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A MORFOGÊNESE DE FORMAS DENUDACIONAIS NO SUDOESTE DO RIO GRANDE DO SUL

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Academic year: 2021

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A MORFOGÊNESE DE FORMAS DENUDACIONAIS NO SUDOESTE DO RIO GRANDE DO SUL

NINA SIMONE VILAVERDE MOURA FUJIMOTO1 Professora Doutora. nina.fujimoto@ufrgs.br - UFRGS

FELIPE DE SOUSA GONÇALVES2 Bolsista PIBIC/CNPq. felipesousars@bol.com.br – UFRGS

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho esteve inserido em um projeto maior cuja busca deu-se na continuidade à pesquisa desenvolvida sobre a arenização no sudoeste do estado do Rio Grande do Sul e pretende investigar a gênese de uma forma denudacional na bacia hidrográfica do Arroio Miracatu no município de Manoel Viana - RS. Tais formas se desenvolvem na cobertura superficial do relevo, em cabeceiras de drenagem e se apresentam no terreno com formato arredondado ou semicircular (Figura 1). A ideia é de que as formas denudacionais estejam relacionadas com processos físicos e químicos que ocasionam a perda de elementos do solo e da rocha, causando na sequência o abatimento do relevo, baseado nos pressupostos da Teoria da Etchplanação descritos por Büdel (1957) apud Vitte (2001), entre outros.

O objetivo principal é investigar a origem de formas denudacionais que se desenvolvem em cabeceira de drenagem, tratada por degrau de abatimento, conforme Soares et all (2003) e Fujimoto e Zancanaro (2008). Para tanto foi realizado uma análise, no âmbito regional, das características geológicas, geomorfológicas e pedológicas da área de estudo, bem como a caracterização dos sedimentos, coletados em campo, através de testemunhos nos degraus de abatimento.

A figura 2 representa a área de estudo e arredores, na região sudoeste do estado do Rio Grande do Sul, a qual apresenta três unidades geomorfológicas: o Planalto Meridional, a Depressão Periférica e a Cuesta do Haedo. A área em estudo insere-se na Depressão Periférica, domínio litológico das formações Serra Geral e Botucatu, caracteriza-se por uma paisagem campestre e pedologia frágil aos processos

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Professora Doutora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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erosivos, onde se desenvolve um processo particular denominado arenização, de acordo com Suertegaray (1998). O território de Manoel Viana limita-se com os municípios de Alegrete, Maçambará, Itaqui e São Francisco de Assis, distando 468 km de Porto Alegre, e tem como coordenadas geográficas 29º35'21"S de latitude e 55º28'58"W de longitude.

Figura 1: Degrau de abatimento localizado no município de Manoel Viana, RS. Fotografia: Dirce Maria Antunes Suertegaray (2008).

Figura 2: Localização da área de estudo no contexto das Unidades Geomorfológicas do estado do Rio Grande do Sul.

Fontes: Suertegaray e Fujimoto (2004) e Carta Topográfica do SGE na Escala 1:50.000. Elaboração: Felipe de Sousa Gonçalves (2009).

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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E OPERACIONAIS

A metodologia adotada para a elaboração desta pesquisa é constituída por três atividades, onde são desenvolvidos os seguintes procedimentos: atividades de gabinete, atividades de campo e atividades de laboratório. Os procedimentos adotados são semelhantes aos realizados por Fujimoto e Zancanaro (2008) em degraus de abatimento localizados em uma vertente de um morro de topo plano no município de São Francisco de Assis (RS).

Na primeira etapa foi feito um levantamento bibliográfico sobre a área de estudo e sobre os degraus de abatimento. Em um segundo momento, a partir de trabalhos de campo, foi realizado a identificação e a localização (com GPS), bem como as medições de duas formas em degrau de abatimento, situados na vertente sul de uma colina.

Na etapa seguinte, foram coletados quatro testemunhos de sedimentos superficiais nos dois pontos de coleta, a jusante e a montante dos degraus de abatimento, a fim de identificar as alterações nas propriedades sedimentológicas dos materiais estudados.

Em seguida, os sedimentos coletados em campo foram submetidos à análise sedimentológica no Laboratório de Sedimentologia do CECO (Centro de Estudos Costeiros e Oceânicos - IGEO/UFRGS), dividida nos seguintes passos:

Ø Macroscopia: É realizada com a utilização do sistema de paletas Color

Chart, segundo Goddar (1975). A análise macroscópica permite a

individualização de estratos dos testemunhos, seja por agregação, textura, umidade ou cor, para posterior análise granulométrica;

Ø Granulometria: Para sedimentos finos (inferiores a 0,062mm) se aplicada a técnica da Pipetagem, baseada na Lei de Stokes3. Os sedimentos grossos são peneirados e individualizados a partir da escala granulométrica de

Wentworth4, conforme Wentworth (1922) e Krumbein (1934);

Ø Morfoscopia: O estudo de forma, textura e esfericidade de grãos, conforme as considerações de Suguio (1973) e;

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Método para assentamento de frações de sedimentos finos: silte e argila

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Ø Mineralogia: Este processo consiste na separação dos minerais pesados5 dos leves, para isso são utilizados dois métodos clássicos de separação, por líquido denso e separador magnético.

Além disso, foi enviada para o laboratório de difratometria de raio-x amostras dos sedimentos para a identificação de óxidos de ferro.

3. RESULTADOS

A partir da localização dos degraus de abatimento na imagem de satélite pode-se verificar que os mesmos localizam-se predominantemente na parte superior da vertente, ou seja, na cabeceira de drenagem de um subafluente do Arroio Miracatu (Figura 2) e, juntamente com as observações em campo, verifica-se que se encontram em locais onde o escoamento superficial difuso é predominante, ou seja, não há processos de erosão superficial significativo. A altura do degrau foi medida na parte de maior desnível, ou seja, no centro da linha semicircular do desnível e apresenta altura que varia entre 0,1m a 0,35m. Outra medida realizada foi a largura do degrau de abatimento, obtida a partir da distância entre uma ponta a outra da linha de desnível, obtendo-se valores entre 5m a 23m.

A análise sedimentológica indicou que os sedimentos analisados caracterizaram-se pela presença de materiais arenosos, avermelhados, homogêneos e com pouca quantidade de matéria orgânica, evidenciados através da macroscopia (Figura 3). A morfoscopia permitiu observar que o material analisado apresenta forma arredondada e boa esfericidade, fato que os caracterizam como sendo sedimentos bastante retrabalhados, ou seja, há muito tempo no ciclo sedimentar. Sua textura é predominantemente mamelonada polida, fato este que indica natureza fluvial.

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Figura 3: Testemunhos realizados em dois degraus de abatimento (pontos 1 e 2), a montante e jusante de cada desnível e, em cada testemunho, três amostras: topo(T), meio(M) e base(B).

Através da mineralogia constatou-se a ocorrência de minerais pesados instáveis, estáveis e ultra-estáveis como omenitas, turmalinas, zircões, omenita, rutilo, concreções férricas, magnetitas, dentre outros.

A análise granulométrica indicou a predominância das areias finas e médias, em torno de 70%, em todos os testemunhos e também um aumento das areias grossa, média e das argilas, enquanto que diminui a areia fina, muito fina e silte ao longo dos testemunhos, de topo para a base, bem como de montante para jusante dos degraus.

A análise de difratometria de raio-x para a identificação dos óxidos de ferro mostrou a presença de hematita (F2O3) no topo a montante e sua ausência no topo a jusante, em ambos os pontos em estudo (Gráficos 2 e 3). Também a análise mineralógica indicou a presença de hematita no topo a montante e sua ausência no topo à jusante em um dos pontos estudado.

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01-071-1166 (C) - Anatase - TiO2 - Y: 0.55 % - d x by: 1. - WL: 1.5409 - Tetragonal - I/Ic PDF 5. - 00-014-0164 (I) - Kaolinite-1A - Al2Si2O5(OH)4 - Y: 0.61 % - d x by: 1. - WL: 1.5409 - Triclinic - 01-086-0550 (C) - Hematite - synthetic - Fe2O3 - Y: 0.60 % - d x by: 1. - WL: 1.5409 - Rhombo.R.axes - I/Ic PDF 3.3 - 00-033-1161 (D) - Quartz, syn - SiO2 - Y: 101.07 % - d x by: 1. - WL: 1.5409 - Hexagonal - I/Ic PDF 3.6 - Operations: X Offset -0.110 | Import

Nina - File: P1M-Mr.RAW - Type: 2Th/Th locked - Start: 23.00 ° - End: 72.00 ° - Step: 0.02 ° - Step time: 1. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 2 s - 2-Theta: 23.00 ° - Theta: 11.50 ° - P Operations: Import

Nina - File: P1M-M-2-23.RAW - Type: 2Th/Th l ocked - Start: 2.00 ° - End: 23.00 ° - Step: 0.02 ° - Step time: 1. s - Temp.: 25 °C (Room) - Ti me Started: 2 s - 2-Theta: 2.00 ° - Theta: 1.00 ° - P

Lin (C ounts ) 0 100 200 300 400 500 600 700 800 2-Theta - Scale 2 10 20 30 40 50 60 70 d = 3.51 d= 2 .7 0 d = 2.46 d=2 .2 8 d=2.24 d=2.13 d= 1 .9 8 d=1.82 d=1.67 d= 1 .66 d= 1 .54 d=1.54 d=1.45 d=1.38 d=1.38 d= 1 .3 7 d = 1.42 d = 7.15 d=3.34 d=4.25 d=2.51 Quartzo Hematita Anatás io Caolinita P1M-M

Gráfico 2: Resultado da análise de difratometria de raio-X, destacando a presença de hematita no topo do testemunho a montante do degrau (Ponto 1).

Elaboração: Felipe de Sousa Gonçalves (2009).

00-014-0164 (I) - Kaolinite-1A - Al2Si2O5(OH)4 - Y: 0.67 % - d x by: 1. - WL: 1.5409 - 0 - 00-033-1161 (D) - Quartz, syn - SiO2 - Y: 101.06 % - d x by: 1. - WL: 1.5409 - 0 - I/Ic PDF 3.6 - Operations: X Offset 0.030 | Import

NINA - File: P1J-T.RAW - Type: 2Th/Th locked - Start: 2.00 ° - End: 72.00 ° - Step: 0.02 ° - Step time: 1. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 2 s - 2-Theta: 2.00 ° - Theta: 1.00 ° - Phi: 0.

Lin (C o unt s ) 0 100 200 300 400 500 2-Theta - Scale 3 10 20 30 40 50 60 70 d=2.46 d=2. 28 d=2. 23 d=2.13 d=1.9 8 d=1.67 d=1.66 d=1.6 1 d=1.54 d= 1. 45 d=1.38d=1.3 7 d= 7. 19 d=3.33 d=4.25 Quartzo Caolinita P1J-T

Gráfico 3: Resultado da análise de difratometria de raio-X, destacando-se a ausência de hematita no topo do testemunho a jusante do degrau (Ponto 1).

Elaboração Felipe de Sousa Gonçalves (2009).

Este resultado sugere que o processo ocorre em superfície tendo o ferro como o elemento agregador do solo e que a sua remoção através do escoamento superficial e subsuperficial promove a desestabilização do solo, ocasionando o seu colapso e consequentemente a formação do degrau de abatimento.

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4. CONCLUSÕES

Os degraus de abatimento se desenvolvem predominantemente em cabeceiras de drenagem e estão dispostos em local onde não há processos de erosão superficial significativo. Após o colapso da superfície foi observado que se estabelece sobre o degrau de abatimento erosão laminar, devido à exposição do degrau à erosão pluvial, o qual é desprovido de cobertura vegetal. Isso pode indicar que esta forma denudacional está relacionada ao início do processo erosivo, o qual antecede o processo de desenvolvimento de ravinas e voçorocas.

Observamos que há um indicativo de pedogênese, visto que ocorre alteração dos finos. A análise granulométrica indica uma diminuição no tamanho dos grãos tanto de topo para base dos testemunhos, bem como de montante para jusante dos degraus de abatimento.

A predominância de grãos polidos evidenciados através da morfoscopia indica que este material é de origem fluvial, havendo a possibilidade de ele ser originário da Formação Guará que se encontra sob a Formação Botucatu. Segundo Trainini (2005), a região sofreu alçamento tectônico, balizado por linhas de fraqueza, a partir do Terciário até o recente. Em decorrência, a Formação Botucatu (eólico) sustenta o topo convexo dos morros, enquanto que a Formação Guará (fluvial) encontra-se sobrejacente, sustentando as encostas retilíneas e côncavas dos referidos morros.

Por último, as análises sedimentológicas realizadas, sugerem que o processo que origina os degraus de abatimento se dá em superfície, e a sua gênese está relacionada com a perda de óxidos de ferro, o qual é a matriz que adere às partículas unitárias, ligando-as umas as outras. A remoção desse ferro causa a desagregação das partículas, sua acomodação em consequência da retirada da matriz existente entre os grãos, causando dessa forma o colapso da superfície. Segundo Vitte (1998), a dissolução dos óxidos de ferro e/ou alumínio acarreta em colapso nos horizontes superficiais, conduzindo ao desenvolvimento de depressões que paulatinamente se coalescem, resultando no abatimento da superfície. Além disso, em função do aprofundamento dessa superfície e a intensidade da pedogênese por meio do colapso da estrutura ferro-argila, o material grosseiro fica depositado nos horizontes superficiais.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FUJIMOTO, N. S. V. M.; ZANCANARO, C. (2008) Estudo sobre a Origem dos Degraus de Abatimento (Formas Denudacionais de Relevo) em Cabeceiras de Drenagem, Município de São Francisco de Assis, RS. In: VII Simpósio de Geomorfologia. Anais… Belo Horizonte, 1CD-ROM.

GODDAR,C; et al. (1975) Rock Color Chart. Repreinted. Colorado: The geological society of América, Boulder.

KRUMBEIN, W.C. (1934) Size frequency distribution of sediments. Journal of Sedimentary of Petrology, 4:65-77.

SOARES R.E.S., SUERTEGARAY D. M. A., FUJIMOTO N.S. V.M. e NUNES, J.O. R (2003) Investigação sobre a Origem das Formas Denudacionais em Cabeceira de Drenagem. In: X Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. Anais... Rio de Janeiro, 1CD-ROM.

SUERTEGARAY, D. M. A. (1998) Deserto Grande do Sul: controvérsia. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 109p.

SUERTEGARAY, D. M. A. e FUJIMOTO, N. S. V. M. (2004) Morfogênese do Relevo do Rio Grande do Sul. In: VERDUM, R.; BASSO, L. A.; SUERTEGARAY, D. M. A. (orgs). Rio Grande do Sul: paisagens e territórios em transformação. Porto Alegre: Editora da Universidade. UFRGS, p. 11-26.

SUGUIO, K. (1973) Introdução à sedimentologia. São Paulo: Edgar Bücher, 307p. TRAININI, D. R. (2005) A Influência da Neotectônica no Assoreamento de Bacias. In: Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 16., Anais...João Pessoa: ABRH, 1 CD-ROM.

VITTE, A.C. (1998) Etchplanacão em Juquiá (SP). Relações entre o intemperismo químico e as mudanças climáticas no desenvolvimento das formas de relevo em margem cratônica passiva. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

WENTWORTH, C.K.(1922) A scale of grade and class term for clastic sediments. Journal of Geology, 30:377-392.

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