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TRABALHO E ALIENAÇÃO NA SOCIEDADE DO CAPITAL

Ítalo Andrade Lima

Graduado em Filosofia pela UECE

italoandrad27@hotmail.com

Resumo

Esta pesquisa tem por objetivo abordar o trabalho em sua forma particular, ou seja, o trabalho como fonte de produção de mais-valia como fundamento do modo de produção capitalista. O trabalho assalariado representa a relação de compra e venda de força de trabalho, a separação entre produto e produtor, a propriedade e os meios de produção privados. O trabalho, uma vez marcado pela alienação, incide em uma alienação não apenas da vida produtiva, mas também na vida genérica. A atividade pessoal na sociedade burguesa aparece como atividade para o outro. A apropriação como alienação e a alienação como apropriação, o trabalho alienado e a vida alienada como o homem estranho a si mesmo. A presente proposta de estudo se inscreve em um horizonte prático do pensar, indicando: os fundamentos ontológicos, a essência da sociedade capitalista, os fenômenos político-sociais e o conjunto das relações sociais marcados pela alienação.

INTRODUÇÃO

Na sociedade burguesa, a divisão entre os meios de produção e os produtores, transforma uma massa, anteriormente camponesa e artesã em “trabalhadores livre” para venderem sua força de trabalho. Sendo neste processo – de compra e venda da força de trabalho, do trabalho assalariado – que o trabalho excedente – trabalho não pago – toma forma de capital, ou seja, capital é o trabalho socialmente expropriado, acumulado e posto a funcionar de forma crescente, gerando assim, cada vez mais, capital. Segundo Marx,

A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez mais do que estabelecer novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das que existiram no passado.1

O processo que gera o trabalhador assalariado surge, ainda, no interior do sistema feudal. O advento do sistema capitalista tem suas origens no declínio do modo de produção feudal. Com o desenvolvimento das forças produtivas e o movimento de acumulação de capital, cai por terra o sistema econômico feudal, inaugurando outro modo de produção, pautado, agora, na propriedade e nos meios de produção privados, bem como no trabalho assalariado. Marx afirma que “o processo que produz o assalariado e o capitalista tem suas raízes na sujeição do trabalhador. O processo

1

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consistiu numa metamorfose dessa sujeição, na transformação da exploração feudal em exploração capitalista”2.

Notemos que é ainda no interior do modo de produção feudal que surgirá “duas espécies diferentes de possuidores”, de um lado os possuidores “do dinheiro, de meios de produção e de meios de subsistência, empenhados em aumentar a soma de valores que possui, comprando a força de trabalho alheia” - e de outro os “trabalhadores livres” - “vendedores da força de trabalho”3-. É este movimento – de

acumulação de capital e desenvolvimento das forças produtivas – que dará origem ao modo de produção capitalista. Marx descreve que:

no início é apenas ponto de partida torna-se, em virtude da mera continuidade do processo, da reprodução simples, o resultado peculiar, constantemente renovado e perpetuado da produção capitalista. De um lado, o processo de produção transforma continuamente a riqueza material em capital, em meio de expandir valor e em objetos de fruição do capitalista. Por outro lado, o trabalhador sai sempre do processo como nele entrou, fonte pessoal de riqueza, mas desprovido de todos os meios para realizá-la em seu proveito. Uma vez que, antes de entrar no processo, aliena seu próprio trabalho, que se torna propriedade capitalista e se incorpora ao capital, seu trabalho durante o processo se materializa sempre em produtos alheios.4

A separação entre a riqueza socialmente produzida e quem, de fato, a produz. Segundo Marx, "a separação entre o produto do trabalho e o próprio trabalho, entre condições objetivas do trabalho e a força subjetiva do trabalho, é, portanto, o fundamento efetivo, o ponto de partida do processo de produção capitalista"5.

Estavam estabelecidos os meios necessários para o desenvolvimento pleno do modo de produção capitalista, tínhamos agora a propriedade e os meios de produção sob o domínio de uma classe, estabelecendo a divisão social do trabalho, entre quem detém os meios de produção e quem depende, exclusivamente, da sua força de trabalho para sobreviver.

É nesse processo que a força de trabalho tornar-se-á uma mercadoria, afinal, não haveria outra condição para sobrevivência do “recém-formado” proletariado a não ser vender sua própria força de trabalho, bem como não haveria outro mecanismo para geração e acumulação de capital, para a classe capitalista, a não ser se tal

2

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política, Livro I, Volume II. [1867] Trad. Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1980, p. 831.

3

Cf. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política, Livro I, Volume I, p. 832.

4

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política, Livro I, Volume I, p. 164.

5

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classe passasse a comprar trabalho alheio, expropriando parte do que é produzido, constituindo uma nova relação social de produção, pautada agora na apropriação do produto final do trabalho humano. Como descrito por Marx,

Com tão imenso custo, estabeleceram-se as 'eternas leis naturais' do modo capitalista de produção, completou-se as o processo de dissociação entre trabalhadores e suas condições de trabalho, os meios sociais de produção e de subsistência se transformam em capital, num pólo, e, no pólo oposto, a massa da população se converteu em assalariados livres, em 'pobres que trabalham', essa obra-prima da indústria moderna.6

DESENVOLVIMENTO

Toda produção da vida humana tem seu ponto de partida na transformação da natureza em produtos que tenham como fim a reprodução social da espécie. Nos marcos do capital, o trabalho necessário para transformação da natureza passa a ser assalariado, e, seu produto, não mais destinado a quem o produz, mas, a quem lhe compra a força de trabalho. Durante o processo de produção, a mercadoria terá um valor condizente ao valor da força de trabalho despejada para sua confecção, ou seja, quanto mais trabalho despejado, mais valor terá uma mercadoria. Assim, o que determinará o valor de uma mercadoria será o trabalho, que, por sua vez, acumulado transformar-se-á se em capital. Ou como bem explica Marx,

não se compra força de trabalho para satisfazer as necessidades pessoais do adquirinte por meio dos serviços que ele presta ou do que ela produz. O objetivo do comprador é aumentar seu capital, produzir mais mercadorias que contem mais trabalho do que ele paga e cuja venda realiza a parte do valor obtido desse modo de produção. A força de trabalho só é vendável quando conserva os meios de produção como capital, reproduz seu próprio valor como capital e proporciona, com o trabalho não pago, uma fonte de capital adicional7.

No modo de produção capitalista, a força de trabalhado torna-se uma mercadoria, isto porque a relação entre produtor e produto passa a ser mediada pela relação de compra e venda da força de trabalho, portanto, o trabalho passa a tomar forma de trabalho assalariado. Reportamo-nos, novamente a Marx, quando este afirma que “a existência do trabalhador assalariado encontra-se reduzida às mesmas

6

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política, Livro I, Volume II, p. 878.

7

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condições de qualquer outra mercadoria. O trabalhador tornou-se uma mercadoria e terá muita sorte se puder encontrar um comprador”8.

Enquanto categoria particular, o trabalho – uma vez expropriado - passa a ser o mote do desenvolvimento do modo de produção capitalista. Consideramos, desse modo, que Marx aborda a categoria trabalho tanto em sua forma universal, trabalho como ação de transformação da natureza, exterior ao homem e, portanto, meio de atender suas necessidades; quanto em sua forma específica, trabalho enquanto mercadoria, por isso, afirmamos, assim como Marx, que o processo de produção inicia-se na compra e venda da força de trabalho, assim, a atividade vital ao homem torna-se atividade vital para produção e acumulação de capital. O trabalho, portanto, é fundamental na produção do ser social, e quando seu produto é apropriado, dar-se-á origem ao capital9. Nesse sentido Marx afirma que:

O sistema pressupõe a dissociação entre os trabalhadores e a propriedade dos meios pelos quais realizam o trabalho. Quando a produção capitalista se torna independente, não se limita a manter essa dissociação, mas a reproduz em escala cada vez maior. O processo que cria o sistema capitalista consiste apenas no processo que retira ao trabalhador a propriedade de seus meios de trabalho, um processo que transforma em capital os meios sociais de substituição e os de produção e converte em assalariados os produtores diretos.10

O processo de aprofundamento das relações capitalista de produção torna não apenas o produto do trabalho humano uma mercadoria, com fins últimos a obtenção de lucro, mas transforma, também, o trabalho humano, a força de trabalho, necessário para o ato de produção, uma mercadoria. Goldmann afirma que:

No início, o grupo produzia para seu próprio consumo e só intercambiava alguns bens excedentes por outros que ele mesmo não podia produzir; ao final desta evolução os grupos desapareceram como unidades econômicas e os indivíduos passaram a produzir apenas para a venda. (...) É assim que a produção para o mercado (e sua forma desenvolvida, a produção capitalista) não apenas contem em si a possibilidade de uma economia universal, mas também representa um fator ativo de dissolução de todas as antigas economias naturais que ela tende a substituir.11

Dessa maneira, no modo capitalista de produção, o trabalho torna-se meio de realização de mercadorias, não mais meio de satisfação de necessidades. Os homens

8

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos, p. 102.

9

Cf. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política, Livro I, Volume II.

10

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política, Livro I, Volume II, p. 830.

11

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não desempenham livremente tal atividade, mas ao contrário, nega-se a si mesmo, vê-se reduzido a outro animal qualquer. O produto de vê-seu trabalho não mais lhe pertence, mas, pertence a quem lhe compra a força de trabalho.

O trabalhador, nesse contexto, privado da propriedade, dos meios de produção e reduzido à necessidade objetiva de vender sua força de trabalho, tende a substituir sua consciência de produtor à mera expressão de vendedor de força de trabalho. Assim, o trabalhador reduz-se, ele mesmo, a uma mercadoria desse modo de produção, a ser incorporado no ato de produção. Marx afirma que:

O trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quando mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz somente mercadorias; ele produz a si mesmo e ao trabalhador como mercadoria, e isto na medida em que produz, de fato, mercadorias em geral.12

O trabalho alienado, originário das relações capitalistas de produção apresenta-se como mecanismo de subjugação do trabalhador ao processo produtivo e ao produto de seu trabalho. Segundo Marx:

Este fato nada mais exprime, senão: o objeto que o trabalho produz, o seu produto, se lhe defronta como um ser estranho, como um poder independente do produtor. O produto do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto, fez-se coisal, é a objetivação do trabalho. A efetivação do trabalho é a sua objetivação. Esta efetivação do trabalho aparece ao estado nacional-econômico como desefetivação do trabalhador, a objetivação como perda do objeto e servidão ao objeto, a apropriação como estranhamento, como alienação.13

O desenvolvimento da economia capitalista e a consequente e necessária existência da propriedade privada, enquanto expressão da divisão da sociedade entre produtores e expropriadores, denota o caráter alienante existente na relação social de produção. “Durante o tempo de trabalho, o operário não mais se pertence; não é mais ele mesmo, transformado não só em objeto, mas em objeto pertencente a outro, ele é, ao mesmo tempo, ‘reificado’ e ‘alienado’”14. Marx afirma que:

Uma conseqüência imediata da alienação do homem a respeito do produto do seu trabalho, da sua vida genérica, é a alienação do

homem relativamente ao homem. Quando o homem se contrapõe a si

mesmo, entra igualmente em oposição com os outros homens. O que

12

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos, p. 80.

13

Ibidem.

14

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se verifica com a relação do homem ao seu trabalho, ao produto do seu trabalho e a si mesmo, verifica-se também com a relação do homem aos outros homens, bem como ao trabalho e ao objeto do trabalho dos outros homens. De modo geral, a afirmação de que o homem se encontra alienado da sua vida genérica significa que um homem está alienado dos outros, e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado da vida humana15

O produto do trabalho, enquanto exterioridade e objetivação do movimento de transformação da natureza apresenta-se, no modo de produção capitalista, aparentemente desprendido de seu produtor, a alienação decorre justamente do fato do produto do trabalho aparecer como coisa em si mesma, como algo fruto do não-trabalho, ou seja, não é entendido como um produto a satisfazer as necessidade de seu produtor, mas é tido como meio de se efetivar um mais valor.

A consciência é obscurecida num processo produtivo onde a mercadoria aparece com feições humanas. Atividade vital ao homem, o trabalho, uma vez marcado pela alienação, própria do modo de produção capitalista, incide na alienação não apenas da vida produtiva, mas também na vida genérica. A atividade pessoal na sociedade burguesa aparece como atividade para o outro, a apropriação como alienação e a alienação como apropriação, o trabalho alienado e a vida alienada como os homens estranhos a si mesmos. Georg Lukács destaca que:

A característica principal da organização social capitalista deveria ser buscada então no fato de que a vida econômica deixou de ser um instrumento para a função vital da sociedade e se colocou no centro: se converteu em fim em si mesmo, o objetivo de toda a atividade social. A primeira conseqüência, e a mais importante, é a transformação da vida social em uma grande relação de troca; a sociedade em seu conjunto tomou a forma de mercado. Nas distintas funções da vida, tal situação se expressa no fato de que cada produto da época capitalista, como também todas as energias dos produtores e dos criadores, reveste a forma de mercadoria.16

É nesse processo de dissociação do trabalhador com relação ao produto do seu trabalho, que teremos a origem do estranhamento do trabalho, estendendo-se a todas as esferas da vida humana. Processo esse que a mercadoria produzida apresenta-se de forma autônoma para os indivíduos, reduzindo-os a condição de

homo faber, ao fazer repetitivo do ato de produção de mercadorias, relegado ao

simples ato de consumo para sobrevivência, destituindo-os da possibilidade de

15

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos, p. 166.

16

LUKÁCS, George. Velha e Nova Cultura. <http://www.marxists.org/port/lukacs/1920/cultura>. Acessado em 11/11/2011.

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desenvolvimento das plenas capacidades humanas, tanto intelectual, quanto material. Desse modo, Marx afirma que:

Examinamos o ato do estranhamento da atividade humana prática, o trabalho, sob dois aspectos. 1) A relação com o produto do trabalho como objeto estranho e poderoso sobre ele. Esta relação é ao mesmo tempo a relação com o mundo exterior sensível, com os objetos da natureza como um mundo alheio que se lhe defronta hostilmente. 2) A relação do trabalho com ato da produção interior do trabalho. Esta relação é a relação do trabalhador com a sua própria atividade como uma [atividade] estranha não pertence a ele, a atividade como miséria, a força como impotência, a procriação como castração. A energia espiritual e física própria do trabalhador, a sua vida pessoal – pois o que é vida senão atividade – como uma atividade voltada contra ele mesmo, independente dele, não pertencente a ele. O estranhamento-de-si, tal qual acima o estranhamento da coisa.17

O caráter fetichista da mercadoria apresenta-se na medida em que a mercadoria transforma-se em algo exterior, como um algo para além do trabalho, ou um não produto do trabalho, cujo valor se expressa como uma abstração materializada pelo dinheiro, obscurecendo as relações sociais de produção. Dessa maneira, a mercadoria é vista como uma coisa em si, portadora de uma autodeterminação, autônoma e desprendida das relações humana quanto a sua existência. Segundo Marx,

A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentado-as como característicapresentado-as materiais de propriedade sociais inerentes aos produto do trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la como relação social existente, à margem deles, entre os produtos do seu próprio trabalho. Através dessa dissimulação, os produtores se tornam mercadorias, coisas sociais, com propriedades perceptíveis e imperceptíveis aos sentidos.18

Todavia, todo caráter místico, das mercadorias, desaparece quando se revelam as relações sociais que possibilitaram sua produção, quando se verifica que ela é um produto do trabalho humano. Marx afirma que:

Refletir sobre as formas da vida humana e analisá-las cientificamente é seguir rota oposta à do seu verdadeiro desenvolvimento histórico. Começa-se depois do fato consumado, quando estão concluídos os resultados do processo de desenvolvimento. As formas que convertem os produtos do trabalho em mercadorias, constituindo pressupostos da circulação das mercadorias, já possuem a

17

MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos, p. 120.

18

(8)

consistência de formas naturais da vida social, antes de os homens se empenharem em apreender não o caráter histórico dessas formas, que eles, ao contrario, consideram imutáveis, mas seu significado. Assim, só a analise dos preços das mercadorias levava à determinação da magnitude do valor, só a expressão comum, em dinheiro, das mercadorias induzia a estabelecer-se sua condição de valor. É porem essa forma acabada do mundo das mercadorias, a forma dinheiro, que realmente dissimula o caráter social dos trabalhos privados e, em conseqüência, as relações sociais entre os produtores particulares, ao invés de pô-las em evidencia.19

A alienação do trabalho ultrapassa os limites geográficos do espaço de produção, o estranhamento do produtor em relação ao produto de seu trabalho representa também uma alienação dos indivíduos entre os outros, a alienação do trabalho, assim configura-se também como alienação da vida social.

O processo de alienação age no sentido de transformar todas as relações sociais em aparatos de reprodução do desenvolvimento do modo de vida burguês. O trabalho, enquanto atividade pertencente a todos os homens, atividade esta que deveria ter como sentido a satisfação das necessidades, apresenta-se como atividade pertencente ao outro no modo de produção capitalista. Segundo Marx, essa relação,

do trabalho é representado pelo valor do produto de trabalho e a duração do tempo de trabalho pela magnitude desse valor. Formulas que pertencem, claramente, a uma formação social em que o processo de produção domina o homem e não o homem o processo de produção são consideradas pela consciência burguesa uma necessidade tão natural quanto o próprio trabalho produtivo.20

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho, portanto, enquanto fundamento do ser social, e, pode-se dizer, de toda vida social, em sua forma assalariada expressão do conjunto das relações econômicas, sociais, políticas e jurídicas do modo de produção capitalista reproduz uma expressão alienada não apenas em sua atividade produtiva, mas reproduz essa expressão também nas relações sócias estabelecidas. O modo de produção capitalista caracteriza-se, dessa maneira, pela exploração do homem pelo homem, se complementa e se propaga conforme estende sua reprodução a todas as esferas da vida humana. A homologação do novo modo de viver condiz com a expansão da

19

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política, Livro I, Volume I, p. 81

20

(9)

massificação e da padronização, que se estende a todas as atmosferas da vida humana. Nesse sentido Goldmann afirma que:

o fenômeno social fundamental da sociedade capitalista: a transformação das relações humanas qualitativas em atributos quantitativo das coisas inertes, a manifestação do trabalho social necessário empregado para produzir certos bens como valor, como qualidade objetiva desses bens; a reificação que conseqüentemente se estende progressivamente ao conjunto da vida psíquica dos homens, onde ela faz predominar o abstrato sobre o concreto e o qualitativo.21

A divisão do trabalho opera no sentido de instrumentalizar a conhecimento humano, direcionando-o a uma única atividade, continua e repetitiva. A crescente tecnificação e os novos aparatos tecnológicos apresentam-se como aparelhos de dominação da vida, tanto em um sentido objetivo, quanto subjetivo. Desse modo, a vida humana passa a ser regida por uma lógica de reprodução de um modo de agir que tem na repetição seriada seu ponto chave para expropriação das capacidades humanas de desenvolvimento material e espiritual. Goldmann ressalta que:

Uma das características fundamentais da sociedade capitalista é a de mascarar as relações sociais entre os homens e as realidades espirituais e psíquicas, dando-lhes o aspecto de atributos naturais das coisas ou de leis naturais. É por isso que as relações de troca entre os diferentes membros da sociedade – transparentes e claros em todas as demais formas de organização social – tomam aqui a forma de um atributo de coisas morta: o preço.22

Dessa maneira, a vida econômica, que tem uma forte influencia sob a vida humana, age no sentido de transformar os homens em sujeitos passivos, num mero espectador do mundo das coisas, despossuindo-o da possibilidade do desenvolvimento pleno dos sentidos humanos. Os homens, nesses termos são relegados a condição de homo faber, a vida humana se reduz ao produzir para consumir, ao existir para trabalhar e o trabalho como um fardo intenso e excessivo necessário apenas como meio de sobrevivência material. Sobre isto, Goldmann afirma que

Em princípio, a religião, a moral, a arte, a literatura, não são nem realidades autônomas, independentes da vida econômica, nem meros reflexos desta. No mundo capitalista, porém, elas tendem a sê-lo, na medida em que sua autenticidade se encontra esvaziada por dentro, graças ao aparecimento de um conjunto econômico autônomo que tende a apoderar-se de modo exclusivo de todas as manifestações da vida humana. (...) O que caracteriza esta relação às outras formas de

21

GOLDMANN, Lucien. Dialética e Cultura, p. 122.

22

(10)

produção é o que se poderia chamar de sua universalidade e sua anarquia.23

A problemática da alienação encontra-se justamente no fato de que é através desse estranhamento dos homens em relação ao produto de seu trabalho e em relação aos outros homens, que o processo de desumanização dos homens, de torná-lo um ser despossuído de sentidos, voltado exclusivamente para o trabalho tende a encobrir toda a sociedade e todo o conjunto das relações sociais sob o véu da reificação e da naturalização das contradições econômicas, sociais, políticas e jurídicas decorrente desse modo de produção.

A vida alienada representa, portanto uma vida destituída de sentidos, de significação, o trabalhador trabalha não para produzi-lo, mas trabalha para receber o salário, mesmo quando deixa à vida econômica, o trabalho, seu cotidiano continua pautado pelas relações de produção. A alienação é uma realidade social, específica desse modo de produção. A alienação, portanto, é um fenômeno estritamente ligado ao modo de produção capitalista, ao modo de viver burguês. Lukács afirma que

Tal problemática é intensificada ainda mais pelo fato de o mundo exterior que trava contato com essa interioridade, em correspondência com a relação de ambos, ter de ser plenamente atomizado ou amorfo, ou em todo caso vazio de todo o sentido. É um mundo plenamente regido pela convenção, a verdadeira plenitude do conceito de segunda natureza: uma síntese de leis alheias ao sentido, nas quais não se pode encontrar nenhuma relação com a alma. Com isso, entretanto, todas as objetivações da vida social próprias às estruturas perdem todo o significado para a alma. Nem sequer seu significado paradoxal, como materialização e palco necessário dos acontecimentos, apesar de uma inessencialidade do núcleo essencial último, pode ser resguardado; a profissão perde toda importância para o destino intrínseco do homem isolado, assim como o casamento, a família e a classe, para o destino de suas relações mútuas.24

23

GOLDMANN, Lucien. Dialética e Cultura, p., p. 112.

24

LUKÁCS, George. A teoria do romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as formas da

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