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O EMPODERAMENTO FINANCEIRO DA MULHER CÔNJUGE

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O EMPODERAMENTO FINANCEIRO DA MULHER CÔNJUGE*

Marcos Fernandes Brum da Silva1 Gabriel Mendes Borges2 Aída C.G.Verdugo Lazo3

RESUMO

O ritmo de inserção das mulheres no mercado de trabalho nas últimas três décadas aumentou significativamente, destacando-se a década de 90 como o período em que esse fenômeno pôde ser verificado com mais intensidade. Um dos fatos que mais chama a atenção é o aumento expressivo da participação no mercado de trabalho das mulheres cônjuges. Além deste importante aumento, nota-se um novo fenômeno: o crescimento de mulheres cônjuges como principais provedoras do lar. Tantas e tão rápidas foram as transformações em relação à identidade feminina e os novos papéis sociais assumidos por elas, nestes pouco mais de trinta anos, que tiveram como consequência alterações substanciais no âmbito da família, no seu tamanho, nas relações de gênero, entre outros. O objetivo deste trabalho é explorar, em maior profundidade, até que ponto a inserção das mulheres cônjuges no mercado de trabalho tem trazido avanços em termos de empoderamento sobre a decisão financeira. Foi aplicada, ainda, uma regressão logística multinomial que permitiu analisar de modo mais apurado o poder de decisão financeira da mulher de acordo com cada perfil de idade, escolaridade, número de uniões, seu tipo e chefia.

Palavras-chaves: empoderamento financeiro; modelo logístico multinomial; inserção feminina; mercado de trabalho

* Trabalho apresentado no XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais ABEP, realizado em Águas de Lindóia/SP – Brasil, de 19 a 23 de novembro de 2012.

1 IBOPE. Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais, ENCE/IBGE. 2

Analista do IBGE. Mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais, ENCE/IBGE.

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O EMPODERAMENTO FINANCEIRO DA MULHER CÔNJUGE*

Marcos Fernandes Brum da Silva Gabriel Mendes Borges Aída C.G.Verdugo Lazo

1. Introdução

O ritmo de inserção das mulheres no mercado de trabalho nas últimas três décadas aumentou significativamente, destacando-se a década de 90 como o período em que esse fenômeno pôde ser verificado com mais intensidade. Um dos fatos que mais chama a atenção é o aumento expressivo da participação no mercado de trabalho das mulheres cônjuges (MONTALI, 1998; SOARES e IZAKI, 2002, BRUSCHINI, 2007). Além deste importante aumento, nota-se um novo fenômeno: o crescimento de mulheres cônjuges como principais provedoras do lar (WAJNMAN, 2007). Tantas e tão rápidas foram as transformações em relação à identidade feminina e os novos papéis sociais assumidos por elas, nestes pouco mais de trinta anos, que tiveram como consequência alterações substanciais no âmbito da família, no seu tamanho, nas relações de gênero, entre outros.

As discussões sobre a associação entre gênero e mudança nas famílias suscitam diversos tipos de estudos, uns afirmando que as mudanças no interior da família estão atreladas às questões de gênero de uma forma mais ampla (BECKER, 1981; PINELLI, 2004), outros considerando a família como o lócus principal das relações de gênero e do enfraquecimento do modelo de família patriarcal (HERTRICH e LOCOH, 2004). O conceito de família patriarcal é um importante elemento de análise para este trabalho na medida em que sua superação paulatina é o indício de maior igualdade de gênero no interior da família. Segundo a definição de Therborn (2006) o patriarcado tem duas dimensões fundamentais – a dominação do pai e a dominação do marido e se refere às relações familiares, de geração (pai) ou conjugais (marido). Em relação à dominação conjugal, observa-se que o homem neste tipo de família tende a exercer controle sobre a esposa, em maior ou menor grau, tanto em relação à sua mobilidade, seu trabalho e em decisões, por exemplo, sobre as compras diárias, a comida a ser preparada, sobre a contracepção e divisão do trabalho doméstico. O enfraquecimento deste modelo de organização familiar suscita a discussão de um tema bastante em pauta recentemente: o empoderamento feminino.

A despeito da escassez de dados nos Censos e PNADs que tratam com pouca profundidade o tema (LAZO, 2002), utilizamos os dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) de 1996 e 2006, cujo escopo delimita-se às mulheres de 15 a 49 anos, ou seja, em idade reprodutiva segundo as definições da demografia. Além deste recorte de idade e sexo dado pela PNDS, interessa-nos neste estudo restringir o universo de mulheres somente àquelas que estavam trabalhando ou já haviam trabalhado, considerando que as transformações da identidade feminina no âmbito da família estão bastante atreladas à questão do trabalho feminino. As mudanças no perfil das mulheres no mercado de trabalho, ocorridas de meados 1970 até hoje, refletem em parte as transformações nas relações de gênero durante este período, resultando na passagem de um perfil de trabalhadora predominantemente jovem e solteira para o de mulheres mais velhas, casadas e mães. (BRUSCHINI, 2007; LOMBARDI e BRUSCHINI , 2001; RIOS-NETO e WAJNMAN, 2000; TRONCOSO, 2004).

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O objetivo deste trabalho é explorar, em maior profundidade, até que ponto a inserção das mulheres no mercado de trabalho tem trazido avanços em termos do empoderamento financeiro, associando estes avanços com algumas características pessoais das mulheres e a relação com seu cônjuge.

Utilizamos as informações disponíveis na PNDS de 2006, que perguntava para as mulheres trabalhadoras “Quem decide o que fazer com o dinheiro que você ganha”, tendo como opções de resposta - ela própria, o cônjuge ou ambos em conjunto. Delimitamos esta questão às mulheres casadas ou em união consensual que estavam efetivamente trabalhando na época da pesquisa.

Deste modo realizamos, primeiramente, uma análise descritiva geral sobre os dados encontrados, para posteriormente adentrarmos em características mais detalhadas do perfil das mulheres de acordo com poder de decisão que estas possuíam sobre os seus próprios rendimentos. Para isso, utilizamos o modelo logístico multinomial, um recurso estatístico que nos permitiu uma análise muito mais complexa e detalhada sobre o empoderamento financeiro dessas mulheres em união.

2. Análise unidimensional

Vamos analisar, a seguir, as diversas situações que estariam relacionadas à questão sobre quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha. Delimitamos esta questão entre as mulheres casadas e em união consensual que estavam efetivamente trabalhando na época da pesquisa da PNDS, pois entre elas é que podemos verificar as situações em que as relações de poder entre os gêneros se definem e se estabelecem. Consideramos somente as mulheres que estavam efetivamente trabalhando por ser possível fazer a comparação entre os anos de 1996 e 2006. Com as mulheres que já trabalharam alguma vez não seria possível fazer essa comparação, dado que não sabemos exatamente quando elas deixaram de trabalhar e qual era sua situação conjugal na época.

A questão sobre quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha pelas situações conjugais de casada legalmente ou em união consensual pode ser observada na Tabela 1. Notamos que entre as casadas parece haver menor empoderamento da mulher quando comparadas às unidas consensualmente, já que a decisão sobre o que fazer com o próprio dinheiro entre as mulheres em união consensual é maior (74,5%, versus 66% para as mulheres casadas), o que pode indicar que entre as mulheres em uniões não-formais os resquícios do modelo patriarcal de família são menores do que entre as casadas. A igualdade de gênero também mostra-se maior, apesar de que, no caso das casadas, é maior a percentagem que decide em conjunto com o cônjuge (quase 28%, versus 20,4% no caso das uniões consensuais).

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Tabela 1 – Quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha, por situação conjugal. Brasil, 2006.

Quem decide o que fazer com o dinheiro

que a mulher ganha

Situação Conjugal

Total Casada União Consensual

Entrevistada decide 65,8 74,5 69,2

Companheiro decide 6,0 4,8 5,5

Em conjunto 27,9 20,4 24,9

Outros 0,4 0,3 0,4

Total 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNDS-2006. Elaborado a partir dos microdados.

Considerando-se o nível de instrução das mulheres, a Tabela 2 mostra que o poder do companheiro decidir sobre os ganhos financeiros de sua companheira, diminui entre as mulheres com níveis intermediários de instrução. É maior a influência masculina entre aquelas com pouco ou nenhum ano de estudo, assim como entre as mulheres mais instruídas. Interessante observar que entre as mulheres de 1 a 3 anos de estudo em comparação às de 12 anos ou mais, há uma diferença em relação à decisão em conjunto, visto que entre as menos instruídas predomina a decisão por conta própria em detrimento da decisão conjunta. Entre as mais instruídas, o que se perde na decisão por conta própria vai para a decisão em conjunto. Por um lado, podemos pensar que, se a mulher decide por si, isso pode ser interpretado como um empoderamento sobre a decisão dos próprios gastos, o que é positivo. Entretanto, a decisão em conjunto não significa perda de empoderamento, mas uma situação que vai em direção à igualdade de gênero no quesito planejamento financeiro.

Tabela 2 – Quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha, por anos de estudo da mulher. Brasil, 2006.

Quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha

Anos de Estudo Total Nenhum 1 a 3 4 5 a 8 9 a11 12 ou mais Entrevistada decide 66,8 71,7 68,2 72,4 68,2 65,5 69,2 Companheiro decide 7,8 9,5 4,4 4,8 5,2 5,7 5,5 Em conjunto 25,4 18,7 26,6 22,0 26,3 28,7 24,9 Outros 0,0 0,0 0,8 0,7 0,2 0,1 0,4 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNDS-2006. Elaborado a partir dos microdados.

Em relação ao número de uniões, a Tabela 3 mostra que as mulheres com mais de uma união têm uma autonomia superior àquelas que estão na primeira. Isso ocorre, principalmente, porque as mulheres recasadas tendem menos a decidir em conjunto, quando comparadas às mulheres em primeira união. Independente se a mulher está na primeira união ou não, a influência do cônjuge é praticamente a mesma.

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Tabela 3 – Quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha, por número de uniões. Brasil, 2006.

Quem decide o que fazer com o dinheiro

que a mulher ganha

Número de Uniões

Total

Uma Mais de uma

Entrevistada decide 67,3 77,5 69,2

Companheiro decide 5,7 5,0 5,5

Em conjunto 26,7 17,5 24,9

Outros 0,3 0,0 0,4

Total 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNDS-2006. Elaborado a partir dos microdados.

Considerando agora a coorte de nascimento, a Tabela 4 mostra que aquelas com maior autonomia são as da coorte dos anos 70, ou seja, as mulheres que em 2006 tinham entre 25 e 34 anos de idade, observando-se que 73% das mulheres de 25 a 29 anos decidiam sobre o que fazer com o dinheiro que elas ganhavam. Também se observa que o grupo mais jovem, mulheres de 15 a 19 anos, é o que mais decide em conjunto com seu cônjuge (33,4%). Por último as coortes mais velhas (mulheres de 40 a 49 anos em 2009) também são as que mostram um alto poder de decisão (mais de 70% decide o que fazer com o dinheiro que ganham), uma menor proporção decidindo em conjunto com o cônjuge (ao redor de 22%). É também o grupo onde os maridos têm, relativamente, quase o dobro do poder de decisão do que na coorte mais jovem (ao redor de 6,5% versus 3,4%, para mulheres de 15 a 19 anos).

Tabela 4 – Quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha, por idade da mulher. Brasil, 2006.

Quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha Faixas de Idade Total 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 Entrevistada decide 63,0 63,6 73,0 66,7 69,9 70,4 71,2 69,2 Companheiro decide 3,4 6,4 6,2 5,3 3,4 6,4 6,4 5,5 Em conjunto 33,4 28,8 20,8 27,8 26,6 22,8 21,8 24,9 Outros 0,3 1,1 0,0 0,1 0,1 0,4 0,6 0,4 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: PNDS-2006. Elaborado a partir dos microdados.

Por último, foi considerado o possível efeito da posição no domicílio sobre o uso do dinheiro que ela ganha. Na Tabela 5 pode-se observar que há, de fato, uma grande diferença de empoderamento entre as mulheres que estavam em união e declararam-se chefes em relação às mulheres cônjuges. Quando as mulheres se declaram chefes, elas decidem em quase 95% dos casos e as decisões em conjunto não chegam a 5%; logo, os companheiros quase não tem poder de decisão neste caso (0,2%). Por outro lado, o grande poder de decisão sobre o que fazer com o próprio dinheiro entre as mulheres chefes, não se observa com a mesma intensidade entre as mulheres cônjuges: 25,5% delas decide conjuntamente com o

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marido, em 68,5% dos casos ela própria decide e nos 5,3% restantes o marido decide. De maneira geral, pode-se dizer que a posição no domicílio tem uma grande influência na decisão sobre o que fazer com o dinheiro.

Tabela 5 – Quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha, por posição no domicílio. Brasil, 2006.

Quem decide o que fazer com o dinheiro

que a mulher ganha

Posição no Domicílio Total Chefe Cônjuge Entrevistada decide 94,7 68,5 69,2 Companheiro decide 0,2 5,3 5,5 Em conjunto 4,9 25,5 24,9 Outros 0,3 0,6 0,4 Total 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNDS-2006. Elaborado a partir dos microdados.

Em síntese, apresentamos uma análise descritiva sobre o empoderamento financeiro feminino e as principais características influentes na decisão da mulher cônjuge sobre o seu próprio dinheiro. Adiante analisaremos mais detalhadamente o perfil destas, através do modelo logístico multinomial.

3. Ajuste Logístico Multinomial

Foi ajustado um modelo linear generalizado multinomial, com a função de ligação

logito, para tentar quantificar a influência das variáveis explicativas com relação a quem

decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha, no ano 2006 no Brasil. As variáveis explicativas consideradas correspondem à situação conjugal das mulheres de 15 a 49 anos, sua escolaridade, o número de uniões, sua idade, a diferença de idade entre os cônjuges e sua posição no domicílio. O modelo ajustado, com essa distribuição e a função de ligação logito, tem a característica de estimar coeficientes que são de fácil interpretação.

Algumas variáveis explicativas sofreram reagrupamentos, com o objetivo de tornar mais clara a interpretação dos resultados. Nesse reagrupamento foi levado em consideração o número de observações em cada classe e, também, a homogeneidade interna em relação à variável resposta.

A primeira variável explicativa, situação conjugal, foi avaliada em dois grupos: se a mulher vive ou não em união consensual; a segunda, escolaridade, foi dividida em termos de agrupamento de anos de estudo da mulher: menos de 4, 5 a 8, 9 a 11 e 12 ou mais anos de estudo; a variável número de uniões indicava se a mulher era recasada ou não; a idade da mulher foi redefinida em três grupos: 15 a 24, 25 a 39 e 40 a 49; a diferença de idade entre os cônjuges (idade do marido menos a idade da mulher) foi agrupada em três categorias: menos de 3, de menos 2 a 5 e 6 ou mais anos de diferença; e, a posição no domicílio, indicava se a mulher era ou não era chefe do domicílio.

A regressão logística multinomial é uma generalização da regressão logística para os casos em que a varável resposta têm mais de duas categorias, como é o caso deste estudo,

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onde a variável correspondente a “quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha” tem três categorias: ela decide, o companheiro decide, ou a decisão ocorre em conjunto. Foi escolhida a regressão logística nominal, pois neste caso é difícil pensar em uma ordem natural entre as categorias da variável resposta.

O interesse é modelar o logito da probabilidade de quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha, ou, semelhantemente, o logaritmo da chance entre a decisão da entrevistada ou do companheiro, em relação à decisão em conjunto.

j T j 1 j j x β π π ln ) logito(π        , para j = 2, 3

onde j=1 indica a decisão em conjunto e os valores 2 e 3 indicam, respectivamente, a decisão da entrevistada e a do companheiro. A categoria que indica a decisão em conjunto foi escolhida como sendo a categoria de referência.

A variável aleatória “quem decide”, com três categorias, tem uma distribuição multinomial, sendo  as respectivas probabilidades de cada categoria.

Em geral, a função distribuição multinomial não pertence à família exponencial. Contudo, existe uma relação com a distribuição de Poisson que assegura que um modelo linear generalizado é apropriado. Neste caso, a distribuição multinomial pode ser estimada como uma distribuição conjunta de variáveis aleatórias de Poisson condicionada a n (DOBSON, 2002). Apesar disso, optou-se por fazer as estimativas utilizando a distribuição multinomial exata.

3.1 Estimação dos parâmetros

Foi ajustada, então, uma regressão logística utilizando como método de estimação a máxima verossimilhança, sendo que a seleção das variáveis foi realizada pelo “backward

stepwise”. Foram testados os modelos com as referidas variáveis, além das interações

mostradas na Tabela 1.

A partir do modelo com todas as variáveis, os passos seguintes consistiram em testar a significância da influência de uma inclusão ou exclusão de determinada variável. O teste utiliza a diferença entre as desviâncias de dois modelos consecutivos. Esta medida, que é duas vezes o log da razão de verossimilhança, tem distribuição D ~ 2(p-q), onde p-q é a

diferença entre os graus de liberdade dos dois modelos.

A Tabela 1 mostra os testes feitos, partindo do modelo completo, identificando as variáveis ou interações entre variáveis que não foram significativas a um nível de significância de 5% e a Tabela 2 apresenta as variáveis que ficaram no modelo final, e o nível de significância da inclusão de cada uma delas no modelo.

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Tabela 1 – Teste 2 para as diversas formulações do modelo

Modelo Ação Variável Desviância Teste

Chi-quadrado GL Significância

0 Entrada Completo 948,64 - - -

1 Retirada Chefe * Uconsens 948,90 0,264 2 0,8764

2 Retirada Idade * Dif_Idade 957,38 8,472 8 0,3888

3 Retirada Recasada * Uconsens 959,15 1,770 2 0,4127

4 Retirada Dif_Idade 967,66 8,511 4 0,0746

Fonte: PNDS 2006

Tabela 2 – Relação das variáveis que ficaram no modelo final e o nível de significância da inclusão de cada uma delas no modelo.

Efeito Desviância Teste

Chi-quadrado GL Significância Intercepto 967,66 - - - Idade 982,98 15,319 4 0,0041 Escolaridade 993,20 25,544 6 0,0003 Uconsens 1.002,95 35,293 2 0,0000 Recasada * Chefe 976,39 8,731 2 0,0127 Fonte: PNDS 2006

O teste foi altamente significativo para o modelo final, que, com exceção da diferença de idade entre os cônjuges, inclui todas as variáveis explicativas, inclusive a interação entre as variáveis número de uniões e posição no domicílio, indicando que todas elas são importantes na explicação da variável resposta, “quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha”. A variável que indica a diferença de idade entre os cônjuges teve um nível de significância de 7,5%, que pela sua importância na análise dos resultados poderia ter sido incluída, mas optou-se por um modelo final mais parcimonioso.

Desta forma, o modelo final é o seguinte:

9 9j 1 1j 0j 1 j β ... β β π π ln   x   x      , para j=2, 3

A Tabela 3 mostra as estimativas para os parâmetros do modelo final, seus respectivos erros-padrão e a vantagem (odds).

Tabela 3 – Estimativa dos parâmetros do modelo multinomial final e respectivos erros-padrão e vantagem para “quem decide o que fazer com o dinheiro que a mulher ganha”. Brasil – 2006

Variáveis Estimativa Erro Padrão Vantagem (%) ln()ln()ln()ln()()-1()-1 ()-1 Constante Constante 0 3,4617 0,6736 0,5943 0,7509 3087 96 -94 Idade 15 a 24 1 -0,3153 -0,5622 0,1127 0,2410 -27 -43 -22 25 a 39 2 -0,2402 -0,1701 0,0745 0,1395 -21 -16 7 40 a 49  0,0000 0,0000 - - 0 0 0

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9 Anos de Estudo Até 4 3 0,0407 0,1066 0,1073 0,1975 4 11 7 5-8 4 0,3308 -0,0701 0,1080 0,2072 39 -7 -33 9-11 5 0,2079 -0,1705 0,1047 0,2025 23 -16 -32 12 ou mais  0,0000 0,0000 - - 0 0 0 União Consensual Não 6 -0,4410 -0,2324 0,0756 0,1471 -36 -21 23 Sim  0,0000 0,0000 - - 0 0 0 Recasada / Chefe Não / Não 7 -2,1140 -1,7437 0,5901 0,7407 -88 -83 45 Não / Sim 8 -1,5880 -2,5942 0,6403 1,0457 -80 -93 -63 Sim / Não 9 -1,9862 -1,6526 0,5927 0,7470 -86 -81 40 Sim / Sim  0,0000 0,0000 - - 0 0 0

Nota: : decisão em conjunto; : decisão da entrevistada; : decisão do companheiro.

Fonte: PNDS 2006

Os coeficientes estimados acima indicam que quanto maior o seu valor, maior também é a probabilidade da entrevistada ou do companheiro decidirem em relação à decisão em conjunto. As mulheres de 15 a 24 anos, por exemplo, com estimativa de ln()=

-0,5622, têm companheiros com uma probabilidade menor de decisão em relação à decisão em conjunto do que companheiros das mulheres de 25 a 39 anos, que por sua vez têm probabilidade menor que os parceiros das mulheres de 40 a 49 anos. Estes valores podem ser interpretados como sendo o logaritmo da chance entre a decisão da mulher ou do cônjuge em relação à decisão em conjunto. Pode-se calcular também a vantagem da relação entre estas probabilidades. Analisaremos especialmente as vantagens  e , pois são os

indicadores que melhor representam o empoderamento feminino dentro de uma relação. Temos, então, que as vantagens “decisão do companheiro / decisão em conjunto” e “decisão do companheiro/decisão da entrevistada” são menores para as mulheres mais jovens que poderia significar maiores indícios de empoderamento. O grupo de mulheres de 40 a 49 anos foi o que apresentou as maiores vantagens, ainda que, quando se avalia a decisão da entrevistada em relação à do companheiro, as mulheres de 25 a 39 (coorte dos anos 1970) apresentam uma vantagem 7% superior (Tabela 3).

Considerando o nível de instrução das mulheres, observa-se que as maiores vantagens, independente da relação ser ou , aparecem principalmente entre as escolaridades extremas (até 4 anos de estudo e 12 anos ou mais), com valores ainda maiores para aquelas com menos anos de estudo. Para as escolaridades intermediárias (5 a 8; 9 a11), há um diferença ainda maior entre a “decisão do companheiro/decisão da entrevistada” do que quando se compara com a decisão em conjunto.

A probabilidade de decisão individual (independente de ser do homem ou da mulher) em relação à decisão em conjunto, é maior entre as mulheres em união consensual em comparação às casadas, ou seja, predomina a decisão em conjunto entre as mulheres em uniões formais. As mulheres casadas tendem a ter maior influência do companheiro na decisão sobre o que fazer com o próprio dinheiro. Nota-se, portanto, que entre as casadas parece haver menor empoderamento da mulher quando comparadas às unidas consensualmente, o que pode indicar que entre as mulheres em uniões não-formais os resquícios do modelo patriarcal de família são menores do que entre as casadas.

Por último, foi considerado o possível efeito da posição no domicílio e do número de uniões sobre o uso do dinheiro que ela ganha, onde foram observadas as maiores diferenças. Nota-se que quando a entrevistada não é chefe, possui vantagens parecidas entre si,

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independente de ser recasada ou não, mas, por outro lado apresenta características distintas das chefes. Estas, por sua vez, quando em primeira união, tendem a ter um maior empoderamento em comparação às recasadas, pois a vantagem negativa nas relações  (-93%) e  (-63%), indicam menor influência do companheiro sobre o dinheiro de sua cônjuge.

Além da análise dos resultados apresentados, pode-se estimar as respectivas probabilidades e. A estimativa de  é dada por:

   J j j T jb x 2 1 ) exp( 1 1 ˆ 

A partir deste valor é possível estimar as demais probabilidades j

) exp( ˆ ˆ 1 T j j jx b  

Com estes valores pode-se estimar a probabilidade de que a decisão do que fazer com o dinheiro que a mulher ganha seja dela, do cônjuge ou em conjunto, dado determinado perfil da mulher.

Tomando como base estes resultados, uma primeira observação geral é que, independente do perfil da mulher, as probabilidades dela própria decidir são sempre maiores, variando de 61% a 94%.

O Gráfico 1 apresenta as respectivas probabilidades de decisão em função de 4 perfis escolhidos a fim de ilustrar os resultados.

Gráfico 1 – Probabilidades de decisão por tipo de perfil, Brasil - 2006

O Perfil 1 é o que apresenta a maior probabilidade de decisão por parte da entrevistada, sendo composto por mulheres com 15 a 24 anos de idade, 5 a 8 anos de estudo, em união consensual, recasada e chefe do domicílio. Com este perfil, a probabilidade de que a decisão seja dela é de 94,1%; de que seja do companheiro é de 3% e em conjunto, 2,9%.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Perfil 4 Entrevistada Decide Decisão em Conjunto Companheiro Decide

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Em relação à decisão ser do companheiro, as probabilidades variam de 1% a 7,8%, para as 96 combinações de perfis. Assim, a chance máxima do companheiro decidir está associada principalmente àquelas mulheres com idades maiores (25 a 39/ 40 a 49), casadas e que não são chefes, como é o caso do Perfil 2.

O Perfil 3 é composto por mulheres de 15 a 24 anos, com 5 a 8 anos de estudo, em primeira união e chefe do domicílio, e tem a característica de ter baixa probabilidade de decisão por parte do companheiro.

Finalmente, o Perfil 4 representa um grupo de mulheres com baixa probabilidade de decisão sobre o próprio dinheiro (61%) e possuem idade de 25 a 39 anos, têm 12 anos ou mais de estudo, são casadas somente uma vez e não são chefes.

4. Considerações finais

Os resultados do modelo multinomial permitiram analisar de modo mais apurado o poder de decisão financeira da mulher de acordo com cada perfil de idade, escolaridade, número de uniões, seu tipo e chefia. Com ele podemos observar que as maiores probabilidades – 60 a 94% - estão associadas à decisão da mulher sobre o que fazer com seu próprio dinheiro. Em geral, conforme essa probabilidade diminui, observamos que há um aumento da decisão em conjunto. Mulheres mais velhas, com escolaridades extremas (até 4 e 12 e mais) e recasadas eram as mais suscetíveis à influência masculina em 2006.

De modo geral, mulheres mais novas, casadas formalmente e com escolaridade mais alta, compõem o perfil de mulheres com maiores chances de decidir seus ganhos financeiros em conjunto com o parceiro.

Em relação aos anos de estudo da mulher, surpreendeu-nos o fato de que entre as escolaridades intermediárias o poder de decisão dela aumente, e entre as extremas - tanto as escolaridades muito baixas como as muito altas – observe-se uma diminuição, quando seria de se pensar que a decisão feminina aumentasse pari passu aos anos de estudo.

Mulheres em união consensual apresentaram, em geral, maiores chances de decidirem o que fazer com o próprio dinheiro do que mulheres casadas formalmente, apontando para uma igualdade de gênero maior nas uniões consensuais.

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Referências

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