Anno :;.0 - N. 4
Numero avulso - 1 $000 ré is. Ja{leiro de 1919 " •
..
R E V I S T A ~ E N S A L •
Sob a direcção de ins p e ctores escolares do Districto F ederaJ
'
..
··-
·
---Editores: FRANCISCO ALVES
&
e.
Rua do Ouvidor,• 166 - Rio de Janeiro.Rua Libero Badaró, I 29 - S. Paulo.
Rua da Bahia, 1055 - Bello H orizonte.
• ASSIGNATURAS : Para o Brasil. Uniã o Postal. • • • • • • • • um anno , ' '' 7 $000 lOSOOO REDACÇÃO: - RUA DA QUITANDA, 72
. ' SUMM'.ARIO
O primeiro problema ... .
Olavo Bilac ... . ... . . A Escola Normal .. . .... ... .. . A E scola W enceslau Braz .... .
A Reforma essencia-1 ... . . A I d éa Central ... . - - .. - - - ' . r - - ' " -O. S. R. Díniz Junior E. P. M. Coryntho da Fonseca O. S. R. At. . O Cinema e a Escola ... . Geometria Pratica .. . ... . ... . . Questões de linguagem ... . . Curiosidade ... . Margarida :àiI. A. P. P. LI ÇÕES E EXERCI CI OS Theatro infantil I
O PRIMEIRO
-
P
.
ROBLEMA
•Ahi i•en, o cente11ario da in,dependencia, que nos cor-ria o devet de celebrar, segundo têrn opina:lo tantos
,;ornrctente,, co1n a solução do nzais in1J,ortante de n1s-sos proble111as sociaes - o a11alp!taúcti.r1110, e nada e.riste
definitivo para isto. Já se organ i::ara1n, corno era natu-ral, Planos ad111lravcis, nionu1nentos, já se discutiu, já
se j>ré{}ou, 1nas tudo segundo nosso habito ·velho ~ se111
realizações praticas i111111ediatas. Entretanto não podenzos
cru.:ar os braços. T7a,nos co111111e111ora1' 1t1na indepen,lencia
que não tentos ne,n pode111os ter, porque no seculo acvi,al 11ão é livre nenz se go'l•erna por si 1tni povo q1te 11.ão
sabe ler nen1 escrei1er. F ór111as d e governo, constituições,
1 eis, suf fragio - são pala·i.'ras ôcas e vans se a ,nnioria
do po'i.'O é incapa:; de deletrear os codigos de se1is di.!.
rcitos e dcYz•cres.
.. <::e nfio eJJiprehendernios i11zn1edia!a1nente a cru~ada ·do a!Phabeto será inutil tentar qualquer grandr refornia po-litico-social, que, não se fundando na participação directa, i.ntelligente e racionada do po·ZJo, não dará fructos, ou. os prod u::irá n1a11 s.
A propria can1panha sa11itaria, ningueni lhe espere re-s1tltados se não fôr Precedida de 11,n prinzeiro desbaste
da bruteza nzental do po7.•o. Prégarão os apostolas co,110
a pedras, que ne111 sequer 1/zes e11tc11derão as pala1.•ras; 11crão rqr toda. a parte as abusões da ig11ora11cia, que lhes
i111peaen1 o ca,ninho, e desbaratarão senz pror:eito as for-tunas que fites llou·z,cre111 sido attribuidas para o
sanea-1ne11to.
Basta attcntar u,n pouco />ara se -r·êr que nada, abso· lutantante· nada, está fet'.to ou e'llz 1•<1speras de se fa=er.
Se restringirnzos a observação ao tracto do territorio na-cional a que 111ais dir,·ctan1e11la csta,nos ligados. ao Dis-tricto Federal, ,;,·era,nos que e111 hiena capital da Ret,u -blica. o coefficientc dos illetrados é asson1broso e, superior ao lios r~1i:;es que a Hossa 11aidade c:ostu111a tratar ,de
atra=ados.
' Pois não será poss1·'llel no nzeN os aq11 i 11esta capital e.r-tin,qu ir-se o opprobrio do analphabetisn10 por alguns pro-cessos rapidos que rossa111 servir de e.1·en1plo ás
circzf/11-scriJ,çõcs ,nais re111ofas?
Os 111t111eros de 11ossas escolas publicas, de nossos pro-fessores, de nossos a/u1111zos. 111atrú·ulados, são irriso-rios Ql!a.ndo se con1parani co111 os dos Pai:::cs go,;_:e1·11ados.
Se a Suecia, con1, cerca de seis 1nilhões de habitantes, nos apresenta 111a1·s de 16.0.00 escolas' cle111entarc.s, quasi
30.000 prof essorc.s e 800,000 discipulos; se a .Vorucga,
co,n pouc(l 1nais de dois 111ill1ões, possúc 6.000 e.1colns
de pr,nciras letras co1,z cerca de 300.000 alu1nnos; 'se o
((ansas, u11i dos Estados U11idos, para r .800.000
habi-tantes offerecc: S.700 escolas co111 12.700 professores e 200.000 altL111TlOS; s1.-· o f.'stado do A1aiJie, que é inferior,
c1H /)oftulação, a este Dist~icto., pois não pos$Úe senão
772.000 ltabitantes, conta crrca de 4.700 escolas e 5 .000
profcsso~·es, onde nos collocare,110s n6s quando
apresen-ta rJnos as nossas estatísticas!'
Prccisc1111os a11g111c11tar e tornar effi.cientcs os 111eios de
instr11cçlÍO. Suspeuda,nos, por Ol'<J, os Planos ,nara·villlosos
e as discussões theoricas a proposito do ensino, pois não nos faltará te,npo para iiso. Tratenios de aproveitar o pouco que nos resta para inz.itar o· que foi feito por aquel-les PO'l'OS, que red11=1'.ranz a sua ta.i-a de analphabetos a
>nuito rne·nos de 1 °1°, quando a nossa,, segundo os cal-·
culos correntes, oscil/a entre 40 e 45 ºIº (a da capital, pois a do Brasil orça por 75 °1°).
Que fizerani elles? 1\1lultip/icarani as escolas, de 11zodo q,u, o ensin,o fosse buscar o alu 111no e não este a elle.
Da-das escolas, eni nu nzero suff iciente, se poderá pensar na
obrigatoriedade; · antes disso. poré111, será fa=er obra
so-bre o papel.
Mas se ,nultiplicarn1os ao conzpasso ela necessidade as 11ossas escolas, onde b1tscaren1os fundos suf f icientes para
·111a1iter o ensino? Força é concordar que nenhu '>na receita nos bastaria para este fi,n e que seria111os obrigados a abrir fallencia ,nuito antes do que contánzos, pois debalde se organizaria111, arranjos orça,nentarios dantfo a certas r
e-ceitas o no1ne de fundo escolat, e até creando algunzas 1io-'lJas fontes d e re-nda. 111 as a necessz'dad e reco1nnienda e e.rige que se si,nplif iqu e o pon1poso e inutil 111ecan1.·s1110 de nossas escolas, Pelo nienos pro,.'isoria111ente. Instituanzos escolas elenzentares, onde só se 111i11istre real,nenre o ensi-no elen1entar - ler, escrer.'er e coutar, onde ·não se e.rija111. progra1n1nas transbordantes e curso de bacliareis, e será Possivel 111andar a cada recanto do Districto Federal, co»i pequena ren,uneração, 111n enzissario da luz do alplrabeto.
A obra é de apostolado e só por aposto/os póde ser e,n-pre!tendida. Se ás irnzãs de S. Vicente de Paulo ti·vesseni os lzo.spitaes de pagar os 'l1encin111tos que se dão aos bons
enfer111eiros leigos, não estarianz e/las por toda parte e.rer-cendo sua ,nissão, coni lucro para os doentes e 1.1antagens
para a religz'ão de que são instrunientos. Não poderenzos 111andar a todos os pontos u1n Professor estipendiado
111en-sal1nente conz 111eio conto de réis, ,nas poden1os despachar
1111uitos e n111itos, ainda que pro-:.'isorios, co,n subvenção co1zsldera11el11zente nzenor, desde qúe se lhes rcd11::a11i esses
,;_1astissin1os progra,nnias de ensin'o conz.. que ·nos 1.·anzos procuran,do pôr de accôrclo co111, a orie1ltaçiío Pedagogica dos pai~es ,nais adeantados e· ,nais ricos. Nestes pai=es,
porénz, a 1nac!tina# niontada ha longo tenzpo, ten1 fu11ccio-11aclo sc111pre, a,npliando progressi1•a111e11te seu rendi-nzento. Nós, ao contrario~ csta,nos deante de uni pro-blen,a no,•o. So,nos ,narceneiros a quenz se dá a t6ra bruta sahida da 1natta. T rate,nos do pri,neiro passo, ensinar a ·
todos a que saiba,n ler, escrever e contar, pois quen1, o
sabe. já de si 111es11,o -;,,ae enz busêa do 1nais que /Ire falta.
S6 depois deste trabalho 1
i11icial de desbaste Poderenios cogitar de aperfeiçoar, conzpletar, integrar a instrucção.
Te111os atú agora, sob o ponto de ·vista restricto do ensino co1110 obrigação do Estado de,nocratico, perdido te,npo, energias e d1'.nheiro. Pare111os uni pouco e raciocinenios que o 1.1erdad e iro progresso nenz sen1pre é ir para deante;
retroceder, quando se 'l'ae errado, é obra seni dui•ida· 1nais
lo11r·a'l•cl e digna de apoio.
O. S. R.
Toda
a
corre
s
p
o
ntiencia
d
e
v
e
ser diri
g
i
da a
FRANC
I
SCO
..
ALVES
&
C. -
Ruado Ouvidor,
166 -RIO
D
E
JANEIRO
, • • • . . ' •
-• •• • 1 • • • ,
-98
A ESCOLA PRIMARIA
-·
+-- - ~ - - ----
----~-1
IDEAS
E
FACTOS
• • •OLAVO BILAC
Em pleno esple11dor, áos
53
a1111os ele eclaele, Bilac morre, e deixa, em 1iós si, 11111 rastro de i11te11sa lttz. Morre ai11ela cheio cio desejo ele escrever, 1iois q11e s11as clerradeiras palavras represe11tam un1 a11ceio de arte, 11m appello á vida -para q11e lhe permitisse, n11m 11ltin10 ex-, tase, o sonho de uma nova realização de I Jellê-sa : -qiiero esc1·evei-
! Toll1eram-se-ll1e, porén1, as mãos, esc11rece11-se-Jhe o cérebro arclc11te,o coração parou. De toda aquella divi11a a11
-ciedade ficou, ape11as, a cn,oção da proméssa. Bilac 111orto, resta o syn1)Jolo, a fig11ra t11telar.
No torveli11ho do a11gustioso presente, s11a vóz accordo11 as consciencias, transmittindo-lhes 11ma gra11cle fé. O Brasil descrêra ele si proprio.
Porque? N ing11e111 o diria com seg11ra11ça, n1as a i11differença geral pelos gra11des i11teresses da 11ação, a apath ia collecti va, res11ltan.clo em desejo de t11téla exótica, eran1 uma retice11cia algida 11a vida (lo [Jaís. De ta11Lo crer-se e111 que se estava á lieira ele 11m aliys1110,
adq11i-ri11-se o elestemor, q11e era antes o n1ais
deplo-ravel descaso pelos 1iroprios desti11os . ..
N11n1 di,t de gloria, Bi lac accuso11 a geração act11al clessc infel iz e i11a11clito crime ele scepti
-cisn10, - scepticismo inco11celii,,el e tanto n1ais de ser co111baticlo qt1a11do reveláva a clescrença
numa riatriit 111oça e ric,t, se11hora elo 1nais cubiçado e po rtentoso 1iatrimo11io.
Sua vóz clirigi11-a elle ;'.1 111ociclacle,· de q11en1
, • l
l
• ,
i
·
r
.
'
U111 <!SJ)lfltO 110 ave Jª l ISSC q11e se111[)l"C 01
bo111 ccllciro. I•'alou-lh e cio reci11to a11g11sto de
uma cijco
l
:t
lrucliccio11t1l, :1]
i'
u
cu
l
t
l
ttc
l
c
1lcl
)i
-reito de S. Pa11lo. l•oi assim con10 se 11m apos-tolo erg t1esse 110 a1nliie11te ele un1 gra;1cle te11
1-plo
n~ 11a
l
nv
r
n
~
r
l
t>
r1111 r rÍ>rln · AJJn!Ipn
l
nvrn
G
.
u~for1nosas e clolorosas palav ras ditétS po r elle !
- oco nrn1n
n
t
ó o
n1:.i is lo11 gi11qt10 ela in1111cr1 s::tterra do Brasil , como 1111 incita111er1to e t11n
l>alsamo.
O que se passoi1, então, está 11a n1emor ia de l111loa1 'e (
l
ttí!i
1>11r11o
rt1L11r11 ,,,No
11lv1,rcc r d ét nova éra, pregada por cllc, o escoteiro -• • • • •imagem ele t1n1 claro dia - é o 1>re11u11cio da reelem,pção. ·
As possibilidades de realização elesse grato sonho civico imaginou elle havei-as deparado no traball10 a q11e p11déssem entregar-se os membros do 111agistério, alliados aos dignos patriotas ela Liga de Defesa N acio11al. Não foi 11ma espera11ça vã, 11em elle o j11lgou 111111ca, tão bem conhecia aq11elles a quem confiára a aspera, n1as gloriosa causa, tão deperto os sentira. En, seu tem1io de inspectôr escolar, já ,preõcc11,pado, con10 11ós, em acertar co111 o ca111inho ela salvação nacional, bem a11sct1ltou ~ viva fé e o vigi lante amor da patria, que, ahi, no seio de cada escola, faz de cada méstre o dôce poéta desse enlevo e fórte obreiro ·dessa
•
ol>ra.
A salvação nacional . . . ·"
Dentro do ambito dessa gra11diloq11a
as1ii-ração, veiu a morte sC1rprehe11del-o. Para qt1e? Por q11e se não ultin1assem o triu11fo e as espe
-ra11ças de s11as idéas? 1'eriét sido i1111til: - a 111orte, então, ch ego11 m11ito tarcle.
O futi1ro, q11e abe11çoará o 110111c ele Bilac, clil-o-á !
DINIZ JUNI OR.
•
-·
-
- - - - -
•:•
-A ESCOL-A NORM-AL
•
P
r
epara
-
se i1n1a
reforma
para a Escola
Kor
-1nal. Desejando acertar e atte11cler ás pri11ci
-pacs 11ecessiclades c!esse estabeleci1nento ele l'11:-ii11u, c:scull1ct1 u i1clt1a l l)Jrcclor de f11:ilr11· cção do11s dos 111ais ,,ell1os professo res da casa
para q11e, co111 o de Pedagogiét e o se11 clirector,
i111lic1110111 f!Q llllllt'4 1lt1 110111 J111n ro
f
or
n
10.
.
R'
rll'es1ierar olira per fei ta: conhece1n elles, sob
tocloH r,q i::" 11s ns11 cto!l, :ti: <li ffic11lrlacles 1!0
t raball10, q11e, em boa hora, lhes foi confiado. E n1 epocas passadas fora111 os tres pri1neiros tan1ben1 <li rectorcs clcsse estabelecime11to; ensi
-11nftllo r 1llt lgl111lo 111\fito tl~'Vl•111 l,·t
t1
l
,~1
·
r
vur
l
t1
e cliffi cil não lhes serlt aprese11ta r remedio tão
• • •
'
• • • A ESCOLA PRl l\fARIA99
urgenteme11te reclamaclo. E' de esperar, 11ão
ha eli1vida; será obra feita por tech11icos e apresentada a di rector co1n,petente co1110 é o D r. Rattl de Faria, a q11em estão entregues os destinos da instrucção do Districto Federal. E' uma co11soladora esperança esta em q11e fica
-mos, embora certos de qtie a ,,ereladei ra 1·efor-ma da Escola não depe11de tanto do que f icar
•
escri·pto e app1·ovado co1no cio modo pelo qt1al fôr tudo exec11tado. Os males ela Escola não nos
vieram das reformas nem dos reg111amentos, feitos todos com a 1nelhor vontade ele acertar, com os 1nais aleva11tados intuitos. A Escola precisa de mttita co11sa: precisa de casa, isto é, de installação, precisa ele n1aterial, precisa. de horarios pedagogicos, de bons progran11nas, mas ,precisa tambem de lions ,professores, q11e os ha ahi em 1111mero li111itadissin10; precisa de orde111, de disci1>lina, de regt1laridade en1 set1s serviços, co11sas q11e se fazem se11tir . . .
E o n1ais extraore\inario é -q11e a 11i11g11em surprehende semelhante affir mativa : parece
doente atacado de mal inc11ravel, a ,,iver de i11jecções de oleo can1phorado 011 cousa seme
-lh an te. Reco11!1ece-se este eleploravel estado de co11sas, t ransmittem-se
aos
intimos i11teressa11-tes
casos,
qi1e se multiplicam, mas,co~no
0.1·jo1-11aes não falatn,
co1110 11ão se faz esca11dalo em volta eloscasos
e como 11m normalista di-plomado ( si1ppõe-se ... ) sabe mais do _q11e ttm a 11xiliar de ensino ... acredita-se que as cousas
11ão
e
tão a11si 111 lão rrÍb.s co1110 se dize111 .. .Façà· Se a r eforma, si111, que é urge11te, mas qt1e n ão contin11en1 professores e (loce11te in-ca1,azes
a
fa::erc11i
j,ís
somente ao ordenaelo que lhesdá
a P refeit11ra; faça~se a reforn1a para q11e 11ão continuem os _al\1m11os,em
Sllílgra.
11
<lc rn.a
i
oria, a
estudar em cada anno s o-m ente as disciplinas e11tregues a bons professo-r
es e
hon ~ cloc,1,l<'s, ·1,,1st1u11doi
JOr
111edía 011 por ex an1e, confessan clo per feita e absol11taignoran cia de n oções essertciaes. Faça-se a re -forma para (lllt: se não
possa
n1
qt1eix:i r oq J1on qprofessores, c1ue, outr 'ora ríspidos, hoj e affir'...
mam qi1 e se11 en sino,
d
e
s
ce
i,
1nt1ito, po rq11 l'têm que attender ás condições dos alumnos
que lhes ão confiados. F aça-se a r eforma de
;
maneira _que desa·ppareça a desordem que ,por
tá
~~iste e
pr
ovoca p
rot
es
t
o!l
~i11cer~~v
i,
h
tt
-1nentes de alguns professores que se não que -r endo tor11ar co-res,ponsaveis com tal estado
de co11sas, verberam em aula, <:onsta11temente, com u1na constancia admiravel, os actos n1a11s
•
elas admi11istrações cegas, St1rdas ott condescen
-cle11tes, mas tudo se111 res11ltado pratico além do mal q11e traz a falta de confia11ça qt1e os al11-m11os deve111 ter en1 relação aos set1s Sll[)eriores .
1Conseg11ir-se-li;,. isto?
Não nos entregt1emos a triste pessimismo: deixemo-nos embalar 11a esperança qt1e t11do vai melhorar, q11e o mesmo pessoal . incapaz de exect1tar pedagogicame11te a r eforma Sodré, tão a,preciavel em algi1ns po11tos, seja agora levado a feliz regen eração de hal)itos e costu-n1es, abste11do-s·e de dar aulas q11e peccam por
falta .de base ... scie11tifica e pedagogica, prin-cipalmente pedagogica, e isto por e_-(cesso de ig11ora11cia e1n Pedagogia.
E. P. M.
- -
--
---'----
···
•-
---
-A ESCOL-A WENCESL-AU BR-AZ
}.ife11 caro amigo Dr. ~agioli.
!\ c1 ui respondo, com o maior prazer, á s11a carta
rleix:ida, part1 n1i111, 11a posta restante do t1\ti1110
numero cl·;·.1
Escola
Prirnaria..-\ntes, porém, deixe-me agradecer-11,e a e
x-cessiva bonclade com que me julga, nessa carta.
Nem a tt1do quanto. n1e ipergurlta -eu 'poderei
re51ponder- ll1e completaimente, ,porque isso, para ser feito co11,•enientcmcntc, tomaria de1nasiado es -paço, nesta resposta, em proporção com os limites
desta revista.
/1. ' 1, ri1n t1ira tlergttnta cJtle me faz , o meu amigo
já deve ter tido uma re5\Posta com a ·ainda r e
-cente publicação cio regt1lamento da vV.enceslau "íl1·n,-, (111 .. foi t11111l)c111 cu1110 tt1 u
co11hect com
-pletamente. ·
,Com as materias do c11rso de adaptação
e o
ltlrsu das ufflclna, clacla a , tia orlontaçâo, pelomenos até ao terceiro anno, já deve ter reconhe
-cido o n1et1 caro amigo que sem sem!l)re
vanta-josa 11mn
r~i;o'a 11~§~:l!I enT\diç-""·'l'anto q11anto 11ma casa de ensino ,l)rofi ssional,
essa será 11,m O!)timo institu,to ele cdt1ca
ão
gera
l
,
deixando os seus ex-alumnos no li,miar davida,
pro1n,ptos e a11mados para tomarem qualquer
ini-ciativa, j á podendo entrar Jogo, resolutamente, na
lucta economica, já em condições ,dç
pr
os~
1i
re
m
e&lUtlo~ m!\l! allos. •
Ora isto são possibilidades que não offerecem • •
geraLmente nem o nosso cur,so ipnmano, nem o
• • •
•
• l1 ' 1 • • I 1 •
•
••
•'
• _1 O_O _ _ . - - - · -- ~ -
A
_
ESCOL! PRIMAllIA
sect1ndario, 11em o nosso ensino t)rof.issional, viei,.. 1ge1ire, os ,dot1s !Primeiros transitorios, sem finali-dade pratica em si ,1nesmos, o outro .ain,da com
'
a ferradas tendencias para a esp·e<:ialàzação, desde
'o princ~pio, fazendo ele sua-s pobres victimas um-a
nova especie <le chair à cano1i ,do capitalismo i·
n-dt1strial.
A orÍ'entação dada ao regtrlamento da Wen-ceslau ,Braz, na ,parte rel2.tivà ao ensino nas
offi-. , . .
c1nas, e a pr1me1ra consagração official, em for,n1a de lei,. ,da propedeuti·ca techni·ca, da -desespeciali-'
zação completa como base racronal q:>ara a decisão
ele um destino eco11omico e social, formula pela
qual venho ,me batendo ha mais de seis annos e qt1·e me valeu os epithetos de theorico, mal orien-tado e ou-tros a-inda peiores.
-,Ma·s, se n1e cerca,va a ,critica infeL-izm,ente
1;em-pre m,ur,m,ura,da, evitando os -caffi!PoS ,de debate largo para onde ,•arias vezes levei a questão,
compensot1-me a,poio explicito e claro de alguns, como o de ,A.franio Peixoto que, director de
Ins-trt1cção, 1ne aconselhava sempre,
encorajadora-mente:
~ R'esista, r-esista nesta orientação, que é a c1ue
,
esta cer-ta.
Por este lado, o programma da W1enceslau Braz
me permittir-á, muito á vontade; continuar a fazer
o qt1e fiz na Sóuza IAguia~.
Co1no instituto de fonmação nor>mal de prof1
es-sores para as officinas das escofas !Profi,ssionaes
'
os elementos de q11e ,d-ispomos a·ctu.al,m,ente, nes-se
terreno e- o ty,po qtte a fôrma da Wenceslau pro-mette moldar futura;mente estão ,u,m pouco dq·
s-tantes, o suffi,ciente ,para tornar n,ecessario um typo inter,mediario, 1para que a translação se faça
por evolução regular, sem ttm salto que talvez
pro-jecte os seus diplomandos 1para alem das preroga-tivas da m,estrança ,de pff,icinas, atirando-os para dentro da grande ind,ustria, com prov,entos e
van-. .
.
. .tagens m111to maiores e 1na1s seclttctores.
,
Q
tempo de serviço que se pede á m,estrança do ensino profissional, junto ao que ,se lhes paga, oque aliás está en1 jt1sta proponção con1 o pessoal
de que unicamente ,podemos dispor agora, afas-tará os c1ue, tenelo feito um cur,so, mesmo o ,da
'
Wenceslau, de verdadeiros tecl1nicos indt1striaes, não acharão conveniencia alguma ,em preferirem a
excellentes posições na indttstria, mais rendosas a
'
absorpção total elo seu temjpo, ganl1a11do 1nenos. Isto será tim serviço ,directo pPestad,o á maior
efficiencia elo e11sino profissional, embora pareça
á pr,imeira vista ,paracloxal, dada a finaliclade da
1
escola. Com cffeito, isso será ce11tPifugar a
1no-cidadc da attracção elo fu11ccio11alismo, eixo ele
rotação das asJ)irações da 11ossa gente. Não 11,e
1
parece um grande serviçõ atirar os nossos jovens
para a vida, dispondo de e1em:entos que lhes
'!)er-. ~ .
.
.m1ttam rv-encer, com recursos ma4S 1ntr1nse,ca-1nente seus do que á sombra repottsante dos
"di-reitos adquiridos", qure tão ,dooemente nos tem
,per,mittido, mu,itas vez·es, <lormitar indole·ntemente, ao rce bafejo da brisa faguei.ra que é a segu-rança da aposentadoria?
,In-t,errompo-me aqui, um insltante, ·para reparar um pouco que, d,esde o principio de sua carta, uns .
,
-olhos maliciosos riem maLiciosamente por traz dos
oculos, riscando nas entrelinhas, certas pergunt;is prin,cipaes qu,e o meu amigo não me fez ...
Nreste q:>onto elles ma-ts se riem, .ain,da, como
travessos gnomos da ironia .. .
Aquietem-se os ,maliciosos .. .
Dentro do ensino profissional, porém, a Escola Wenceslau Braz poclerá dar, como primeiro
pro-d·ucto, um outro txpo de ,profes,sor-es imm,
ediata-men'.te aiproveitaveis e não só para as escolas pro-fissionaes.
Recorra -0 meu a,migo ao reg,ulamrento e
verif.ique os; Qptimos profes-sor·~s do curso de
ada--ptação que se poderá esperar, elaboradas '!)Or esse progra·mtn4 ·e pela orientação com que -elle dev,e
•
- ser executado. •
•
Esta Õ)•pothese está, aliás, prevista no art. I do .Regt1la1nento.
•
Imagine professores de mathematica, de
phy-sica, de chimica, etc ... , ensinando a· sciencia sob •o
ttnico ponto ele vista sob o CJttal ella deve ser en-si,na-da na escola, isto é, de suas q,pplicações na
vida corrente, tran.sform~ndo-a,, d,e / m!Ysteriosa feiti,c:eira do X e do ,Gabinete, em 11,ma compa-
-nheira, t1ma .a,miga, ttma auxiliar da Vida, para o maior bem do progresso ,e da feLicidade humana!
Teremos nós muitos professores nessas
con-dições?
Que o diga a Geometria que apreftdemos, nu1n long·o e somnoJ.ento desfi'ar de theoren,as de
so-luções já racio·1iadas no compenclio, em q11e m,uitas vezes as verdades, laboriosa1nente de-n1onstradas, nos apparec-em, assi,m, ridicttlas, . em
face ,da simplicidade ,da ev·idencia. Que o diga a Geometria qtte ensinamos na es·cola prin1aria, desligando-a tão completamente da vida rea1 CJtte os nossos peqtienos, apenas se vêem, livres della,
1narcam as distancias da barra ot1 elas airia.relta-s, '
pondo um pé adiante do outro, com ttm , primiti-vismo de hottentotes para os quaes a geon1-etria
de nada serve, nem para medir u-ma linha. Sabe a
cotisa grave, in~portante e real c111e, na vi-ela da creança, é o brinqueclo. . . Que o diga a historia natt1ral taxinomicame11tc nominal que mettemos
•
na cal)eça do pol1re diabo i11ca·paz de, com ella só,
4 • J • '
l
• I ,A ESCOLA PRIMARIA
• 101 •di stinguir a tiririca do .capim mellado. Que 0 dig.a. . . mas · não é pr,eciso que se d,iga mais nada. Sendo exigi,do ao professorado ,menos tempo do
, !
que
a..
mestrança das officina3, com um pouco deesforço se distral1irá da activi-dade in,dustrial o _ \ue fôr neces,sari_o para ~s. li~ções.
No ·caso -do ensino prof1ss1onal, então, isto é um
problema n1uito mais urgente, porque falta á grande maioria dos ,professor,es das nossas escolas profissionaes ·o mais perfunctor,io conhecin1ento da physiologia technica <las industrias.
~
.Defeito ,do velho cadinho onde se elaborou a noScsa for,mação exõlusivamen,te intell,ectual ...
.Passo á st1a seg.unda pergunta a que r-espondo que o seu ver é justissi,mo quando a,cha que a installação das oiíicin&s da W,enceslau Braz ,de,•e ser perfeita.
'
Neste sentido estott emprehendendo os maiores esforços, ten-do a considerar q,ue as ,diffi~ulda,des
actuaes de compra de material e mach(nas, bem como de installação dos gal,pões necessar-ios para
a completa ·in-stallação das o(ficinas, hão d,e for-çosam,ente retardar a satisfação -desse tão j Listo desejo de perfeição.
Quanto aos resu:ltados ,pratices para o ensino profissional, qt1e advirão da 'Wenceslau Braz ' el\les
.
''
Ja estão um po11co ditos ,por ahi acima, sem
con-tar ,mais um; de alcance mais largo, 0 de pro-mover um ·Ottrsp de ed,ucação exiperimental qu,e contravenha, q·uanto .possivel, aos la·mentaveis
ef-feitos do que temos r,ealizado até hoj,e.
Em SLtmma : durante o seu curso si elle fôr
-feito como eu desejo, muitos elem,en~os irão got-tej ando para a ind,ustria, levados pela' valorização . que irão tendo; otttros, que forem até ao fim, lá t,erão posições mais vantajosas ,do que a de mes-tres, nas condições dos actuaes; destes, muitos se collocarão faciLmente nas escolas profi,ss-ionaes
como professores. Finalmente, por evolução na-tt1ral, surgirá a necessidade de mestres com um nivel de cultura intellectua.J que os actuaes não têm nem terão os seus pri,meiros substitutos,
egressos prematuros do ensino profissional, que serão o ,produoto i,nterm,edi,ario, de transição . Nesse momento, será forçoso, então, crear me-lhor·es engôdos e 1nais v.antajosas condições do que as act,11aes, para esses ,mesitr,es, typo final da evolução, de verdadeiros 11rofessores ,de officina. 1Mas ha um outro a,specto da Wenoesla·u Braz que é da ma-is relevante importancia. E' qt1andó
ella se ,propõe a fonmar professores de tral)alhos manuaes.
T,enho na mais alta conta essa parte de sua
· pl1ysiologia.
•
•
-O mett ami,go sabe bem o que eu penso sobre a importancia do desenl10 e dos -trabalhos man11aes. Não pretendo aqui d,es·envolver doutrina, o qt1e seria, aliás, inutil.
Em ,primeiro Jogar toda a gente que se respeita, e:11 ,pedagogia do ens,ino primario, pensa assim,
e os qL1e por acaso não pensarem não cairã'o na
tolice de d·iscordar abertamente de uma idéa que é ,moeda corrente. !E sobretudo deante deste ar,gu-
-mento que estarrecerá em aterrada im1nobi,liclade qualq1.1er discor,dancia: ",Os norte-am:ericanos já
1pensam as.s·iim_!" "O·s norte-aimeri,canos fazem
assi:m ! "
E
quem terá coragem de discordar abertamente·dos "methodos ameri-canos ,de ed11,ca,ção geral e
te·ohnica?" ·
Seria preferiv-el que essa amav1el solidariedade com os ,nossos grandes ami:gos ,do norte fosse até ao ca·mpo de acção, o que já nos teria' mostr.ado a
necessidade ele .var,ias ada:ptações de certas
res-.
-
'tr1cçoes, em algumas cousas, de varias ampJ.iações
em outras.
'
Mas já conseguin1os mttito, dentro do nosso feitio ,psychologico e educativo ...
- Todos 11ós já pensamos como os
ameri-canos! '
Orá, voltando á vacca fria, nós não temos nem
desenho nem trabalhos manuaes a não ser nos
progra,mn,as, e se os temos nos program,mas, é só
pelo dever que nos i:mpuzemos de ,pensar "como os amer-ical}os ".
.
'
·Qt1anto á Escola Normal. . . ora, coitada da Escola Normal_!, .. Poupemos 1nais uma martel-lada á já tão acl,atada cabeça de turco, cuja ex-pressão de efficiencia a julgar pelo qtte della têm
dito a palavra officiai e acata-das au{oridades não cabe mais na arith-metica e tem de valer-se da a- 1-gebra, para avaliar-se com precisão, clentro da
serie dos numeres negativos.
A pobresinha já per,deu até a reactibilida,de do
protesto, dia:nte de affirmações esmagadorame~te
categoricas como a que ouvi e li, depois, na
bri-il,ante conferencia feita recentemente por ,D_
Es-tl1er de Mello, cotn a at1toridade que lhe dão, a um tempo, o seu grande valor pessoal e a experiencia do contracto contint10 de muitos annos com O pro-dueto da fabrica do Estacio de .Sá.
Deixemol-a na paz de sua insensibilidade que talvez seja mesn10, até, um progra,mma de senso
,pratico e de commoda philosoph,ia . ..
:\1as, como eu ia <liz·endo, 'dada a indiscutivel
importancia capi,tal do desenho e dos trabalhos 1nanuaes, na educação ( .. . os nossos amigos
norte-aimericanos ... ) parece-me qL1e, com Ltm curso
• '
•
•
• • (
.
• • •102
A ESCOLA PRIMARIA
•secundario o ,mais possiivel experimental, t1n1a lJoa
dóse de boa pedagogia (prohibi,da a entrada do Sr. ·Compayré . : . ) e com ,um estudo apropriado e convenient~ de de-senho e trabalhos manttaes, se
poderá n1elhorar· •muito ,profundamente o nosso
• • •
ens1no pr1,mar10.
1Por ahi ta1nbem,, portanto, é razoavel qt1e se espere da "Wencesla11" u,m bom serviço ao en
-•
SIDO.
Deipende, a,penas, alem do esforço - qt1e
pre-cisa de ser aturado intenso, sincero - do se11
pes-soal, de que se cc,.mprehenda que um instituto
como esse não pocle realizar a sua obra co1n
palliativos de pot1co 1nais ott menos . ·da nossa ti-miclez orçan1entaria para certa especie d.e des-·
pezas. A ~ua installação precisa ,de ser ,mt1it,o com -pleta, de moclo a garantir-lhe u,m f11nccionamento
regu,Jar.
·Convem tambem q11e se ponha fóra das vistas a preoccupação do nosso inveterado i·1nmediatismo
de resultados.
As instituições, corno os ani 1naes, tên1 as s11as
leis chronologica,s de 'embry,ogenia, fóra das quaes só é •possível o aborto.
Agora, uma rectificação. Quem lhe d-isse qt1e eu designei ,para a 1Escola-Wenceslau Braz "moç,os que cursaram escola, profissionaes • desta ca-pital?" Ha u,m equivoco de s.ua parte, nesse t·recho de s·ua carta. rfal facto ainda não se de11. Na
'
S0U1Za !Aguiar é que ha um contra-mestre, atlumno da mesma ,escola, q,ue foi nomeado virtucle de um concurso.
ex-•
em Para a W enc,eslau a·i11da não tive ooca,sião de
'
desi,gnar nem de ,int,ervir 1para desi,gnar quem quer
•
q11e seJa.
Estará satisfeita a st1a curiosidade? Creio •
que sim.
O mes1no não sei ,se possa affirmar dos dous oll1os ironi cos que estot1 vendo a sorrirem n1ali-ciosa,mente, nas entrelinhas -de stta carta . . .
F iz, entretanto, o possível para isto,
trans-igindo ,com a sua malícia, talvez desejosa ele pôr em confronto o corres,pondente da carta de l1a alguns numeros atraz, com o da actual.
Não me q11eiram ma,!, os maliciosos, se lhes dei uma decepção, mas ás vezes lá · pocle acontecer q,ue a gente nem se1n,pre ,é egual a toda a gente.
1Eu tambem não lhes quero mal, pelas intenções ironicas das entrelinhas. E' um jogo ,perfeitamente innocente no nosso meio,. muito a elle ad·equado, até o qi1al, entre 11ós, é 11m cunho de intellectu -alismo e de espiritualidade .. .
-
--'---~---
-Comtanto, todavia, que não absorva
completa-mente a activiclade do espírito e qt1e · nelle se ma-nifesta, de vez e111 q11ando, como recreio e
des-f
astio. . . Cc,.mo é o caso, agora, estot1 certo ..•M11ito seu, de todo o coração.·
CORYNTHO DA FONSECA.
- - - -
-
-
·=
·
...,.,---
-
----A
R
EFO
R
M
A
ESS
E
N
CI
A
L
Mudar-se-á breve talvez, se já 1tão estiver rcal1Hetite
1nudado, quando estas l'~iha.s v·iere1n, á l1tz
1 o co1r1,1nan,do·
da velha ·nau que é o ensuio Ptiblico pri,nario da cap,ital
da Rep11btica.
Seja-,ne licito, a esse ,io·vo chefe, dar-lhe as boas vin-das, ap1,esen,tar-/he votos de felicidade enz su.a ad·ni·inistra~ ção e dizer-lhe ao 1nes1no te1npo, co1;1, a rude fran,queza de
Qu-eJH espera poder contin,uar a ·não solic1'.tar 1ie11hu.1n fa-vor, aJ.011inas Palavras ti respeito do estado da enibarcação ~
~·
a c11jo lcnie se vae co/locar.Pelo nl/o cargo de Director da i,,strucção publica n,,,.
nicipal tê1n passado J,.o,nens de todas as en,vergad1tras
in-tellectuncs e u1oraes, e a cada 1t1n occorrcn, in.fallivel11iente,,
ao conten,pta.r o que lhe foi confiado, a idéa de que '
es-tG'il a tudo errado era preci'so reformar ttldo. Deste 1n.odo, quan,do , ascende ,1J111, _1iovo director, e conteça a se
enfro-.
1thar 1ias le1·s, re{/ula1nentos, in-strncções que nos Parecenr govertiar, Jogo se pergnnta -- não se t•ae re111,odelar
al-gunta coisa, 1nas - quando será a reforn1a.
A refor1na é conto o sacrarnento da penitencia na
igreja catholica. O novo d·irector, sacerdote dn, lei, ton-ia
o en,si1io publico, perscru-ta-lhe as niiserias da alnta,
ob-serva-lhe o arrepe1idin1e1ito e pronuncia a absolvição dos peccados. Vae conieçar vida 1iova, feita a reniissão dos
-peccados, i1ifu1~d,:da a graça santificante, restitu·idos os
,ne,·,:tos anteriores: o anjo do Senhor agitou as aguas da
pisci1ia p,·obatica e 11e/la 1nerg,~lhou, e sahin li,npo de
s1rn arrfcira, rJ ln::nro podre q11e é a instr11ccão publica
1m1,11,íc,pa,/. Jv1as looo af,ós, oh co1itrição qlfe não d1ira 11iais que as rosas e:rPostas ás lufadas da ·ventania!, eis
de novo o 111isero tão ,:arrcgado de peccados conio se
Ja-•
111.ais recebera a {ft·aça do f>erdão '
sacra11ienta/1 e qu.ant·:~~
vezes contruninadoJ corronipido, po/luido por aqucl,
'e-1ncsn10 que o reforn1ara !
Por isso, os q1ie aco111.pa11,ha,ni as questões do
e1isi-no-•
pri111ario já cspera1n as reforn,as co1,i o scepticisnio triste
co111 que os tnoradores das abas do V csuvio deve,nJ
etlt-quanto cu.ttivani Jfuas 1lVasJ esperar co1n despre11,dirnentq a torrcute de la'V(l que lançai a 11-J.iseria e a! ruina Pelos·
arredores.
Ha de ta111be111 o cffectivo Dircctor da i11stl'ucçã<> publica 11111.,,icipal j11lgar i111prescindivel o banl,o reparador e rcstau,rador, para q1te o cn,s1·no co,nece <1 vida nova, e observando o (Jue e:r:iste, u1na das coisas que logo ver~ fitar4 lia de ser q11e li 11osia escola pri,naria é .,,uiti,
•
·l
' • ' ' ' • • • •A ESCOLA PRIJ\1ARIA
103
pouco aq·uillo que deveria ser 1nuito - o ·instrunienfo da c1tltura civ·ica do povo e da ed1tcação da democracia. Etl/ 11,0o é, certa1nente esse in.st·rzttnen,to, tnas o que the falta não são , programn1as,
ne,,,
Pesso~l halJilit~!lo, ,,e,11 orientação.•
A u,nica refor-,na esse1ic·ial é, 1ia verdadeJ esta: a dos cost1t1nes adn,inistrativos. Escolha-se o 11,ell,or Pedagogo dos Estados U,,,idos, da Suecia 01, de <i't•a/q,.er pa,;c
igu.aln1etite adean,tado e111, 1nateria de instrucção, e elle
11ão dará passo e111, nosso 1n.eio, pois todas as forças, 1v-i ..
sfveis e occultas, aqu.i se coiij,ngan1, para entravar a
1uelhor ·111achi11,a, desde que f,,ncciotie apenas co11'1, o
111otor-j u stiça.
Ha ·11.,0 caes co'l'nn-ierciat desta cidade enge1ihoso 1-na-chi11,is1n.o que pode, a1ttçniatica,nenteJ apetias co-,n seu conductor, proceder á descarga de
i,
·
n,
·navio e,n, tempo111ais escasso do qu.e o fazeni ni.uitos h'ome·ns. O /1t1,i-c
cio-•
na1ne1ito deste apparetlio viria cot1,trariar o interesse dos estivadores, e por isso elle lá está e,,costado.
Poder-se-ia.- 1no11tar tanibeni n,o e1Z,sino 1t-ni apparelho de justiça,
'
nias os estivadores Prejudicados seriani
...
tt111nerosos e tnais Poderosos que os do Quererá o 1io1.Jo director, apezar
Quer~ gover>Lar 01,vindo a verdade e
jt1lação qu.e ,ne1ite • mas
.
'acar1cia e as
ahi 1tiuito ,nai~·
porfo.
•
disso ·1no·ntal-o?
1"ef,et/-in.do a
ba,-inj1tncções
'
a1.1
itt(l,JJ1, Jnas reconipensa,n; i1npo11,do o que a co_,iscieticia
Jhe d·isser q11,e é j1tsto, co1J.tra as con.spirações dos iti-teressest
Se o q·u·izer, e se tiver a corageni e o prestigio de
saber querer, fará, esteja certo, 1n,uito 1nais Pelo e1isi11.o, do q11e co1n os 111ais vastos planos de dese,,volvi/11,ento,
•
aprof111-idan,ento e diff11,siio do e1,si1,o, q-t<e t1td0 isto é
corotlario e ,,ão pode assetitar sen-ão sobre o coração do professor.
::,'1,pprin1a,,,.1,~se pri-n1eiro as quei.ras ju,stas essen,ciaes do pessoal docente, e então poderão os professores ser
con·vidados a tnt>lhorar o ensino, a concorrer para o seu
proyresso, a estudar co1>i e1ithu.siasttzo. Emq1,t,a11,to subsis~ t"ire·,n os aborreci,n,eutos,
estão, e111quanto a iustiça
abertos 011 latentes, q11e aJ,i
•
não fôr co1J-io u11ia atniospheraJ
que 1iao se Pede, 1i.ão se recla,na e nen1. se chega a
per-ceb,et, 1nas senl a qHal toda a vida cessaria, ne1i/i1i1n
ad;tninistrador se1isato deverá pen.sar e1n refor,-1-1,ar o eJi-s.i,no, porq,,e faria obra sobre o. papel e não acharia braços
que e.recutasse111 o q-u.e Porventura Jiouvesse cogitado, por
,,,ais bel/o q11,e fosse. Debalde se pedirá aos 1nestres q-t,e i1itensifiqueui o a1·dor patrioti_co e a ed11cação 1riorat e cívica. Eniquanto as leis forà111 o que eran, Pelo co,,ce-ito velho do d·ireito ro,nano - quod principi plac4it; e11,,
•
qu,anto se fizere111 e se desfizeret11, segu1,do os i1iteresses privados do n10,11e11to, ·não se poderá deites esperar 111ais
•
si,icerido.de e 111ais calor que do athe11 q11,e e·nsi11a e préga
•
o a111or de De><s e o culto divino. Hão de ser as lições fr-ias
e 1110,,tas, se,n i'nteresses 1ie111 -resultado, e nossos filhos aprenderão n.a escola os dog1nas da instrucção civica conio ,,ós a,/q·uiria,nos as noções de 111ythologia - co111 o sorriso da ironia nos labios e o vacuo tio coração.
Q1,aes serão, porént, essas quei.i:-as justas,
funda-1ne,1tnes, a que é preciso ren1,ediar para que 11,ão se Perca
tudo e q11e são de tal sorte s,r1ativas do. ent/iusias,no,
'
·111ais "i1obres.P Não acredite o S1ir. Director que e/las lhe surja11J de ,z1,1·Ha vez, catalogadas, en1r111eradas, classifi-cadas, pois só ,,,ed,,-ante a observação den1orada e
cuida-•
dosa, a in1:estigação i1iter2::sada, e Pesqu1.'.za esfo-rçada serâ possi·vel levantar o véo q11.e as e1icobre. A classe q·uasi
·ni,nca recta,na. Saiba S . S. con.q,,istar pri·11,eiro a confiança
-
.
de seus subord·in-ados e penetrará en,i seits coraçoes1 ce1ni~ terios de esperanças, de boas i11.tetições e de sa'tttos
entlu,-s,as·»tos.
A pri»ieira virtude dos que q1,ere1n be·n1, governar ha
de ser o saber ouvir. No ensin,o p1-1.bkico m,un1·cipal, saiba
o S·nr. Director que se que1'.:t:a1n. todos nias o que fnais i1i.te·
ressa por ora J verificar as queixas dos ,Professores, qiie
são as tnolas operadoras do grande 1necanis1,,o do ensino. E qua,i,do se 01,vi·re,11 as q,ieixas e e/las foren1 relativas a
•
coisas 1'1tateriaes; não se 'thes preste 1nenor a.t/enção, por-que se o Evan,gel/zo diz q-ue "tz.eni só de pão vive o ho1neni, 1iias de toda pala11ra que veni de Dens", os professores
1ião pode,n ter con10 indubitavet que vivani não só de
pão ,nas das espera1'ças.
De q1<e se pode quei,-r:ar ,,.,, professor cati,edratico!
E,,.
pr-i,,neiro togar do e,;;cesso de trabalho. Dir.:ge'''"ª
escola) o·ude·e.1:erce·ui sita actiwtdade vari.os adjn,1tctos de diversas classes; te1n a se·u cargo leccionar u,.-,.,,a das sériesJ tel" eni dia a escript1.tração da escola e providenciar para os m,inin,os detalhes; freque11tet1,e·nte ten, de bipart,:r ou t,-ipartir set1 esforço i,,teltect·ual Pelas cla~ses dos
ad-ju netos que porventi1,ra não co,npareceni, prejudica,1,do o et,si110 de todas e ,nais da sua propria. Do pessoal que
•
recebe para o a·uxi1~·ar .... 4,tgu,,z.s desses au:~iliares silo
Pre-c1:osissi1nos; outros, ·porJ111, são~ até j)rejud·iciaes, pois 1.r,ão
é raro que appareçam para preencher logares de doce11.tes pessoas analpJ,abetas, protegidas. Da falta d e ba,,cos, li-vros e t1iai·s 11iateriaes necessarios para o eitsino. O
1nooi-•
liario de 111,uitas escolas da co1z.a r1,rat é, em gra,ide parte,
constituído de caixotes; os pedidos er1,v·iados á D·irectoria, ~e atte~,didos, o são Pela q1<arta parte, senão pela decima,
e a prazos tão dilatados que já ,,ão vale esperar. Escolas
ha cujas solicitações ja,nais são attendidas. Que enth11si, as,no !ta de senti,· 1,111 {,rofessor s·,.speitado de todos os
la-dos e a qu.eni se tiegan, os reci,,rsos tnais triv·iaes para a 1na-n11te1,ção de suas classes? Isto quanto á escola propria-111e11tc. Le11,bre-se agora o Snr. Director q1te os Pa-gaJJietitos se arrasta,ni 1norosanien.teJ de · tal sorte qi,e •
ha 11l,ttito tenipo os tnern,bros do pessoal doce,-ite s6
-,.ecebeni ven,cime1itos depois do dia 25 de cada 1ne:1; q1,e ás vezes e1itra 1iovo nieç sen, que te,iha sido a11n•
u,i-ciada folha de professores do anterior, e q,,e logo ·110 pri-1neiro dia tttil, ás vezes 1ia vespera, se effect1,a o paga-11,e,.to dos f,,,,ccio,,arios n·iais grad,uados, do Prefeito, do Conselho M11n·icipa/, etc.; q1<e a q·ualquer peq11eno inc- i-dente, alheio á sua responsabilidade, se lhes e,·ara en,
folha a ,,ota "Depe,,de", que os priva de •·eceber venci-111entos no di:i anti.1111ciado; q11ie · a consignação para o as$eio e o e.,;pedie11te é frcq1<ente,ne1,te -desfalcada, q·uaado n.ão arbitraria e e.-rtravagante>nente deter1ninada.
Le1nbre-se de t11do isto e diga-11,es q11e se sacrifique,,,, q,,e leva,.te1t1 os o//Jos para o alto e trabalhem Pela Patria e pela' Republica. E cites o farão, certos de que a todos r1t11,pre igualn1e11te o sacrificio, e q11e não é Patriotico
'
•
-•
•
• -' -• • • • ' 104A ESCOLA PRIMAilIA
, 'revoltar-se. Mas logo após, a ·u,,, collega q1<e te111 dez 01<
doze a11,1ios ape11as de serviço, se co·ncede, po·r u11ia lei es-pec1·at, a jubilação coni todos os ve11cV,ne1i.tos, q1t·e é a
re-.
. cotnpen,sa j1ista e legal dos fu.11,ccion,a.Yios que se i·nval·
i-da.,,, 110 serviço p11blico depois de 11111. periodo de vi,,te e
ci1ico,· a outros se 111.a1ida co11ta,r o te,npo dobrado e tri-plicado, a outros se co1icedc111, t1·a·nsfererict'as para escolas
ben1, s1:t11adas, solicitadas en,. vão pelos que se deni,o.rani
e11i longos estagias pelos ca11tos ren1otos da so,ia rural.
Tudo 1·sto ouviria o S1ir. D1'.rector se qu·izesse prestar
ouvidos, e sua consciencla se revoltaria pri1icipa/1ne11te q·u.andÓ pe11,sasse que - se11.do o n1agisterio constit-uido,
e111 en.orme 1n.aioria, por professoras, são 111,11 I Ileres as v
i-•
cti1nas das torre11tcs de i1iiquidades que co11sta·ntenien,te se
precipita,n pela .:11str1,<cçã,o publica.
As adju.11.ctas das di·versas classes r,epefiriant q11asi todas essas q11ei;ras, e d·i,-ia11i 1nais a respeito das pro111 0
-ções . ..
'
Q1,ei.i·ar-se-·z'.a11i ainda n11ritas adjunctas de , que fora»i l-u.dibridiadas, porque 111atricu!a11do-se dura:nte quatro
011-nos 1ia Escola Nor,nal, ahi não lhes foi .,,..11·11istrado 11en1 o
111in.i1n1,,ni. de co1ihecin·1e1itos i11.d1Spensa-.·eis á pr()fissão, e S. S. se obser•uasse pruden,ten1,e11.te verificaria que ua
verdade ·não lia peior escarneo que dar o 1ion1e de Nor111at ao estabelecinze1z.to on.de s6 a ·111e1los de 1neia du.c.ja, de
/1rofessores se pode, con, ,iustiça, co,,ferir o e1,carpo do
• • • • ' • • • \ • • • • ' •
,,
.
•
1 • • ' •.
' • • • • • ' •e1isin o. Entre esses Poucos, e•ncontrani-se v1,/tos ern.inen.tes,
q11e são Ós prinieiros a attestar e lanien.tar o descalabra
da casa, hoje 1nola perfeitanien.te in1,til, se 11.ão
pertur-badora .
Etlas vos diriani q11e o que .r,aben1, s6 de•veni a se-u.s estt.,,dos Particulares, ao traquejo da escola pr,iniaria e á
bon.dade· das d·ireçtoras, e 11ão ao c11rso pse-udo 1i.orn1al e
pedagogico e111 q11e se diplon1ara11,.
•
'
C onJ.o seria bo1n que o 11.01•0 D·irector conieçasse por
a/ri a refor111ar,\ ouv indo as quei.i·as de seu au.xilia-res.
Ha tios qu.adros do 1110.gisterio 1t1na e1t,orn1e e1iergia
la-ten,fe, que ten, coriseg·u,1'.do sen1. ·recnrsos e sem o esti11iulo da justiça, •uiuito 1nais que e111 outros lagares 11.n1, Pessoal
•
i11ferior porén, ,n.1.1,1'.to 111ais dotado de recursos rnateriaes e
de discip/i11a ad111i,,istrativ a.
•
Essa.s 1noças que ah1 estão 110 111,agis.fer·io env1'.dan,
todos os esforços, dão-se a todos os sacrifícios, •1nas não tardará, a co11t1·nua·1·en1, as co1·sw conio vão, q11e es111,o~ reça111 e .. se recolhanz.. O e11sfno irá então onde , o quere,n
le'i·ar os que se tê111, con1prasido na iniquidade, e têtr, sido
surdos ás e.rigencias do be111 p11blico .
• ' • ' ' • , ' •
'
' •'
1 • O. S. R. , ' • • ' •-'
-' • • • ' ••
' -1 f ' • • • ' -• ••
A ESCOLA Plli~
·
IARIA
105-
-
- -
--·-
--
-• •
11 .
A ESCOLA
•A IDÉA CENTRAL
Um artigo do professor Armanl
No ja:rdim de infancia e na classe mater11al, o mestre escolhe _para os exerciciQs de obser-vação e linguagem 11m ass11mpto cletermi11aclo em torno do q11al evolue um cyclo con1pleto de
lições. E' a idéa central ou a '' idéa do mez'',
· como a chamava Frcebel. Esgotado o ass11mpto, escolhe-se outro centro ,de interesse q1ue d11-rante dias o,i1 se1nanas deve servir de thema a curtas, interessanúes ,e instr11ctivas p,alestra,s. Resta saber agora clura11t,e q11antos dias deve ficar o espírito i,nf-a:ntil ;preso ao mesmo assumpto intellect11al. Frcebel consagrava-lhe JJ_tn mez, o q11e n.os parieoe excessivo; ria escola
frcebeliana de Genebra limitam-se a q11inze dias; em França contentam-se com uma se-1nana e na Italia, o professor Armani, num
interessante e suggestivo artigo publicado 11a
revista
La Editcazio1ie d
e
i Bambi1ii
dá 11m exemplo em qtre a expla11ação da idéa central requer apenas 11m dia de a11la. .Analysem-os o trabalho do .prof•essor A'
r-•
n1an 1 .
'
Em clara ,e ride11te manhã primaveril, um .
lin
c
lo
J)Oml10 l1rn11co vaio poi1~tt1· tl ô tcrruliYda sala de a11!a 110 mome11to em que un1 Côro
harn1onioso de vozes infantis entoava um
hymno repassado de alegria .
Cessa o canto. A prof1essora aproveita11do o assun1pto que o acaso, em boa hora, lhe '1
pro-porcio11a, _faz co11v.ergir a attenção das crian-ças para o formo,so visitante .
'' Vej an1, diz a mestra, g11e g·raciosa e linda a,,,e. Atlmirem-ll1e a curva graciosa do ,peito ·
e do pescoço; o corpo roliço cobe'rto de
pen-nas l)ra11cas como o arminho, macias como a
seda; a delicada catJecinha encimada por for-moso pennacho; os olhinhos pr.etos, vivos e
redo11dos, se1nelhantes a co11tas de azeviche; os
pésinhos ros,eos e delicados; a cauda e as azas cujas pen11as são maiores e mais bonitas q11e
as ,que reviestem o resto cio corpo. Reparem
como a11cla garboso de 11m para 011rro lado,
arr11ll1a11do clocemente; de v·ez etn q11ando J1 e-va11ta as azas con10 se quizesse voar longe
d'aq11i. N,ão fl!!çam bar11ll10, não espantem a
bella avezinha que assim perma11ecerá mais ai-· guns min11tos no terraço, e talvez voltará ama-nhã visitar-nos.
-Eis em poucas palavras o retrato pl1ysico; agora segue-se o moral. Em vez de clescrever, a professora compara ,e acha meio de dar aos
A ESCOLA PRIMARIA
!
•
peq11enos alumnos, u1na delicada hygiene:
lição de '' Creio que vocês gostariam ele acariciar o lindo pon1bo, 111as estarão em ocndições de o
fazer? terão as mãosinhas basta11te limpas?
Notem que e&ta linda ave, tão alva quanto as petalas da açt1cena, não consente q11e lhe maculem a clara pen11ugem. Toma banho todos os dias e com o bico ali,sa c11idadosamente as p·ennas ; 11ão se pareoe com oertas crianças c111e n,en1 querem lava•r a pontinha do nariz e gritam qt1ando a man1ãe lh·es penteia o cabello. Mo•strem as mãosinhas: os que as tiverem ben1
1 i111pi11has ,poclierão acariciar o pombo; os ou-tros, não.
Apavorado talvez pelas manifestações de •
apreço qUJe se pre1)aram, 'o pombo levanta o vôo e desapparece no vergel _que fica proximo á escola. Des<!!pontamento das crianças. Ha de voltar, promette a professora; vamos atirar . no terraço algu111as semennes de alpiste para
attrahil-o de novo; agora vamos dar 11m pas-seio pelo jardim. Contar-lhes-hei t1ma bella historia, a historia cio nosso visita11te.
Chama-se F11Ifolino e mora pertinho da nossa escola, 11um bello jardim cheio de arvores e flores e 011de os passa-ros gors-eiam todo Q
c
li
u.
Nó
,
1lto
ptlr~cli\.o qLlt:í
e
ch::t
Ú jard1t11 110Sfunclos, ha 111na casa de 1nadeira ctim q11atro ja11ellinhas: é o pomba), q11e servie de moradia a Fuffolino; porén1 elle 11ão mora sosinho nessa bella casa, tem uma companheira de pennas alvas e macias, que se chama Fttffolina e q11atro pombitos, peqt1eninos, ainda implum,es, _qtte são os filhotes de F11ffolino.
A dona do pombal é uma linda n1ocinha que todos os dias, de manhã cedo, faz a limpeza da casa, muda a agua do bebedouro, enche as · outras vasilha,s de grãos de varias especies: trigo, milho soccado, .alpiste, ,etc.; acaricia
1neigamente ,os pombos qu,e não têm medo
della e arrulhan1 docemente quando a avistam .
Fuffolino julga-se n1uito feliz; g·osta tanto
dos filhotes! Todo-s os dias ao a1nanhecer, emqua11to a companheira fica no ninho aque-ce11do os peque11inos debaixo das azas, elle dá
varias vo.\tas pelos campos á procttra de
ver-mes, insectos, sementes, porém elle não se
de-mora m11ito, porque tem medo que durante a
sua a11sencia aconteça alg11ma clesgra_ça. Qt1an-do1 ao voltar do passeio, elle avista meninos na
rua, proc11ra voar bem no alto, fóra de todo
alcance l1t1n1ano, porq11e já fez a triste
ex.pe--riencia q11e ha meninos n1áos que atiram pedras
para matar as pobres aves. No emtanto de
2