É possível observar que não houve uma continuidade em relação às reformas instituídas tanto pela CF/1988 como pela LOAS em 1993, tornando evidente que a agenda presidencial se volta para a criação de uma estrutura paralela à Política de Assistência Social, com a institucionalização do Programa Comunidade Solidária (SÁTYRO; SCHETTINI, 2011).

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Ao final dos dois mandatos do presidente FHC fica claro que as mudanças processadas ocorreram de forma linear e incremental, e a agenda governamental era restrita a ações segmentadas que não caracterizam a construção de uma política de Estado no âmbito da Política de Assistência Social (SÁTYRO; SCHETTINI, 2011).

Maiores mudanças são identificadas apenas no governo Lula quando se presenciam esforços no sentido de resgatar as ações voltadas para a agenda de governo no âmbito da Política de Assistência Social. A partir desse momento, “[...] o presidente tinha uma agenda de governo voltada para os problemas relacionados à assistência social e fez com que essa agenda tivesse peso e significância em seu governo, transformando-a em agenda decisória” (SÁTYRO; SCHETTINI, 2011, p.22). Assim, a deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social entrou em consonância com os objetivos estabelecidos pela agenda governamental no âmbito da Assistência Social.

Com a criação do MDS, em janeiro de 2004, que teve como titular o ministro Patrus Ananias, foram nomeados para os altos cargos da burocracia estatal e para a Secretaria Executiva do CNAS diversos especialistas com reconhecida qualificação técnica e experiências profissionais que estiveram voltadas para a assistência social desde o período de formulação, tanto dos artigos constitucionais, como da LOAS. O propósito dessa ação se constituiu em somar o máximo de esforços para o processo de formulação e regulamentação do SUAS.

A versão preliminar da PNAS foi apresentada pelo MDS, através da Secretaria Nacional de Assistência Social – SNAS, ao CNAS em Junho de 2004, sendo divulgada e discutida amplamente em todos os estados brasileiros através de diversos eventos. Foram realizados seminários, oficinas, encontros, reuniões e palestras que buscavam assegurar o caráter democrático e descentralizado desse processo, de modo que foi possível envolver um grande contingente de pessoas em todos os estados do país. Esse processo conduziu a realização de uma Reunião Descentralizada e Participativa no CNAS, entre os dias 20 e 22 de setembro de 2004, em que se estabeleceu um amplo debate acerca da proposta em pauta. Esse debate culminou com a aprovação, por unanimidade do Colegiado, da Política Nacional de Assistência Social – PNAS, de 2004 (PNAS, 2004).

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Ressalta-se que o decorrer desse processo foi constituído a partir de inúmeras contribuições oriundas dos diversos Conselhos de Assistência Social, Fóruns, Colegiados de Gestores e Secretarias de Assistência Social dos entes federados. Contou ainda com a colaboração de Associações de Municípios e Núcleos de Estudos, vinculados a Universidades, estudantes de Escolas de Serviço Social e Escola de gestores da Assistência Social e também com diversos estudiosos e pesquisadores da área e uma série de sujeitos anônimos (PNAS, 2004).

De modo a assegurar a condução do processo de formulação do SUAS democrática, descentralizada e participativamente, esse mesmo movimento é evidenciado no decorrer da elaboração da Norma Operacional Básica/SUAS – NOB/SUAS de 2005, que se caracteriza como um importante instrumento normativo no âmbito da formulação do SUAS e vem consagrar os eixos estruturantes do Sistema, com vistas a garantir a efetivação de um pacto entre os três entes federados e as instâncias de articulação, pactuação e deliberação, o que possibilita a implementação e consolidação do SUAS em nível nacional (NOB/SUAS, 2005).

Assim, com a regulamentação da PNAS-2004 e da NOB/SUAS-2005 são identificadas importantes mudanças na estrutura organizacional, com o estabelecimento de parâmetros para a conformação do Sistema e de novas bases organizacionais que definem a assistência social em níveis de proteção social, básica e especial, firmando um novo pacto federativo que havia sido desenhado desde a LOAS.

Estavam postas, então, condições político-institucionais favoráveis a alterações significativas para a Política de Assistência Social, que proporcionaram a formulação e implementação de um sistema único, descentralizado e participativo, conforme previsto desde a regulamentação da LOAS em 1993.

Nesse sentido, são identificados aspectos que tendem a contribuir significativamente para a análise do processo de formulação do SUAS. O primeiro deles refere-se ao fato de que tanto as ações do governo de FHC, como do governo Lula, foram pautadas por determinações constitucionais e da própria LOAS.

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Essas determinações constitucionais se apresentam de forma decisiva, uma vez que foram responsáveis por constranger as escolhas do governo FHC, que mesmo estando submetido a um contexto político-ideológico, pressões fiscais e a uma agenda de governo específica, teve suas ações limitadas, pelas determinações constitucionais que se transformaram em barreira protetiva mediante a forte ofensiva neoliberal (SÁTYRO; SCHETTINI, 2011).

Em relação ao governo Lula, tendo em conta estas mesmas determinações constitucionais, foi preconizado o atendimento às demandas relacionadas à assistência social, inserindo a Política de Assistência Social na agenda política do governo. Agenda que se materializou através de três vias: a regulamentação do SUAS, a partir de seus instrumentos normativos, a PNAS/2004 e a NOB/SUAS; a criação de condições para a oferta de serviços socioassistenciais; e a transferência de renda (SÁTYRO; SCHETTINI, 2011).

Outro aspecto identificado está relacionado diretamente a formulação do SUAS. Ao observarmos as considerações de Lobato (2006), acerca do processo de formulação de políticas públicas no contexto de representação de interesses, torna-se perceptivo o fato de que a análise do processo de formulação do SUAS deve levar em consideração tanto as condições histórico-estruturais, como as condições específicas de formação social do Estado brasileiro.

Se por um lado as políticas públicas se expressam a partir da relação entre Estado e sociedade, em que esse relacionamento é determinado por condições histórico-estruturais de desenvolvimento de uma formação social. Por outro, o processo de formulação de políticas públicas possui especificidades que demandam o tratamento de condições dadas pela organização sociopolítica específica que formula a política pública em questão. Assim, é necessário ter em conta não apenas as organizações política e social vigentes, como também as condições econômicas e, em maior ou menor proporção as condições culturais e tecnológicas (LOBATO, 2006).

Esta consideração faz-se necessária uma vez que essas condições possivelmente se reproduziram no processo político que circunscreveu a formulação do SUAS. O que pode ser observado a partir da manifestação de diferentes interesses apresentados como demandas

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pelos diversos sujeitos sociais, que se encontravam interagindo com o Estado através de suas instituições representativas, ou seja, através do CNAS e do próprio MDS.

A princípio é possível perceber a existência de um esforço conjunto para a construção do Sistema, tanto por parte do MDS como do CNAS. Com o objetivo de formularem uma proposta de regulamentação da Política de Assistência Social que subsidiasse a criação do SUAS, o MDS viabilizou a participação de diversos especialistas que possuíam qualificação técnica reconhecida, nomeado-os para os vários cargos da burocracia estatal.

Já o CNAS possibilitou a condução da discussão dessa proposta, de forma amplamente democrática e descentralizada com vistas a envolver um grande contingente de pessoas de todos os estados do país, o que culminou com a aprovação da PNAS em 2004.

Contudo, consideramos a hipótese de que os vários sujeitos sociais que se encontravam direta ou indiretamente envolvidos no processo político que circunscreveu a formulação do SUAS, apresentavam demandas específicas que foram permeadas por interesses diversos. Acreditamos que essas demandas foram radicadas por condições histórico-estruturais e por condições especificas oriundas da formação social do Estado Brasileiro. O que pode ter influenciado o processo de formulação do SUAS, tanto em nível social como político, no âmbito das relações estabelecidas entre o Estado e a sociedade civil no cenário brasileiro.

Cabe observar que essa hipótese será objeto de análises aprofundadas posteriormente. A princípio a compreensão desses aspectos vem corroborar para o entendimento de que, ao considerarmos o espaço temporal identificado entre a regulamentação da LOAS/1993 e a elaboração da PNAS/2004 o processo de formulação e institucionalização do Sistema vem se materializar como uma estratégia política de resistência articulada entre os diversos sujeitos sociais e instituições que historicamente estiveram envolvidos no processo de formulação do SUAS.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizar as reflexões propostas, identificaram-se importantes aspectos referentes ao processo de formulação do SUAS, a partir de sua entrada na agenda política do governo federal. No entanto, cabe-nos observar que essas reflexões merecem tratamento teórico aprofundado, o que será realizado posteriormente, de modo que esse processo reflexivo possa se constituir como uma importante contribuição aos diversos sujeitos envolvidos direta ou indiretamente com o SUAS.

Como explicitado, as reflexões apresentadas referem-se a resultados parciais de um amplo processo investigativo em que a realização da pesquisa exploratória vem apresentando-se de forma ímpar, à medida que tem possibilitado melhores condições de compreensão e análise acerca do objeto estudado.

Sem a pretensão de ter esgotado toda temática, esperamos que, além de nos aproximarmos da realidade estudada a partir do esclarecimento de questões pertinentes ao objeto investigado, essas reflexões em torno do processo político que circunscreveram a formulação do Sistema Único de Assistência Social venham se constituir como uma contribuição inicial, tanto em âmbito teórico como prático, para todos os sujeitos que se encontram direta ou indiretamente vinculados ao Sistema Único de Assistência Social.

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REFERÊNCIAS

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_________. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência

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_________. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME (MDS). CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CNAS). Resolução n. 145, de 15 de outubro de 2004. Política Nacional Assistência Social — PNAS. Brasília, 2004.

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Referências

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