Dinossauros
São muitos numerosos os vestígios deste grupo de Archosauria
no Jurássico Superior e no Cretácico de Portugal, sistemas em que as
formações geológicas se mostraram muito propícias à sua preservação
(fig. 21).
TEJO
FIG. 21 -Alguns dos locais do Mesozóico português onde foram encontrados vestígios de Dinossauros (Lapparent & Zbyszewski 1957, Carvalho 1989, Dantas 1990, etc.).
Mapa Geral: I Aveiro (C); 2
-Murtade (1); 3 - Cantanhede (J); 4
- Viso (C); 5 -Taveiro (C); 6 - Cabo Mondego (1); 7 -Figueira da Foz
(1); 8 -Condeixa (1); 9 - Pombal (J); 10 - Albergaria (1); II - Colmeias (J); 12 - Pedrogão!Vieira de Leiria (J); 13 - S. Pedro de Muel (J); 14 - Guimarota/Leiria (1); 15 Ourém (J); 16 -Alvaiázere (1); 17 -Pedreira das Galinhas (1); 18 - Castanheira (1); 19 - Tomar (1); 20 - Porto de Mós (J); 21 - PescariaINazaré (1); 22 -Alcobaça (1); 23 -S. Martinho do Porto (J); 24 - Salir do Porto (1); 27 - Salir de Matos (C.Rainha (1);
28 - Óbidos (1); 29 - Bombarral (1); 30- Alenquer (J); 31 -Torres Vedras (1); 32 - Praia de Santa Cruz (1); 33 - Cambelas (J); 34 - Mafra (C); 35 - Praia Grande/Sintra (C); 36
-Carenque/Sintra (C); 37 - Cacém (C); 38 - Boca do Chapim/C. Espichei (C); 39 - Praia dos Lagosteiros (1) /Pedra da Mua (C) IC.Espichel; 40 - Praia do CavalolC.Espichel; 41 - Pedreira do AvelinolRibeira do Cavalo (J) I(Sesimbra); 42 - Praia da Foia do Carmo (1) e Praia Santa (C) !Vila do Bispo; 43 - Praia da Salema/Vila do Bispo (C); 44 - Praia do Porto das Mós
(J); 45 - Lagos (J); 46 - Amorosa/Silves-S. Bartolomeu de Messines (T).
Área da Lourinhã (ampliada): 1- Baleal (1); 2 - S. Bernardino (1); 3 - Paimogo (1); 4 -Praia da Areia Branca (1); 5- Praia da Corva (J); 6 -Peralta (J); 7 -Atalaia (J); 8 - Porto das Barcas
(J); 9 - Porto Dinheiro (1); 10 - Porto Novo (J). T - Triásico; J - Jurássico; C -Cretácico
Os Dinossauros começaram a ser conhecidos quando, em 1824,
Buckland descreveu um dente, segundo ele, de um réptil de grandes
dimensões que por esse motivo designou de
Megalosaurus.
Um ano depois
Mantell descreveu um outro dente, igualmente de um pressuposto réptil
gigante que, pela sua semelhança morfológica com os dentes das actuais
iguanas, denominou de
Iguanodon.
Foi no entanto Owen que em 1841
introduziu a palavra Dinossauro
(dino/deinos=terrível;
sauro/saurus=lagarto)
Ao contrário do que foi admitido durante muitos anos os Dinossauros mais
antigos que se conhecem não são exclusivos da América do Sul. Esta presunção
resultava do facto de se pensar que as formações dos Ischigualasto (Argentina)
datavam do Triásico Médio o que parece não acontecer. Estudos mais recentes
atribuem-nas ao Triásico Superior (Carniano/ 228 M.a. B.P.). Assim sendo, são mais
ou menos contemporâneas de outras formações conhecidas não só na América do
Sul, caso do Brasil, mas também da América do Norte, Marrocos e Índia, onde
igualmente foram encontrados vestígios de Dinossauros.
Os Dinossauros mais antigos que se conhecem surgem portanto quase ao
mesmo tempo por toda a Pangeia (Buscalioni 1990; Heckert & Lucas 1998). Incluem
Prossaurópodes, carnívoros Herrerasauridae, vários Terópodes basais (Ceratossauros)
e Ornitisquianos basais. É já uma fauna relativamente diversificada o que faz naturalmente supôr que tenham tido uma origem mais recuada, talvez durante o fim
do Triásico Inferior ou no Triásico Médio.
Entre outros, são assinalados de Marrocos o Prossaurópode Azendhsaurus, da
América do Norte, o Ceratossauro Camposaurus arizonensis e o Ornitisquiano PekúlOsaurus, do Brasil, o Terópode Herrerassaurídeo, Staurikosaurus pricei, da
Argentina, o Herrerassaurfdeo, Herrerasaurus ischiguaLastensis, o Ornitisquiano
Pisanosaurus e o Terópode basal Eoraptor Lunensis, e da Índia, o provável Terópode
basal AwaLkeria maLeriensis (Heckert & Lucas 1998; Sereno 1999; Norell et aL 2000).
Da mesma época é também referido da Europa !Escócia, o Terópode SaLtopus eLgeniensis que todavia foi posteriormente considerado como nomen dubium (Rauhut & Hungerbühler 1998).
A maior parte destes Dinossauros primitivos eram animais relativamente
pequenos que não chegavam a atingir os 2 metros de comprimento, à excepção do
Prossaurópode Azendhsaurus e de alguns Herrerasaurídeos que alcançavam os
3/4 metros.
No começo do Triásico Superior (Carniano) esta comunidade de antigos
Dinossauros dominada essencialmente pelos Prossaurópodes e por carnívoros
Herrerassaurídeos era ainda uma componente muito discreta das faunas de Vertebrados
terrestres.
Nos estádios seguintes (NorianolReciano) os Prossaurópodes continuam a ser -o grupo de Dinossauros dominante. Entre os Terópodes assiste-se ao incremento dos Ceratossauros, no fim deste período representados por formas já bastante
evolucionados, caso do conhecido CoeLophysis, e paralelamente, ao
progres-sivo desaparecimento dos Herrerasaurídeos que acabam aparentemente por se
Na Europa, excluído o caso de SaLtopus eLgeniensis a que atrás nos referimos (considerado nomen dubium), os primeiros Terópodes reconhecidos com certa segurança, surgem durante o Noriano e são membros dos Ceratosauria/Coelophysoidea (Rauhut & Hungerbühler 1998). A julgar pela escassez do seu registo fóssil, este grupo ainda era muito raro na Europa, apenas com alguns representantes dos géneros Liliensternus (Alemanha e França), Procompsognathus/P. triassicus (Alemanha) e Syntarsus (Inglaterra) (ver: Rauhut & Hungerbühler 1998).
Os Dinossauros não-avianos extinguiram-se de fonna aparentemente
abrupta no fim do Cretácico após terem dominado a Terra durante cerca
de 170 M.a
.
. A explicação deste fenómeno tem sido matéria de acesa
polémica. A este assunto nos referiremos mais adiante com maior detalhe.
As mais de 800 espécies hoje conhecidas de Dinossauros
repartem--se por dois grupos maiores: Saurischia (sauripélvicos) e Ornitischia
(avipélvicos), cuja origem mono ou polifílética ainda se discute. Para alguns
autores estes dois grandes grupos teriam irradiado dum grupo básico de
Thecodontia de onde teriam igualmente emergido os Pterosauria e
Crocodylia. Para outros, os Dinosauria, incluindo os Saurischia e Omitischia,
constituiriam um grupo monofilético no seio do grupo dos Ornithodira que
incluiria também os seus mais próximos parentes, os
Lagosuchus,
pequenos
Archosauria, bípedes, do Triásico Médio da Argentina, e os Pterosauria.
Segundo Benton (2000), o grupo-innão dos Dinossauros é
Marasuchus,
do fim do Triásico Médio da América do Sul.
Conjun-tamente,
Marasuchus
e Dinosauria, constituiriam os Dinosauromorpha.
Marasuchus
era um pequeno carnívoro bípede, de cauda comprida, com
cerca de 1.3 metros de comprimento.
Como sucede noutros casos, também a sistemática dos Dinossauros
(Saurischia e Ornitischia) varia de autor para autor. Por esse motivo
adoptámos nas suas linhas gerais a que é preconizada por Fastovsky
&Weishampel (1996) (para uma filogenia/sistemática um pouco diferente,
ver, por exemplo, Sereno 1999)
.
Segundo estes autores (F.
&W.), os Saurischia compreenderiam dois
grandes grupos
:
os Sauropodomorpha e os Theropoda e ainda um grupo
muito mais restrito, os Segnosauria (constituído por três fonnas de Cretácico
Médio da Mongólia,
Segnosaurus, Erlikosaurus
e
Enigmosaurus).
Os Sauropodomorpha repartir-se-iam pelos sub-grupos: Prosauropoda
e Sauropoda. Os Theropoda incluiriam os Ceratosauria e os Tetanurae e
ainda duas linhas basais que integrariam Eoraptor e Herrerasaurus
.
O
grande
clado dos Tetanurae, englobando as antigas infra-ordens dos Theropoda,
Coelurosauria e Camosauria, arranjo taxonómico agora caído em desuso,
incluiria por sua vez os Avetheropoda e Maniraptora. Os Maniraptora
conjuntamente com Compsognathus Wagner, 1861
,
corresponderiam ao
grupo Coelurosauria.
Os Omitischia compreenderiam por sua vez uma linha basal, os
Lesothosaurus
e um grande grupo designado por Genosauria. Os
Genasauria incluiriam, segundo aqueles autores, os Thyreophora e
Ceratopoda. O primeiro englobando os Stegosauria e Ankylosauria
(conjuntamente incluídos nos Eurypoda) e, além disso, os géneros
Scutellosaurus, Emausaurus
e Scelidosaurus; o segundo, incluiria os
Omithopoda e os Marginocephalia e, igualmente, os Pachycephalosauria
e Ceratopsia.
Em Portugal, os Saurischia Sauropodomorpha estão representados,
conforme os dados de que dispomos, por Saurópodes dos géneros
Lourinhasaurus
Dantas et ai, 1998 e Dinheirosaurus Bonaparte
&Mateus, 1999, em qualquer dos quais se incluem muito provavelmente
todos os vestígios inicialmente atribuidos a Apatosaurus Marsh, 1877
(ou a Camarasaurus Cope, 1877),
? Brachiosaurus Riggs, 1903 e
ainda por um Titanossaurídeo indeterminado. Foram também referidos,
embora desde logo com sérias reservas, outros Saurópodes, casos de
Astrodon
Jonhston
,
1859, Bothryospondylus Owen, 1875 (ver: Dantas
1990; Hunt et ai 1994) e Pelorosaurus Mantell, 1850 (ver: Dantas 1990).
Estes dois últimos géneros são considerados taxa dubia por Norman
(1985)
.
Aos Saurópodes Titanossaurídeos pertencia o maior animal terrestre que teria
habitado o planeta, Argentinosaurus (Patagónia/Argentina), com cerca de 45 metros
Entre os Theropoda são mencionadas espécies dos géneros
Ceratosaurus Marsh, 1884 (Ceratosauria), Torvosaurus Galton
&Jen-sen, 1979 (Tetanurae basal), Megalosaurus Buckland, 1824, Allosaurus
Marsh, 1877, Lourinhanosaurus Mateus, 1998, Stockesosaurus Madsen,
1974 e Ricardoestesia Currie, Rigby
&Sloan, 1990, cf. Compsognathus,
Wagner, 1861, aff. Paronychodon Cope, 1876 e Euronichodon Telles
Antunes
&Sigogneau-Russell, 1991, e ainda formas de ? Troodontidae
indeterminados, DromaeosauridaeJDromaeosaurinae indeterminados,
Veloci-raptorinae indeterminados, Tyrannosauridae indeterminados, Ceratosauria
indeterminados e Allosau-roidea indeterminados.
Aos Terópodes pertencia o bem conhecido Tyrannosaurus rex que com os seus 12 metros de comprimento por 6 de altura e cerca de 7 toneladas de peso foi durante muito tempo considerado como o maior e mais formidável carnívoro que jamais existira, mas que todavia se encontra hoje largamente ultrapassado. Primeiro, pelos ainda maiores Acrocanthosaurus, Deinocheirus, Saurophagus e Carcharodontosaurus e, depois, pelo ainda muito maior Giganotosaurus caro/inii (Carcharodontossaurídeo do Cretácico da Argentina). Para se ter uma ideia dessa diferença basta referir que enquanto o crânio de T.rex media cerca de 1.4 metros o de G.carolonii media cerca de 2 metros (Calvo & Coria 1998).