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Palavras Chave: avaliação, responsabilização partilhada, qualidade social

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Academic year: 2021

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A RESPONSABILIZAÇÃO PARTILHADA E A QUALIFICAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA

Margarida Montejano da Silva- UNICAMP Sandra Cristina Tomaz-UNICAMP Resumo

O presente estudo constitui-se de um recorte de pesquisa longitudinal iniciada no ano de 2013, financiada pelo OBEDUC/CAPES, que objetiva avaliar o nível de enraizamento dos princípios avaliativos numa perspectiva de responsabilização partilhada e que revelem indícios dessa responsabilização na qualificação da educação e da escola pública a fim de subsidiar a elaboração de um instrumento de avaliação da qualidade social da escola. A pesquisa possui como campo oito escolas municipais de ensino fundamental de uma cidade do interior de São Paulo as quais desenvolvem uma prática de Avaliação Institucional Participativa desde o ano de 2008. Numa perspectiva de pesquisa qualitativa foram entrevistados 16 gestores dessas escolas pesquisadas (05 diretores Educacionais; 05 vice-diretores educacionais e 06 orientadores pedagógicos) no período de novembro de 2013 a fevereiro de 2014, visando a identificar o que pensam esses profissionais sobre elementos que podem qualificar socialmente a educação pública, no ensino fundamental dessa rede. As questões norteadoras das entrevistas versaram sobre a política de Avaliação Institucional Participativa numa perspectiva de responsabilização partilhada e a qualidade social da educação que a escola realiza sendo nucleadas pela seguinte questão: que indicadores de qualidade social da educação a escola valoriza e que não são considerados pelos processos de avaliação externa? Os dados inicialmente coletados a partir das entrevistas com esses gestores educacionais revelam uma emergência de indicadores de qualidade que sinalizam para além daqueles estritamente vinculados ao âmbito instrucional, de proficiência nas disciplinas constantes da matriz curricular acenando para elementos do currículo de matiz sócio-comunitária como a participação e a inclusão social.

Palavras Chave: avaliação, responsabilização partilhada, qualidade social

Introdução

O tema qualidade e educação tem, nas últimas décadas sido recorrente na pauta de políticos, empresários e parceiros da sociedade civil em defesa do slogan - todos pela educação -, atingindo, de forma intencional a educadores e alunos da escola pública. Aos primeiros, constituindo foco de interesse economicista e, aos últimos, resultando na ressignificação do trabalho, da educação e da cultura. Nessa lógica, a ideologia político-econômica recria vieses para se fortalecer; a escola pública torna-se um campo profícuo para os empresários da educação e a educação, um mercado certo.

Dessa perspectiva e olhando para a trajetória da avaliação educacional, podemos dizer que ao final da década de 1980 e início da década de 1990, se inscreve no país uma

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“cultura da avaliação”, ancorada na medida, por meio de exames em larga escala, que abarca todos os níveis de ensino e consolidada pela criação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB).Observa-se, entretanto, ao longo dos anos, mudanças nesses objetivos e nos desenhos avaliativos da política de avaliação e abrem-se espaços para a introdução de sistemas de responsabilização com a criação, a partir de 2007, do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, utilizado para apoiar as concepções de educação baseadas em responsabilização (FREITAS, 2013,p.149).

As avaliações de larga escala que compõem o IDEB (Prova Brasil) induzem a um reducionismo do conceito de qualidade educacional ao que é testado nas suas disciplinas, e a aprovação/reprovação, como referido acima, conduz ao estreitamento curricular, reforçando uma fragmentação do currículo, bem como o abandono da perspectiva interdisciplinar de formação (OLIVEIRA, 2013, p.88).

Não com a mesma intensidade, mas com a força que escapa ao controle político-econômico-ideológico o debate sobre a qualidade da educação também tem sido pautado em espaços institucionais públicos de cunho democrático-participativo que, apesar de remarem contra a maré, traduzem as ideias de que é preciso ler os acontecimentos, questionar e produzir o debate, assim como resgatar a esperança e o sentido da inexorabilidade, ou seja: as coisas podem ser diferentes. Assim, a busca pela identificação de elementos que qualificam socialmente a educação constitui-se em objetivo primordial em tempos de desmonte das conquistas sociais, dando sentido à qualidade que se quer desenvolver na escola pública. Esses esforços e discussões se dão num contexto em que a avaliação educacional nas salas de aula, nas instituições escolares e nas redes e sistemas de ensino de forma polêmica, em menor ou maior medida, se apresentam ora como fonte de desenvolvimento, ora como ameaça e ainda, de forma concomitante, como uma ameaça que é fonte de desenvolvimento.

Dessa perspectiva, apresentamos no presente estudo o olhar de gestores de oito escolas públicas de uma rede municipal do interior do estado de São Paulo, Brasil, sobre possíveis indicadores de qualidade social da educação. Os dados aqui apresentados foram colhidos como parte das atividades da pesquisa longitudinal realizada pelo OBEDUC/CAPES que objetiva avaliar o nível de enraizamento dos princípios avaliativos numa perspectiva de responsabilização partilhada e que revelem indícios dessa responsabilização na qualificação da escola pública para a elaboração de um instrumento de avaliação da qualidade social da escola. A ideia é que os componentes qualitativos sejam incorporados aos dados da avaliação de larga escala de modo a potencializar as

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reflexões que sustentam os processos decisórios nas escolas na direção de um trabalho pedagógico inovador.

Numa perspectiva de pesquisa qualitativa entrevistou-se 16 gestores no período de novembro de 2013 a fevereiro de 2014 visando identificar, o que pensam esses profissionais sobre elementos que qualificam socialmente a educação pública nessa rede, que tem instituída legalmente, a política de Avaliação Institucional Participativa nas escolas de Ensino Fundamental, desde o ano de 2008. As entrevistas versaram sobre a política de Avaliação institucional Participativa e a qualidade da educação que a escola realiza sendo nucleada pela seguinte questão: que indicadores de qualidade social da educação a escola valoriza e que não são considerados pelos processos de avaliação externa? Analisando os dados das entrevistas, verificamos elementos que sinalizam práticas e perspectivas de qualidade social assim como outros elementos identificados como anunciadores de qualidade nas escolas investigadas.

Elementos que expressam a qualidade na escola – O que dizem os Gestores?

Sabemos da importância estratégica que possuem os gestores educacionais na condução de políticas que encaminhem para um fazer mais centralizador ou mais democrático, mais diretivo e excludente ou mais inclusivo e emancipador.

Certamente, será necessário ouvir as vozes dos demais segmentos que compõem a comunidade educacional, com foco naqueles que encontram-se participando, de alguma forma nos processos avaliativos de responsabilização partilhada. Todavia é importante começar e, em nosso entendimento, ouvir os gestores é um bom começo.

Recuperando que nossos respondentes atuam em escolas públicas de uma rede que instituiu a política de AIP, expectamos que, em alguma medida, esse movimento e concepção de avaliar partilhando responsabilidades implique na diferenciação de elementos que sinalizem indicadores de qualidade social da educação. Isso porque, entendemos “que uma boa avaliação Institucional terá consequências positivas para o nível da avaliação da aprendizagem em sala de aula, cuja prática é de responsabilidade da professora. [...]” (FREITAS et al, 2009, pp.44-45).

Nesse conjunto de expectativas encontramos elementos que dizem respeito ao que a escola tem feito ou, práticas adotadas que possam ser anunciadas como de qualidade social. De acordo com os gestores os elementos são: Organização coletiva do trabalho escolar para a aprendizagem; Comprometimento com a aprendizagem de todos;

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Participação; Integração da família na escola; Participação e Relação escola-comunidade externa; Recursos Humanos e Recursos Físicos.

Além dos elementos apontados, identificamos nas entrevistas três outros possíveis indicadores da qualidade social da educação, uma vez que estão diretamente ligados à aprendizagem das crianças: Participação dos alunos; Formação ampliada dos alunos e Inclusão Social. Todavia, chamamos a atenção para o elemento “Participação”, recorrente dentre as vozes da pesquisa. Acreditamos que essa recorrência pode estar vinculada à vivência da comunidade educacional dessas unidades em processos avaliativos de responsabilidade partilhada.

A potência da participação na escola pública

Considerando a Avaliação Institucional Participativa, numa perspectiva de responsabilidade partilhada, acreditamos que aprender a participar no movimento da participação, em contextos de avaliação institucional pode ter impresso um indicador de qualidade social a essas unidades pesquisadas, uma vez que a participação pode qualificar o fazer coletivo dentro e fora da escola, apontando para um outro protagonismo político-pedagógico. Vejamos abaixo algumas respostas dos gestores, expressivas dessas nossas considerações:

[...] ele [o estudante] pode avaliar o ambiente em que ele estuda e este tipo de percepção, de consciência política, de autonomia, de pró-atividade mesmo, de fazer as coisas, de conversar, reclamar, ter uma voz, saber que tem esta voz e que é escutado e pode ver resultados.(GESTOR 1)

Porque os alunos vêm com reivindicações, demandas... eles demandam o tempo todo para a escola. (GESTOR 2)

[...] a decisão de ter as assembleias escolares que até então a gente não tinha conseguido fazer. (GESTOR 3)

A presença dos pais é muito importante e estamos sempre buscando a participação deles na escola[...] Nesta escola os alunos participam das reuniões com os pais e professores! (GESTOR 4)

Nesse sentido, entendemos adequada a afirmação de Sordi de que “A aprendizagem da Avaliação Institucional implica aprender a participar, aprender a se vincular com o projeto coletivo” (SORDI, 2009, p.26). Ou seja, se os sujeitos aprendem a participar, aprendem também a valorizar e a avaliar os resultados diante do que foi

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objetivado, planos e metas produzidos no processo, possibilitando construir do esperançado a sua realização.

Algumas considerações para continuar o debate

Parece-nos, nessa fase inicial da pesquisa, que há indícios de uma emergência de indicadores de qualidade que sinalizam para além daqueles estritamente vinculados ao âmbito instrucional, à proficiência em disciplinas mais tradicionais do currículo.

Despontam nesse cenário, possíveis indicadores que parecem estar mais ligados a elementos sócio-comunitários, que não se sustentam apenas no plano individual, sinalizando que há razões para se discutir e quiçá apostar na importância dos processos avaliativos de responsabilização partilhada.

Neste sentido a pesquisa nos desafia a olhar para os elementos de qualidade apontados pelos gestores da escola públicas a partir da lógica da participação como ação consequente, entendendo que a mesma pode ampliar o grau de consciência política, reforçar o controle social e vivificar a dimensão da legitimidade do poder de todos os atores/autores da escola na construção de uma outra escola pública.

Referencias

FREITAS, L.C. et al.. Avaliação Educacional-Caminhando pela contramão. Editora Vozes, Petrópolis, 2009.

FREITAS, L. C. Caminhos da avaliação de sistemas educacionais no Brasil: o embate entre a cultura da auditoria e a cultura da avaliação. In BAUER, A.; GATTI, B. A. (Orgs.). Ciclo de Debates: vinte e cinco anos de avaliação de sistemas educacionais no Brasil - Implicações nas redes de ensino, no currículo e na formação de professores. Florianópolis: Insular, 2013.

OLIVEIRA, R. P. de,. A utilização de indicadores de qualidade na unidade escolar ou porque o IDEB é insuficiente. In BAUER, A.; GATTI, B. A. (Orgs). Ciclo de Debates: vinte e cinco anos de avaliação de sistemas educacionais no Brasil - Implicações nas redes de ensino, no currículo e na formação de professores. Florianópolis: Insular, 2013.

SORDI, Mara Regina L. de; SOUSA, Eliana da Silva (orgs.). A avaliação como instância mediadora da qualidade da escola pública: a Rede Municipal de Campinas como espaço de aprendizagem. Secretaria Municipal de Educação. Campinas: Millenium Editora, 2009.

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