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AUTOFICÇÃO NO NARUTO: RASTROS DA VIDA DE MASASHI KISHIMOTO NOS PERSONAGENS E ENREDO DA SÉRIE DE ANIME E MANGÁ

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Academic year: 2020

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International Scientific Journal – ISSN: 1679-9844 Nº 3, volume 13, article nº 2, July/September 2018 D.O.I: http://dx.doi.org/10.6020/1679-9844/v13n3a2

Accepted: 16/05/2018 Published: 30/09/2018

AUTOFICÇÃO NO NARUTO: RASTROS DA VIDA DE MASASHI

KISHIMOTO NOS PERSONAGENS E ENREDO DA SÉRIE DE ANIME

E MANGÁ

SELF-ESTABLISHMENT IN NARUTO: MASASHI KISHIMOTO'S LIFE

TRANSFER IN THE CHARACTERS AND STORY OF ANIME AND

MANGÁ SERIES

Elaine Santana de Souza1, Janete Araci do Espírito Santo2, Analice de Oliveira Martins3, Luana do Espírito Santo Barbosa4, Luciano Dias de Souza5

1 Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) - CCH- Campos dos Goytacases-RJ Email: lane1989@gmail.com

2 Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) - CCH- Campos dos Goytacases-RJ –

Email: janeteesanto@hotmail.com

3 Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) - CCH- Campos dos Goytacases-RJ –

Email: analice.martins@terra.com.br

4 Universidade Veiga de Almeida (UVA) – Centro de Design - Rio de Janeiro-RJ - Email:

luanaesbarbosa@gmail.com

5 Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) - CCH- Campos dos Goytacases-RJ –

Email: poesiaeci@gmail.com

Resumo: Este artigo tem como finalidade apresentar um estudo sobre Naruto, uma série de anime e mangá escrito e ilustrado por Masashi Kishimoto que conta a história do ninja Naruto Uzumaki, um jovem ninja

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cativam os jovens e adultos tornando a série famosa. O que muitos fãs não perceberam é a apresentação da história de vida do autor nos personagens e enredo da série. Este trabalho procura apresentar os rastros da vida de Masashi, mostrando que essa série não é apenas uma ficção, mas a apresentação de uma ―autobiografia‖ do autor sob essa máscara de ficção. Palavras-chave: Autoficção. Naruto. Ficção.

Abstract : This article aims to present a study on Naruto, an anime series and mangá series written and illustrated by Masashi Kishimoto which tells the story of the ninja Naruto Uzumaki , a young ninja who dreams of being recognized in their village . The struggles and characters captivate young and old making the famous series . What many fans do not realize is the presentation of the author's life story the characters and plot of the series. This paper seeks to present the traces Masashi's life, showing that this series is not just a fiction, but the presentation of an " autobiography " of the author under this mask of fiction.

Keywords: autofiction . Naruto. Fiction.

INTRODUÇÃO

Naruto é uma série de anime e mangá muito famosa nos tempos atuais. O mangá foi criado por Masashi Kishimoto e publicado na revista semanal Weekly Shonen Jump desde 1999. Recebeu adaptação para anime em 2002, produzida pelo Studio Pierroti e exibida pela TV Tokyo, seguida pela atual temporada nomeada de Naruto Shippuden, iniciada em fevereiro de 2007. A trama desta série gira em torno de Naruto Uzumaki, um jovem ninja que, devido a eventos em seu nascimento, é desprezado pelas pessoas de sua vila, buscando, então, constantemente, reconhecimento e tem como sonho tornar-se um Hokage, o líder máximo e mais poderoso de sua vila.

Para a compreensão de alguns termos utilizados, vai-se definir o que são anime e mangá. Segundo a revista Neo Tokyo, a qual fala sobre anime e mangá, na edição número 9, anime ou animê ―significa ‗animação japonesa‘. Vem de uma contração em japonês da palavra ‗animação‘.‖ (KEIZI, 2000, p. 96). Trata-se de desenhos animados produzidos no Japão. Para os japoneses os animes são todos os desenhos animados, mesmo os de origem estrangeira. Para o mundo ocidental os animes são apenas os desenhos animados produzidos no Japão.

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Segundo Vasconcelos,

A palavra mangá significa rabiscos descompromissados, ou ainda imagens involuntárias, expressão que reflete muito bem o caráter gráfico de formas sintéticas, caricaturizadas e muitas vezes espontâneas presentes no mangá desde sua pré-história. O termo se originou com o trabalho do artista de ukiyo-e (escritura do mundo flutuante) Katsushika Hokusai, que criou o Hokusai Mangá, uma série de livros com ilustrações em 15 volumes de 1814 a 1878. (VASCONCELOS, 2006, p. 19).

Os mangás são, então, histórias em quadrinhos de origem japonesa. Eles se diferenciam dos quadrinhos ocidentais não apenas pela origem que possuem, mas também por utilizarem uma representação gráfica completamente própria. Além dessas peculiaridades, os mangás apresentam ordem de leitura diferenciada daquela apresentada no ocidente. A leitura inicia-se pelo que seria o fim de uma publicação ocidental. Além disso, o texto é disposto da direita para a esquerda. Abaixo, pode-se visualizar a imagem de uma página de um mangá traduzido por fãs para o português extraído do site central de mangás.

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Figura 1: página 5 do Mangá Naruto.

Disponível em: http://narutomangá.com.br/leitura/online/capitulo/001#5

A leitura desta página começa-se da direita para a esquerda, começando pela chamada do primeiro balão ―HAKAGE-SAMA‖, seguindo o curso dos balões. Lembrando que a mudança de quadrinhos ocorre na mesma disposição, os quadrinhos da direita são lidos inicialmente. Não se pretende, nesse trabalho, falar sobre as peculiaridades da escrita japonesa, mas deve-se mencionar que são usados alguns honoríficos após os nomes das pessoas em sinal de respeito. Um exemplo desses honoríficos é o SAMA utilizado na imagem, este é utilizado para se dirigir a pessoas em um nível bem mais alto. Ele é utilizado para o Hokage porque este representa o líder de toda a vila ninja apresentada em Naruto. Somente utiliza-se o nome de uma pessoa utiliza-sem honorífico utiliza-se a intimidade for muito grande. A pronúncia do nome sem nenhum honorífico é símbolo de desrespeito.

Todavia, lendo-se a revista Neo Tokyo, mais especificamente, a edição número 9 teve-se acesso a uma pequena biografia do autor do anime. Este autor disponibiliza parte de suas vivências em revistas voltadas para o assunto de animes e mangás, ao falar sobre o grande sucesso de sua série Naruto. Constataram-se, então, indícios de alguns rastros da vida do autor nos personagens do anime! Então, foi-se pesquisar, se havia convergências entre Naruto, o personagem principal da série e que a nomeia, e Masashi Kishimoto.

O questionamento que levou à pesquisa foi: Naruto seria apenas mais um anime de sucesso ou seria uma autoficção, mostrando a vida de Masashi Kishimoto?

Naruto é uma série de sucesso possuindo milhares de fãs. Estes fãs, no entanto, encantam-se com as aventuras do Ninja Hiperativo Número 1 da aldeia da folha, nome este retirado da fala de um dos personagens, Kakashi, quando faz referência ao Naruto, sem notar, contudo, as semelhanças entre este personagem e o autor Masashi Kishimoto. Então, conhecendo-se a história de vida do autor, nota-se que existem muitos traços desta história distribuídos no anime Naruto.

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Para responder a esse questionamento analisar-se-á a série de Naruto e compreendendo os traços sucintos da vida de Masashi na sua obra, caracterizando-a como umcaracterizando-a caracterizando-autoficção. Este termo será melhor expliccaracterizando-ado posteriormente. E, como ponto principal, verificar-se-á as semelhanças entre Naruto e Masashi Kishimoto.

Naruto é uma série assistida por muitos jovens e adultos. Não é apenas lutas, sangue e violência que permeiam essa série, mas também valores que são apresentados em pequenas doses ao longo dos vários capítulos/episódios desta série. Masashi Kishimoto criou muitos personagens e incorporou no enredo suas experiências de vida. A série não é apenas uma ficção, pois apresenta fatos da vida do autor. Observa-se a presença de uma ―autobiografia‖ do autor, sob esta máscara de ficção.

1. NARUTO SÉRIE / NARUTOPERSONAGEM

Como apresentado inicialmente, Naruto é uma série criada por Masashi Kishimoto que começou a ser publicada em 1999. Atualmente, a série encontra-se numa nova fase, Naruto Shippuden, iniciada em fevereiro de 2007. Essa nova fase apresenta um Naruto mais velho e é uma continuação do ponto da ultima série, conhecida como Naruto Clássico. Abaixo é apresentada uma imagem de Masashi e Naruto na sua versão Shippuden.

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Figura 2: Masashi Kishimoto a esquerda e Naruto em sua aldeia, a direita. Disponível : http://naruto-shippuden1234.blogspot.com.br/p/personagens.html

Naruto conta a história de Naruto Uzumaki, um garoto desprezado pelos demais, devido a uma circunstância em seu nascimento. Quando a vila de Konoha sofreu um ataque de um monstro conhecido como a raposa de nove caudas, para

se-

Figura 3: Ataque da Raposa de Nove Caudas, a direita e nascimento do Naruto e selamento da raposa, em seu corpo, a esquerda.

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lar esse monstro, o Hakage da época precisava de uma criança que havia acabado de ter o cordão umbilical cortado, essa criança, ficou conhecida pelo nome de Naruto.

Devido a esse evento, Naruto passou a ser desprezado pelos demais, sendo visto como a raposa e não como um ser humano. Sem família e sem reconhecimento, Naruto começou a montar seu sonho, querer ser o líder da vila para que todos o reconhecessem como um excelente ninja e não como a raposa. E é essa busca e as aventuras desse ninja atrapalhado que a série de Naruto apresenta. Detalhes de sua vida, apesar de Naruto buscar reconhecimento, ele não era um bom aluno, não possuía as características observadas nos demais, ele era diferente e por isso, quase não se forma Genin que é o menor nível de ninja. Abaixo é apresentada a falha na prova para se tornar genin.

Figura 4: Falha do Naruto ao fazer um clone de si mesmo.

Disponível em: http://narutomangá.com.br/leitura/online/capitulo/001

Com essa falha, Naruto fica muito triste. Contudo, mesmo com seus erros e alguns acertos, ele é finalmente reconhecido por seu professor, Iruka, o primeiro a ver Naruto e não a raposa. Ao sentir o afeto que tanto deseja, Naruto começa a

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melhorar suas habilidades, mas não perde seu jeito atrapalhado, proporcionando algumas risadas para seus fãs.

Figura 5: reação de Naruto ao ser reconhecido por Iruka.

Disponível em: http://narutomangá.com.br/leitura/online/capitulo/001

Segundo a revista Neo Tokyo, edição número 9, o personagem Naruto teria surgido de uma forma um tanto boba, o autor gostava de comer Lamen e ―o sobrenome Uzumaki era uma referência infantil às espirais que o Lamen forma no prato‖ (LANCASTER; FONSECA, 2000, p. 20). Como nem todos já viram como é um prato de Lamen, apresenta-se aqui a sua imagem.

Figura 6: Prato de Lamen retirado do google. Disponível em:

http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/920697/gd/133719879742/Cama-Fazer-Ramem-e-aquele-do-Naruto-mesmo-hehehhe.jpg.

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A espiral é observada também no símbolo da vila de Konoha. Uma aldeia rural e pacata. É a vila oculta do País do Fogo. Ela possui seu próprio Kage como seu líder conhecido como Hokage. Na série de Naruto houve grandes Hokage, o mais recente é Tsunade. Na montanha com vista para a aldeia existe o Monumento Hokage. Konoha tem sido pacífica desde o fim da Terceira Guerra Mundial Ninja. A estrutura de divisão de equipes iniciais de ninjas consiste em um trio, podendo ser formado por três meninos ou dois meninos e uma menina.

Naruto forma o trio com uma garota, por quem é apaixonado, Sakura Haruno e um rapaz que se graduou com as maiores notas da ―escola‖, Sasuke Uchiha, personagem por quem Naruto nutre um sentimento de rivalidade e amizade. Sakura apresenta as maiores notas no quesito teorias enquanto Sasuke é o melhor em habilidades, foi com base nesse caso, que Kakashi, o professor do trio, apresenta Naruto como o melhor também, o Ninja Hiperativo Número 1 de Konoha, apresentando um Naruto reconhecido como bom por suas próprias habilidades.

Figura 7: O trio do Naruto.

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Naruto é o personagem do centro, Sakura a direita e Sasuke a esquerda. A imagem apresenta sapo, caracol e cobra, esses animais são frutos do folclore japonês e são utilizados no enredo de Naruto. Foi justamente a trinca desses animais folclóricos que auxiliou Masashi Kishimoto na criação dos personagens que iriam acompanhar Naruto no trio de ninjas da série.

2. AUTOFICÇÃO E AUTOBIOGRAFIA

Já fora mencionado autoficção e autobiografia anteriormente. Nessa parte do artigo serão apresentados os autores que falam sobre esse tema e, para o entendimento de quais, os pontos foram usados para classificar Naruto, uma série de ficção como uma autoficção.

Nessa classificação de Naruto não cabe o termo autobiografia, porque, Segundo Lejeune, para que o texto seja realmente uma autobiografia ―é preciso que haja relação de identidade entre o autor, o narrador e o personagem.‖ (LEJEUNE, 2008, p. 15). Em Naruto o autor é Masashi Kishimoto e o personagem é Naruto, um ninja atrapalhado e com um grande coração. Leujeune define a autobiografia como ―uma narrativa retrospectiva em prosa que uma pessoa faz de sua própria existência, quando focaliza sua história individual, em particular a história de sua personalidade.‖ (LEJEUNE, 2008, p. 14). Essas definições de Lejeune mostram que Naruto não se enquadra no caso de uma autobiografia, já que existe um véu ficcional cobrindo os ―rastros‖ da vida do autor apresentada durante a série.

É também Lejeune que apresenta uma diferença interessante entre autobiografia e ficção. Segundo o autor ―a autobiografia elucida fenômenos que a ficção deixa numa zona de indecisão: em particular, o fato de que pode muito bem haver identidade do narrador e do personagem (...)‖ (LEJEUNE, 2008, p. 16). A autobiografia deve, necessariamente, ter a relação entre o personagem, narrador e autor. A ficção deixa isso em aberto, mascara a realidade de seu jeito e consegue esconder a vida do autor sob a forma de um personagem.

Por esse motivo, teve-se que tomar a forma de um ―cão farejador‖, termo utilizado pro Lejeune, para encontrar esses indícios da história de Vida de Masashi

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na série de Naruto, já que os detalhes característicos de uma autobiografia definida por Lejeune não podem ser encontrados na série de anime e mangá.

Um termo utilizado por Lejeune que permite uma reflexão sobre esses indícios da vida do autor em Naruto é o romance autobiográfico. Segundo o autor, são ―(...) textos de ficção em que o leitor pode ter razões de suspeitar, a partir das semelhanças que acredita ver, que haja identidade entre autor e personagem (...).‖ (LEJEUNE, 2008, p. 25). Lejeune não utilizou o termo autoficção, mas ele fez uma referência a esses indícios que o leitor pode observar nos textos fictícios, semelhanças com a vida do autor que o leitor enxerga como ―verdadeiro‖, algo verossímil e próximo do que se conhece sobre a vida de autores.

Como apresenta Lejeune, ―uma ficção autobiográfica pode ser mais ‗exata‘ — o personagem se parece com o autor — e uma autobiografia ser ‗inexata‘ — o personagem apresentado difere do autor.‖ (LEJEUNE, 2008, p. 26). O leitor pode reconhecer um texto ficcional como ―autobiográfico‖ e este parecer ser mais exato que uma autobiografia do autor em si. É nesse sentido que o termo ―cão de caça‖ é utilizado por Lejeune. O autor mostra a busca do leitor por dados que tornam romances escritos ―mais verdadeiros‖ que as autobiografias em si.

No texto ―O Pacto Autobiográfico (BIS)‖, Lejeune apresenta uma definição de autobiografia retirada do dicionário Universal de Literatura, ampliando o significado de autobiografia. Segundo Lejeune, as autobiografias seriam ―obras literárias, romances, poema, tratado filosófico etc., cujo autor teve a intenção, secreta ou confessa, de contar sua vida, de expor seus pensamentos ou de expressar seus sentimentos.‖ (LEJEUNE, 2008, p. 53). Com essa definição, pode-se pensar sobre as autobiografias presentes em textos ficcionais, onde o autor teve a intenção secreta de revelar a sua vida. Nesse sentido, entende-se que Naruto seria uma ―autobiografia‖ de Masashi Kishimoto, entre aspas para apresentar que não seria essa a classificação da série de anime e mangá, pois essa autobiografia encontra-se escondida sob uma máscara de ficção.

Dessa maneira, esconder a história de vida por traz de uma ficção não é especificamente Lejeune que define, mas Doubrovsky (2013), que apresenta um termo diferenciado, a autoficção. Lejeune, ao falar sobre Doubrovsky e o novo termo

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últimos 10 anos, da ‗mentira verdadeira‘ a ‗autoficção‘, o romance autobiográfico literário aproximou-se da autobiografia a ponto de tornar mais indecisa do que nunca a fronteira entre esses dois campos.‖ (LEJEUNE, 2008, p. 59).

Quem firma o pacto autobiográfico é o leitor, esses rastros de histórias de vida de autores são procurados pelos leitores, é observado e confirmado como semelhante pelo leitor.

Lejeune fala sobre a autoficção, mas afinal, o que seria uma autoficção? Autoficção foi um termo utilizado por Doubrovisky em 1977 para qualificar o romance que havia escrito. Segundo Figueiredo, ―a autoficção é um gênero que embaralha as categorias de autobiografia e ficção de maneira paradoxal ao juntar, numa mesma palavra, duas formas de escrita que, em princípio, deveriam se excluir.‖ (FIGUEIREDO, 2010, p. 91). Considerando-se que deveria haver uma linha separando a ficção da autobiografia, a autoficção mostra que essa linha é tênue e que a distância entre ambas não é tão grande.

Segundo Doubrovisky,

[A autoficção] é uma variante pós-moderna da autobiografia, na medida em que se desprende de uma verdade literal, de uma referência indubitável, de um discurso historicamente coerente, apresentando-se como uma reconstrução arbitrária e literária de fragmentos esparsos da memória. (DOUBROBISKY apud HIDALGO, 2013, p. 223).

Doubrovisky diz que a autoficção seria uma variante pós-moderna da autobiografia, já que não tem compromisso com falar apenas a verdade de forma literal, podendo ser a reprodução de fragmentos de memória em um ambiente ficcional. É exatamente isso que é observado em Naruto, um ambiente ficcional contendo fragmentos esparsos da memória de Masashi Kishimoto, fragmentos esses utilizados para a caracterização de ambientes e personagens.

Para dar fim à linha que separa autoficção e autobiografia, Serge Doubrovsky menciona que,

[...] toda autobiografia é uma forma de autoficção e toda autoficção uma variante da autobiografia. Não há separação absoluta. A

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autoficção é a forma romanesca utilizada pelos escritores para se narrarem, desde meados do século XX até o início do século XXI. Isto mudará provavelmente um dia, mas a autoficção terá tido seu sucesso. Não creio que seja eterna. (DOUBROBISKY apud HIDALGO, 2013, p. 223).

A autobiografia é uma forma de autoficção, uma vez que existem estratégias ficcionalizantes, como foi mencionado por Lejeune. De acordo com o autor, existem ficções que parecem mais reais que as autobiografias, quem define isso é o leitor. A autoficção assume que o que está sendo dito não é a verdade plena, mas não se exime de conter traços semelhantes à vida do autor que a escreve.

Segundo Figueiredo, ―a autoficção, enquanto ficcionalização de fatos e acontecimentos absolutamente reais, é uma palavra que hoje consta dos dicionários

Larousse e Robert (...).‖ (FIGUEIREDO, 2007, p. 57). A Autoficção seria, então, a

ficcionalização de fatos e acontecimentos reais, apresenta traços semelhantes aos do autor, contudo não existe a identidade entre autor, narrador e personagem, o que seria necessário para ser caracterizado como autobiografia, segundo Lejeune. A autoficção permite que o autor apresente traços de sua vida, sem ter que assumir que eles estão presentes em suas obras, ser ter que assinar que é verídico tudo que está em seus textos, mas pode haver algo de verossímil que o autor poderá afirmar que existe.

É partindo desse fato, da ficcionalização que o autor faz de suas memórias, que se pode apresentar a série de anime e mangá Naruto como uma ―autobiografia‖ mascarada de Masashi Kishimoto, sendo mais que uma ficção, Naruto é também uma autoficção.

4. RASTROS DA VIDA DE MASASHI KISHIMOTO NA SÉRIE NARUTO

Masashi Kishimoto nasceu em 8 de novembro de 1974. Segundo Lancaster e Fonseca, autores do artigo utilizado na revista Neo Tokyo, Masashi possui um irmão gêmeo chamado Seishi. Os gêmeos vieram ao mundo prematuramente e precisaram ficar numa incubadora para poder sobreviver. Circunstâncias

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série de Naruto, que teve a raposa de nove caudas presa em seu corpo, isso poderia ter proporcionado sua morte. Esse fato também gerou todos os problemas de desprezo que Naruto sofreu ao longo da série.

Uma semelhança marcante entre Naruto e Masashi Kishimoto é o fato de ambos amarem Lamen. Naruto alimentar-se-ia de Lamen durante o dia inteiro se lhe fosse permitido e Masashi tirou a ideia do personagem enquanto comia uma larga tigela de Lamen.

Figura 8: Naruto se alimentando com seu prato favorito

Disponível em: http://vivendocidade.com/wp-content/uploads/2010/08/naruto-lamen.jpg

É importante mencionar que a pronúncia desta palavra seria Ramen, nome mais comum ouvido durante os episódios de Naruto e podendo ser encontradoa na tradução de mangás.

Segundo Lancaster e Fonseca (2000, p. 17), Masashi não era um aluno excelente na sua trajetória escolar. Os autores mencionam que ―(...) ele era um desastre na sala de aula (formou-se em 1990 como o 38º aluno numa turma de 39) (...)‖. Assim como Masashi, Naruto não era o mais esperto dos alunos, como já foi apresentado. Naruto quase não se forma genin1 e não possuía as mesmas habilidades dos alunos que eram considerados excelentes.

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Masashi custou a aceitar seu talento como desenhista, segundo Lancaster e Fonseca, isso era devido ao motivo dos atletas terem mais chances com as garotas. Contudo, percebeu após um tempo que seu objetivo era ser desenhista, mais especificamente, mangá-ka (pessoas que desenham mangás). Naruto também tenta fazer o que os demais fazem, ser igual aos alunos número 1 da classe, mas aos poucos ele aceita seu verdadeiro potencial e cria suas próprias técnicas para seguir seu caminho rumo à realização de seu sonho: tornar-se um Hokage.

Outro detalhe da vida do autor é apresentado na vila de Konoha. Masashi Kishimoto foi criado no interior do Japão, num ambiente ―rural, pacato e bucólico, mas próximo a uma base militar japonesa (...)‖ (LANCASTER; FONSECA, 2000, p. 22). Assim é Konoha, uma vila calma e harmônica. O artigo da revista Neo Tokyo menciona que o ambiente onde viveriam os ninjas saiu das memórias de infância de Kishimoto. Lancaster e Fonseca continuam dizendo que os ninjas de Naruto ―funcionariam mais como um corpo militar, com seu próprio modelo de disciplina.‖ (LANCASTER; FONSECA, 2000, p. 22). Ao assistir ou ler Naruto, percebem-se os ninjas como um corpo militar, com sua organização e regras de punição, havendo até um grupo especializado para procurar e eliminar ninjas que fugirem da vila. A equipe na forma de um trio também veio das observações de Kishimoto, era um padrão comum nos campos de formação. Kishimoto apenas fez a substituição de um homem por uma garota em alguns trios da série.

Fazendo uma análise de Naruto Shippuden, pode-se notar a aparição de um ninja que possui suas técnicas voltadas para a utilização de desenhos. Seu nome ficou conhecido com Sai. Além de usar técnicas, Sai também desenha um livro em forma de mangá, contando parte de sua história de vida. Um garoto que gosta de desenhar tem tudo haver com Masashi, passou a sua infância desenhando e tornou-se um mangá-ka reconhecido e famoso por sua série Naruto.

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Figura 9: Sai – o desenhista presente em Naruto

Disponível em: http://media.animevice.com/uploads/0/624/43037-sai_8.jpg

Um último ponto de análise pode ser retirado da biografia escrita por Rani Mendes Oliveira Lima em seu blog. Rani, fã de Naruto, também conseguiu ver aspectos autobiográficos na série de anime e mangá. Rani apresenta detalhes da vida de Kishimoto nas falas de outro personagem, Gaara. Segundo Rani ―quando o personagem Gaara diz: ‗Quero trabalhar duro para que os outros aceitem a minha existência. ‘ e ‗Ficar de braços cruzados só vai causar mais medo e sofrimento‘. Gaara é a representação de tantas pessoas que querem ser aceitas da forma que são. E se bem analisado, a crise existencial do Gaara representa o momento que Masashi Kishimoto também passou.‖ (LIMA, 2010, s. p. ). Gaara é outro personagem que busca reconhecimento, assim como Naruto, e que tem sua história transformada, ao encontrar-se com a garra, coragem e determinação do ninja hiperativo número 1 de Konoha.

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Figura 10: Gaara

Disponível em: http://narutomangá.com.br/leitura/online/capitulo/035#17

Masashi Kishimoto possui mais de onze anos trabalhando na série de Naruto e apresenta em pequenas doses, parte de sua história de vida ao longo da série. Não são apenas esses recortes que podem ser observados, diversas outras análises podem estar em seus mais de 690 capítulos de mangá.

Mostraram-se alguns pontos da história de vida de Kishimoto e sua relação com o personagem principal da série. São nomes e aparências diferentes, mas quem conhecesse os dois ficaria na dúvida se não mencionasse de qual deles estar-se-ia falando, pois são muitos os pontos em comum entre o autor e personagem.

Naruto é uma série de ficção, mas a vida do autor permeia a obra, entrelaçam-se formando o que pode ser denominado como autoficção. Os rastros da vida do autor estão na obra, sendo esta, uma espécie de ―autobiografia‖ escondida sob a fachada de ficção.

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Naruto é uma série de anime e mangá caracterizada por ser uma ficção. Ele conta as aventuras do ninja Naruto e a forma como este busca reconhecimento e vai mudando os personagens ao longo da série.

Ao ler sobre a história de Masashi Kishimoto, autor da série, podem-se perceber vários rastros de sua vida na série de Naruto, tanto nas semelhanças com o personagem principal, como também com outros personagens e locais por onde eles passam.

Sendo assim, Naruto não é apenas uma ficção, mas uma autoficção, apresentando a história de vida do autor sem a rigorosidade de uma autobiografia. Na autobiografia deve haver identidade entre autor, narrador e personagem, peso que não é observado na autoficção, já que existe o véu da ficção em meio aos toques de realidade.

Naruto, por apresentar a vida de Kishimoto durante seus capítulos, mesmo em pequenas doses pode ser entendido também como uma ―autobiografia‖ do autor escondida sob uma máscara de ficção.

REFERÊNCIAS

FIGUEIREDO, Eurídice. Dany Laferrière: autobiografia, ficção ou autoficção? Interface Brasil / Canadá, Rio Grande, n. 7, 2007. Disponível em: http://www.revistas.unilasalle.edu.br/index.php/interfaces/article/view/722/552. Acesso em: 05 out. 2014, 18h 10 min.

_______. Autoficção feminina: a mulher nua diante do espelho. Revista Criação &

Crítica, n. 4, abr/2010. Disponível em:

http://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/view/46790/50551. Acesso em: 05 out. 2014, 18h.

HIDALGO, Luciana. Autoficção brasileira: influências francesas, indefinições teóricas. ALEA, Rio de Janeiro, vol. 15/1, p. 218-231, jan-jun 2013.

KEIZI, Minami. Pequeno dicionário de Mangá e Animê. Neo Tokyo: a melhor revista de Animê e Mangá, São Paulo, n. 9, p. 96-97, 2000.

LANCASTER, Alexandre; FONSECA, Junior. A origem das espécies. Neo Tokyo: a melhor revista de Animê e Mangá, São Paulo, n. 9, p. 10-30, 2000.

LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

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LIMA, Rani Mendes Oliveira. Biografia de Masashi Kishimoto. Disponível em:

http://estudamosonline.blogspot.com.br/2010/07/biografia-de-masashi-kishimoto-escrito.html. Acesso em: 04 out. 2014, 20h.

VASCONCELOS, Pedro Vicente Figueiredo. Mangá-Dô, os caminhos das histórias

em quadrinhos japonesas. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade

Imagem

Figura 3: Ataque da Raposa de Nove Caudas, a direita e nascimento do Naruto e selamento  da raposa, em seu corpo, a esquerda
Figura 4: Falha do Naruto ao fazer um clone de si mesmo.
Figura 6: Prato de Lamen retirado do google.
Figura 7: O trio do Naruto.
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