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Vinte anos de arqueologia na Alcáçova de Santarém: balanço de resultados e perspectivas de futuro.

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(1)

VINTE ANOS DE ARQUEOLOGlA

NA

ALCÁÇOVA DE SANTARÉM: BALANÇO DE

RESULTADOS E PERSPECTIVAS DE FUTURO

1. Introdução

ANA MARGAnlDA ARRUDA' CATARINA VIEGAS~

Desde

198

3

, que

e

xt

e

n

s

o

s

e prolon

g

ado

s

trabalho

s

arqueoló

g

i

c

o

s

t

ê

m

de

c

orrido, d

e

forma

s

i

s

t

e

máti

c

a, na Akáçova d

e S

:lntarérn. Esses trabalho

s

permitiram

r

e

colh

e

r um

apreciável

c

onjulHo de dados

s

obre a o

c

upação

humana d

es

t

e

lo

c

al

,

de que gostaríamo

s

d

e

r

ea

l

ç

ar,

desde

já,

a sua l

o

n

g

a

dia

c

ronia. São tamb

é

m

ess

es m

e

smos dado

s

qu

e

possibilitam afirmar

qu

e

a antropiza

ç

ão

d

o s

ftio

o

c

orr

e

u no in

ic

io do

J

mil

é

nio

a

c.,

e

qu

e as

ocupaçõ

es

romana

e

i

s

l

â

mica

(oram

igualm

e

nt

e

iuten

s

a

s.

No

plan

a

lto

onde

s

e ergueu a

AJ

cáç

ova medieval

,

a vivên

c

ia urbana mantev

e-se

at

é

à

a

c

tualidad

e,

f

az

endo hoj

e

o lo

c

al

parte

de lima fr

eg

uesia da

c

idade

d

e

S

antarém.

Os

elem

e

nto

s

re

c

olhidos

durante

o

s

qua

se

20 anos de

trabalho d

e

c

ampo

tornaram

pa

ss

ivei

o esclarecimento d

e

numero

s

as questõe

s,

at

é

h~

pouco

temp

o

prob

l

em

á

ticas

.

nomeadam

e

nte

a

própria lo

c

aliza

ção

d

e

S

callabis.

Os

d

a

do

s

que

a arqueologia di

s

ponibilizou

s

obr

e

a o

c

upa

çá

u

romana

do

sitio

não

d

e

ixam dúvida

s s

obr

e

o fa

c

to de podermo

s, se

m

• Profasoras na Façuldade de Lenas de Lisboa

(2)

h

esitação,

s

it

ua

r aqui

,

a

coló

ni

a

ro

man

a

qu

e

Plínio m

e

n

cio

n

o

u

co

mo

se

d

e

de um

dos

(r

ês

convt'1lfUj

iuridicIH

da Lu

s

üânia.

.

A AJcáçova

de

Santarém

imp

l

anra~se

num

alto plana

l

to

sobra

n

cei

ro

ao

riO,

bem

destacado na

paisagem.

P

oss

ui um

amp

l

o

domfnio

v

i

s

ual

e uma

gra

nde

defensab

ilidad

e

n

atura

l.

P

oss

ui

actualmente 4.5

l1a

.,

mas p

e

nsamos

ser

passIve!

co

nsiderar que

,

na

Antiguidade, a

sua cxte

ns

ão er

a

maior.

Sabemos

que

as vertentes do

pl

a

n

alt

o

estão,

d

esde

muito

, e

m

acelerado

processo

d

e

eros.'lo

,

o

qu

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orig

ina

a

i

n

s

tabilidad

e

da

s

su

a

s

en

C

OS

t

as e o seu

co

nr

í

nuo

esboroa

m

e

nt

o.

AJ

g

um

as estruturas

d

e

época romana

l

ocalizadas

n

es

s

a

s mesma

s

vertentes

.

assoc

i

adas aos aco

nt

ec

im

e

nt

os

do (n

ve

rn

o de 200

1

(rone

deslizamento de

(er

ras

na

e

n

cos

ta

virada a Alfange

e

queda da

mura

l

ha

na

venen

t

e Norte)

c

onco

r

re

m no

sentido da rormll

l

ação

d

esta

hip

ótese.

.

A

Alcáçov

a

de

Sa

ntar

é

m

imegra

hoj

e

urna da

s

fregucsias

urbana da

C

Id

a

d

e

,

em cu

ja

área

se

implanta

um jardim muni

cipal,

Jardim das

Portas

do

So

l

, e

r

ias

consr

ru

ções

de tipo

ha

b

ita

cio

n

al e religioso, pa

ra

alé

m

,

n

a

turalm

e

nte

,

da

rede

v

i

ár

i

a

urbana

.

2.

Os

trabalhos arqueológicos

A

s

escavações arqueo

l

óg

i

cas

na AJcáçov<l

de

Sanrarém

iniciaram~se

cm

1

979,.

c~

m

a real

i

zação de ullla pequena sondagem levada a

ere

ito pel

a

A~soc

l

açao

para

o Est

u

do, Defesa

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Valorização do

Patr

i

m

ó

nio Hi

s

tórico

e C

ulwral de

Sa

nta

m

.

E

ntr

e

1

983 e

1

990,

d

eco

rr

e

r

am

oito

campan

h

as

d

e

H<lb

al

h

os

arquco

l

ó~

i

cos

neste

sit

i

o.

in

c

id

i

nd

o, emão, os

trabalho

s

na

zu

na

ocupa

d

a

pelo

Jardim,

e, em 1992

·

3,

foram efectuadas escavações

n

o

inter

i

or

da

I

greja

de Santa

M

ar

i

a da

Alc

áçova.

. Em

1

994 e

19

9~,

e cm

1

997

e

1

998,

por

so

li

c

itação da

a

ut

a

rqu

ia,

várias

so

n~a

ge

n

s,

maIs

ou

menos

amp

l

as

e disseminada

s

por vá

ri

as

área

s,

foram

r

ea

lt

zadas, concretamente em:

Largo da

Alcáçova 3·5; Ave

nid

a 5 de

OU

lUbr

o

n

° 9;

Larg

o

da Alcáçova; J

a

rdim d

as

Pan

as

d

o

Sol;

área

an

ex

a ao

Restaurante do Jardim

das

P

o

rt

as

d

o

So

l. Estes

trabalh

os, e ao

contrário

~o

.

que

s

u

ce

d

e

u

co

m

os

da

d

éc

ada

d

e 80,

ti

veram

ca

ra

cte

rf

s

ti

cas

Imll1ent

e

m

ente

preventiva

s,

uma vez

que

se destinavam

a

minorar

os

,

impac

t

es

n

ega

ti

vos

so

br

e o

património

arqueo

l

ógico

qu

e o

bra

s

d

e

ri

a

.

.

nawreza lrlam provo

ca

r

.

O

proj

ec

to

de

co

n

s

trução de um parqu

e

de

estaciona

m

ento

n

a 7.01la

ocupa

da

pelo

s

vive

i

ros

do Jardim implicou t

:

unb

é

m

a escavação

de urna

a

mpla

área,

escavação que

decorreu

em

1

999

e 2

0

0

0,

tendo, em

200

1

,

os

trabal

h

os

pro

ssegu

ido no l

oca

l

ond

e

se prevê o alargame

nto d

a

coz

inha d

o

R

es

t

aurante

da

s

Portas

do

So

l.

O

co

njunto da

s

interven

ções

ar

qu

eo

l

óg

i

cas

qu

e

d

eco

rr

e

ram

n

a

Alcáçova

d

e

Sa

nt

arém

é

p

ois

j

á

muito

amp

l

o, to

t

a

li

7.a

nd

o a

área

escava

da

1

75

0.m

1 ,

se

ndo

a

inrormação

di

s

p

on

l

vel

tamb

é

m

de

ap

r

e

ciável

dim

e

ns

ão.

Os

r

esultados têm v

in

do a ser

divulgado

s,

ha

ve

ndo

n

ume

r

osa

bibli

og

rafia

sob

re

vários aspectos da

oc

upa

ção

human

a

da

Alcáçova

(

Almeida

e

Arruda,

no prelo; AlHull

es,

2000;

Arruda,

1

993;

1 999~2000,

2003,

Arrmb

c

A

lm

eida,

1

998;

19

99;

200

1

;

Arruda

e

C

atarino

,

1

9R2;

Arruda

e Viegas,

1

999;

2000,

2002

a,

2

00

2b, 20

02c

,

2002d; Viegas,

20

0

3;

Viegas,

110

prd

oi

V

i

egas c A

rruda

,

1

999).

Os trabalho

s

da

d

éca

da

de

80

d

o

culo

XX e os

do

i

n

fc

io

do

prc

sc

llI

c

séc

ul

o

ellquadraram~se

num pr

ojec

t

o

d

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in

vc.'i

t

igação

que

,

apro

va

d

o

pelo

I

nst

i[U

to

I

)ortuguês

de

Arqueolog

i

a,

se

denominou

i,A

Alcáçova

d

e

Sa

ntar

ém

durante

a

Idad

e

do ferro

e

é

po

ca

romana

',

(PA

L

CAS)

.

S

ub

s

idi

ado

p

e

lo

referido

In

st

i

tuto,

foi

a

inda

apoiado p

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la

F

und

ação

C

alou

stc

Gu

lb

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nki

an, te

nd

o a auta

rquia

co

ntribufd

o

p

a

ra

o seu

desenvolvim

e

nt

o

com financ

iam

entos vários.

Com este

pr

oje

c

to, prete

ndfam

os

est

llthu a

a

n

tropi'l.aç.lo

d

o

planalto

da AJcáçova d

e S

antarém durame a

Antigu

id

a

d

e

c

m

nllHtiplas vert

e

nt

es.

Não se tra

t

ava ape

n

as

d

e

d

e

finir

co

nt

c

úd

os

t

e

mp

orais e

tipol

óg

i

cos

para

os vá

ri

os

nl

ve

i

s

a

r

<

lu

eol6gicos

identifi

ca

d

os ou

p

ara

o

s

m

ater

i

a

i

s

nel

es

recolhido

s,

mas também, e sobretudo,

t

c

n

lar

co

mpreend

er co

mo

os

habitantes

do

sI

ti

o erec

ti

vamente vive

r

am,

co

rn

o se

r

elac

ion

aram

co

m

o

território

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nv

o

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veme, e

de

qu

e se co

n

st

ituí

a e

c

omI)

evo

luiu

a

s

u

a

di

e

ta

a

limenta

r ao

l

ongo

do

s

quase

2

000

anos

de

ocupação. Assi

m

,

valorizatam~

~se

os

es

tudo

s

taun

f

st

i

cos

,

a

ntr

a

p

ológicos c

c

arpolúgi

cos,

não

se

t

ell

d

o,

co

ntudo

.

d

esdenha

do

os conteú

d

os

ancra

c

tuai

s.

Fo

r

am

t

ralad

as

milhar

es

de

p

eças

, qu

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in

ve

ntariaram

,

d

ese

nh

ara

m

,

clas

s

ifi

ca

ram

e

eS

llId

ar:

ull

quamo

à cro

n

o

l

og

i

a. o

ri

ge

m

e

s

ignifi

ca

d

o.

·

I

rn.

l

a

a rauna

r

eco

lhida

,

d

c

sd

e

a Idade

d

o

Ferro

à

Idad

e

Média

foi

a

l

vo

de

estudo,

o que

p

ermitiu

(3)

190 ANA MARGARIDA AMUOA I CATARINA VIECAS

averiguar a origem das prmeínas animais que compuseram as refeições dos

habitantes da Alcáçova ao longo dos séculos da sua ocupação.

As

espécies vegetais cultivadas puderam ser conhecidas através das anál ises das

sementes recolhidas nos diversos níveis arqueológicos escavados, de cronologia variada.

O

desenvolvimento e a concretização do projecto tornou possível, ponamo, traçar um perfil relativamente coerente e lógico do quadro do

desenvolvimento do sitio ao longo da diacronia da sua ocupação numa

multiplicidade de aspectos.

Como

j

á

atrás se mencionou, (Odo este trabalho tcm vindo a ser

divulgado à comunidade cientifica nacional e internacional, tendo parecido

importante que o püblico não especializado, nacional e escalabitano, fosse

também informado do trabalho desenvolvido no mltico lugar «Jardim das

Portas do Sok Assim, os contactos que a Câmara Municipal iniciou com o

Museu Nacional de Arqueologia, no selHido de realizar uma exposição onde os materiais recolhidos ao longo dos vinte anos de trabalhos de campo

fossem expostos. foram acolhidos com agrado pclas responsáveis cientificas

do projecto, que imediatamente se disponibili7..aram para prestar toda a colaboração a esta iniciativa.

Deste modo, e juntamente com a dra. Maria José de Almeida, então arqueóloga da Câmara Municipal, comissariaram a referida exposição, tendo

sido também responsáveis pela organização do carálogo, no qual colaboraram com diversos textos e numerosas fichas descritivas dos materiais.

As

dificuldades inerentes a qualquer escavação em área urbana

co

l

oca

m

~se

também, naturalmente, na Alcáçova de Santarém. As limitações do meio urbano, e ai nda as circunstâncias em que decorreram

grande parte das escavações da década de 90 (sondagens, cujas áreas foram

determinadas pela própria natureza preventiva dos trabalhos), nem sempre facilitaram as análises espaciais e as leituras horizontais.

Por outro lado, a longa diacronia do sitio

é

em gmndc parte responsável pelas limitações com que nos confrontamos no mamemo de

analisar o modo como se processou a ocupação do espaço ao longo dos

séculos. De facto, a ocupação islâmica da AJcáçova de Santarém interferiu, por vezes drasticamente, com os testemunhos anteriores.

Os

silos subterrâneos, datáveis do perfodo islâmico. foram abertos no calcário de base, o que obrigou os seus construtores a perfurar, e por vezes mesmo a

)

n

ANOS I)F. ARQUfOl.OGIA NA AI.CÁçoVA OE SAN"li\Rf.M, 1 ... 1 19 1

remover, a totalidade dos nfveis arqueológicos anteriores. Tal situação

implicou a destruição de pane apreciável de muros pertencentes a parede.~ de ediffcios, o que justifica o desaparecimemo de uma parte considerável

da malha urbana sidérica e romana, que, em certos casos, só

é

recons(Ítuívd a partir do que foi poupado pelas ~~dcsttuições») islli.micas. Também as construções de época moderna

c

contemporânea provocaram

rortes danos nas construções antigas, para além de limitarem as áreas

passiveis de serem intervencionadas.

No entanto, os trabalhos arqueológicos permitiram a identificação e caracterização da ocupação humana da Alcáçova ao longo da diacronia,

estando hoje relativamenre bem definidas as sequências oCllpacionais,

e

a

evolução das técnicas construtivas e do urbanismo sidérico e romano. .AfJnal, e apesar de todas as limitações, a intervenção humana

n

o

local

pode ser analisada e as distintas abordagens daquele espaço pelos diversos agentes que nele interferiram puderam ser equacionadas e caracterizadas,

mesmo tendo consciência que muitos aspectos dos rnodelos de ocupação

do espaço permanecem ainda obscuros.

3. A Idade do Ferro

As

escavações arqueológicas que têm decorrido lia AIGiçova de Santarém

p

er

mitiram

obter um

co

nh

eci

mcnro

relativam

e

nt

e

aprofundado

so

bre

a

s

u

a

o

c

upação

dur

ame a

I

dade do F

e

rro.

Em primeiro lugar, importa destacar que toda a extensão do PlanallO

foi

ocupada a partir do

inicio do I mil

é

nio

a

.c.

D

e

fa

c

to

,

cm

loda

s

as

á

r

e

a

s

inter

vcncio

n

a

d

as,

que

se es

tend

e

m por

roda a Alcáçova

,

foi

pa

ss

ivei

escavar

n/vei

s

co

rr

es

pondentes

à

oc

upa

ção s

idéri

c

a.

A s

uperfí

c

i

e

de pelo

menos os aClUais

4.5

h

a

.

foi, na

totalidade

,

alvo

d

e

construções, cujos

vestfgios puderam

se

r

r

eg

istados durant

e

o

s

trabalhos de

ca

mpo

.

t.

também imprescindível começar por referir que a presença de

navegadores fenfeios no estuário do '!Cjo influenciou decisivamente a ocupação sidérica da região em geral, e

l

i

a

sitio, cm particular. De f."1CIn,

a ocupação da Idade do Ferro do Planallo (Ia Alcáçova eslá profundamente enraizada na coloni7 .. "1ção fenleia ocidental, estando o espólio recolhido imbufdo de um profundo orientalismo, quer cm lermos

(4)

formais

e

decorativos

,

quer Funcionais.

características

que não podem

se

r

int

erpretadas

no quadro de um processo

local

ou

r

eg

ion

al.

lorna

.se

também necessário diz.er que as innuências orientais chegaram ao local

num

mom

e

nto relativamente precoce

da

co

l

onização feníc

i

a do Oc

id

ente,

fa

c

lO atestado Ilão

pelas morfologias de alguma

s

ce

râmi

cas, como

tamb

é

m

pelas dataçõ

es

radiométricas obtidas para o

inicio

da

oc

upa

ção da

Id

a

de do Ferro.

No infcio do I milénio a.c., populações com origem na faixa

sfrio/palcstinia

fundaram

colón

ia

s

na região do

estre

ito

de

Gibralta

r

. Essa

instala

çã

o d

e

populações exógenas

na área meridional da Penín

s

ula Ibéri

c

a

está bem atestada do pOnto de vista arqueológico, e as datações que a

arqucomctria tem proporcionado fornecem COf1{ornos, cada vez mais nflidos, às informações dos textOs clássicos sobre a colonização fenfeia do Extremo Ocidente. Se a cronologia que podemos inferi r da leitura dos autores clássicos para a fundação de Gadir (século

XlI

a.c.)

é

ainda demasiado recuada frelHe aos dados arqueológicos, o facto

é

que no território da actual cidade de Cádiz e ainda na orla mediterrânea a

ocideme do Estreito de Gibraltar são múltiplos os testemunhos de uma

colonização fenícia cm larga escala, cujo inicio pôde ser datado, pelo carbono

1

4,

elltTe O final do século X e o início do século IX a.C.

O s dados que as escavações arqueológicas no território actualmente

português forneceram permitiram verificar que, pelo menos a panir dos

finais do século IX a.C, os fenícios instalados na região de Cádiz iniciam

COlltaclOS sistem,hicos com outros territórios e alcançam a fachada

ocidental portuguesa. Tudo indica que o estuário do Tejo terá sido o local

pioneiro desses COlHactos. D e facto, é de Santarém e do C laustro da Sé de Lisboa que são provenientes os mais antigos materiais que podem

relacionar-se com as viagens que os fenfeios ocidentais efectuaram ao ocidente da Penfnsula Ibérica, a partir do final do século IX a.C

Na Ncáçova de Santarém, muitos são os elementos que confirmam esta

situação, não havendo dúvidas sobre a precocidade e a intensidade das relações estabelecidas entre o baixo vale do

Tejo

e os imigrantes levantinos.

A Idade do Ferro da Alcáçova de Santarém está, reaJmeme, imbufda

de um profundo orientalismo, orientalismo esse consubstanciado num

conjunto anefacrual muito caracterfstico e

em

técnicas de construção

específicas do mundo oriental.

Nos trabalhos de campo. recolheram-se milhares de fragmelltos cerâmicos cuja tecnologia, morfologia e decoração evidcnciam

°

seu carácter exógeno (Arruda,

t

993;

1999

-2

000).

A cerâmica de engobe vermelho, a cerâmica pintada, a cerâmica cinzenta e as ânforas Ilão podem

ser lidas no COlllexto de uma qualquer evolução local. Encontradas em

grandes quantidades nos níveis inferiores da Alcáçova, ~evela.m ev~d~ntes

afinidades com os espólios das colónias fenfeias do lItoral mendlonal

espanhol, onde têm os scus melhores paralelos. .

É

importante destacar quc a w talidade destes produtos era fabricada a torno, parecendo claro que, pelo menos na região, a introdução da roda

de oleiro pode ser atribuída aos fenfcios. A cobcrtura de alguns vasos cerâmicos por um cngobe espesso, de cor vermelha e que adquire, por

polimento ao torno, um aspecto accl'inado é também lima inovação a. ler

em

conta nesta discussão, bcm como aliás as Illorfologias dos vasos que receberam esse mesmo engobe. Trata-se, maioritariamente, de pratos de bordo muiw largo e ainda taças carenadas, cuja presença deve tradu'Úr novos hábitos alimenlares. Os chamados

pilhoi

(vaso.~ de grandes

dimensões, fechados, com duas ali quatro asas, muilo possivelmente destinados ao armazenamento) são outra das formas cerâmicas que ajudam a desenhar o quadro das relações da Alcáçova de Santarém com os colonos fenfeios peninsulares. Trata-se de vasos cujo modelo se deve

procurar no Mediterrâneo O riem"l, e que ocorrem, exclusivamente. CIO

áreas em que a coloni7.ação está atestada, nomeadamente em Cartago,

Ibiza, Sicília Ocidemal, Sardenha e, na região de Cádiz. No caso dos

pilhoi

de Santarém, a sua decoração, pintada ~m bandas vermel.h"s e

negras, associada

à

morfologia e 11 tecnologia lIuli1.acla no seu falmco (o torno), facilita o seu enquadramento no universo mediterrâ.neo.

A.5

ânforas dos níveis sidéricos

scn//ah

itanos

mostram que os produtos alimentares foram importados das colónias fcn/cifls da região de Cádi7., o

que evidencia o nfvel de relaçõcs entre as duas áreas.

A Alcáçova de Santarém ofereceu ainda artefactos cerâm icos directamente relacionados com a prática da actividade metalürgica. 'l'rat;l

-se de recipientes destinados

à

preparação de capelas que indiáull que a metalurgia da prata foi praticada no local.

k dificuldades a que Fizemos alusão no pOllto anterior, Il~O facilitflllJ a análise das primeiras ocupações humanas. tendo, corno

é

óhvio, sido

(5)

194 IINII MIIRC,ARlOIIAIIRUI)A , CATARINA VIEGAS

essas as mais atingidas pelas construções posteriores. No entanto, o que sobreviveu aos ediflcios romanos

e

aos silos medievais permite algumas

intérpretações.

Ficou claro que nos edifícios sidéricos, de planta rectangular, se recorreu, preferencialmente,

à

terra corno material construtivo.

Os

dados recolhidos mostram que as paredes das estruturas habitacionais eram de tijolos de adobe, tendo, também, ficado evidenciado que

ess

as

paredes

se alçaram

sobre

alicerces construidos com pedras ligadas por argila. Foi também a argila que

se usou para impermeabilizar a cobertura vegetal dessas estruturas

habitacionais e ainda a ela recorreram os habitantes da Aldçova

pré

~

romana

para construir muitos dos pisos que as pavimentavam.

Ainda quanto a técnicas de construção, pudemos constal'ar que, nos

mamemos mais tardios da Idade

do

Ferro, a taipa {ai também uti lizada,

e

que o calcário moído se usou igualmente na feitura de pavimentos.

Pode ainda

acr

es

c

e

n

t

a

r

~s

e

que a extensa área ocupada e os numerosos

materiais recolhidos deixam antever uma população numerosa, que foi

j

á

estimada em cerca de

1000

habitantes (Arruda,

1999

~

2000),

o que certamenre implicava um amplo território de exploração de recursos

alimentares.

4.

A

época romana

Datam do século

Il

a

.e.

os primeiros materiais que podemos

relacionar com a presença romana na região. Algumas ânforas e cerâmicas de mesa (Arruda e Almeida,

1

998;

no prelo) permitem pensar que as tropas de Décimo Junio Bruto, estabelecidas cm

138

a

e.

em

Moron

,

possibilitaram a aquisição de alguns bens de consumo.

Mas é já no decorrer do século I a.c. que a Alcáçova

é

palco de profundas alterações estruturais decorrentes do estabelecimento, no local, de romanos.

Em primeiro lugar,

é

nfrida uma clara alteração no traçado urbano,

alceração essa evidenciada pela nova orientação que as estruturas

adquirem. Por OUtro lado, o corte radical com a vivência anterior ficou demonstrada pela reconstrução total, tendo as habitações anteriores sido abandonadas.

f

uma nova cidade que é enrão construfda, havendo dados

,

,

tlNTE AI'K>S IJE ARqUEOLOGIA NA AI.('J.ÇOVA OE SAN !'ARr:",,: 1 .. ·1 195

qu

e

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ermite

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p

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César c

m

61

a

.e.

p

a

r

ece

fundamentado.

Apesar de, em muitas das

áreas es

c

avadas

entre

1

983 e

1

998 (

no

Jardim,

na

Avenida

5

d

e O

utubro

nO

[

9,

jUlHo

a

o

r

e

mplo rom

a

no

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muros

da

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s

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oberto

,

foi na

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r

e

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s

viveiro

s

,

e

scava

da

e

m 19

99 c 2000

,

qu

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s

paredes

d

es

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época

fotam

identifi

c

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as

numa

ampla cxtcn

,

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s

Id

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.

o

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er

m

i

nou uma

o

p

ção

m

C

lOdológica

qu

e

privilegia~c (alllbén~ ~s

a

n

álises

horizontais.

Assim, a escavação em área aberta reallz.1{!a permitIU

observar uma sequência de ocupação e edifkação sucessiv:lInellle remodelada e reconstruída desde O final da Idade do Ferro, até

à

época

islâmica.

Parece imponante começar por lembrar que, nesta área. verificámos

que se regista uma ruptura e reorielllação do Inçado das habitações do Final da Idade do Ferro relativamente ao início

da

ocupação romana.

Pelo

contrário, desde o período tardo republicano até meados do séc.

I

V/V,

as

alterações que se verificam não prodU7.iram qualquer alteração na orientação das habitaçóes, mas demonstram uma sllce.~são de COIlSITUçÕes e remodelações bastante significativa. As diferentes fases construtivas

identificadas sao marcadas, naa só por alterações no interior dos espaços domésticos, mas também na relação destes com os possíveis arruamentos ou áreas exteriores. A iIHerpretação e datação proposta para as diferentes fases de construção e remodelação, ainda que preliminar, baseia~se 11:1

leitura da estf<l.tignfia e nos dados fornecidos pelas cerâmicas flna.ç, nomeadamente pela terra

Jigiltalll

.

Assim, ao período tardo~repllblicano pertencem edifícios definidos

por um conjulHo de compartimentos de planta rectangular, de função ainda difícil de determinar, mas que, no ent'aIllO, podem corresponder habitações. A Sul, identificou~se o que se julga ser um arruamento 0 11 lima

área exterior.

Em torno aos finais do último quartel do séc. I a.c., e até meados da centúria seguinte, toda a área construída sofreu um proce.~.~o continuo de remodelações. Algumas paredes deixaram de eStar em utilização. sendo

(6)

outras alteadas, defin indo-se mesmo novos compartimentos c espaços. No fin al de um longo processo de sucessivas remodelações. assistiu-se à

construção de uma Fachada ponicada com a im plantação de um conjulllo

de 4 colunas junto

à

fachada Sul dos edifícios, sobre a possível rua.

Em fi nais do séc. I ou inícios do séc. II d.e. e até meados desse século, procedeu-se ao re-arranjo de pan e dos edifícios anteriores, verifICando-se,

o abandono de muitos dos compartimentos. A nova organi7.ação do

espaço habitacional passou ainda pela construção de novas divisões.

Q uanto às técni cas construtivas, e na ed ificação das pa redes tarclo republicanas e início do império verificou-se a construção de alicerces de

pedras. ligadas por terra argilosa.

As

habitações seriam construídas com tijolos de adobe que se colocavam sobre estes alicerces, de que se recolheram alguns exemplares.

J

á

em época alto imperial, mas num momentO que não é possível precisar com exactidão, um reboco de argamassa de cal e areia, por vezes mesmo de estuque, passou a revestir as paredes que eram,

j

á

então, totalmente constru ídas em alvenaria.

Ao nlvel dos pavimentos, a solução mais comum parece ler sido a dos pisos de terra batida. com finas camadas de argila compactada. apesar de o calcário moído ter permanecido como solução adoptada. De meados ou

finais do séc. I d.

c.,

conservou-se pane de um pavimcllco de

o

pu

s

si

gn

inum

.

O s fragmentos de

tegullle

e

imb

ri

ces

,

que formavam os !elhados

romanos e q ue, foram, igualmente, quando fragmentados, reutilizados na

construção de muros e paredes são abundantes. De assinalar a presença de

diversos tijolos de quadram c, de diferentes dimensões, alguns deles encontrados /11

s

itu

,

relacionados com construções que julgamos poder datar do séc. II. Tijolos de quadrante de grande diâmetro. encontrados

fora do seu contexto original, poderão, eventualmente, ter pertencido a colunas de um ediffcio püblico, localizado em área próxima.

Nos níveis superiores escavados na área dos Viveiros dos Jardins, existiam

mmbém paredes que correspondem ao período tardo-romano (finais do séc.

IV- séc. V). Não permirem qualquer Icinlr.l ao nível da sua planimetria e

caracterizavam-se por terem sido co nstruídos, essencialmeme, com cerâmica de construção reaproveitada.

No utras áreas da Alcáçova, muitas outras construções de época

ao Lago do Jardim das Panas do Sol que apresentava lima construção de

silhares bem aparelhados e revestimento por estude pintado; do conjunto

de cisternas existente

junt

O

à

vertente da Ald çova virada a Alrange; de uma construção romana de um posslvel edifício públicn; e, finallllelllc, do

templo romano.

O muro detectado n uma sondagem jUllto ao Lago do Jardim

apresentava como característica dissonante rela!ivamellle ;1S eSlrtltllras

descritas ;mreriormente, o facto de ter sido construido com blocos de pedra aparelhados ligados por forte argamassa, e a presença de estuque pintado.

Os rrabalhos arqueológicos que incidi ram sobre a cisterna permitiram verificar que se traIa {Ie um conjunto de pelo menos quatro depósitos

inter-comunicanres, conservando-se ainda dois.

U

m

destes está hoje

visível e corre perigo de derrocada a qualfjuer momento, não tcndo sido

passivei, até ao momento, e apesar dos esrorços da C MS, q ue as diferentes instituições que gerem o património nacional se coloa ssem de acordo quanto

à

sua conservação e restauro. O segundo depósito não !(li escavado

pois encontra-se parcialmente sob a muralha medicval.

Toda esta construção, foi escavada na rocha de

h

a

.~c

calcária, encontrando-se hoje num local de grande instabilidade devido aos

constantes desabamentos de terras das vertentes da Alcáçova. O depósito visível apresema planta rectangubr, com paredes que conservam cerca de

4 m de altura. É ainda vislvcl o arranq ue do tecto que seria CI11 abóhoda de berço. A parede Sul detém

tr

ês

aberturas que permitiam que a água

circulasse para o depósito adjacente. rindo o imcrinr foi revestido a OpU5

signinu

nI

e regista meia cana no ângulos das paredes e na ligação destas ao

pavimento. Sensivelmellte ao centro deste depósito existe uma pequena depressão circular que constitui o tanque de lim pez.a. Julgamos poder

associar a esta cisterna, um peq ueno tanque. situado cerca de 30 III para norte, igualmenre escavado na rocha e revestido por

o

pus

s

;

"

"illtl1n.

Esta construção integra-se no tipo de cisternas com cumpartimentos paralelos ilHer-comunicantes, presente em alguns locais do Império Romano, não

sendo possível, no entanto, saber-se, para o caso de Santarém, se a origem

da água seria pluvial, de nascente cxistent:e no local ou condll7.ida de outra zona da Alcáçova. A determinação da cronologia dest:l e.~t nu Ufa é

(7)

mat

c

ri

a

i

s

qu

e

fossem

elu

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vos

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o

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v

i

s

t

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a

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ção

do

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u

abandono.

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nt

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o, a

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s

trutura

s

adjace

n

t

e

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t

a

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ru

ção

possibilitam

arlrmar que,

pelo

m

e

no

s

no

séc.

II, a

s

cisternas

estar

i

a

m

ai

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funcionamcnto.

Quanto

à

função

des

t

e

depósito,

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d

as

hipót

es

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é

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e

nha

serv

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o

para o abaS(ecimento

d

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água às

terma

s

pübli

c

as

da

Scallabis

romana, evelHualmente

lo

ca

li

zadas a

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orte

de

s

ta

ár

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a. Até ao

m

omento,

não

exist

e

m

vestígi

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ectos

da

ex

i

stência

d

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e

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d

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,

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rec

im

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g

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lo

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avaçõe

s

do

s

Viv

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J

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titui um

indi

cador

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dade.

P

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r

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,

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d

a

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t

e

mpl

o

r

omano, estr

u

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m

ca

r

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st

i

c

a

s

peculiares. De

sa

l

ienta

r qu

e es

ta

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n

st

ru

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ão

se

lo

ca

l

iza

n

a zona da

Alcáçova

que d

e

v

e

ter recebido grande

parte

do

s

ed

if

ício

s

públicos da

ci

dad

e

se

de do

conventos jurídico. O

f

ac

to

d

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e

n

co

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t

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elevada

,

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l

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no

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i

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d

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Outro

s e

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i

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m

a

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r

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rado

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a

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A

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áçova

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O

t

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romano d

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f

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beno n

a

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ê

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baJho

s

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l

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i

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n

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,

e

ntr

e

os fi

n

a

i

s

d

e

1994

e

1

996

,

no

Largo da Alcáçova 3-5, e

um

eS

l

udo descnvolvido

foi já publi

ca

do

(

Arruda

e

Vi

eg

as,

1

999).

O

podium

do

templo

é a

m

ais s

i

g

nifi

ca

tiva

das

co

n

sl

ru

ções

roma

n

as

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n

co

lllradas

,

até

ao

m

omento,

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ntar

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p

elo

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erece

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se

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classificado

c

omo Monumento

Nac

i

o

nal

É

m

ac

i

ço.

apr

ese

nta planta

quad

ra

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g

ular

,

e

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o

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co

n

s

t

r

u

fdo

e

m

op

u

s cne

m

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nricium

,

r

eves

tido

,

nas

fac

had

as,

por pedras

b

e

m

aparelhadas ou

s

impl

es

mem

e

afe

i

çoa

das

.

Mede

1

5,

4

5

m

.,

n

o

sent

ido

Es

t

e/Oes

t

e e

1

5

,

25

m

.

,

no

s

enrido

Na

n

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ul.

Estas

medidas

co

rr

es

pond

e

m

a 5

1X

52

p

és

r

o

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a

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s.

A s

u

a

fa

c

hada

melhor

co

n

se

rvada (Sul)

p

ossu

i Lim

a

altura máxima de

4.50

m

,

c

onsiderando

a m

e

did

a até

à

ro

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ha

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se,

regi

s

t

a

nd

o-se

o

mesmo

valor

na

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h

ada

virada a

Oeste.

fu

fachadas Norte

e Este

apresentam-se

e

m

pio

r

esta

do

de

c

on

servação,

registando alturas de 4

,2

0 mel

,

9

0

ln

res

p

ec

fl

va

m

e

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e.

O

p

odi

um

foi

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struido

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ocha

base, a quru f

oi.

po

ss

i

vel

m

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,

af

e

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çoa

da para O efeito

.

A

mar

cação

dos cantos

do

podimn

foi f

eit

a

com

1

A

fachada virada

a

S

ul, a

melh

or

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s

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rv

a

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pos

s

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a

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tOtla

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b

ase co

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tru

f

d

a com s

i

ll

h

ares

aparelhado

s

e ai

nd

a co

ns

ervava

pan

e

da

parede que

,

clevando~se

desde

a

b

ase

d

o topo

do

podium

,

defin

i

a o

recinto

do

t

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mplo

,

p

ropria

m

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nte dilO, ou seja

a

aLIa.

Na

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lmgos

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eg

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stou

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vido 11

co

n

s

tru

ção,

no

sécu

l

o

XJX,

de um pi

ca

dciro

,

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dentifi

co

u

-

se

o

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pen

s

amo

s

se

r

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ba

sc

da

esca

dar

i

a d

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acesso

ao

podium.

Faz.

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ele

parte

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ante,

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upando

,

cont

ud

o

,

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c

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qu

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co

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ra

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truíd

a

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u t

O

pO

nan

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A

part

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cen

tral do topo d

o

podium

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i

g

u

aJment

c

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tru

í

d

a

por

uma

cisterna

qu

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d

a

t

a

do

séc.

XV

III.

O

s

dado

s

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is

p

o

ni

ve

i

s

pos

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ibilitam

q

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ava

n

ce

mo

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om a hipótes

e

{I

e

o

temp

l

o roma

n

o

de

Sc

allabiJ

t

er

s

ido

c

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d

o

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ntre

os

m

o

m

c

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tos

finais

da r

c

pübli

c

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e os

infeio

s

do prin

c

ipad

o

de

Âllgu

sto,

l

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ndo

s

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Ulilizado,

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nqu

a

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to

lu

gar

de

c

ult

o

,

dur

anle Ioda

a

o

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upa

ção

romana.

Não pod

e

mo

s

d

e

ixar

de

c

hamar

a atc

n

ção para o r.,cto

d

e

o

s

templo

s

{

Juadran

g

ula

res s

e

r

e

m

,

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C

Olllex(Q

d

a

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rq

uil

cc

tura

relig

ios

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man

a,

co

nsid

era

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os

antigos

.

E

f

c

ctivamente,

ex

i

ste

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i

s

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Jin

cios c

ultuai

s,

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planta

quad

ra

n

g

ul

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qu

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p

c

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s

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s

pod

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r

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m

co

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lituir bons paralelo

s

para

o

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lo ro

m

a

n

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ScaLlabiJ.

Trata

-se

d

e co

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s

tru

ções

pr

é-

augu

s

luna

s, co

m

escassos vestfg

i

os conse

r

vados

de

com

pl

exos

arq

ui

lec

t

ó

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cos

m

ais amp

l

os,

e

que

se

rão

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num

a bse

posl

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rior,

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s

no

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jàm

imp

e

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.

R

efe

rimo

-

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os,

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c

hamado

T

e

mp

l

o

B d

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rdona (Itália)

e

ao t

e

mpl

u

d

e S

agullto

(Espanha).

A

lo

ca

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ação

do

t

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mplo de

Scal/

a

bis,

jUlJto

?l

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ncosta

v

i

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a

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c

tual Ribc

ir

a d

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amarém

,

co

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e

r

e

-

lhe

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posição

d

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el

evado

s

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i

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o

,

e

p

e

rmit

e en

quadrar

e

s

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cio

jUlHo de

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a

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cs

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ixo

s

d

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p

e

n

e

tra

ç

ão

n

o ce

ntro urbano

amigo

.

A crono

l

ogia

forn

eci

da pel

os

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que

se

assiste a

uma imporram

e

renovação urbana.

As

importaçõe

s são

muito

numerosas, c os centros exportadores e os produtos são múltiplos.

Também a numismática contribui para acentuar a relevância de Scallabis

durante os últimos anos do I milénio a.c., parecendo importante referir aqui que as cunhagens da ceca itinerame do legado de AuguSlO

P.

Carisius

dominam no conteúdo do inventário das moedas romanas recolhidas na

Alcáçova, o que aliás contribui também para acentuar o carácter militar

do inicio da ocupação romana de

Scallahis.

A aha cronologia que 3tribufmos

à

construção do templo de

SCllllahis

impede.nos de considerar que ele se destinava ao culto imperial, apesar da sua

localização e impla.mação, num lugar alto e sobre um rio, frequememenre alvo de cheias imensas, o sugerir.

Não

é

impossfvel pensar que,

à

semelhança de muitos outros templos

quandrangulares. o templo de

Sca

llahis

fosse um capitólio, atribuição que

somos obrigados a deixar em aberto. dada a absoluta falta de dados,

epigráficos ou iconográficos, que elucidem o assunto.

A intervenção arqueológica prevemiva efectuada na Igreja de Sama Maria de Alcáçova em 1992, na sequência de obras programadas pela D.G.E.M.N., permitiu a identificação, na sua capela·mor, de uma

construção romana de alvenaria de pedra e argamassa de boa qualidade. Apesar da área escavada ser muito reduzida, esta estrutura, que se pode datar de época romana alto imperial, apresenta contrafortagern no seu

imerior e poderá ter pertencido a um edifício público de função ainda desconhecida. Apenas se encontrou o topo deste edifício desconhecendo·

se a sua verdadeira dimensão.

Da cidade romana tardia, paleocrisrã ou visigórica, pouco ou nada se

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VI no local, estes náo se encontram associados a qualquer estrutura.

São dezenas de milhar os materiais arqueológicos de época romana que pudemos recolher durante os nabalhos de campo. Nesta breve

apresentação tOrna·se impossfvel descrever ou falar com o necessário

detalhe a seu propósitO. Mas parece indispensável deixar registado que.

para além do bom estado de conservação da grande maioria. este espólio

,

Integra:

I. ceràmicas de vários tipos e cronologias e funcionalidades

2. objectos de adorno, concretamente nbulas, contas de colar de vidro. alfinetes de cabelo anéis e ainda um strigillo, artefacto Ulilizado nos

banhos.

3.

bronzes e ferros vários entre os quais destacamos duas aenelas de

sftula, um sfmpul o em bronze e lima enxada.

A instalação de militares no planalto da alcáçova está bem documentada através de uma quantidade apreciável de objectos que podem rclacionar.se com a actividade bélica, nomeadamente: lanças, projécteis em pedra, glandes

de chumbo e alguns numismas que sabemos foram cunhados com o

propósitO explicito de os pagamemos

às

tropas.

Documentando a fiação e a tecelagem foram recolhidos vários artefaclOs:

separadores de tear,

pesos

de tear, agulhas e fusaiolas

5. Medieval/islâmico

Voltamos a possuir alguns dados sobre a ocupaçáo da Alcáçova, a

partir da ocupação islâmica, conhecendo·se, nomeadamente através de registo escrito, a importância que o local adquire, no quadro da expansãc

islâmica no Vale do Tejo. Não obstante, os dados arqlleológico~ relacionáveis com o urbanismo da Alcáçova muçulmana são praticamentl

inexistentes. De factO, e como já foi mencionado, as estruturas m:li:

significativas deste pedodo são o conjunto de fossas ou silos islâmicos qUI

se encontram, com maior ou menor intensidade, um pouco por roda, área da Alcáçova. Trata-se de estruturas de abenura quase sempre circular

podendo apresentar perfis com alguma variedade. Estando a sua funçã(

(9)

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silos encomrar-se-iam associados

às

habitações muçulmanas, das quais, no

entanto, nada resta. Aliás, a escavação destes silos ou fossas permitiu verificar que estas estruturas foram, a panir dos momentos finais da ocupação islâmica, utilizados como lixeiras, estando o seu interior preenchido com

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es

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e

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ixo

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dom

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icos.

parec

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que

a função originaJ foi

abandonada.

Não podemos deixar de estranhar a ausência de qualquer registo sobre o

urbanismo islâmico da Alcáçova e, sobretudo dos edifrcios que caracterizam

a~ Alcáçovas islâmicas, nomeadamente as instalações militares e a área

pa

l

atina. No

entalHO,

a

pere

c

ibilidade dos materiais utilizados

na

s

consuuçóes das primeira, e a possibilidade de a área palatina poder ter sido, pelo menos parcialmenre, utilizada pelos ocupantes cristãos poderá justificar esta ausência.

As

sucessivas remodelações desses edifícios poderá ter

conduzido

à

ocultação das caractctfsdcas iniciais dos mesmos, desfocando a

leitura sobre a Alcáçova islâmica. Neste contexto, não podemos concluir sem

rererir que as casas locali7.adas no Largo da Alcáçova n. o I e 2 são, habitualmente, e com base na documentação escrita, idemificadas com os

palácios de D. Afonso Henriques.

São também muito numerosos os restos anefacruais encontrados

durante as escavações, alguns dos quais pela sua raridade devem desde já

ser mencionados. O candelabro arquitectónico datado do século X é uma

peça de excepcional qualidade e a sua presença cm Santarém contribuiu

para aumentar o escasso conjunto conhecido mundialmenre.

As

cerâmicas são o material mais abundantemente recolhido, sejam

vidradas, decoradas a corda seca e verde e manganês ou comuns. Destinarn

--se ao serviço de mesa, a utilização na cozinha e Outras actividades domésticas.

6.

Perspectivas de futuro

o

conhecimento que está hoje dispon!vel sobre a ocupação humana

antiga de Santarém

é,

como se vê, de dimensão considerável. Deve ainda chamar-se a atenção para o numeros!ssimo espólio que pode ser recolhido.

Este, para além de, maioritariamente, se encontrar em excelente estado de

conservação

é

também bastante diversificado, tanto do pomo de vista

...

-arqueológicas postas a descoberto, em 1999 e 2000 na área dos viveiros

do Jardim, fornecem importantes informações sobre o urbanismo de

época romana, apresentando uma leitura horizonral bastante nitida do

ponto de vista arquitectural.

Deste modo, e independemememe da publicação final dos resultados

que temos neste momento em preparação na forma de um livro monográfico, pensamos que se torna indispensável que os escaJabiranos e quem visita a cidade tenham o direito de fruir de um importante pedaço

da história da cidade, que além do mais resultou de esrorço pessoal de

uma larga equipa e de investimentos financeiros, apesar de tudo, consideráveis, quer da administração central como aud rquica. Parece-nos

pois indispensável que as peças arqueológicas retiradas do sub-solo sejam expostas a titulo definitivo numa estrutura museológica que as enquadre, proteja e divulgue junto do püblico cm geral e também dos especialistas. A sua permanência na reserva municipal não deved, na nossa perspectiva,

perpetuar-se, parecendo-nos que a mostra exibida no Museu Nacional de

Arqueologia e a que se prepara para a Igreja da Graça, sendo importantes,

não esgotam o problema.

É

necessário afirmar, com frontalidade, que Santarém, capital de Distrito não dispõe de uma qualquer estrutura museológica. Não parece pois disparatado propor que, atendendo ao

desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos c do esforço que se reali7.Du na conservação e restauro de muitas peças destinadas

à

expo."ição temporária,

que o projecto de um verdadeiro Museu arqueológico em Santarém faça

parte das prioridades dos poderes públicos, locais e ccntrais.

No ~mbito do Plano de Salvaguarda para a reabilitação e valorização

da Alcáçova e do Alporão, faria todo o sentido a conservação c valorizaçâo

das minas postas a descoberto na área dos viveiro, no interior da Igreja de

Santa Maria da AJcáçova e das fossas de época islâmic"l jUlHo

à

barreira

virada a Alfange.

Outras medidas deveriam ser ainda implementadas tais como:

I. criação de percursos que inc\u!ssem o templo romano e as clsrCrl1:tS;

2. pequena sala de exposição junto ao restaurante das Portas do Sol;

3. valorização de troços das muralhas e respectivas portas tal como a

Referências

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