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Caracterização fitoquímica de Erica australis e estudo etnobotânico de plantas medicinais da Serra de Montemuro

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA

Caracterização Fitoquímica de Erica australis e Estudo

Etnobotânico de Plantas Medicinais da Serra de Montemuro

Maria Pilar Ribeiro Dias

Mestrado em Química

Especialização em Química, Saúde e Nutrição

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA

Caracterização Fitoquímica de Erica australis e Estudo

Etnobotânico de Plantas Medicinais da Serra de Montemuro

Maria Pilar Ribeiro Dias

Mestrado em Química

Especialização em Química, Saúde e Nutrição

Dissertação orientada por: Professora Doutora Amélia Pilar Grases Santos Silva Rauter Dr. John Alwin McAdam

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Resumo

Caracterização Fitoquímica da Erica australis e Estudo Etnobotânico de Plantas Medicinais da Serra de Montemuro

Na I Parte deste trabalho aborda-se o estudo fitoquímico de duas plantas medicinais da Serra de Montemuro: Erica australis e Iris germanica.

A empresa ERVITAL, sediada na Serra de Montemuro, para além da produção própria, procede à recolha de algumas plantas espontâneas da região, que é o caso de Erica australis, uma planta que apresenta flores com tonalidades diversas, e no qual lhe são atribuídas propriedades biológicas.

Com o objetivo de estabelecer uma relação entre a composição química e a cor da flor, foi realizado um estudo comparativo do perfil fitoquímico de três amostras de E. australis apresentando flores de coloração distinta.

A análise dos óleos essenciais de E. australis, obtidos por hidrodestilação, foi efetuada por CG e GC/MS, enquanto que a composição fenólica da fração aquosa foi determinada por HPLC-DAD. O ácido gálico aparece como o constituinte maioritário (6.0-7.0%) do extrato aquoso. No que respeita ao perfil químico dos óleos essenciais, foram identificados 43 compostos, sendo o oct-1-en-3-ol o constituinte predominante (32.8-38.3%).

Não foram observadas diferenças significativas na composição química das três amostras estudadas, tanto no que respeita à fração volátil como à fração aquosa, sugerindo que o polimorfismo da cor não afeta significativamente o perfil fitoquímico da planta.

Relativamente à Iris germanica, procedeu-se à manufatura de uma pomada, com comprovada eficácia no alívio de queimaduras. Os constituintes químicos foram extraídos do rizoma com solventes de diferentes polaridades: hexano, diclorometano e etanol. A análise por cromatografia em camada fina analítica permitiu concluir que o etanol é o melhor solvente para a extração, apresentando o melhor rendimento (3.9%).

A II Parte desta dissertação aborda o Estudo Etnobotânico realizado nos concelhos da Serra de Montemuro.

Foram entrevistadas 98 pessoas de 45 aldeias, distribuídas por 23 freguesias. No total, foram mencionadas cerca de 350 plantas, pertencendo grande parte à família Lamiaceae, sendo a malva a planta mais citada pelos inquiridos.

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Abstract

Phytochemical characterization of Erica australis and Ethnobotanical Study of Medicinal Plants of the Serra de Montemuro.

The first part addresses the phytochemical study of two medicinal plants from Serra de Montemuro: Erica australis and Iris germanica.

The company ERVITAL, based in Serra de Montemuro, in addition to his own production, collects also some spontaneous plants in the region, which is the case of Erica australis, a plant that has flowers with several tonalities, and is known as having biological properties.

With the aim of establishing a relationship between chemical composition and the color of the flower, a comparative study was made of the phytochemical profile of three samples of E.

australis presenting flowers of distinct coloration.

The analysis of the essential oils of E. australis, obtained by hydrodistillation was performed by CG and GC/MS, while the phenolic composition of the aqueous fraction was determined by HPLC-DAD. Gallic acid appears to be the majority constituent (6.0-7.0%) of the aqueous extract. As regards the chemical profile of essential oils, 43 compounds were identified, with the oct-1-en-3-ol as the predominant constituent (32.8-38.3%).

There was no observed significant differences in the chemical composition of the three samples studied, as much in terms of the volatile fraction as the aqueous fraction, suggesting that the polymorphism of the color does not significantly affect the phytochemical profile of the plant.

With regard to the species Iris germanica, an ointment was manufactured, with proven efficacy in relieving of burns. The chemical constituents were extracted from the rhizome with solvents of different polarity: hexane, dichloromethane and ethanol. The analysis by analytical thin layer chromatography allowed the conclusion that ethanol is the best solvent for extraction, showing the best yield (3.9%).

The second part of this dissertation deals with the Ethnobotanical Study conducted in several counties of the Serra de Montemuro.

Interviews were held with 98 people from 45 villages, spread over 23 civil parishes. In total, about 350 plants were mentioned, mostly belonging to the family Lamiaceae, the mallow was the plant most commonly cited by respondents.

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ÍNDICE

Resumo...i Abstract...ii Índice...iii Agradecimentos...vii Prefácio...viii

I. Caracterização Fitoquímica de Duas Plantas Medicinais da Serra de Montemuro...1

1. Introdução...2

1.1. Plantas Aromáticas e Medicinais...2

1.2. O Comercio de Plantas Aromáticas e Medicinais...4

1.3. A Empresa ERVITAL - Plantas Aromáticas e Medicinais, Lda...7

1.4. Estudo Fitoquímico de Erica australis L...8

1.4.1. Caracterização Botânica...8

1.4.2. Usos Etnomédicos...9

1.4.3. Caracterização Fitoquímica...10

1.4.4. Atividade Farmacológica...25

1.5. Estudo Fitoquímico Preliminar de Iris germanica L...26

1.5.1. Caracterização Botânica...26

1.5.2. Usos Etnomédicos...27

1.5.3. Caracterização Fitoquímica...28

1.5.4. Atividade Farmacológica...42

2. Parte Experimental...44

2.1. Estudo Fitoquímico de Erica australis L...44

2.1.1. Analise da Composição Química do Óleo Essencial...44

2.1.1.1. Material Vegetal...44

2.1.1.2. Extração dos Óleos Essenciais...44

2.1.1.3. Análise Cromatográfica dos Óleos Essenciais...45

2.1.1.3.1. Cromatografia Gasosa...45

2.1.1.3.2. Cromatografia Gasosa-Espectrometria de Massa...46

2.1.2. Análise da Composição Fenólica do Decocto...46

2.1.2.1. Reagentes e Padrões...47

(7)

2.2. Estudo Fitoquímico Preliminar de Iris germanica L...48

2.2.1. Material Vegetal...48

2.2.2. Preparação da Pomada...49

2.2.3. Preparação dos Extratos...49

2.2.4. Analise Preliminar por Cromatografia em Camada Fina...50

3. Resultados e Discussão...51

3.1. Estudo Fitoquímico de Erica australis L...51

3.1.1. Composição Química do Óleo Essencial...51

3.1.2. Composição Fenólica do Decocto...57

3.2. Estudo Fitoquímico Preliminar de Iris germanica L...61

II. Estudo Etnobotânico de Plantas Medicinais da Serra de Montemuro...64

1. Introdução...65

1.1. Enquadramento Geográfico...67

1.2. Medicina Popular na Serra de Montemuro...69

2. Metodologia...73

3. Resultados e Discussão...75

4. Conclusões Finais e Perspetivas Futuras...81

Bibliografia...83

ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Diversas tonalidades de Erica australis (Várzea da Serra)...9

Figura 2. A planta Iris germanica recolhida na aldeia da Gralheira...26

Figura 3. As três formas isoméricas α-, β- e γ-irona responsáveis pela fragrância semelhante a violeta do óleo Iris...28

Figura 4. Estrutura do iridal (21-desoxi-iridogermanal)...29

Figura 5. Hidrodestilação. A. Aparelho tipo Clevenger; B. Hidrodestilação das amostras de Erica australis...44

Figura 6. Rizoma de Iris germanica L...48

Figura 7. Pomada para queimaduras obtida a partir de rizoma de Iris germanica L...49

Figura 8. Componentes principais dos óleos essenciais isolados de três amostras de Erica australis. 4. oct-1-en-3-ol, 5. n-nonanal e 6. n-octanol...53

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Figura 9. Hidrocarboneto sesquiterpénico identificado em Erica australis. 7. trans, trans, α

-farneseno...54

Figura 10. Monoterpenos contendo oxigénio identificados em Erica australis. 8. trans-pinocarveol, 9. α-terpineol e 10. geranilacetona...54

Figura 11. Ácidos fenólicos identificados em Erica australis. 11. ácido gálico, 12. ácido vanílico, 13. ácido cafeico, 14. ácido ferúlico e 15. ácido clorogénico...58

Figura 12. Flavonóides glicosilados identificados em Erica australis. 16. luteolina-7-O-glucósido e 17. rutina (quercetina-3-O-rutinósido)...59

Figura 13. Cromatogramas e extratos de Iris germanica L...62

Figura 14. Mapa da Serra de Montemuro (Rede Natura 2000) com uma área de 38.763 ha...67

Figura 15. Medicina popular na Serra de Montemuro. A. Ventosas; B. Utensílios utilizados para fazer as papas de linhaça...71

Figura 16. Recolha efetuada pela Associação Etnográfica do Montemuro – Mezio...72

Figura 17. Mapa das freguesias inseridas na Serra de Montemuro (Rede Natura 2000)...73

Figura 18. Exemplar do herbário...79

ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Constituintes identificados em espécies de Erica (revisão bibliográfica)...11

Tabela 2. Constituintes identificados em rizomas de Iris germanica L. (revisão bibliográfica)...31

Tabela 3. Relação massa/volume utilizada na hidrodestilação...45

Tabela 4. Composição do óleo essencial isolado por hidrodestilação a partir das partes aéreas floridas de três amostras de E. australis recolhidas na Várzea da Serra...51

Tabela 5. Composição fenólica de Erica australis...58

Tabela 6. Rendimento dos diversos extratos...61

Tabela 7. Plantas utilizadas na medicina popular da Serra de Montemuro a exigirem um estudo aprofundado...80

ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1. Género dos entrevistados por concelho...75

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Gráfico 3. Percentagem de número de aldeias visitadas por concelho...76

Gráfico 4. Número de plantas mencionadas e percentagem por concelho...76

Gráfico 5. Percentagem de referência à planta...77

Gráfico 6. Indicações terapêuticas com maior número de plantas mencionadas...78

ÍNDICE DE ANEXOS Anexo 1. Delimitação do sítio da Rede Natura da Serra de Montemuro, integrado na área do município de Arouca...89

Anexo 2. Delimitação do sítio da Rede Natura da Serra de Montemuro, integrado na área do município de Castro Daire...90

Anexo 3. “Plantas que curam”: exposição de plantas medicinais recolhidas em Tendais – Cinfães, 1996...91

Anexo 4. Freguesias e lugares pertencentes à Serra de Montemuro...93

Anexo 5. Freguesias e lugares da Serra de Montemuro incluídas e número de plantas mencionadas ...97

Anexo 6. Nome e idade dos entrevistados e respetivo lugar e freguesia...103

Anexo 7. Modelo do Inquérito Etnobotânico utilizado...106

Anexo 8. Concelho de Cinfães. Nomes populares e lugares onde foram mencionados...109

Anexo 9. Concelho de Lamego. Nomes populares e lugares onde foram mencionados...110

Anexo 10. Concelho de Resende. Nomes populares e lugares onde foram mencionados...111

Anexo 11. Concelho de Castro Daire. Nomes populares e lugares onde foram mencionados...113

Anexo 12. Nomes populares no total dos concelhos...115

Anexo 13. Índice de indicações terapêuticas...118

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço à Professora Doutora Amélia Pilar Grases Santos Silva Rauter que tornou possível a realização deste trabalho e o apoio que prestou desde o início em todas as dificuldades que surgiram.

À Doutora Alice Isabel Mendes Martins a disponibilidade e apoio, assim como toda a ajuda prestada durante a realização desta dissertação.

Ao Dr. John McAdam e Eng. Joaquim Morgado, da ERVITAL, que ajudaram na recolha de todo o material vegetal de Erica australis para a realização do estudo fitoquímico, para além do apoio concedido durante a realização deste trabalho.

À Professora Doutora Ana Isabel Vasconcelos Dias Correia, do Departamento de Biologia Vegetal da FCUL, pela identificação do material vegetal utilizado no presente trabalho.

À Professora Doutora Ana Cristina da Silva Figueiredo, do mesmo departamento, pelo apoio na extração do óleo essencial de Erica australis por hidrodestilação e posterior análise por GC e GC-MS.

Ao Professor Doutor José Manuel Nogueira, do Departamento de Química e Bioquímica da FCUL, pela disponibilização do equipamento de HPLC-DAD.

Ao Dr. Nuno Neng, do grupo de Ciência e Tecnologia de Separação do Centro de Química e Bioquímica, pelas análises da fração aquosa de E. australis, por HPLC-DAD.

Às Câmaras Municipais de Castro Daire, Cinfães, Arouca, Resende e Lamego, que forneceram a informação sobre as freguesias que estão incluídas na Serra de Montemuro, para além dos contactos disponibilizados. Aos presidentes das Juntas de Freguesia dos cinco Concelhos, que me acompanharam no trabalho pelas aldeias e se mostraram disponíveis e prestáveis naquilo que foi necessário para a realização do estudo etnobotânico: Senhores Albino Pedrinho, José Dias, Marco Matos, José Pereira, José Carlos Rodrigues, José Seiceira, Luis Pontes, Victor Fernandes, António Dias, Horácio Saraiva, José Rodrigues, Arlindo Pereira, Isidro Pereira, Albino Esteves, Acácio Lopes, Edgar Soares, José Gonçalves e Norberto Carvalho.

A todos os entrevistados que, no âmbito do presente inquérito, tiveram um papel importante na concretização de uma grande parte deste trabalho.

Por último, e não menos importante, quero agradecer à minha família pelo seu apoio ao longo da elaboração da presente dissertação.

(11)

Prefácio

A utilização tradicional de plantas medicinais no meio rural era, outrora, uma prática comum que, hoje em dia, está cada vez mais em desuso. O fato de determinados saberes populares serem passados por via oral, prevalecendo maioritariamente na posse de pessoas idosas, tem vindo a traduzir-se numa crescente erosão dos conhecimentos tradicionais de certas populações. Devido à desertificação das áreas rurais e à globalização da cultura pelos media, os conhecimentos populares acerca dos usos das plantas já não estão bem enraizados e correm o risco de desaparecer para sempre. Assim, a realização de estudos etnobotânicos reveste-se de particular importância, na medida em que contribui para a inventariação e difusão de toda uma cultura que, de outro modo, ficaria irremediavelmente perdida. Fica assim preservada uma herança cultural local que é também, em última análise, mundial.

Até à década de 70 do século passado, grande parte das aldeias da Serra de Montemuro estava praticamente isolada. Assim, a população não tinha outro remédio senão deitar mão aos recursos da natureza, sempre que era acometida pela doença ou acidente de trabalho. Com a ajuda das plantas, rezas e curandeiras, o povo ia tratando os seus males. Há assim todo um saber ancestral que é importante preservar, registar e incorporar em novas tecnologias compatíveis com os modelos sociais e de gestão atuais.

Na Serra de Montemuro, a ponte entre os saberes populares e a valorização da flora local tem sido eficazmente estabelecida pela empresa ERVITAL-Plantas Aromáticas e Medicinais, Lda., sediada no Mezio, concelho de Castro Daire. Foi, aliás, no âmbito de uma colaboração com esta empresa que se desenvolveu o presente trabalho, o qual, por questões de sistematização e de organização, se encontra dividido em duas partes distintas.

Na I Parte aborda-se o estudo fitoquímico de duas plantas medicinais da Serra de Montemuro: Erica australis e Iris germanica. A primeira é comercializada pela ERVITAL, sendo-lhe atribuídas propriedades anti-inflamatórias, diuréticas e sedativas.

Foi feito um estudo comparativo do perfil fitoquímico de três amostras de Erica australis apresentando flores de coloração distinta, com o objetivo de estabelecer uma relação entre a composição química e a cor da flor. Por outro lado, e com igual relevância, pretendeu-se dar o primeiro passo numa tentativa de relacionar a composição química desta planta com as suas propriedades medicinais.

Já a escolha de Iris germanica surgiu na sequência do Inquérito Etnobotânico efetuado em várias freguesias da Serra de Montemuro. A partir do rizoma desta planta é produzida localmente uma pomada com comprovada eficácia no alívio de queimaduras.

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Para ambas as espécies procedeu-se a uma revisão bibliográfica dos seus constituintes químicos, usos etnomédicos e atividades farmacológicas.

A análise dos óleos essenciais de E. australis, obtidos por hidrodestilação, foi efetuada por CG e GC/MS, enquanto que a composição fenólica da fração aquosa foi determinada por HPLC-DAD. O ácido gálico aparece como o constituinte maioritário (6.0-7.0%) do extrato aquoso, seguido pelos ácidos clorogénico, cafeico e vanílico (1.0-3.1%). No que respeita ao perfil químico dos óleos essenciais, foram identificados 43 compostos, sendo o oct-1-en-3-ol o constituinte predominante (32.8-38.3%), seguido do n-nonanal (8.3-11.0 %), n-octanol (5.8-7.3%), cis-3-hex-1-ol (2.2-5.4%) e n-heptancis-3-hex-1-ol (3.6-4.0%).

Não foram observadas diferenças significativas na composição química das três amostras estudadas, tanto no que respeita à fração volátil como à fração aquosa, sugerindo que o polimorfismo da cor não afeta significativamente o perfil fitoquímico da planta.

Relativamente à espécie Iris germanica, procedeu-se à manufatura da pomada, obedecendo à metodologia utilizada na medicina tradicional, bem como à extração dos constituintes químicos do rizoma com solventes de diferentes polaridades: hexano, diclorometano e etanol. O extrato etanólico apresentou o melhor rendimento (3.9%), seguindo-se os extratos de diclorometano (0.63%) e de hexano (0.35%). A análise por cromatografia em camada fina analítica permitiu concluir que o etanol é o melhor solvente para a extração, embora o perfil fitoquímico da pomada se assemelhe muito ao dos extratos de diclorometano e de hexano.

A II Parte desta dissertação aborda o Estudo Etnobotânico efetuado em vários concelhos da Serra de Montemuro.

Foram entrevistadas 98 pessoas de 45 aldeias, distribuídas por 23 freguesias. No total, foram mencionadas cerca de 350 plantas, pertencendo grande parte à família Lamiaceae, sendo a malva a planta mais citada pelos inquiridos. As aplicações terapêuticas predominantes diziam respeito a: feridas, estômago, furúnculos, fígado, diarreia, problemas de bexiga, seguindo-se colesterol, rins, infeções, dor de cabeça, desinfetante, coração e hipertensão.

As entrevistas realizadas encontram-se disponíveis em suporte informático (CD), anexo ao presente trabalho.

A atribuição dos nomes científicos corretos a algumas das plantas recolhidas revestiu-se de várias dificuldades, pelo que se procedeu à sua organização num herbário, de forma a confirmar posteriormente a sua verdadeira identificação. O herbário consta de nove dossiers os quais são, igualmente, parte integrante da presente dissertação.

(13)

por título “Plantas Medicinais da Serra de Montemuro -Tradição, Saber Popular e Produção”.

Paralelamente, dar-se-á também prioridade à continuação do trabalho de laboratório, o qual envolverá o fracionamento, isolamento, identificação e ensaios de bioatividade de constituintes destas plantas. Pretende-se, assim, justificar cientificamente a sua aplicação etnofarmacológica e contribuir, de algum modo, para a valorização das plantas medicinais da Serra de Montemuro, transformando-as em produtos de elevado valor acrescentado para a sua população.

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PARTE I

CARACTERIZAÇÃO FITOQUÍMICA DE DUAS PLANTAS

MEDICINAIS DA SERRA DE MONTEMURO

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1 Introdução

1.1. Plantas Aromáticas e Medicinais

Na União Europeia, as plantas utilizadas principalmente pelas suas propriedades medicinais ou aromáticas em farmácia ou perfumaria, são definidas como Plantas Aromáticas ou Medicinais (PAMs) (Lubbe e Verpoorte, 2011). No entanto, há quem não concorde com o termo, pois muitas destas plantas também são utilizadas para fins cosméticos e para a produção de tintas, corantes e produtos para a proteção de culturas (Lubbe e Verpoorte, 2011).

Existem diversas definições para Planta Medicinal. Cunha (2008) considera, em sentido genérico, como plantas medicinais todas aquelas cujo uso pelas populações, ao longo dos tempos, foi aceite, devido ao seu efeito benéfico para a saúde. Inclui as plantas aromáticas, cujo óleo essencial, o seu principal constituinte, mostra ter atividade farmacológica. Num sentido mais restrito, considera medicinais só aquelas que, tendo em conta ensaios farmacológicos comprovando a atividade, ensaios de toxicidade e estudos clínicos, passam a ter utilização médica e a figurar, por isso, nas modernas Farmacopeias oficiais.

No entanto, a Planta Europa, uma rede de organizações independentes, governamentais e não-governamentais, que trabalham juntas com o objetivo de conservar plantas e fungos selvagens no âmbito Europeu, afirma que não é possível obter uma definição exata de planta medicinal:

“Plantas Medicinais são plantas que proporcionam às pessoas

medicamentos – para prevenir doenças, manter a saúde ou curar uma doença. De uma forma ou de outra, beneficiam praticamente toda a população na Terra. Nenhuma definição exata é possível de Planta Medicinal. Existem temas relacionados, como a nutrição, higiene, cuidados corporais, incenso e rituais de

cura.”1

As plantas podem significar aspetos diferentes das suas características naturais, encarnar algo que não é material, ser entendidas como elementos que estão aptos a participar numa realidade transcendente. Os saberes acerca do mundo vegetal inserem-se em sistemas de conhecimento mais vastos. As práticas de manipulação de plantas surgem no âmbito de práticas adaptativas, em que o carácter pragmático se associa a uma dimensão simbólica legitimadora da sua eficácia (Frazão-Moreira, 2005).

(16)

A Flora Portuguesa é particularmente importante pela sua riqueza em espécies aromáticas e medicinais. Na realidade, das cerca de 3800 espécies que compõem a cobertura vegetal do Continente, Açores e Madeira, cerca de 500 são aromáticas e/ou medicinais (Figueiredo et al., 2007) podendo, parte delas, constituir uma alternativa para sistemas agrícolas sustentáveis ou para a rentabilização de terrenos marginais para a agricultura.

Acresce que, algumas destas espécies constituem endemismos, por vezes com nichos ecológicos muito vulneráveis. A conservação desta diversidade biológica, atualmente indissociável da sua utilização sustentada, contribuiria para a fixação das populações no seu habitat tradicional, única forma de suster a tendência atual de agravamento de um dos fenómenos mais preocupantes que afetam o território nacional continental, a desertificação (Figueiredo et al., 2007).

As três formas principais a considerar no aproveitamento das PAMs são: a planta seca, os extratos e os óleos essenciais. As duas primeiras formas, encontram as suas aplicações nos domínios das indústrias alimentar e de bebidas, cosmética e indústria farmacêutica, enquanto que os óleos essenciais são aplicados na indústria alimentar, perfumaria, cosmética, indústria farmacêutica, fitoterapia e aromaterapia (Fragoso et al., 2005).

Cerca de 90% da produção global de óleos essenciais é consumida pela indústria dos aromas e fragrâncias (Lubbe e Verpoorte, 2011), principalmente na forma de cosméticos, perfumes, refrigerantes e alimentos. Os maiores consumidores de óleos essenciais são os Estados Unidos da América, seguidos por países como a França, Alemanha, Reino Unido e Japão (Lubbe e Verpoorte, 2011).

Os países do Terceiro Mundo detêm 55% da produção mundial de óleos essenciais (Figueiredo et al., 2007). A riqueza da sua flora natural, aliada ao baixo custo de mão-de-obra, tem permitido a muitos destes países constituírem-se como fornecedores importantes de matéria-prima para a extração de óleos essenciais. Contudo, a instabilidade política e a reduzida capacidade de investimento, quer na produção, quer na qualidade, são fatores limitantes do abastecimento estável requerido pelas empresas dos países consumidores.

A inexistência de legislação, de regulamentação, de fiscalização e, em muitos casos, de conhecimento, permite a existência de produtos provenientes de PAMs de menor qualidade. Esta situação de alguma forma vem sendo contrariada por uma exigência crescente do consumidor que começa a manifestar, nalguns casos, uma clara preferência por produtos biológicos, com qualidade comprovada e certificada.

(17)

1.2. O Comércio das Plantas Aromáticas e Medicinais

A colheita de produtos de elevado valor, como as plantas medicinais espontâneas, continua a ser prática comum nos países desenvolvidos por razões culturais e económicas. Das 422.000 espécies de plantas vasculares existentes no mundo estima-se que 12.5% sejam utilizadas com fins medicinais, ou seja, cerca de 52.000, supondo-se que 8% estejam ameaçadas de extinção (Figueiredo et al., 2007).

Neste contexto, a Organização Mundial de Saúde (WHO) preparou diretivas de Boas Práticas Agrícolas e de Colheita (BPAC) de plantas medicinais, tendo como objetivos contribuir para assegurar as especificações das matérias primas de plantas medicinais no sentido de garantir a qualidade, segurança e eficácia terapêutica dos produtos finais e a proteção da saúde pública, bem como apoiar a cultura e colheita sustentáveis de plantas medicinais de boa qualidade, respeitando a proteção dos recursos naturais (Figueiredo et al., 2007).

Apesar da importância da produção industrial de medicamentos à base de substâncias ativas provenientes de plantas, as plantas medicinais são, neste momento, raramente comercializadas de forma regulada e organizada; a maior parte é ainda explorada com pouca ou nenhuma preocupação com o futuro (Alves, 2008).

No ano 2000, as vendas globais de medicamentos à base de plantas2 foram estimadas em

cerca de 50 mil milhões de euros, de acordo com o Secretariado da Conversão para a Diversidade Biológica (Figueiredo et al., 2007). Empresas europeias, em particular da Alemanha, dominam o fornecimento global dos medicamentos naturais. A maior empresa a comercializar matérias-primas é a Martin Bauer Group, uma corporação alemã com vendas anuais de 250 milhões de euros (Alves, 2008).

O número de casos de problemas de saúde causados pela adulteração de medicamentos à base de plantas, tem também vindo a aumentar. Uma das principais causas referidas para estes efeitos adversos está diretamente relacionada com a má qualidade dos produtos medicinais, incluindo as respetivas matérias-primas (Figueiredo et al., 2007).

Muitas espécies de plantas estão ameaçadas devido à colheita excessiva para uso medicinal ou outra aplicação. Há uma grande necessidade de proteger a diversidade de plantas e também uma necessidade de desenvolver formas mais sustentáveis de obtenção de produtos para a indústria a partir de recursos renováveis. O cultivo de PAMs para produtos industriais pode resolver estas

2 De acordo com o Decreto de Lei nº176/2006 de 30 de Agosto, entende-se por «Medicamentos à base de plantas»,

qualquer medicamento que tenha exclusivamente como substâncias ativas uma ou mais substâncias derivadas de plantas, uma ou mais preparações à base de plantas ou uma ou mais substâncias derivadas de plantas em associação com uma ou mais preparações à base de plantas.

(18)

questões (Lubbe e Verpoorte, 2011).

Apesar da importância que têm tomado os produtos sintéticos empregues na medicina e perfumaria, a cultura das PAMs não deixa de apresentar-se merecedora de cuidadoso estudo e podemos mesmo afirmar que o seu interesse se torna cada vez maior.

Em Portugal, tem-se assistido a um crescimento gradual da produção de PAMs. A maior parte provém de produtores biológicos que iniciaram a sua atividade no final do século XX, apesar de já existirem alguns produtores com experiência nesta área. Em 2005, estavam recenseados cerca de 25 produtores de PAMs (Fragoso et al., 2005) e, de uma forma geral, os produtores preferem as PAMs endémicas da região em que se encontram (Fragoso et al., 2005). Nos casos onde existem plantas espontâneas de fácil acesso, os produtores não optam pelo seu cultivo, mas efetuam colheitas sazonais, sem que isso prejudique a sua reprodução e desenvolvimento vegetativo. A vertente de aproveitamento das PAMs representada pelos óleos essenciais tem sido praticamente inexistente (Fragoso et al., 2005), salvaguardadas algumas iniciativas, quase todas modestas.

As PAMs produzidas nas explorações nacionais destinam-se à produção de infusões, indústria cosmética e indústria farmacêutica para o mercado nacional e internacional. Na maior parte dos casos, a produção diz respeito a plantas secas e o escoamento é efetuado nos mercados locais, feiras de âmbito nacional e no mercado internacional, sendo o maior número de negócios efetuado a nível interno (Fragoso et al., 2005).

A colheita de plantas medicinais na Serra de Montemuro, iniciou-se muito antes da década de 80 do século XX. De facto, há muito tempo que a Serra de Montemuro se tornou fornecedora das ervanárias do país, principalmente, de Lisboa e Porto. A título de exemplo, refira-se que Maria Salomé Botelho da Fonseca, 89 anos, natural da Gralheira, começou no negócio há mais de trinta anos e ainda se lembra que, em 1993, apanhou uma tonelada de carqueja, para um senhor de Lisboa. Logo ao lado, na aldeia da Panchorra, Benjamim Carlos, 69 anos, também ele começou no ramo do comércio das plantas medicinais há mais de trinta anos. Na altura em que iniciou a atividade, havia intermediários em cada uma das aldeias que lhe arranjavam pessoas para a colheita das plantas. Hoje, tem dificuldade em arranjar quem as apanhe. As plantas que mais comercializa são: flor da carqueja, giesta-branca, flor de sabugueiro e macela.

No seu livro «Crónicas da Serra», Carlos de Oliveira Silvestre, natural da aldeia da Gralheira, escreve o seguinte sobre a recolha de plantas medicinais na Serra, em 1993:

“[...] Essas flores a quem chamam Maias – agora terão que ser Junhas porque o

(19)

mais procurada é sem dúvida a flor da carqueija, que vendem aos comerciantes desta localidade, a 600$00 o quilo, depois de seca ao sol. Os comerciantes, por sua vez, vendem-na aos ervanários de Lisboa e Porto. E, assim, podem ver-se nas encostas da serra e nos cerros dos montes, nesta época do ano, grupos de rapazes e raparigas, homens, mulheres e crianças, na colheita das Maias. Mais de 50 pessoas se dedicam diariamente a essa tarefa, sobressaindo nas extensas manchas amareladas dos carqueijais. Trabalho rendoso que para os mais laboriosos dá a 1.000$00 por hora. [...] Só os dedos é que não gostam muito, por vezes sangram, mas com umas dedeiras e uns adesivos lá vão resistindo. Vão quase sempre só da parte da tarde, no fim do almoço e por volta das 19 horas é o regresso de sacos cheios. Algumas mulheres conseguem apanhar mais de 8 quilos em 5 horas, depois de secas. Há dias em que entram mais de 100 contos na Gralheira, só da colheita das Maias. [...] Em Agosto é a colheita da semente da

giesta [...].”3

Existe referência do uso do cornelho na medicina tradicional4 nas aldeias da Serra de

Montemuro. O chá de cornelho, era tomado para ajudar ao parto, caso as forças fossem fracas ou a criança se recusasse a vir ao mundo (Carvalho, 1993). O cornelho sobressaía pela sua cor escura em algumas espigas nas searas do centeio, a principal cultura em toda a região da Serra de Montemuro. Os mais velhos recordam-se que se apanhava e vendia ao quilo a potenciais compradores que andavam pela Serra.

O cornelho ou cravagem do centeio, é um fungo (Claviceps purpurea) que se desenvolve no centeio. A ingestão de farinha de centeio contaminada com o fungo originou uma doença conhecida como ergotismo, bastante comum na Europa durante a Idade Média, afetando milhares de pessoas (Lee, 2009; Costa, 2002; Dongen, 1995). A origem fúngica da cravagem foi reconhecida por Münchhausen, em 1764, enquanto que o seu ciclo de vida foi descrito no século XIX na década de cinquenta por Tulasne (Lee, 2009). O primeiro alcalóide isolado da cravagem, ergotamina, foi isolado por Stoll, em 1918 (Costa, 2002). Em 1935, Moir e Dudley, isolaram a ergometrina, a substância ativa do extrato aquoso (Costa, 2002; Dongen, 1995), a qual tem ainda um papel importante na área obstétrica nos países mais desenvolvidos (Costa, 2002; Dongen, 1995).

3 Silvestre, 1999.

4 A medicina tradicional é a soma total de conhecimentos, competências e práticas baseadas em teorias, crenças e

experiências indígenas de diferentes culturas, quer seja explicável ou não, utilizadas na manutenção da saúde, bem como na prevenção, diagnóstico, melhoria ou tratamento de doenças físicas e mentais (http://www.who.int/medicines/areas/traditional/definitions/en/index.html último acesso 10.09.2011).

(20)

1.3. A Empresa ERVITAL – Plantas Aromáticas e Medicinais, Lda

A empresa ERVITAL – Plantas Aromáticas e Medicinais, Lda., (ERVITAL doravante), está situada na aldeia do Mezio, concelho de Castro Daire, em plena Serra de Montemuro. Foi constituída oficialmente em 1997, embora os trabalhos experimentais tenham sido iniciados em 1991, quando o Eng. Joaquim Morgado começou a trabalhar nesta área, tendo-se juntado aos outros dois sócios fundadores que constituem atualmente a sociedade, Dr. Delfim Morgado, e Dr. John McAdam. Localizada já fora da povoação do Mezio, a empresa dispõe de instalações modernas e amplas, adequadas ao nível de atividade, guardando ainda – com futuras intenções museológicas – as primitivas instalações em granito, onde trabalhavam e secavam as plantas.

A ERVITAL desenvolve a sua atividade empresarial em toda a fileira das PAMs, desde a produção, passando pela transformação, embalagem e acabando na comercialização e distribuição, tudo sob a forma de plantas secas, com fins culinários (condimentos), medicinais (infusões) ou aromáticas.

Na obtenção das PAMs, a ERVITAL optou pelo modo de produção biológico como prática agronómica. Os campos de produção e demonstração têm uma superfície total de 3.5 ha e dispõem de sistema de rega gota-a-gota, para efetuar a rega da maior parte dos campos. A coexistência de campos de demonstração e de produção tem a ver com a política da ERVITAL: participar em projetos de I & D e facultar visitas de estudo a turmas e grupos de estudantes dos vários graus de ensino, assim como a técnicos e agricultores e público em geral.

Para além da produção própria obtida nestes campos, a ERVITAL procede à recolha de algumas plantas espontâneas na região, através da contratação e colaboração dos habitantes das aldeias vizinhas, em especial as que se situam na Serra de Montemuro. Junto destas pessoas, a empresa desenvolve uma assinalável ação de extensão rural5, fornecendo-lhes informação pertinente

relativa às espécies presentes, nomeadamente, o seu nome comum, as características botânicas, a fragrância característica de cada espécie, o habitat da planta, época de colheita, técnicas de manipulação, secagem, etc.

A secagem das plantas é feita principalmente no Verão, sem a utilização de ar forçado, em tabuleiros específicos colocados no armazém principal e/ou no secador, uma câmara dotada de aquecimento artificial. No Inverno, devido ao frio que se faz sentir na região, não é possível proceder à secagem ao ar livre, estando a totalidade das plantas sujeitas à passagem pela câmara de secagem.

(21)

A ERVITAL é uma referência incontornável sempre que, em Portugal, se fala de PAMs. Por isso, não será de estranhar a sua ligação, próxima e regular, aos estabelecimentos de ensino superior e aos laboratórios públicos de investigação, onde participa em inúmeros projetos de I & D.

1.4. Estudo Fitoquímico de Erica australis L.

1.4.1. Caracterização Botânica

O termo Erica deriva do antigo termo Grego “ereica”, utilizado por Teofrasto para descrever algumas plantas que ocorrem na região do Mediterrâneo (Szkudlarz, 2006). Nos tempos contemporâneos este termo foi usado por muitos autores, mas oficialmente, como nome de género, foi introduzido na botânica por Carl Linnaeus em Species Plantarum, publicado em 1753 (Szkudlarz, 2006).

Erica L. é o segundo maior género da família Ericaceae (Szkudlarz, 2006). O número de

espécies varia dependendo do autor e oscila entre 500 e quase 800 espécies, encontradas principalmente na África do Sul, Mediterrâneo e Europa Ocidental (Akkol et al., 2008).

A Erica australis L. é um arbusto nanofanerófito até 2 m, com ramos suberectos e rebentos puberulentos; folhas com 3.5-6 mm, lineares, erecto-patentes, glabras em adultas; flores fasciculadas 4-8, os fascículos terminando ramos curtos laterais frequentemente reunidos em panículas terminais frouxas; pedicelos com 2-3 mm, pubescentes, em grande parte envolvidos pela bráctea, com 3 bractéolas semelhando sépalas e envolvendo estas; sépalas com 2 mm, ovadas, carenadas, pubescentes pelo menos na carena e nas margens; corola com 6-9 mm, rosa-avermelhada, tubulosa ou estreitamente campanulada, com lobos revolutos; anteras inclusas ou parcialmente exsertas; ovário pubescente, estigma capitado (Franco, 1984). É vulgar no Continente, ainda que raro no Sudeste meridional, em urzais, charnecas e matas ralas; calcífuga (Franco, 1984).

O género Erica encontra-se por toda a Serra de Montemuro e chega a ocupar grandes espaços, partilhando o mesmo habitat com o tojo, chegando a formar matos altos. Existe informação de diversas espécies de Erica na Serra de Montemuro: Erica arborea, Erica australis, Erica ciliaris,

Erica cinerea, Erica tetralix e Erica umbellata (Ferreira, 2004). Para além destas, foram ainda

identificadas pela Professora Doutora Ana Isabel Vasconcellos, do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Erica scoparia, Erica sp. e a Calluna vulgaris, que pertence à mesma família (Ericaceae).

(22)

Figura 1. Diversas tonalidades de Erica australis (Várzea da Serra).

A queiró, urgueira ou urze-vermelha (Erica australis), nomes populares encontrados na Serra de Montemuro, apresenta flores com tonalidades diversas, que vão do rosa claro ao rosa mais escuro (Figura 1).

1.4.2. Usos Etnomédicos

Encontram-se diversas referências à utilização de espécies de Erica na medicina tradicional e popular6. Na Turquia e Marrocos, as partes aéreas de Erica arborea, Erica multiflora e Erica

manipuliflora são utilizadas como diuréticas, adstringentes, laxativas, anti-sépticas urinárias e

contra as constipações (Akkol et al., 2008; Mohajjel et al., 2008; Ay et al., 2007; Harnafi et al., 2007). Em particular, um copo de 5% da infusão7 ou decocção8 das folhas de Erica arborea é

sugerida após as refeições para descarregar o edema do corpo, em formulações de emagrecimento (Akkol et al., 2008).

6 A medicina popular define-se como o conjunto de conhecimentos e crenças criadas pelo povo, quer dizer, pelos

profanos não profissionais, e que se opõe ao discurso erudito. A cultura popular caracteriza-se pela oralidade (Fontes e Sanches, 2000).

7 Infusão consiste em lançar sobre um material vegetal água fervente, mantendo-se o sólido e o líquido encerrados

(23)

No Leste de Marrocos, a Erica multiflora é muitas vezes utilizada por indivíduos hiperlipidémicos como uma alternativa terapêutica para o tratamento da hiperlipidemia9 (Harnafi et

al., 2007), enquanto que, no Norte de África, é utilizada para tratar inflamações e hipertensão

(Kawano et al., 2009). Uma antiga receita encontrada no livro de Dioscórides, “De Materia Medica” descreve que um cataplasma preparado das folhas das espécies de Erica “curam a mordida das serpentes” (Akkol et al., 2008).

Na medicina tradicional da Serra de Montemuro a Erica australis é aplicada no tratamento das vias urinárias, contra doenças dos rins e hipertrofia da próstata. Na localidade de Vilar de Perdizes, a Norte de Portugal, as flores desta mesma planta são utilizadas pela população local para o tratamento da próstata, bexiga e rins (Neves et al., 2009), enquanto no Algarve as flores são utilizadas como diuréticas (Rodrigues e AFLOSUL, 2006).

Vem aqui a propósito referir que esta planta é recolhida e comercializada pela empresa ERVITAL com a indicação de anti-inflamatória, diurética e sedativa, sendo recomendado como modo de preparação: “Deitar aproximadamente 5 g de planta num bule de vidro ou porcelana e verter um litro de água fervente sobre o mesmo. Deixar em infusão durante cinco a dez minutos, coar e beber quente ou frio ao longo do dia”.

1.4.3. Caracterização Fitoquímica

Não existem até à presente data muitos estudos disponíveis sobre a composição química e atividades biológicas de plantas do género Erica. Num estudo quimiotaxonómico recente, o flavonóide gossipetina foi definido como um marcador taxonómico na família Ericaceae (Nazemiyeh et al., 2008a). Os compostos glicosilados de gossipetina foram identificados em Erica

cinerea (Bennini et al., 1995; Chulia et al., 1995; Bennini et al., 1994; Bennini et al., 1992), uma

das plantas mais estudadas do género, enquanto que o flavonóide gossipetina, foi identificado apenas em Erica arborea e Erica ciliaris (Bennini et al., 1992). Mais tarde, vários estudos revelaram nesta família, a presença de uma série de outros flavonóides e seus glicósidos (Nazemiyeh et al., 2008a). No género Erica, os açúcares estão predominantemente ligados ao núcleo flavonóide através de uma ligação O-glicosídica, havendo uma preferência pela posição C-3 (Bennini et al., 1994; Bennini et al., 1992).

Uma revisão bibliográfica dos constituintes químicos identificados neste género encontra-se resumida na Tabela 1.

(24)

Tabela 1. Constituintes identificados em espécies de Erica (revisão bibliográfica). Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

Flavonóides

Flavonóis E. arborea

E. ciliaris

Gossipetina R8 = R3' = OH; R5' = H Bennini et al.,

1992

E. cinerea

E. australis Canferol R8 = R3' = R5' = H Bennini et al., 1992;

Carballeira, 1980

E. australis E. andevalensis E. verticillata

Quercetina R5' = OH; R8 = R3' = H Gournelis, 1995;

Rubio et al., 1988; Carballeira, 1980 E. cinerea E. australis E. andevalensis E. verticillata

Miricetina R3' = R5' = OH; R8 = H Gournelis, 1995;

Bennini et al., 1992; Rubio et al., 1988; Carballeira, 1980 Flavonóis sulfatados E. cinérea Gossipetina-7,8-di-metoxi-3,3'-di-sulfato Chulia et al., 1995

(25)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

Flavonóis glicosilados E.cinerea Quercetina-3-O-β-D -glucósido R7 = R3' = R4' = OH; R8 = R5' = H; R3 = OGlc10 Nazemiyeh et al., 2008b; Bennini et al., 1992 E. cinerea Gossipetina-8-metoxi-3-O-β-D-glucósido R7 = R3' = R4' = OH; R8 = OCH3; R5' = H; R3 = OGlc Bennini et al., 1992 E. cinérea Gossipetina-7,8-di-metoxi-3-glucósido R3' = R4' = OH; R7 = R8 = OCH3; R5' = H; R3 = OGlc Bennini et al., 1995 E. cinérea Gossipetina-7,8-di-metoxi-4'-glucósido R3 = R3' = OH; R7 = R8 = OCH3; R5' = H; R4' = OGlc Bennini et al., 1995 E. andevalensis Miricetina-3-O-D -galactósido R7 = R3' = R4' = R5' = OH; R8 = H; R3 = OGal11 Reyes et al., 1996 E. verticillata ,3',4',5,5',7-Penta- hidroxi-8-metoxiflavona-3-O-α-L -ramnósido R7 = R3' = R4' = R5' = OH; R8 = OCH3; R3 = ORha12 Gournelis, 1995 E. verticillata 3´,4´,5,7-Tetra-hidroxi- 5',8-di-metoxiflavona-3-R7 = R3' = R4' = OH; R8 = R5' = Gournelis, 1995 10 Glc = Glucose 11 Gal = Galactose 12 Rha = Ramnose

(26)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

O-α-L-ramnósido OCH3; R3 = ORha E. verticillata 4´,5,7-Tri-hidroxi-3´,5 ´,8-metoxiflavona-3-O-α-L-ramnósido R7 = R4' = OH; R8 = R3' = R5' = OCH3; R3 = ORha Gournelis, 1995 E. arborea Isoramnetina-3-O-α-L -ramnósido R7 = R4' = OH; R3' = OCH3; R8 = R5' = H; R3 = ORha Nazemiyeh et al., 2008a

E. arborea Quercitrina

(Quercetina-3-O-α-L-ramnósido) R7 = R3' = R4' = OH; R8 = R5' = H; R3 = ORha Nazemiyeh et al., 2008b; Ay et al., 2007

E. cinerea Rutina

(Quercetina-3-rutinósido13) OH; RR7 = R3' = R4' = 8 = R5' = H; R3 = ORhaGlc Bennini et al., 1994 E. cinerea Isoramnetina-3-rutinósido R7 = R4' = OH; R3' = OCH3; R8 = R5' = H; R3 = ORhaGlc Bennini et al., 1994 E. cinerea Miricetina-3-rutinósido R7 = R3' = R4' = R5' = OH; R8 = H; R3 = ORhaGlc Bennini et al., 1994 E. cinerea Gossipetina-3-rutinósido R8 = R7 = R3' = R4' = OH; R5' = H; R3 = ORhaGlc Bennini et al., 1994

(27)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

E. cinerea Quercetina-3-β-D -(6-p- hidroxibenzoil)-galactósido R7 = R3' = R4' = OH; R5' = H; R3 = OR Chulia et al., 1995

Di-hidroflavonóis E. cinerea (2R,3R)-7,8-di-metoxi-

di-hidrogossipetina

R8 = OCH3; R3' = OH Bennini et al.,

1993

E. cinerea

(2R,3R)-7-metoxi-di-hidrocanferol R8 = R3' = H Bennini et al., 1993

Di-hidroflavonóis glicosilados E. cinerea (2R,3R)-Di-hidroquercetina-3'-O-β -D-glucósido R3 = R5 = R7 = OH; R8 = R5' = H; R3' = OGlc Bennini et al., 1993 E. cinerea (2R,3R)-7-metoxi-di- hidroquercetina-5-O-glucósido R3 = R3' = OH; R7 = OCH3; R8 = R5' = H; R5 = OGlc Bennini et al., 1993 E. cinerea (2R,3R)-Di-hidromiricetina-3'-O-β -D-glucósido R3 = R5 = R7 = R5' = OH; R8 = H; R3' = OGlc Bennini et al., 1993 E. cinerea Calunina R3 = R5 = R7 = OH; R3' = R5' = H; R8 = OGlc Bennini et al., 1993

(28)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

Flavonas E. cinerea Apigenina Bennini et al.,

1992

Flavonas

glicosiladas E. cinereaE. arborea Apigenina-7-O-glucósido β-D

-R7 = OGlc; R3' = R5' = H; R4' = OH Nazemiyeh et al., 2008b; Bennini et al., 1992 E. arborea Apigenina-7-O-β-D -(6-O-acetil-glucósido) R7 = OR; R3' = R5' = H; R4' = OH Nazemiyeh et al., 2008b E. arborea Tricetina-4'-O-α-L -ramnósido R7 = R3' = R5' = OH; R4' = ORha Nazemiyeh et al., 2008ª

(29)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

Catequinas E. arborea (-)-Epicatequina Ay et al., 2007

Antocianinas E. cinerea

Erica sp. Cianidina-3-glucósido RR3' = R5' = H; R4' = OH; 3 =

OGlc Bennini et al., 1992; Crowden e Jarman, 1976 Erica sp. Delfinidina-3-glucósido R3' = R4' = R5' = OH; R3 = OGlc Crowden e Jarman, 1976 E. cinerea

Erica sp. Malvidina-3-glucósido RR5'4' = OCH = OH; R3; R3' = 3 =

OGlc

Bennini et al., 1992; Crowden e

Jarman, 1976

Erica sp. Peonidina-3-glucósido R3' = OCH3; R4' =

OH; R5' = H; R3 = OGlc Crowden e Jarman, 1976 Erica sp. Pelargonidina-3-glucósido RR4' = OH; R5' = H; R33' = = OGlc Crowden e Jarman, 1976 E. cinerea Erica sp. Cianidina-3-galactósido R3' = R4' = OH; R5' = H; R3 = OGal Bennini et al., 1992; Crowden e Jarman, 1976 Erica sp. Delfinidina-3-galactósido R3' = R4' = R5' = OH; R3 = OGal Crowden e Jarman, 1976

(30)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

E. cinerea Erica sp. Malvidina-3-galactósido R4' = OH; R3' = R5' = OCH3; R3 = OGal Bennini et al., 1992; Crowden e Jarman, 1976

Erica sp. Peonidina-3-galactósido R3' = OCH3; R4' =

OH; R5' = H; R3 = OGal Crowden e Jarman, 1976 Erica sp. Pelargonidina-3-galactósido RR4' = OH; R5' = H; R33' = = OGal Crowden e Jarman, 1976 E. cinerea Erica sp. Cianidina-3-arabinósido R3' = R4' = OH; R5' = H; R3 = OAra14 Bennini et al., 1992; Crowden e Jarman, 1976 Erica sp.

Delfinidina-3-arabinósido OH; RR3' = R34' = OAra = R5' =

Crowden e Jarman, 1976

Erica sp. Malvidina-3-arabinósido R4' = OH; R3' =

R5' = OCH3; R3 =

OAra

Crowden e Jarman, 1976

Erica sp. Peonidina-3-arabinósido R3' = OCH3; R4' =

OH; R5' = H; R3 = OAra Crowden e Jarman, 1976 Erica sp. Pelargonidina-3-arabinósido R4' = OH; R3' = R5' = H; R3 = OAra Crowden e Jarman, 1976 Ácidos fenólicos

(31)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

E. scoparia Ácido 2-hidroxifenilacético Ballester et al., 1975 Ácidos hidroxibenzóicos E. cinerea E. australis Ácido p-hidroxibenzóico

R4 = OH; R2 = R3 = R4 = H Bennini et al.,

1992; Sainz et al., 1987; Carballeira, 1980 E. cinerea E. australis E. andevalensis

Ácido vanílico R3 = OCH3; R4 = OH; R2 = R5 = H Bennini et al.,

1992; Sainz et al., 1987; Carballeira, 1980 E. cinerea E. australis E. andevalensis

Ácido siríngico R3 = R5 = OCH3; R4 = OH; R2 = H Bennini et al.,

1992; Sainz et al., 1987; Carballeira, 1980 E. cinerea E. australis E. andevalensis

Ácido protocatechuico R3 = R4 = OH; R2 = R5 = H Bennini et al.,

1992; Sainz et

al., 1987;

Carballeira, 1980

(32)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

E. cinerea E. australis E. andevalensis

Ácido gentísico R2 = R5 = OH; R3 = R4 = H Bennini et al.,

1992; Sainz et

al., 1987;

Carballeira, 1980

Ácidos

hidroxicinâmicos E. cinereaE. andevalensis Ácido p-cumárico R4 = OH; R3 = R5 = H 1992; Sainz et Bennini et al.,

al., 1987 E. cinerea

E. australis E. arborea

Ácido cafeico R3 = R4 = OH; R5 = H Demirkiran et

al., 2010;

Bennini et al., 1992; Carballeira,

1980

E. australis Ácido ferúlico R4 = OH; R5 = OCH3; R3 = H Carballeira,

1980

E. australis Ácido sinápico R3 = R5 = OCH3; R4 = OH Carballeira,

1980

Fenóis E. cinerea

E. australis

Orcinol Bennini et al.,

1992; Carballeira,

(33)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

E. scoparia 2,4-Hidroxifenilacetonitrilo Ballester et al., 1975 Fenóis glicosilados E. arborea Acetal β-D -glucopiranosílico e 3,4,5-trimetoxifenilico de 1-hidroxiacetaldeído Demirkiran et al., 2010

E. arborea Ericarbósido Demirkiran et

(34)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

E. arborea Ericarborina Nazemiyeh et

al., 2008b

E. arborea Ficuscarpanósido B Demirkiran et

al., 2010

E. arborea Hidrangeifolina n = 1 Demirkiran et

al., 2010

E. arborea Fenetilrutinose n = 2 Demirkiran et

al., 2010

(35)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

Diarilnonanóides E. cinerea Ericanona Bennini et al.,

2011

E. cinerea

(3S)-3,7-Anidro-6,7-desidroericanona Bennini et al., 2011

Diarilnonanóides glicosilados E. cinerea Ericanona-3-β-D -glucósido Bennini et al., 2011

(36)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

E. cinerea (3S)-3,7-Anidro-6,7- desidroericanona-4'-O-β-D-glucósido Bennini et al., 2011 Cumarinas E. cinerea E. australis

Escopoletina R6 = OCH3; R7 = OH; R8 = H Bennini et al.,

1992; Carballeira,

1980

E. cinerea Erica sp.

Isofraxidina R6 = R8 = OCH3; R7 = OH Bennini et al.,

1992; Mendez, 1978

E. australis Esculetina R6 = R7 = OH; R8 = H Carballeira,

(37)

Classe do

composto Espécie Composto Estrutura Referência

Triterpenóides E. andevalensis α-Amirina Martin-Cordero

et al., 2001;

Gonzalez et al., 1991

E. andevalensis Ácido ursólico Martin-Cordero

(38)

1.4.4. Atividade Farmacológica

Diversas atividades farmacológicas e biológicas têm sido relatadas para as espécies do género Erica, tais como: anti-ulcerosa, antimicrobiana e citotóxica (Akkol et al., 2008; Reyes et al., 1996; Gonzalez et al., 1991). O extrato etéreo das partes aéreas floridas de Erica andevalensis mostrou um efeito gastroprotetor em úlceras gástricas induzidas em ratos (Ruiz et al., 1996), enquanto que o composto ácido ursólico, isolado do extrato metanólico das partes aéreas da mesma planta, mostrou possuir atividade citotóxica (Martin-Cordero et al., 2001). Diferentes extratos das folhas e flores de Erica arborea, assim como compostos fenólicos isolados do extrato metanólico das folhas, mostraram efeitos antioxidantes consideráveis, sendo o extrato de acetato de etilo e o glucósido fenilpropanóide, ericarborina, aqueles que apresentaram maior atividade antioxidante (Nazemiyeh et al., 2008b; Ay et al., 2007).

O extrato metanólico (10 mg/kg, i.p.15) e a fração metanol/água a 20% (5 mg/kg, i.p.) de

Erica arborea administrados em ratos mostraram bons efeitos analgésicos no teste da formalina

(Mohajjel et al., 2008). Com base nos resultados do estudo, o extrato e seus componentes poderão ter um bom efeito no alívio da dor. Quanto à atividade anti-inflamatória e antinociceptiva, dados experimentais demonstraram que o extrato de acetato de etilo das partes aéreas de Erica arborea,

Erica bocquetii e Erica manipuliflora exibiam atividade anti-inflamatória e antinociceptiva

marcante (Akkol et al., 2008).

O extrato aquoso das flores de Erica multiflora reduz o teor de lípidos plasmáticos (Harnafi

et al., 2007), e induz um efeito significativo sobre a produção urinária de água e eletrólitos, quando

administrada na dose de 0.250 g/kg (Sadki et al., 2010), validando aparentemente o seu uso popular para o tratamento da hiperlipidemia e atividade diurética. A atividade hipolipidémica desta planta pode ser atribuída à presença de compostos polifenólicos valiosos (Harnafi et al., 2007). No entanto, uma avaliação mais aprofundada para elucidar os mecanismos de ação hipolipidémica, assim como a identificação dos compostos bioativos, é necessária. O extrato desta planta estimula ainda o ciclo do crescimento do cabelo de forma indireta, por estimulação inicial do crescimento das células da papila dérmica e, em seguida, transferindo sinais para os componentes da derme da pele (Kawano et al., 2009).

Não foram encontradas referências à atividade farmacológica de extratos ou compostos isolados a partir de Erica australis, pelo que esta é uma área de investigação que permanece em aberto e sobre a qual iremos debruçar-nos futuramente. No presente trabalho apenas será abordado o estudo fitoquímico desta planta relativamente à composição dos seus óleos essenciais obtidos por

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hidrodestilação e à composição fenólica do decocto resultante deste processo de extração.

1.5. Estudo Fitoquímico Preliminar de Iris germanica L.

1.5.1. Caracterização Botânica

O género Iris pertence à família Iridaceae e compreende mais de 300 espécies (Rahman et

al., 2003a). As várias espécies do género adaptam-se às condições mais diversas de maneira

surpreendente: desertos, prados pantanosos, áreas montanhosas ou costas temperadas (Marner, 1997). A planta objeto do presente estudo, Iris germanica L. (Figura 2), é uma planta rizomatoza, de rizoma tuberoso, mais ou menos ramosa, verde, com os ramos inferiores compridos; folhas ensiformes, unifaciais; flores regulares, duas ou quatro, subsésseis, e envolvidas de duas ou mais brácteas espatáceas, subovadas, relativamente curtas (3.5 a 4 cm), intumescidas, obtusas, largamente escariosas; perianto violáceo, constituído por três tépalas externas maiores, de limbo retrofletido, oblongo-espatulado com a face interior da unha densamente barbuda na linha média e três internas erectas, oblongo-arredondadas, todas unidas na base em tubo comprido; estames três, com as anteras extrorsas; estilete com três ramos petalóides, ovados, bifendidos, com os dois segmentos divergentes e cobrindo os estames; ovário ínfero, com placentação axilar; cápsula trilocular, trivalve, loculicida (Vasconcellos, 1949; Coutinho, 1913).

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A Iris germanica L., encontra-se distribuída pela Região Mediterrânea. Em Portugal é possível encontrá-la de Trás-os-Montes ao Alentejo, em sebes, lugares húmidos e pedregosos, espontânea e também cultivada (Coutinho, 1913; Vasconcellos, 1949).

1.5.2. Usos Etnomédicos

As plantas da família Iridaceae têm sido utilizadas para tratar constipações, gripes, malária, dor de dentes e hematomas (Lin et al., 2002). As espécies do género Iris têm sido reconhecidas como uma fonte de metabolitos secundários e têm tido uma grande importância na medicina tradicional, sendo usadas para diversas aplicações tópicas e orais (Schütz et al., 2011). São usadas no tratamento do cancro, inflamações e infeções bacterianas e virais (Rahman et al., 2003a; Rahman et al., 2003b). Os compostos isolados destas espécies e as próprias espécies foram referidas como tendo várias atividades farmacológicas e biológicas como: antioxidante, antineoplásica, anti-tumoral, anti-ulcerosa, anti-tuberculosa, anti-bacteriana, anti-inflamatória e piscicida (Teh et al., 2005; Choudhary et al., 2005; Rahman et al., 2003a; Rahman et al., 2002).

Rizomas descascados e secos de Iris germanica L., Iris florentina L. ou Iris pallida Lam., coletivamente conhecidas como Rizoma iridis, desfrutam de popularidade devido às suas propriedades eméticas, catárticas, diuréticas, estimulantes, expetorantes e errinas (Wollenweber et

al., 2003).

O rizoma de Iris pseudacorus é usado como tónico, como um forte purgante e emético (Marner, 1997). Em alguns lugares, as crianças recebiam Rizoma iridis (Iris germanica ou Iris

florentina) como chupeta durante a dentição (Wollenweber et al., 2003; Marner, 1997). Ainda no

final do século passado, extratos do rizoma de Iris pseudacorus Linn. eram prescritos na medicina homeopática como um remédio calmante para as diferentes formas de doenças psíquicas, enxaqueca, nevralgia do trigémeo e hiperacidez do estômago (Marner, 1997).

Para além das utilizações mencionadas acima, os rizomas de certas espécies de Iris são muito importantes como material de base de aromas naturais bastante valiosos para a perfumaria (Marner, 1997). O óleo essencial extraído de espécies da família Iridaceae tem sido usado desde tempos imemoriais. Por este motivo, a planta e a preparação do fármaco estão relacionadas com mitos e lendas. Já na Antiguidade a produção de um óleo de Rizoma iridis foi descrito, muito estimado pelo seu agradável aroma a violeta, o qual foi comparado ao ouro. Em Itália e Marrocos, o cultivo comercial das espécies Iris pallida e Iris germanica para a extração do óleo da raíz do lírio

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Na medicina popular, diferentes partes da planta de Iris germanica são utilizadas para curar diversas doenças. O sumo do rizoma é aplicado a feridas e para a remoção de sardas na pele (Asghar et al., 2009; Rahman et al., 2003a; Rahman et al., 2003b). As raízes são usadas em edemas, como diurético, laxante e como catártico (Rahman et al., 2003b). A decocção das raízes é utilizada na hidropisia, como anti-espasmódico, emenagogo, estimulante, diurético, laxativo, para a febre, aumento do fígado e em doenças da vesícula biliar. Também é valiosa para a doença catarral das crianças, como um ingrediente para purificar o sangue e como remédio para doenças venéreas (Asghar et al., 2009; Rahman et al., 2003a). Historicamente, a planta foi usada para tratar constipações, dermatites e doenças de pele (Teh et al., 2005).

1.5.3. Caracterização Fitoquímica

Em 1946, Naves e Ruzicka, de forma independente, identificaram os três isómeros α-, β-, e

γ-irona (Figura 3) como sendo os responsáveis pela fragrância a violeta do óleo de Iris (Marner, 1997).

Figura 3. As três formas isoméricas α-, β- e γ-irona (1, 2 e 3 respetivamente) responsáveis pela fragrância semelhante a violeta do óleo Iris.

As ironas são os principais princípios aromáticos extraídos dos rizomas das espécies da Iris (principalmente Iris pallida e Iris germanica). Foram descobertos há mais de um século e utilizados por perfumistas (Bonfils et al., 1994; Jehan et al., 1994). As ironas naturais são formadas pela lenta oxidação de triterpenos C-31 produzidos nos rizomas de Iris, chamados iridais (Bonfils et al., 1994). As ironas, que são estruturalmente semelhantes às iononas presentes nas violetas, são

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amplamente utilizadas na indústria dos perfumes devido ao seu aroma em pó ser semelhante ao da violeta. Marcas como Dior, Serge Lutens e Guerlain são exemplos da utilização dos extratos de Iris em alguns dos seus perfumes (Roger et al., 2010). Entre mais de 200 espécies do género Iris, apenas Iris pallida e Iris germanica são atualmente utilizadas para produzir ironas naturais (Roger

et al., 2010). Estes compostos são formados por degradação oxidativa gradual dos iridais durante o

envelhecimento do rizoma (Roger et al., 2010). A hidrodestilação específica de rizomas secos e triturados de Iris conduz a um óleo essencial chamado manteiga Iris. Este óleo essencial contém quase exclusivamente ironas e ácidos gordos sem cheiro e o seu valor comercial é determinado pela sua concentração em ironas. É geralmente aceite que a oxidação natural dos iridais dos rizomas leva a um conteúdo máximo de ironas depois de dois ou três anos de armazenamento (Roger et al., 2010). No entanto, o tempo de armazenamento não é o único parâmetro que afeta o conteúdo de ironas nos rizomas: a variedade de Iris, período de colheita e o tempo no subsolo podem afetar o seu conteúdo (Roger et al., 2010). Várias tentativas tecnológicas têm sido feitas para acelerar a transformação dos iridais e aumentar o rendimento das ironas (United States Patent US6224874B1) (Roger et al., 2010).

Os iridais podem ser divididos em três classes: monocíclicos, bicíclicos e espiroiridais (Leconte et al., 1997; Bonfils e Sauvaire, 1996a). A sua estrutura química básica está representada na Figura 4. Elevadas concentrações de iridais são encontradas dentro dos rizomas (cerca de 3% do peso seco) (Leconte et al., 1997), podendo ainda encontrar-se nas raízes e folhas das espécies de

Iris, mas não nas sementes (Bonfils e Sauvaire, 1996a).

Figura 4. Estrutura do iridal (21-desoxi-iridogermanal)16.

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iridais são as formas principais nas raízes e folhas (Bonfils e Sauvaire, 1996a).

Os iridais monocíclicos são a principal forma de iridais nos rizomas jovens. A diminuição destes compostos dá origem a um aumento dos cicloiridais que representam cerca de 80% dos iridais nos rizomas com 2 anos de idade. Os espiroiridais permanecem sempre num nível baixo nos rizomas de Iris germanica (Bonfils e Sauvaire, 1996a).

Bonfils et al., (1996b), destacaram o papel estrutural e funcional dos iridais nas membranas celulares, comparável ao do colesterol. Dois cicloiridais (iripalidal e iriflorental) são constituintes da membrana em espécies de Iris e influenciam as propriedades da bicamada fosfolipídica da mesma maneira mas em menor intensidade do que o colesterol (Leconte et al., 1997). Estes devem desempenhar um papel funcional comparável ao dos fitoesteróis em plantas ou ao colesterol nas membranas celulares dos mamíferos (Bonfils et al., 1996b).

Num estudo efetuado sobre o efeito protetor dos cicloiridais na membrana celular in vivo (Leconte et al., 1997), os cicloiridais parecem ser capazes de estabilizar a membrana, aparentemente devido à sua incapacidade de se ligar a saponinas. Assim, estes estudos tornam bastante provável que os iridais sejam usados pelas espécies Iridaceae como constituintes da membrana e protejam o tecido contra o dano oxidativo e outras influências nocivas. Os ésteres de iridais, podem ser usados pela planta como um conjunto de compostos valiosos que são libertados por hidrólise enzimática, sempre que seja necessário (Leconte et al., 1997). As suas estruturas invulgares e a sua reatividade química indicam, contudo, que servem as células para fins específicos. A elucidação final dos caminhos que levam à formação dos diferentes iridais, cicloiridais e espiroiridais, é sem dúvida, um desafio.

Os compostos irisolidona e irigenina foram as principais isoflavonas (aglíconas) do extrato de diclorometano, enquanto iridina e germanaismo B foram os glicósidos predominantes no extrato metanólico (Schütz et al., 2011).

Rizomas jovens de Iris germanica contêm um elevado nível de iridais 16,17-di-desidro-26-hidroxi-iridal e 16,17-di-desidroiridal (Bonfils e Sauvaire, 1996a). O seu nível diminui com o desenvolvimento do rizoma e os iridais iriflorental e iripalidal tornam-se predominantes. O iridal espiroiridal alcança o seu máximo nesta fase. Nos rizomas com um e dois anos, os iridais iriflorental e iripalidal são sempre os compostos principais (Bonfils e Sauvaire, 1996a).

Uma revisão bibliográfica dos constituintes identificados em rizoma de Iris germanica L., encontra-se resumida na Tabela 2.

Imagem

Figura 1. Diversas tonalidades de Erica australis (Várzea da Serra).
Tabela 1. Constituintes identificados em espécies de Erica (revisão bibliográfica).
Figura 2. A planta Iris germanica recolhida na aldeia da Gralheira.
Figura 3. As três formas isoméricas α-, β- e γ-irona (1, 2 e 3 respetivamente) responsáveis  pela fragrância semelhante a violeta do óleo Iris.
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