• Nenhum resultado encontrado

Formar para a excelência em futebol : estudo comparativo entre a percepção de jogadores e treinadores, sobre a importância dos factores do treino, durante o processo de formação

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Formar para a excelência em futebol : estudo comparativo entre a percepção de jogadores e treinadores, sobre a importância dos factores do treino, durante o processo de formação"

Copied!
103
0
0

Texto

(1)4. FORMAR PARA A EXCELÊNCIA EM FUTEBOL. ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A PERCEPÇÃO DE. JOGADORES E. TREINADORES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS FACTORES DO TREINO, DURANTE O PROCESSO DE FORMAÇÃO.. JOÃO CARLOS CORTESÃO CUNHA. PORTO, 2007.

(2)

(3) Formar para a Excelência em Futebol. Estudo Comparativo entre a percepção de Jogadores e Treinadores, sobre a importância dos factores do treino, durante o processo de formação.. Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Alto Rendimento opção de Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.. Orientador: Prof. Doutor Júlio Garganta João Carlos Cortesão Cunha. Porto, 2007.

(4) CUNHA, J. (2007). Formar para a Excelência em Futebol. Estudo Comparativo entre a percepção de Jogadores e Treinadores, sobre a importância dos factores do treino, durante o processo de formação. Monografia de Licenciatura. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. PALAVRAS-CHAVE: FORMAÇÃO DESPORTIVA, FORMAÇÃO EM FUTEBOL, EXPERTISE, EXCELÊNCIA, FACTORES DO TREINO..

(5) AGRADECIMENTOS Agora que estou preste a fechar esta porta, muitas outras se abrem… Não pretendo, no entanto, deixar de expressar a minha gratidão para com aqueles que partilharam de uma forma ou de outra este caminho, que foi como um jogo de Futebol, feito de avanços e recuos até à grande vitória final. À minha Mãe, por ser a mãe e o pai durante toda a minha vida e pelo amor que sempre me fez sentir. Ao meu irmão, pela amizade e pelos conselhos (gratuitos) que sempre me ajudaram a decidir de forma mais sensata. À Pipinha, por me apoiar, de forma incondicional, nos momentos de crise e pelos momentos mágicos que passamos juntos. Continua assim…!!! Ao Professor Júlio Garganta, pela forma e ginástica temporal que arquitectou para orientar este trabalho. O meu muito obrigado. Ao Professor André Seabra, pela forma como me recebeu e se disponibilizou para me esclarecer. Ao Professor Vítor Frade, por me ter ajudado a dar o “clique” para a compreensão da grandeza do jogo de Futebol. Ao Hélder e ao Tó, pela ajuda na distribuição dos questionários dentro dos respectivos clubes. A todos os que contribuíram para a recolha dos dados (treinadores, directores e jogadores), assumindo extrema importância na realização deste trabalho. Ao Pedro, ao Xico e ao Queirós por serem a causa de muita coisa… Aos “Zés” pela amizade que construímos nestes anos de faculdade e que será eterna. Ao Neri, pelas conversas de mister para mister! Ao Filipe Peixoto, pela amizade e pelo exemplo de vida que tem sido. À Grandiosa, Tuna Musicatta Contractile, pelos amigos que criei, pelos ensinamentos transmitidos e pelas experiências de vida. E por fim, a todos os que me ajudaram a ser o que sou….

(6)

(7) ÍNDICE GERAL Índice de Figuras .....................................................................................V Índice de Quadros .................................................................................VII Índice de Anexos ....................................................................................IX Resumo ..................................................................................................XI Abstract.................................................................................................XIII Lista de Abreviaturas ............................................................................ XV 1. Introdução .......................................................................................... 1 2. Revisão da Literatura ........................................................................ 3 2.1 Formação Desportiva: que caminho para o rendimento?............... 3 2.2 Formação em Futebol: o Caminho… ............................................. 6 2.2.1 O Ensino do Jogo: Que referências?....................................... 9 2.3 Expertise: Ser Excelente! ............................................................. 11 2.3.1 Os Domínios da Expertise ..................................................... 14 2.3.2 Prática Deliberada ................................................................. 17 2.3.3 De Principiante a Perito: “a regra dos 10 anos” ..................... 19 2.4 O Desenvolvimento do Jogador de Futebol ................................. 21 3. Objectivos e Hipóteses ................................................................... 31 3.1 Objectivo Geral ............................................................................ 31 3.2 Objectivos Específicos ................................................................. 31 3.3 Hipóteses ..................................................................................... 32 4. Material e Métodos........................................................................... 35 4.1 Descrição e Caracterização da Amostra ...................................... 35 4.2 Instrumentos ................................................................................ 37 4.3 Procedimentos Estatísticos .......................................................... 37 5. Apresentação e Discussão dos Resultados.................................. 39 Objectivo 1: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre a importância dos domínios da expertise na formação de um jogador de excelência em Futebol; ........................................................ 39 Objectivo 1.1: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre a importância das categorias (princípios ofensivos, João Cunha. III.

(8) princípios defensivos, habilidades técnicas, conhecimento táctico, tomada de decisão, motivação do jogador, comportamento do jogador no grupo, objectivos a alcançar, agilidade e condição física), na respectiva faixa etária, para a formação de jogadores de futebol de excelência;............................................................................................. 40 Objectivo 2: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre a importância da forma de desenvolvimento das categorias do objectivo 1.1 para a formação de jogadores de futebol de excelência; . 52 Objectivo 3: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre a importância dos factores (habilidade natural, prática, ambição, cultura da jogo, capacidade psicológica, equipamentos, consistência, sorte, condição física, entrar em competições e qualidade do treinador) para a formação de jogadores de futebol de excelência; ...................... 53 Objectivo 4: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre a importância do número médio de horas de prática diária necessárias para a formação de jogadores de futebol de excelência; .. 56 Objectivo 5: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre a importância do número médio de treinos semanais necessários para a formação de jogadores de futebol de excelência; ...................... 57 Objectivo 6: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre a idade com que um indivíduo deve iniciar sua prática do Futebol para poder alcançar a excelência; ......................................................... 58 Objectivo 7: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre número de anos necessários para poder alcançar a excelência em Futebol;.................................................................................................. 59 6. Conclusões ...................................................................................... 61 7. Sugestões para Futuros Estudos................................................... 65 8. Bibliografia ....................................................................................... 67 Anexos................................................................................................... 75 Questionário Jogador ..................................................................... LXXVII Questionário Treinador .................................................................... LXXXI. IV. João Cunha.

(9) ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Domínios da Expertise no Desporto................................................ 16 Figura 2 – Factores que influenciam o indivíduo no caminho para a Excelência ..........................................................................................................................26 Figura 3 – Distribuição da Amostra .................................................................. 35 Figura 4 – Nível de Importância atribuída aos Domínio das Expertise............. 39 Figura 5 – Nível de importância atribuída aos Princípios Ofensivos. ............... 41 Figura 6 – Nível de importância atribuída aos Princípios Defensivos............... 42 Figura 7 – Nível de importância atribuída às Habilidades Técnicas. ................ 44 Figura 8 – Nível de importância atribuída ao Conhecimento Táctico. .............. 45 Figura 9 – Nível de importância atribuída à Tomada de Decisão..................... 46 Figura 10 – Nível de importância atribuída à Motivação do Jogador................ 47 Figura 11 – Nível de importância atribuída ao Comportamento do Jogador no Grupo. .............................................................................................................. 48 Figura 12 – Nível de importância atribuída aos Objectivos a Alcançar. ........... 49 Figura 13 – Nível de importância atribuída à Agilidade. ................................... 50 Figura 14 – Nível de importância atribuída à Agilidade. ................................... 51 Figura 15 – Nível de importância atribuída às diferentes formas de desenvolvimento das categorias do objectivo 1.1. ........................................... 53 Figura 16 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores relacionados com o alcançar da excelência. ......................................................................... 55 Figura 17 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores relacionados com o alcançar da excelência. ......................................................................... 56. João Cunha. V.

(10) VI. João Cunha.

(11) ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 – Fases da Formação segundo Segui (1981) .................................... 4 Quadro 2 – Complexidade dos princípios de jogo durante o processo formação ......................................................................................................................... 23 Quadro 3 – As funções do treinador. (Mesquita, 2000).................................... 29 Quadro 4 – Relação dos Factores do Ataque e da Defesa (Queiroz, 1983) .... 30 Quadro 5 – Caracterização do grupo amostral “jogadores”. ............................ 36 Quadro 6 – Caracterização do grupo amostral “treinadores”. .......................... 36 Quadro 7 – Nível de importância atribuída aos Princípios Ofensivos............... 41 Quadro 8 – Nível de importância atribuída aos Princípios Defensivos............. 42 Quadro 9 – Nível de importância atribuída às Habilidades Técnicas. .............. 43 Quadro 10 – Nível de importância atribuída ao Conhecimento Táctico. .......... 44 Quadro 11 – Nível de importância atribuída à Tomada de Decisão ................. 46 Quadro 12 – Nível de importância atribuída à Motivação do Jogador.............. 47 Quadro 13 – Nível de importância atribuída ao Comportamento do Jogador no Grupo. .............................................................................................................. 48 Quadro 14 – Nível de importância atribuída aos Objectivos a Alcançar........... 49 Quadro 15 – Nível de importância atribuída à Agilidade. ................................. 50 Quadro 16 – Nível de importância atribuída à Condição Física. ...................... 51 Quadro 17 – Nível de importância atribuída às diferentes formas de desenvolvimento das categorias do objectivo 1.1. ........................................... 52 Quadro 18 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores relacionados com o alcançar da excelência. .................................................... 53 Quadro 19 – Número de horas de prática diária para alcançar a excelência. .. 57 Quadro 20 – Número de treinos semanais para alcançar a excelência. .......... 57 Quadro 21 – Local e Idade com que o indivíduo deve iniciar a sua prática. .... 58 Quadro 22 – Número de anos para alcançar a excelência. ............................. 59. João Cunha. VII.

(12) VIII. João Cunha.

(13) ÍNDICE DE ANEXOS ANEXO 1 – Questionário para Jogadores…………………………. …………...LXX ANEXO 2 – Questionário para Treinadores……………………………………LXXIV. João Cunha. IX.

(14) X. João Cunha.

(15) RESUMO A formação desportiva, mais concretamente na área do Futebol, tem sido motivo de um interesse crescente por parte dos agentes que o representam. Neste sentido, e face à importância que se atribui ao treino, na consecução da tarefa: formar para a excelência em Futebol, procuramos saber junto dos jogadores aquilo que eles consideram ter tido maior importância, no processo de treino a que foram sujeitos, para terem alcançado o nível de excelência. Dos treinadores pretendemos aferir aquilo a que atribuem maior importância, no processo de formação de um jogador, para que este se torne de excelência. A metodologia adoptada teve como base a utilização de questionários, que foram distribuídos a jogadores da 1ª Liga Portuguesa (Bwin Liga), e a treinadores dos diferentes escalões (escolas, infantis, iniciados, juvenis, juniores e seniores) dos clubes com maior representatividade na região norte. Com o cruzamento dos dados recolhidos concluiu-se que os jogadores (51,6 %) atribuem maior importância aos factores relacionados com o domínio psicológico, enquanto que os treinadores (87,1 %) atribuem maior importância às questões de ordem táctica-cognitiva, na formação de um jogador de excelência. Ambos estão de acordo quanto à utilização de jogos reduzidos para desenvolver os aspectos do jogo, bem como da utilização do terreno de jogo como palco principal dos treinos. A “ambição” foi considerado o factor mais importante, pelos jogadores, no caminho até à excelência, enquanto que os treinadores colocaram a prática (qualidade e quantidade) como o factor de maior importância para tal feito. Por fim, com o cruzamento dos dados de ambos os grupos, concluiu-se ser necessário uma média de 4 a 6 horas de prática diária, 5 a 6 vezes por semana, distribuídas entre o clube e a “rua”, durante cerca de 10 anos, para que um indivíduo ser torne num jogador de Excelência em Futebol. PALAVRAS-CHAVE:. FORMAÇÃO DESPORTIVA, FORMAÇÃO EM FUTEBOL, EXPERTISE,. EXCELÊNCIA, FACTORES DO TREINO.. João Cunha. XI.

(16) XII. João Cunha.

(17) ABSTRACT Sport formation, more concretely in Soccer, has become the object of an increasing interest by the agents that represent it. In this sense, and due to the importance that is given to training in the accomplishment of the task: to form for excellence in soccer, we tried to find out among the players what they consider to have been the most important factor in the training process that they were subject to, in order to have reached the level of excellence. From coaches, we tried to discover which aspects they gave more importance to in the process of formation of a player so that he achieves excellence. The methodology adopted was based on the use of questionnaires that were handed out to players of the Portuguese First League (Bwin League) and to coaches from different rankings (schools, infants, initiate, juvenile, juniors and senior), training some of the most representative clubs of the north of Portugal. With the crossing of the collected data, it can be concluded that players (51,6%) give more importance to factors related with the psychological domain, while coaches (87,1%) attribute more value to tactical-cognitive aspects in the formation of a player of excellence. However, both agree with the use of small games to develop the aspects of the game, as well as with the use of the pitch as the main training stage. “Ambition” was considered by the players the most important feature in the road to excellence; while the coaches defend that the practice (quality and quantity) is the most significant factor to achieve it. Finally, with the crossing of the data from both groups, it can be concluded that it’s necessary an average of 4 to 6 hours of daily practice, 5 to 6 times a week, distributed between the club and the "street", for about 10 years, so that an individual becomes a player of excellence in football.. KEY WORDS: SPORT. FORMATION, FORMATION IN SOCCER, EXPERTISE, EXCELLENCE,. TRAINING FACTORS. João Cunha. XIII.

(18) XIV. João Cunha.

(19) LISTA DE ABREVIATURAS JDC Jogos Desportivos Colectivos. Med. Medianamente.. João Cunha. XV.

(20) XVI. João Cunha.

(21) 1. INTRODUÇÃO “Dos primeiros momentos nas ruas do bairro dos Pobres, em Leça da Palmeira, até às vitórias em grandes palcos internacionais, como Sevilha ou Gelsenkirchen, passando por horas de euforia e tristeza…” Vítor Baía Autobiografia, 2005. Ser jogador de futebol é, ainda hoje, o sonho de muitas crianças. Talvez pelo reconhecimento social, pelos ordenados que se praticam, ou pela simples paixão pelo jogo, mas o caminho que a guia à ribalta está muito perto daquele que a pode condenar ao insucesso. Neste sentido, a prática desportiva assume um papel de relevo na formação do indivíduo. Como tal, a sua preparação desportiva deve respeitar os diferentes níveis de prática, associados ao processo de formação (Mesquita, 2000). Também Wrisberg (2001) concorda no que diz respeito à existência de diferentes níveis de evolução na prática do indivíduo. Numa primeira fase (principiantes) ocorre a aquisição de uma ideia geral da tarefa, durante a qual muitas estratégias são adoptadas, retidas, rejeitadas, modificadas ou descartadas; os erros são frequentes e a consistência das respostas é baixa. Posteriormente. encontramos. a. fase. de. refinamento. das. habilidades. (intermédia). Aqui os movimentos são efectuados com maior consistência e precisão, ocorrendo um aproveitamento mais eficaz e efectivo das informações provenientes do meio ambiente. Num último patamar encontra-se o indivíduo (experto) que executa os movimentos correctamente, sem um grande esforço aparente e como que automaticamente. Então, para que o último nível de desempenho seja alcançado é necessário que o processo de formação do indivíduo possibilite a evolução do mesmo dentro de cada um dos níveis de prática. Qual então o caminho para a Excelência? Sabendo,. à. partida,. que. o. treino. é. o. principal. espaço. de. desenvolvimento das capacidades e habilidades dos atletas, e onde os treinadores desempenham um papel fulcral, carece perceber se as tarefas às quais os indivíduos são sujeitos estão de acordo com os princípios que induzem a excelência.. João Cunha. 1.

(22) Com a revisão da literatura existente, procurar-se-á perceber quais as premissas para a formação dos jovens futebolistas, dando especial atenção aos domínios da expertise e aos factores de treino a esta associados (prática deliberada e a “regra dos 10 anos”). No sentido de identificar que factores assumem maior relevo, na formação de um jogador de Excelência em Futebol, iremos proceder à realização de questionários, direccionados para jogadores da super liga e para treinadores, dos diferentes escalões, dos principais clubes da região norte do país. A apresentação e discussão dos resultados irão apresentar e comparar as respostas dadas por jogadores e treinadores, cruzando esses dados com os de outros estudos já realizados, e por fim, as conclusões onde iremos reflectir sobre os objectivos colocados e as respectivas hipóteses a estes associadas, tendo como base as opiniões recolhidas nos questionários. Muitos estudos têm sido realizados a cerca da formação em futebol, tendo quase sempre sido abordados temas como a modelação, a importância da componente táctica do jogo, a importância da competição e dos agentes desportivos ma formação dos jovens, o que são sem dúvida questões mais que pertinentes. Agora que temas como a expertise começam, não a ser estudados, mas a surgir como matérias de debate e de interesse para os discentes desta faculdade, pensamos ser importante perceber, aos olhos deste conceito, se o caminho que é traçado em Portugal para a formação em futebol, contempla as preocupações que percebemos serem comuns a muitos dos expertos que têm partilhado as suas experiências nos diversos estudos realizados até à data.. 2. João Cunha.

(23) 2. REVISÃO DA LITERATURA. 2.1 FORMAÇÃO DESPORTIVA: QUE CAMINHO PARA O RENDIMENTO? “Não esqueçamos a qualidade… Como fazer melhor, no mesmo tempo. Sem aumentar o tempo de formação, sem roubar tempo à criança. … treinando com melhores exercícios, treinando com melhor método. Estimulando a criança a “treinar” por sua própria iniciativa. Sem tutelas. Dando-lhe tempo para isso. Devolvendo-a “à rua” …” (António Marques, 2000). Ao pensarmos em formação desportiva e em integração no fenómeno desportivo somos levados a pensar em desempenho e rendimento, pois ao nível da alta competição, ou seja no mais alto patamar do desporto, é o sucesso que encontramos como meta a alcançar. Fernandes (2004) afirma que, actualmente a formação de jogadores no futebol, como em qualquer outra modalidade, se tornou um aspecto indispensável para que no futuro possam surgir atletas de rendimento superior. Segundo Pacheco (2001) a “escola” de futebol pretende dar a formação adequada aos jovens futebolistas, para que mais tarde possam vir a integrar as suas equipas seniores. No entanto, não basta praticar desporto para se ter a garantia de que o processo de formação desportiva promova o desenvolvimento das capacidades do indivíduo. É, impreterivelmente, necessário que se conheça, de forma profunda, o processo de formação desportiva, de modo a que se respeitem os diferentes níveis de prática, cada qual com as suas características próprias (Mesquita, 2000). A integração de um jovem na prática desportiva, desperta um conjunto alargado de preocupações, não só porque o processo de desenvolvimento e crescimento dos jovens assume especificidades metodológicas, mas também porque à volta do jovem emergem factores de sociabilização de grande importância para a sua integração no fenómeno desportivo (Marques et al. 2004). Recorrendo ao dicionário da língua portuguesa (Porto Editora) encontramos o conceito de formação descrito como sendo o acto ou efeito de formar (dar forma a), sendo que forma significa figura, feitio, modelo.. João Cunha. 3.

(24) Tal como defende Pereira (1996), a formação é a base do alto rendimento e a este nível o treino surge como o epicentro de todo o processo. É aqui que encontramos a verdadeira essência do processo de ensinoaprendizagem, personificado na relação treinador/atleta e onde a partilha de conhecimentos e informação é constante. Mesquita (2000) salienta a necessidade de a formação preceder a especialização, para que a última aconteça como consequência da existência de bases sólidas e consistentes, adquiridas no período de formação. Este processo deve, para tal, possuir objectivos clara e precisamente definidos, para cada uma das suas etapas, “as quais se podem confinar a quatro momentos distintos de desenvolvimento do desportista:. preparação. desportiva. prévia,. especialização. inicial,. aperfeiçoamento profundo e longevidade desportiva (Matveiev, 1981 citado por Mesquita, 2000). Garganta (1988) atenta para a necessidade de uma fundamentação mais rigorosa, na hora de determinar tais períodos ou zonas de idade, afirmando que “provavelmente, as taxionomias do faseamento serão tantas quantos os seus autores; e as diferenças terminológicas, tantas quantos os seus países de origem” (ver Quadro 1). Quadro 1 – Fases da Formação segundo Segui (1981) 22 21 CULMINAÇÃO. 20. QUALIDADE ELABORADA. 19. 2ª FASE 1ª FASE. 18 17 EVOLUÇÃO. 16 15. 2ª FASE QUALIDADE NATURAL 1ª FASE. 14 13 INICIAÇÃO. 12 11 10. CONFIRMAÇÃO DE VALORES. FORMAÇÃO DE VALORES. 2ª FASE QUANTIDADE. CAPTAÇÃO DE. 1ª Fase. VALORES. Lima (1988) diz-nos que a formação desportiva das crianças e jovens tem a responsabilidade de se opor à simples reprodução do desporto adulto, devendo caracterizar-se por um processo que contribua para a formação global 4. João Cunha.

(25) dos mesmos, através das actividades físicas e desportivas, que sejam favoráveis ao desenvolvimento das capacidades e qualidades físicas, como factor necessário à realização individual do ser humano. Também Pacheco (2001) defende a mesma finalidade para a formação desportiva, reportando-se à “criação de hábitos desportivos, à melhoria da saúde e à aquisição de um conjunto de valores, como a responsabilidade, a solidariedade e a cooperação”, para além de referir o desenvolvimento das capacidades específicas do futebol. Uma outra referência pertencente a Bayer (1987) define-a como possuidora dos meios, momentos e possibilidades que posteriormente irão permitir à criança evoluir no âmbito desportivo. Segundo o mesmo autor, é crucial que o educador proporcione aos praticantes os meios para que estejam motivados, ao mesmo tempo que adquirem e desenvolvem qualidades. No. entanto. este. processo. formativo. de. qualidade. é. também. gradualmente selectivo, e onde apenas os melhores conseguirão alcançar a ribalta. Tal ideia tem suporte no facto de o desporto ser hoje uma sucessão de momentos selectivos, desde o primeiro contacto da criança com a modalidade. Estes são depois sujeitos à pressão selectiva, que se faz sentir retendo os indivíduos que apresentam comportamentos satisfatórios, distinguindo-se dos demais Sobral (1994). Neste sentido, no processo inicial de formação desportiva, a preocupação passa por proporcionar aos jovens o acesso a uma prática desportiva regular, possibilitando uma selecção progressiva dos que revelam talento, que perspective atingir o alto rendimento, sem que para isso esta seja renunciada aos demais (Mesquita, 2000). Este processo pressupõe a cooperação entre Família, Escola, Clube, Centro de Alto Rendimento, etc. É, no entanto, necessário que os agentes envolvidos reconheçam a importância de se transmitir um sentido correcto de carreira, a todos os jovens que se envolvam a este nível de prática. Em suma, a formação desportiva deve proporcionar um desenvolvimento global e harmonioso do jovem praticante, tendo ao mesmo tempo a preocupação de o dotar de habilidades facilitadoras do alcance do alto rendimento desportivo.. João Cunha. 5.

(26) 2.2 FORMAÇÃO EM FUTEBOL: O CAMINHO… “Não se trata apenas de treinar. É mais que isso: é educar, é acompanhar o crescimento e maturação, é sentir os problemas dos atletas, é participar, é viver e acompanhar a escola, o namoro ou a discoteca.” Leal & Quinta (2001) “Divertirmo-nos é melhor que ganhar.” Valdano (1997). O Futebol é uma modalidade pertencente aos jogos desportivos colectivos (JDC). Estes possuem uma elevada aleatoriedade, e no qual as equipas em confronto disputam objectivos idênticos num mesmo espaço e tempo, efectuando acções reversíveis de sinal contrário alicerçadas em relações de oposição/cooperação (Garganta, 1997). Compreender esta natureza aberta do jogo, regulada pelos constrangimentos de factores exteriores como a posição dos colegas e adversários (Graça, 1995), é fundamental para definir prioridades no ensino do futebol. É igualmente importante perceber quais as exigências que o jogo coloca aos seus praticantes, sendo o primeiro de natureza táctica, o que fazer, para que à posteriori o problema seja solucionado, como fazer, seleccionando a resposta motora mais adequada (Garganta & Pinto, 1998). Tem-se, portanto, que a qualidade de jogo de uma equipa é resultado de uma “fenomenotécnica” (Frade, 2004), pois cada momento é diferente do outro, requerendo uma técnica específica e singular que gere uma determinada fenomenologia, em que as coisas se ajustam continuamente. Deste modo, o treino e a formação de jovens jogadores, como processo a longo prazo, devem visar a construção de uma memória dinâmica, onde memória e affordance se relacionam. Os objectivos do treino passarão, então, por fazer do atleta um ser pensante, que entenda o que tem de fazer nos diferentes momentos de jogo. Popper (1991), citado por Garganta (2001), afirma que, para que os nossos sentidos nos digam alguma coisa, temos que. 6. João Cunha.

(27) possuir conhecimento prévio: para podermos ver uma "coisa", temos de saber o que são "coisas". O treinador deve, assim, questionar os seus jogadores, ou fazer os jogadores questionarem-se eles próprios, acerca dos porquês dos seus comportamentos. Reparamos que, muitas vezes, mesmo já na alta competição, os jogadores realizam bem as acções de jogo, mas não têm consciência da importância desse comportamento ou da razão da necessidade dessa acção. Se o jogador souber encontrar a verdadeira razão dos problemas do jogo e se os souber analisar, poderá optar e adoptar, mais vezes, as soluções mais acertadas. Este jogo desportivo exige a correlação de três domínios, ou seja, uma adequada leitura do jogo, uma tomada de decisão assente na análise realizada previamente e, por fim, a execução motora do “acto táctico” (Frederich Mahlo 1969). Araújo (2005: 24) apresenta um conceito mais abrangente, “acção táctica”, que caracteriza como o “resultado da exploração das possibilidades da acção, as quais são constrangidas pelo tempo disponível, perícia do executante, estado emocional, fadiga, etc.”. Também Graça (1995) dá conta do seu carácter imprevisível, em que oportunidade e modo de execução dessas habilidades/ acções dependem do momento do jogo, que ditam o tempo e o espaço para a sua realização. Com os anos de prática o desportista vai filtrando/ seleccionando informação relevante, e sempre que esta o conduz ao sucesso aumenta também a probabilidade de este a usar novamente (Araújo, 2005). Ainda o mesmo autor refere que na base da acção táctica se encontra a afinação perceptiva, pois esta explica a intuição, que é considerada a responsável pela tomada de decisão do executante. Estando a técnica confinada a servir a decisão táctica do jogador, o ensino e o treino do futebol não devem, portanto, restringir-se aos aspectos biomecânicos, isto é, ao gesto, devendo atender sobretudo às imposições da adequação às situações de jogo (Garganta & Pinto, 1998). A formação táctica assume um papel central na formação dos jogadores, devido à sua capacidade de aglutinar e coordenar os diferentes factores do rendimento (Pinto, 1996). “O como e o quando de uma acção tem de ser sempre vista em relação ao jogo” Verheijen (1998). Também Graça (1995), defende a abordagem das técnicas de modo contextualizado, mas, citando um outro autor (Thorpe, 1990), alerta para a necessidade do indivíduo possuir um conjunto de habilidades, ainda que João Cunha. 7.

(28) não especificamente direccionadas, que lhe permitiram encarar o jogo, de forma rudimentar, e actualizar nele o seu reportório motor. Queiroz (1986) aponta a equipa, e os seus valores, como o centro do processo de formação, sendo a partir desta que se desenvolvem as acções individuais, ao que Ramos (2003) acrescenta que o processo de treino deve contemplar estímulos, em número e qualidade, que permitam aos jogadores elevar as suas capacidades, numa realidade próxima da competição. Ao falar em treino pensamos em ensino, e daí que para a abordagem dos JDC se pense num modelo para o seu ensino. Mertens & Musch (1990), citados por Graça (1995), desenvolveram um modelo com essa finalidade, tendo como farol a ideia de jogo e onde as situações descontextualizadas, visando a exercitação da técnica, surgem na dependência e posteriormente ao enunciado dos problemas de jogo. O modelo assenta em três ideias chave: simplificação do jogo formal em formas modificadas de jogo, a relação entre formas de exercitação e formas de jogo e o modo de integrar formas de exercitação e formas de jogo no decurso da instrução. Esta forma de jogo deverá manter a identidade do jogo, contendo uma concepção idêntica à do jogo formal. Nesse sentido, deverá conter os elementos estruturais essenciais idênticos: finalização/ impedir finalização, criar situações de finalização/ impedir a criação dessas situações e construir o ataque/ dificultar a construção do mesmo; ter presente relações de cooperação/ oposição; estabelecer uma dinâmica que permita a alternância natural entre as fases de ataque e defesa, e não condicionar os alunos a situações de resposta fechada. Nos primeiros tempos de prática, os indivíduos desenvolviam as suas capacidades e habilidades fruto dos jogos que realizavam em condições aleatórias. “A aprendizagem do futebol era feita de uma forma não organizada, na rua ou em terrenos baldios, sem a presença de qualquer treinador, através de pequenos jogos de 3X3, 4X4, etc., ou jogo formal (Método Global) consoante o número de participantes existentes, em vários espaços com dimensões reduzidas” (Pacheco, 2001). Na mesma linha de pensamento surge o director técnico nacional da Federação Francesa de Futebol, afirmando ser na rua e em terrenos abandonados que grandes jogadores adquiriram as bases funcionais específicas do futebol (Dusseau, 2002). Ainda segundo Pacheco (2001) numa segunda fase, os clubes 8. João Cunha.

(29) começaram a interessar-se pela formação dos jovens jogadores, levando a que a aprendizagem do futebol passasse a ser efectuada nos campos de futebol, sob a supervisão de um treinador, recorrendo ao método baseado na técnica individual (Método Analítico). Já Ramos (2003) refere que o que se pretende é que as metodologias de treino se baseiem o mais possível nas necessidades do futebolista e possam ter como referência aquilo que é mais específico na modalidade, o JOGO. Queiroz (1983), Araújo (1995) e Garganta & Pinto (1998) concordam dizendo que se aprende a jogar com o próprio jogo. Este deve ser entendido como um todo, devendo ser treinado como tal. Neste sentido Garganta (1997) refere que as técnicas devem ser ensinadas a partir do jogo, em oposição à ideia de se ensinar e treinar o jogo a partir das mesmas. É neste contexto que surge o conceito de “Periodização Táctica”, que “procura entender o futebol como um “todo”” (Carvalhal, 2001: 32), e que entrega à componente táctica o papel de coordenação dos processos de treino, operacionalizando os princípios que compõem o Modelo de Jogo Adoptado. As restantes componentes surgem em dependência da táctica, sem que seja necessário separá-las para as exponenciar (Frade, 1985; Silva, 1989; Guilherme Oliveira, 1991; Vieira, 1993; Faria, 1999; Carvalhal, 2001).. 2.2.1 O ENSINO DO JOGO: QUE REFERÊNCIAS? No ensino do futebol há que ter em atenção certos referenciais. Se por um lado existem características estruturais comuns aos diferentes JDC, por outro, podemos encontrar diferenças funcionais, que nos permitem retirar conclusões importantes para orientar o processo de ensino/treino (Garganta & Pinto, 1995). Deve-se, portanto, atender à especificidade do jogo (Garganta & Pinto, 1995). Neste sentido, estes autores constatam que, no Futebol, existem diferenças significativas no plano funcional, relativamente a outros jogos desportivos colectivos, que permitem retirar ilações importantes para a orientação do processo de treino/ensino do jogo, destacando: •. Dimensão do terreno de jogo e o número de jogadores;. •. Duração do jogo;. João Cunha. 9.

(30) •. Controlo da bola;. •. Frequência de concretizações;. •. Colocação dos alvos;. •. Terreno de jogo;. •. Princípios de jogo. Mas, acima de tudo, e sem chegarmos a focar as questões do. regulamento do jogo, convém falar do que realmente se apresenta como farol de todo este processo: o JOGO. Que referência/ ideia está subjacente ao que vamos transmitir? As nossas concepções e princípios de jogo devem direccionar todos os exercícios de treino, pelo que é importante a definição prévia de como pretendemos jogar, procurarmos através da sua operacionalização nos treinos, dar corpo àquilo que idealizamos. Neste sentido, Guilherme Oliveira (2003), defende que para se chegar ao jogar que se pretende, é necessário que se trabalhe nesse sentido. O autor refere, ainda, a necessidade do Departamento de Formação do clube possuir um modelo de jogo que considere adequado à evolução dos jogadores e de forma a potenciar o seu desempenho. Frade (1995, in Martinho, 2000) salienta que a “especificidade no Futebol, está ligada ao Modelo de jogo preconizado, sendo este o referencial que irá controlar todas as acções, daí que seja necessário instruir os jogadores no sentido de os dotar de uma autonomia participativa no processo. Para Paul (2003, in Lemos, 2005), o que se pretende é que sejamos capazes de formar jogadores com uma cultura e capacidade para se adaptarem a qualquer modelo ou sistema, ou seja, como defende Bayer (1994), um jogador inteligente, com capacidade de decisão, recorrendo aos seus conhecimentos e suas vivências. Para tal, é necessário que, desde os primeiros passos, os jogadores assimilem um conjunto de princípios. Estes estão intimamente ligados ao “farol” de todo o jogo da equipa, ou seja, o modelo de jogo (Costa, 2001). Então, para poder participar e integrar qualquer organização, o jogador deve possuir uma cultura táctica sólida e alargada, independentemente da cultura organizacional, que lhe permita ultrapassar, de modo eficaz, os problemas gerados pela. 10. João Cunha.

(31) natureza aleatória do jogo (Pinto, 1996). Se constatamos que no Futebol, os factores de fracasso estão mais relacionados com a ineficiência das habilidades técnicas e com os problemas relacionados com a leitura do jogo que com os factores físicos, logo, o condicionamento físico não deve ter lugar de destaque na formação desportiva de crianças e jovens praticantes de Futebol. Neste sentido, e enquanto realidade pedagógica, o treino de Futebol tem que obedecer a três princípios fundamentais, que garantam a aprendizagem e a progressão: •. Intensificação. –. o. aumento. da. intensidade. global. conduz. necessariamente a treinos mais curtos, de forma que a concentração se mantenha sempre em níveis elevados; de igual modo, o Futebol requer constantes variações de ritmo de jogo, o que impõe a imperial condição que os jogadores tenham essa capacidade de intencionalmente provocarem essas mesmas variações de ritmo do jogo; •. Universalização – nenhuma equipa é igual à outra, logo não podemos. treinar da mesma forma com grupos diferentes; •. Compreensão – a relação entre aquilo que se faz (os exercícios de. treino) e aquilo que se adquire (aprendizagem).. 2.3 EXPERTISE: SER EXCELENTE! “O que realmente nos faz melhorar, é o desejo imperioso de ser excelentes no que fazemos” Miriam Blasco (campeã do mundo e olímpica de Judo, em 1991 e 1992) Se trabalhares muito, alcançarás a excelência, e por seres excelente realizarás grandes feitos e conquistarás grandes troféus. A não ser que não aconteça! Porque, por vezes, o adversário é melhor ou tem mais sorte. Em qualquer dos casos, deves ficar satisfeito com a tua excelência e a dignidade do teu esforço. Boswell (1992, citado por Starkes et al. 1996). A expertise tem sido alvo de estudo, e o interesse por esta área tem João Cunha. 11.

(32) vindo a crescer no seio do desporto (Housner & French, 1994; Starkes & Allard, 1993). Desde que Francis Galton escreveu a frase “nature & nurture”, em 1874, vários cientistas têm utilizado esta expressão, procurando descrever os factores que levam o Homem a alcançar elevados níveis de performance (Baker et al., 2003). Outros têm centrado o seu trabalho ao nível da relação cognitiva das habilidades no desporto com a tomada de decisão e formas de conhecimento (Helsen & Pauwels, 1993; McPherson & Thomas, 1989; Allard & Starkes, 1991). Hereditariedade e meio têm partilhado as “culpas” no alcance da expertise, chegando esta relação a ser caracterizada pela metáfora do balde, onde os genes são responsáveis pela dimensão deste, enquanto que o meio fica encarregue do conteúdo (Lewontin, 2000). Como é óbvio, não é fácil aferir a capacidade cognitiva de um perito durante a execução das diferentes habilidades, daí que, para que se consiga estabelecer um padrão de comportamento, se estabeleça um balanço entre o seu desempenho em competição e modo como este se prepara para a mesma (Starkes et al., 1996). Muitos autores procuraram delinear características que definam um experto. Simon & Chase (1973) foram os primeiros a observar que seriam necessários 10 anos de preparação e treino, para que fosse possível praticar xadrez a um nível internacional. Também Bloom (1985), ao estudar expertos na área da música, desporto e ciência confirmou ser necessária uma década de prática, para atingir a excelência em qualquer um desses campos. O mesmo autor e mais recentemente Ericsson & Crutcher (1990, citado por Starkes, 1993) mostraram que um indivíduo que se encontre a competir a nível internacional, iniciou a sua prática nessa modalidade ainda antes dos 6 anos, ocupando grande parte da sua juventude a treinar. Como já foi referido anteriormente, uma performance consistente é fundamental para que um indivíduo seja considerado perito (Starkes, 1993). Nem todos os que conseguem concluir um buraco, em apenas uma tacada, são considerados expertos em golfe. Quando observamos os indivíduos no campo, segundo Starkes (1993) conseguimos retirar mais informação, pois estes são sujeitos a muito mais situações de prática, que se comparado com a observação em laboratório. As habilidades que são medidas pela observação do desempenho motor abrangem todas as áreas, desde discursos, a tocar piano, ao ballet, desporto e 12. João Cunha.

(33) cirurgias. Para poder distinguir tais habilidades, Poulton (1957, citado por Starkes, 1993) dividiu-as em duas categorias: abertas e fechadas. As habilidades abertas (futebol, boxe) caracterizam-se pelas movimentações e dinâmica, onde existe oposição à execução das habilidades, e em que o modo como se executa é indicador do movimento padrão. Já as habilidades fechadas (ginástica,. xadrez),. caracterizam-se. pela. sua. consistência. e. por. se. desenrolarem num espaço imutável, não existindo oposição directa e onde o padrão motor é representativo da habilidade em questão. As habilidades são vistas como características normalmente estáveis, apresentando apenas ligeiras mudanças com o tempo e prática. Wrisberg (2001) assume que os indivíduos que possuam um elevado nível de execução nas habilidades que importam para o desempenho de uma dada tarefa, irão apresentar um grau superior de performance, ou à luz da presente questão, demonstrar um nível superior de destreza. Mas afinal o que é um Perito? Segundo Starkes (1993), um perito motor é alguém muito bom no desempenho motor de uma “tarefa”. Para Ericsson & Smith (1991) a expertise caracteriza-se por estabilidade e mensurabilidade da performance durante longos períodos de tempo. O Dicionário de Webster define perito como alguém que adquiriu uma habilidade especial ou conhecimento num domínio particular, através do treino profissional e de experiência prática. Mas quão bom terá que ser? E o que é ser bom? E como terá que ser desempenhada a tarefa?... Estas são algumas das questões que se colocam, na tentativa de definir e identificar um perito motor. Alguns autores acreditam que cada um de nós possui algum nível de expertise, num determinado domínio (Sloboda, 1991). Se seguirmos esta noção de expertise teremos que considerar experto, alguém com um desempenho acima da norma da sociedade. Por exemplo, hoje em dia não pensamos num condutor como um perito, enquanto que o mesmo não se verifica para alguém que apresenta uma grande habilidade equestre. Já à cem anos atrás, montar a cavalo era considerado perfeitamente normal, não sendo motivo para se pensar em excelência. Logo que uma habilidade passa a fazer parte do repertório normal da sociedade deixa de ser vista como matéria de estudo (Starkes, 1993). João Cunha. 13.

(34) De acordo com Starkes (1993) a exclusividade está associada à expertise. A mesma autora, citando Salthouse (1991), refere que apenas aqueles que se encontram nos percentis mais elevados, da distribuição normal, poderão ser chamados de expertos. Uma vez mais, pensando na distribuição normal para uma capacidade, estes seriam indivíduos com uma performance 2 a 3 desvios padrão acima da média. O seu desempenho é impressionante, pois ultrapassaram o conhecimento normal numa determinada área, parecendo que têm todo o tempo do mundo e pensando sempre duas jogadas à frente dos adversários.. 2.3.1 OS DOMÍNIOS DA EXPERTISE Para alcançar o estatuto de perito, Janelle & Hillman (2003), definem como necessário alcançar a excelência nos domínios fisiológico, técnico, cognitivo e emocional (ver figura 1). Ainda segundo os mesmos autores, a expertise ao nível fisiológico é exclusiva do desporto, não apresentando superioridade, relativamente aos restantes domínios, em áreas como o xadrez, a música, a electrónica, matemática e programação de computadores. O seu cariz amplo e variável espelham o que no desporto podemos encontrar. Podemos dar o exemplo da expertise em velocistas e em corredores de fundo, que embora apresentem habilidades semelhantes requerem desempenhos distintos, aos expertos dessas áreas. Pensando nas questões fisiológicas de desenvolvimento e adaptação musculares, percebemos que embora as fibras possam evoluir de acordo com o tipo de treino (e.g., Wilmore & Costill, 1999, citados por Janelle & Hillman, 2003) também chegamos à conclusão que os limites desta adaptação são impostos por factores genéticos (e.g., Bouchard et al., 1992, 1997; Klissouras, 1997; Swallow et al., 1998, citados por Janelle & Hillman, 2003). Se nos reportarmos ao desenvolvimento da expertise técnica, encontramos diversos registos referindo que o grau de coordenação sensoriomotor está na base de movimentos padrão coordenados, refinados e eficientes, que emergem no seguimento dos anos de treino extensivo e sistemático, ou prática deliberada (Helsen, Starkes & Hodges, 1998; Starkes, 1993, 2000; Starkes, Deakin, Allard, Hodges, &Hayes, 1996, Janelle & Hillman, 2003). Ao 14. João Cunha.

(35) analisarem o trabalho de outros autores Janelle & Hillman (2003) concluíram que em desportos como o basebol, o voleibol, o futebol e o skate, ao contrário dos. indivíduos. não. expertos,. os. expertos. demonstravam. vantagens. “específicas significativas no reconhecimento, recordação e retenção de modelos, sendo esta capacidade derivada da repetição sistemática de tarefas, e não resultante apenas da aprendizagem pela observação de um acontecimento específico. Já a expertise cognitiva pode subdividir-se em conhecimento táctico/ estratégico e percepção/ tomada de decisão. A primeira apresenta-se como um requisito para a performance do perito, em qualquer domínio (Janelle & Hillman, 2003). Envolve não apenas decidir sobre qual a estratégia mais adequada, numa determinada situação, como também qual a estratégia capaz de ser executada, tendo em conta os constrangimentos dos movimentos requeridos (e.g., McPherson, 1994; Starkes, 1993). Janelle & Hillman (2003) concluíram que a existência de uma extensa base de conhecimento declarativo e processual, possibilita aos jogadores a selecção de respostas mais apropriadas constituindo um repertório de factos e procedimentos, de onde são extrapoladas estratégias tácticas, que potenciam a eficácia da tomada de decisão (Janelle & Hillman, 2003). Para Guilherme Oliveira (2004) são as equipas e os jogadores, através das suas ideias colectivas e individuais, do entendimento que fazem do jogo, a influenciar a melhoria qualitativa da equipa e dos jogadores. Quanto à tomada de decisão, independentemente de se tratar de um desporto individual ou colectivo, pensa-se que o experto é capaz de retirar do meio ambiente as informações relevantes, deixando de lado o que é acessório. A velocidade e precisão das decisões tomadas assentam na forma como a informação é percebida e tratada, resultando daí uma resposta efectiva ao estímulo (Janelle & Hiiman, 2003). Vários autores (Rippol, 1987; Temprado, 1989; Tavares, 1993; Alves & Araújo, 1996 citados por Vieira, 2003) consideram a tomada de decisão como uma das mais importantes capacidades dos jogadores e, em muitos casos, a responsável pelas diferenças de rendimento entre estes. Recorrendo novamente ao “acto táctico” (Frederich Mahlo, 1969) que relaciona leitura, decisão e execução motora, vem que a parte executora está sempre relacionada/dependente do respectivo raciocínio, João Cunha. 15.

(36) Habilidades Psicológicas. Físico. Técnico. Cognitivo/ Táctico. Cognitivo/. Emocional. Perceptual. Performance do Perito Figura 1 – Os domínios da expertise no desporto. (Janelle & Hillman, 2003). que em modalidades abertas, como o futebol, é determinante para o sucesso da intervenção e a optimização do rendimento do jogador. Por sua vez, o domínio da expertise emocional é dividido em regulação emocional e capacidade psicológica. Regulação emocional refere-se à capacidade que o indivíduo possui para controlar e dominar as suas emoções, o que contribui em muito para a variação na performance do atleta. A capacidade psicológica é um domínio de extrema importância na performance de um perito. Nesta área encontramos temas como a motivação, a definição de objectivos a alcançar, a construção da confiança, a adopção de uma atitude positiva, visualização e treino mental, “treinabilidade” e relações interpessoais (Janelle & Hillman, 2003). Os mesmos autores referem que um nível de expertise inferior, num destes domínios, impedirá o indivíduo de se apresentar ao mais alto nível. Por outro lado, a expertise num dos domínios pode igualmente ser um meio facilitador ou impeditivo do alcance da expertise noutros. Por exemplo, a motivação pode levar a que o indivíduo se supere em termos fisiológicos. A Figura 1 representa a natureza das interacções nos domínios da expertise. As habilidades psicológicas influenciam a performance do atleta nos diferentes componentes de cada domínio, onde a competência na interacção desses domínios irá ditar o nível de expertise desportiva. O nível relativo de expertise dos atletas sugere futuras alterações nas habilidades psicológicas e na preparação para a participação desportiva, bem como a melhoria em cada 16. João Cunha.

(37) um dos domínios da expertise. Embora estas considerações possam parecer obvias aos olhos dos desportistas, a verdade é que a investigações levadas a cabo têm negligenciado a relação entre os diferentes domínios, favorecendo a investigação independente das componentes determinantes da expertise. Não podendo afirmar que exista uma teoria viável e inclusiva, para avançar com a investigação da expertise, os cientistas têm levado a cabo um tremendo esforço, no sentido de providenciar uma concepção para o seu estudo, procurando o desenvolvimento desta teoria e o avanço da ciência nesta área tão intrigante (Janelle & Hillman, 2003).. 2.3.2 PRÁTICA DELIBERADA “…a prática perfeita traz a perfeição…” Janelle & Hillman (2003). Derivada do ponto de vista da expertise, a fim de determinar o que diferencia a performance de expertos e não expertos, nos seus respectivos domínios de excelência, surge a noção que talento inato, predisposições hereditárias e limitações genéticas e níveis elevados de habilidades, não podem ser alcançados sem largos anos dedicados à prática. Para Starkes (1993) um indivíduo com largos anos de experiência, com muitas horas de prática, e com resultados consistentes e ao mais alto nível, pode ser considerado um perito, enquanto que uma criança, que só agora se iniciou numa determinada prática, embora possa pertencer à selecção nacional, será considerada um jovem talento. Uma outra controvérsia, relacionada com o estudo da expertise, centra-se no facto de sabermos quanto do desempenho é explicado pelos anos de treino, comparativamente com a habilidade natural. É verdade que com a prática o indivíduo melhora o seu desempenho, mas como explicar o facto de alguns que acabados de chegar conseguem obter prestações fabulosas. De um modo geral, e segundo Ericsson et al. (1993), prática deliberada pode caracterizar-se por uma actividade com grande relevância para a performance, que exige esforço, e que não se apresenta como divertida, pressupondo que o alcance da expertise é orientado pela participação na prática deliberada. Ainda segundo a teoria de Ericsson et al.. João Cunha. 17.

(38) (1993), essa prática leva o indivíduo a refinar continuamente o seu desempenho, servindo-se dos resultados obtidos e dos feedbacks que recebe. Segundo os mesmos autores, esta prática exige mais esforço e concentração, se comparada com a prática causal, daí que o planeamento do treino deva contemplar os devidos tempos de recuperação, favorecendo a aquisição de índices de desempenho superiores. No entanto, os estudos realizados por Starkes et al. (1996) não produziram resultados condizentes com essa definição, uma vez que, quer para lutadores e patinadores, são encontrados os valores mais elevados de entusiasmo, em actividades também elas com os valores mais altos de relevância e esforço/ concentração. Já anteriormente, em estudos realizados nas áreas da luta (Hodges & Starkes, 1996), Hóquei e Futebol (Helsen, Starkes & Hodges, 1998) essa teoria havia sido posta em causa, ao serem alcançados resultados onde actividades consideradas importantes, para o treino do indivíduo, eram consideradas, igualmente, agradáveis. Esta descoberta foi contraposta por Ericsson, Krampe & TeschRomer (1993), dizendo que seria a vertente social do desporto a trazer entusiasmo à sua prática. A questão que se levanta é a de definir quais as actividades que representam prática deliberada. Enquanto que alguns autores se centraram no número de horas de prática individual (Ericsson, Krampe & Tesch-Romer, 1993), outros (Starkes et al. 1996) optaram pelo número de horas de prática com outros indivíduos, para aferir qual o tipo de trabalho que leva o indivíduo a alcançar a expertise, em diferentes modalidades desportivas. No entanto, se ignorarmos este problema, percebemos que o número de horas de prática semanal, em prática deliberada, correspondeu a valores entre 20 e 30 horas, para violinistas, pianistas, lutadores e patinadores, valores estes para indivíduos com 10 a 15 anos de carreira. De acordo com Ericsson, Krampe & Tesch-Romer (1993), a prática deliberada pressupõe 1) a prática de uma tarefa bem definida e que seja desafiante para o indivíduo; 2) a presença de um feedback relevante; 3) a oportunidade para repetir e posterior correcção do erro. Outros autores acrescentam, que “independentemente das habilidades individuais, são necessários pelo menos 10 anos de prática intensiva para adquirir as habilidades e a experiência exigidas para se começar a ser um 18. João Cunha.

(39) experto dentro de qualquer contexto” (Ericsson, Krampe & Tesch-Romer, 1996; Hodges & Starkes, 1996; Charness, Krampe & Mayr, 1996; Helsen & Starkes, 1999, citados por Costa, 2005). Embora a relevância, atribuída às diferentes actividades envolvidas no processo de treino do indivíduo, seja variável, não podemos centrar-nos apenas nas referentes à prática deliberada (Starkes et al, 1996). No estudo realizado por Ericsson et al. (1993), os estudantes de violino com menores capacidades dedicaram mais horas em actividades relacionadas com musica em geral, do que propriamente a tocar violino. De igual modo, Starkes et al. (1996), referem o facto de um lutador ou patinador, que claudique em termos cardiovasculares, não ser “salvo” pela melhor técnica do mundo. Com tantas similaridades e diferenças entre processos de treino, os autores levantam a seguinte questão: Será a prática deliberada apenas uma peça do puzzle que tentamos completar, no sentido de perceber a performance de um perito? O aspecto fulcral a reter, baseia-se no facto de a prática deliberada não ser condição suficiente para garantir o sucesso. Existem outros factores tais como o carácter, a sorte, o envolvimento e as lesões, que influenciam inevitavelmente os resultados competitivos (Starkes et al. 1996). Também outros autores referem a necessidade de se avançar com a investigação, passando da questão: quanta prática, para as questões o quê e como (Davids, 2000; Durand-Bush & Salmela, 2001; Singer & Janelle, 1999; Starkes, 1993; 2001, citados por Janelle & Hillman 2003).. 2.3.3 DE PRINCIPIANTE A PERITO: “A REGRA DOS 10 ANOS” Se pensarem nos génios motores como uma pirâmide, tendo na sua base os mais simples componentes da coordenação, e no topo a perfeição, no que respeita a esses movimentos, então teríamos o que separa o génio dos meramente muito bons. Malcom Gladwell (1999, citado por Wrisberg, 2001). Todos os anos, milhões de crianças participam em programas desportivos, em várias modalidades. Estes indivíduos, que integram o desporto juvenil, são normalmente considerados novatos, uma vez que possuem limitações ao nível dos conhecimentos e habilidades específicas de uma dada João Cunha. 19.

(40) modalidade. À medida que estes vão maturando e aprendendo as estratégias cognitivas, habilidades e conhecimentos do desporto, a sua performance em situação de jogo vai melhorando (French & Thomas, 1987; McPherson & Thomas, 1989). Não é por isso de surpreender que sejam exigidos elevados nívei de prática para que se alcance a Excelência (Baker et. al., 2003). Os vários estudos já referidos apontam para uma relação entre treino/prática e a aquisição de habilidades. Recuando no tempo, encontramos determinadas teorias, que definem a progressão de principiante a Experto, onde se inclui a “regra dos 10 anos” (Simon & Chase, 1973). Estes autores estipularam que um compromisso de 10 anos, com elevados níveis de treino, é o mínimo requerido para se alcançar o nível de Experto. Eles constataram que a vantagem entre Experto e principiante, em xadrez, se encontrava não ao nível da capacidade de memória, mas na capacidade para realizar jogadas com maior significado. Também De Groot (1996, citado por Guilherme Oliveira, 2004) compara o desempenho entre Expertos e principiantes, verificando que as diferenças entre ambos se encontravam na capacidade de escolher o melhor caminho para a solução, sem considerar todos os outros caminhos possíveis. Chi, Feltovich & Glaser (1981, citados por Anzai, 1991) demonstraram que expertos e principiantes diferem na categorização dos problemas de física. Enquanto que os expertos são capazes de interpretar os diagramas apresentados, associando-os aos princípios da física, os novatos limitam-se a “ler” directamente de objectos concretos apresentados em diagramas. No entanto existem também estudos que não revelam qualquer diferença estatisticamente significativa entre expertos e não expertos. Starkes (1987) estudou jogadores de Hóquei em Campo: de elite, intermédios e não jogadores, para a categoria detecção da bola, não encontrando diferenças entre grupos. Helsen & Bard (1989, citados por Starkes et al., 1993) compararam a selecção de resposta, por parte de jogadores de Futebol, principiantes e Expertos, enquanto observavam algumas sequências de jogadas. Foi-lhes solicitado que indicassem qual seria a decisão tomada pelos jogadores (chutar para golo, fintar o adversário ou passar a um colega desmarcado), presentes no filme. Verificou-se uma maior rapidez e concordância com as acções 20. João Cunha.

(41) observadas, nas respostas dos Jogadores expertos, bem como o facto de este se focarem, principalmente, nos espaços vazios e no jogador desmarcar em linha mais recuada. Singer & Janelle (1999) enumeraram, posteriormente, as características que distinguem os Expertos dos outros: 1. Possuem maior conhecimento específico da tarefa; 2. São capazes de interpretar informações, com maior significado; 3. Armazenam e utilizam a informação de modo mais efectivo; 4. Utilizam melhor as probabilidades; 5. Tomam decisões com maior rapidez e mais apropriadas. Não basta ao indivíduo ter experiência, é necessário que os seus resultados sejam consistentes para que seja considerado Experto. A falta de habilidade ou uma má condução do processo de treino podem justificar o facto de, embora sendo experiente, não se alcançar a expertise. Ainda no mesmo âmbito, podemos dizer que conhecendo os desenvolvimentos que se processam desde o novato ao Experto, nos iria ajudar a compreender “plateaus” de aprendizagem, mudanças de motivação, o papel dos mentores, o desempenho competitivo, etc.. 2.4 O DESENVOLVIMENTO DO JOGADOR DE FUTEBOL Já vimos anteriormente que o treino tem como propósito a aquisição e melhoria das capacidades e habilidades do indivíduo. No caso do Futebol, como JDC que é, o treino visa optimizar as relações entre estímulo e resposta, tendo presente a aleatoriedade característica do jogo, preparando o atleta para analisar, decidir e executar, de forma adequada e eficaz. No entanto, não se pode esquecer que as decisões têm como base princípios, princípios estes que advêm da “ideia de jogo” do treinador. Para concretizar tal tarefa, o treino assume um papel crucial, sendo este processo de ensino-aprendizagem (prática deliberada) que levará o indivíduo à excelência (Ericsson et al., 1993). Na literatura consultada, não foi possível encontrar referências aos factores do treino, por nós designados como subcategorias dos domínios da João Cunha. 21.

(42) expertise. Os estudos na área do Futebol (Helsen, Hodges, Van Winckel & Starkes, 2000; Williams, 2000; Reilly et al., 2004; Ward, Hodges, Williams & Starkes, 2004; Williams and Hodges, 2005), têm recaído sobre as teorias da prática deliberada (Ericsson et al., 1993) e “regra dos 10 anos” (Simon & Chase, 1973), fazendo alusão à prática associada à instrução, como sendo o caminho que conduz à excelência. Também aqui se encontram vozes do lado da hereditariedade ou meio envolvente, concluindo-se que o desenvolvimento da excelência resulta da combinação dos factores hereditários com os factores do meio envolvente, tais como a influência dos pais e treinadores, e o comprometimento e motivação para a prática. No entanto, pudemos constatar que existem diferenças no papel que as ciências desempenham no Futebol, evidenciadas pela menor representatividade das ciências da psicologia e sociologia, se comparadas com a fisiologia (Williams & Hodges, 2005). Os mesmos autores, apresentam o facto de ser mais fácil e concreto identificar alterações físicas do que comportamentais, como resultados do treino, para justificar as diferenças encontradas. Vários factores são enunciados na hora de definir o caminho para a excelência em Futebol, tais como o número de horas de treino por semana, por ano e no total da formação do indivíduo, até alcançar a Primeira Liga (Ward, Hodges, Williams & Starkes, 2004). Mas, a nossa preocupação estende-se além da quantidade de prática. Procuramos entender que qualidade deverá ter a prática em Futebol, e não nos referimos apenas à instrução, que também se enquadra no papel do treinador. Falamos de todos os “pormenores” adjacentes ao “jogar” preconizado pelo treinador, e que resulta, não da junção, mas da articulação dos diferentes domínios do jogo. O jogo encerra uma grande variedade de acções, sensações e emoções, todas elas com uma estreita relação entre si. Podemos constatar que muitas das referências da literatura (Frade, 1985; Silva, 1989; Guilherme Oliveira, 1991; Vieira, 1993; Faria, 1999; Carvalhal, 2001), colocam as restantes componentes em dependência da táctica, mas até que ponto vai essa preponderância? Se nos concentrarmos no domínio táctico, somos levados a pensar em “ideia de jogo”, nos princípios que lhe estão inerentes, no entendimento e manipulação desses princípios, e na sua materialização através das acções do 22. João Cunha.

Referências

Documentos relacionados

A placa EXPRECIUM-II possui duas entradas de linhas telefônicas, uma entrada para uma bateria externa de 12 Volt DC e uma saída paralela para uma impressora escrava da placa, para

Estudos que analisam a dinâmica dos rendimentos por meio de componentes permanente e transitório permitem a identificação do comportamento da renda como sendo

Rafael Briquet (Mestrado, USP, M. Jardim) Paula Gneri (doutorado, bolsa CNPQ) 22. Título do projeto: Representações de quivers em categorias abelianas 23. Jardim) Vitor

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem

Dessa forma, a partir da perspectiva teórica do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o presente trabalho busca compreender como a lógica produtivista introduzida no campo

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

O primeiro passo para introduzir o MTT como procedimento para mudança do comportamento alimentar consiste no profissional psicoeducar o paciente a todo o processo,