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TUDOÉPOESIA

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TUDO É POESIA

Gilberto Nogueira de Oliveira Nazaré, 25-10-2010

Para um poeta,

Tudo é motivo para poesia. Até a fome!

Há poesia na fome? É claro que há

Pois, há fome na poesia Até a guerra tem poesia.

Os barulhos das metralhadoras Fazem a música da guerra, E música é poesia.

Também na morte há poesia. Quando morre um poeta, De morte doce e poética, É motivo para poesia. Tudo o que o poeta vê, Tudo o que o poeta faz, Tudo o que o poeta sente, Tudo o que o poeta sofre É transformado em poesia. Para o poeta,

Até a hora de sua morte, Para que os outros não chorem, Ele transforma a sua morte Num doce sofrimento. E o sofrimento é a poesia, Na alma dos poetas sofredores. Uma poesia, uma mulher nua, Um riacho correndo,

Uma mulher tomando banho, Um poeta olhando,

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A lua iluminando o riacho Mulher nua, riacho, banho... Poeta, lua, poesia...

Se eu ando pelas ruas,

Às três da madrugada, No céu a lua brilha, Cá embaixo nas matas Há uma mulher nua Junto à manada,

Que segue a sua trilha. Passam perto das cascatas E seguem o seu caminho, Fazendo um barulho enorme; Passam embaixo das cascatas Caem na água, sem medo, Atravessa o redemoinho, O poeta está vendo

A manada com suas marcas Que já chegaram ao lajedo. E seguiram seu caminho sem fim Chegando na outra margem. A manada sobe o barranco, Seguem seu triste destino. Agora, por entre a folhagem Toma o caminho do arvoredo, Deixando a mulher nua para trás. João vai montado na égua,

Tocando a boiada furiosa. Enfim, encontra Maria. Por fim, ele tem uma trégua.

O poeta observa Maria, toda dengosa E pensa: Tudo é motivo para poesia. Para um poeta,

Tudo é motivo para poesia. Até o movimento da cidade, Aquele barulho horrível.

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Ele observa o estafeta Entregar uma carta a Joana.

Ela agradece por bondade.

Ela é feia e emperrada, Mas é motivo para poesia. Um cachorro, ladra distante Na trilha de uma cutia. O poeta sempre sereno,

Mas seu coração está batendo. E o que ele pensa nesse instante, Que tudo é motivo para poesia. O mar bate na praia,

Nas palmeiras bate o sol,

Perto da praia um homem toma banho, O seu cachorro também.

Um pescador fisga uma raia Com seu heróico anzol. Uma donzela com assanho, Mais alem a correr,

Dizendo que quer o sol. O sol que é bonito

Brilha e ofusca as vistas. Um rapaz com um cabrito

Quer chamar a atenção das turistas. Pedro beija Vivian,

Jaime beija Joana, Jose beija Lilian Romero beija Suzana, João beija Mirian Roberto beija Siana. O poeta beija o vento Que é seu único sustento, Neste grande momento Também aprecia,

Com imensa alegria, Romeu beijar Sofia. Então, pensa sorrindo

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Que tudo aquilo que ver,

Que tudo aquilo que sente,

É motivo para poesia.

Se o homem espanca o homem Com suas garras assassinas, E o poeta presencia o fato Com profunda tristeza Mas, apesar da tristeza O poeta pensa com rancor Que até esse fato,

Bruto e ingrato, É motivo para poesia. Se o poeta passa na praça, E ver um discurso político Dos homens da direita, Ele logo pensa

Que aquilo é uma das coisas

Que possui o subdesenvolvimento. O político grita bem alto

Que ele controla a situação, Seja ela qual for,

Até uma guerra nuclear. Ele saberá controlar Com toda a habilidade,

Com esperteza e com astucia,

De todo político do subdesenvolvimento, Dos países subdesenvolvidos,

Das terras analfabetas, Dos povos que dão frutos. Frutos raquíticos

Sem presente, passado ou futuro, Sem comida, água ou dinheiro, Com fome, miséria e sujeira.

Com pés descalços e com machados. Tudo isso por que

O barrigudo e careca político, Soube controlar a situação

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Com dinheiro e gestos de mãos, Sempre controlando a situação Que é observada pelo poeta, E se transforma em poesia. Humor negro, talvez.

Mas sincero de coração.

Se os chorões cantam nas baixadas E os lobos uivam nas montanhas, Se os homens da cidade grande, Andam de ouvidos tapados Com o fim de não ficarem loucos Com as buzinas e auto - falantes, Que muito contribuem,

Com a felicidade da minoria E a desgraça da população, Que é a maioria,

É motivo para poesia. Se a carne sobe de preço, Se a pesca foi proibida, Se o peixe é para a elite, Se a caça foi proibida, Tende piedade de nós Pois, até a morte de fome É motivo para poesia. Poesia mal alimentada De versos, palavras e rimas Poesia sobre a fome,

Mas é sempre poesia. Se uma luz se acende,

Se um casal entra num quarto, Se uma luz se apaga,

Se dois corpos rolam na cama, Se dois corpos gemem de prazer, Se a vida deu prazer àqueles corpos, Se uma luz torna a acender-se, É motivo para poesia.

Se um pedreiro pobre,

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Se enquanto ele trabalha Vem o nobre e atrapalha, No seu grandioso trabalho. O pedreiro no alto da casa Trabalhando com perfeição, Pensando nas brigas de galos, No seu galo pedrez,

Enquanto seu nobre patrão Bebe uísque escocês,

Desprezando a bebida nacional. O pedreiro na sua miséria Bebe a cachaça nativa Valorizando o que é nosso. O pedreiro trabalha no esgoto. Ouve-se uma descarga

Que é recebida no rosto. É o patrão defecando Caviar e uísque escocês,

Misturado com cigarro americano. Enquanto o pedreiro amassa O seu cigarro de palha, Dá um trago e sai andando Pensando na sua miséria. Enquanto o poeta

Anda na sua nostalgia,

Só em pensar que tudo aquilo É motivo para poesia.

Um andarilho incansável Caminha pela estrada Negra e infinita, Sob o luar prateado Como rosas brancas, Como a própria prata, Como a própria lua,

Seu destino é infinito,

Suas forças são infindáveis, Seus gestos são amáveis, Seu rosto é bonito

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Clareado pela lua, Queimado pelo sol Curtido pelo vento, Sua linda mulher Anda semi - nua Como a própria lua. A lua com sua claridade Semelhante a um lençol, Lençol claro e ciumento Ilumina o monte até o sopé, E fazendo o poeta chorar Inspirando-o de alegria. A lua, o andarilho e o poeta, Todos observando a cada um. O andarilho segue seu caminho,

Sendo observado pelo poeta e pela lua E, sem observar para nenhum.

Ele vai para onde suas pernas o levam. Ele anda de mansinho,

Sem destino, pela estrada e pela rua, Pelas pedras e pela selva.

No pensamento um riso de passarinho, Um riso puro e confiante,

Como um sorriso de alegria. O poeta olha o viandante Porque é motivo para poesia. O poeta olha a vida

E conhece todas as suas partes. Ele sabe que é uma parte dela. Ele sabe que nada mais existe A não ser a própria vida. Ele sabe que cada um de nós

É feito na medida do possível,

Ou talvez do anti-possivel-impossivel. Ele sabe que o materialismo

É uma anti-impossibilidade. Ele é materialista científico, Ele é anti-impossivel.

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Ele, o poeta e o materialismo.

O poeta cientificamente materialista, Com seu materialismo poético.

Ele valoriza a tudo que é possível. Ele despreza a tudo que é improvável. Ele despreza o dogma religioso,

Ele, o poeta materialista Ou o materialismo poético. Ele despreza o diabo,

Também despreza as portas do céu. Ele pensa em Jesus

Porque talvez tenha existido. Porque talvez tenha sido negro. Porque talvez tenha sido poeta Ou talvez filósofo,

Ou mesmo materialista.

Uma coisa o poeta tem certeza; Se é que ele existiu,

Ele, foi o primeiro comunista. Ele foi o fundador.

Ele dividiu o pão para seu povo. Todos comeram partes iguais E não deixou um ser humano Dizer que sentia fome. O poeta conhece a vida

De extremidade a extremidade, De continente a continente, De cidade a cidade. Ele é um ídolo, Ele é um poeta. Ele considera a poesia

Como um motivo para poesia. Se o poeta vê um homem Com uma baioneta no corpo, Ele pensa com ódio.

Foram eles! Foram eles! E tira as conclusões poéticas Que se transformam em poesia,

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De forma contundente,

Versos sem principio e sem fim, Versos abjetos

Mas, de qualquer maneira São versos.

Ele vive para a poesia, À poesia ele está preso, Pela poesia ele é amado, Pela poesia ele está armado. Se o poeta vê uma criança Com um braço no gesso,

Ele se compadece profundamente. Como foi que aquela criança

Foi parar com o braço no gesso? O poeta é compassivo

Quando se trata de criança, Ou de gente pobre

Mas, seu único defeito

É que ele transforma tudo aquilo, Toda a miséria

Em ricos versos

Pois, é motivo para poesia. Se o poeta entra na igreja Ele se compadece da religião, Que é tão pobre em conteúdo E tão rica em fantasia.

É o mesmo que ver o homem Que nada faz e que tudo ganha,

Em comparação com o homem

Que tudo faz e que nada ganha. É a religião comparada ao operário. E o pior disso tudo

É quando o operário É assíduo religioso. O que é que ele ganha Em ser religioso

Se sua mesa não tem pão? O poeta que vive e interpreta,

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Escreve de forma certa, Que é motivo para poesia. Se no caminho de um poeta Surge uma mulher perfumada, O poeta abraça-a

Com os braços e o coração, Ele se torna estético. O que era muito pouco, Mas é esteta,

Que na lua da madrugada,

Com um beijo nos lábios prende-a, Num símbolo de união,

Num beijo patético. O poeta fica louco E cria mais uma poesia. Se o poeta ver a morte Diante de suas vistas Ele se enche de nostalgia. Ele viu o fim do corpo, Sentiu em sua pessoa Coisa semelhante.

Acabou com sua alegria. Ah! Poeta sem sorte Tornou-se pessimista, Mergulhou na melancolia. No seu caso não houve saída,

Na camisa o suor transborda,

E por sua capacidade de esteta Tornou a morte, poética.

O poeta passa na estrada Que está sendo construída. Os homens, com dinamite Enchem todos os buracos, Depois acendem os estopins De um a um até o fim.

O perigo é total,

Disso não resta dúvida. Mal os homens correm

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Os primeiros já explodem Quase no rosto deles. O poeta esfria de medo

E, sabendo que ninguém morreu, E vendo as pedras voarem, Ele sorri de alegria.

Ao longe o engenheiro observa, Longe da estrada explodida, Nas pedras, montes de grafite. O engenheiro enche um saco, Proíbe aos homens e aos alecrins, Uma amostra a seus súditos. Tem uma discussão infernal Por um pedaço de grafite. Em seguida, homens morrem O engenheiro dá as suas ordens Cara a cara com eles.

Pergunta se querem morrer cedo. Numa careira de medo, se escondeu Até os operários se conformarem. E o poeta a tudo registrou com poesia. O poeta vai andando

Por um bairro tranqüilo,

Vê um homem a amolar a faca,

Nos seus olhos, um lampejo homicida.

O poeta lhe pergunta Se vai matar alguém. O homem olha o poeta. O poeta torna a perguntar, Ao que ele responde

Para que está amolando a faca: É para matar uma vaca.

Então o homem é bovinicida. E diz que ama Leila,

Ama como ninguém. Leila era dançarina,

Deixou de ser para ele amar. Se tem um auto-falante

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Que só fala bobagens,

Atrapalhando a vida do povo,

Tocando uma musica horrível e comercial, O cantor é insuportável,

O barulho é total.

Ninguém pode ler ou escrever. O locutor é analfabeto,

Também é estafante

Que na sua horrível miragem Não arranja nada de novo. O que fala é intragável. Dali nada sai que seja potável. É a anti-cultura.

Nada que se possa absorver. O dono, absentista

Por não estar presente No fruto de seu trabalho. Quem fala é ele

Mas, nada sai de sua pessoa. Tudo é copia de alguém,

Que já copia de outra estação. Ele só é o capitalista.

O dinheiro é só o que ele sente.

A cultura ele pisa, Todos falam dele

E ele não liga pra ninguém. Um homem avista uma moça Ela é loira, pouco bonita

Mas, mesmo assim a acompanha. Era uma noite chuvosa,

Ele resolveu acompanhá-la Porque fazia frio.

Como se a conhecesse há muito tempo, Ele a abraçou e caminharam

Juntos em um só guarda-chuva. Apenas se via um guarda-chuva. Apenas um coração acompanhado Que era o coração da moça.

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Ele fingia que a amava, A moça se traía,

A moça se iludia.

Sem esperar ou prever Os dois se beijavam. Ele supostamente terno,

Ela querendo que fosse eterno. Ele, a isso percebeu

E, aproveitou o momento E começou a explorá-la, Com as mãos e os lábios Sem ouvir os apelos Da moça já entregue. Já se achava mastigada, Agora, era só engolir.

Ele a deitou na relva molhada E, em plena rua, em plena grama, Entrou no corpo da moça.

Às vezes se ouvia um protesto. Fracos protestos.

Ele não ouvia

Nem mais ela protestava. Ela agora queria,

Ele a seduzia.

Agora, só o que se ouvia Eram os gritinhos de prazer. Depois de satisfeitos

O homem levantou-se. Ela continuava no chão, Continuava tombada,

Os ais misturados com o sangue. O sangue da virgindade

Misturados com a chuva, Que misturou-se com a relva. E ela levantou-se.

Suas pernas tremiam, perguntou Confusa e preocupada:

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Ao que ele respondeu, Cínico e satisfeito: Agora? Eu vou embora. E ela decepcionada, chorou E ele a abandonou.

Foi-se embora

Sem lhe dizer adeus. Sem ao menos lhe olhar.

E sumiu, misturando-se com a chuva. Neste momento o poeta passava Envolto em sua melancolia,

Viu a moça e perguntou seu nome. Era Maria dos cabelos loiros. Maria, motivo de poesia. O poeta avista

Uma jovem formiga

A trabalhar incessantemente, Num movimento de ida e vinda

Com um pedaço de folha

Cortada por ela mesma. Se os homens fossem assim No trabalho pela liberdade, Que não existe onde não se luta. Nem ao menos a expressão. E por mais que se insista Nesta palavra tão amiga, Que aqui não chegou ainda. Taparam com uma rolha Deixando a palavra a esmo. No lugar, põe uma ruim Que representa a maldade, Não convencendo a ninguém. E ninguém abre o coração, Exceto o capitalismo. Se os homens do mundo, Fossem trabalhadores Como as formigas, E se não existisse

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A criminosa ditadura militar, O poeta iria bem no fundo Dos seus grandes amores, E lá destruiria seus inimigos. E para que não se repetisse Ele faria uma poesia.

O poeta disse um dia: Se os bichos falassem O mundo regeneraria.

O leão pensou certa ocasião: Se os homens pensassem, Para eles, abriria meu coração. O poeta disse um dia:

Se o homem não oprimisse o homem Tudo seria motivo para poesia. Um pássaro disse:

Se os meus cantos chegassem

Aos ouvidos dos homens Talvez, este não me ferisse. Um peixe disse certa vez: Se o homem fosse bom Não existiria rede.

Eles comeriam os vegetais Que não sentem dor, Muito menos angustia Então, eu mando o homem

Pensar em uma coisa importante. Morrer afogado, é bom?

Também nós peixes

Morremos afogados na rede, Por falta de oxigênio.

O que um homem faria Em falta de oxigênio, Bem no fundo do mar,

Dando a vida por um pouco de ar? Seria motivo para poesia?

Um homem, em plena rua Sobe em um banco do jardim

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E brada bem alto, Para quem quiser ouvir: Eu não acredito em Deus! Ele não existe!

Neste momento, passa o poeta, Chama o homem à parte,

E depois de um trato Leva o homem à sua casa. Muitos curiosos o acompanham Para ver do que se trata. Ao chegar em casa do poeta Este vira-se para o homem e diz: Se esta mesa subir

Sem que ninguém a toque,

Você acreditará em Deus?

E o homem responde: Sim. Na presença dos curiosos O poeta grita:

Deus! Se é que tu existes, Fazei com que nesta mesa Apareça muita comida,

E que todo o povo tenha comida em suas mesas. Esperou-se meia hora

E nada aconteceu. Então o homem disse: Onde está a força divina Meu caro poeta, e por que

Deus não ameniza a minha fome? O fato da mesa não ter subido, Não foi culpa do poeta.

Foi apenas ironia. E neste dado momento, Apareceu outro homem Que dizia ser espírita

E, compreendendo a ironia do poeta Disse-lhe:

Se eu pedir a Deus Que mova esta mesa

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Vocês acreditarão nele? Ao que o homem faminto Respondeu com voz cavernosa:

Se é que você pode conversar com Deus Pergunte a ele, porque o imperialismo? Pergunte a ele, porque o mundo passa fome, E eu passo fome neste momento?

Se é que ele existe, Que apareça mantimento, Para que a negra fome Não se apodere do povo,

E que o povo não morra de fome.

Então o espírita disse:

Deus manda o alimento Para toda a raça humana, E cada um colhe seu fruto. Então o poeta perguntou:

E de que serve, para a humanidade, Uma mesa se mover?

Era apenas motivo para poesia. Certa vez, o poeta passeava Por um lindo jardim.

O jardim era público Mas também particular. Neste momento, o poeta

Apreciava o canto dos pássaros. Gostou do canto dos chorões E começou a assobiar

O canto desse pássaro.

De repente aparece um guarda E lhe pergunta perturbado: Que fazes aqui?

E o poeta respondeu:

Aprecio o canto dos chorões. E o guarda perguntou:

Quem é você? Sou um poeta

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E o canto dos pássaros. E o guarda respondeu:

Saia daqui. O jardim é particular. O poeta assombrou-se.

Jardim particular em praça pública? Onde já se viu isso?

E o guarda respondeu: Aqui!

E a quem pertence?

O guarda não soube responder.

O poeta vai ao cinema

Assistir a um filme americano. O poeta fica decepcionado. A única coisa que se vê Daquele filme tão infame, São mulheres nuas

Em poses comerciais. A platéia que é inculta Se extasia com seus ais. Então, o poeta pensa: Poluição sexual!

O filme não tem enredo, Não tem principio nem fim. O seu único objetivo

É corromper o povo

E ter sua renda que é garantida,

Pelo capitalismo e subdesenvolvimento. Se fizerem um filme sadio

Como os filmes do Glauber Rocha, Que mostra a realidade,

Ninguém vai assistir. O filme exibido, O filme americano, Nada tem de poético. A mulher nua só é poesia

Quando a temos em carne e osso, E quando podemos amá-la,

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Aí é que o poeta confirma Que é motivo para poesia. O poeta vai passeando Pela margem de um lago. O lago é lindo.

Sem que ele ou ninguém Ou mesmo ela esperasse,

Encontra-se frente a uma mulher,

Mulher linda e pescadora.

Ela estava de bikini,

Na mão direita, uma linda vara. De repente, sem que se esperasse O peixe esticou a linha,

E ela esticou o peixe. Também o peixe era lindo. Tinha lindas cores e era grande. Tão lindas quanto a pescadora. Então o poeta disse, poético: Que peixão lindo!

A mulher se assustou.

Ao se refazer do susto, disse: Eu ou ele? Apontou para o peixe. O poeta ficou embaraçado, Então respondeu:

Os dois.

Logo aproximou-se da mulher. Abraçou-a com carinho e a beijou. Ela correspondeu ao beijo.

De repente ela sumiu

Como somem as fadas encantadas. O poeta no seu sonho poético diz: Sonhei que vi e beijei uma poesia. O poeta, certa vez,

Conversando com outro poeta, Sendo que o outro era reacionário, Perguntou o que era a poesia. E o outro poeta

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Depois de muito silencio O outro poeta respondeu: É a arte de escrever em versos Visando ficar famoso.

O poeta deu as costas E, com falta de paciência,

Abandonou o falso poeta

Louco de raiva.

O poeta fez uma poesia. Nesta poesia

O poeta atacou o capitalismo, Atacou os poetas comerciais. Ah! Se ele pudesse

Matava a todos, naquela hora Com um golpe certeiro.

Todos aqueles poetas

Que não dizem o que sentem Um cérebro de poeta,

E que só fazem aquilo

Que é mandado e encomendado Para ganhar dinheiro.

Ah! Maldito dinheiro. Maldito poeta vendido.

Maldita suas poesias, se o nome for esse. O poeta caminhava

Ao lado da mulher mais linda. A mulher mais linda do mundo. Ele sentiu-se prestigiado. A mulher estava nua Aliás, estava vestida Com sua pele bronzeada. Parecia uma rosa.

Ela com seus lábios róseos, Lançando pétalas para o poeta. Pétalas perfumadas

Que só a rosa possui,

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Lançando leite de rosas

E alimentando a imaginação do poeta. O poeta sugava seus lábios.

Também os lábios da mulher mais bela É como dois lábios vermelhos,

Lançando sangue que é a vida.

É como dois lábios cheios de vida. O poeta alucinado

Sugava o sangue da mulher mais bela, O sangue da mulher amada,

O sangue da mulher, O sangue.

Agora o poeta

Sentia-se cheio de vida, Alegre e em folia.

O poeta despediu-se da mulher amada E foi fazer uma poesia.

A insônia agarra o poeta. Ele luta por muitas horas Para conseguir dormir,

O que é muito difícil para ele. Quando o sono chega

Ele lembra-se de algo, E esse algo vai acontecendo Na mente do poeta,

Até se transformar magicamente Numa bela poesia.

Ele vai formando as frases, Sente preguiça de levantar Mas, que jeito?

Mesmo assim ele não levanta. Agora, um poder mágico O impede de dormir. Então ele pensa:

Antes eu fosse um homem comum. Um homem como milhões de outros

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Que existe por aí. Muito aborrecido

Ele tenta esquecer os versos, E dormir como os outros homens. O poeta fecha os olhos

Os olhos se abrem automaticamente.

Ele tem que escrever.

Sem que ele queira, se levanta. Suas mãos pegam lápis e papel E o poeta escreve sobre a insônia. Até a insônia é motivo para poesia. O poeta ouve as noticias

Que são transmitidas pelo rádio. De repente uma noticia

Que o abala profundamente.

É o assassinato de um grande homem, Pelos imperialistas ianques e seus lacaios. Um homem que lutou para dar ao seu povo A dignidade que precisavam.

Ah setembro! Que nome lindo.

Tornou-se horrível de repente. Seu povo que fará

De agora em diante,

Sendo dominado por assassinos? Irão morrer pela pátria.

Se ele pudesse voltar

E dizer que tudo é um sonho, O povo explodiria de alegria À volta de seu ídolo Allende. Volte, homem de paz,

O povo lhe espera.

Diga que tudo foi um sonho, Diga que nada aconteceu, Diga que tudo está normal. O povo lhe espera

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Só o povo sabe o que quer. Se o povo lhe pedisse Sei que você atenderia, Por isso escrevo essa poesia.

Um poeta pescador

Passeia pela praia.

Na mão carrega uma vara,

No pensamento carrega os peixes. De repente, outro pensamento: Se não pescar nenhum?

O pescador fica triste, Logo se conforma E segue o seu caminho,

Assobiando uma musica triste. Em casa, deixou a família E saiu em busca de alimento, Em busca do pão de cada dia. Morreria de fome os seus filhos, Também ele e sua mulher,

Se ele não tivesse coragem De enfrentar o oceano,

Fosse bravo, atlântico ou pacífico, Triste ou alegre

Ele teria que ir, Teria que avançar, Teria que pescar. Agora ele cantava Uma musica folclórica E se emocionava, E lembrava da família, Tinha vontade de voltar Só para ver a família, Se estavam todos bem. Talvez fosse a ultima vez. Mas não voltava,

Tinha que seguir

Para o seu outro mundo. O mundo das águas,

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O mundo dos peixes, E seguia em frente.

Entrou na canoa

Começando a remar. Foi em busca do pão,

E em homenagem ao seu trabalho O poeta fez uma poesia.

Certa vez o poeta Penetrou na miséria. Aconteceu assim:

Um amigo seu o convidou Para ir à sua casa,

E o poeta foi Com todo prazer. Chegando lá,

O amigo foi logo avisando Que a casa era de pobre Mas, para mim

É a casa mais nobre.

A educada e envergonhada esposa Do amigo do poeta,

Desculpou-se por falta de cadeira.

O poeta não se importou e sentou-se no chão, Porque no chão ela estava,

Também seu marido, Também seus seis filhos. O único que estava confortado Era o que estava na barriga, Dormindo com todo sossego.

Mais um anjo para a fome devorar. Depois ela se desculpou

Por não ter nada para oferecer, E o poeta respondeu

Que é sincero igual a ela. Chegou uma garota, era Sofia. O poeta apertou sua mão E para ela fez uma poesia.

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O poeta, certa vez

Fora chamado de louco

Por um senhor muito rico. Ele era de opinião

Que muitos deveriam trabalhar, Para o conforto de poucos. O poeta é de opinião contraria: Que todos deveriam trabalhar Para o conforto de todos. O burguês discordou E perguntou ao poeta

Se ele gostaria de morrer de fome. O poeta respondeu que não,

Mas não queria que os outros morressem. O burguês disse que pouco lhe importava. O poeta disse que muito lhe importava O bem estar da coletividade.

O poeta só é poeta

Quando ele defende uma causa justa, Uma causa verdadeira

Como a falta de alimentos, Que beneficia a poucos E que destrói a muitos. O poeta compreende

Que o problema da pobreza, Deve ser solucionado

Pelos homens de bem,

E anuncia sem ser convidado, Que a loucura do poeta Foi transformada em poesia. Se o poeta ouve musica jovem, É motivo para poesia.

Se o poeta ouve musicas clássicas, É motivo de criticas

Pois, o nosso povo

Quando ouve uma boa música, Quando ouve uma musica clássica

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Fica arranjando defeitos e desculpas, E é capaz de quebrar o disco.

E conservam os discos barulhentos Com todo carinho,

Como se fosse uma coisa nossa. É juventude alienada.

Vocês estão quadradamente enganados. Mais que isso, ludibriados.

Se quiseres ouvir musicas jovens, Para que melhor

Que a arte de Nara Leão. Uma voz que se coaduna Com o seu tipo de musica. Parece que estamos sonhando. Parece que estamos num paraíso. Mais paraíso ainda é Beethoven, Também Verdi e Puccini.

Se vocês dizem que o negocio É ser jovem da onda,

Eu digo que o negocio É ter um mínimo de razão. Pelo menos, um pouco. Ouçam as sinfonias, Ouçam os concertos, Ouçam as óperas. Nada há de mais lindo. Parece que estamos vivendo Os tempos da obra de arte. Vocês já ouviram as valsas? Sabem o que é o Danúbio Azul? É uma valsa que quando ouvimos Em plena luz do dia,

Ou em plena escuridão da noite, Lembramos da poesia.

Os pássaros cantam ao amanhecer, Também os poetas

Ou os cantores poéticos.

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Quando o sol no seu esplendor Anuncia o amanhecer.

O sol ilumina as rosas, As rosas iluminam a vida. As rosas são capazes de tudo, Até de evitar uma guerra. Os homens são capazes

De evitar uma guerra nuclear, Só em pensar nas rosas. Só em pensar que elas Perderão sua beleza, Perderão a sua cor, Perderão sua alegria, Perderão sua vida. Que seria do mundo

Se não existissem as rosas vermelhas? Seria um mundo em guerras,

Seria um mundo pálido, doentio. Jamais seria um mundo colorido. A rosa vermelha faria a falta Que faria o sangue nas veias. Morreriam todas as mulheres. Já pensaram amigos?

Como faríamos para nascermos? Se morressem Joana e Maria Rosa e Hortência

Tereza e Serafina,

Referências

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