• Nenhum resultado encontrado

O espaço físico de uma instituição de Educação Infantil: como as crianças significam esse lugar?

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O espaço físico de uma instituição de Educação Infantil: como as crianças significam esse lugar?"

Copied!
205
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA EDUCAÇÃO, CURRICULO E PRÁTICA PEDAGÓGICA

ALINE CONSTÂNCIA DE FIGUEIREDO E SOUZA

O ESPAÇO FÍSICO DE UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: COMO AS CRIANÇAS SIGNIFICAM ESSE LUGAR?

NATAL/RN 2020

(2)

O ESPAÇO FÍSICO DE UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: COMO AS CRIANÇAS SIGNIFICAM ESSE LUGAR?

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGEd, do Centro de Educação, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, na linha de pesquisa Educação, Currículo e Práticas Pedagógicas. Orientadora: Profa. Dra. Mariangela Momo.

Natal/RN 2020

(3)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Souza, Aline Constância de Figueiredo e.

O espaço físico de uma instituição de Educação Infantil: como as crianças significam esse lugar? / Aline Constancia de

Figueiredo e Souza. - Natal, 2020. 205 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós Graduação em Educação. Orientadora: Profa. Dra. Mariangela Momo.

1. Educação Infantil - Dissertação. 2. Espaço físico -

Dissertação. 3. Lugar - Dissertação. 4. Significados Infantis - Dissertação. I. Momo, Mariangela. II. Título.

(4)

O ESPAÇO FÍSICO DE UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: COMO AS CRIANÇAS SIGNIFICAM ESSE LUGAR?

APROVAÇÃO ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________

Orientadora Prof.ª Dr.ª Mariangela Momo Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

_________________________________________________________________________________________________________________ Prof.ª. Dr.ª Elaine Luciana Sobral Dantas (Examinadora Externa)

Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA

_____________________________________________________________________________________ Prof.ª. Dr.ª Denise Maria de Carvalho Lopes (Examinadora Interna)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

_________________________________________________________________________________________________________________ Profª. Dr.ª Michelle de Freitas Bissoli (Suplente Externa)

Universidade Federal do Amazonas – UFAM

__________________________________________________________

Prof.ª. Dr.ª Jacyene Melo de Oliveira (Suplente Interna) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

(5)

Que a importância de uma coisa não se

mede com fita métrica nem com

balança nem barômetros etc. Que a

importância de uma coisa há que ser

medida pelo encantamento que a coisa

produza em nós.

(6)

Aos meus filhos Alan, Julia e Luana,

amor imenso, fontes da minha alegria e

determinação, e a todas as crianças que

esperam ter nas instituições de

Educação Infantil um lugar para

viverem plenamente suas infâncias.

(7)

AGRADECIMENTO Agradeço,

À professora Dra. Mariangela Momo, minha orientadora, por me apoiar, incentivar, guiar e acreditar na realização desse trabalho.

Ao meu esposo, meu grande companheiro, pela atenção, compreensão e incentivo nos momentos intensos de estudos, de incertezas e ansiedade.

Aos meus filhos Alan, Julia e Luana. Meu trio amado, que sem dúvidas é a minha maior motivação na vida. Obrigada por encherem minha vida de amor, carinhos e risadas. Ao meu enteado Matheus. Filho do coração. Obrigada por, junto com seus irmãos, preencher a minha vida com ainda mais amor.

Aos meus pais, por me ensinarem a ser corajosa, batalhadora e não desistir perante os desafios e dificuldades da vida.

À minha irmã querida, pelo apoio incondicional e por suas palavras afetuosas. Aos meus compadres. Amigos de todas as horas, que me incentivaram e apoiaram com palavras animadoras que renovavam minhas energias para a realização dessa pesquisa.

Aos amigos de estudos, Daniel, Esthephania e Vládia, companheiros na trajetória do curso de mestrado, em especial a Vládia, que mesmo distante, foi grande ponto de apoio e incentivo.

À toda equipe do Centro Municipal de Educação Infantil Castro Alves, por todo acolhimento e pela possibilidade de realização da pesquisa em seus espaços de trabalho.

Às crianças do CMEI que afetuosamente me incluíram em suas rotinas e me chamavam para interagir em conversas, brincadeiras, compartilhando risadas e muitos ensinamentos através do doce privilégio do convívio durante toda a pesquisa

A todos os meus amigos e familiares que com gentileza me auxiliaram sempre que precisei.

Aos professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por todos seus ensinamentos e orientações fundamentais para essa formação.

À tantos outros que durante todo esse percurso me ajudaram e incentivaram a vencer mais um desafio.

(8)

RESUMO

Esta pesquisa de mestrado objetivou investigar e analisar como as crianças percebem os espaços físicos de uma instituição de Educação Infantil e os significados que dão para esse lugar. Assume-se que o espaço físico nas instituições de Educação Infantil exerce papel fundamental no processo educativo, na qualidade das experiências e interações oportunizadas às crianças. Os conceitos de espaço e lugar foram centrais no processo desta pesquisa. Partimos, do entendimento do termo espaço como as características da estrutura física em si, aquilo que pode ser tocado, sentido, visto, vivido, medido e explorado. Já o termo lugar, é entendido como um salto qualitativo, constituído a partir dos sentidos e significados dados pelos sujeitos aos espaços através das relações vividas com/no espaço. Dessa forma, consideramos que os significados que as crianças dão para os espaços da instituição infantil que frequentam diariamente transforma esses espaços em lugares e podem colaborar para qualificar esses espaços. Trata-se de uma pesquisa com uma abordagem de investigação qualitativa, de inspiração etnográfica. Utilizamos também, aportes teóricos-metodológicos que orientam no aprofundamento de conhecimentos sobre a realização de pesquisas com a participação direta das crianças como colaboradoras ativas na construção dos dados. Na busca pelos significados das crianças, nos aproximamos da teoria da subjetividade desenvolvida por González Rey que tem uma perspectiva cultural-histórica e propõe a metodologia construtivo-interpretativa a qual entendemos como aporte que auxilia a conseguir uma melhor compreensão do ponto de vista das crianças. Definimos como campo empírico o Centro Municipal de Educação Infantil Castro Alves, em Salvador/BA e como sujeitos da pesquisa, num primeiro momento, todas as crianças da instituição e num segundo momento, trinta e duas crianças entre quatro e seis anos de idade. Para a construção dos dados, foram usados os seguintes procedimentos: observação, registros fotográficos, registros escritos em diário de campo, entrevista semiestruturada com a realização de desenhos por parte das 32 crianças sujeitos da pesquisa e análise documental de documentos oficiais brasileiros e do Projeto Político Pedagógico do CMEI. Os dados foram organizados em duas grandes categorias considerando o conjunto de significados atribuídos pelas crianças: espaços preferidos e espaços preteridos. Os achados da pesquisa evidenciaram que para as crianças os espaços preferidos do CMEI eram significados como lugares de estar junto, de brincar, de explorar, apreciar e aprender. Além disso os espaços inestéticos e desagradáveis aos sentidos e os espaços e equipamentos inadequados ao uso e que dificultam a brincadeira foram os lugares apontados como preteridos pelas crianças a partir destes significados impressos por elas. Os gestos, os desenhos e a fala das crianças indicam aspectos que, muitas vezes, passam despercebidos pelos adultos, destacando a importância de ouvirmos, vermos, percebermos e sentirmos as crianças no cotidiano educativo e, sobretudo, nas pesquisas que tratam de questões relativas ao dia a dia das instituições de Educação Infantil. Concluímos que os espaços do CMEI possuem muitas inadequações, e não atendem, de forma geral, ao que os documentos oficiais brasileiros destacam sobre essa questão. Porém, reconhecemos que as crianças do CMEI são felizes nesse lugar e que há uma busca em respeitarem suas particularidades. Convivem entre crianças, professoras e demais adultos de forma significativa e dinâmica. Brincam, aprendem, crescem e se desenvolvem de forma prazerosa. Temos a expectativa que a participação, tão comprometida e valorosa, das crianças do CMEI nesta pesquisa, possa de fato, abrir caminhos para que, nas instituições de Educação Infantil, sejam levadas em conta as perspectivas das crianças, na constituição dos espaços educativos.

(9)

ABSTRACT

This master's research aimed to investigate and analyze how children perceive the physical spaces of an early childhood education institution and the meanings they give to this place. It is assumed that the physical space in the institutions of Early Childhood Education plays a fundamental role in the educational process, in the quality of the experiences and interactions afforded to children. The concepts of space and place were central to the process of this research. We start from understanding the term space as the characteristics of the physical structure itself, what can be touched, felt, seen, lived, measured and explored. The term place, on the other hand, is understood as a qualitative leap, constituted from the senses and meanings given by the subjects to the spaces through the relationships lived with / in the space. Thus, we consider that the meanings that children give to the spaces of the children's institution that they attend daily transforms these spaces into places and can collaborate to qualify these spaces. It is a research with a qualitative research approach, with ethnographic inspiration. We also use theoretical-methodological inputs that guide the deepening of knowledge about conducting research with the direct participation of children as active collaborators in the construction of data. In the search for children's meanings, we approach the theory of subjectivity developed by González Rey, which has a cultural-historical perspective and proposes the constructive-interpretative methodology which we understand as a contribution that helps to achieve a better understanding from the children's point of view. We defined as the empirical field the Municipal Center for Early Childhood Education Castro Alves, in Salvador / BA and as subjects of the research, at first, all the children of the institution and in a second moment, thirty-two children between four and six years of age. For the construction of the data, the following procedures were used: observation, photographic records, records written in a field diary, semi-structured interview with the drawing of drawings by the 32 children subject to research and documentary analysis of official Brazilian documents and the Political Project Pedagogical Committee of the CMEI. The data were organized into two major categories considering the set of meanings attributed by the children: preferred spaces and deprecated spaces. The research findings showed that for children, the preferred spaces of CMEI were meant as places to be together, to play, to explore, to appreciate and to learn. In addition, unsightly spaces that are unpleasant to the senses and spaces and equipment that are inappropriate to use and that hinder play were the places identified as neglected by children from these meanings printed by them. The children's gestures, drawings and speech indicate aspects that often go unnoticed by adults, highlighting the importance of hearing, seeing, perceiving and feeling children in the educational routine and, above all, in research that addresses issues related to day-to-day activities of early childhood education institutions. We conclude that the CMEI spaces have many inadequacies, and do not, in general, meet what the official Brazilian documents highlight on this issue. However, we recognize that CMEI's children are happy in this place and that there is a quest to respect their particularities. They interact with children, teachers and other adults in a meaningful and dynamic way. They play, learn, grow and develop in a pleasant way. We have the expectation that the participation, so committed and valued, of the children of CMEI in this research, may in fact open the way so that, in early childhood education institutions, children's perspectives are taken into account in the constitution of educational spaces.

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Fachada do CMEI...89

Figura 2- Planta baixa do CMEI...95

Figura 3 e 4- Dreno dos aparelhos de ar-condicionado...96

Figura 5 e 6- Mezanino...97

Figura 7 e 8- Parque coberto...98

Figura 9- Quadra...98

Figura 10- Chuveirão e canteiro de plantas...98

Figura 11- Salão...99

Figura 12- Sala dos professores...99

Figura 13- Coordenação...99

Figura 14- Sala com tamanho inadequado...99

Figura 15, 16 e 17- Painéis de algumas salas...100

Figura 18- Banheiro central...101

Figura 19 e 20- Cozinha...101

Figura 21-Festa do brincar...122

Figura 22- Teatrinho de fantoche...122

Figura 23- Aula passeio...122

Figura 24- Festa junina...122

Figura 25- Crianças do grupo 2 brincando próximas da professora...124

Figura 26 e 27- Crianças dos grupos 2 e 3 brincando juntas...125

Figura 28 e 29- Desenhos de crianças juntas na quadra e no parque...127

Figura 30 e 31- Contação de histórias...128

Figura 32- Desenho de crianças brincando na quadra com as professoras...129

Figura 33- Desenho de crianças correndo no parque com a professora...129

(11)

Figura 35- Desenho de crianças enfeitando o salão com a professora...129

Figura 36- Cantando músicas...129

Figura 37- Jogando bola com a professora...129

Figura 38 e 39- Corredor menor...131

Figura 40, 41 e 42- Corredor central...131

Figura 43- Crianças lanchando no corredor...132

Figura 44- Crianças brincando juntas no parque...132

Figura 45- Crianças lendo juntas...132

Figura 46- Brincando no corredor...135

Figura 47, 48 e 49- Brincadeiras livre nas salas...136

Figura 50 e 51- Desenhos de brincadeiras no salão...137

Figura 52, 53 e 54- Brincadeiras livre no parque...138

Figura 55, 56 e 57- Desenhos de brincadeiras livre no parque...139

Figura 58- Grupo 5 jogado vôlei na quadra...139

Figura 59- Grupo 4 jogando bola na quadra...139

Figura 60 e 61- Desenho de brincadeira de futebol na quadra...140

Figura 62- Desenho de brincadeira no salão...140

Figura 63- Crianças brincando de falar no telefone com a professora...142

Figura 64 e 65- Montando com os blocos de encaixe...147

Figura 66 e 67- Explorando formatos e texturas de folhas diversas...148

Figura 68 e 69- Explorando desenhos e pintura com folhas diversas...148

Figura 70 e 71- Pintura Corporal...149

Figura 72- Criança do grupo 4 bebendo água...150

Figura 73- Criança jogando resto de comida no lixo...150

Figura 74- Criança lavando as mãos...151

Figura 75- Crianças do grupo 4 almoçando...151

(12)

Figura 77- Crianças comendo melancia no parque...152

Figura 78- Crianças conversando com gari...153

Figura 79-Crianças recolhendo lixo na praia...153

Figura 80- Conversando com pescadores...153

Figura 81- Observando peixes no lago...153

Figura 82 e 83- Visita ao Museu de Arqueologia e Etnologia...154

Figura 84 e 85-Visita ao Museu da Misericórdia...154

Figura 86 e 87-Desenhos do sol e plantinhas no parque...155

Figura 88- Crianças observando os pássaros no céu...156

Figura 89, 90 e 91- Grupo 2 brincando no parque...157

Figura 92 e 93- Grupo 3 explorando caixa de papelão...158

Figura 94 e 95- Grupo 4 explorando movimentos com bambolês e cama elástica...158

Figura 96- “Barco” feito com parte desmontada do túnel...158

Figura 97- Crianças explorando o túnel...159

Figura 98- Criança empurrando outra no velocípede...159

Figura 99- Desenho de sala pequena...165

Figura 100- Sala de referência com tamanho inadequado...165

Figura 101- Acesso difícil a estante de livros...166

Figura 102 e 103- Desenho de sala apertada para dormir...166

Figura 104-Momento do descanso...169

Figura 105- Desenho de aparelho de ar molhando a sala...170

Figura 106- Cartaz molhado pelo aparelho de ar condicionado...170

Figura 107 e 108- Desenho do parque molhado...171

Figura 109 e 110- Desenho de mais brinquedos no parque...172

Figura 111- Porta do banheiro no início do corredor central...174

Figura 112-Desenho de buraco no banheiro...174

(13)

Figura 114- Desenho de banheiro sujo...175

Figura 115-Desenho de bebedouro sujo...175

Figura 116-Sanitário interditado...176

Figura 117- Desenho de janela na sala para ver o sol...177

Figura 118- Banheiro central...179

Figura 119- Banheiro da cozinha...179

Figura 129 e 121- Desenho de água fria no chuveiro...180

(14)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Relação das pesquisas do Estado da Arte...30

Quadro 2- Quantidade de crianças e faixa etária dos grupos do CMEI...87

Quadro 3- Funcionários do CMEI...88

Quadro 4- Categorias e subcategorias da pesquisa...122

Quadro 5- Locais indicados pelas crianças como preferidos...122

(15)

LISTA DE SIGLAS

ADI- Auxiliar de Desenvolvimento Infantil

ANPED- Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação BA- Bahia

BDTD- Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações BNCC- Base Nacional Comum Curricular

CAP- Colégio de Aplicação

CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CMEI- Centro Municipal de Educação Infantil

DCNEI- Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil EI- Educação Infantil

LDB- Lei de Diretrizes e Base MEC- Ministério da Educação NEI- Núcleo de Educação da Infância PAR- Plano de Ações Articulado

PDE- Plano de Desenvolvimento da Educação PNE- Plano Nacional de Educação

PPP- Projeto Político Pedagógico

PROINFÂNCIA- Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos da Rede Escolar Pública de Educação Infantil

RCMEI- Referencial Curricular Municipal de Educação Infantil RCNEI- Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil RN- Rio Grande do Norte

SCIELO- Scientific Eletronic Library Online SMED- Secretaria Municipal de Educação

TCLE- Termo de Consentimento Livre Esclarecido UFBA- Universidade Federal da Bahia

(16)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...17

1.1 Definindo a pesquisa...19

2 O OBJETO DE ESTUDO NO CONTEXTO DAS PESQUISAS - ESTADO DA ARTE...27

3 DE ESPAÇO À LUGAR: A ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS FÍSICOS NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL...40

3.1 Breve histórico do atendimento educacional às crianças pequenas e contribuições de pensadores- precursores e contemporaneos- sobre os espaços nos processos educativos ... 44

3.2 Modelos educacionais para crianças pequenas e a organização dos espaços: falando do High-Scop e de Reggio Emilia ... 54

3.2.1 Modelo de Reggio Emilia ... 55

3.2.2 Modelo High-Scop ... 57

3.3 O processo de regulamentação dos espaços das instituições de Educação Infantil na legislação e documentos oficiais brasileiros...59

4 APORTES E PERCURSOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ... 74

4.1 A abordagem de investigação qualitativa ... 78

4.2 Estudo de inspiração etnográfica ... 80

4.3 Pesquisas científicas com crianças: possibilidades, caminhos e encantamentos...81

4.4 O contato com o dia a dia das crianças e a busca pelos significados sobre os espaços da Educação Infantil. ... 84

4.5 O lócus da pesquisa: caracterizando o CMEI Castro Alves ... 88

4.5.1 Entre tempo e espaço: o fazer pedagógico do CMEI Castro Alves... 91

4.5.2 O espaço físico...94

4.5.3 A organização das atividades: a rotina...102

4.6 Sujeitos colaboradores da pesquisa...109

4.7 Desenhando e conversando com as crianças: as entrevistas semiestruturadas...110

5 ENTRE TETOS, DIVISÓRIAS E CHÃO SURGE UM LUGAR: OS SIGNIFICADOS DAS CRIANÇAS SOBRE OS ESPAÇOS DO CMEI CASTRO ALVES. ... 116

(17)

5.1 Os espaços preferidos: os significados das crianças acerca dos lugares que mais

gostam ... 119

5.1.1 O CMEI como um lugar de estar junto... 120

5.1.2 O CMEI como um lugar para brincar ... 133

5.1.3 O CMEI como um lugar de explorar, apreciar e aprender ... 143

5.2 Os espaços preteridos: a percepção das crianças acerca dos lugares que menos gostam ... 161

5.2.1 Lugares e equipamentos inadequados aos seus usos e que dificultam as brincadeiras ... 164

5.2.2 Lugares inestéticos e desagradáveis aos sentidos ... 177

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 185

7 REFERÊNCIAS... 190

(18)

1- INTRODUÇÃO

Este trabalho de dissertação tem como temática os significados infantis acerca do espaço físico da Educação Infantil. O tema escolhido foi construído ao longo da nossa trajetória pessoal, acadêmica e profissional, onde fomos construindo uma aproximação com as questões da infância o que levou ao interesse pelo aprofundamento de conhecimentos sobre a criança e a Educação Infantil.

Com a experiência como docente das redes de ensino dos municípios de Parnamirim e de Natal no Rio Grande do Norte e nos estudos sobre pesquisas que mostravam as realidades de creches e pré-escolas fomos constatando, no dia a dia, que muito já se tinha pensado e tentado fazer pela educação das crianças da Educação Infantil. Porém, ainda nos deparávamos com situações em que percebíamos que o direito das crianças a uma educação de qualidade ainda não tinha sido garantido, tanto em relação ao acesso (sobretudo das crianças de 0 a 3 anos), quanto em relação à organização da proposta pedagógica, da estrutura física, dos materiais, das práticas/vivências que são oportunizadas às crianças.

Então, o interesse em investigar sobre a estrutura e utilização do espaço físico na Educação Infantil e os significados dados a esse espaço a partir do ponto de vista das crianças, partiu das impressões e observações ao longo da atuação docente como professora dessa etapa da Educação Básica, como também, como docente em cursos de formação de professores em nível de aperfeiçoamento, promovidos em convênio com o Ministério da Educação. Na ocasião dos cursos de aperfeiçoamento, ministramos o módulo Tempo e Espaço na Educação Infantil, nas cidades de Natal, Parnamirim, Ceará-Mirim e Caicó, todas no estado do Rio Grande do Norte.

Durante essas experiências profissionais, fomos percebendo a necessidade de refletir sobre a estrutura e organização dos espaços físicos nas instituições de Educação Infantil, como primordiais na busca pela qualidade dessa etapa da educação básica. Em relação aos aspectos norteadores da qualidade desses espaços, tínhamos a orientação de documentos como os Parâmetros Nacionais de Infraestrutura para as Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006) e os Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil (BRASIL, 2009).

Como professora da Educação Infantil nos municípios de Natal e Parnamirim, vivemos duas realidades diferentes. Na primeira, foi a oportunidade de trabalhar em um

(19)

Centro Municipal de Educação Infantil em Natal que, apesar de ter um espaço físico bem pequeno, o que limitava as possibilidades de trabalho junto com as crianças, a equipe gestora, juntamente com os docentes, estavam sempre investindo em estratégias para que as crianças utilizassem de diversas formas todos os espaços, usando da criatividade para possibilitar vivencias ricas e prazerosas, a partir das brincadeiras e interações.

Já no Centro Municipal de Educação Infantil em Parnamirim-RN, os espaços da instituição eram amplos e diversificados, contavam com uma grande área coberta, brinquedoteca, biblioteca, parquinho de areia, uma grande área gramada e local com duchas externas.

Porém, apesar da estrutura física adequada, a equipe gestora restringia a movimentação das crianças nesses espaços, mesmo diante do descontentamento delas. A orientação era que as crianças passassem boa parte do tempo dentro das salas, sob a justificativa de evitar que os espaços fossem sujos e que as elas se machucassem. Essa situação evidencia o desconhecimento ou desconsideração em relação às potencialidades e necessidades infantis.

Percebemos nessas experiências a grande necessidade de se refletir sobre os espaços físicos das instituições de Educação Infantil, em relação a garantir os direitos das crianças pequenas a uma educação prevista em lei. Também construímos o entendimento sobre a importância de que os interesses das crianças, suas necessidades e suas vozes e manifestações fossem valorizadas e levados em conta nos momentos de organização e utilização desses espaços. Assim, entendemos que as instituições infantis são lugares feitos para as crianças e, assim devem, por elas, ser da forma mais proveitosa possível, utilizados.

Então surgiu, através de aprovação em concurso público, no ano de 2012, a oportunidade de trabalho como professora efetiva no Colégio de Aplicação (CAp.) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Núcleo de Educação da Infância (NEI). Essa experiência mostrou-nos que, apesar do NEI ser uma escola pública e apresentar muitas das dificuldades que as escolas deste segmento enfrentam no Brasil tornou-se, pelas práticas desenvolvidas desde sua fundação em 1979, uma instituição de Educação Infantil (EI) de referência no país.

Compartilhando dessa realidade, aprendemos e vivenciamos a forma de trabalho construída na história do NEI, bem como tivemos a oportunidade de partilhar ações

(20)

positivas e exitosas, repensando nosso próprio fazer pedagógico e possibilitando a (re)construção de nossa e de outras práticas.

Assim, como docente do NEI, tivemos a oportunidade de participar de experiências como formadora, nos cursos de aperfeiçoamento em várias cidades do RN. Nesses cursos percebíamos, com frequência, na fala das cursistas, um grande descontentamento em relação aos espaços físicos das instituições em que trabalhavam. Ouvíamos vários relatos das precárias condições dos lugares onde atuavam, que não garantiam, portanto, os direitos das crianças em relação a terem acesso a espaços adequados, que atendessem às suas necessidades e possibilitassem a brincadeira, a exploração, as descobertas e as interações de forma positiva.

Durante essas trajetórias profissionais e os aprofundamentos teóricos realizados durante o período dessas experiências, fomos então nos aproximando do tema de nossa pesquisa de mestrado. Assim, elencamos como objetivo da pesquisa, que se materializa nesta dissertação, investigar e analisar como as crianças percebem os espaços físicos de uma instituição de Educação Infantil e os significados que dão para esse lugar.

1.1 Definindo a pesquisa

Admitimos que um trabalho que busca identificar os significados das crianças sobre o espaço da instituição educativa não é uma tarefa das mais fáceis. Exige atenção, desprendimento de nossas próprias convicções, sensibilidade para ouvir, perceber, analisar, fazer relações e, principalmente, nos vestirmos do olhar infantil, numa busca incansável pelo ponto de vista da criança em detrimento da nossa perspectiva de adulto. Nesse sentido, evidenciamos diversos autores (PINTO e SARMENTO, 1997; KUHLMANN JR., 1998; OLIVEIRA, 2002; SARMENTO, 2007; SARMENTO, ABRUNHOSA e SOARES, 2007; MARTINS e BRETAS, 2008) quando nos dizem que as crianças são produtoras de cultura no sentido de serem capazes de construírem de forma sistematizada modos de significação do mundo e de ação intencional, que são distintos dos modos adultos de significação e ação.

Reconhecemos que as instituições de Educação Infantil são feitas, pensadas (ou deveriam ser) para as crianças. Mas é importante considerar que as possibilidades de utilização dos espaços; as brincadeiras; as interações entre os adultos, as crianças das mesmas idades e idades diferentes; a qualidade das atividades desenvolvidas está

(21)

diretamente relacionada à qualidade dos espaços e aos adultos que trabalham na instituição, que podem favorecer ou dificultar várias vivencias.

Dessa forma, focamos nosso olhar investigativo na instituição de Educação Infantil como um espaço eminentemente social e cultural, um direito da criança, que tem por finalidade cuidar e educar, onde a partir das práticas pedagógicas vividas se torna um lugar da criança viver sua infância, sendo protegida e respeitada em suas especificidades.

Entendemos a infância, não como in-fans (não-fala) e sim como uma fase da vida em que as crianças, como sujeitos históricos, apresentam seus modos próprios de ver e de produzir cultura. Assim, sobre as especificidades infantis, consideramos as crianças como indivíduos concretos e contemporâneos, com características semelhantes, mas também peculiares em relação aos humanos de outros ciclos etários. Dessa forma, diversos autores (OLIVEIRA, 2002; MOSS, 2003; KRAMER, 2006, 2009, SARMENTO, 2007) nos ajudam a pensar a criança como vulnerável e dependente dos adultos para terem suas necessidades atendidas, mas também como sujeitos competentes, capazes de interagir e realizar ações diversas nas realidades que as cercam. Além disso, as crianças, não só reproduzem cultura, como criam e recriam culturas agindo sobretudo através da ludicidade e da imaginação.

Para tanto é fundamental conhecer as crianças, pois elas nos revelam nuances que se tornam importantes para nós, adultos, refletirmos, pois,

O olhar das crianças permite revelar fenômenos sociais que o olhar dos adultos deixa na penumbra ou obscurece totalmente. Assim, interpretar as representações sociais das crianças pode ser não apenas um meio de acesso à infância como categoria social, mas às próprias estrutura e dinâmicas sociais que são desocultadas no discurso das crianças. (PINTO; SARMENTO, 1997, p.25).

Portanto, face a importância da estruturação dos espaços físicos das instituições de Educação Infantil para a qualidade da educação das crianças pequenas, bem como a importância de inserirmos as crianças como colaboradoras ativas nas pesquisas que abordam temas diretamente relacionados as suas realidades, definimos a seguinte questão orientadora da pesquisa: Como as crianças percebem o espaço físico de uma instituição de Educação Infantil e quais os significados que dão para esse lugar?

Então, partindo do entendimento da grande importância da estrutura e organização dos espaços das instituições de Educação Infantil e das vivências estabelecidas nesses

(22)

espaços, representam para as crianças e suas infâncias, nos propomos a aprofundar conhecimentos sobre a estruturação e utilização dos espaços de uma instituição de Educação Infantil, desenvolvendo estratégias de pesquisa que possibilitaram analisar como as crianças percebem e quais os significados que dão a esses espaços.

Consideramos que buscar identificar através das falas e manifestações infantis, os significados que as crianças dão para esses espaços, colabora na construção de visões mais ricas e produtivas sobre lugares que respeitem seus direitos, desejos e suas necessidades. Valorizamos, portanto, as perspectivas infantis e concebemos as crianças como sujeitos de direitos, que podem e devem opinar sobre as realidades que as cercam.

Portanto, as caraterísticas físicas dos espaços em que as crianças convivem diariamente nas instituições de Educação Infantil e as relações que se estabelecem nesses espaços, são também fatores que colaboram na constituição dos sujeitos dialeticamente, transformando esses espaços em lugares percebidos e significados a partir das vivências de cada sujeito.

Na investigação, utilizamos os termos espaço e lugar, que apesar de parecidos, guardam significativas diferenças. Partimos, portanto, do entendimento do termo espaço como as características da estrutura física em si, aquilo que pode ser tocado, sentido, visto, vivido, medido e explorado. Já o termo lugar, é entendido como um salto qualitativo, constituído a partir dos sentidos e significados dados aos espaços através das relações vividas com/no espaço. Cada indivíduo significa os espaços experienciados, através de suas vivencias e os transforma em lugares repletos de sentidos (FORNEIRO, 1998; BENCOSTTA, 2005; VINÃO FRAGO, 2005; VASCONCELLOS, 2006; CUNHA, 2008; SIMIANO e VASQUES, 2011; COCCITO E MARIAN, 2017).

Assim, construímos uma pesquisa qualitativa (ESTEBAN, 2010; FILHO, 2010; FREITAS, 2003; BOGDAN e BIKLEN, 1994) , de inspiração etnográfica (SIMÃO, 2014; MARTINS FILHO, 2010; DELGADO e MÜLLER, 2008; ANDRÉ, 1995) e que tem como caminho norteador aportes teórico-metodológicos que orientem no aprofundamento de conhecimentos sobre a realização de pesquisas com a participação direta das crianças (OLIVEIRA, 2001; KRAMER, 2002; CORSARO, 2005; MÜLLER, 2006; MARTINS FILHO e BARBOSA, 2010), estas como colaboradoras ativas na construção dos dados.

A pesquisa foi desenvolvida em um Centro Municipal de Educação Infantil- CMEI, localizado na cidade de Salvador/BA, que atende crianças na faixa etária de dois

(23)

a seis anos em tempo integral organizadas em grupos: Grupo 2, Grupo 3, Grupo 4 e Grupo 5, tendo duas turmas de cada um desses grupos, ou seja, a instituição atende oito turmas de crianças.

Foi realizado um período de observações nos meses de maio e junho de 2019 onde realizamos diversos registros fotográficos, registros escritos em diário de campo e análise do Projeto Político Pedagógico da instituição. Inicialmente, focamos nosso olhar investigativo na rotina diária de todas as turmas, observando o contexto geral da instituição e, em seguida, nos detivemos mais nas observações dos grupos quatro e cinco, por serem os grupos pensados para a realização de entrevistas semiestruturadas, procedimento metodológico denominado por nós como, Desenhando e Conversando com

as Crianças. As entrevistas foram realizadas com 32 crianças.

Na busca pelos significados das crianças, nos aproximamos da teoria da subjetividade desenvolvida por Gonzáles Rey (GONZÁLEZ REY, 2012, 2001, GONZÁLEZ REY, MITJANS MARTINEZ e BEZERRA, 2016, MORI e GONZÁLES REY, 2012, GONZÁLES REY e TACCA, 2008, JUNQUEIRA AQUIAR e OZELLA, 2006), que tem uma perspectiva cultural-histórica e propõe a metodologia construtivo-interpretativa (ROSSATO e MITJANS MARTINEZ, 2018, JUNQUEIRA AQUIAR e OZELLA, 2006) a qual consideramos como aporte que nos auxiliaria a nos aproximar das perspectivas infantis e conseguir uma melhor compreensão do ponto de vista das crianças. Assim, nos aproximamos dos conceitos de significado e sentido subjetivo advindos do bojo da teoria da subjetividade de González Rey. Entendemos que na produção dos significados, as crianças também produzem sentidos subjetivos sobre os espaços que convivem, pois ambos, significados e sentidos subjetivos, não podem ser separados, um não existe sem o outro.

Em relação a compreensão do que sejam os significados, podemos dizer que estes são mais gerais e compartilhados entre os sujeitos, pois

[...] o homem transforma a natureza e a si mesmo na atividade, e é fundamental que se entenda que esse processo de produção cultural, social e pessoal tem como elemento constitutivo os significados. Dessa maneira, a atividade humana é sempre significada. [...] Os significados são, portanto, produções históricas e sociais. São eles que permitem a comunicação, a socialização das nossas experiências. (JUNQUEIRA AQUIAR e OZELLA, 2006, p. 226). Já os sentidos subjetivos são mais fluidos, profundos e são mais precisos para expressar os sujeitos, como apontam Gonzales Rey, Mitjáns Martínez e Bezerra (2016), “Los sentidos subjetivos representan la unidad básica y efimera de lo emocional y lo

(24)

simbólico en el curso de uma experiencia concreta”. (p. 262). Assim o sentido subjetivo é sempre constituído pelo sujeito na sua relação com o mundo, são produções únicas e individuais (MORI e GONZÁLEZ REY, 2012). Portanto, os sentidos subjetivos são mais difíceis de serem apreendidos, pois muitas vezes não são únicos e totalmente definidos, são expressões dos sujeitos que muitas vezes se apresentam como contraditórias e incompletas, e nos indicam os processos vividos pelos sujeitos que influenciam diretamente na sua forma de ser. (JUNQUEIRA AQUIAR e OZELLA, 2006, p. 226). Dessa forma, “O sentido subjetivo não representa um aspecto psicológico pontual, mas adquire significado sempre na integridade dos processos emocionais e simbólicos dos aspectos sociais e individuais”. (MORI e GONZÁLEZ REY, 2012, p. 145).

Assim, Gonzales Rey e Tacca (2008) apontam que é possível afirmar que os aspectos subjetivos das crianças, sua emotividade, os significados e sentidos que vão produzindo no âmbito escolar, “[...] não são percebidos e nem alcançam a preocupação dos professores na relação diária vivida em sala de aula” ( p. 145), o que nos mostra mais uma vez, a importância de produzirmos caminhos para que os significados das crianças, de menos idade, sobre os espaços educativos, sejam efetivamente apreendidos e levados em consideração.

Entendemos que as pesquisas sobre o espaço da instituição de Educação Infantil se tornam um caminho que colabora na percepção de importantes diretrizes sobre a investigação o da cultura escolar e análise das diversas dimensões (educativas, afetivas, sociais, simbólicas, relacionais, de controle ou liberdade dos corpos e mentes).

Portanto, a partir dos preceitos da teoria da subjetividade (GONZÁLEZ REY, 2001; 2012), entendemos que o social e o individual interagem a partir das experiencias vividas e, assim, cada criança, a partir de suas vivencias individuais, no contexto coletivo da instituição de Educação Infantil, vai construindo sentidos subjetivos e significados sobre o espaço que frequenta e concomitantemente, sobre si própria. Embora os sentidos subjetivos e os significados sejam produzidos de forma articulada, ou seja, são indissociáveis, para essa dissertação, optamos em nos dedicar apenas a investigação dos significados que as crianças atribuem aos espaços da instituição ao qual frequentam.

Por fim, remetemo-nos à Lei 9394/96 (BRASIL, 1996) quando afirma que as instituições de Educação Infantil no Brasil, a fim de alcançar seu objetivo de promover o desenvolvimento integral da criança, devem garantir um ambiente adequado, pensado em relação a tempos e espaços adaptados às necessidades e potencialidades infantis. Tais

(25)

ambientes precisam criar uma atmosfera de acolhimento e desafios, fazendo que as crianças pequenas1 se sintam seguras e respeitadas e, da mesma forma, propiciar diversas interações, estímulos, atividades diversas, contato com materiais diversificados, possibilidades de movimento, saberes, brincadeiras, de felicidade.

Então, questionamo-nos sobre os caminhos que devemos trilhar para efetivamente oferecermos às crianças de 0 a 5 anos2 no Brasil uma educação de qualidade, considerando que os espaços e materiais são definidores para essa qualidade.

De acordo com os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006), definir o conceito de qualidade depende do contexto e implica compartilhar, discutir e considerar direitos, valores, necessidades, ideias, experiências e conhecimentos, sendo um conceito relativo e dinâmico que requer constantes revisões e nunca terá uma definição definitiva.

Assim, os Indicadores de Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009) definiram sete dimensões que devem ser avaliadas para a busca pela qualidade das instituições educativas infantis, são elas: Planejamento institucional, multiplicidade de experiências e linguagens; Interações (espaço coletivo de convivência e respeito); Promoção da saúde; Espaços, materiais e mobiliários; Formação e condições de trabalho das professoras e demais profissionais; Cooperação e troca com as famílias; Participação na rede de proteção social.

Diversos documentos legais e publicações, como referenciais, parâmetros, diretrizes entre outros materiais (BRASIL,1994; BRASIL, 1996; BRASIL, 1998a, BRASIL, 1998b; BRASIL, 2000; BRASIL, 2001; BRASIL, 2006; BRASIL, 2009a; BRASIL, 2009b; BRASIL, 2009c; BRASIL, 2010; BRASIL, 2015; BRASIL, 2017), foram produzidos pelo Ministério da Educação (MEC), para subsidiar a/o discussão/reflexão/estudo dos profissionais da Educação Infantil a fim de favorecer a construção de metas e atuações de qualidade com vistas ao desenvolvimento integral das crianças. Entretanto, sabemos que esses documentos e publicações, por si só, não

1 De acordo com os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil (BRASIL, 2009c), são consideradas

crianças pequenas as de 1 ano e meio até 3 anos.

2 Em fevereiro de 2006, o Conselho Nacional de Educação apresenta a Lei n. 11274/2006 que altera a

redação os artigos 29, 30, 32 e 87da LDB n. 9394/96, sobre o ingresso da criança no Ensino Fundamental e o tempo de duração da educação obrigatória que passa a ser de nove anos. Dessa forma se altera o atendimento da criança na Educação Infantil que deixa de ser de 0 a 6 anos para 0 a 5 anos.

(26)

garantem uma mudança efetiva na realidade da prática das instituições de Educação Infantil.

Dessa forma, basta visitarmos instituições públicas de Educação Infantil no Brasil para concordarmos com diversas pesquisas (OLIVEIRA, 2001; LIMA E BHERING, 2006; MARTINS E BRETAS, 2008; SIMIANO E VASQUES, 2011; SANTOS, 2011; MARTINS, 2012; CASSIMIRO, 2012; RICCI, 2016) que mostram que, apesar dos avanços legais e de muitos avanços na realidade direta das instituições de Educação Infantil, principalmente entre os anos de 2005 a 2015, muito ainda tem que ser feito para garantirmos, na prática, os direitos das crianças estabelecidos nos documentos, resultantes de movimentos sociais.

Uma mudança significativa, em relação à qualidade da realidade das instituições de Educação Infantil não é algo fácil e nem acontecerá de forma rápida, como desejamos. A história do atendimento à criança pequena, no Brasil, nos mostra, em seus primórdios, muitas décadas de atendimento precário, onde somente se tinha como objetivo a guarda dos menores, buscado nas práticas compensar carências e desenvolver ações relacionadas aos cuidados corporais. Portanto, mudar essa realidade histórica não se processa de imediato e exige reunião de esforços em várias instâncias para podermos, objetivamente, dar continuidade ao processo iniciado de construção de mudanças sólidas, sejam estruturais, sejam pedagógicas.

Então, diante da realidade ainda, em grande parte, inadequada, das instituições de Educação Infantil no Brasil, Horn (2004, p.14) alerta que “[...] um dos aspectos mais evidentes dessa difícil situação diz respeito à organização dos espaços nas instituições de educação infantil”.

Portanto, Acreditamos que investir em pesquisas sobre essa temática colabora para revelar os cenários da realidade dessas instituições, buscando contribuir com ações que consigam mostrar caminhos que possam realmente ser trilhados para mudanças positivas.

Assim, a presente dissertação, resultante do nosso percurso investigativo, foi sendo estruturada no percurso da sistematização dos dados e organizada em cinco capítulos.

Na Introdução situamos a motivação que nos levou à pesquisa; o objeto de estudo, a questão norteadora e o objetivo. Nela também discorremos brevemente sobre os

(27)

percursos teórico metodológicos e os principais conceitos utilizados na dissertação: espaço, lugar e significado.

O segundo capítulo O objeto de estudo no contexto das pesquisas – estado da arte, situa nosso tema no contexto das pesquisas. Trata de um amplo levantamento bibliográfico, apresentando diversas pesquisas, em âmbito brasileiro, que se aproximam do nosso objeto de pesquisa, buscando assim o avanço do conhecimento cientifico na temática proposta.

O terceiro capítulo De espaço à lugar: a organização dos espaços físicos nas

instituições de Educação Infantil trata de saberes considerados essenciais para a

compreensão e discussão sobre a organização dos espaços físicos nas instituições de Educação Infantil e discute ainda sobre a organização desses espaços pelas vias dos documentos oficiais brasileiros. As sistematizações apresentadas nesse capítulo serviram como fundamento para as análises em relação ao espaço físico da instituição lócus da pesquisa.

O quarto capítulo, Aportes e percursos teórico-metodológicos, apresenta os caminhos e percursos metodológicos da pesquisa e seus delineamentos. Explicita assim, os procedimentos para a construção e análise dos dados. Este capítulo, apresenta ainda o lócus e os sujeitos da pesquisa, trazendo os caminhos percorridos para a construção dos dados.

Por fim, o quinto capítulo, Entre tetos, divisórias e chão surge um lugar: as

percepções e os significados das crianças sobre os espaços do CMEI, apresenta as

categorias da pesquisa, expondo e interpretando os dados construídos.

Encerramos o presente trabalho com as Considerações Finais. Este capítulo foi construído a partir das percepções e significados das crianças acerca dos espaços da instituição de Educação Infantil apresentando os resultados da pesquisa.

(28)

2. O OBJETO DE ESTUDO NO CONTEXTO DAS PESQUISAS – ESTADO DA ARTE

No intuito de contextualizarmos a nossa pesquisa no âmbito das produções acadêmicas estabelecemos um diálogo com outros pesquisadores, buscando trabalhos que abordassem a questão do espaço físico das instituições de Educação Infantil, no âmbito nacional. Dessa forma, buscamos trabalhos publicados na Scientific Electronic Library Online (SIELO), nos anais digitais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) no período de 2000 a 2018.

Assim, consideramos as teses, dissertações e artigos em língua portuguesa e que foram registrados a partir do ano de 2000. Este período (2000- 2018) foi definido por se tratar do início da década, logo após a publicação dos primeiros documentos oficiais brasileiros que apontaram e consideraram a necessidade da organização dos espaços das instituições de Educação Infantil. Os documentos, Critérios para o Atendimento em

creches que respeite os Direitos Fundamentais das Crianças (BRASIL, 1995), Subsídios para o Credenciamento e Funcionamento de Instituições de Educação Infantil (BRASIL,

1998b), Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998a), foram os primeiros documentos a considerar de forma contundente questões relativas a estrutura e organização dos espaços físicos das instituições de Educação Infantil, suscitando posteriormente o desencadear de outros documentos e de pesquisas que buscaram discutir e aprofundar conhecimentos sobre esse tema.

Portanto, utilizamos a busca simples por meio das palavras chaves pré-estabelecidas, são elas: espaço físico, lugar, educação infantil e significados.

Organizamos o conteúdo obtido nas pesquisas realizadas nos bancos de dados selecionados, destacando os seguintes dados das publicações: autor, título, ano, nível de ensino e resumo. O processo de seleção das publicações adotou como critérios iniciais para a inclusão, a análise do título, das palavras chaves, leitura do resumo e a relação com a temática da pesquisa, selecionando as que estivessem relacionadas à organização dos espaços e que tivessem sido desenvolvidas no âmbito da Educação Infantil.

Nessa busca percebemos que não só a área da educação se preocupa com essa questão, posto que o objeto de estudo escolhido tem também despertado interesse em

(29)

outras áreas, como a arquitetura, a geografia da infância, a psicologia ambiental e as ciências ambientais.

Constatamos que a maioria dos estudos analisados consideraram o espaço físico das instituições pesquisadas no Brasil como não adequadas para o trabalho com crianças de 0 a 5 anos, estando na grande maioria, distantes do que as leis ou documentos oficiais brasileiros destacam para a estrutura e organização desses espaços.

Considerando o espaço temporal de dezoito anos, de 2000 à 2018, verificamos que existem poucas pesquisas que buscam discutir aspectos relacionados ao cotidiano das instituições de Educação Infantil e menos ainda as que se preocupam em analisar questões relativas à estrutura e organização dos espaços físicos e materiais, percebendo o impacto desses no que concerne aos direitos das crianças, o que demonstra a necessidade de maior aprofundamento e estudos nessa temática (LIMA e BHERING, 2006; CRUZ, 2009).

No Banco de Teses e Dissertações da CAPES3, selecionamos 14 trabalhos, sendo

11 dissertações e 3 teses: Horn (2003), Agostinho (2003), Sitta (2008), Moura (2009), Simiano (2010), Santos, (2011), Tussi (2011), Cassimiro (2012), Martins (2012), Bezerra (2013), Vieira (2016), Evangelista (2016), Ricci (2016) e Cocito (2017).

No site da ANPED4 fizemos o levantamento das publicações dos Grupos de Trabalhos (GTs), realizadas a partir das reuniões anuais que ocorreram de 2000 a 2018. Selecionamos o grupo de trabalho Educação de Crianças de 0 a 6 anos – GT07. Assim, foram selecionadas quatro publicações deste banco de dados: Agostinho (2004), Lima e Bhering (2006), Gomes da Silva (2006) e Simiano e Vasques (2011).

Das pesquisas constantes na Scientific Electronic Library Online (SIELO5), selecionamos três trabalhos com os descritores utilizados: Elali (2003), Lima e Bhering (2006) e Campos-de-Carvalho e Souza (2008).

Já na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD6) localizamos 5 trabalhos relativos à temática dos espaços físicos na Educação Infantil: Agostinho (2003), Sitta (2008), Evangelista (2016), Klosinski (2016) e Pavesi (2017).

Após a análise final de todas as publicações selecionadas, cruzando os dados entre os 4 bancos pesquisados e excluindo as que constavam em mais de um banco de dados, selecionamos 19 publicações entre teses, dissertações e artigos, que abordam o tema sobre

3 http://bancodeteses.capes.gov.br

4 http://www.anped.org.br/grupos-de-trabalho 5 http://www.scielo.org/php/index.php 6 http://bdtd.ibict.br/vufind/

(30)

os espaços físicos no contexto da Educação Infantil. Das dezenove publicações, dezesseis são da área da Educação, duas da Arquitetura e uma das Ciências Ambientais. Apresentamos a seguir um quadro síntese com os trabalhos encontrados e analisados:

Quadro 1 – Relação das pesquisas do Estado da Arte

Estado da Arte

Título Autor Área do

Conhecimento Ano Instituição/Periódico

O papel do Espaço Físico na Formação e transformação da ação pedagógica do Educador Infantil (Doutorado em Educação)

HORN,

Maria da Graça Souza Educação

2003 Universidade federal do Rio Grande do sul O ambiente da escola – o ambiente

na escola: uma discussão sobre a relação escola–natureza em educação infantil

ELALI,

Gleice Azambuja Educação 2003

Estudos de Psicologia: 8(2),

309-319 O Espaço da Creche: que lugar é

este?

AGOSTINHO,

Kátia Adair Educação 2003

Universidade Federal de Santa Catarina Um estudo sobre creches como

ambientes de desenvolvimento.

LIMA, Ana Beatriz Rocha;

BHERING, Eliana Educação 2006 Cadernos de Pesquisa, v.36, n.129, p. 573-596 Reflexões sobre o diálogo entre

espaços físicos e o cotidiano na educação infantil

GOMES DA SILVA,

Denise Sans Guerra Educação 2006 ANPED

Psicologia Ambiental, Psicologia do Desenvolvimento e Educação Infantil: integração possível?

CAMPOS-DE-CARVALHO, Mara; SOUZA, Tatiana Noronha de Educação 2008 Paidéia, 18(39), 25-40.

Possibilidades de Mediação dos Espaços nas brincadeiras e aprendizagens das crianças na Educação Infantil (Mestrado em Educação e Ciências Humanas)

SITTA, Kellen Fabiana Educação 2008 Universidade Federal de São Carlos Organização do Espaço: Contribuições para uma Educação Infantil de Qualidade (Mestrado em Educação)

MOURA,

Margarida Custódio Educação 2009

Universidade de Brasília Sobre importâncias, medidas e

encantamentos: o percurso constitutivo do espaço da creche em um lugar para os bebês.

SIMIANO, Luciane Pandini

VASQUES,

Carla Karnoppi Educação

2011 ANPED

Dimensão lúdica e arquitetura: o exemplo de uma escola de educação infantil na cidade de Uberlândia. (Doutorado em Arquitetura)

SANTOS,

Elza Cristina Arquitetura 2011

Universidade de São Paulo

O espaço e o currículo: conexões e diálogos sobre as práticas pedagógicas no cotidiano da Educação Infantil. (Mestrado em Educação)

TUSSI,

Dorcas Educação 2011

Universidade Federal de Santa Catarina

Os espaços de Educação Infantil no Campo da Lente das Crianças. (Mestrado em Educação e Contemporaneidade)

CASSIMIRO,

Maria Aparecida D´avila Educação 2012

Universidade do Estado da Bahia A apropriação do espaço escolar:

um estudo de caso em uma pré-escola de Balneário Camboriú.

MARTINS,

Rudnei Joaquim Ciências Ambientais

2012

Universidade do Extremo Sul

(31)

Torna-se relevante ressaltar que um número pequeno dessas pesquisas coloca as crianças como participantes diretos, ouvindo não só os adultos, mas dando especial atenção às falas das crianças, colocando-as em uma posição de seres ativos e competentes, que merecem ter voz e vez nas pesquisas que as colocam como centro do interesse. Destacamos as pesquisas de Evangelista (2016); Ricci (2016) Bezerra (2013); Cassimiro (2012); Martins (2012); Martins e Bretas (2008) e Elali (2003), que apontam a importância da participação direta da criança nas pesquisas que envolvem assuntos diretamente relacionadas ao seu cotidiano. Ressaltamos também que a grande maioria das pesquisas na área da Educação Infantil privilegiam a perspectiva do adulto sobre a da criança, indicando que se fala muito sobre as crianças, mas pouco diretamente com elas. Concordando com essa questão de as crianças serem pouco ouvidas nas pesquisas, Oliveira-Formosinho, Khishimoto e Pinazza (2007) ressaltam a importância das crianças serem vistas, ouvidas e escutadas durante as investigações científicas.

Algumas dessas pesquisas, que ouviram tanto os professores como as crianças, em relação aos espaços físicos das instituições de Educação Infantil, mostraram que os adultos destacam aspectos diferentes sobre os espaços, mostrando a necessidade de ouvirmos as crianças no intuito de buscarmos espaços realmente adequados a atenderem

(Mestrado em Ciências Ambientais)

O Espaço da Educação Infantil: a constituição do Lugar da criança como indicador de qualidade (Mestrado em Educação) BEZERRA, Maurício Santos de Holanda Educação 2013 Universidade Federal de Santa Catarina Imagens da Experiência Educativa

de Professores da Educação Infantil no espaço-ambiente do PROINFANCIA. (Doutorado em Educação)

VIEIRA,

Daniele Marques Educação 2016

Universidade Federal do Paraná

Concepções e expectativas de crianças e profissionais sobre o espaço educacional na Educação Infantil (Mestrado em Educação)

EVANGELISTA,

Ariadne de Sousa Educação 2016

Universidade Estadual Paulista Crianças, fotografias e práticas: o

que dizem os espaços físicos da Educação Infantil. (Mestrado em Educação)

RICCI,

Aline do Nascimento Educação 2016

Universidade Federal do Rio de Janeiro Uma avaliação da implementação

do Programa PROINFANCIA em Erichim: A política dos espaços escolares. (Mestrado em Educação)

KLOSINSKI,

Daniele Vanessa Educação 2016

Universidade Federal da Fronteira do Sul

Do espaço ao lugar: contribuições para a qualificação dos espaços para bebês e crianças pequenas. (Mestrado em Educação)

COCITO,

Renata Pavesi Educação 2017

Universidade Estadual Paulista

(32)

as suas necessidades e seus interesses, colocando as expectativas e opiniões infantis no centro das atenções.

Como exemplo citamos Elali (2003), na área de arquitetura, que na sua pesquisa em 41 instituições de Educação Infantil na cidade de Natal/RN, se propôs a discutir o que o ambiente físico das escolas de Educação Infantil estava ensinando às crianças. No que se refere ao contato com a natureza, a autora destacou que as crianças valorizavam as áreas livres e o contato com a natureza, e que os adultos preocupavam-se mais com os aspectos estéticos e com a sala de aula.

Portanto as 19 pesquisas selecionadas, apesar de possuírem vários objetivos diferentes, buscaram analisar as configurações dos espaços físicos de creches e pré-escolas, algumas se aproximando, outras se distanciando mais, dos objetivos propostos para nossa pesquisa.

Em sua pesquisa de doutorado, Horn (2003) buscou conceituar e entender o espaço da Educação Infantil, na perspectiva socio-interacionista. Teve como foco a questão da organização das salas dessas instituições, demostrando como que a reflexão teórico-prática da professora e a valorização do protagonismo infantil, colaboraram para a transformação dos arranjos espaciais nas salas, modificando a atuação docente junto às crianças, os planejamentos e a rotina diária.

Elali (2003), em sua pesquisa, destaca a preocupação com a diminuição dos espaços para brincadeiras nos ambientes sociais das crianças e a diminuição também do contato com elementos naturais nas cidades e ambientes familiares. Dessa forma o estudo atribui grande importância para os espaços das instituições de educação infantil na atualidade, que veem assumindo serem um dos únicos ambientes em que as crianças pequenas têm para se movimentar livremente, brincarem juntas e estabelecerem um maior contato com a natureza.

Na realização da pesquisa de Elali (2003) foram visitadas 41 instituições de Educação Infantil, onde se percebeu que a maioria das edificações ocupava um percentual maior do espaço do terreno do que o permitido pelo plano diretor da cidade, e que ainda a maioria dos espaços abertos eram calçados ou com pisos e que somente 30% das instituições tinham algum espaço arborizado. Verificou-se também que as áreas para brincadeiras eram totalmente impermeabilizadas e existia uma quase-ausência de elementos da natureza. Esses fatores foram justificados na maioria das escolas como uma forma de facilitar a manutenção e limpeza dos espaços.

(33)

Fizeram parte dessa pesquisa pais, professores e crianças. Percebeu-se que as crianças valorizavam as áreas livres e o contato com a natureza, e que os adultos preocupavam-se mais com aspectos estéticos e com a sala de aula, concluindo que apesar dos ambientes para a Educação Infantil devessem ser prioritariamente pensados para as necessidades infantis são diretamente controlados e socialmente construídos a partir das necessidades e interesses dos adultos.

O estudo de Agostinho (2003), também apontou para a falta de espaços coletivos para a infância na atualidade, concordando com Elali (2003) sobre os espaços das instituições de Educação Infantil serem hoje espaços importantes para se viver a infância. A pesquisa de Agostinho (2003) teve como objetivo analisar os espaços físicos, suas configurações e distribuições em uma creche da rede regular pública, tendo como foco a forma como as crianças ocupam e se relacionam com o espaço.

A pesquisa de Lima e Bhering (2006) teve como objetivo avaliar as condições dos ambientes educativos para crianças pequenas em cinco centros municipais de educação infantil no estado de Santa Catarina. O estudo aponta que no Brasil, os ambientes físicos destinados à Educação Infantil, são ainda, considerados de forma geral, como inadequados, e que a organização desses ambientes é influenciada pelas características dos contextos de vida das crianças e que a quantidade e a qualidade das interações estão relacionadas pelo arranjo espacial do local.

A pesquisa ressalta a discussão da organização dos ambientes destinados à criança pequena indicando que dessa forma é possível estabelecermos critérios e parâmetros importantes no desenvolvimento de programas educativos que atendam às necessidades das crianças, nas diferentes faixas etárias e aponta a urgente necessidade de pesquisas que reflitam sobre a qualidade dos espaços das instituições de Educação Infantil no Brasil.

A pesquisa de Silva (2006), buscou através do trabalho de campo, aliados a pesquisa bibliográfica, compreender as possíveis interferências causadas pelo espaço-ambiente ao processo de construção de conhecimentos em duas creches na cidade do Rio de Janeiro, percebendo e destacando os afetos que essas configurações espaciais, com seus materiais e mobílias, despertam nas crianças e adultos.

Silva (2016) concluiu que, nas creches pesquisadas, os afetos que os espaços podiam despertar, não são levados em consideração na elaboração dos projetos arquitetônicos e na organização das mobílias e materiais. Verificou-se que são levados

(34)

em consideração critérios de manutenção e durabilidade e não as necessidades, incluindo as afetivas, das pessoas que nele frequentam.

O trabalho defende que o foco da Educação Infantil são as crianças, que são as principais usuárias das espaços e materiais e que a opinião das mesmas deve ser levada em consideração nos estudos arquitetônicos para projetar os espaços das instituições.

Campos-de-Carvalho e Souza (2008) realizaram uma pesquisa que teve como objetivo mostrar como a Psicologia Ambiental, a Psicologia do Desenvolvimento e a Educação Infantil estão sendo integradas em pesquisas empíricas com foco na organização espacial em creches. O estudo parte da compreensão de que o conceito de organização espacial engloba vários aspectos como segurança, conforto, identidade pessoal, motivação, autonomia, arranjos espaciais, privacidade, contatos sociais, ressaltando que o modo como os espaços educacionais são organizados podem tanto favorecer quanto dificultar a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças.

Aponta que os estudos na área da Psicologia Ambiental compreendem a organização do espaço como um elemento curricular e que essa compreensão ainda é, infelizmente, uma novidade na área da Educação Infantil. Indica ainda, que as pesquisas sobre desenvolvimento infantil, em sua maioria, negligenciam as características físicas dos contextos nos planejamentos de ambientes coletivos para crianças.

A pesquisa foi realizada em creches filantrópicas, universitárias e públicas que após modificar o local do mobiliário das salas verificou a mudança no comportamento das crianças contribuindo para a compreensão da interdependência entre o arranjo espacial e o papel estruturador da educadora como propiciadores de interações de crianças, tanto entre elas mesmas como com o adulto.

A pesquisa de Sitta (2008), realizada em centros municipais de Educação Infantil, no municio de São Carlos (SP), partiu da concepção de que os espaços físicos, destinados às atividades de brincadeiras, nas instituições de Educação Infantil, podem se tornar bastante relevantes na mediação do processo de aprendizado e desenvolvimento infantil, reconhecendo a brincadeira como atividade principal da criança.

Como resultados, concordando com Lima e Bhering (2006), a pesquisa aponta a necessidade de profundas reflexões sobre as inadequações relacionadas à estrutura física e a organização dos espaços nas instituições analisadas, reconhecendo a grande relevância desses espaços na mediação das aprendizagens das crianças por meio das brincadeiras. A pesquisa aponta também, que as brincadeiras e a mediação das professoras, exercem

(35)

influência no espaço, como também, o espaço exerce influência nas possibilidades de brincadeiras e mediação docente, sugerindo então um movimento reciproco e continuo entre os espaços, as brincadeiras e a mediação docente.

Moura (2009), em sua pesquisa de mestrado, discute como a organização dos espaços contribui para uma Educação Infantil de qualidade, promovendo o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Para isso, destaca que os espaços físicos devem oferecer ambientes diversificados, desafiadores e convidativos à criação, imaginação, à ludicidade e às relações saudáveis das crianças com os objetos, com seus pares e com os adultos com quem convivem.

A pesquisa foi realizada em uma instituição de Educação Infantil na cidade de Brasília, concluiu-se que a organização dos espaços investigados, ofereceu às crianças a oportunidade de serem protagonistas no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento, tento portanto, a organização espacial analisada, contribuído de forma significativa para uma Educação Infantil de qualidade.

Outra pesquisa que também se preocupou em entender as influências do espaço físico em contextos educativos e os significados desse espaço foi a de Simiano e Vasques (2011). Os autores tiveram como foco o processo de constituição do espaço da creche em um lugar para os bebês questionando sobre quais são as configurações físicas privilegiadas para o atendimento de bebês e como a ocupação e relações estabelecidas no espaço entre bebês e adultos constitui-se em lugares dos/para bebês. Buscou-se perceber as configurações dos espaços físicos como arquitetura, mobiliário, brinquedos e aspectos estéticos e funcionais bem como as formas de ocupação, as relações e experiências dos bebês em suas ações individuais e partilhadas com o espaço e com outros bebês, com crianças maiores e com adultos.

A pesquisa denuncia a estrutura inadequada da creche, percebendo-se uma carência significativa de mobiliários, equipamentos e brinquedos adequados para educar e cuidar dos bebês e percebe a importância do adulto como colaborador ativo no processo de atribuição de sentidos e significados por parte dos bebês sobre o mundo que os cerca. Trazemos ainda como importante colaboração a pesquisa de Santos (2011), na área da arquitetura, que teve como objetivo compreender o espaço escolar, contextualizado e delimitado nas escolas que atendem a criança de zero a seis anos de idade e a partir desse estudo elaborar um projeto de arquitetura para uma escola de

Referências

Documentos relacionados

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

A proporçáo de indivíduos que declaram considerar a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro no futuro é maior entle os jovens e jovens adultos do que

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Para entender o supermercado como possível espaço de exercício cidadão, ainda, é importante retomar alguns pontos tratados anteriormente: (a) as compras entendidas como

Portanto, mesmo percebendo a presença da música em diferentes situações no ambiente de educação infantil, percebe-se que as atividades relacionadas ao fazer musical ainda são

Este estudo apresenta como tema central a análise sobre os processos de inclusão social de jovens e adultos com deficiência, alunos da APAE , assim, percorrendo

Avaliou-se o comportamento do trigo em sistema de plantio direto em sucessão com soja ou milho e trigo, sobre a eficiência de aproveitamento de quatro fontes