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Aspectos epidemiológicos da dengue e leptospirose em um município de região fronteiriça do Brasil / Epidemiological aspects of dengue and leptospirosis in a municipality on the Brazil border region

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 43085-43097, jul. 2020. ISSN 2525-8761

Aspectos epidemiológicos da dengue e leptospirose em um município de região

fronteiriça do Brasil

Epidemiological aspects of dengue and leptospirosis in a municipality on the

Brazil border region

DOI:10.34117/bjdv6n7-068

Recebimento dos originais: 03/06/2020 Aceitação para publicação: 03/07/2020

Arianne Peruzo Pires Gonçalves

Doutoranda em Ciência Animal com Ênfase em Produtos Bioativos na Universidade Paranaense – UNIPAR

Instituição: Universidade Paranaense - UNIPAR

Endereço: Praça Mascarenhas de Moraes n.4282. Bairro Zona III. CEP 87502-210, Umuarama, Paraná, Brasil

E-mail: arianneperuzo@hotmail.com

Ailton da Cruz Melo

Bolsista-técnico (CAPES/Fundação Araucária) na Universidade Paranaense – UNIPAR. Instituição: Universidade Paranaense - UNIPAR

Endereço: Praça Mascarenhas de Moraes n.4282. Bairro Zona III. CEP 87502-210, Umuarama, Paraná, Brasil

E-mail: ailton.melo@edu.unipar.br

Isabela Carvalho dos Santos

Doutoranda em Ciência Animal com Ênfase em Produtos Bioativos na Universidade Paranaense – UNIPAR

Bolsista CAPES

Instituição: Universidade Paranaense - UNIPAR

Endereço: Praça Mascarenhas de Moraes n.4282. Bairro Zona III. CEP 87502-210, Umuarama, Paraná, Brasil

E-mail: isabela_carvalhoxd@hotmail.com

Kawany Gabrieli Zanetti Fazoli

Discente da Graduação de Medicina Veterinária na Universidade Paranaense – UNIPAR. Instituição: Universidade Paranaense - UNIPAR

Endereço: Praça Mascarenhas de Moraes n.4282. Bairro Zona III. CEP 87502-210, Umuarama, Paraná, Brasil

E-mail: kawany.fazoli@edu.unipar.br

Adriane Cordeiro Trevisani

Mestrado Profissional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica, Universidade Paranaense (UNIPAR)

Instituição: Universidade Paranaense - UNIPAR

Endereço: Praça Mascarenhas de Moraes n.4282. Bairro Zona III. CEP 87502-210, Umuarama, Paraná, Brasil

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Fabio Fantin Camilo

Departamento de Vigilância em Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, Assis Chateaubriand, Paraná, Brasil

Endereço: R. Curitiba, CEP 85935-000, Assis Chateaubriand, Paraná, Brasil E-mail: fabiongl@hotmail.com

Tiemi Kamigouchi

Departamento de Vigilância em Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, Assis Chateaubriand, Paraná, Brasil

Endereço: R. Curitiba, CEP 85935-000, Assis Chateaubriand, Paraná, Brasil E-mail: tiemibetanin@hotmail.com

Daniela Dib Gonçalves

Docente no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal com Ênfase em Produtos Bioativos e Docente no Mestrado Profissional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica,

Universidade Paranaense (UNIPAR) Instituição: Universidade Paranaense – UNIPAR

Endereço: Praça Mascarenhas de Moraes n.4282. Bairro Zona III. CEP 87502-210, Umuarama, Paraná, Brasil

E-mail: danieladib@prof.unipar.br

RESUMO

Introdução: Leptospirose e dengue são doenças infecciosas características de regiões de clima tropical e subtropical, agravadas pela falta de desenvolvimento socioeconômico e carência de saneamento básico, o que favorecem o contato humano com seus agentes patogênicos presentes no ambiente. O diagnóstico clínico diferencial da leptospirose e dengue é frequentemente confundido, pois ambas as infecções apresentam um quadro sintomático semelhante. Objetivo: Realizar um levantamento e avaliação de casos de dengue e leptospirose notificados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN), de um município de região fronteiriça do Brasil. Material e Métodos: No período 2014 a 2019 foi realizado um levantamento epidemiológico dos casos de dengue e leptospirose a partir de dados obtidos no SINAN e na Secretaria Municipal de Saúde do município de Assis Chateaubriand, Paraná. Resultados: foram realizados 896 exames, entretanto foram confirmados 289 casos de Dengue. Desses, 42,57% eram homens e 57,43% mulheres, 92,73% residem na área urbana, 7,27% na área rural, com idades de 01 dia a 81 anos. Para leptospirose, foram realizados 08 exames, entretanto 37,95 % casos foram notificados. Quanto ao sexo, 100% eram homens e 100% residem na área urbana, com idades variando de 40 a 65 anos. Conclusão: Os resultados obtidos demonstraram um aumento nos casos de dengue em 2015 e 2016, em decorrência de outras epidemias ocasionadas por agentes transportados pelo vetor Aedes Aegypti, sugerindo uma subnotificação de casos em anos anteriores, já o baixo número de diagnósticos de leptospirose no período avaliado, sugere uma subnotificação dos casos, explicada pelo desinteresse e desconhecimento da patologia no município de região fronteiriça, uma vez que o mesmo apresenta condições propícias para o desenvolvimento de ambas as doenças.

Palavras-chaves: Doenças infecciosas, Dengue, Leptospirose, Aedes aegypti, Leptospira spp. ABSTRACT

Introduction: Leptospirosis and dengue are infectious diseases with characteristics of tropical and subtropical climate, aggravated by the lack of socioeconomic development and lack of basic sanitation, or that favor human contact with its pathogens present in the environment. The differential clinical diagnosis of leptospirosis and dengue is often confused, as it occurs as infections caused by

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a similar symptomatic condition. Objective: To carry out a survey and evaluation of dengue and leptospirosis cases notified in the Recording and Notification Information System (SINAN), in a municipality on the brazil border region. Material and Methods: In the period 2014 to 2019 an epidemiological survey of dengue and leptospirosis cases was carried out based on data obtained from SINAN and the Municipal Health Secretariat of the municipality of Assis Chateaubriand, Paraná. Results: 896 exams were performed, however 289 cases of Dengue were confirmed. Of these, 42.57% were men and 57.43% women, 92.73% live in the urban area, 7.27% in the rural area, aged 1 day to 81 years. For leptospirosis, 08 tests were performed, however 37.95% cases were reported. As for sex, 100% were men and 100% lived in the urban area, with ages ranging from 40 to 65 years. Conclusion: The results obtained showed an increase in dengue cases in 2015 and 2016, due to other epidemics caused by agents carried by the Aedes Aegypti vector, suggesting an underreporting of cases in previous years, since the low number of leptospirosis diagnoses in the period evaluated, suggests an underreporting of the cases, explained by the lack of interest and lack of knowledge of the pathology in the municipality of the border region, since it presents favorable conditions for the development of both diseases.

Keywords: Infectious diseases, Dengue, Leptospirosis, Aedes aegypti, Leptospira spp. 1 INTRODUÇÃO

A leptospirose e a dengue são enfermidades infecciosas de grande ocorrência em muitos países, com elevada incidência principalmente em regiões de clima tropical e/ou subtropical, onde as elevadas temperaturas e índices pluviométricos favorecem a viabilidade dos agentes etiológicos no ambiente. Ambas as enfermidades se caracterizam, epidemiologicamente, como doenças de grande importância em saúde pública e de manifestações clínicas que variam muito em tipo e gravidade (LE TURNIER et al., 2019; NITHYA; UMADEVI, 2019).

A dengue é uma doença febril grave causada por um arbovírus, possuindo 4 sorotipos de ciclo humano antigenicamente distintos, sendo eles, DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Sua transmissão ocorre através de várias espécies de mosquitos fêmeas infectadas do gênero Aedes, principalmente pelo vetor Aedes Aegypti. Entre seus principais sintomas estão febre alta (+38.5ºC), dores musculares, dores retro-orbitária (atrás dos olhos), dores de cabeça, perda de apetite e manchas vermelhas no corpo (KULARATNE, 2015; SANTOS; HONÓRIO; NOBRE, 2019; TEIXEIRA et

al., 2013).

Em 2013, um artigo publicado na revista Science Magazine, intitulado: Surpreendente

descoberta de novo vírus da dengue coloca uma barreira nos esforços de controle da doença (livre

tradução), apresentou ao mundo um novo sorotipo da dengue, intitulado DENV-5. A provável causa responsável pelo surgimento do novo sorotipo pode estar relacionada a recombinação genética, seleção natural e variações genéticas. Esse sorotipo de ciclo enzoótico/silvático, também transmitido por várias espécies de mosquito do gênero Aedes a primatas não-humanos (macacos), embora ainda não tenha nenhum registro de infecção em humanos, pode significar um risco para a espécie com a

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sua entrada eventual em ambientes de florestas onde vetores infectados possam estar presentes (MUSTAFA; RASOTGI; JAIN; GUPTA, 2015; NORMILE, 2013).

Outro ponto que tem encontrado barreiras no combate à dengue está relacionada a avaliação econômica no desenvolvimento de vacinas contra os 4 sorotipos de dengue. De acordo com Soárez

et al. (2019), pesquisas sobre o desenvolvimento da vacina contra a dengue tem ignorado fatores

econômicos, sendo que, a presença da doença em regiões de extrema pobreza é um dos principais marcadores para sua proliferação. Cerca de 61% dos estudos avaliados tem ignorado questões econômicas presentes na lista de Padrões Consolidados para o Relato de Avaliações Econômicas em Saúde – a checklist CHEERS (HUSEREAU et al., 2013).

Em contrapartida a dengue, a leptospirose é uma infecção bacteriana, de características zoonóticas, causada pelas espiroquetas helicoidais patogênicas e altamente móveis, conhecidas como

Leptospira spp. Seus sintomas clínicos podem variar entre nenhum, leve, o que incluem dores de

cabeça, musculares e febre, aos mais graves, como o desenvolvimento de meningite ou a presença de sangramentos nos pulmões, conhecido como síndrome da hemorragia pulmonar grave (PICARDEAU, 2017; SOO; KHAN; SIDDIQUI, 2020).

Existem mais de dez tipos patogênicos de leptospiras responsáveis por causarem doenças em humanos. Esses patógenos são transmitidos através do contato direto ou indireto com a urina de animais silvestres e domésticos infectados, principalmente roedores, depositados na água ou solo. A infecção se da através do contato com boca, olhos, nariz ou abrasões na pele e os métodos sorológicos são os principais meios para diagnosticar corretamente a leptospirose, sendo o teste de microscopia de aglutinação considerado o “padrão ouro” (LANE; DORE, 2016; PICARDEAU, 2017).

A leptospirose é considerada ainda uma das doenças zoonoses mais comuns, o que representa um grande problema de saúde pública. Seus padrões de transmissão são endêmicos, epidêmicos ou esporádicos. Os esforços para a prevenção da doença incluem a higienização após contato com animais potencialmente infectados, o controle de roedores em perímetros rurais e urbanos onde as pessoas vivem e trabalham além das vacinas para animais amplamente disponíveis. Em humanos, as vacinas são limitadas, ficando o tratamento a cargo de antibióticos como a Doxiciclina, Penicilina ou Ceftriaxona (ELLIS, 2015; KARPAGAM; GANESH, 2020; LANE; DORE, 2016; TEIXEIRA et al., 2019).

Tanto a dengue quanto a leptospirose, são consideradas doenças tropicais e subtropicais, presentes principalmente em países em desenvolvimento, onde essas patologias se manifestam sobretudo em locais com pouca ou nenhuma infraestrutura em saneamento básico, assim como em populações de baixa renda, presentes nessas localidades (CATTARINO et al., 2020; SOO; KHAN; SIDDIQUI, 2020).

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Há anos, trabalhos vêm demonstrando confusões diagnósticas entre leptospirose e dengue, tanto pela similaridade do quadro clínico, quanto pela superposição da sazonalidade constituindo, portanto, um problema de importância em relação ao desenvolvimento do tratamento adequado ao paciente (CONROY et al., 2014; MELO et al., 2015; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

O diagnóstico clínico diferencial entre leptospirose e dengue é frequentemente confundido, pois ambas as infecções apresentam grande similaridade de sintomatologia e sazonalidade. Essa falha diagnóstica constitui um grave problema de saúde pública, visto que a terapêutica empregada em cada uma das doenças é diferente, o que pode trazer sérias consequências ao paciente (MARTINS; SPINK, 2020). Além disso, a leptospirose é uma doença de notificação compulsória e erros em seu diagnóstico resultam em casos positivos subdiagnosticados e/ou subnotificados. Esta situação gera problemas para a caracterização epidemiológica da leptospirose, visto que ela é uma das enfermidades infecciosas de maior ocorrência mundial (RODRIGUES, 2019; RODRIGUES, 2017; SOUZA; ARSKY; CASTRO; ARAUJO, 2011).

Casos de co-infecção de dengue com leptospirose também foram relatados nos últimos anos, com frequência variando de 0,9 a 8%. Tais dados estão diretamente relacionados ao clima, pois ambas as doenças atingem seu pico durante as monções ou chuvas fortes que ocorrem em grandes áreas de regiões costeiras tropicais e subtropicais. Além de outros países, no Brasil, a incidência de co-infecção também já foi documentada (MEGUINS; DE MEDEIRO JUNIOR, 2010; MELO et al., 2015; MISHRA; SINGHAL; SETHI; RATHO, 2013; SHARMA; LATHA; KALAWAT, 2012).

Ambas as infecções geralmente se apresentam com uma fase febril aguda, incluindo início repentino de febre, dor de cabeça e mialgia. Devido a sobreposição das manifestações clínicas entre essas doenças, a capacidade de diagnóstico é desafiadora em casos de co-infecção. É crucial que os sistemas de saúde sejam capazes de distinguir a leptospirose da dengue para evitar a confusão no tratamento (CHOPDEKAR et al., 2014; SUPPIAH et al., 2017).

Partindo da importância da distinção diagnóstica, devido a suas similaridades sintomatológicas e sazonais, o presente trabalho objetivou-se em realizar um levantamento e avaliação de casos de dengue e leptospirose notificados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN), do município de Assis Chateaubriand-PR, localizado em uma região fronteiriça.

2 MATERIAL E MÉTODOS

No período de janeiro de 2014 a outubro de 2019 foi realizado um levantamento epidemiológico dos casos de dengue e leptospirose a partir de dados obtidos no Sistema de Informação de Agravos e Notificação e na Secretaria Municipal de Saúde do município de Assis

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Chateaubriand, estado do Paraná, Brasil. Este município é considerado uma região de fronteira, já que se localiza a 150 km do Paraguai (BRASIL, 1979).

Assis Chateaubriand (PR) é um município brasileiro situado no vale do rio Piquiri, entre Toledo, Tupãssi, Palotina, Alto Piquiri, Iporã, Formosa do Oeste, Jesuítas e Nova Aurora. Sua população estimada em 2019 é de 33.362 habitantes (IBGE, 2019). O clima é tipicamente sub-tropical, ocorrendo nos meses de novembro e dezembro um período relativo de estiagem, com períodos de chuvas nos demais meses, concentrando-se os períodos de queda de temperatura nos meses de junho e agosto com geadas em partes do Município e temperaturas médias de 2 a 30 graus. A precipitação pluviométrica é de 1.250 a 1.500 mm em média. Altitude é de 440 metros acima do nível do mar. Latitude sul de 24º2, e Oeste de 53º29. A área total é de 1.010,33 km2 cerca 101,0330 hectares ou 41.749.173,60 alqueires paulistas. A área urbana tem 1.997,08 hectares ou 19,97 km2 e área rural 990,36 km2.

As coletas de sangue dos pacientes com suspeita clínica de dengue e leptospirose foram realizadas por profissionais habilitados da área de enfermagem e farmácia, na Unidade de Saúde do referido município, obedecendo os critérios preconizados pela Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (SESA/PR) e o Laboratório Central do Estado do Paraná (LACEN/PR).

Para diagnóstico da dengue, as amostras foram coletadas em tubo de poliestireno com tampa de cor amarela (fornecido pelo LACEN/PR) e refrigeradas entre 2 a 8 °C por até 72 horas. Após este prazo, as amostras foram congeladas a – 20 °C para posterior realização do Enzimaimunoensaio (EIE) – IgM e IgG no LACEN/PR.

Para diagnóstico de leptospirose, as amostras de sangue foram coletadas, e mantidas à temperatura ambiente até o envio para a realização Teste de Aglutinação Microscópica (MAT) também no LACEN/PR. Informações de cada paciente relacionado ao sobre sexo, idade e residência, foram obtidos no SINAN e analisados de forma descritiva.

3 RESULTADOS

Em relação à dengue, no período de 01 de janeiro de 2014 a 31 de outubro de 2019, no município de Assis Chateaubriand-PR, foram realizados 896 exames, onde 289 desses apresentaram diagnóstico positivo. Das pessoas acometidas, 123 (42,57%) eram homens e 166 (57,43%) mulheres, 268 (92,73%) residiam na área urbana e 21 (7,27%) em área rural, com idades variando de um a 81 anos.

Dentre o período avaliado, 2015 e 2016 foram os anos em que se apresentaram o maior número de diagnósticos positivos para dengue, com 206 casos registrados, uma margem de 92,37%

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do total de casos ao longo de todo período estudado. 87,13% desses casos foram ainda reportados como autóctones, demonstrando que o vírus estava circulante no município.

Para leptospirose no período de 01 de janeiro de 2014 a 31 de outubro de 2019, foram realizados oito exames, entretanto apenas três (37,05%) casos receberam diagnóstico positivo. Em relação ao sexo, todos os três (100%) casos positivos para leptospirose eram homens e residiam na área urbana, com idades variando entre 40 e 65 anos.

4 DISCUSSÃO

Dos resultados obtidos, é possível observar que a dengue, apesar da similaridade dos sintomas clínicos com a leptospirose, é substancialmente mais examinada e diagnosticada nas unidades de saúde. Esse dado pode ser corroborado pela falta de conhecimento sobre o impacto da leptospirose em regiões socioeconomicamente vulneráveis, o que diminui a percepção de sua relevância em sistemas ligados a gestão de saúde pública, resultando em medidas menos efetivas sobre a identificação, diagnóstico e tratamento da doença (CONROY et al., 2014; NITHYA; UMADEVI, 2019).

Outro fator que incide sobre esse resultado está ligado as manifestações clínicas da leptospirose, que, além de serem similares as da dengue, são variáveis e inespecíficas. Estudos sugerem que 90% dos casos são subclínicos, já os outros 5 a 10% são diagnosticados como leptospirose devido a quadros agravados que se desenvolveram em doenças clinicamente significativas, o que constitui a maioria dos casos reconhecidos (ADLER, 2015; LE TURNIER et al., 2019; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

Na América Latina, estima-se que 10 a 15% dos casos de leptospirose apresentam sinais clínicos graves, o que é considerado um dos principais fatores responsáveis pelo diagnóstico correto da leptospirose. O diagnóstico de leptospirose requer ainda determinados exames laboratoriais, como testes sorológicos como a soroaglutinação microscópica (SAM) que é o padrão ouro para detectar a infecção como também testes moleculares como a reação em cadeia pela polimerase (PCR), que utilizam diferentes materiais biológicos como sangue e urina para realização das diferentes técnicas. Também pode ser realizado por critérios clínico-epidemiológicos, que podem gerar onerosos custos em saúde para os municípios já que se torna um diagnóstico mais lento e não definitivo, o que pode representar certa vulnerabilidade diante do diagnóstico da leptospirose, uma vez que, municípios como Assis Chateaubriand, podem deixar de receber investimentos em recursos educacionais e técnicos, podendo ocasionar a subnotificação clínica dos casos como é possível observar no presente estudo (MUSSO; LA SCOLA, 2013; PEREIRA et al., 2018).

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Em relação ao maior número de notificações e diagnósticos sobre casos de dengue registrados entre 2015 e 2016 no município, segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017), em comparação com 2014, houve um aumento de 441%. Esse número expressivo de diagnósticos dentro do período avaliado, pode ser explicado pelo surto ocorrido no Brasil dos vírus Zika e Chicungunha, que, assim como a dengue, também são transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti. Esses dados sugerem as subnotificações de casos de dengue nos períodos anteriores aos surtos (SUTIONO; GUNAWAN, 2017).

Outros estudos também sugerem que, no ano de 2015, mais de 3,9 bilhões de pessoas moravam em zonas de risco de contrair a infecção, o que está diretamente ligado ao aumento no número de casos com diagnóstico positivo para dengue no município de Assis Chateaubriand, variáveis como temperatura e índice pluviométrico também foram apontados como determinantes para o aumento dos casos nos referidos anos (GODOI et al., 2017).

Na análise de prevalência do diagnóstico de dengue relacionado ao sexo, houve um predomínio do gênero feminino, que pode ser compreendido através do papel social da mulher que, por historicamente ser reconhecida como responsável pelos cuidados do lar, acabam permanecendo um maior período de tempo em suas residências, principal local de transmissão do patógeno e em relação a predisposição genética, os estudos ainda permanecem pouco conclusivos (LOEB, 2013; SILVA JUNIOR, 2012).

Sobre o índice de notificações, exames e diagnósticos da leptospirose no município de Assis Chateaubriand ao longo do período avaliado, é possível observar que o número é extremamente baixo, o que difere de pesquisas que corroboram com as condições climáticas presentes no município, que o caracterizam como um espaço geográfico favorável a incidência de leptospirose, além das estimativas as quais pressupõem que cerca de um milhão de pessoas anualmente sejam infectadas pela Leptospira spp. no mundo (COSTA et al., 2015; KARPAGAM; GANESH, 2020).

De acordo com o Censo Demográfico Brasileiro (IBGE, 2010), o município de Assis Chateaubriand/PR é margeado pelo rio Piquiri, sendo possível identificar características favoráveis ao aparecimento e manutenção da Leptospira spp. no ambiente. Além dos fatores ambientais, a presença de reservatórios domésticos presentes na área urbana e principalmente peri-urbana, favorecem a manutenção da bactéria no ambiente, facilitando a disseminação do patógeno tanto para animais quanto para os seres humanos. No entanto, apesar da presença de todos estes fatores favoráveis ao aparecimento da leptospirose neste município, casos desta enfermidade têm sido pouco notificados, corroborando a hipótese de que casos de leptospirose poderiam estar sendo subdiagnosticados e subnotificados neste município.

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Outro aspecto importante sobre o número de registros dos casos de leptospirose durante o período avaliado, está relacionado a baixos resultados sobre a qualidade do saneamento básico presente neste município de região fronteiriça. Segundo Baracho (2015), Assis Chateaubriand apresentou resultados abaixo das expectativas em relação as suas capacidades de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem e limpeza urbana, bem como a ineficiência na capacidade do manejo de resíduos sólidos. Todos esses fatores são responsáveis por elevados índices relacionados ao desenvolvimento doenças sanitárias, incluindo a leptospirose.

É preciso considerar impreterivelmente que, o risco de contrair a leptospirose está diretamente ligado a questões de saneamento básico inadequado e/ou precário, o que aumenta a frequência de exposição ao patógeno causador da doença. Todos esses critérios, presentes no município, somados ao desinteresse e desconhecimento por parte da sociedade em relação a essa patologia tornam a população vulnerável a novas endemias e/ou epidemias originadas pela contaminação com a bactéria da leptospira spp. (HAAKE; LEVETT, 2015; KARPAGAM; GANESH, 2020).

5 CONCLUSÃO

Embora a leptospirose e a dengue estejam fortemente relacionadas com ocorrências meteorológicas e variações climáticas, existem outros fatores envolvidos que também são responsáveis pelo seu desenvolvimento, como a vulnerabilidade social, a ausência de saneamento básico, assim como o desinteresse e desconhecimento da sociedade sobre tais patologias.

Atualmente, as duas enfermidades são encontradas em todos os estados brasileiros. Além disso, os casos de subnotificação da leptospirose em áreas endêmicas impactam diretamente no cálculo da real incidência. Melhorias das condições de infraestrutura como saneamento básico, drenagem das águas de chuvas, controle de roedores e proteção adequada para população que trabalha em áreas de risco podem contribuir no controle e na prevenção da leptospirose nas áreas urbanas. Já a dengue pode ser evitada e tratada, porém é imprescindível que as medidas de combate ao vetor sejam de fato efetivas para que a doença não se propague e aumente o número de óbitos devido as suas complicações.

Os resultados obtidos nesta pesquisa reforçam a necessidade de outros estudos de prevalência nas comunidades, para determinar as características epidemiológicas da dengue e da leptospirose, e assim propor medidas de controle e profilaxia, considerando as características observadas neste estudo. Além disto, ficou em evidência que pode ocorrer confusão diagnóstica entre a leptospirose e a dengue, acarretando consequentemente a subnotificação de ambas enfermidades.

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AGRADECIMENTOS

A UNIPAR pelo financiamento desta pesquisa e a Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Assis Chateaubriand (PR) pelo fornecimento dos dados.

REFERÊNCIAS

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BARACHO, R. O. Análise e avaliação de planos municipais de saneamento básico no Paraná:

um estudo de caso em cinco cidades. 2015. 62 f. (Trabalho de Conclusão de Curso) -, Universidade

Tecnológica Federal do Paraná, Londrina.

BRASIL. Casa Civil. Lei nº 6.634, de 2 de maio de 1979: Dispõe sobre a Faixa de Fronteira, altera o Decreto-lei nº 1.135, de 3 de dezembro de 1970, e dá outras providências.Brasília, DF, 1979.

CATTARINO, L. et al. Mapping global variation in dengue transmission intensity. Science

Translational Medicine, 12, n. 528, p. eaax4144, 2020.

CHOPDEKAR, K. et al. Concomitant leptospirosis and dengue infections. JIACM, 15, n. 3-4, p. 258-259, 2014.

CONROY, A. L. et al. Host biomarkers distinguish dengue from leptospirosis in Colombia: a case– control study. BMC infectious diseases, 14, n. 1, p. 35, 2014.

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