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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH - I

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS

A EXPRESSÃO DA FUTURIDADE VERBAL EM SANTO ANTÔNIO DE

JESUS: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA

EDUARDO PEREIRA SANTOS

Salvador 2012

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH - I

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS

A EXPRESSÃO DA FUTURIDADE VERBAL EM SANTO ANTÔNIO DE

JESUS: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA

EDUARDO PEREIRA SANTOS

Orientadora: Profa. Dra. Norma da Silva Lopes

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Estudo de Linguagens.

Salvador 2012

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EDUARDO PEREIRA SANTOS

A EXPRESSÃO DA FUTURIDADE VERBAL EM SANTO ANTÔNIO DE JESUS: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________ Profa. Dra. Norma da Silva Lopes – UNEB/PPGEL (orientadora)

___________________________________________________________________________ Profa. Dra. Josane Moreira de Oliveira – UEFS

___________________________________________________________________________ Profa. Dra. Cristina dos Santos Carvalho – UNEB

Salvador 2012

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FICHA CATALOGRÁFICA Sistema de Bibliotecas da UNEB

Santos, Eduardo Pereira

A expressão da futuridade verbal em Santo Antônio de Jesus: uma análise variacionista / Eduardo Pereira Santos. - Salvador, 2012.

152f.

Orientadora: Profa. Dra. Norma da Silva Lopes.

Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras. Campus I. 2012.

Contém referências.

1. Linguística. 2.Teoria da variação linguística. 3. Língua portuguesa -Variação - Santo Antonio de Jesus (BA). I. Lopes, Norma da Silva. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas.

(5)

Dedico este trabalho aos dois seres que me servem de base e eixo: minha mãe, Maria José Pereira Santos, e meu companheiro, Zulmiro de Souza Castro Júnior.

(6)

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, perspicaz e humana, Profa. Dra. Norma da Silva Lopes: obrigado por não desistir de mim!

Aos meus professores no mestrado da UNEB, pelo exemplo de dedicação e humildade intelectual, especialmente à Profa. Dra. Cristina dos Santos Carvalho.

Ao Prof. Dr. Dante Lucchesi, da UFBA, por ter cedido tão gentilmente os inquéritos de Santo Antônio de Jesus, e por sugestões fundamentais no início desta pesquisa.

Aos meus colegas da UNEB, que me acompanharam durante os dois anos do curso, com carinho e cuidado, em especial a Orlivalda Reis e Lorena Nascimento.

Aos meus amigos da UFBA, que souberam compreender as minhas dificuldades durante passagem por essa instituição, sem nunca me desestimularem, em especial a Ari Sacramento.

Aos meus amigos não-acadêmicos e/ou pós-acadêmicos, que choraram comigo as dores e riram comigo as alegrias do processo, em especial a Nanci Loula Filha, Jamile Borges, Lícia Sobral e Marcos André Queiroz de Lima.

Aos meus familiares que me deram todo o apoio emocional de que precisei (e preciso!): minhas irmãs, Alana Sheila Santos Silva e Jeruza Jesus do Rosário; meus irmãos, Eric Pereira dos Santos e José Carlos do Rosário Júnior; meus sobrinhos, Lucas e Maria Sofia.

Aos meus colegas do Colégio Estadual Oliveira Britto, parceiros na difícil tarefa de educar, em especial às professoras Ivonildes Santana, Marli dos Santos Socorro, Eliene dos Anjos, Débora Aquino da Silva, Elinaide Aquino da Silva e Sandra Peixoto.

À professora Márcia Brito, por ter traduzido o resumo para o inglês, com presteza e rapidez.

Ao Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria da Educação, pela dispensa em um dos meus turnos de trabalho no início desta pesquisa.

(7)

ORAÇÃO AO TEMPO

(Caetano Veloso)

És um senhor tão bonito Quanto a cara do meu filho Tempo, tempo, tempo, tempo

Vou te fazer um pedido Tempo, tempo, tempo, tempo...

Compositor de destinos Tambor de todos os ritmos Tempo, tempo, tempo, tempo

Entro num acordo contigo Tempo, tempo, tempo, tempo...

Por seres tão inventivo E pareceres contínuo Tempo, tempo, tempo, tempo És um dos deuses mais lindos Tempo, tempo, tempo, tempo...

Que sejas ainda mais vivo No som do meu estribilho Tempo, tempo, tempo, tempo

Ouve bem o que te digo Tempo, tempo, tempo, tempo...

Peço-te o prazer legítimo E o movimento preciso Tempo, tempo, tempo, tempo Quando o tempo for propício Tempo, tempo, tempo, tempo...

De modo que o meu espírito Ganhe um brilho definido Tempo, tempo, tempo, tempo

E eu espalhe benefícios Tempo, tempo, tempo, tempo...

O que usaremos pra isso Fica guardado em sigilo Tempo, tempo, tempo, tempo

Apenas contigo e comigo Tempo, tempo, tempo, tempo...

E quando eu tiver saído Para fora do teu círculo Tempo, tempo, tempo, tempo

Não serei nem terás sido Tempo, tempo, tempo, tempo...

Ainda assim acredito Ser possível reunirmo-nos Tempo, tempo, tempo, tempo

Num outro nível de vínculo Tempo, tempo, tempo, tempo...

Portanto, peço-te aquilo E te ofereço elogios Tempo, tempo, tempo, tempo

Nas rimas do meu estilo Tempo, tempo, tempo, tempo...

(8)

RESUMO

Esta pesquisa trata da expressão da futuridade verbal na cidade baiana de Santo Antônio de Jesus pelo enfoque da Teoria da Variação ou Sociolinguística Variacionista, a partir dos trabalhos de William Labov. Identifica as estratégias de futuridade verbal usadas nessa comunidade de fala, as variáveis linguísticas e sociais condicionadoras da seleção dessas formas em corpus sincrônico de língua falada distensa. Aponta o desaparecimento da forma sintética de futuro. Focaliza a relação entre a forma perifrástica de futuro, formada pelo verbo auxiliar ir e outro verbo no infinitivo, e a forma de presente com valor de futuro. Testa variáveis comuns à área, como ‘Ausência/Presença de outro constituinte de valor temporal’, ‘Paralelismo sintático-discursivo’ e ‘Paradigma verbal’, ‘Papel temático do sujeito’ e ‘Tipo semântico do verbo principal’, mas acrescenta a ‘Telicidade’, como aspecto semântico. Nesta variedade do português falado no Brasil, há o espraiamento da forma perifrástica de futuro, que convive em variação estável com a forma de presente, restrita esta a contextos específicos de uso, a saber: na expressão de futuro pelo verbo ir pleno ou outro verbo, inacusativo ou que apresente o traço acional da telicidade; na presença de outro constituinte de valor temporal; em sentenças matriz vinculadas a outra sentença subordinada adverbial condicional; com sujeito de primeira pessoa (argumento externo) com traço [+ agentivo]. Além dessas variáveis linguísticas, a pesquisa aponta a variável ‘Saída/Permanência na comunidade’ como característica social relevante para a seleção das formas de futuridade entre os santo-antonienses.

(9)

ABSTRACT

This master thesis deals with the expression of verbal futurity in Santo Antonio de Jesus city, Bahia, from the focus on the Theory of Variation or Variacionist Sociolinguistic and from William Labov works. It identifies strategies of verbal futurity used in this speech community, linguistic and social variables that are constraints of assortment on those ways in synchronic corpus of distensible spoken language. It points to the disappearance of the synthetic form of the future. It focuses on the relationship between the periphrastic future form, composed by the auxiliary verb “ir” (to go) and another verb in the infinitive form and the present form with value (aspect). It tests common variables to this area like “Absence/Presence of another component of temporal value”, “Syntactic-discursive parallelism”, “Verbal paradigm”, “The subject thematic role” and “Semantic type of main verb”, but its adds “Telicity” as a semantic aspect. On this variety of the spoken Portuguese in Brazil, there is the spreading of the periphrastic form of the future, that is in stable variation with the present form this one restricted to specific contexts of usage: in the future expression through the verb “ir” (to go) in this totality or another unaccusative verb or that presents the ational aspect of telicity; in the presence of another component of temporal value; in several matrix linked to another ‘subordinada adverbial condicional or temporal sentence’; with the first person (external topic) with the aspect [+agentive]. Beyond those linguistic variables, the research points to “Out/stay in the community” variable as a relevant social characteristic for a selection of the ways of futurity among the “santo-antonienses”.

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SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ...10 LISTA DE TABELAS ...11 INTRODUÇÃO ...13 1 O PORTUGUÊS DO BRASIL ...16 1.1 O PORTUGUÊS PADRÃO ...19

1.2 O PORTUGUÊS CULTO E O PORTUGUÊS POPULAR BRASILEIROS ...20

2 A EXPRESSÃO DE TEMPO FUTURO ...22

2.1 AS ORIGENS DAS FORMAS DE FUTURO ...22

2.2 O PERCURSO DESDE O LATIM ...23

2.3 A GRAMATICALIZAÇÃO DE IR...25

2.4 O FUTURO NAS GRAMÁTICAS NORMATIVAS ...26

3 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ...30

3.1 A TEORIA DA VARIAÇÃO ...30

3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...34

3.2.1 A comunidade ...35

3.2.2 O corpus: definição e constituição da amostra ...36

3.3 VARIÁVEIS ...37

3.3.1 Variável dependente ...38

3.3.2 Variáveis explanatórias ...38

3.3.2.1 Tipo sintático do verbo principal ...39

3.3.2.2 Telicidade ...41

3.3.2.3 Tipo semântico do verbo principal ...43

3.3.2.4 Pessoa gramatical do sujeito ...46

3.3.2.5 Animacidade do sujeito ...48

3.3.2.6 Extensão fonológica do verbo ...49

3.3.2.7 Paradigma verbal ...50

3.3.2.8 Papel temático do sujeito ...50

3.3.2.9 Projeção de futuridade ...52

3.3.2.10 Tipo de sentença ...53

3.3.2.11 Presença/Ausência de outro constituinte de valor temporal ...58

3.3.2.12 Polaridade da frase ...59

3.3.2.13 Paralelismo sintático-discursivo ...60

3.3.2.14 Sexo/Gênero do informante ...62

3.3.2.15 Faixa etária do informante ...62

3.3.2.16 Escolaridade do informante ...63

3.3.2.17 Local de residência do informante no município ...64

3.3.2.18 Saída/Permanência na comunidade ...65

3.4 SUPORTE QUANTITATIVO ...65

4 A EXPRESSÃO DA FUTURIDADE EM SANTO ANTÔNIO DE JESUS: ANÁLISE DOS RESULTADOS ...67

4.1 A RODADA TERNÁRIA ...68

4.2 A PRIMEIRA RODADA BINÁRIA ...70

4.3 GRUPOS DE FATORES SELECIONADOS ...71

4.3.1 Tipo sintático do verbo principal ...73

4.3.2 Tipo semântico do verbo principal ...76

4.3.2.1 ‘Tipo semântico do verbo principal’: dinamicidade versus estatividade...77

(11)

4.3.2.3 ‘Tipo semântico do verbo principal’: a telicidade ...80

4.3.2.4 Os três componentes do ‘Tipo semântico do verbo principal’: inclusão da Telicidade ... 82

4.3.2.5 A rodada geral para o ‘Tipo semântico do verbo principal’ ...87

4.3.2.6 ‘Tipo sintático do verbo principal’ com ‘Tipo semântico do verbo principal’ ...89

4.3.3 Presença/Ausência de outro constituinte de valor temporal ...94

4.3.4 Papel temático do sujeito ...95

4.3.4.1 ‘Papel temático do sujeito’ com ‘Animacidade do sujeito’ ...97

4.3.4.2 ‘Papel temático do sujeito’ com ‘Pessoa gramatical do sujeito’ ...104

4.3.5 Paralelismo sintático-discursivo ...108

4.3.6 Paradigma verbal ...109

4.3.7 Tipo de sentença ...111

4.3.8 Saída/Permanência na comunidade ...120

4.4 GRUPOS DE FATORES NÃO-SELECIONADOS ...122

4.4.1 Extensão fonológica do verbo principal ...122

4.4.2 Pessoa gramatical do sujeito ...124

4.4.3 Animacidade do sujeito ...128

4.4.4 Projeção de futuridade ...130

4.4.5 Polaridade da frase ...134

4.4.6 Sexo/Gênero do informante ...135

4.4.7 Faixa etária do informante ...137

4.4.8 Escolaridade do informante ...138

4.4.9 Local de residência no município ...141

4.4.10 Conclusões ...142

CONCLUSÕES ...143

(12)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mapa de localização – Santo Antônio de Jesus no Estado da Bahia ...35 Quadro 1: Grupos selecionados na rodada básica ...72 Gráfico 1: Rodada geral para o ‘Tipo semântico do verbo principal’ ...88 Gráfico 2: Uso da perífrase – ‘Tipo sintático do verbo principal’ com ‘Tipo semântico do

verbo principal’ - telicidade ...90

Gráfico 3: Uso da perífrase – ‘Tipo sintático do verbo principal’ com ‘Tipo semântico do

verbo principal’ – telicidade (sem verbo ir) ...93

Figura 2: Continuum de seleção da perífrase – animacidade/agentividade ...102 Figura 3: Continuum de seleção da perífrase - animacidade/agentividade polarizadas ...104 Gráfico 4: Uso da perífrase pelo sujeito – ‘Pessoa gramatical do sujeito’ com ‘Papel temático

do sujeito’ ...107

Figura 4: Continuum de favorecimento da perífrase – ‘animacidade do sujeito’ ...129 Gráfico 5: Uso percentual da perífrase em relação à ‘Faixa Etária do informante’ ...138 Gráfico 6: Uso da Perífrase – ‘Faixa Etária do informante com ‘Escolaridade do informante’ ...140

(13)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Resultado geral de frequência das três variantes ...68

Tabela 2: Resultado geral de frequência (perífrase versus presente) ...70

Tabela 3: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo sintático do verbo principal’ ...73

Tabela 4: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo sintático do verbo principal’ (copulativos com inacusativos) ...74

Tabela 5: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo sintático do verbo principal’ (sem verbo ir) ...75

Tabela 6: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo sintático do verbo principal’ - (multiargumentais versus monoargumentais) ...76

Tabela 7: Perífrase em relação ao ‘Tipo semântico do verbo principal’ - dinamicidade versus estatividade ...77

Tabela 8: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo semântico do verbo principal’ – controle ...78

Tabela 9: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo semântico do verbo principal’ - Controle (sem o verbo ir pleno) ...79

Tabela 10: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo semântico do verbo principal’: telicidade nos verbos dinâmicos ...80

Tabela 11: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo semântico do verbo principal’ – telicidade (com verbo ir) - ação versus processo...81

Tabela 12: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo semântico do verbo principal’ – telicidade (sem verbo ir pleno) - ação versus processo ...82

Tabela 13: Frequência da perífrase em relação ao ‘Tipo semântico do verbo principal’ ...86

Tabela 14: Perífrase em relação ao ‘Tipo semântico do verbo principal’: rodada geral ...87

Tabela 15: Uso da perífrase - ‘Tipo sintático do verbo principal’ com ‘Tipo semântico do verbo principal’ - telicidade ...89

Tabela 16: Uso da perífrase - ‘Tipo sintático do verbo principal’ com ‘Tipo semântico do verbo principal’ – telicidade ...91

Tabela 17: Uso da perífrase - ‘Tipo sintático do verbo principal’ com ‘Tipo semântico do verbo principal’ – telicidade (sem verbo ir) ...92

Tabela 18: Uso da perífrase em relação à ‘Presença/Ausência de outro constituinte de valor temporal’ ...94

Tabela 19: Uso da perífrase em relação ao ‘Papel temático do sujeito’ ...96

Tabela 20: Frequência da perífrase - ‘Papel temático do sujeito’ com ‘Animacidade do sujeito’ ...101

Tabela 21: Uso da perífrase – ‘Papel temático do sujeito’ com ‘Animacidade do sujeito’ ..102

Tabela 22: Uso da perífrase – ‘Papel temático do sujeito’ (agente/ paciente) com ‘Animacidade do sujeito’ ...103

Tabela 23: Perífrase em relação ao ‘Papel temático do sujeito’ com ‘Pessoa gramatical do sujeito’ ...105

Tabela 24: Uso da perífrase – ‘Papel temático do sujeito’ com ‘Pessoa gramatical do sujeito’ ...106

Tabela 25: Uso da perífrase em relação ao ‘Paralelismo sintático-discursivo’ ...108

Tabela 26: Uso da perífrase em relação ao ‘Paradigma verbal’ ...109

Tabela 27: Uso da perífrase em relação ao ‘Paradigma verbal’ (sem o verbo ir) ...110

Tabela 28: Frequência da perífrase em relação ao ‘Tipo de sentença’ ...112

Tabela 29: Uso da perífrase em relação ao ‘Tipo de sentença’ ...115

Tabela 30: Perífrase em relação ao ‘Tipo de sentença’ – Relação sentencial ...116

(14)

Tabela 32: Uso da perífrase - ‘Saída/Permanência na comunidade’ com ‘Sexo/Gênero’ ....121 Tabela 33: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Extensão fonológica do verbo’ ..123 Tabela 34: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Extensão fonológica do verbo’ (sem

verbo ir pleno) ...124

Tabela 35: Frequência da perífrase em relação à ‘Pessoa gramatical do sujeito’ ...125 Tabela 36: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Pessoa gramatical do sujeito’ – P1 versus P2 versus P3 ...126 Tabela 37: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Pessoa gramatical do sujeito’ - Eu versus Não-Eu ...127 Tabela 38: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Animacidade do sujeito’ ...128 Tabela 39: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Projeção de Futuridade’ ...131 Tabela 40: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Projeção de futuridade’- Projeção

próxima versus Projeção longínqua ...132

Tabela 41: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Projeção de futuridade’ – Projeção

próxima versus Projeção distante ...133

Tabela 42: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Projeção de Futuridade’ – Projeção

iminente versus Projeção não-iminente ...134

Tabela 43: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Polaridade da frase’ ...135 Tabela 44: Frequência de uso da perífrase em relação ao ‘Sexo/Gênero do informante’ ....136 Tabela 45: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Faixa etária do informante’ ...137 Tabela 46: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Escolaridade do informante’ ...139 Tabela 47: Frequência de uso da perífrase em relação à ‘Faixa etária do informante’ com

‘Escolaridade do informante’ ...139

Tabela 48: Frequência de uso da perífrase em relação ao ‘Local de residência do informante

(15)

INTRODUÇÃO

Todas as línguas variam. Pelo termo variação entende-se a existência de diferenças no uso de uma mesma língua, que podem ser lexicais, fonéticas, morfológicas ou sintáticas, e se atualizam na possibilidade estrutural que todas as línguas naturais oferecem de se dizer a mesma coisa de formas diferentes. O Português do Brasil (PB) não constitui uma exceção a essa tese. Aliás, a própria especificação, Português do Brasil, já revela uma variedade diferente da língua: em algum outro país se fala português de maneira diferente dos brasileiros. Apesar de serem diferentes os usos, não se considera uma forma ou construção linguística superior à outra, o que vai de encontro a toda a tradição gramatical vigente em nosso país, fruto de uma gramática tradicional cultuada por muitos, que quer estabelecer regras de “bom uso” da língua em detrimento das variantes, consideradas inferiores ou erradas.

Esta dissertação se insere no contexto atual dos estudos linguísticos brasileiros e está especificamente vinculada à grande área da Linguística Histórica e da subárea da Sociolinguística (MATTOS E SILVA, 2008)1. Com essa vinculação, aponta-se a relevância da pesquisa: contribuir para o conhecimento da realidade sociolinguística brasileira, baiana, santo-antoniense em especial. Deve ser encarada como uma pequena “fotografia sociolinguística” de um aspecto morfossintático em uma sincronia definida, para usar a metáfora cunhada pelo linguista Fernando Tarallo, um dos introdutores da Sociolinguística Variacionista em nosso país (TARALLO, 1989). Pretende contribuir também para a necessária e urgente reavaliação das normas padrão, local e nacional, permitindo a comparação entre os usos linguísticos urbanos e rurais.

1

Mattos e Silva (2008, p. 10) considera como componente da Linguística Histórica “todo tipo de linguística que trabalha com corpora datados e localizados”, como é o caso da Sociolinguística Variacionista.

(16)

Esta dissertação tem como objetivo geral analisar a relação entre a escolha das

variantes utilizadas para a expressão da futuridade e variáveis linguísticas e sociais e como

objetivos específicos (i) identificar as variáveis linguísticas que condicionam o uso das variantes sintéticas (presente e futuro do presente) e da variante perifrástica de futuro, formada pelo verbo auxiliar ir e outro verbo no infinitivo, na variedade linguística popular do português falado em Santo Antônio de Jesus; (ii) identificar as variáveis sociais que condicionam o uso das variantes sintéticas (presente e futuro do presente) e da variante perifrástica de futuro, na variedade linguística popular do português falado em Santo Antônio de Jesus; e (iii) verificar a relação entre o processo de variação observado e a possibilidade de mudança linguística.

Este trabalho se compõe de uma introdução, quatro capítulos, considerações finais e referências. Na Introdução, apresentam-se o objeto de estudo e os objetivos da pesquisa. No primeiro capítulo, intitulado O português do Brasil, apresenta-se um breve histórico da implantação da língua lusa em terras americanas e se discute o status das variedades padrão, culta e popular da língua.

No capítulo dois, denominado A expressão de tempo futuro, traçam-se breves comentários sobre a constituição do tempo nas línguas naturais, especificamente a origem das formas de futuridade; descreve-se o percurso evolutivo cíclico das formas de futuro do latim ao português; comenta-se a proposta funcionalista de mudança por gramaticalização, no caso da perífrase de futuro composta pelo verbo auxiliar ir, seguida de outro verbo no infinitivo, considerado principal; e, por fim, mostra-se um levantamento quanto ao posicionamento de algumas gramáticas normativas sobre a expressão de futuro.

Em Pressupostos teórico-metodológicos (capítulo três), faz-se uma apresentação dos pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista ou Teoria da Variação, definem-se os procedimentos metodológicos, como a caracterização socioeconômica da comunidade

(17)

linguística de Santo Antônio de Jesus, a constituição do corpus e explicitam-se as variáveis a serem consideradas no trabalho.

No capítulo A expressão de futuridade verbal em Santo Antônio de Jesus: análise dos

resultados (capítulo quatro), apresentam-se os resultados de frequência e os pesos relativos

(obtidos a partir da ferramenta estatística usada), que são cotejados com as hipóteses prévias para o condicionamento sociolinguístico das variantes de futuridade levantadas no corpus de Santo Antônio de Jesus. Por fim, são apresentadas as Conclusões, seguidas pelas Referências.

(18)

1 O PORTUGUÊS DO BRASIL

Como toda língua, o português apresenta variação. Já se percebeu a necessidade de diferenciar, por exemplo, a variedade usada em Portugal daquela usada no Brasil. Mas, mesmo dentro do nosso país, existem variedades diferenciadas, se for levada em conta a nossa continental extensão territorial, dentre outros aspectos.

Como se constituiu o português brasileiro (PB)? Que aspectos histórico-sociais contribuíram para a atual configuração da língua falada no Brasil? O que caracteriza o português popular em comparação com o português culto?

Para a caracterização sócio-histórica da realidade linguística brasileira podem ser seguidos diversos caminhos. Mattos e Silva (2004, p. 16) aponta a necessidade de se conhecer a história da colonização do nosso país e seu fluxo demográfico para o conhecimento da história, externa e interna, do português brasileiro. Ela ressalta a importância de se estudar “como se passa o processo de contato sócio-histórico e linguístico entre línguas indígenas e língua portuguesa”, além do contato com as línguas africanas que aqui chegaram com o influxo de escravos africanos.

Ilari e Basso (2006, p. 55), além de remeterem para a história da língua e suas origens latinas, ressaltam que, para a compreensão da difusão do português no continente sul-americano, é preciso considerar vários processos por que o país passou ao longo dos últimos três séculos, a saber: o crescimento demográfico, a urbanização e a ocupação do interior.

A primeira característica a ser ressaltada sobre o PB é o fato de ser uma língua transplantada (ELIA, 1989; LOBO, s.d.). Para Lobo (s.d.), isso possibilita o surgimento de “interpretações controversas” sobre a caracterização do PB diante do português europeu (PE). É bastante conhecida a história da implantação da língua portuguesa em terras americanas: a partir do século XIV, os europeus, especialmente os portugueses e os espanhóis,

(19)

empreenderam um imenso processo de ocupação e colonização de terras alheias em África, Ásia e América. No final do século XV, com a chegada e apropriação, pelos portugueses, da porção sul-oriental do continente americano, ou seja, daquela parte que corresponde hoje ao Brasil, a língua portuguesa entrou em contato com centenas de outras línguas, autóctones. Mota (1996, p. 507) ressalta que “a existência de contato linguístico supõe o contacto social dos respectivos falantes, enquadrados em situações de comunicação de ordem diversa”, e que a essas “subjazem relações sociais, políticas e culturais igualmente diversificadas e que condicionam as relações linguísticas” (grifo da autora). A partir desse fato inaugural é que se deve analisar o percurso sociolinguístico da língua portuguesa no Brasil. Então, a realidade linguística brasileira, multilinguística em sua fase histórica pré-cabralina, ganha mais um elemento, que a tornaria ainda mais complexa, principalmente, a partir da fundação de vilas e cidades, em meados do século XVI.

Como a colonização portuguesa se deu de maneira violenta e opressiva, os autóctones e suas línguas foram inseridos em um longo processo de genocídio e glotocídio: a partir de sua resistência à escravização, sua população passou a decair consideravelmente até chegar a um percentual mínimo atualmente (RODRIGUES, 1983).

A opção seguida pelos portugueses foi a da importação de homens e mulheres africanos para o trabalho nas colônias, na condição de escravos. Ainda no século XVI, chegam as primeiras levas de africanos escravizados e a quantidade deles será crescente e significativa durante os três primeiros séculos de colonização.

As personagens básicas que comporiam o enredo da formação linguística do Brasil já estavam em cena: o colonizador português, o habitante indígena e o africano escravizado. A interação entre esses elementos, porém, não é tão simples, levando-se em conta a multiplicidade de línguas faladas pelos indígenas e a também múltipla quantidade de línguas trazidas da África pelos escravizados.

(20)

Para a época do “achamento” do Brasil, a população de índios é estimada em seis milhões de pessoas, que falavam cerca de 340 línguas. Além de serem muitas, essas línguas não apresentavam parentesco com as conhecidas línguas indo-europeias. Impunha-se, portanto, o aprendizado delas pelos portugueses para levar a cabo seus fins exploratórios (ILARI; BASSO, 2006, p. 60).

O elemento africano, oriundo de regiões diversas daquele continente, também era falante de inúmeras línguas, muitas pertencentes ao tronco níger-congo. O número desses africanos varia entre as estimativas dos diversos estudiosos que se debruçaram sobre o tema, desde 3.000.000 até 13.500.000 (LUCCHESI, 2001). A difusão da língua portuguesa no Brasil, nesse contexto, possui como característica básica o contato entre línguas de origens diversas. Ressalte-se que se trata de adultos com a imperiosa necessidade de aprender a língua do dominador em situação de acesso a poucos dados de input, cujos fornecedores dominavam não a variedade padrão do PE mas as variantes populares dessa língua.

A configuração demográfica brasileira ganha, então, uma caracterização que opõe o decréscimo gradual do número de indígenas ao crescimento vertiginoso do número de africanos e afro-descendentes (MATTOS E SILVA, 2004, p. 100-102). O africano escravizado e o afrodescendente passam a ocupar um espaço cada vez maior no processo econômico, como mão-de-obra.

As frentes de exploração econômica que caracterizam o período colonial e imperial do Brasil passam por constantes mudanças: primeiramente, o ciclo da cana-de-açúcar e do tabaco, no nordeste brasileiro, em especial nos estados da Bahia e de Pernambuco; em seguida, no século XVIII, o ciclo do ouro, em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso; e, por fim, a produção de café, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Essas frentes de exploração econômica promovem ciclos migratórios que, segundo Mattos e Silva (op. cit., p. 102), elevam os africanos e afrodescendentes ao posto de

(21)

verdadeiros difusores do “português geral brasileiro, antecedente histórico do atualmente designado de vernáculo ou português popular, variante sociolinguística mais generalizada no Brasil”.

1.1 O PORTUGUÊS PADRÃO

O português padrão tem suas origens num processo de normatização tardio em terras brasileiras, já que só acontece em fins do século XIX e toma como parâmetro a língua literária. Estudos sociolinguísticos têm demonstrado a enorme quantidade de aspectos em que o uso real da língua contraria a regra normativa (ver LEITE; CALLOU, 2002), fixada com base no “modelo lusitano de escrita, praticado por alguns escritores portugueses do Romantismo” (FARACO, 2002, p. 43). Mesmo a(s) classe(s) socialmente favorecida(s) realiza(m) muitas formas linguísticas distantes do padrão ideal estabelecido, o que deixa claro que há algum problema no estabelecimento do padrão.

No Brasil, já se percebeu a necessidade de reavaliar a norma oficialmente definida como padrão, mas o primeiro grande problema é a definição do que seria isso. Faraco (op. cit., 2002, p. 38) define “norma linguística” como o uso comum de certas formas linguísticas que distingue os grupos sociais. O uso efetivo dos mais escolarizados é normalmente o ponto de partida para a normatização, mormente para a modalidade escrita da língua.

Numa sociedade estratificada como a brasileira, e ainda com a extensão territorial que esse país possui, é de se esperar a existência de muitas normas linguísticas. Por isso, projetos como o da Norma Urbana Culta (NURC) pretendem descrever os usos de grupos de pessoas com formação universitária, a fim de propiciar uma base para a “reconstrução de nossas referências padronizadoras” (FARACO, op. cit., p. 38).

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Os casos em que a norma real está em flagrante confronto com a norma ideal têm sido alvo de muitas pesquisas pelo país afora. Nesses casos, a variante popular é estigmatizada e seus usuários vítimas de uma discriminação sem fundamentos linguísticos (BAGNO, 2001). Mas há casos em que as variantes convivem pacificamente, sem que haja uma definição de qual delas é prestigiada ou estigmatizada. Beline (2004, p. 137) ressalta que “questões desse tipo são de grande interesse para o desenvolvimento da teoria sociolingüística”. Parece ser esse o caso da variação no uso do futuro no PB: ante a forma sintética tradicional, usa-se também uma forma perifrástica, com o auxiliar ir no presente do indicativo, adotando a terminologia das gramáticas normativas tradicionais, além da possibilidade de uso das formas de presente para indicar futuridade.

1.2 O PORTUGUÊS CULTO E O PORTUGUÊS POPULAR BRASILEIROS

As diferenças entre a variedade europeia e a brasileira do português fazem surgir questionamentos acerca das origens do PB. No início dos anos oitenta do século XX, o crioulista Gregory Guy lança a tese da crioulização prévia do PB (LUCCHESI, 2001) e conclui que, dadas as características sócio-históricas do contato entre línguas ocorrido aqui, seria difícil não ter havido crioulização. Também John Holm, em estudo comparativo com crioulos de base portuguesa, caracteriza o português popular brasileiro como semicrioulo, após análise com as expressões idiomáticas faladas pela população de nível social mais baixo e sem muita instrução (BONVINI; PETTER, 1998).

Naro e Scherre (2007) se opõem a essa tese de crioulização prévia no Brasil, advogando que a variação e as mudanças identificadas no PB deveriam ser entendidas à luz da deriva secular da língua, já que estão prefiguradas no sistema linguístico português. Assim,

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surgem duas grandes hipóteses explicativas da constituição histórica do português brasileiro: a crioulização prévia e a deriva secular.

Lucchesi (2001, p.100) fez uma análise das conclusões a que chegaram diversos estudos acerca do contato linguístico e conclui que a sua forte influência no PB “é admitida por todos os grandes estudiosos que se dedicaram ao tema”, mesmos por aqueles que negaram a tese da crioulização, e defende uma hipótese intermediária, a da Transmissão Linguística Irregular (TLI), conforme Lucchesi e Baxter (2009, p.101-124).

O conceito de norma é extremamente relevante para uma adequada compreensão da configuração do PB: no Brasil, para além de um padrão lusitanizante, sem uso no Brasil por nenhum grupo sociolinguístico, formou-se outra divisão, em português culto brasileiro (PCB) e português popular brasileiro (PPB). Essa é a proposta de Lucchesi (2001), que sugere uma classificação do PB como polarizada, levando em conta o abismo existente entre a norma culta e a(s) norma(s) popular(es).

Segue ainda aberta a discussão sobre a caracterização do PB, embora, no caso específico das formas de futuridade verbal, Silva (2003, p. 129-135) tenha chegado à conclusão de que há elementos que permitem interpretar a configuração sincrônica das comunidades afrobrasileiras que estudou como em processo “descrioulizante”, como proposto pela hipótese da TLI. Ele compara os seus resultados aos do estudo feito com a variedade de Florianópolis (GIBBON, 2000; GÖRSKI et al., 2002) e conclui que o contato linguístico foi “o fator decisivo para constatar um aprendizado imperfeito do português proveniente de uma transmissão irregular”.

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2 A EXPRESSÃO DE TEMPO FUTURO

A expressão temporal nas línguas humanas tem merecido a atenção de estudiosos de diversas áreas dos estudos linguísticos. Já há diversos trabalhos acadêmicos brasileiros que tentam esmiuçar essa noção complexa.

A futuridade verbal, por exemplo, é expressa de diversas maneiras. No português do Brasil, há várias estratégias para isso, e podem ser citadas, no mínimo, três formas2:

• a forma simples de futuro do presente – eu cantarei hoje à noite; • a forma do presente do indicativo – eu canto hoje à noite;

• a forma perifrástica com o auxiliar ir – eu vou cantar hoje à noite.

A origem das formas de futuro, seu percurso do Latim ao Português, o processo de mudança linguística por gramaticalização e as instruções normativas veiculadas em gramáticas prescritivas são aspectos abordados neste capítulo.

2.1 AS ORIGENS DAS FORMAS DE FUTURO

Bybee e Dahl (1989 apud SILVA, 2003, p. 16-21) indicam que as origens das formas de futuro nas línguas humanas são basicamente fontes lexicais (lexical source) indicativas de

2

Existe ainda a possibilidade de o futuro ser expresso pela perífrase com HAVER DE + INFINITIVO e pela perífrase IR + INFINITIVO, com o verbo auxiliar ir flexionado no futuro do presente.

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desejo, movimento em direção a um alvo e obrigação3. Bybee, Perkins e Pagliuca (1994, apud SILVA, op. cit., p. 16-21), em estudo tipológico sobre o uso das formas de futuro em setenta línguas, observaram que a variação é comum para expressar o estado de coisas futuro. Esses autores chegam à conclusão de que a intenção e a predição são as duas funções centrais das formas de futuro, o que aponta para seu caráter de modalidade epistêmica. Martelotta (2011, p. 75) afirma que isso é uma tendência nas línguas humanas e que reflete “um processo de transferência entre domínios”, já que “um elemento de valor volitivo tem seu uso estendido para a expressão da categoria gramatical de futuro”.

Câmara Jr. (1956, p. 25) tem posicionamento semelhante ao afirmar que “o impulso linguístico que criou um futuro gramatical não foi o de situar o processo como posterior ao momento em que se fala, mas o de assinalar uma atitude do falante em relação a um processo posterior ao momento da enunciação”.

Outra característica das formas de futuridade nas línguas humanas é a não-factualidade, já que não se pode predizer com certeza; o que o falante faz ao dizer algo que vai ocorrer é avaliar a necessidade, a probabilidade, a possibilidade ou impossibilidade de sua ocorrência.

2.2 O PERCURSO DESDE O LATIM

As formas latinas que indicavam futuridade eram bastante diferentes em sua forma culta e popular. Segundo Poggio (2004, p 180-181), no latim clássico, havia formas com flexão em -b- (amabo, delebo), provenientes de formas volitivas, ou aquelas provenientes de subjuntivo, em -a- e -e- (legam, leges; audiam, audies), e “tanto a homonímia com outras 3 Os exemplos são referentes à língua inglesa (desire, movement toward goal e a estrutura have/be + infinitivo). Há também indicação de outras fontes lexicais menos comuns, como advérbios temporais, outras formas verbais e fontes orientadas para um agente.

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formas verbais, como a falta de unidade, contribuíram para o desaparecimento dessas formas de futuro”. Além dessas formas sintéticas, havia formas perifrásticas, usadas desde a época de Cícero para indicar uma possibilidade (habere... scribere, habere... dicere). Poggio (2004, p. 181-183) ainda afirma que as formas infinitivas se apresentam como base para as formas analíticas, pois estão livres para finitização e modalização, o que é feito com o uso de verbos auxiliares em tempo finito. No latim vulgar tardio, porém, predominava o uso do presente com valor de futuro.

Na passagem para as línguas românicas, houve uma preferência pelas formas perifrásticas de futuro, cujos constituintes eram velle (baseado na vontade do falante), debeo e

habeo (baseados na forma que dirige a atuação do agente) ou venio (baseado no movimento

do agente preparatório da ação), seguidos de uma forma infinitiva imperfeita.

Said Ali (1971, p. 143, 310-311) descreve como o uso das formas de presente para indicar futuro ocorria no período arcaico, embora limite esse uso à linguagem familiar e lhe atribua um caráter de certeza. Quanto à forma de futuro, ele afirma que “as línguas românicas ficaram privadas das formas de futuro do indicativo que possuía o idioma latino” e que “supriu-se a falta, unindo ao infinitivo o presente de haver para o futuro do presente”.

Pode-se perceber uma evolução cíclica das formas de futuro, partindo da(s) forma(s) sintética(s), no latim clássico, até a atual forma analítica, sempre em coexistência com formas de presente com valor de futuro:

amabo ~habeo amare > amare habeo > amar’ai(o) > amarei ~vou amar

Segundo Câmara Jr. (1956), o processo de gramaticalização parece ser recorrente em formas de futuridade, de forma que, gradativamente, vai esmaecendo seu valor modo-aspectual até que elas se especializam na significação pura e simples de futuro.

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2.3 A GRAMATICALIZAÇÃO DE IR

A gramaticalização é um dos processos mais estudados no chamado Funcionalismo Linguístico, que tem suas bases atuais nos trabalhos de Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991), Hopper e Traugott (1993) e Givón (1995).

O paradigma da gramaticalização busca explicar processos de mudança linguística em que um item lexical ou construção sintática assume funções referentes à organização interna do discurso ou a estratégias comunicativas; no final de um desses processos, “o elemento linguístico tende a se tornar mais regular e mais previsível, pois sai do nível da criatividade eventual do discurso para penetrar nas restrições da gramática” (MARTELLOTA, VOTRE e CEZARIO, 1996, p. 12, 46).

O processo de gramaticalização não é abrupto, passando por estágios com cinco parâmetros, a saber, estratificação, divergência, especialização, persistência e decategorização (HOPPER, 1991), que são aplicáveis ao estudo do fenômeno da variação no uso das formas de futuro do português (OLIVEIRA, 2006, p. 56).

Dos principais processos cognitivos envolvidos na mudança por gramaticalização da perífrase IR + INF, parece ser a metonímia o mais importante (MARTELOTTA, VOTRE e CEZARIO, op. cit., p. 56-58), já que o processo se inicia em sentenças complexas, cuja subordinada é adverbial final reduzida de infinitivo, que, por fim, se une ao verbo de movimento da sentença matriz.

Segundo Oliveira (op. cit., p. 59), no processo, há também a reanálise e a analogia, conforme trecho a seguir transcrito:

a gramaticalização da estrutura ir + infinitivo envolve necessariamente uma reanálise, que altera a hierarquia de constituintes, permitindo uma fusão entre elementos que, numa interpretação inicial, pertencem a unidades sintáticas distintas. Ocorre também analogia, pois a construção perifrástica com ir + infinitivo é, até certo ponto da história da língua portuguesa, muito semelhante à construção com haver de + infinitivo. Aliás, tanto a reanálise

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como a analogia são mecanismos que atuam na gramaticalização de verbos de movimento em auxiliares de tempo.

Desde o século XIII já aparecem documentadas no português ocorrências da perífrase com ir (LIMA, 2001 apud OLIVEIRA 2006). Porém, levando-se em conta que o processo de gramaticalização não é abrupto, Oliveira (2006, p. 84) situa no século XIV as primeiras ocorrências que podem ser consideradas embrionárias da perífrase de futuro, ou seja, aquelas em que começa a esmaecer o valor de movimento espacial do verbo ir, passando a exercer o papel de auxiliar de futuridade, embora a auxiliarização se instale apenas no século XVI.

2.4 O FUTURO NAS GRAMÁTICAS NORMATIVAS

As gramáticas normativas, em geral, apontam a forma simples do futuro do presente como a padrão, mas algumas delas fazem referência à possibilidade de expressão de futuridade verbal com o uso das outras formas. Segue um levantamento aleatório de alguns desses compêndios gramaticais.

Rocha Lima (2003, p. 123, 134), em Gramática Normativa da Língua Portuguesa, define o tempo futuro como algo expresso pelo verbo a ocorrer “numa ocasião que ainda esteja por vir” e o divide em duas modalidades no modo indicativo: do presente e do

pretérito. Faz também referência ao uso de verbos auxiliares “a fim de melhor se expressarem

certos aspectos especiais não traduzíveis pelas formas simples”. Segundo o estudioso, esses verbos auxiliares (querer, estar, ficar, ir etc.) formam os tempos compostos, acompanhando uma das formas nominais do verbo.

O citado gramático carioca, portanto, aponta apenas a forma simples do futuro do presente como maneira de expressar o futuro; esquece-se ou opta por ignorar as outras

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possibilidades de expressão de futuridade verbal. Na interlocução com o leitor, contudo, usa uma perífrase verbal, ao falar sobre as conjugações verbais: “A mesma vogal ainda vai

aparecer em, por exemplo, poente (po-E-nte) e poedeira (po-E-d-eira)” (ROCHA LIMA,

2003, p. 125), evidenciando que a forma perifrástica alcançou a fala e a escrita das pessoas que demonstram mais preocupação com a tradição linguística, os gramáticos.

Almeida (1997 [1938], p. 228), na Gramática Metódica da Língua Portuguesa, ao falar sobre a noção de tempo, afirma que, para uma “perfeita discriminação” dos tempos verbais, é preciso ter em mente duas coisas: “uma é a ação expressa pelo verbo, outra é o ato

da palavra, isto é, o momento em que se fala”. Sobre o futuro, ele diz que “a ação expressa

pelo verbo será praticada depois do ato da palavra (...) ou depois de realizada outra ação” também futura, fazendo referência, neste último caso, ao futuro composto.

Quanto à forma da expressão de futuro, apontam-se duas formas possíveis: o tempo simples, expresso por uma só palavra, e outro composto, com a ajuda de um verbo auxiliar (Id., ibid., p. 228, 230, 314). Esse gramático, porém, faz referência à possibilidade de o presente do indicativo poder ser usado em lugar do futuro para anunciar um acontecimento próximo. Ao falar das locuções verbais “que indicam linguagem projetada”, ele faz uma nota, dizendo incluírem-se nesse tipo as “locuções verbais como vou louvar, estou para louvar,

devo louvar, etc.” Em seguida, expondo seu conceito sobre as “locuções verbais que indicam

desenvolvimento gradual da ação”, cuja formação se dá com o verbo ir ou o verbo vir junto com o gerúndio de qualquer verbo, ele dá como exemplo “eu vou indo”.

Dos exemplos dados por Almeida (1997 [1938], p. 230), fica claro que, no segundo, a ideia é do “desenvolvimento gradual da ação”, mas, no primeiro, “vou louvar”, não se sabe tratar-se de uma expressão de futuridade ou uma indicação de “locomoção”, já que não há um contexto nem co-texto para dirimir a dúvida. O mesmo autor, então, indica a forma simples de futuro do presente como a forma canônica de expressão de futuridade, admite que a forma do

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presente do indicativo pode exercer a mesma função, mas não explicita a possibilidade de uso de uma perífrase verbal para indicar o vir-a-ser, embora faça uso de uma na interação com o leitor ao conceituar o próprio futuro do presente simples: “É o que, expresso por uma só palavra, indica, simplesmente, ação que irá realizar-se, sem estabelecer relação com outra ação: sairei. É também chamado futuro imperfeito”.

Cunha e Cintra (2001, p. 395, 449 e 460), na Nova Gramática do Português

Contemporâneo, afirmam que o futuro do presente é empregado, dentre outras possibilidades,

para indicar fatos certos ou prováveis, posteriores ao momento em que se fala; mas que “na língua falada o futuro simples é de emprego relativamente raro. Preferimos, na conversação, substituí-lo por locuções constituídas” (o grifo é nosso), dentre outras, pelo “presente do indicativo do verbo ir + infinitivo do verbo principal, para indicar uma ação futura imediata”. Essa mesma perífrase, segundo os autores, pode ser empregada “para exprimir o firme propósito de executar a ação, ou a certeza de que ela será realizada em futuro próximo”. O presente também é citado como possível de marcar “um fato futuro, mas próximo, caso em que, para impedir qualquer ambiguidade, se faz acompanhar geralmente de um adjunto adverbial”. Conclui-se que Cunha e Cintra (2001) admitem a variação na forma de expressão de futuro verbal, referindo-se às três formas como estratégias válidas, a saber: a forma sintética, a forma perifrástica e a forma de presente com valor de futuro.

Infante (1995, p. 205-206), no Curso de Gramática Aplicada aos Textos, indica que o presente pode ser usado para indicar um fato futuro próximo e de realização considerada certa. Quanto ao futuro do presente, o gramático afirma que “exprime basicamente os processos certos ou prováveis que ainda não se realizaram no momento em que se fala ou escreve”. Mas ressalta que esse tempo “tem uso limitado na linguagem cotidiana: em seu lugar, costumamos empregar locuções verbais com o infinitivo, principalmente as formadas pelo verbo ir”.

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Bechara (2004, p. 215, 276, 279), em sua Moderna Gramática Portuguesa, afirma que o tempo futuro denota “uma ação que ainda se vai realizar”. O autor indica a possibilidade de o presente ser empregado pelo futuro “para indicar com ênfase uma decisão”, mas a forma dos exemplos dados é a sintética: “parecerão”, “será”, “terá”, “defenderás”, “furtarás”. Sobre a expressão perifrástica, não há nenhuma afirmação categórica; mas, citando as categorias de análise estabelecidas por Eugenio Coseriu, o gramático põe lado a lado as formas “farei” e “irei fazer” como equivalentes.

Do exposto, conclui-se que (i) há uma tendência entre os gramáticos de, ainda, indicar as formas sintéticas de futuro como canônicas, (ii) a maioria deles admite o uso da forma de presente com valor de futuro, embora com valor semântico diferenciado da anterior, e (iii) ainda são reticentes quanto à indicação da forma perifrástica como estratégia de expressão de futuridade verbal.

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3 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Neste capítulo, encontram-se delimitados os pressupostos teóricos que embasam a pesquisa e os procedimentos metodológicos básicos da área, que incluem a definição dos grupos de fatores que se supõem importantes para a seleção das formas de futuridade na comunidade de fala de Santo Antônio de Jesus e a exposição das hipóteses para cada um deles em relação às formas variantes em cotejo.

3.1 A TEORIA DA VARIAÇÃO

A Teoria da Variação, fundamentada pelo linguista William Labov (LABOV, 2008 [1972], 1994; WEINREICH, LABOV, HERZOG, 2006 [1968]), trata a variação linguística observável na fala, considerando a língua um fenômeno inerentemente heterogêneo. Para a Teoria da Variação, também chamada de Sociolinguística Quantitativa, a variação linguística é algo sistematizável e, para isso, procura-se delimitar os fenômenos variáveis e os reguladores dessa variação, incluídos os linguísticos e os relacionados à sócio-história da língua.

Os princípios básicos do modelo laboviano são os seguintes:

a) toda língua possui uma heterogeneidade ordenada, contrariando a relação proposta por Saussure entre língua e homogeneidade (LUCCHESI, 2004; SAUSSURE, 1975 [1916]);

b) é possível sistematizar e explicar o suposto “caos” da língua falada, especialmente do vernáculo, nosso objeto de estudo (TARALLO, 2003);

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c) a variação linguística é regulada por fatores internos e/ou externos, ou seja, de ordem linguística e/ou social (MOLLICA; BRAGA, 2012);

d) através do estudo da variação, podem ser percebidos os rumos de possíveis mudanças linguísticas ou a estabilidade da variação (LABOV, 1994).

A partir desses princípios, desenvolve-se a Sociolinguística Quantitativa, instrumentalizada por uma metodologia refinada para a análise da fala, que tanto ajuda a compreender a estruturação da variação linguística, quanto da mudança, rompendo com a rígida dicotomia saussuriana entre sincronia e diacronia.

Assume-se, nessa orientação teórica, que apenas dados produzidos em circunstâncias reais mostram a identidade de uma língua e as mudanças pelas quais ela pode passar. Por isso, há todo um arsenal metodológico para a constituição de amostras significativas de fala espontânea (TARALLO, 2003).

Dentro do arcabouço teórico em que este trabalho se insere, é importante o conceito de “variável dependente”: fenômeno linguístico em variação sob investigação. Os fenômenos são variáveis na medida em que os conteúdos podem ser expressos por duas ou mais variantes linguísticas; a variação é regular e passível de ser descrita e explicada. No caso de fenômenos morfossintáticos, ocorreu uma dilatação para abarcar não apenas o aspecto formal das variantes, mas sua funcionalidade (LAVANDERA, 1978; TAGLIAMONTE, 2006).

Uma das hipóteses neste trabalho, a partir do trabalho de Oliveira (2006, p. 195), é a hipótese de que a variação no uso das formas de futuro em Santo Antônio de Jesus, na fala sincrônica, “configura-se um quadro de mudança em progresso quase concluída”, em que a forma sintética já quase desapareceu, permanecendo um quadro de variação estável entre a forma perifrástica e a de presente. Assim, a análise de várias faixas etárias, como se propõe aqui, deve permitir uma visualização desse quadro no tempo aparente (NARO, 2012).

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Considera-se variação estável a configuração em que não há alterações significativas nos pesos relativos e nos percentuais de uso das variantes na observação entre as gerações. Como esta pesquisa utiliza dados de apenas uma sincronia, só haverá indícios da configuração dessas variantes a partir dos resultados das faixas de idade investigadas, considerando-se que “o estado atual da língua de um falante adulto reflete o estado da língua adquirida quando o falante tinha aproximadamente 15 anos de idade. Assim sendo, a fala de uma pessoa com 60 anos hoje representa a língua de quarenta e cinco anos atrás” (NARO, 2012, p. 44-45). Caso os percentuais de uso e os pesos relativos da variante considerada inovadora sejam maiores nas faixas etárias mais novas, inferem-se indícios de mudança em progresso; se esses indicadores não forem díspares, interpretam-se os resultados como revelação de variação estável.

Paiva e Duarte (2012, p. 179), porém, alertam para as dificuldades nem sempre contornáveis desse tipo de análise. Elas demonstram a necessidade do estudo da mudança no tempo real, ou seja, aquele em que se comparam várias sincronias, pois

a predominância de uma determinada variante linguística na fala de pessoas mais jovens coloca o pesquisador frente a duas possibilidades: a) trata-se da instalação gradual de uma nova variante na língua (mudança linguística propriamente); b) trata-se de uma diferenciação linguística etária que se repete a cada geração.

Isso só pode ser resolvido conjugando-se evidências de estudo da mudança no tempo aparente e no tempo real. Os estudos no tempo real podem ser de curta ou de longa duração, ou seja, com interstícios maiores ou menores entre as sincronias. Partindo dos resultados, pode-se indicar a necessidade de um aprofundamento diacrônico da pesquisa, já que isso ultrapassaria os limites e objetivos atuais. O estudo sociolinguístico, por isso, vai de encontro à dicotomia saussureana entre sincronia e diacronia.

Os estudos no tempo real podem ser de curta ou de longa duração, ou seja, com interstícios maiores ou menores entre as sincronias. Partindo dos resultados, pode-se indicar a

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necessidade de um aprofundamento diacrônico da pesquisa, já que isso ultrapassaria os limites e objetivos atuais.

Também partindo de Oliveira (2006), esta dissertação pretende mostrar os efeitos da variável escolaridade sobre a escolha das formas de futuridade verbal. O corpus em análise permite uma comparação entre informantes que não foram alfabetizados, que não sofreram, portanto, a força coercitiva da norma escolar, com aqueles que estudaram alguns poucos anos, considerados como semialfabetizados. Apesar de a variável em estudo não apresentar estigma social em nenhuma das suas formas, nem seu uso ser formalmente destacado nas escolas brasileiras, apenas o futuro do presente é apresentado formalmente, na escola e nas gramáticas pedagógicas, como expressão de futuridade verbal. É preciso verificar, por tudo isso, qual o papel dessa variável social (OLIVEIRA E SILVA; PAIVA, 1998, p. 335-350).

Diversos estudos sociolinguísticos apontam uma tendência para o que se poderia denominar “uma maior consciência do status social das formas linguísticas” por parte das mulheres (PAIVA, 2012, p. 35). Conforme esses estudos, as mulheres tenderiam a utilizar mais as formas de prestígio do que os homens. Mas há contra-exemplos, em que as mulheres lideram a implementação de uma variante linguística inovadora sem avaliação social explícita ou que não sofra exclusão normativa. Esses estudos apontam para uma necessária relativização da variável sexo/gênero em função do grupo social considerado e do status social da variante. Paiva (op. cit., p. 36) compara diversos estudos e conclui que nem sempre as mudanças linguísticas se implementam da mesma maneira. A autora nos diz que, quando se trata de implementar na língua uma forma socialmente prestigiada, as mulheres tendem a assumir a liderança da mudança. Ao contrário, quando se trata de implementar uma forma socialmente desprestigiada, as mulheres assumem uma atitude conservadora e os homens tomam a liderança do processo.

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Ainda é preciso ressaltar que é necessário cautela quanto a qualquer explicação acerca da variável sexo/gênero, em vista da sua interface com outras variáveis sociais, especialmente (i) o grau de escolarização, pois as mulheres tenderiam a ser mais receptivas à atuação normativa da escola; (ii) a idade, já que se percebe uma tendência de neutralização dos usos linguísticos nas faixas etárias mais jovens; (iii) a classe social, já que uma distinção maior entre os sexos costuma se dar nas classes socioeconômicas intermediárias (PAIVA, 2012).

O arcabouço teórico da Teoria da Variação já foi bastante testado de forma a garantir resultados confiáveis, que, de fato, ajudem no (re)conhecimento da realidade linguística das comunidades estudadas. É essa uma das pretensões desta pesquisa.

3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As etapas básicas desta pesquisa seguiram as orientações comuns aos trabalhos da área (TARALLO, 2003): (i) realização das entrevistas e transcrição dos inquéritos, (ii) definição do envelope da variação, com criação de hipóteses para cada uma das variantes, (iii) definição dos grupos de fatores que podem ter relação com a seleção por uma ou outra variante e suas respectivas hipóteses, (iv) levantamento das ocorrências no corpus, (v) codificação das ocorrências para que se pudesse dar aos dados o tratamento estatístico, (vi) tratamento estatístico em si, com uso de um programa computacional, e (vii) análise dos resultados em cotejo com as hipóteses prévias e os resultados de outras pesquisas.

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3.2.1 A comunidade

Santo Antônio de Jesus, a cidade baiana na qual foram recolhidas amostras de fala vernácula escolhidas para compor esta pesquisa, localiza-se no Recôncavo Baiano, região sob a influência das atividades marítimas ocorridas na Baía de Todos os Santos, acidente geográfico de capital importância para o desenvolvimento do Estado da Bahia, desde o período colonial.

Figura 2: Mapa de localização – Santo Antônio de Jesus no Estado da Bahia4

4

Mapa de localização disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Bahia_Municip_SantoAntoniodeJesus.svg>. Acesso em 29 abr. 2012.

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Segundo Dante Lucchesi, coordenador do Projeto Vertentes (2011), a escolha desse município para a constituição da amostra leva em conta suas características econômicas e sociodemográficas. Santo Antônio de Jesus é uma cidade com cerca de 90.000 habitantes, possui intenso comércio e está localizada a apenas 187km de Salvador, capital do Estado da Bahia. Essas características foram decisivas para a escolha em cotejo com as outras cidades que compõem a segunda etapa do Projeto, por permitir comparação com municípios menos populosos, que representem comércio menos intenso e que se localizem longe da capital.

3.2.2 O corpus: definição e constituição da amostra

O corpus estudado é formado por inquéritos do Acervo de Fala Vernácula do

Português Rural do Estado da Bahia, do Projeto Vertentes do Português Rural do Estado da

Bahia (doravante Vertentes), sediado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). O Vertentes tem por finalidade fornecer “a base empírica para a elaboração de um panorama sociolinguístico da língua falada no interior do Estado da Bahia” (PROJETO VERTENTES, 2011). Esta pesquisa usa os inquéritos da cidade de Santo Antônio de Jesus, onde foram realizadas 24 entrevistas, 12 com moradores do seu distrito-sede e 12 com moradores da zona rural. A escolha dos informantes em cada comunidade de fala foi feita de acordo com as seguintes variáveis estratificadas: sexo/gênero e idade. Há seis células na amostra, com dois informantes em cada célula, constituindo um total de 12 informantes por amostra assim distribuídos: duas mulheres e dois homens de 25 a 35 anos; duas mulheres e dois homens de 45 a 55 anos; duas mulheres e dois homens de mais de 65 anos de idade.

Esse corpus de Santo Antônio de Jesus é comparável com outras amostras de fala vernacular na medida em que foram utilizadas para sua constituição, como premissas básicas,

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as orientações da sociolinguística quantitativa laboviana. Os aspectos que se mostrarem incompatíveis serão discutidos e analisados separadamente.

Após o levantamento inicial das ocorrências, foi aplicado o “teste de substituição”, que implica o uso do futuro do presente do indicativo no lugar das supostas formas de futuridade. Aquelas formas que tiveram seu valor temporal alterado foram excluídas da análise, pois não tinham a significação de tempo futuro e expressavam um fato habitual (GÖRSKI et al., 2002, p. 228).

3.3 VARIÁVEIS

Nesta seção são apresentadas as variantes que formam a variável linguística da pesquisa e os grupos de fatores linguísticos e extralinguísticos que surgiram a partir das hipóteses de condicionamento da escolha da expressão de futuridade verbal na comunidade de fala de Santo Antônio de Jesus. Os exemplos retirados do corpus são apresentados nos fatores das variáveis explanatórias linguísticas5; esses exemplos seguem numerados e podem ser repetidos quando exemplificam mais de uma variável, mas recebem nova numeração. Optamos por apresentar os exemplos como foram transcritos pelo Projeto Vertentes, que fez a transcrição grafemática; apenas foram corrigidos os evidentes erros ortográficos. Os exemplos do corpus são identificados pela sigla SAJ (Santo Antônio de Jesus), seguida de S ou R, identificando a residência do informante, se do distrito sede ou da zona rural; em seguida aparece o número do inquérito, identificação do informante no Projeto Vertentes.

5

Os grupos de fatores são dados a partir do corpus sempre que possível. Quando não houve exemplos no corpus, foram dados outros hipotéticos.

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3.3.1 Variável dependente

Como já dito antes, “variável dependente” é o fenômeno de variação linguística em investigação. Neste trabalho, trata-se do uso variável das formas para expressão da futuridade verbal na língua portuguesa do Brasil, a saber:

a) forma sintética:

(1) Então é... como vocês deve sabê, né... que tem aquela coisa do espírito e a coisa da carne. Espiritualmente se num 'tivé bem, a gente será abalado. (SAJ-S, Inf. 08)

b) forma perifrástica:

(2) Aí eu vô gastá uns cinco mil reais nesse carro.” (SAJ-R, Inf. 01)

c) forma de presente:

(3) Eu vô demorá aqui um pôquim e depois eu vou pra minha casa.” (SAJ-R, Inf. 03)

Configurava-se, assim, de início, uma variável ternária. Apesar disso, esperávamos um uso mínimo da forma sintética, o que possibilitaria uma alteração, por exclusão, para uma variável binária, o que de fato ocorreu.

3.3.2 Variáveis explanatórias

Este trabalho apresenta dezoito grupos de fatores como possíveis contextos condicionadores das variantes escolhidas, que contemplam variáveis linguísticas e

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extralinguísticas ou sociais. Alguns deles foram baseados em trabalhos da área, como os de Alves (2011), Gibbon (2000), Görski et al. (2002), Oliveira (2006) e Silva (2003). Esses grupos de fatores envolvem aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos, além das características sociolinguísticas dos informantes (sexo/gênero, faixa etária e escolarização), e de outras específicas da constituição da amostra em análise (local de residência do informante no município e saída ou permanência na comunidade). Seguem os dezoito grupos de fatores, com as justificativas/hipóteses que tentam explicar as escolhas. Apresentamos pares de exemplos: no primeiro, sempre a forma perifrástica e em seguida a forma de presente.

3.3.2.1 Tipo sintático do verbo principal

Com este grupo de fatores, pretende-se verificar os possíveis condicionamentos do tipo de predicação verbal na escolha da variante de futuro. Oliveira (2006, p. 68) afirma que, embora esse grupo de fatores não tenha sido selecionado em sua análise quantitativa, a sua hipótese de que os verbos transitivos favorecem o uso da perífrase, por projetarem vários argumentos para um maior equilíbrio na distribuição dos constituintes na oração, se confirmou pelos percentuais. Silva (2003, p. 106-108) constatou favorecimento do uso da perífrase pelos verbos bitransitivos e pelos verbos transitivos direto e indireto; os verbos intransitivos foram apontados como o tipo sintático desfavorecedor da perífrase. Motivados pela análise de Oliveira (2006), a hipótese a ser testada nesta pesquisa é a mesma.

Acrescentamos à variável o fator ‘Verbos inacusativos’, pois, segundo Coelho et alii (2006), esse tipo de verbo monoargumental se comporta sintaticamente de modo diferente dos intransitivos propriamente ditos. Esse fator foi configurado a partir da generalização proposta

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por Mioto, Silva e Lopes (2007), que propõem a inclusão nesse fator dos verbos tradicionalmente classificados como copulativos, existenciais e impessoais, por conta de sua configuração sintática. Mantivemos, porém, os verbos copulativos como fator independente, para que fosse verificado o seu comportamento, procedendo a uma futura amalgamação a partir dos primeiros resultados. Foram codificados juntos os verbos copulativos tradicionais e os verbos funcionais, aqueles que, ocasionalmente, têm esse tipo de comportamento sintático, como os verbos fazer, dar e ter, embora mantenham suas características semânticas (NEVES, 2011, p. 53-61).

Os tipos sintáticos são, então, os seguintes:

a) verbos transitivos:

(4) Até que a gente vai botá assim... tipo assim uma votação assim de... de.. de dedo. (SAJ-R, Inf. 05)

(5) Porque eu mesmo, se eu pegá dez reais, cinco reais, eu penso den’de casa. (SAJ-S, Inf. 03)

b) verbos bitransitivos:

(6) “Óia, esse mês eu não vô dá mais dinheiro pa fêra não!" (SAJ-R, Inf. 01)

(7) “Eu vô cuspi no chão... que você demorá... que você demorá, quando eu chegá aqui... eu... eu... eu dô-lhe uma mão de ferro ni você”. (SAJ-R, Inf. 11)

c) verbos intransitivos:

(8) “Eu vô cuspi no chão... que você demorá... que você demorá, quando eu chegá aqui... eu... eu... eu dô-lhe uma mão de ferro ni você”. (SAJ-R, Inf. 11)

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(9) “Ô dotora, não quero mais não. Eu tenho certeza que eu vô e não volto mais. (SAJ-S, Inf. 10)

d) verbos inacusativos, incluindo os impessoais e existenciais:

(10) Quem é que é o doido que vai sair hoje... hoje pá sê... virá lobisome aí na estrada? (SAJ-R, Inf. 11)

(11) “Pera aí que eu vô aí e venho já. (SAJ-S, Inf. 11)

e) verbos copulativos:

(12) “Mas, dotô, tem uma coisa, que aí fica caro poque aí vai ficá tudo mais caro..." (SAJ-R, Inf 05)

(13) Porque quando ela acaba de almoçá, o de noite ela já dêxa o meu lá, porque eu como fejão é duas veze no dia, e no dia que num tivé fejão, fico com fome. (SAJ-S, Inf. 11)

3.3.2.2 Telicidade

A telicidade6 foi incluída, de modo a que se possa verificar os efeitos desse traço acional na escolha das variáveis. Em trabalho sobre os tipos de estrutura das situações relevantes para a semântica temporal, Peres (2003, p. 201) afirma que o critério da termitividade “atende à presença ou não de um ponto terminal intrínseco à situação”, sendo terminativo (ou télico) o valor das situações que tendem para um ponto final intrínseco, e não-terminativo (ou atélico) o valor correspondente à ausência desse ponto. Ele dá os seguintes 6 O professor Telmo Móia, da Universidade de Lisboa, em comunicação pessoal, durante seu minicurso no GELNE, em 2010, em Teresina, sugeriu testar os efeitos desse traço acional na seleção de formas verbais com valor de futuro.

Referências

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