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Como são descritos pelos professores os alunos de hoje?

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Academic year: 2021

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CRISTINA PALMEIRÃO · JOSÉ MATIAS ALVES

[coordenação]

SER AUTOR,

SER DIFERENTE,

SER TEIP

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Ser Autor, Ser Diferente, Ser TEIP

CRISTINA PALMEIRÃO E JOSÉ MATIAS ALVES [COORDENAÇÃO] © Universidade Católica Editora . Porto

Rua Diogo Botelho, 1327 | 4169-005 Porto | Portugal + 351 22 6196200 | uce@porto.ucp.pt

www.porto.ucp.pt | www.uceditora.ucp.pt Coleção · e-book

· Olinda Martins Capa · Olinda Martins

Revisão de texto · Cristina Palmeirão Data da edição · Novembro de 2015 ISBN · 978-989-8366-99-3

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Introdução · 04 · José Matias Alves e Cristina Palmeirão

· 12 · Alexandra Carneiro

· 24 · Ilídia Cabral e José Matias Alves

· 35 · formativa

Eugénia Eduarda Ferreira Sousa e Silva

Planos de ação realizados · 49 · Rolando Correia Viana

· 61 . Joaquim Machado e Paulo Gil

· 81 · Cristina Palmeirão

· 95 · Luísa Trigo

8. Prevenir para não remediar: uma intenção, uma estratégia, · 109 · uma ação

· 122 · Fátima Braga

· 134 · Manuela Gama

11. A Cultura que se (trans)forma · 149 ·

Cristina Bastos

· 158 · · 167 ·

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COMO SÃO DESCRITOS PELOS PROFESSORES OS ALUNOS DE HOJE?

Reflexões a partir de um estudo realizado em agrupamentos/escolas TEIP

Luísa Ribeiro Trigo

Resumo

Este trabalho teve como objetivo analisar as perceções relatadas por educadores e professores que se encontram a lecionar em agrupamentos/escolas TEIP – Territórios Educativos de Intervenção Prioritária em diferentes níveis de ensino, desde o pré-escolar até ao ensino secundário, relativamente aos alunos de hoje. Participaram na investigação 53 docentes de quatro agrupamentos/escolas TEIP do norte de Portugal. Os dados foram recolhidos através de um questionário com questões abertas, cujas respostas foram analisadas através de análise de conteúdo. Os dados permitiram identificar dimensões consideradas fundamentais na promoção da aprendizagem que, segundo a visão dos docentes participantes neste estudo, estão ausentes ou em grau insuficiente nos alunos com quem convivem diariamente. Os docentes relatam um reduzido envolvimento por parte dos alunos no seu processo de aprendizagem, nos domínios emocional, cognitivo e comportamental, sendo descritos como desmotivados, desinteressados, sem hábitos de trabalho e de estudo, com baixas expetativas face à escola, com dificuldades de concentração, sem objetivos ou ambições, pouco empenhados, pouco esforçados, com dificuldades no cumprimento de regras da escola e da sala de aula. Surgiram também referências ao contexto familiar dos alunos. São lançadas algumas questões para reflexão sobre os caminhos a percorrer na construção de soluções promotoras de uma melhor aprendizagem.

Palavras-chave: perceções dos professores; atributos do aluno; envolvimento do aluno;

aprendizagem; TEIP

Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Faculdade de Educação e Psicologia, Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal, Autor de correspondência (lrtrigo@porto.ucp.pt)

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96 Abstract

The current study aimed to analyze the perceptions reported by educators and teachers from Priority Intervention Educational Territories, from pre-school to secondary education, about their students. Participated in this study 53 teachers from four schools in the north of Portugal. Data were collected through a questionnaire containing open-ended questions, the answers of which were analysed through content analysis. Data allowed to identify essential dimensions in promoting learning, that, through the vision of the teachers, are absent or insufficient in students nowadays. Teachers reported a reduced students involvement in their learning process, in the emotional, cognitive and behavioral domains, being described as unmotivated, disinterested, without study skills and work habits, with low school expectations, with concentration difficulties, without goals or ambitions, slightly engaged, with difficulties in complying with school and classroom rules. References to the students’ family background have also emerged. Some questions are suggested for reflection concerning the ways to build solutions that promote a better learning.

Key words: teachers’ perceptions; student attributes; student engagement; learning;

priority intervention educational territories

Introdução

Atualmente, a escola enfrenta novos desafios resultantes das mudanças que se têm observado no mundo em geral, na sociedade, nas famílias e nos alunos (Rodrigues, 2012). A prática docente tem sido reconhecida como stressante e exigente (Caires, Almeida, & Martins, 2010; Flores, 2006; Newman, 2000), atendendo nomeadamente às caraterísticas dos alunos e à sua diversidade. Assim, neste trabalho procuramos analisar as perceções relatadas por educadores e professores que se encontram a lecionar em agrupamentos/escolas TEIP em diferentes níveis de ensino, desde o pré-escolar até ao ensino secundário, relativamente aos alunos de hoje.

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97 Metodologia

Contexto do estudo

O trabalho que aqui se apresenta insere-se numa linha de investigação que foi inicialmente desenvolvida no âmbito de uma parceria entre a Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa e onze escolas privadas da região norte de Portugal. Esta parceria surgiu no contexto de um conjunto de reflexões resultantes de um grupo de trabalho constituído por serviços de psicologia de 16 colégios do Porto, que se encontram anualmente, desde 2008, com o objetivo de discutir, avaliar e promover a sua prática profissional em contexto educativo.

O estudo procurou compreender como é que os professores descrevem os alunos de hoje, que aspetos os preocupam mais na sua experiência diária enquanto professores, o que é que os alunos exigem dos professores ao nível das práticas educativas, e em que áreas os professores sentem que podem desenvolver e aperfeiçoar competências, que lhes permitam melhorar o seu desempenho profissional enquanto professores (Trigo et al., 2014). A recolha de dados efetuada em escolas privadas foi entretanto alargada a agrupamentos de escolas/escolas não agrupadas TEIP, parceiros da FEP-UCP, no âmbito da consultoria prestada pelo SAME – Serviço de Apoio à Melhoria das Escolas.

Participantes

Participaram neste estudo 53 educadores e professores de quatro agrupamentos/escolas TEIP da região norte de Portugal, do pré-escolar ao 12.º ano. Quanto à caraterização dos participantes, 79,2% eram do sexo feminino e 20,8% do sexo masculino; a idade média era de 48,9 anos (DP = 7,0), variando entre 35 e 64 anos; em média, os docentes apresentavam 24,8 anos de serviço (DP = 7,4), variando entre 11 e 38 anos de serviço. No Quadro 1 é possível observar a distribuição dos participantes pelos diferentes níveis de ensino lecionados.

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Quadro 1

Distribuição dos docentes pelos diferentes níveis de ensino (N = 53) Nível de

ensino Pré-Escolar 1.º ciclo 2.º ciclo 3.º ciclo Secundário

n 5 12 7 27 28

% 9,4 22,6 13,2 50,9 52,8

Nota. Há docentes que lecionam em mais do que um nível de ensino.

Instrumento

Em ordem a recolher as perceções dos professores sobre os desafios de ensinar e aprender no século XXI, foi administrado um questionário com quatro questões abertas. Neste trabalho referimo-nos apenas a uma das questões, referente à forma como os professores descreveriam os alunos de hoje.

Procedimento

Os professores preencheram o questionário individualmente, tendo as suas respostas sido alvo de análise de conteúdo, com recurso ao NVIVO (versão 10).

Resultados

No Quadro 2 são apresentadas as categorias que emergiram relativamente à questão “Como descreveria os alunos de hoje?”, desde as mais frequentemente referidas às referidas por apenas um participante. Optou-se, nesta fase, por manter o nome das categorias muito próximo do discurso dos participantes, sem evolução ainda para a arrumação das categorias emergentes em grandes categorias, mantendo assim maior grau de detalhe na compreensão das perceções dos docentes relativamente às caraterísticas dos alunos de hoje.

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Quadro 2

Perceções dos professores relativamente às caraterísticas dos alunos de hoje (N = 53)

Categorias n %

pouco empenhados - desinteressados 14 26.4

dificuldades de concentração 12 22.6

desmotivados - pouco motivados - difíceis de motivar 11 20.8

sem regras - dificuldades no cumprimento das regras 10 18.9

sem objetivos - sem ambições - sem perspetivas - baixas expetativas face ao futuro 9 17.0

sem hábitos de trabalho e estudo - falta de cultura do esforço 6 11.3

carentes - necessidade de atenção 5 9.4

mal-educados 5 9.4

sem ambiente familiar capaz de acompanhar, motivar, apoiar e orientar 5 9.4

com interesses divergentes dos escolares 5 9.4

agitados 4 7.5 imaturos e infantis 4 7.5 indisciplinados 4 7.5 exigentes - desafiadores 3 5.7 tecnológicos - digitais 3 5.7 curiosos 3 5.7 pior preparados 3 5.7

sem sentido de responsabilidade e do dever 3 5.7

reflexo das famílias 3 5.7

desrespeitadores - não respeitam a autoridade 3 5.7

baixa autoestima 2 3.8

dificuldades no respeito pelos outros 2 3.8

irrequietos 2 3.8

menos autónomos - alunos dependentes 2 3.8

irresponsáveis 2 3.8

difíceis 2 3.8

baixas expetativas face à escola 2 3.8

intolerantes 2 3.8

pouco persistentes 2 3.8

reconhecem o valor da escola 2 3.8

sem autocontrolo 2 3.8

não valorizam o conhecimento 2 3.8

dificuldades na interação com os pares 2 3.8

rebeldes 2 3.8

nível mais fraco 2 3.8

recusam-se a trabalhar 2 3.8

malcomportados 2 3.8

mais participativos e interventivos nas decisões da escola 2 3.8

infernizam ou gozam quem quer trabalhar ou impor a ordem 2 3.8

agressivos 1 1.9

sem valores 1 1.9

despreocupados 1 1.9

dificuldade em lidar com a frustração 1 1.9

dispersos 1 1.9

falta de competências sociais 1 1.9

imediatistas 1 1.9

inseguros 1 1.9

inteligentes 1 1.9

(9)

100 Categorias n % pouco curiosos 1 1.9 pouco perseverantes 1 1.9 pouco resilientes 1 1.9 empenhados e interessados 1 1.9

encaram escola como obrigação 1 1.9

problemas comportamentais graves 1 1.9

sós 1 1.9

ávidos de experiências 1 1.9

desligados do ensino 1 1.9

vazios 1 1.9

impedem normal funcionamento das aulas e da escola 1 1.9

cumprem apenas objetivos mínimos 1 1.9

sem espírito de sacrifício 1 1.9

egoístas 1 1.9

sem estímulos intelectuais no ambiente familiar 1 1.9

encaram a escola como uma prisão 1 1.9

revoltados com os professores 1 1.9

com boas capacidades de aprendizagem 1 1.9

pais não exercem autoridade 1 1.9

com problemas familiares 1 1.9

sem noção dos limites do seu espaço 1 1.9

encaram a escola como um recreio, onde podem brincar e descarregar energias 1 1.9

com imensas dificuldades 1 1.9

frágeis 1 1.9 arrogantes 1 1.9 aéreos 1 1.9 autocentrados 1 1.9 inconsequentes 1 1.9 desorganizados 1 1.9

consumidores de drogas e álcool 1 1.9

disponíveis para aprender 1 1.9

bem-dispostos 1 1.9

com excesso de à vontade 1 1.9

encaram a escola como mais um lugar de diversão 1 1.9

ensonados 1 1.9

felizes 1 1.9

jovens que precisam de se sentir amados 1 1.9

não acatam a ordem 1 1.9

não reconhecem o valor da escola 1 1.9

não sabem o que vêm fazer para a escola 1 1.9

perdidos 1 1.9

pouco conhecem do mundo que os rodeia 1 1.9

subversivos 1 1.9

transportam problemas pessoais para a sala de aula 1 1.9

sem sentido crítico 1 1.9

telemóvel como o mais importante da vida 1 1.9

sem regras em casa 1 1.9

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101

Assim, verificamos que a caraterística mais referida pelos docentes participantes diz respeito ao pouco empenho e desinteresse manifestado pelos alunos (26,4%), tal como ilustram os seguintes excertos:

“Muito pouco empenhados na construção dos seus saberes” (suj17)

“Completamente desinteressados de aprender o que só se pode aprender na escola.” (suj44)

Em segundo lugar, os participantes salientam as dificuldades de concentração que os alunos apresentam (22,6%):

“a maioria dos alunos com os quais trabalho neste agrupamento têm dificuldades de concentração, períodos muito curtos de atenção” (suj38)

“Durante as aulas estão muitas vezes desconcentrados.” (suj32)

Em terceiro lugar, surge a perceção de que os alunos de hoje se revelam desmotivados, pouco motivados ou difíceis de motivar (20,8%):

“alunos desmotivados” (suj12)

“Os alunos de hoje são pouco motivados para a aprendizagem, constituindo, no entanto, um desafio enriquecedor para a alteração das práticas pedagógicas” (suj20) “São difíceis de motivar, pois como têm um leque muito variado de novas tecnologias disponíveis, pouco ou nada é novidade para os mesmos.” (suj7)

Os docentes consideram também que os alunos manifestam ausência de regras e dificuldades no seu cumprimento (18,9%):

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“normalmente, têm dificuldade em respeitar as regras da escola e da sala de aula” (suj34)

É também referida a ausência de objetivos, ambições ou perspetivas, com baixas expetativas relativamente ao futuro (17,0%):

“sem objetivos, sem ambições” (suj23)

“Alunos que se preocupam pouco com o futuro, sem grandes perspetivas futuras” (suj6)

“Alunos com fracas expetativas relativamente ao futuro” (suj40)

Um outro aspeto diz respeito à ausência de hábitos de trabalho e estudo, assim como de uma cultura do esforço (11,3%):

“não têm hábitos de trabalho” “falta de hábitos de estudo” (suj2)

“sem qualquer noção de esforço e de trabalho” (suj33)

Destacamos ainda outras categorias menos frequentes, referidas por menos de 10% dos participantes, tais como a perceção de que os alunos são carentes e necessitam de atenção (9,4%):

“carentes afetivamente” (suj5)

“requerem mais a atenção do adulto, o que por vezes se torna cansativo para este, demonstram mais as suas carências.” (suj6)

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Os docentes referem a ausência de um ambiente familiar capaz de acompanhar, motivar, apoiar e orientar os seus educandos (9,4%):

“não têm ambiente familiar nem encarregados de educação capazes de os motivar, orientar e ajudar na sua educação” (suj34)

“pouco acompanhados pelos encarregados de educação” (suj35)

Os alunos são ainda descritos como mal-educados (9,4%):

“muito mal-educados” (suj3)

“de uma elevada má educação” (suj29)

Os participantes relatam também que os alunos apresentam interesses divergentes dos escolares (9,4%):

“com interesses totalmente alheios à escola” (suj17)

A análise das restantes categorias, apesar de menos frequentemente referidas pelos participantes, permite identificar outros atributos associados aos alunos de hoje, tais como: imaturos e infantis (7,5%), indisciplinados (7,5%), agitados (7,5%), irrequietos (3,8%), desrespeitadores (5,7%), irresponsáveis (3,8%), difíceis (3,8%), intolerantes (3,8%), rebeldes (3,8%), malcomportados (3,8%).

Até ao momento, referimo-nos a atributos considerados negativos e dificultadores de uma aprendizagem de elevada qualidade.

Procurando agora atributos positivos, podemos destacar os seguintes: tecnológicos-digitais (5,7%), curiosos (5,7%), reconhecem o valor da escola (3,8%), mais participativos e interventivos nas decisões da escola (3,8%), inteligentes (1,9%), empenhados e interessados (1,9%), ávidos de experiências (1,9%), com boas

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capacidades de aprendizagem (1,9%), disponíveis para aprender (1,9%), bem-dispostos (1,9%), felizes (1,9%).

Discussão

A análise das perceções dos docentes relativamente às caraterísticas dos alunos de hoje permite destacar dimensões consideradas fundamentais na promoção da aprendizagem (Muñoz, Scoskie, & French, 2013; Skinner, Kindermann, Connell, & Wellborn, 2009) e que, segundo a visão dos docentes participantes neste estudo, estão ausentes ou em grau insuficiente nos alunos com quem convivem diariamente. Assim, os docentes relatam um reduzido envolvimento por parte dos alunos no seu processo de aprendizagem, abrangendo as diferentes dimensões identificadas pela literatura: emocional, cognitiva e comportamental (Archambault, Janosz, Fallu, & Pagani, 2009; Fredricks, Blumenfeld, & Paris, 2004; Jimerson, Campos, & Greif, 2003; Zepke, & Leach, 2010). De facto, os alunos são descritos como desmotivados, desinteressados, sem hábitos de trabalho e de estudo, com baixas expetativas face à escola, com dificuldades de concentração, sem objetivos ou ambições, pouco empenhados, pouco esforçados, com dificuldades no cumprimento de regras da escola e da sala de aula.

Por outro lado, a referência ao contexto familiar, mencionado também por Hattie (2009) e Zakaria, Reupert e Sharma (2013), é bastante frequente (negativamente, note-se), nomeadamente na perceção de que os alunos se mostram carentes, sós e com necessidade de atenção, com problemas familiares, sem suporte familiar adequado, sem acompanhamento e orientação, sem regras e sem valores.

As perceções de professores a lecionar em agrupamentos/escolas TEIP apresentam-se bastante distintas das perceções de professores a lecionar em escolas privadas (informação mais detalhada pode ser consultada em Trigo, 2014). Assim, enquanto a curiosidade foi o atributo mais referido pelos docentes de escolas privadas (39,9%), apenas foi referido por 5,7% dos docentes de escolas TEIP. O atributo tecnológicos-digitais foi referido por 22,4% no primeiro caso e por apenas 5,7% no segundo caso. Os alunos dos professores de escolas privadas consideram que os alunos trazem mais conhecimentos e uma bagagem enriquecedora (16,1%), enquanto os professores de agrupamentos/escolas TEIP consideram que os seus alunos estão pior preparados

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(5,7%) e apresentam um nível mais fraco (3,8%). Os alunos são ainda considerados empenhados e interessados por 15,4% dos professores no primeiro caso, o mesmo acontecendo apenas para 1,9% dos participantes no segundo caso. No estudo realizado em agrupamentos/escolas TEIP, a ausência de regras e as dificuldades no cumprimento de regras surge na quarta posição (18,9%), enquanto nas escolas privadas surge na 20.ª posição (7%).

Há, no entanto, algumas semelhanças. As dificuldades de concentração dos alunos surgiram em segundo lugar em ambos os estudos, tendo sido referidas por 30% dos professores de escolas privadas e por 22,6% dos professores de agrupamentos/escolas TEIP. A reduzida motivação e a dificuldade em motivar os alunos é também referida em ambos os casos, tendo sido referida por 13,3% dos professores no primeiro caso e por 20,8% no segundo caso. Outros atributos são comuns, tais como: imaturos e infantis, exigentes e desafiantes, imediatistas, agitados e irrequietos, menos autónomos.

Nas descrições apresentadas pelos professores de agrupamentos/escolas TEIP, predominam claramente os atributos negativos, aspeto que tem sido identificado também noutros estudos (Kyriacou, Avramidis, Hoie, Stephens, & Hultren, 2007; Zakaria, Reupert, & Sharma, 2013).

O desafio de ensinar e fazer aprender na atualidade fica bastante dificultado quando o envolvimento dos alunos é reduzido. No contexto dos agrupamentos/escolas TEIP, a perceção dos professores salienta a existência de problemas sérios ao nível do envolvimento emocional, cognitivo e comportamental. A que se devem as dificultadas reportadas pelos professores? O que podem fazer os responsáveis pelas escolas, os docentes, os psicólogos e as famílias? Que mudanças são necessárias ao nível das crenças, atitudes, competências, conhecimentos e comportamentos por parte dos alunos e dos diferentes intervenientes no processo de ensino-aprendizagem? Que lógicas e dinâmicas de intervenção são mais eficazes?

Se a perceção dos professores indica dificuldades sérias no contexto familiar, que tipo de intervenção deve a escola desenvolver, em conjunto com as famílias e com a comunidade, para que a mudança possa ter lugar?

Como podem os dados disponíveis sobre as perceções dos alunos relativamente aos fatores facilitadores e dificultadores da aprendizagem (Alves, Palmeirão, Trigo, &

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Cabral, 2014; Trigo, 2014; Cunha, 2015) ser rentabilizados e intencionalizados, informando o desenho de intervenções com validade ecológica e eficácia? Que modos de ensinar trarão melhores resultados para alunos que apresentam as caraterísticas referidas pelos professores participantes neste estudo?

Não é objetivo deste trabalho apresentar respostas para estas questões, mas sim estimular a reflexão sobre os fatores a ter em conta na compreensão das dificuldades vividas atualmente por professores, alunos e famílias, bem como sobre os possíveis caminhos a percorrer na procura incessante de soluções.

Referências bibliográficas

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