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O diaconado permanente ao longo da história: da emergência ao desaparecimento

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E TEOLOGIA

DEZ zoo8 REVISTA DA FACULDADE DE TEOLOGIA - PORTO

CONADO

ERMAN ENTE

EtEMENTOS PARA UMA REFLEXAO

ATOLICA

DE 71SCLIMI A

(2)

HUMAN ISTIC.A

E TEOLOGIA

Universidade Cate)lica Portuguesa

Centro Regional do Porto

Faculdade de Teologia

Humanistica e Thologia

Publicagâo Semestral ISSN 0870 - 080 X

Ano 29 -Dezembro de 2008 - Fasciculo 2 Director

Arnaldo de Pinho Consent° de Direcgio Antonio do Carmo Reis Jose Acécio Aguiar de Castro

Manuel de Pinho Ferreira Manuel da Silva Rodrigues Linda Edicalo e Propriedade

Faculdade de 'leologia

Rua Diogo Botelho, 137 4169-005 PORTO-PORTUGAL Tel. 226196200 Fax. 226196291 email: humanteol@porto.ucp.pt Assinatura Anual

Portugal - 25.00 Euros Europa - 40.00 Euros Fora da Europa - 55,00 Euros Faaciculo Avulso

Portugal - 12.50 Euros Cape a Plights* Marco Fidalgo bnpressio

Rainho & Neves, Ida - S.M.Feira Depesito Legal

(3)

}

1 .2

0 Diaconado

Permanente ao longo da

HistOria: da emergência

ao desaparecimento

0 diaconado como ministerio permanente, depois de urn periodo de

emergencia e consolidacao ate ao seculo IV, entrou num processo de crise

que conduziu ao seu desaparecimento ao longo da Idade

Manteve-se apenas como degrau do percurso pare o presbiterado. A restauragao do

diaconado permanente viria a ocorrer no II concilio do Vaticano Mesmo que

nab signifique exclusivamente o regresso a urn ministerio outrora existente e

entretanto desaparecido, nee he dfivida que os padres conciliares quiseram

o diaconado permanente na fidelidade a tradigeo e a descoberta da sua

identidade irk prescinde de urn other retrospectivo.

0 breve escudo que empreendemos pretende favorecer a compreensao

do ministerio diaconal nas suss origens e perlodo eureo e a percepceo das

razaes da sua ulterior decadencia. Recolhendo de relance os dados da Sagrada

Escritura, convergimos pare os elementos de configuracao do diaconado

presentes nos padres da Igreja, quer no pedodo da emergencia do ministerio,

quer na rase do seu desenvolvimento a consolidactio, pars concluirmos com

uma alusgto ao diaconado ferninino. Num segundo momento, estudamos a crise

e o desaparecimento do diaconado permanente, reportando-nos as ter-sees

Recorremos as seguintes siglas pant identifies' as edicCes des for ges ufilizadas: PC -Patrologia

Curses Completus. Series Greece, dir. por 5.-P Migne, Lutetiae Parisiorum: Migne, 1857-1866;

PL -Petrologic Curses Completus. Series Latina, dlr. per 3.-P Migne, Lutetiae Parisiorum: Migne, 1844-1864; SC -Sources C72retiennes, Paris: Cart, 1942-.

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HUMANISTICA E TEOLOGIA DA EMERGENCIA AO DESAPARECIMENTO 39

entre diéconos a presbiteros, ao processo de sacerdotslith.geo dos ministerios em vincula* directa corn a eucaristia, ao distanciamento do .diaconado do servigo da caridade e a imposigao da continencia aos ministos ordenados, didconos incluidos.

A abordagem hisbrica do diaconado permanente nap se afigura sem obstaculos. Os testemunhos relativos ao seu aparecimento, nao sendo muito numerosos, mostram-se, por vezes, parcos na sua caracterizageo. Sea mais abundantes e nalguns casos mais clarificadores path os seculos III e IV, se bem que seja conveniente precavermo-nos dos riscos duma generalizageb dos elementos recolhidos nos documentos fundamentals, nomeadamente a

Didascalia dosApOstolos, a 7}-adicáciApostOlica e as ConstituigijesApostdicas.

No estudo do diaconado ate ao seculo IV optamos por recensear por faces os principals testemunhos, pare deles extrairmos o entendimento essencial do ministerio, tendo em conta a cronologia da sua evolugdo. No que se refere a crise e ao desaparecimento do diaconado como ministerio permanente, °Warms por tuna metodologia diverse Situando-nos num tempo mais largo, compreendido entre os seculos NN e nao seria possfvel arrolar diacronicamente os verbs testemunhos, agora mais numerosos. Preferimos, pals, compreender o ocaso do ministerio diaconal, a partir da individuageo dos factores que conjuntamente o podem justificar, recorrendo as Pontes corn urn intuit) de demonstrageo a clarificageo.

1. Das origens a consolidagdo do diaconado

As primeiras referencias ao diaconado no Novo Testament° prolongam-se durante a idade antiga, ate a consolidageo e desenvolvimento do ministerio je nos seculos Ill e IV. Nesta fase desenvolveu-se tambem no oriente o ministerio das diaconisas, para o ensino, coadjuvageo na celebracao baptismal e assistencia caritativa as mutheres.

1.1 Um olhar sobre o Novo Testament°

A procura da origem do ministerio diaconal conduz-nos quase instantaneamente a collier os dados neotestamentarios. Ma e, todavia, uma tarefa simples e imediata, porquanto os termos diálconos (servidor) ou diakonfa (servigo) rue° se revestem do sentido estrito do ministerio do diacono no seu desenvolvimento posterior. Alias pode conceber-se a dialconla como algo de especifico da mensagem neotestamentaria no seu conjunto, tendo em conta quer a frequencia do use do termo, em confronto corn a maior contengeo do

mesmo e a sua utilizageo num contexto nao religioso na Verse° dos Setenta, quer o seu alargamento semantic° ao servigo ou ministerio. Este catheter mais generic° pode verificar-se na prOpria atribuigen da terminologia a Cristo, a Paulo ou aos apestolos (Cf. Mt 20, 28; Rom 15, 8; Ef 3, 7; Act 1,17), cuja diakonfa pode certamente inspirar a configurageo do ministerio diaconal, mas de quern nao pode dizer-se serem dieconos na ulterior significagen do termo2.

Entre os textos do Novo Testament° que a tradigeo, no seguimento de Ireneu de Liao', remeteu para o ministerio diaconal, encorra-se o da instituigeo dos sete para o servigo da caridade nas comunidades helenisticas (Act 6, 1-4). 0 texto deixa abertura para que possa pensar-se num ministerio e nao numa meth fimgeo sOcio-religiosa no seio da comunidade primitive, como pode reveler o gesto da imposigeo das meas. Contudo, nao parece referir-se especificamente ao ministerio do diecono, nao so porque os sete nao são ditos literalmente dieconos, mas tambem porque o termo diakonfa e referido quer ao servigo das mesas, quer ao servigo da palavra, que os apOstolos reservam para si.

A palavra dinkonos encontra algum acolhimento no epistolario paulino nao so referida a Cristo ou ao prOprio Paulo, como ja aludimos mas tambem a alguns dos principals colaboradores do apOstolo, como limeiteo (1 Tbs 3, 2; 1 Tim 5, 6), Febe (Rom 16, 1-2), Epafras (Col 1, 6-8; 4,12-13; Fm 23) e Tiquico (Ef 6, 21-22; Col 4, 7-9; 2 Tim 4, 12; 7)1 3, 12). Prescindindo duma anélise especifica de cada caso, as incerte7gs tornam mais segura a escolha duma significageo mais ample.

P6e-se a hipdese dum sentido mais especifico em FYI 1 1, tuna saudageo de Paulo e ThnOteo a comunidade de Filipos, =corn os seus bispos e diAconos». 0 binantio bispos/dieconos pode indiciar uma especificageo ministerial, permitindo que, em hipOtese, se possa falar da primeira referenda biblica ao ministerio dos dieconos. Nao e seguro, Porem, ainda este significado especifico, ate porque nos situamos num quadro de falta de precise° ministerial, verificavel nomeadamente tambem na referenda aos bispos, cujo plural inclula possivelmente ainda os anciAos/presbiteros da Igreja de Efeso, segundo Act 20, 17-28. De qualquer forma o texto nao concretize os aspectos 2 Cf. Joseph Lectrysa. Les Diacres dens is Nouveau Testament, in Le Diacre dens Itglise et is Monde d'aujourd'hui (= Unam Sanctam 69), Paris: Cerf, 1966, 15-16; Michel Cmcoutr - Bernard

hOLLE, I Diacont Vocations e Mission& (= Cammini di Chiesa 14), Bologna: EDB, 1992, 48;

Co-eussAo Taoraoicr! brrsauncioNAL, Dieconado. Evolugao e Perspectives, Lisboa: Communio - Rei dos Ltvros, 2003, 20-21.

3 Cf. Imam DE Lao, Adversus Heereses, I, 26, 3 : SC 264, 348-349.

' Cf Serena ZARPONI, I Diaconi nelle Chiesa. Ricerce Storks e Tbologka sul Dieconato (= Ilso-logia We 2), Bologna: EDB, al991, 17-19. Zardoni attibui o significado mats generic° a Timeteo, a quem a tradigao fez bispo de ties°, a path da referancia paulina da sua permanencia na cidade (1 77m 1, 3) a nao se pronuncia sabre Febe, que lemma a qUestao do diaconado feminino. Quanta

aos restantes sendo-lhe impassive! uma afirmagáoapodIctica, coloca pelo menos a hipatese dum

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do exercicio do ministerio diaconal', colocando apenas os diaconos ao lado dos bispos5.

Mais especifico, mas tambem mais tardio, 6 o use do termo em 1 Tim 3, 8-13, Pertencendo as cartas pastorais, o inciso situa-se no ambit° da organizacao e da vide concreta das comunidades, apresentando neste caso urn conjunto de achegas sobre o comportamento dos escolhidos, reveladoras dum cargo de responsabilidade na comunidade. Os dikonos hao-de ser dignos, sinceros, sObrios ou moderados na bebida, honestos, coerentes na vide com a fe professada. Relativamente a vide familiar, O-lhes exigido o mesmo que aos bispos: desposados uma so vez; competentes na °tentage° dos filhos e da case.. Distinto do ministerio dos bispos, mas sem que se especifique a diferenca nem se indique a sua essencia, o ministerio diaconal sobrevem como urn chamamento que exige discernimento da comunidade, sendo prescrites aqueles que o abracam as mesmas qualidades que genericamente se pedem a todos os fieis, exceptuando a exclusao do segundo matrimOnicA

We° sendo possivel identificar inequivocamente o ministerio diaconal nos textos neotestamentarios, a nao ser ja tardiamente, pode admitir-se a emergéncia do ministerio em ambiente heleristico a medida que as comunidades se foram organizando e foram caminhando da estrutura mais carismatica initial, com verios ministerios subordinados a Paulo, pars uma major necessidade de estniturack e furacao. Esta necessidade, em momento posterior, conduziu a uma maior visibilidade do ministerio, expressive ja da sua presence e relevencia nas comunidades misfits. Os dados neotestarnentirios nao deixam, ponm, de evidenciar a atenceo da comunidade primitive aos pobres e necessitados e uma espiritualidade de servigo que caracterizava os cristaos no seu conjunto e sobretudo os seus ministros, de tal modo que tambem configurou progressivamente o diaconado7

1.2 A emergencia do diaconado ao longo do seculo

0 ministtio diaconal jetreferidono Novo Testament° foi emergindo ao tango do seculo II, como testemunham os Padres ApostOlicos. Estes correspondem a uma 6poca de transigeo entre a fase de elaborack neotestamenteria, em que se estruturou a revelack, e o tempo da Igreja que, na fidelidade ao depOsito da fe e guiada pelo Espirito, conservou e adaptou aos desafios do tempo os dados revelados. Situa-se entre finais do seat I e meados do seculo II. Os ' Cf. &mama, Diaconi nella (Mesa 15•John N. Counuos, Los DiSconos y Is IgIesia. Conexiones antra lo ilntiguo y Io Nuevo, Barcelona: Herder, 2004, 69-70.

° Cf. ZARDONI, Diaconi nella Clilesa, 15-17. Cf. LECUIER, Diacres 26

Padres Apostalicos, enquanto progrediram na f6 pelas mks dos apOstolos, representarn no essencial urn desenvolvimento avalizado do seu pensamento. Neles podemos recensear prirneiramente o binOmio bispos/diaconos, ja conhecido de Fl) 1,1. A Carta de Clemente de Roma aos Candies de finis do seculo I, procura fundamentar teolOgica e historicamente esses dois ministerios, entendendo-os a partir da accao missionaria dos ap6stolos e com o intuito de Ihes suceder, na referenda a boa-nova que lhes foi confiada por Jesus:

=Os apOstolos receberam pare nos a boa-nova pelo Senhor Jesus Cristo; Jesus, o Cristo, foi enviado por Deus. Portanto Cristo vem de Deus, os apOstolos vem de Cristo, as duas coisas sairam em bela ordem da vontade de Deus. Receberam pois instrugOes e, cheios de certeza pela ressurreicao de nosso Senhor Jesus Cristo, consolidados pela palavra de Deus, com a plena certeza do Espirito Santo, partiram a anunciar a boa-nova de que o reino de Deus havia de vir. Pregavam nos campos e nas cidades e estabeleciam as suas primicias, apreciavam-nas pelo Espirito Santo pan delas fazerem os bispos e os dikonos dos futuros crentes. Nisto nada havia de novo; pois que desde ha muito tempo a Escritura falava dos bispos e dos diaconos; algures esta corn efeito escrito: "Estabelecerei os seus bispos na justice e os seus diaconos a WO. Tambern a Didaché, de finals do seculo I ou inicios do seculo II, regista esta organizacao binaria insistindo nas qualidades subjacentes a eleiclio: .Procurai, pois, bispos e dikonos dignos do Senhor, homens benignos, desinteressados, verdadeiros e seguros, pois que tambOm eles exercem junto de vOs, o cargo de profetas e doutoreso9.

Ambos os textos, mesmo nao concretizando o que ocupa os dois ministerios, ao coloca-los lado a lado, reconhecem-lhes uma consistencia prOpria e uma relack estreita. No primeiro texto, os bispos e ("recoups sobressaem relativamente aos presbiteros, referidos a parte e sempre no plural, numa plausivel referenda a gum conjunto de tarefas e pessoas colegialmente responseveis pela vide comunitaria, nab urn ministerio especifico e personalizadoom. Desconhecendo-se na Didaché qualquer menck dos presbiteros, podem, todavia, reconhecer-se aos bispos e diaconos fungees particulates, nomeadamente no campo litargico, dada que o pals inical liga a extracto ao ninnero anterior, que trata da fraccao do peo ao domingo. A Didaché coloca pela primeira vez em reface° diaconado e eucaristia, mesmo ° ashcans DE Row. Carta aos Corintios, 42, 1-5 : SC 167, 168-171.0testa clefs 60, 17,

moditcan-do o passo com muita liberdade. 9Didache, 15, I: SC 248, 192-193.

le Gottfried HAMANN, Storia del Diaconato. Dal Cristianesimo delle Orlgini at Rilormatori

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42 HUMANNTICA E TEOLOGIA DA EMERGENCIA AO DESAPARECIMENTO 43

se nao explicita em que consistell.

Sera back) de Antioquia, martir sob Trajano (98-117), a testemunhar-nos nas suns cartas pela primeira vez o ministerio tripartido, em que os presbiteros e os diaconos actuam sobre a autoridade de urn so bispo: 'Do mesmo modo todos respeitem os diaconos como a Jesus Cristo, assim como o bispo, que a imagem do Pal, e as presbiteros que representam o senado de Deus e assembleia dos apastolos. Sem eles net) se fala de Igreja"12; aSegui todos o bispo, como Jesus Cristo segue o Pai; segui o cológio dos presbiteros como os apastolos; quantoaos diaconos, respeitai-os como &lei de Deus'''. Nas cartas de Mad° e muito clara a dimensao cristolOgica e eclesiológica do diaconado: sae diaconos de Cristo, ao servigo da Igreja de Deus. Nao se encontram, contudo, tambem nelas concrettagOes do seu minister-to, para quern se pede apenas o respeito preprio dos mandatarios de Deus. Atriade antioquena, acrescentando presbiterado ao binamio antecedente, parece indicar que o segundo grupo pode ter adquirido especificidade pelo cumprimento de fungOes de suplancia episcopal. No meio de algumas incertezas, a certo que o monoepiscopado — Inacio usa a singular quando se refere ao ministerio episcopal — adquire relevancia, agrupando a sua voila dois tipos de colaboradores, os presbiteros e dieconos, que progressivamente vao adquirindo consistencia.

Importante era tambem para o bispo de Antioquia a atengao a vide moral dos diaconos, por servirem os misterios de Cristo. Atprecis° que os diaconos,

sendo ministros dos misterios de Jesus Cristo, agradem a todos de toda a maneira. Pois eles nao sao ministros de alimentos e bebidas, man servem a Igreja de Deus. E preciso pois que Stem qualquer motivo de censure, como se evita o fogo,". Este cuidado com a conduta dos didconos, que ja conhecemos de 1 Tim 3, 8-13 e da Didaché, a tambem reiterado por Policarpo de Esmirna, que invoca a mesma motivagao cristolOgica de Inacio•

=De igual forma, que os diaconos sejam irrepreensiveis diante da sua [de Deus] justice. Sao servidores de Deus e de Cristo, e nao dos homens: nem calunia, nem duplicidade, nem nor ao dinheiro; sejam castos em todas as coisas, compassivos, zelosos, andando segundo a verdade do Senhor que se tornou servidor [diékonos] de todosa's. 0 modelo temario antioqueno do inicio do seculo II estendea•e, a partir de meados do seculo, a todas as comunidades..Antes, porem, devem ter convivido modelos diferentes, como parece indiciar 0 Pastor de Hermas,

Cf. zARDosi, Macon: nella Chiesa, 22-23; HAMANN, Stone del Diaconato, 32.

''INAcso DE Amlootm, Carta aos Tralianos Hi 1' SC 10, 96-97. " INA= ns Annagna, Carta aos Esmanenses, VIII, 1 : SC 10, 138-139.

NINA= DE AnncouiA, Carta aos Tralianos, II, 3 : SC 10, 96-97.

I' Palermo DE Enteritis, Carta aos Pilipenses, V, 2 : SC 10, 182-183.

datavel de meados do seculo H, ao testemunhar num passo a lideranga eclesial de presbiteros e noutro a de bispos a diaconos'6. A referencia aos diaconos neste texto, denotando o seu mau desempenho e consequente necessidade de penitencia, permite constatar as atribuigOes diaconais no ambit° caritativo, nomeadamente no cuidado das vinvas e dos Orfaos. 'Os que tam manchas sac) os diaconos, que agiram mal no seu ministerio, que subtrairam a subsistancia das vinvas e dos Orfaos e enricrueceram com os recursos que tinham recebido para os socorren".

0 empenho do diaconado na liturgia, que ja se entrevé na Didachè, confirmed° por Justin°, Masai° e apologista do seculo II. Os diaconos aparecem explicitamente com lunacies no quadro da eucaristia dominical presidida pelo bispo. Enquanto este preside, anuncia a palavra a consagra a eucaristia, o didcono e entendido como ministro da comunhao eucaristica, distribuindo-a a assembleia celebrante e levando-a aos ausentes. Ao narrar a eucaristia, Justin° refere-se ao diaconado em dais momentos:

— ../kpas o presidente ter dada graces e aclamado todo o povo, os que entre nas se chamam diaconos, dao a cada urn dos assistentes parte do pao e do vinho e da aqua sobre que se disse a acaao de gragas"'6.

— gEntaa vem a distribuigão e participagao, par parte de cada urn, dos alimentos consagrados pela wad() de graces e o seu envio por meio dos diaconos aos ausentes"'9.

O diaconado, qual ministerio dinamico ate pela idade mais jovem dos que o abragavam, emerge assim em estrita colaboragao corn o episcopado, ligado ao exercicio da caridade e a vide litUrgica. Neste, porem, a marca caritativa nao deixa de estar presente, sobretudo p'ela vinculageo do diacono tarefa de lever a eucaristia equeles que nao puderam participar na assemblaeia eucarfstica. De facto, era a caridade e o servigo que mar:cavern o diaconado, mesmo quando o diecono exercia fungOes litUrgicas. Se culto e caridade possufam uma vincula* recfproca, os diaconos, destinados sobretudo ao servigo da caridade tambem serviam na acgão litargica. 0 seu ministerio em torn do altar convergia depois no servigo aos pobres e doentes, pare quem eram sinal eficaz da caridade de Cristo".

m Cf. HERNIAS, 0 Pastor, 8, 3; 103-104: SC 53 Ms, 96-97.342-347. '7 HERNIAS, 0 Pastor, 103, 2 : SC 53 Isis, 342-343.

JUSTIN°, Apologia I.65, 5, inPadresApologetas Griegos (s. 1.0 MC 116), ed. Daniel Ruiz

Bue-na, Madrid: Biblioteca de Autores Cristienos, '1979, 256. Ig Jusviso, Apologia I, 67, 6, in Padres Apologetas, 258.

2° Cf. Welter CROCE, Histoire du Diaconat, in Diacre dens I'Eglise, 39; Philippe WARMER, Le

Die-conat, Paris: Les Editions Ouvrieres, 1994, 46; Adelbert G. 1-Immans, La Vida Cotidiana de los Pri-meros Cristianos. Un APasionante Viaje por Nuestras Rakes (= Arcaduz 37), Madrid: Palabra

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1.3 Desenvolvimento e consolidacäo do diaconado nos seculos III e IV Os seculos III e IV testemunham o desenvolvimento e a afirrnagao do ministerio diaconal. Prescindindo duma apresentagao exaustiva dos textos, porque agora mais abundantes, consideremos os de maior significado.

A Didascália dos ApOstolos, um texto do inicio do seculo III nascido no contexto cristao da Siria, mostra que o ministOrio dos diaconos entretanto se tinha desenvolvido e atingido enorme prestigio ao servigo do bispo, dos irmaos e da liturgia21. No servigo do diecono ao bispo, de quern dependia directamente, resulta uma comunhao analoga a que existe entre o Pai e o nth° na Trindade:

.Deveis former urn so corpo, como pal e filho, tendo sido feitos segundo o modelo da divindade. 0 diecono deve fazer saber tudo ao bispo, como Cristo ao Pei; o diacono deve cumprir o seu clever, deixando o juizo ao bispo; mas a ele o ouvido do bispo, a sua boca, o seu coracao, a sua alma, como dois corn uma sO vontade: nesta comunhao a Igreja ten a paz:022. Relativamente aos irmaos, o servigo do diacono tomava por modelo o servigo de Cristo:

(Como o nosso Salvador e Mestre dig% no evangelho: 'Aquele que quiser ser grande entre vOs, far-se-d vosso servo, tal coma o Filho do homem que nao veio pan ser servido, rims pan servir e der a sua vide em resgate de muitos (Mt 20, 26-28). Ws, dieconos, deveis faza o mesmo, mesmo se tal comporte o dar a vide pelos vossos irmaos, pela diakonfa que tendes de cumair [...] Se portento o Senhor do ceu e da terra nos serviu e sofreu e aguentou tanto por nOs, quanto mais nao o devemos fazer pelos nossos irmaos pan que sejamos como Cristo, a quern lamas que Star E necessario, portent° que vas diaconos visiteis aqueles que tern necessidade, e daqueles que scatem tribulagOes informeis o bispo, de quern deveis set a alma e a inteligéntha, agindo em suns vezes e obedecendo-lhe em tud0,23 0 diacono nao s6 ajudava

as

pessoas necessitadas como recolhia as ofertas, lasitava, ajudava, lavava os pas dos velhos e doentes e cuidava dos &race e vitives. 42008, 135.

"1 Cf. ZARDONL Diaconi nella China, 34-36; Michele BENNARDO - Lorenzo Bornata- Benito Comm,

q Diacono. Mk Cosa Th. Cane Diventado, Cantapula (lbrino): Effete, 2007, 41.

DirigrA /is dOSAP65t0103,a 44, in R Hugh Carlow, Didascalia Apostolorum, Oxford; Claren-don Press, 1929, 109, Halmos a edigao on-line: www.bornbaxo.com/didascalia.htral (3/10/2008). Cf. Hawn. Vida Cotidiana, 154.

Didascidia dos ApOstolos, Ill, 13. in CONNOLLY, Didascalia, 148-150. Cf. Walter Calyx, Histoire du

Diaconat, 37; Hubert REWARD, Diaconat et Solidarite, al.: Salvatot; 1990, 36-37.

Competa-]he toda a organizegao da actividade caritativa da Igreja 0 context() de ilicitude e, por vezes, de perseguicao em que o aistianismo progredia nao deve ter sido alheio a toda esta accao ao servigo dos irmaos.

Ao servigo da liturgia, o diecono empenhava- se na organizagão pan que tudo corresse bem, nao possuindo propriamente funcOes no ambit° da celebracao da eucaristia. Cabia-lhe a atribuigao dos lugares, o acolhimento dos estrangeiros e peregrinos, a recolha das ofertas, o zelo pela discipline e pelo silencio, a vigilancia sobre a decencia des vestes24.

Coloca-se na Didascalia o problema da relacao entre presbiteros e dieconos. Sendo estes designados em terceiro lugar, ap6s os bispos e os presbiteros, nao deixam, contudo, de ver reconhecida a sua relevancia, pole sac comparados a Cristo, enquanto os presbiteros o sao aos apOstolos. 0 aumento do prestigio dos dieconos is anunciando algumas dificuldades nas relagOes entre eles e os presbiteros".

A 7'radigA o Apostalica atribuida a HipOlito de Roma, tambem do inicio do seculo III, apresenta pela primeira vez o estatuto teolOgico e juridico do diacono na Igreja, incluindo-o no grupo dos ordenados pela imposicao des maos do bispo, em contraposigao corn os ministerios instituidos22. A vinculacao sacramental do diacono ao bispo 6 significative da sua vinculacao existencial, tanto mais que 6 ordenado para o servigo do bispo:

ordenacao do diacono, somente o bispo the imponha as Maas porque ele [o diacono] nao e ordenado para o sacerdOcio, mas para o servigo do bispo, para fazer o que este the indique. Com efeito, ele nao participa do conselho do clero, mas administra e assinala ao bispo o que 6 necesserio. Nao recebe o Espirito comum do presbiterio, do qual parficipam os presbiteros, mas o qUe the e confiado pelo poder do bispo. E por isso que somente o bispo ordena o diaconc#

Recolhendo a tradicao litUrgica da Igreja primitive, a Tradicao Apostalica elude a algumas fungaes litargicas dos diaconos:

- A apresentacão des ofertas e a colaborack corn o bispo e os presbiteros na distribuigao da comunhao: «Enid° a oblecao sera apresentada pelos dieconos ao bispo. [.. 1 Se os presbiteros nao sac) suficientes, os diaconos tambem segurarao as cakes e eles manter-3' a Didascália dos Apdstolos, II, 58, in CONNOLLY, Didascalia, 122-124.

21 Cf. Didascdlia dos Andstolos, II, 26, in CONNOLLY, Didascalia, 88; COM/SnO TEMA:0CA

Immeado-huh Diaconado, 28.

a Cf. CotassAo Tsou5ora brniaNACIONAL. Diaconado, 28.

Vadicao Apost6lica, 8 : SC 11 bis, 58.61. A referancia final do passo cited° peacebe-se na

con-traposigäo corn a ordenagáo do presbitero, na quel tambem os presbiteros PresenteeimP0em as maos sobre o ordenado. Na ordenagão diaconal apenas o bispo impOe as mhos.

(8)

46 HUMANISTICA E TEOLOGIA DA EMERGENCIA AO DESAPARECIMENTO 47

se-ao em boa ordern,". • •

A apresentagao do oleo dos catedunenos e do crisma na liturgia baptismal, e o acompanhamento do baptizando na descida a ague: =Um diacono pega no Oleo do exorcismo e coloca-se a esquerda do presbitero e urn outro diacono pega no Oleo de accao de graces e coloca-se a direita do presbitero. [.. I Urn diacono descera corn ele [a ague] desta maneira..29.

A atengao aos doentes, indicando-os ao bispo para que este os possa •Cada didcono, cam os subdiaconos, sera assiduo junto do bispo. Indicar-lhe-a tambem os que se encontram doentes, para que, se agradar ao bispo, os visite. Corn efeito, 6 de grande conforto para urn doente que o surno-sacerdote se lembre

— 0 ensino daqueles que corn eles se reimem na Igreja: .Os dieconos nao deixarao de se reunir em todo o tempo, a nao ser que a doenga os impega. Quando todos estiverem reunidos, eles ensinarao os que se encontrem na Igreja, e assim depois de terem rezado, entregar-se-ao ao trabalho que lhes pertence)01.

A 71-adigâo Apostólica, referindo-se sobretudo as fungOes litargicas dos

diaconos na assistencia ao bispo, nao pretende certamente esgotar of a sua acgao ministerial, 0 acentuar destas atribuigOes resulta da natureza litargica do prOprio texto, que, todavia, nao deixa de aludir as fungOes diaconais no cuidado dos doentes. Novas sao as fungOes de instrugao e ensino, a denote' a

expansao das atribuigOes diaconais.

Os escritos de Cipriano de Cartago, de meados do seat° III, colocando os diaconos em terceiro lugar no tinOmio ministerial, tambem reflectem, tal como a Didascaa, algumas tensOes entre os presbiteros e os diaconos. Ainda que nalgumas cartes parega que tanto os presbiteros como os diaconos presidem A eucaristia, a quarta carta deixa mais claro que sax) os presbiteros que a ela presidem, assistdos pelos diaconos. Num quadro de itnerancia gerada pela perseguigao, a carte refere: =Os presbiteros que of oferecem o sacrificio junto dos confessores, convem que alternem, cada urn corn urn dos diaconos, por turnos sucessivos, pois a mudanga de pessoas e a variedade de vistas dirninui

a suspeita)33. A expansao do cristanismo e o clime. persecutOrio de meados do sec* III evidenciam o desenvolvimento das tarefas presbiterais de suplancia episcopal, passiveis de gerar tensOes com os diaconos, ate entao vinculados

7}aclicAo Aoostelica, 21 : SC 11 bis, 90-93. Cf. 7h3digáoApostelica, 4; 22 : SC 11 bis, 46-47.96-97.

Tredicao Apostelica, 21 : SC 11 bis, 82-85.

"71adigeoApostelica, 34: SC 11 bis, 116-117.

al itadigio Apostedica, 39 : SC 11 bis, 122-123.

32 CIPRIANO, Epistula IV, 2, PL IV, 231.

ao bispo e agora tambem colaboradores dos presbiteros.

0 canonic de Elvira, realizado no inicio do sOculo N no sul da Peninsula thence, perto de Granada, permite aferit nas suas normas, alguns aspectos do modo como era entendido o ministerio do diacono:

A existência de comunidades dirigidas por diaconos, mesmo se nao refere o modo como tal acontece: =Se o diacono regente de uma parOquia liver baptizado algumas pessoas sem a intenrengao do bispo ou do presbitero, o bispo as devera confirmar por meio da bOngab sacramental'''.

—A proibigao da convivencia conjugal para todos os ministerios, tambem para os diaconos: aE absolutamente proibido aos bispos, presbiteros, diaconos, e em geral a todas as pessoas constitufdas no ministerio eclesiastico, o coabitar cam suas esposas e gerar filhos)04.

A afirmagao do poder sacramental do diacono no ambito da celebragab do baptismo e a sua acgao extraorclinaria no que respeita a assistencia sacramental aos doentes. 'Ibndo nos ja transcrito o canon 77, relativo ao baptismo, fixamo-nos agora no canon 32 relativo penitencia. Depois de referir que em caso de culpa grave os fieis nap devem pedir o perdao ao presbitero, mas ao bispo, acrescenta: =Se a enfermidade instaz forgoso sera que a comunhao the seja minisnada pelo presbitero, ou ate pelo diacono, corn ordem do sacerdote,".

As tensOes entre diaconos e presbiteros resultantes das fung6es

desempenhadas nas comunidades prolongaram-se tambem nos testemunhos do seculo N quando o cristianismo, depois de 313, je gozava de liberdade Os canons do concilio de Arles de 314 e sobretudo do I concflio de Niceia de 325 limitavam as pretens6es dos diaconos se assemelharem aos presbiteros: .Diante de tudo isto queremos que os diaconos permanegam no seu lugar, convictos de que estao ao servigo do bispo e sac' inferiores aos presbiteros. Razao pela qual os diaconos fagam a comunhao depois dos presbiteros, recebendo-a ou do bispo ou do presbftercm38. Em causa estava claramente uma hierarquia na organizagao tripartida do ministerio, ern que os diaconos 'a CONCILIO DE &VISA, Can. 77, in Fbrtunato DS ALMEIDA, Histerie de Igreja em Portugal, ed.

Da-mian Peres, IV Porto - Lisboa: Cirthzac cao, 1971, 21. Os canons conciliares de Elvira lantern se encontram em Giovanni Domenico MANS!, Secrorum ConciLionun Nova, et Amplissima Collectio

1.. 11, Paris: Hubert Welten, 1901, 2-20 (Reimpressao anastética Graz: Alcademische Druck - U. Verlagsanstalt, 1960).

"Coticato oe Eno& Can. 33. in Ain Hisfevia da Igreja, 14. ,

"CoNctuo us Ewa', Can. 32, in ALMEIOA, Histene de !grate, 14.

" I CONCE/0 DE NICEIA, Can. 18, Concilionun Oecumeniconun Decreta, air Giuseppe Alberigo at alt, Bologna EDB, 1991, 14. 0 canonic de Arles, no canons 15 ou 16, consoante a numeragao, re-fer,:.Para as diaconos, de que soubemos que em muitos lugares oferecem (o sacrificio), decidiu que tal nao se deve absolutamente fazem - SC 241, 54-55.

(9)

deviam ocupar o iiltimo lugar.

As Constituktes .ApostOlicas, de proveniéncia siria, da segunda metade do seculo IV, recolheram os textos patisticos anteriores, ajustando-os ao period° coevo, dando nota dum ministerio consolidado, mas deixando tambem intuir dificuldades que se repercutirao no devir do ministerio. Mantem-se a vinculagao do diecono ao bispo, a que deve indicar as situagOes assistenciais mais prementes, e a hierarquizagao dos ministerios, corn o diaconado a ocupar urn gmu inferior ao episcopado e ao presbiterado, sendo que apenas estes altimos ministerios presidem a eucaristia: .0 diacono nao abengoa; ele nao da a bengao, mas recebe-a do bispo ou do presbitero; ele nao baptiza, nem oferece; quando o bispo ou o presbitero oferece, ele distribui ao povo, nao como sacerdote, mas coma servidor dos sacerdotes,n.

Maior novidade se pressente nas advertencias feitas aos diaconos pare que nao descurem nem se envergonhem do servigo dos doentes e dos pobres, prevenindo-lhes ou denunciando-lhes o receio de enfrentarem as dificuldades criadas pelo ambiente social envolvente:

.05 diéconos sejam igualmente irrepreensiveis ern tudo, como o bispo, somente mais diligentes e em namero proporcionado a importancia da Igreja, pare que possam cuidar dos enfermos, como operarios que Igo tern de corar de vergonha; a dianonisa ocupar-se-a do servigo das mulheres e uns e outros ocupar-se-ao da proclamagao, dos viajantes, do servigo e da assistancia [...]. Que nao tenham vergonha do servigo dos indigentes, segundo exempla de nosso Senhor Jesus Cristo, que

nao veio para ser servido, mas pars servir a dar a prOpzia vide em resgate da multidao; assim tambem eles devem agir. Que nao hesitem,

mesmo que tenham de dar a sua vide por urn innao; pois o nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo nao hesitou de facto em dar a sua vida pelos amigos, como ele mesmo disse. Portanto, se o Senhor do ceu e da terra enfrentou tudo por nossa causa, como podeis vas hesitar em garantir o servigo dos indigentes, a partir do momento em que deveis ser os imitadores daquele qua por nossa causa assumiu o servigo, a pobreza, as chagas e a cruz. [...] Portent°, se o nosso Senhor e Mestre se humilhou assim, como podeis ter vergonha de fazer o mesmo pare corn os irmaos enfermos e debeis, visto que vas sois trabalhadores do

Constnuiodes ApostOlicas, VIII, 28, 4 : SC 336. 230-231. Urn outro passo evidenda a

hierarquiza-cep: sAs bengens qua sâo de mais por °caste° dos cantos misterios, qua os diaconos as distibu-am ao clew, segundo a vontade do bispo e dos presbfteros: quarto partes paw o bispo, tea pertes pare o presbitero, dues partes para o diAcono, e aos outros, subdieconos, leitores, cantores diaconisas, uma parts. Porque 6 born e agradavel a Deus honrar cads urn segundo a sua dignida-de, pois a Igreja nao A uma escola de desordem, was de disciplines - ConstiengdesAposeglicas, VIII, 31, 2-3: SC 336, 234-235.

servigo da verdade e defensores da fe? [...] E preciso portent° que vas, os diaconos, visiteis os qua tern necessidade duma visita e que indiqueis ao vosso bispo os misereveis; pois vas deveis ser a sua alma e os seus sentidos, diligentes e d6ceis em ludo a seu respeito, como ao vosso bispo, vosso pal e vosso mestre*".

A originalidade caritativa e assistencial do ministerio diaconal encontra-se aqui bem ahrmada, tal como o risco de desprezo e de afastamento do que mais o especifica. A fase dum diaconado consolidado evidencia je, pois, os germenes duma arise anunciada. No quadro duma comunidade crista cada vez mais alargada, mas ainda nao consensual na sociedade romana, podem intuir-se as hesitagOes e cedências dum ministerio assim exposto ou as tentagOes de retirada de quantos o exerciam pare dentro da comunidade eclesial, a procure de protecgao e de tarefas mais simples, ((au servigo do bispo e dos presbiteros.39.

Outra das novidades das ConstituigOes Apostalicas consiste no facto de a °raga) de ordenagao dar a entender que o diaconado era considered° um grau transitOrio para o presbiterado: Concede-lhe reali7ar corn satisfagao o servigo que the foi confiado, de modo agradavel, sem desvio, nem censure, nem repreensao, pare ser julgado digno de urn grau superior, pela mediagab do teu Cristo, teu Filho whgenito, pelo que a ti gloria, honra e veneragao no Espirito Santo pelos seculos. Amem0°. A mesma transitoriedade se note na °raga° do Sacramentarium Veronense.

0 diaconado terminou no seculo IV o seu periodo de consolidagao na referenda a tres fungdes fundamentals: o servigo litargico, o servigo da palavra e da catequese e o servigo da caridade e da administragao da comunidade segundo as directives do bispo. Ainda que cada campo da acgao ministerial possa ser sublinhado segundo a natureza dos textos que a testemunha, parece ter sido no ambit° caritativo a da administragao comunitaria que o diaconado se tornou essencial. Os diaconos comprometiam-se na aciministragao material das comunidades e na distribuicao dos bens, ligados como estavam a gestao da caixa comum. A relevancia que o auto- conferia aos bispos e aos presbfteros nao encontrava paralelo nos dieconos, cujas fungOes cultuais exam essencialmente de assisténcia e colaboragao, sem uma especificidade estrita, 3. Constitulytes ApostOlicas, III, 19, 1.3-5.7 : SC 329, 160-165.

Constituktes ApostOlices, III, 20, 2 : SC 329, 164-165. Cf. 1-14e.tets, Stone del Diaconato, 89-90.

Explicitando este servigo, as Constituigtes Apostaicas, no mesmo passe, referem qua o didcono cervix*, was nao cumprire as outran fungeass. Estes fung ges, preprias dos presbfteros, mss nao dos dieconos, nao ninth identificadas: seminar, oferecer, baptizer a abengoar o povo.. 0 diecono assistia o bispo a os presbfteros nestas fung ges, mas nap as executava ale pn5prio.

10 Constitutgäes ApostOlicas, VIII, 18, 3 SC 336,220-221. Cf. CoMrssAo Tsarbora lummaomus,

(10)

DA EMERGtNCIA AO DESAPARECIMENTO 51

5o HUMAN(STICA E TEOLOGIA

abrindo caminho a tensOes ou eventualmente ao entendimento do diaconado como ministerio de passagem pars um grau superior

0 ministerio diaconal, que floresceu no quadro urbane do cristianismo primitive, também se desenvolveu no seculo P quando a 16 criste ja chegava germinalmente a ruralidade: enquanto os bispos e presbiteros resistiam a deixar a cidade, os diaconos prestavam-se ao ministerio nestas novas zonas, ainda que procurando apropriar-se de certos direitos e prerrogativas dos presbiteros4'. Neste quadro de rivalidade e de aspirageo as prerrogativas de urn grau superior, assim como de menor vinculageo a Cristo e ao ministerio apostólico, em detrimento da multiplicageo de fungOes em subalternidade e dependencia relativamente aos bispos e aos presbiteros, o diaconado is acentuado a sua transitoriedade e cavando o seu esvaziamento funcional, com repercuss6es na forma como veio a ser entendido na alta Idade Media.

1.4 Urn ministerio no feminino

0 termo dialconos aparece no Novo Thstamento referido tambem as mulheres, per vezes com indicageo do name, como acontece com Febe, «senridora [dinkonos] da Igreja de Cencreas, (Rom 16, 1). A referéncia as mulheres em 1 Tim 3, 11, situada em quadro diaconal, Ilea deixa claro se seriam mulheres-diaconos ou eventualmente as esposas dos diaconos. Outros testemunhos dos dais primeiros seculos podem indiciar urn ministerio feminine, se bem que tie° refrain explicitamente o diaconado: Plinio o jovem, na sua celebre consulta a Trajano, fala das tortures a que foram sujeitas duas mulheres cristes, que se diziam ministrae, para sem sucesso the extorquir informagOes"; Clemente de Alexandria, comentando 1 Cor 9, 5, refere-se as mulheres que colaboravam com o ministerio dos apOstolos, «fazendo penetrar a doutzina do Senhor nos quartos das mulheres sem dar azo a maledicencias)"; Origenes, comentando a referenda paulina a Febe, menciona urn diaconado feminine, formado pelas mulheres que prestavam «assistencia a muitos e que com as suns boas obras mereceram alcangar o elogio dos ap6stolos7044.

Ct. COMES= TEOLODICA lirrssimiclowth, Diaconado, 33-34.

41 Cf. Carta de Plinio 0 lovem ao imperador TtajanO,Epistolatiurn I, X 96, inActas de los MArtires BAC 75), ed. Daniel Ruiz Buena, Madrid: BibUoteca de Autorea Crisfienos, '1996, 246; Marie-Josaphe Amid, Des Ftinunes Diacres. Un Nouveaux Chemin porrEglise (= Le Poinaháologigue

47), Paris: Beauchesne, 1986, 92.

ancirm DE ALEDLWDRM, Stromata, III, 6 : PG 8, 1157-1158.

44 OMGENES, Commentariorum in Epistolam ad Romans, X 17 : PG 14, 1278. Cf. M. G. BUNCO,

Diaconesse, m Dizionario Patristic° e di Antichite Cristiane, dir Angelo Di Berardino, I, Genova:

Marieth, 1983, 934; Carlos A. MOREIMAZEVEDO, A Estruturagäo dos Ministerios na IgrejaAntiga, in

A referenda clan ao ministerio diaconal feminine s6 se pode encontrar a partir do semi° III, sobretudo nalgumas zonas do oriente, nomeadamente na Stria e em Constantinopla. 0 primeiro testemunho provem da Didascalia

dos ApOstolos, que coloca o bispo a frente duma comunidade de diaconos e

diaconisas, seg-undo uma apologia em que ao bispo 6 atribuido o lugar do Pai, ao diacono o de Cristo, a diaconisa o do Espirito Santo, aos presbiteros o dos apOstolos e as vinvas o do altar: «A diaconisa deve ser honrada no lugar do Espirito Santo," Ainda que aos diaconos e as diaconisas estivessem atribui. as

fungOes caritativas e litUrgicas, neo ha urn paralelismo nas fungOes exercidas, dada que a abrangencia das tarefas para que se escolhia urn diacono era maior do que aquelas que eram destinadas a uma mulher investida no ministerio:

«Estabelece para ti, 6 bispo, trabalhadores de justiga que te ajudem e possam colaborar contigo com vista a salvage°. Os que te agradam entre todo o povo, escolhe-los-as e estabelece-los-as como diaconos, urn homem para o funcionamento da maioria (IRS coisas necessaries,

mas uma mulher para o senrigo des mulheres,".

A maioria das coisas necesshrias do ministerio dos diaconos 6

concretizada na administrageo dos bens da comunidade, na cooperage° com o bispo de quern sae o ouvido e a boca, na vigilencia a entrada das reuniOes e na preparageo dos espagos celebrativos. A diaconisa competia a Linger) corporal

das

mulheres no baptismo, a instrugdo das neófitas e a visita dorniciliaria as mulheres aisles em cases de pagans, sobretudo em caso de doenga. Era-lhe, todavia, vedado conferir o baptism°, pois a pronthcia da fOrmula baptismal encontrava-se reservada ao homem"'.

0 senrigo as mulheres, sobretudo em , ambiente pager) e tambem invocado pelas Constituicaes IlpostOlicas para afirmar a necessidade do diaconado feminine:

«Bispo [.. 1, escolhe tambem uma diaconisa fiel e santa para o senrigo das mulheres. Na verdade, acontece que em certas cases não podes envier as mulheres urn diacono homem, per causa dos nao crentes; enviards portanto uma mulher diaconisa, em raze° da °pinta° dos malvados. Corn efeito, para o bem dos servigos nos recorremos a uma mulher diaconisa. Em primeiro lugar durante a iluminageo das mulheres; a diacono cobrir-lhes-a samente a frante de oleo sank) e

SEMANAS PE ESTUPOS TEOLOOICOS DA UMVERSIDADE CATOLICA PORTUOUESA, fgreja a MilliS 017.0S , Lisboa:

Rel dos Urn's, 1995, 96.

45 Didasollia dos Apastolos, II, 26, in Courant Didascalia, 88 " Didascalia dos ApOstolos, III, 12, in CONNOLLY, Didascalia, 146.

47 Cf. Didascalia dos ApOstolos, III, 12-13, in CONNOLLY, Didascalia, 146-149; AMES', lemmas

(11)

depois a diaconisa ungi-las-d; pois nab 6 preciso que as mulheres sejam observarias pelos homens*".

As ConstituicOes Apostálicas entendem o diaconado ferninino como urn verdadeiro ministerio, prevendo para as que o recebem urn rito epicletico de imposigdo das mdos, a semelhanga do qua estava previsto para os outros ministerios". Eram tambem integrariss no clero, contrariamente ao que acontecia corn as vinvas. A sua subalternidade relatrvamente aos praprios diaconos e a sua vinculagdo ao senrigo des mulheres fica, porem, evidente:.A diaconisa nao abengoa e nao faz nada do qua fazem os presbiteros e diaconos, mas guarda as portas e assiste os presbiteros no momento do baptismo das mulheres, par razaes de decencia•60.

A mesma razdo 6 invocada pot EpifAnio de Salamina no Panarion, quando refere: et certo que ha na Igreja a ordem das diaconisas mas nao pan exercer fungees sacerdotais, nem para que Ihes seja confiado qualquer encargo, mas para que se ocupe da decencia do sexo feminino no momenta do baptismo•si.

No decurso do seculo IV as diaconisas aparecem como responsaveis de comunidaries monastic:as de mulheres, dando notes duma aprcairna* daquelas

a

configuragdo monastica, como revela, par exempla, o testemunho de Grogan° de Nissa in Vida de Santa Maczina: uma daquelas qua dirigia o corn des virgens, uma diaconisa de name Lampadion•%. As diaconisas continuariam pcxem, ainda ate ao seculo VI a ajudar no rito do baptismo des mulheres e a lever a comunhão as doentes. A medida que a ungäo do corpo foi desaparecendo do baptismo, as diaconisas passaram a ser virgens que professavam o voto de castidade, dedicadas a assistancia caritativa e sanitaria das mulheres".

0 ocidente nao conheceu nos primeiros seculos o ministerio des diaconisas, sendo a instrugäo das catecinnenas confiada as vtilvas e as monjas. 0 termo nesta epoca so foi usado em ambiente heretic°. No seculo VI chegou a ser atibuido as mulheres admMd

as

ao grupo das vitivas, as abadessas e as esposas dos diaconos, mesmo se a legislagao conciliar interditou a primeira acepgAo. No oriente, as diaconisas desaparecem a partir do skill° X, quando ja tinham perdido importAncia corn a generalizagào do baptismo das criangas

"Constituicaes ApostOlicas, III, 16, 1-2 : SC 329, 154-157.

4° Cf. Constituicries Apostaicas VIII, 18, 1-2 : SC 338, 220-221. 0 concf/io de Calcedgnia de 451 elude ao inlcio do ministerio des diaconisas em termos de ordenagao, contemplando urn rito de imposig2to des maps. Cf. Couctua oe Crucsugust. Can. 25, in Conciliar= Oecumenicorum

De-creta, 94.

Constituigtes Apostacas, VIII, 28, 6 : SC 336, 230-231.

EPIFAmo DE SALutuut, Panarion, Linn( 3 : PG 42, 743-744.

GREG6FU0 DE NissA, Vida de Santa Macrina, 29, 1-2 : SC 178, 236-237.

53 Cf. COMMA° Teo/to-Ica larzarucioNAL, Diaconado, 39.

e se vinham enquadrando no Ambit° da vida monastica".

0 ministerio des diaconisas, tendo existido na Igreja antiga, desenvolveu-se de modo desigual nas diferentes regiees e nao perece ter sido entendido em absoluto como o paralelo feminino do diaconado masculino, confinando a sua acgào a assistência As mulheres. 0 testemunho das ConstituicOes

ApostOlicas aduz ainda tratar-se dum ministerio conferido pela imposick

des maos, semelhante ao que era usado para o episcopado, presbiterado e diaconado. A prudAncia necessaria quanta a ulna generalizacao, par se tratar duma fonte praticamente unica, pelo menos antes do seculo V nao pode, todavia, obscurecer a clareza deste testemunho,

2. Crise e ocaso do diaconado permanente

Nao a fad a identificacao dos motives que canduzirarn a decadencia e desaparecimento do diaconado como ministerio pennanente, se bem que, desde finis da idade antiga, se possam identificar na própria afirmagão do diaconado sinais de crise que progressivamente terão preparado o seu ocaso

0 diaconado tomou-se urn ministerio repleto de prestigio no seio da comunidade, como revela o facto de calla uma des sete regiOes pastorals de Roma ter sido confiada a um diacono desde o seculo III, enquanto aos presbiteros era atribuido um Maio mats pequeno, precursor da futura organizagao paroquial Contudo, se o nUmero sate, par referencia aos Actos

dos Aodpstolos, pode indicar a importancia adquirida, tambem pode significar

uma restrigao que limitasse a relevancia dos diaconos. 0 seu item fat, pothm, bem mais abundante em varias paragons, como em Constantinopla, onde no tempo de Justinian° podiam ascender A centena".

Aviragem constantiniana e a estruturagdo do ministerio segundo o modelo hierarquico qua vigorava no poder civil reflectram-se sabre o diaconado, esvaziando-o e convertendo-o numa passagem transitOria para urn grau mats elevado no quadro da carreira clerical. 0 diaconado, ao afirmar•e no context() duma Igreja em crescimento, foi-se esvaziando do seu contelido funcional, disseminado par outros ministatios ou servicos. Junte-se a preponderancia adquirida pelos presbiteros, quando a expansao do cristianismo Thies conferiu tarefas de suplëncia episcopal na celebragao eucarlstica local, em detrimento da eucaristia presidida pelo bispo, rodeado dos presbiteros a dos diaconos, " Cf..ConessAo TEOLOGICA INTERNACIONAL, Diaconado, 41.48.

" Cf. CROCE, Histoire du Diaconat, 38; ComisMo Tscatotca luTssmscsonn, Diaconado, 42;

Alphon-se DORMS - Bernard Parma La Grazia del Diaconato. Questioni Attuali a pr-oposito del

(12)

54 HOMANSTICA E TEOLOGIA DA EMERGENCIA AO DESAPARECIMENTO 55

que caracterizara a fase antecedente. Nas palavras de C. Dibout e A. Falitre, ea estrutura clerical triangular — pagando o prego dos conflitos do seculo IV entre diaconos e presbiteros — tende a encontrar uma apresentagao mais linear: subordinando nffidamente aos sacerdotes (os "padres", ou seja os bispos e presbiteros) os levitas (diaconos e subdiaconos),".

Corn Alphonse Borras e Bernard Pottier, podemos desenvolver os factores — apelidam-nos de hipOteses interpretativas — que mais lark contribuido para a crise e o desaparecimento do diaconado permanente a parfir de finals da epoca antiga e durante a idade media, nomeadamente as tensOes entre diéconos e presbiteros, a sacerdotalizagao ministerial, o afastamento do diaconado das suns fungOes especificas e a imposigao da continencia".

2.1 As tensöes entre os diaconos a os presbiteros e a fragmentacäo das fungties diaconais

A afirmagao dos diaconos a partir de finals da idade antiga foi-se fazendo pela via litargica, par vezes em rivalidade corn os presbiteros, enquanto se afastavam das atribuigOes assistenciais que antes Ihes cabiarn em estnta ligagao corn o bispo e os fieis. 0 Ambrosiaster, na obra Questiones Veteri et

Novi 7bstamenti, escrita em Roma na segunda metade do seculo IV, censura a arrogancia dos diaconos romanos no confronto corn os presbiteros e a recusa das tarefas de servigo, deixadas para ministórios subalternos, enquanto se dedicavarn ao canto litthoico e se atribufam direitos pr6prios dos presbiteros. Nas refeigOes ou égapes privados nao so tomavam o lugar destes, como ainda flies davam a bangao. As visitas domiciliarias convertiam-se em momentos pouco recomendaveis, porque davam azo a conversas 0 diaconado, pela importancia adquirida e pelo distanciamento do espirito de servigo, tornara-se um ministerio temido, mas tambem adulado par vezes ate a recompensa corrupta duma recomendagao. Jeronimo, por seu lado, tambem critica a anteposigab dos diaconos aos presbfteros na comunidade rornanase.

A transferericia de tarefas, porem, nalguns casos tinha mesmo de fazer-se, dado o nUmero reduzido de diaconos. Era tambem o caso de Roma, onde a partir do seculo III se contavam apenas sete, tantos quantas as regiems pastorals da cidade. Esta deslocagfto operou urns progressiva fragmentacko das fungees diaconais: os subdiaconos comegaram a apropriar-se ou a receber "C. Dour - A Rim IA-2a" Slide.. Les Diacres Meurent at Ressuscitent, in Notre Histoire, cit. BOWIE, Grazia del Diaconato, 50.

n Cf. Bowes, Gratis del Diaconato, 49-82.

"Cf. AMBROSIASIER, Questioner Vetea et Novi 7bstamenti, CI : PL 35, 2301-1303; JEsemmo, Epistula GXLW : PL 22, 1192-1195; Csocs, Histoire du Diaconat, 47-48; RENARD, Diaconat, 53; BENNARD3,

Decamp, 47.

finigOes diaconais, como revela o condio de Laodiceia da segunda metade do seculo IV, ao impedir os subdiaconos de exercerem fungOes litfugicas do diacono e ao remete-los para a guarda das portas. Alias a kadigâo Apostalica ja estendera aos subdiaconos algumas da fungOes diaconais, nomeadamente a indicagao dos doentes ao bispo. Os diaconos lam capitalizando as funge/es de prestigio, enquanto transferiam ou permitiam que lhes tomassem aquelas que os sobrecarregavam sem os afar:mars,.

A disputa entre os diaconos e os presbiteros pelas tarefas de suplencia episcopal estendia-se tambem a prOpria sucessao do bispo. Ambos os ministerios disputavam em condigOes de igualdade a dita sucessao, dado que a ordenagao se fazia per saltum: um diacono podia aceder clirectamente ao episcopado sem passar pelo presbiterado; tambem nao era necessario passar pelo diaconado para chegar ao presbiterado, percurso alias nalguns casos quase impossivel, tendo em conta pelo menos o nUmero restrito dos diaconos romanos. Sao mfiltiplos os casos de diaconos que, tendo passado clirectamente do diaconado ao episcopado, testemunham pan a idade antiga a dita ordenagao per saltum. Recenseando so alguns dos mais conhecidos, podemos citar Atarbasio em Alexandria ou Lek Magno e GregOrio Magna em Roma.

A referenda a passagem pelos ;ratios graus do cursus clerical comegou, todavia, a aparecer ainda na epoca antiga. As Constituicaes ApostOlicas aludem, como vimos, a possibilidade do diaconado ser urn estadio fransitOrio para urn grau superior, informagao concilievel cram a ordenagao per saltum, se dal acedesse directarnente ao episcopado. Lea° Magna, porem, em meados do seculo V ja apresenta como ideal o percurso de todos os graus do cursus, no respeito pelos tempos convenientesm. ,

A ordenagao per saltum continuava, porem, ainda a ser frequente. No seculo IX, em Roma, o subdiaconado era a imica passagem obrigateria no acesso aos graus superiores€1. Foi preciso esperar pelo seculo X, para true no espago do Sacro Romano Imperio se impusesse a ordenagao per gradum no ambit) do cursus clerical, logo transportada para Roma, dada o papal dos reformadores germanicos no contexto da reforma gregoriana. 0 diaconado, alias como todas as ordens a partir do subdiaconado, ficou submetido as "Cf. Cacao os LAonicsm, Clin. 21-22.43, in Charles Joseph Huns, Histoire des Conciles d'apnlis

les Documents Origins= 1/2, Paris: Letouzey at Ant, 1907, 10124013.1020 'Thadigro Aoostalica,

34 : SC 11 his, 117. Cf. CONOSSA0 TEOI,DOICA lieu/mm/4m, Diaconado, 43; 71.1.110 C/TRINI, La 7bologia del Diaconato, in 11 Diaconato.: Percorsi 7balogici, cure di Giuseppe Baia, Reggio Emilia: San

Lorenzo, 2001, 22; Alphonse BOWS, Le Diaconat au Risque de Sa Nouveaute ( a La Part-Dieu 10),

Bruxelles: Lessius, 2007,47.

"Lao WON°, Epistula VI, 6 : PL 54, 620; ComissAo Thouoics lirrEseacioivu, Diaconado, 44.

(13)

exigencies de celibato, como revelam oleo II concfiio de Latrao, de 1123 e 1139 respecfivamente.

0 cursus clerical per gradum conduziu ao entendimento progressivo de que as fungOes sacerdotais absorviam as fungOes inferiores, pelo que 0 que um diacono fazia podia faze-lo urn presbitero ou obviamente um bispo, em quem repousava a plenitude do ministerio. Neste quadro, qualquer tentative de afirmar a identidade do diacono pela via funcional se perdera e, perdida a especificidade funcional, estava esvaziado e secundarizado o ministerio-. 2.2 A expansao do cristianismo e a sacerdotalizagao do ministerio

0 crescimento exponencial dos cristaos a partir da liberdade de culto concedida por Constantino e da conversao do cristianismo em religiab do Imperio com lbodOsio alterou o modelo organizational anterior, muito centred° na figure episcopal. A progressive autonomizacao dos titulos urbanos e das parOquias rurais aumentou a importAncia dos presbiteros, que alargaram as sues competencies nao so as funcOes dos bispos, mas tambem as que antes eram prOprias dos diaconos no ambit° da liturgia e da actministra "ceo. da comunidade. A (mica eucaristia celebrada pelo bispo corn o seu presbiterio ja nao bastava Os lugares de culto multiplicaram-se e os presbiteros foram enviados a celebra-la em nome do bispo.

A situagao dos diaconos, em subaltemidade relativamente aos presbiteros, tambem sofreu alteragfies. Sendo aqueles declarados pelos documentos como nao superiores aos presbiteros e estando-lhes de facto subordinados, sobretudo quando enviados pare comunidades mais distantes, perderarn a sua ligacao directa ao bispo e progressivamente tambem a sua furicao especifica, ao mesmo tempo que nao adquiriram relevancia no quadro de progressive sacerdotalizagao do ministerio. 0 concilio de CalcedOnia de 451 permite supor que a administracâo dos bens ja nao estava reservada aos diaconos: Visto que nalgumas igrejas, como vimos, os bispos administram os bens eclesiesticos sem urn ec6nomo, dispomos que cada igreja, que tern urn bispo, tenha tambem urn ecOnomo, escolhido do pr6prio clero, que administre os bens da igreja sob a autoridade do preprio bispo,". Alias, corn a difusào do monaquismo, a prOpria assistencia aos pobres foi sendo progressivamente CL I Conduit) os LonAo, Can 7, in Cana/arum Oecurnenicorum Decreta, 191; 11 CoNdido or Lando, Can, 6, in Conciliorum °acumen/cot= Decreta, 198.

a3 Cf. BORR/LS, Grazia del Diaconato, 54-58.

" Conctuo os Coucsodno, Can. 26, in Conctliorum Oecumenicorum Decreta, 99. Os canons do conclio de Granges de meados do século IV ja se referem aquele que esta encarregado da admi-nistragao dos bens, sem que o identfiquem corn o diacono. Cf. CoNctuo DE GRANGES, CAD. 7.8, in

HEFELE, Histoire des Conches, 1/2, 1036.

assegurada pelos mosteiros, que durante a idade media liveram enorme importancia no exercfcio eclesial da caridade. Em contrapartida, aos diaconos nab eram admitidas funcOes ligadas ao sacerdOcio ministerial, como vimos no que reporta a impossibilidade de presidirem a eucaristia, mas tambem no que se refere a suplencia episcopal A titulo de exemplo, veja-se o que contempla o comfit) de Toledo de 400 quanto a bengab do Oleo do crisma, completamente vedada aos diaconos mas passivel de ser feita pelos presbiteros em circunstancias extraordinarias: «Tambem este. estabelecido que o diacono nao pode administer o crisma, mas sim o presbitero na ausencia do bispo e, presente este, so se foi ordenado por

Seguindo a tipologia de J.W. Pokusa, na apresentecao de A. Borras e B. Pottier, a partir do inlcio do seculo VI podem distinguir-se globalmente quatro situacees no ministerio diaconal66:

0 diacono enviado sozinho a uma comunidade externa onde nab existe ainda um padre Nesta situacao o papel do diacono podia ser relevante, mas sendo a liturgia eucaristica verdadeiramente desejada, nao tardava a que chegasse urn padre ou que o prOprio diacono fosse ordenado presbitero, acentuando a transitoriedade do diaconado e a sacerdotalizacao do ministerio ordenado. Segundo Borras,

«Este processo [evolucao para a ordenacao per gradum] vai dar Lugar nao so a Luna clericalizacao dos ministerios a partir do momento em que serao confiados a clerigos mas tambem a uma sacerdotalizacao do cursus no sentido em que este conduzira ao sacerdOcio marcado pela eucaristia e definitivamente a sua foc-47acao no culto•67.

0 diacono enviado a assistir um presbitero corn excesso de trabalho pastoral. Esta prance encontra-se testemunhada ao Longo da alta idade media pelo concflio de Toledo de 633, que refere a associacao de alguns diaconos aos presbiteros enviados as parOquias assim como pelos Estatutos Sinodais de Bonifãcio de meados do seculo VIII e pelo concilio de Frankfurt de 79468. 0 servigo do diacono numa igreja confiada a urn presbitero fez cam que nalguns casos, a matte do primeiro, o segundo tenha sido ordenado presbitero e the tenha sucedido, contribuindo de igual modo para o entendimento do diaconado como uma etapa de passagem em direcgdo ao presbiterado, num cursus cada vez mais linear.

"I CONCILIO DE TOLEDO, Cam 20, in Mugs, Sacrorum Conciliortun, III, 1002.

" Cf. BORERS, Grazia del Diaconato, 59-65.

BORRAS, Dieconat, 47.

CL N CONCIU0 DE Tomas, Cap. 27, in MANS1, Sacrorum Conciliorum , K 627; BomeActo, Estatutos Sinodais [la coleccao], Cap. 10, in HEFELE, ffistoire des Conches, III/2, 927; CONCLLIO DE FRAN/Turn

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58 HUMANISTiCA E TEOLOGIA

DA EMERGENCIA AO DESAPARECIMENTO 59

.0 diaconado a enfim esvaziado do seu conteUdo: esvaziado a partir de cima, poder-se-ia dizer, vista quo nao fez mais do que preparer para o sacerdocio que monopoliza todos os ministerios importantes, essencialmente cultuais; esvaziado igualmente a partir de baixo, vista que todos as tarefas mais humildes, em tempos prOprias do diaconado, foram entretanto delegadas nas ordens menores, criadas no momenta de esplendor do diaconado.N.

0 dianono ao servigo da igreja episcopal, mas corn urn papel menos relevante do que em fase anterior. Podemos neste caso admitir quo os diaconos tenham sido progressivamente absorvidos pelos cabidos catedralicios, corn fungOes determinadas no quadro do (panic divino ou do canto damissa solene. 0 reducionismo litiugico adquiria assim a sua maxima expressan. 0 De

Septem Ordinibus Ecclesiae, de autor desconhecido e de dificil datagan, mas

certamente dos seculos VI/VII, exprime bem este entendimento puramente litirgico do ministerio dos diaconos, sem qualquer competancia no Ambit° da caridade: 'Deus tomou-se a sua sorte; ales nao debrarn o rIbmplo do Senhoz nem de dia nem de noite'71 . Urn manuscrito medieval anonimo proveniente de Reims de fins do seculo IX tambern corrobora esta perspectva:

eDiacono 6umnome que, quer em grego, guar ernlatm, se traduz por Thinistro". 0 diacono dove servir a Deus, o bispo e o presbitero, levando ao altar do Senhor o pan e vinho awl aqua [...] Grande mistrio e o que o dicioono tem na santa Igreja; o diacono deve receber omjuntsmente corn o bispo e o presbitero, as °ferias dos fieis depois dove preparer a mesa do Senhor 0 diacono dove ter o Evangelho na santa Igreja [...] 0 povo dove inclinar-se a voz do diacono que diz: "Ajoelhemos". Dove voltr a colocar-se de p6 a voz do diacono quo diz:

"Levantai-vas". 0 drawn° dove anundar na santa Igreja as fiestas principals. 0 povo dove esperar a voz do dianono, pois ninguem dove debar a celebragOo enquanto nab fiver ouvido a voz do di:Awn° di7Pr. Benedicamus Dominio=n.

0 (Iacono pode timer-se arcediago, esperando-o fungOes mais importantes do que as dos preslofteros enviados a. periferia urbana ou ao ambiente rural. Competia-Ihe representar o colegio dos diaconos e reforgar a sua coesan. 0 seu papel podia varier ainda conforme as circunstancias: secretario episcopal, responsivel da formagao dos jovens clerigos, pertenga ao cabido, vigilancia sobre uma parts da diocese (arcadiagado) visita diocese para proceder a nomeagOes importantes. Primeiramente litnitado, o " Boss, Grazia del Diaconato, 61.

7° a CRODECANCODE Men, Repute Canonicorum, Cap. 21; 33 : PL 89, 1108.1117, CROCE, Histoire

du Diaconat, 57.

"De Septem Ordinibus Ecclesiae, V : PL 30, 153. Cf. CROCE, Histoire du Diaconat, 54. 12 Collectio Dacheriana, Vat. Reg. Lat. 845, cit. Bonn, Grazia del Diaconato, 62-63.

poder dos arcediagos afirmou-se no seculo IX Contudo, como era estranho ver diaconos corn autoridade sobre padres, foi-se optando progressivamente pela ordenagan presbiteral dos arcediagos, generalizada ante os seculos XI e

Em qualquer das situagOes apontadas, o diaconado perdeu a sua especificidade anterior. Viu-se, pois, reduzido a algumas fungoes litargicas menores ou a uma etapa de passagem para o ministerio sacerdotal.

2.3 0 afastamento do diaconado da administracio patrimonial e da caridade Enquanto nos primeiros seculos da era mist os diaconos tinham a seu cargo a vida material da Igreja, a partir do seculo V foram abandonando ou perdendo o servigo da caridade e a responsabilidade pelo patrimOnio eclesial.

No campo patrimonial, os bens da Igreja cresceram corn a viragem constantiniana e corn a oficialivagan do cristianismo como religian de Estado por (lbodOsio. 0 aumento do numero de cristaos e o favorecimento imperial contribuiram decisivamente para o alargamento dos bens eclesiais e para a consequente necessidade de os entegar a quern os gerisse corn competancia, de modo a prevenir a sua delapidagdo. Os bispos decidiram pois confiar a administragan a urn ec6nomo bem preparado, como denote o passo do canal° de Calcedania atras citado. Sendo certo quo nalguns casos raros a administagdo ainda foi confiada a diaconos, se bem quo sem o titulo de ecanomo, habitualmente esta tarefa foi desempenhada por urn padre ou um arcediago. GregOrio Mago preferiu habitualmente urn subdianono. Nap 6 clara a razao pela qual o cargo nao foi habitualmente desempenbado pelos dianonos, tanto mais quo a legislagan nao o impedia. Se a escolha presidia a formagan e a competencia, pode aventar-se quo recaisse sobre urn presbitero, a quern era exigida ao tempo maior formagan. A ()pad° de GregOrio Magno pelos subdiaconos lantern parece resultar dum criteria de competencia. Tara escolhido homens capazes posteriormente elevados ao subdiaconado para corresponder a. extancia de CalcedOnia de quo o nomeado fosse clerigo".

0 servigo da caridade tambem se foi concentrando noutras mans, graces ao empenho de leigos abastados, que correspondiam a diaconia de todos os baptizados, assim como ao desenvolvimento da vida monastica e eventualmente mais tattle da prOpria estrutura feudal, cuja proteccäo se obtinha pela vassalagem. Sabre os primeiros, basta pensar no testemunho de JerOmino, quo numa das suas cartes evoca uma tat Fablola quo em Roma

eDispas de todo a seu patrimOnio (finha meios consideraveis e

(15)

proporcionados a sua nobreza), vendendo-o e colocou o dinheiro recebido a disposicão dos pobres. Foi a primeira a mender construir urn hospicio para os doentes, em que recolheu os que se arrastavam nas pragas e cuidou dos corpos dilacerados pelo definhamento e pela fome. [...] Praticou a mesma generosidade pare com os clerigos, monges e monjas. Qual foi o mosteiro que net) aproveitou do seu sustento? Quais foram os homens nus e quaffs os doentes que ela neo vestiu? Quem teria sentido necessidade sem que tenha sido imediatamente socorrido pela sua generosidade? Roma foi pequena para a sua misericardiax". Na verdade, os hospicios progressivamente fundados pare acolher peregrinos e doentes resultavam em parte da iniciativa laical, reservando os fundadores a faculdade de os dirigir. Contudo, mesmo quando provinham da iniciativa episcopal, os diaconos ja net) eram chamados para of trabalharem Pensemos, por exemplo, em Agostinho, que abriu uma casa em Hipona, recorrendo ao presbitero Lepario, ou em Oregano Magno, que reformou os hospitais da Sardenha por meio do arcipreste Epilenion.

As diaconias de beneficancia nascidas no seculo IV no oriente e desenvolvidas no ocidente alto-medieval — no Jim do seculo VIII havia em Roma 12 e no pontificado de Ledo III (795-816) foram elevadas a 24 76 — nada tinhorn a ver corn os diaronos. Eram constitufdas por monges que asseguravam a assistancia aos necessitados. Mesrho quando Liao era a vide moncistica a ritmar a caridade, tambem flea exam os diaconos que a tomavam em mao. No period° carolingio continuava a pensar-se que o bispo, tal como nos primeiros tempos, tinha como dever organizar a caridade. Nao o fazia, porem, pelo recurso aos diatoms, mas sob a direcceo dum cOnego competente como pre y& a regra de Crodegando de Metz". Progressivamente o monaquismo beneditino medieval foi-se encarregando desta tarefa, transpondo para a vide quotidiana o que mandava a regra beneditina: <Concede-se o maximo de cuidado e de solicitude a recepgän dos pobres e dos peregrinos, porque se recebe Cristo sobretudo na pessoa deles.78 Grac,as a accao caritativa desenvolvida pelos 74 JERONIMO, Epistula LXXVII, 6 : PI, 22, 694. Cf. HAtatAn, Stone del Diaconato, 98-99.

" Cf AGOSTIMIO, Serino CCCLIII, 10 : PL 39, 1578; Gesoomo MAono, Epistolarium, XIV, 2 : PL 77, 1301-1308; Ca= Histoire du Diaconat, 49.

m Cf. Rosario Mamma, Storia delta Cara Cuore della Cbiesa ( n, Storia a Spiritu.aatti Can,iBiana 10), Torino: Edizioni Camilliane, 2001, 62.

T! Cf. Csoosaramo DE Mn, Regula Canontcorum, Cap. 28 PL 89, 1112; CROCE, Histoire du

Die-conat, 50.

71 Brno as Na Rennie Monachorum, Lit 15 : SC 614-615. Cf. jeans ALVAREZ GOMEZ, "...YE/

Los Curd' (Mt IS, 30). História e ldentidad Evangelica de la Accien Sanitaria dale lglesia, Madrid:

Publicaciones CAarettanas, 1996, 53-55; LUkiti MAZ2.ADRI - Luigi Nuovo, Stone della Calla (= PEE

Una Storia d'Occidente. Mesa a Societa 11) Milano: Jam Book, 1999 34' WARMER, Diaconat, 54.

monges, «os seus mosteiros converteram-se em importantes centros onde os desvalidos encontravam aliment°, vestido, remedios, assistencia de diverse

2.4 A imposigio da continência aos diaconos

A mais antiga prescrigeo da continencia eclesiastca no ocidente, para dieconos, presbiteros e bispos, encontra-se no concilio iberico de Elvira, do inicio do seculo IV cujo'canone 33 prothe a coabitageo can a espose. Nao proibindo a ordenageo de homens casados, mas impondo-Ihes a continència posterior a ordenacao esta norma foi retomada por maltiplos concilios e decretais pontificias. Entre a norma e a sua aplicageo houve, contudo, uma grande distancia entre o final da epoca antiga e a alta idade media

A decadencia eclesial dos seculos X e XI e a necessidade de evitar a disperse° do patrimOnio eclesial fizeram corn que os antigos canons fossem retomados pela reforma gregoriana. No seguimento do ideerio dos reformadores e de varios conctios locais, o I concllio de Latrao (1123) proibiu modo mais absoluto aos sacerdotes, diaconos e subdiaconos viver corn as concubines ou corn as mulheres e coabitar corn mulheres diferentes das que o conalio de Niceia pennitiu viver somente por raz6es de necessidade, a mae, a irma, a ha patema ou matema, ou outcas semelhantes, sobre as quaffs honestamente neo possa surgir qualquer suspeita,81.

Na evolugao da questao, o II comfit° de Late° (1139) decretou a nulidade do matrimanio contraido pelos clerigos do subdiaconado para curia e pelos monges. A ordenaceo de homens casados foi progressivamente diminuindo e foi-se impondo o celibato pela constataceo realista de que s6 este consentia acatar a continencie.

Nao cremos, contudo, que esta legislaceo tenha lido grande importência pars o desaparecimento do diaconado permanente. Corn efeito, eta aplicou-se tanto aos diatoms como aos presbiteros e em nada contribuiu para a inelevencia destes Acrescente-se que, quando estes canons impuseram a contiamcia aos minishos ordenados ja o diaconado permanente entrara em crise e prolongava ha seculos a sua agonia.

1" Santiago CANTER& MONTENEGRO, Hlstoria Breve de la Caridad y de la Action Social de Is Iglesia

(= Veritas 4), Madrid: VozdepapeL 2005, 57.

8° Cf. CONCILIO DE EINIRA, Can. 33, in AttremA Histeria da Igreja, 14.

" I CONCILIO DE LATA/lo, Can. 7, in Conciliorum Oecumeniconun Decreta, 191. e Cf. II Condo() Ds LATRAO, Can. 7, in Conciliorum,Oecumenicorum Decreta, 198.

(16)

62 HUMANISTICA E TEOLOGIA

DA EMERaNCIA AO DESAPARECIMENTO 63

Depots do desenvolvimento e consolidageo do ministerio diaconal nos seculos III e IV no ambit° da administraceo dos bens, da caridade e da liturgia, os dieconos foram perdendo a sua relevancia em tenses) corn os presbiteros, cujo ministerio respondiamelhor a expanse° e ruralizaceo edesial. Enquanto as responsabilidades administrativas e caritativas lhes fugiam das mks, o monaquismo emergente foi chamando a si tarnbem o exercicio da assistencia e da caridade. A path do seculo IX, os dieconos estavam reduzidos merarnente a funcOes litagicas num quadro de subaltemidade relahvamente aos presbiteros. 'lend° perdido a sua identidade no embito da caridade e a ligageo imediata ao bispo no exercfcio do ministerio, o diacono converteu-se em simples liturgo, de importencia reduzida, dada a sacerdotalizacao do ministerio em ligacdo com a eucaristia. Integradas as fungOes lithrgicas dos dieconos nas da ordem presbiteral e fragmentadas as suns competencies originais, o diaconado, restrito a algurnas competencies na assistencia do altar, passou a ser uma mere etapa do cursus clerical e desapareceu como ministerio permanente. A especifiddade do diaconado dos seculos III e IV tithe progressivamente desaparecido pelo atrofiamento do exercicio da caridade pelo reducionismo littrgico em tarefas menores e pela desvalorizageo ministerial, enquanto degrau no acesso ao presbiterado.

E certo que o conalo de Trento, tendo afirmado a aigem divine do diaconado, a sua sacramentalidade e o caracter que o sacramento imprime e tendo-o apresentado como degrau que tende e conduz ao sacerdecio 83, aindareuomendou a recuperageo do diaconado permanents, alias como des ordens menores:

.Para restaurar o uso, no respeito dos sagrados canons, das fungOes das santas ordens, do diaconado ao hostanado louvavelmente acolhidas na Igreja desde os tempos apostelicos, mas em muitos lugares interrompidas durante muito tempo, e pars evitar que sejam innteis pelos hereticos, o santo sinodo, desejando vivamente restaurar aquele antigo costume, decreta que no futuro tais ministerios sejam exercidos somente por aqueles qua foram constituidos em tais ordens.".

0 canons, porem, nab foi executed° e os intentos do concflio ficaram apenas nos horizontes do desejo. Salvo raras excepgOes, os diaconos, tal como as ordens menores, permaneceram apenas como degraus no percurso rumo ao presbiterado. A Tie° recepcão do canon tridentino pode explicar-se pelo facto do ministerio diaconal se encontrar entao desprovido de contend°, reduzido a funcOes litiugicas marginais, depots codificadas no

adigo

de Direito Can6nico de 1917: a faculdade de pregar, juntava-se o de expor e repor

83 CE CONC110 DE TRENTO, Vera et Catholica Dactrina de Sacramento °retails [..1, Seas. XXIII, Cap. 2-4 e Chn. 1-4, in Conciliorum Oecumenicorum Decreta, 742-744.

" Coscluo DE Munro, Decreta super Reformation, Sess X111 Can 17 in Conciliar=

Oecume-nicorum Decreta, 750.

o Santissimo Sacramento no sacraria, dar a comunhao sO por causa grave e administer o baptismo por justa causa. Nat) era expectevel entregar a vide toda a urn ministerio que encontrava o seu especifico sobretudo em funcOes menores ou cumpridas em regime de excepcae.

Assim se esfumaram os propOsitos tridentinos de restaurar o diaconado permanente, ficando o ministerio do diecono reduzido a uma etapa no trajecto de formacdo para o presbiterado, ate que, no p6s II Guerra Mundial, foi sendo preparado o terreno pare a sua restaurageo como ministerio permanente no II canal° do Vaticano.

Adèlio Fernando Abreu

86

a

Codex liwis Canonici (1917), Can 741; 845, § 2; 1274, § 2; 1342 §1, in Cadigo tie De,recho

Cananico y Legislation Complementaria (= BAC 7), ed. Lorenzo Miguelez Dominguez - Sabi-no Alonso Moran - MarceliSabi-no Cabreros de Ante, Madrid: Bibhoteca de Autores CristiaSabi-nos, 1951, 292.319.482.506; amour, Diaconi nella Chiesa, 50-51.

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