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Inclusão de estudantes quilombolas deficientes no ensino fundamental e médio: o caso lage dos negros / Inclusion of disabled quilomboles students in school and middle education: the lage case of black people

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Academic year: 2020

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Inclusão de estudantes quilombolas deficientes no ensino fundamental e

médio: o caso lage dos negros

Inclusion of disabled quilomboles students in school and middle education: the

lage case of black people

DOI:10.34117/bjdv5n11-247

Recebimento dos originais: 07/10/2019 Aceitação para publicação: 22/11/2019

Ozelito Souza Cruz

Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia; Mestrado em maitrise en education - Université du Québec à Chicoutimi; Especialização em Especialização em Educação Especial e Inclusiva. Atualmente é professor titular da Universidade do Estado da Bahia – UNEB

professor do Ensino Médio - Colégio Estadual Roberto Santos E-mail: ozelitocruz@hotmail.com

Pedro Paulo Souza Rios

Doutor em Educação pela Universidade Federal de Sergipe; Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos pela Universidade do Estado da Bahia; Especialização em Filosofia Contemporânea, Educação de Jovens e Adultos e Gênero e Sexualidade na Educação; Graduado em

Filosofia e Pedagogia; Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Sexualidades do Sertão – GENESES-Sertão; Professor na Universidade do Estado da Bahia –

UNEB, Campus VII

E-mail: peudesouza@yahoo.com.br

RESUMO

Este artigo aborda sobre o acesso das pessoas portadoras de deficiência no ensino fundamental e médio, no Território Quilombola Lage dos Negros, no município de Campo Formoso, onde se estabeleceu uma comunidade negra, centenária, que nem mesmo o tempo e a chegada do “progresso”, associada aos investimentos, públicos e privados, conseguiu apagar os sinais de exclusão. Inquietou-nos nesta abordagem investigativa saber, como as crianças portadoras de deficiência, estão acessando as ações de intervenção e políticas públicas de inclusão, direcionadas a esse Território Quilombola. Para atingir os objetivos propostos nesta abordagem, além do estudo e analise de documentos norteadores destas politicas, recorremos a uma pesquisa de natureza qualitativa através da qual foram ouvidos professoras, agentes comunitários de saúde e outros sujeitos, como a coordenadora da sala de recursos, um sindicalista, além de ouvir representantes das Secretarias de Saúde, Ação Social e Secretaria de Educação do município. Os resultados apresentados, a partir da coleta e analise dos dados levantados, apontam para a necessidade de repensar, tanto as políticas públicas de inclusão como o próprio espaço escolar, visto que tais serviços, da forma como vem sendo ofertados, enquanto instrumento de inclusão, não atendem as reais exigências requeridas pelos portadores de deficiência no Territorio Quilombola de Lages.

Palavras-chave: Quilombo, Território Quilombola, Exclusão.

ABCTRACT

This article deals with the access of people with disabilities in elementary and high school, in the Quilombola Lage dos Negros Territory, in the municipality of Campo Formoso, where a black, centenary community was established, not even the time and the arrival of “progress”. ”, Associated with public and private investments, managed to erase the signs of exclusion. It disturbed us in this

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investigative approach to know how children with disabilities are accessing intervention actions and public inclusion policies directed to this Quilombola Territory. To achieve the objectives proposed in this approach, in addition to the study and analysis of guiding documents of these policies, we resorted to a qualitative research through which teachers, community health agents and other subjects, such as the resource room coordinator, were heard. unionist, in addition to listening to representatives of the Municipal Health, Social Action and Education Secretariat. The results presented, from the collection and analysis of the collected data, point to the need to rethink both the public policies of inclusion and the school space itself, since such services, as it has been offered as an instrument of inclusion, do not meet the actual requirements of disabled people in the Lages Territorio Quilombola.

Key words: Quilombo, Quilombola Territory, Exclusion.

1 INTRODUÇÃO

O debate em torno do negro e das questões inerentes ao seu processo de exclusão, bem como de sua integração as políticas afirmativas de inclusão, desencadeadas nas últimas décadas, ainda não se esgotou. A diversidade de espaços e situações de exclusão a que a população negra foi submetida ao longo da história e vivenciadas por essa população em diferentes regiões do país nos oferece, ainda hoje, um vasto campo de observação e estudos acerca dessas questões, marcadas por relações de dominação e exploração.

O Território Quilombola de Lages dos Negros, no município de Campo Formoso, é um desses espaços onde se estabeleceu uma comunidade negra, centenária, que nem mesmo o tempo e a chegada do “progresso”, associada aos poucos investimentos, públicos e privados inseridos na região conseguiram apagar os sinais de exclusão, evidenciados pelos vários indicadores sociais, disponíveis através do IBGE (2007) e do MDS (2011), à disposição da sociedade, no que tange as condições de moradia, acesso à terra, a água, a saúde, a educação e tantos outros.

Localizado em uma região semiárida, situado a uma distância de 100 Km da sede do município, onde predomina o Bioma Caatinga, esse Território ocupa uma vasta faixa de terras na extensão da área territorial do município de Campo Formoso na divisa com os municípios de Juazeiro, Sento Sé, Umburanas e Mirangaba. Margeando uma cadeia de serras no Vale do Rio Salitre, que apresenta um relevo diversificado com cadeias de serras, vales, grotas e tabuleiros, esse território apresenta uma grande diversidade de cavernas e grutas, objeto de investigação de pesquisadores e visitação para turistas.

A dinâmica populacional, impulsionada ao processo migratório da população negra durante e, sobretudo, após a abolição da escravatura, para fugir das perseguições do trabalho nos engenhos e outras atividades urbanas nas principais áreas de povoamento da região naquela época, a Freguesia Velha de Santo Antônio (hoje município de Campo Formoso) e Itinga da Serra (hoje município de Antônio Gonçalves), deram origem ao povoado de Lages dos Negos, que tem como um de seus fundadores José Luiz dos Santos, antigo escravo, conhecido como Luizinho.

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A partir de então, outros negros desprovidos da posse da terra e das condições materiais necessárias para garantir sua sobrevivência, nas áreas urbanas, migraram para o interior do município, onde se estabeleceram às margens do Rio Salitre e de seus afluentes. No entorno de Lages dos Negros, em decorrência da busca por novas terras para a expansão agrícola e o desenvolvimento de outras atividades, foram surgindo núcleos de povoamento que hoje constituem o Território Quilombola Lage dos Negos, onde vive uma população estimada em 12 mil habitantes IBGE (2007), distribuída em 26 comunidades negras, reconhecidas pela Fundação Palmares (2006).

A origem, de Lages e demais comunidades quilombolas estão, de algum modo, associadas à oferta de peixes, de caças, à coleta extrativa (mel, licuri, umbu...) e ao plantio de culturas de subsistência (mandioca, feijão e milho) que se constituíam como principais fontes de geração de renda e sobrevivência da população desse território.

Segundo estudos do IBGE (2007), Lages dos Negros apresenta um índice de analfabetismo superior a 60% da população com faixa etária superior a 50 anos e 15% entre os jovens e adultos com faixa etária entre 15 e 39 anos. A Educação disponibilizada pelo poder público, que atende ao ensino infantil, fundamental e médio, além de muito recente, não dispõe de espaços adequados, tanto para o ensino quanto para prática de atividades esportivas e de lazer das crianças e jovens.

Na área da saúde, as comunidades quilombolas dispõem de uma única unidade do PSF (Programa de Saúde da Família), recém-criada, que dispõe de médico uma única vez no mês, para atender a toda a população.

No aspecto econômico predomina a agricultura familiar, de subsistência, baseada no plantio de feijão, milho, mamona, mandioca e na extração de fibras de sisal, assim como na criação de animais de pequeno porte (caprinos, ovinos, suínos), criados de forma extensiva. Uma pequena parcela da população vive exclusivamente do comércio, nos dias de feira, em Lages dos Negros. No âmbito da organização sindical, as associações quilombolas, criadas há pouco mais de 10 anos com o intuito de lutar pelos interesses da população local, são a principal forma de organização presente na maioria das comunidades. Outros sinais de organização, criados como estratégia de comercialização dos produtos da agricultura ou como forma de resistência e manutenção de saberes, cultuados pelas famílias antigas são os mutirões, sambas de roda e festas de padroeiro, ainda muito celebradas na comunidade.

Segregadas pela concentração fundiária (carência na distribuição das terras), pela carência de infraestrutura (hídrica, transporte, saúde, moradia e educação entre outras), concentração da produção e, sobretudo, pela ausência de intervenção planejada do poder público (municipal, estadual e federal), a população de Lages convive, ainda, com a falta de água para consumo humano e animal, com a concentração da terra, com o descaso na educação, com a ausência de assistência médica e,

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principalmente, com a falta de políticas públicas. O nível de desemprego nas comunidades do território é um dos mais altos do município.

A posse da terra vem sofrendo, nas últimas décadas, um crescente processo de concentração e apropriação, a exemplo do que acontece às margens do Rio Pacuí e do Rio Salitre, onde as melhores terras estão sendo ocupadas com grandes projetos de irrigação. A energia elétrica, recém-chegada na maioria das comunidades (2011-2013), e os programas sociais do governo federal (bolsa escola, bolsa família...) são, talvez, as políticas públicas mais significativas à que a população dessas comunidades teve acesso nos últimos 10 anos. Segundo dados do Programa Bolsa Família, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS 2012), existem nas 26 (vinte e seis) comunidades que constituem o Território Quilombola Lages dos Negros, 2.700 (duas mil e setecentas) famílias, vivendo em situação de extrema pobreza, com recursos dos programas sociais do governo federal.

A implantação de projetos que não atendem à real demanda da população, a exemplo dos projetos agrícolas que só beneficiam a quem detém a posse da terra, coisa que a maioria da população quilombola não têm, aliado a outros fatores, como o crescente processo de modernização e expansão capitalista da agricultura da região, vêm provocando na população dessas comunidades, nas últimas décadas, sinais de acomodação, inquietação e até de resistência, frente a esse processo.

Evidencia-se também, por outro lado, conduzido pelo debate em torno das políticas públicas afirmativas de inclusão social do Governo Federal (aqui entendidos como bolsa escola, bolsa família, Peti, Plano Brasil sem Miséria), direcionadas a populações em situação de vulnerabilidade social e exclusão social, um crescente processo de discussão, cuja questão investigativa é: Qual a real capacidade “inclusiva” dessas políticas públicas e ações de intervenção, para os que mais precisam que são os portadores de deficiências?

Seja em decorrência das políticas públicas, excludentes, ou da inexistência destas, o que provocou ao longo das últimas décadas um quadro de extrema pobreza e exclusão na população dessas comunidades, a discussão quanto ao acesso a esses programas e políticas públicas assume, nesse contexto, uma dimensão que vai além do próprio sentido dessas políticas, que é a relação dessas com os verdadeiros excluídos, os portadores de deficiências, uma discussão que na nossa compreensão, carece ainda de debates e reflexões.

A oportunidade que tivemos de participar do Curso de Educação em Educação Especial e Inclusiva, da Faculdade Presbiteriana Augusto Galvão (2014-2015), nos fez despertar para o problema do acesso, das crianças portadoras de deficiência, da população quilombola, ao processo educativo.

A nossa vivência com pessoas dessa comunidade, como professores, cidadãos e militantes no campo da educação, preocupados com os constantes relatos sobre a situação de exclusão nessas

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comunidades e território, em especial das crianças deficientes, nos fez suscitar alguns questionamentos e inquietações, especialmente, quanto ao impacto gerado pelas políticas de intervenção (públicas e privadas) voltadas para a promoção do desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida da população desse Território Quilombola. Em especial nos inquietou saber: Como as pessoas portadoras de deficiências estão acessando as ações de intervenção e políticas públicas direcionadas a esse Território? Que estratégias vêm sendo utilizadas pelas famílias como forma de integração e apropriação das ações afirmativas de inclusão?

Nosso objetivo, nesta abordagem, consiste em refletir sobre a dinâmica das ações de intervenção decorrentes das políticas públicas, no contexto do território Quilombola de Lage dos Negros e o processo de inclusão das pessoas portadoras de deficiências, vivenciadas a partir dessas intervenções.

Como objetivos específicos, mapear as políticas públicas de inclusão, buscando compreender como as pessoas portadoras de deficiências, destas comunidades Quilombolas, se posicionam frente aos programas e ações de inclusão, aos quais têm acesso as pessoas com deficiência, bem como analisar o impacto gerado pelas políticas públicas, afirmativa, quanto ao acesso e melhoria da qualidade de vida das pessoas atendidas através destas políticas públicas.

Assim, a pertinência desse estudo consiste em aprofundar o debate sobre a população negra, do território quilombola de Lages, bem como oferecer aos órgãos de planejamento, informações que possam subsidiar a implantação de novas ações e políticas públicas, direcionadas a esse segmento, contribuindo para uma melhor inserção das dos estudantes, portadoras de deficiências, que convivem com essa realidade da população quilombola, ao processo educativo.

Nesse momento em que o Governo Federal, através do “Plano Brasil Sem Miséria” (2012), promove uma articulação de vários Ministérios para discussão de ações afirmativas direcionadas à população negra dessas comunidades, acreditamos que este estudo poderá trazer importantes contribuições quanto ao indicativo da situação das pessoas portadoras de deficiências, assim como contribuir para o avanço da pesquisa na área da educação e das ciências sociais, possibilitando novos diálogos e outros estudos científicos, sobre deficiência e a interseccionalidade de raça/etnia frente às políticas afirmativas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

Nesta investigação, de natureza qualitativa, a análise das informações e dados coletados junto aos órgãos de governo municipal, bem como através da aplicação de entrevista, semiestruturada junto aos sujeitos, um sindicalista, 02 (duas) professoras do ensino fundamental e médio, a coordenadora

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da sala de recursos e 06 (seis) agentes comunitários de saúde, que atuam no âmbito do território quilombola, nos permitiram aprofundar o debate sobre essa temática em discussão.

O espaço de investigação nesta abordagem, em decorrência das nossas limitações de tempo, ficou restrito as comunidades quilombola de Lages, Lages de Cima, Gameleira, Alagadiço, Patos, Casa Nova dos Amaros, Casa Nova dos Ferreira, Casa Nova dos Marinhos, Pacui, Queixo Dantas, Borges, Bicas, Pedra e Bebedouro, assim como aos documentos fornecidos pelas secretarias de Saúde, Educação e Ação social (2014), que embasam as nossas analises.

A realização do nosso olhar nessa abordagem começa com a revisão dos conceitos que nortearam esse debate e possibilitaram articular essa reflexão como a questão da inclusão das crianças deficientes, que são: Quilombo, Território Quilombola e Exclusão.

2.1 Do castigo ao quilombo

Os negros escravizados ao desembaraçarem no Brasil, vindos de diversos países do continente africano, quando aqui chegavam, totalmente desprovidos de direitos, eram tratados como “animais” sem nenhuma dignidade por parte dos colonizadores, que se apropriavam do trabalho destes para desbravar as novas terras e produzir riquezas.

Como bem ressalta Vita (1986, p.15), “a figura do senhor de terras, o latifundiário, comandando batalhões de escravos, na empreitada de acumular riquezas através da produção de gêneros tropicais para a exportação [....] não conhecia limites para o seu poder”

Durante o regime escravocrata, os negros sofriam todo tipo de maus tratos físicos, que iam desde as duras e longas jornadas diárias de trabalho, até a realização de tarefas que exigiam grande esforço físico. Quando estes não se submetiam às tarefas impostas eram duramente castigados pelos feitores, que organizavam o trabalho e evitavam as fugas dos negros. Da mesma forma, quando pegos infringindo alguma norma, os escravos eram amarrados no tronco e açoitados com um chicote que abria feridas na pele. Em casos mais severos os castigos incluíam até a mutilação, a castração ou a amputação de alguma parte do corpo.

Como afirma Munanga (1988, p.32): “o negro foi reduzido, humilhado e desumanizado, desde o início, em todos os cantos onde houve confronto na relação com o colonizador”.

Cabe ressaltar que os negros nunca foram passivos diante das condições de vida e trabalho que lhes foram impostas durante a escravidão e, apesar, de não terem para quem apelar, muitos lutavam de forma silenciosa, entregando-se a tristeza profunda até a morte, outros tinham como fuga o suicídio.

Desde o início da escravidão os negros, transformados em escravos, começaram a organizar-se para garantir sua sobreviver e resistir contra o processo da escravidão.

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O sistema escravista, numa tentava de destruir o negro e sua cultura impedia inclusive que os negros adquirissem consciência de sua situação social, fato que poderia contribuir com o processo de alienação e opressão a que os escravos eram submetidos.

Os anos de escravidão, como bem destaca Munanga (2006), sempre foram acompanhados de um forte movimento de resistência:

insubmissão às regras do trabalho nas roças ou plantações onde trabalhavam – os movimentos espontâneos de ocupação das terras disponíveis, revoltas, fugas, abandono das fazendas pelos escravos, assassinatos de senhores e famílias, abortos, quilombos, organizações religiosas, entre outras, foram algumas estratégias utilizadas pelos negros na sua luta contra a escravidão. (Munanga, 2006, p.69).

Com o passar dos anos os negros foram encontrando meios diferentes de lutar contra esse sistema, seja através das lutas corporais ou fugindo para lugares de difícil acesso-os quilombos.

Quilombo é o nome dado no Brasil aos locais de refúgio dos escravos fugidos de engenhos e fazendas durante o período colonial e imperial. Nestes locais os escravos passavam a viver em liberdade, plantando e coletando produtos das matas, como madeira e frutas, além de caçarem e criarem animais, criando assim novas relações sociais. Os quilombos eram, portanto, locais de refúgio, mas também de resistência contra a escravidão.

Do ponto de vista histórico, os quilombos foram a estratégia de resistência que melhor representou a luta contra a escravidão, quando os negros, fugindo da escravidão, formavam comunidades no interior das matas e organizavam uma produção agrícola autônoma e formas de organização sócio-política peculiares.

Esse processo de organização se prolonga após a abolição e vai dar origem a outras formas de organização, mais sistemáticas, da sociedade moderna, da forma como as conhecemos hoje, como as associações recreativas, centros de religiões afro-brasileiras e grupos teatrais, entre outras, com forte presença negra, que compõem a nossa sociedade.

2.2 Território quilombola e exclusão

O território enquanto espaço de discussão e definição das políticas públicas executadas pelos governos, a nível local, regional e nacional, apesar de ser uma atitude ainda muito tímida e incipiente, tem sido uma prática cada vez mais adotada pelos diversos segmentos da sociedade, na gestão do que se considera público, aqui entendido como bens e serviços públicos destinados à sociedade. Nesta reflexão, ainda que de forma sucinta, buscaremos estabelecer o debate entre território quilombola e

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exclusão, por entender que é na apropriação e na compreensão da relação que se estabelece entre estes conceitos que se insere a apropriação do espaço – aqui entendido como território.

As estratégias que os grupos sociais geram para se apropriar do território são, antes de tudo, relações sociais projetadas no espaço, onde o controle territorial é um imperativo para os grupos sociais que promovem o fechamento do espaço social, recusando ou impedindo o acesso do outro. Os negros, após o processo de abolição começaram a lutar por seus diretos, percebendo que o modelo de sociedade vigente não lhes daria espaço, uma vez que este não os reconhecia como parte dela e buscava construir um modelo de sociedade pautada na exclusão.

O racismo, o preconceito, a discriminação e a negação dos direitos essenciais básicos, entre eles a educação, os impediam de avançar. Restou ao negro, portanto, segundo Munanga (2006),“lutar e resistir contra o processo de exclusão para enfrentar os desafios da realidade pós-abolição”.

O Território Quilombola Lages dos Negros, apesar de ocupar uma vasta área territorial do município de Campo Formoso, com uma população estimada em mais de 15mil habitantes, é uma região totalmente desprovida de políticas públicas e sem perspectiva de melhoria de vida da população, que sofre, ainda hoje, em decorrência do processo de exclusão construído ao longo da historia de existência dessa população.

Essa realidade se repete na escola, onde as crianças portadoras de deficiência estão alijadas do processo educativo. Como bem evidencia Rodrigues (2001), ao refletir sobre a escola ressalta que: Criada para dar educação básica a todos e a qual todos deveriam ter acesso, a escola tradicional desenvolveu práticas e valores que progressivamente acentuaram as diferenças e que colocaram precocemente fora da corrida da competência, largos extratos da população escolar (p.16).

Nas comunidades quilombolas, como constatamos em documentos fornecidos pela Secretaria Municipal da Educação, há um elevado número de crianças portadoras de deficiências matriculadas no ensino regular, mas, não se evidencia, no entanto, a existência de qualquer mecanismo de acompanhamento da frequência e do processo educativo destas crianças deficientes e sua frequência à escola.

Estudo de Martins (2004), consultor de la División de Desarrolo Social de la Comissión Económica para América Latina e el Caribe CEPAL, ao refletir sobre Desigualdades raciais e politicas de inclusão racial, na Educação ressalta que:

pelo seu papel estratégico como determinante da distribuição de outras variáveis, o sistema educacional pode, em qualquer sociedade, se constituir em um poderoso agente de inclusão e de promoção da igualdade, como pode ,

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ao contrario, atuar no sentido de gerar, de manter, ou de ampliar as disparidades socioeconômicas (p.21)

É, pois, a partir deste recorte e contexto, marcado pelas desigualdades, o Territorio Quilombola de Lages dos Negros, enquanto espaço de disputa de interesses, permeado de ideologia, de contradições e de instrumentos de controle social, que se insere o debate sobre as políticas públicas, em especial, da educação, que atenda os interesses do “outro”, os excluídos das políticas públicas ou pela ausência delas.

De fato, as politicas de inclusão dos negros nessas comunidades se dão a partir das políticas afirmativas. Como? É o que investigamos

3 A ESCUTA AOS SUJEITOS

Nossa escuta, para subsidiar o debate e a produção deste artigo, ouviu na busca de informações que pudessem embasar as nossas analises, as Secretarias Municipais de Saúde, Educação e Ação Social do município. Nossa intinerancia começa na Secretaria de Saúde, cuja leitura dos documentos do SIAB – Sistema de Informação de Atenção Básica de Saúde (2014), da Unidade Básica de Lages dos Negros, apresentou o seguinte quadro.

Unidade Básica Familias cadastradas

NÚMERO DE PESSOAS CADASTRADAS

PS de L. dos Negros

2.374 7 a 14 anos 7 a 14 anos na escola

15 anos e mais 15anos e + Alfabetizados

1.704 1.306

76,64%

6.633 5.403

81,46% Fonte: Secretaria Municipal de Saúde (2014)

Das 2.374 familias cadastradas, na Unidade de Saúde, evidencia-se que dentre as1.704 crianças de 7 a 14 anos, 76,64%, estão na escola, e que há um número significativo de crianças de 7 a 14 anos, ou seja (26,36), que não estão frequentando a escola. Da mesma forma, se percebe que entre as pessoas de 15 anos e mais, apenas 81,46%, são alfabetizados, o que significa dizer que há um percentual de 18,54%, entre estes, que não estão frequentando a escola.

Da nossa consulta junto a Secretaria da Educação e da analise dos documentos, que nos foram fornecidos, conforme o quadro abaixo evidencia-se, pelo número de alunos matriculados, um elevado número de crianças deficientes, por unidade escolar. Evidencia também, o tipo de deficiência, o tipo

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de atendimento educacional a que tem acesso e os recursos disponibilizados aos portadores de deficiência, no Território Quilombola.

Relação de Alunos com Deficiência, Transtorno Global do Desenvolvimento ou Altas Habilidades/ Superdotação por Turma na Região de Lage dos Negros.

Nº de Ordem

Localidade Nome da Escola Quantidade de deficientes/ sexo

Tipo de Deficiência

Tipo de Atendimento

Recursos neces- sários para parti cipação do aluno em avaliações 01 Alagadiço de Lages Esc. Municipal Martiniano Florêncio Sales 03 – Mas. 03 – Fem. 01 – Surdez 05 – Intelectual Não se aplica Não se aplica Interprete libras Auxilio Transcrição

02 Lages Col. Municipal

Rosalvo Luiz Celestino 03 – Mas. 01 – Fem. 01 -Física 03 - Intelectual Não se aplica

Não se aplica Auxilio Transcrição

03 Lages Esc. Otaviano Feliciano da Gama 07 – Mas. 01 – Física 04 – Intelectual 02 - Auditiva Não se aplica Não se aplica Auxilio Ledor Nenhum Interprete libras

04 Lages Sala de Recursos (Matutino) 06 – Mas. 01 - Fem. 02 – Física 04 - Intelectual 01 - Múltipla Atendimento Educacional Especializado Auxilio Transcrição

05 Lages Sala de Recursos

(Vespertino) 05 - Mas. 03 – Fem. 07 - Intelectual 01 – Auditiva Atendimento Educacional Especializado Auxilio Transcrição Interprete libras

06 Lages Esc. Luiz ManoelCelestino

05 – Mas.

03 – Fem.

08 - Intelectual Não se aplica Auxilio Transcrição

Auxilio Ledor 07 Lage de Cima Esc. Nossa Senhora das Graças

01 – Mas. 01 - Física Não se aplica

Nenhum

08 Lage de Cima

Esc. José Nicolau de Oliveira

01 – Fem. 01 - Intelectual Não se aplica Auxilio Ledor

09 Casa Nova dos Ferreira Esc. Nossa Senhora das Grotas 01 – Mas. 01 – Fem.

02 - Intelectual Não se aplica Auxilio Transcrição

10 Pacui Col. Armando Trajano Maia

07 – Mas.

07 – Fem.

01 - Física

11 – Intelectual

Não se aplica Auxilio Transcrição

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01 - Auditiva

11 Patos Esc. Coração de Jesus

01 – Fem. 01 - Intelectual Não se aplica Auxilio ledor

12 Queixo Dantas

Esc. Antonio Justino dos Santos

01 – Mas. 01 - Baixa Visão Não se aplica

Auxilio Transcrição Total 39 – Mas. 21 – Fem. 05 – Física 03 – Auditiva 46 – Intelectual 01 - Baixa visão Fonte: Secretaria Municipal de Educação (2014).

A análise dos dados apresentados nos permite aferir que, em todas as escolas do Territorio Quilombola, há um elevado número de crianças deficientes, com destaque para a escola Armando Trajano Maia, localizada no povoado Pacuí, onde 11 crianças estão matriculadas no ensino regular, Destaca se em relação ao tipo de deficiência, as de natureza intelectual, com o registro de 46 casos, seguido dos casos de deficiência física, com5(cinco) casos registrados. Vale destacar que, de um total de mais de 50 alunos matriculados, na escola regular, atendendo ao que preconiza o Art.208, inciso III, da Constituição Federal (1988), apenas 15 crianças frequentam a Sala de Recursos, um espaço voltado para o desenvolvimento de atividades de apoio as crianças com deficiência, localizada no povoado de Lages.

Da nossa escuta, e da coleta de informações, junto à Secretaria da Ação Social, constatamos que existia no município (2014), 2.124 (duas mil cento e vinte e quatro) pessoas contempladas com o BPC – Beneficio de prestação continuada, onde constatamos que 90%,desses benefícios concedidos, são destinados às pessoas portadoras de deficiência, os outros 10% são concedidos, em especial, para idosos. Em todo o Territorio Quilombola de Lages dos Negros, evidencia-se que o número de crianças, portadora de algum tipo de deficiência e, beneficiada com o BPC é 55 (cinquenta e cinco) pessoas, e que 90% destas são crianças, na faixa etária entre 7 a 15 anos.

Da analise realizada junto aos documentos, fornecidos pelas secretarias municipais, em especial a Secretaria de Ação Social e a Secretaria de Educação, evidencia-se que o BPC e a Sala de recurso, são os únicos benefícios a que as crianças com deficiência, no Território Quilombola, matriculadas no ensino fundamental, tem acesso.

Da consulta realizada junto aos agentes comunitários de saúde e as professoras que responderam a entrevista, evidenciou-se que, os tipos de deficiência mais comuns na região, são os identificados como doenças mentais, seguida de deficiências físicas. Tal constatação se equipara, em parte, as informações coletadas junto a Secretaria da Educação, quando comparado o número de

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crianças portadoras de deficiências, com o número de matriculas. Há na região, segundo o sindicalista, comunidades como Bicas, onde “a principal deficiência das pessoas está relacionada com a surdez e com a fala”. De acordo com a coordenadora da sala de recursos “tanto em Lages como em outras comunidades ao entorno deste povoado, a exemplo de Alagadiço, tem famílias com até 03 (três) crianças com deficiência, especialmente a deficiência de natureza intelectual.”

Os dados coletados junto às Agentes Comunitários de Saúde apontam que, há algumas crianças que, mesmo frequentando a escola, não recebem nenhum tipo de benefício. Isto acontece porque, conforme constatamos na própria Secretaria de Ação Social, o BPC só pode ser pago para uma única criança da mesma família.

Segundo a agente comunitária de saúde de Lages, cuja sua fala confirma a informação que nos foi passada pela Secretaria da Ação Social, “há, neste povoado, familias que já tentaram varias vezes, mas nunca tiveram seu beneficio aprovado pela perícia”. Esse mesmo entendimento é compartilhado pela agente Comunitária de saúde de Gameleira, quando afirma que, “se já tem uma pessoa cadastrada ou a renda percapta da família ultrapassa o valor de referência, o programa não aceita”.

Em posição antagônica aos indicadores apontados pela Secretaria de Educação, as agentes de saúde entrevistadas foram unanimes em afirmar que, “existem muitas crianças com deficiência, matriculadas na escola, mas nem todas estão frequentando a escola. Como bem destaca as agentes de Lages “sei que tem crianças matriculadas, mas não sei informar se elas estão indo a escola [... ] eu não tenho conhecimento se estas crianças estão frequentando a escola”. Da mesma forma, se posicionou a professora de uma das escolas de Lages, quando destaca que “apesar de terem duas crianças com deficiência matriculadas na escola onde eu ensino, não existe nenhuma frequentando as aulas”. Já a agente de saúde de Bebedouro ponderou que “na minha comunidade tem quatro crianças com deficiência, mas só duas estão na escola”.

Outro aspecto a ser observado é que, não há em Lages, assim como nos outros povoados ao seu entorno, escola que ofereça as condições necessárias para o acesso e permanência das crianças com deficiência, pois, estas estudam na mesma escola onde estudam as crianças não deficientes. Mas, como destacou a professora de uma Escola de Lages “as escolas onde estão matriculadas as crianças portadoras de deficientes não passaram por nenhuma adaptação para o acolhimento das mesmas”.

De fato, como constatamos em visita a cada uma das escolas de Lages, com exceção da Escola Quilombola, que tem rampa de acesso, sinalização, sanitário adaptado e outros equipamentos, nenhuma outra dispõe desses recursos que facilitariam a vida das crianças com deficiência. Neste mesmo sentido se posicionou a coordenadora da Sala de Recursos, ao afirmar que “acho que aqui, em Lages, somente a Escola Quilombola é adaptada para receber crianças com deficiência”.

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Outro aspecto, a ser observado é o transporte escolar, pois, como a maioria das crianças da região estudam em Lages, o transporte utilizado para o deslocamento das crianças portadoras de deficiência, é o mesmo disponibilizado para as crianças normais.

A qualificação dos professores para trabalhar com as crianças portadoras de deficientes, com se constata pelos depoimentos dos entrevistados, é um problema verificado em todas as escolas. Não existe, segundo a professora de Lages, “nenhuma escola da região, que tenha uma professora especializada para trabalhar com as crianças deficientes”. A Sala de Recursos, um espaço criado pelo município para o acompanhamento de crianças deficientes, fora do espaço escolar, que funciona no povoado de Lages, apesar de dispor de uma psicopedagoga, dedicada, funciona em uma pequena sala, de difícil acesso, nos fundos de uma casa residencial, onde são encontrados alguns jogos e outros materiais de apoio que são, na nossa compreensão, insuficientes para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade, com as crianças portadoras de deficiência.

Os dados levantados apontam que, existem crianças com deficiência que não estão na escola, como afirmaram os entrevistados. Segundo o sindicalista, “somente em Bicas, tem 02 (duas) crianças com deficiência auditiva que não frequentam escola”. Neste mesmo sentido se pronunciou a agente de saúde de Lages, destacando que a mãe de uma criança, de 11anos, deficiente visual, justificou da seguinte forma o fato de sua filha não frequentar a escola “se não enxerga, para que estudar?” Apesar da mesma não ter nenhuma dificuldade de andar e de exercer determinadas atividades dentro de casa, a mãe entende que pelo fato da sua filha ser cega ela não precisa estudar, o que evidencia a necessidade de um trabalho de esclarecimento junto as familias, que possuem crianças portadoras de deficiência, a cerca da educação como forma de socialização e construção do conhecimento

Para a coordenadora da sala de recursos, as principais dificuldades que as crianças, com deficiência enfrentam, para participar da escola regular, estão relacionadas à falta de acompanhamento das atividades da criança na sala de aula e, principalmente, com a falta de transporte, adequado. Por outro lado, a falta de condições financeira das familias, para contratar transporte particular, para conduzir a criança deficiente à escola, inviabiliza a frequência da mesma às aulas. Como bem evidencia a agente de saúde de Bebedouro, “os pais não tem condições de levar nem de acompanhar os filhos até a escola” [...] “nas escolas em Lages, também, não existe atendimento para as crianças com deficiência”.

Os benefícios que as familias recebem, apesar de todos perceberem como uma coisa muito boa, porque ajuda muito nos gastos da família com alimentação, elas afirmam que, se for gastar com transporte para levar o filho ou a filha deficiente para a escola, não sobra nada para comprar o remédio e outras coisas que a criança precisa.

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Como nos assegura a agente de saúde de Lages “o BPC é o único sustento que muitas familias têm acesso para manter a família”. Para a agente comunitária de saúde de Bebedouro “a maioria das famílias dependem muito desse beneficio para comprar remédios, alimentação e roupa para a criança”. Como bem define a agente de saúde de Gameleira do Dida “Esse beneficio é uma benção, porque dispensa a mãe do trabalho na roça para cuidar da casa e dar mais atenção aos filhos”.

Os recursos liberados através dos programas e projetos citados, como evidenciam os depoimentos, ajudam muito as familias na hora da compra de medicamentos dos filhos e, principalmente, na melhorar da alimentação. Os entrevistados foram unanimes em afirmar que os benefícios concedidos através dos programas melhoraram a qualidade de vida das familias e das crianças; ajudam a melhorar a inclusão, dando mais condição às famílias para levar os filhos ao médico. Como esclarece a agente de saúde de Gameleira “foi uma coisa muito boa para dispensar a mãe do trabalho na roca e dispor de mais tempo para cuidar da criança deficiente”. Para a agente de saúde Lucivânia de Bebedouro, “o Plano Brasil Sem Miséria, do Governo Federal, produziu muitos benefícios na comunidade, deu credito para aos agricultores, e quase todas as familias da nossa comunidade estão produzindo alguma coisa”. Muitas familias não precisam mais trabalhar de empregado. Para ela, os benefícios adquiridos através dos projetos BPC e Brasil sem Miséria, melhoraram em parte a qualidade de vida das familias e das crianças, que com os recursos desses benefícios podem comprar medicamentos e melhorar a alimentação da família.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo realizado nos permitiu identificar que há um vazio de ações e informações, relevantes, que limitam as possibilidades de participação dos portadores de deficiências nos processos educativos, visto que, os próprios mecanismos de inserção, que estão sendo adotados nos processo de inclusão educacional das crianças portadoras de deficiências, não estão sendo expostos de forma clara.

Os resultados obtidos nesta investigação nos permitem afirmar que, o elevado número de crianças portadoras de deficiência do Território Quilombola Lage dos Negros, contemplados com os benefícios do BPC, apesar de regularmente matriculados nas escolas de ensino regular da localidade Lages, não estão, efetivamente, frequentando a escola.

Um dos achados importantes, constatado a partir dos depoimentos coletados para a fundamentação deste estudo foi, a constatação de que, mesmo não sendo uma contribuição efetiva para inclusão das crianças portadoras de deficiência no processo escolar, os benefícios recebidos pelas famílias, estão contribuindo, decisivamente para melhorar a qualidade de vida das familias.

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De fato, não há como negar que a qualidade de vida de algumas pessoas melhorou, em decorrência dos benefícios recebidos, especialmente através do BPC, que garantiu o poder de compras e a manutenção das familias detentoras de crianças portadoras de deficiência. No entanto, no que tange a inclusão das crianças portadoras de deficiências na escola, tais objetivos ainda não foram alcançados, o que demonstra que as politicas públicas de atendimento a comunidade quilombola precisa ser revisada.

O estudo dos documentos norteadores das políticas pública, afirmativas, assim como os dados coletados junto aos sujeitos e analisados, nos permite afirmar que a matrícula das crianças deficientes na escola regular, por si só, não pode ser apontada como um indicador de inclusão e que as politicas, afirmativas, em curso no município e território quilombola, enquanto instrumentos de inclusão escolar, ainda estão muito a desejar.

Entendemos que, para avançar na garantia dos direitos das crianças portadoras de deficiência é fundamental que se repense um plano de ação, para a educação inclusiva, com metas e recursos específicos que contemple, de maneira integral, todos os aspectos que envolvem a educação inclusiva, que vai desde a questão do transporte, adequação do espaço escolar, formação dos professores, tempo de permanência na escola, adequação do currículo, entre outros aspectos.

REFERÊNCIAS

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BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social. Plano Brasil sem miséria, Brasília: novembro 2012.

BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Agrário. Referências para um programa territorial de

desenvolvimento rural sustentável, Brasília: junho de2003.

BRASIL, Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Educacenso, 2014.

CAMPO FORMOSO, Secretaria Municipal de Saúde, SIAB – Sistema de Informação de Atenção

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CAMPO FORMOSO, Secretaria Municipal da Ação Social, Cadastro do BPC – Benefícios de

Prestação Continuada, 2014.

COSTA. Emília Viotti da. A abolição. São Paulo: UNESP, 2008.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de Pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. 10. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.

MARTINS, Rodrigues Borges. Desigualdades raciais e politicas de inclusão racial: um sumário

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MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.

MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos 2ª Ed. São Paulo: Ática, 1988

MUNANGA, Kabengele: O negro no Brasil de hoje / Kabengele Munanga Nilma Lino Gomes. São Paulo: Global, 2006.

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