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A SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS: LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA LEI DA FICHA LIMPA

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E

LEI DA FICHA LIMPA

Gina Copola1

Tema que tem atormentado os políticos brasileiros neste ano de eleições municipais é o relativo à perda dos direitos políticos em decorrência de ações de improbidade administrativa julgadas por Órgão Judicial Colegiado, mesmo sem o seu devido trânsito em julgado.

Cabe-nos, diante disso, elaborar algumas considerações a respeito do tema na tentativa de melhor elucidar a aplicação das duas famosas leis que envolvem o tema – Lei federal nº 8.429/92 (LIA) e Lei Complementar federal nº 135/10 (A Lei da Ficha Limpa) –, de modo a conciliar as disposições de ambas.

1 Advogada militante em Direito Administrativo. Pós-graduada em Direito Administrativo pela UNIFMU. Autora dos livros Elementos de Direito Ambiental, Rio de Janeiro: Temas e Idéias, 2.003; Desestatização e terceirização, São Paulo: NDJ – Nova Dimensão Jurídica, 2.006; A lei dos crimes ambientais comentada artigo por artigo, Minas Gerais: Editora Fórum, 2.008, e 2ª edição em 2.012, e A improbidade administrativa no Direito Brasileiro, Minas Gerais: Editora Fórum, 2.011, e, ainda, autora de diversos artigos sobre temas de direito administrativo e ambiental, todos publicados em periódicos especializados.

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1. Direito político e sua suspensão

Reza o art. 14, da Constituição Federal, que:

“Art. 14 - A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular”. (Grifamos)

O sufrágio é o direito fundamental de votar e ser votado, sendo que o direito de ser votado é a elegibilidade.

E, dispõe, a se turno, o art. 15, da Magna Carta:

“Art. 15 - É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

II - incapacidade civil absoluta;

III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do Art. 5º, VIII;

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V - improbidade administrativa, nos termos do Art. 37, § 4º.” (Grifamos)

E, reza, ainda, o indigitado art. 37, § 4º, da CF/88: “Art. 37 (...)

4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”

Tem-se, portanto, em sintético resumo, que o direito à elegibilidade é direito constitucional que somente pode ser perdido ou suspenso nas cinco hipóteses numerus clausus arroladas pelo art. 15, da Lei Maior, e uma delas é a improbidade administrativa.

A improbidade administrativa é ato eivado de dolo, má-fé, e que causa prejuízo ao erário público. E, ainda, conforme já disséramos2:

“É forçoso concluir, e ante todo o exposto, que a LIA não conceituou o ato de improbidade administrativa, porém é imperioso que se delimite tal conceito, para o fim de que se evite excessos, e, nesse sentido, a doutrina e a jurisprudência pátria atribuíram alguns requisitos essenciais ao ato de improbidade administrativa - a necessária existência do dolo, o dano ao erário, e a afronta a princípios da Administração

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-, e, assim, a ilação necessária é a de que sem a existência de tais relevantes requisitos, não há que se cogitar em ato de improbidade administrativa.

Finalizando, portanto, e de forma sucinta, temos que o ato de improbidade administrativa é aquele praticado pelos agentes indicados pelo art. 2º, da LIA, ou por terceiro que dele se beneficie, sempre praticado de forma dolosa, e com prejuízo ao erário e aos princípios que regem a Administração.

Com efeito, qualquer outro ato que não se enquadre nesse singelo conceito, não pode ser reputado como ato de improbidade administrativa nos moldes da Lei federal nº 8.429/92.”

2. O que diz a Lei federal nº 8.429/92.

Reza o caput, do art. 20, da LIA:

“Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.” (Grifamos)

Tem-se, portanto, que relevante disposição da LIA é a que exige o trânsito em julgado da sentença condenatória para a suspensão dos direitos políticos, a evidenciar a impossibilidade de execução provisória da

2 COPOLA, Gina, A improbidade administrativa no Direito Brasileiro, BH: Fórum, 2.011, p. 31/32, com grifos originais da obra.

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sentença quanto a essa referida pena, que é de extrema gravidade ao apenado, e, por isso, depende do trânsito em julgado para ser efetivamente aplicada na esfera judicial.

Entendemos, ainda, que todas as penas contidas na LIA – inclusive a de bloqueio ou seqüestro de bens – deveriam ser aplicadas somente após o trânsito em julgado da sentença, e após exaustivamente exercido o direito à ampla defesa e ao contraditório, em razão da relevância de tais penas, que conforme ensina o Ministro do e. Supremo Tribunal Federal, ENRIQUE RICARDO LEWANDOWSKI3, podem representar verdadeira

morte civil do acusado.

Com efeito, a pena de suspensão de direitos políticos não pode ser concedida em sede de medida liminar ou de tutela antecipada, mas, repita-se, tão somente após o trânsito em julgado da sentença condenatória.

3. O que diz a Lei da Ficha Limpa.

Em 4 de junho de 2.010, foi editada a tão decantada Lei Ficha Limpa, que é a Lei Complementar Federal nº 135/10, e que prevê os “casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato”, conforme consta do preâmbulo da Lei.

3LEWANDOWSKI, Enirque Ricardo, Improbidade Administrativa – questões polêmicas e atuais, São Paulo:

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A lei, portanto, visa proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato político, e afastar do cenário político aqueles que tem a Ficha Suja, ou seja, são indesejáveis à política.

A lei é necessária e tem a nobre tentativa de moralizar a política brasileira, já tão desacreditada, e desmoralizada, sendo que alguns políticos têm a ficha tão suja, que, no dizer do colunista de humor José Simão, podem ser chamadas de “Ficha Pau de Galinheiro”.

O ato de improbidade administrativa é aquele praticado pelos agentes indicados pelo art. 2º, da Lei federal nº 8.429/92, ou por terceiro que dele se beneficie, sempre praticado de forma dolosa, e com prejuízo ao erário e aos princípios que regem a Administração.

O princípio da moralidade, por sua vez, é aquele segundo o qual todos os agentes devem agir, atuar e pautar-se dentro da lealdade e da boa-fé, da ética, dos bons costumes e, assim, dentro da moral administrativa, que constitui requisito de validade para todo ato emanado pela Administração Pública.

A Lei Ficha Limpa altera a LC nº 64/90, que, a seu turno, estabelece, de acordo com o § 9º, do art. 14, da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências.

Dentre as relevantes disposições ditadas pela LC nº 135/10, destacam-se as que alteram o art. 1º, g, e l, da LC nº 64/90, que rezam sobre improbidade administrativa.

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O art. 1º, l, da LC nº 64/90, passa a ter a seguinte redação, ditada pela Lei Ficha Limpa:

“Art. 1º - São inelegíveis: (....)

l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena;” (Grifamos)

Observa-se que a lei exige para que o candidato seja declarado inelegível, a existência de decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, não bastando, portanto, a decisão de primeira instância sobre qual pende a apreciação de recurso.

A constitucionalidade da lei é discutida entre os aplicadores do direito, uma vez que ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença condenatória, e a Lei Ficha Limpa, porém, em patente inconstitucionalidade, considera inelegível até mesmo aquele que tem contra si decisão de órgão judicial colegiado, mas que ainda não transitou em julgado.

É de império destacar que os políticos condenados antes da sanção da lei também podem ser por ela atingidos, conforme entendimento já proferido pelo e. Tribunal Superior Eleitoral, no procedimento CTA nº 114709- DF- Consulta com nº único 114709.2010.600.0000, protocolo 124232010, formulada

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pelo Deputado Federal Ilderlei Cordeiro, tendo como relator o Ministro Arnaldo Versiani Leite Soares, e respondida em 18/06/2010.

O texto da lei reza que são inelegíveis os condenados por decisão transitada em julgado ou emitida por órgão judicial colegiado por ato de improbidade administrativa que importe em lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, o que enseja celeuma, uma vez que a Lei federal nº 8.429/92 divide os atos de improbidade administrativa em três categorias: a) os que causam enriquecimento ilícito, b) os que causam lesão ao patrimônio público, e c) os que afrontam os princípios da Administração; portanto, a rigor, os atos de improbidade que afrontam os princípios da Administração estão excluídos da aplicação da LC nº 135/10, e tal argumento deve ser levantado em ações a serem movidas por candidatos que pretendam concorrer às eleições, mesmo com condenação transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, decorrente de ato de improbidade administrativa.

4. Como fica o caso concreto.

Observa-se patente antinomia entre os textos da LIA e da Lei da Ficha Limpa, uma vez que a primeira dispõe de forma cristalina em seu art. 20 que “A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.”

A Lei da Ficha Limpa, a seu turno, determina que são inelegíveis “os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa”, ou

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seja, a Lei da Ficha Limpa dispensa a necessidade do trânsito em julgado para a efetivação da pena de suspensão dos direitos políticos.

Tal antinomia tem sido questionada pelos aplicadores do Direito que passaram a buscar uma solução prática ao caso concreto.

É perfeitamente admissível a propositura de Medida Cautelar Inominada dirigida ao egrégio Tribunal ao qual couber a apreciação do recurso contra decisão colegiada para requerer a suspensão da inelegibilidade baseada na Lei da Ficha Limpa, conforme reza de forma cristalina o art. 26-C, introduzido à LC 64/90 pela LC nº 135/10 – que é a Lei da Ficha Limpa.

Vejamos o que reza o dispositivo legal:

“Art. 26-C - O órgão colegiado do tribunal ao qual couber a apreciação do recurso contra as decisões colegiadas a que se referem as alíneas d, e, h, j, l e n do inciso I do art. 1o poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade sempre que existir plausibilidade da pretensão recursal e desde que a providência tenha sido expressamente requerida, sob pena de preclusão, por ocasião da interposição do recurso.”

E com fulcro nesse referido dispositivo legal, o egrégio Superior Tribunal de Justiça tem concedido medidas cautelares com o fim de conceder efeito suspensivo a recurso especial interposto.

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Cite-se, nesse diapasão, o Agravo Regimental na Medica Cautelar nº 17133/MG, rel. Ministro LUIZ FUX, em 1ª Turma, julgado em 14/12/2010, e publicado in DJe de 02/02/2011, com a seguinte ementa:

“PROCESSUAL CIVIL E

ADMINISTRATIVO. MEDIDA CAUTELAR PARA

CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIAL. LEI DA FICHA LIMPA. ART. 26-C, DA LC N.º 64/1990, ALTERADA PELA LC N.º 135/2010. REQUISITOS. ADITAMENTO DO APELO EXTREMO QUANDO INTERPOSTO EM DATA ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LC N.º 135/2010 (ART. 3º). PLAUSIBILIDADE DO

DIREITO ALEGADO. ATO DE IMPROBIDADE.

GRADAÇÃO DA PENA. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 1. A concessão de efeito suspensivo a recurso interposto contra decisão colegiada que importe na decretação de inelegibilidade para qualquer cargo público (art. 1º, inciso I, da LC n.º 64/90, alterado pela LC n.º 135/2010), nos termos do art. 26-C, da LC n.º 64/90, incluído pela LC n.º 135/2010, pressupõe o atendimento dos seguintes requisitos: a) que a aplicabilidade de referido preceito legal tenha sido suscitada no recurso especial o qual, se protocolado em data anterior à referida modificação legislativa, deverá ser aditado (art. 3º, da LC n.º 135/2010), sob pena de preclusão; b) que a inelegibilidade encontre-se prevista nas alíneas "d", "e", "h", "j", "l" ou "n", do inciso I, do art. 1º, da LC n.º 64/90, alterado pela

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LC n.º 135/2010; e c) que reste demonstrada a plausibilidade da pretensão recursal a que se refira a suspensividade. 2. Isto porque, a suspensão dos efeitos da decisão colegiada que decreta a perda dos direitos políticos, por ato de improbidade, encontra previsão no art. 26-C da LC n.º 64/90, incluído pela LC n.º 135/2010, verbis: O órgão colegiado do tribunal ao qual couber a apreciação do recurso contra as decisões colegiadas a que se referem as alíneas d, e, h, j, l e n do inciso I do art. 1o poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade sempre que existir plausibilidade da pretensão recursal e desde que a providência tenha sido expressamente requerida, sob pena de preclusão, por ocasião da interposição do recurso. (....) 4. In casu, ressoa evidente a plausibilidade do direito alegado no apelo extremo uma vez que o requerente foi condenado por ato de improbidade, tão-somente, por violação a Princípios da Administração Pública, ao utilizar verbas do FUNDEF para fins de pagamento de verbas salariais devidas pela Municipalidade aos seus servidores, revelando-se, numa análise preliminar, em sede de juízo acautelatório, desarrazoadas as penas que lhe foram imputadas. 5. Deveras, o Tribunal concluiu ter havido irregularidade, por isso que a Corte, nessas hipóteses, de inépcia do administrador não vislumbra ato de improbidade tout court ( Precedentes: Resp 734.984/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJe 16/06/2008; REsp

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917.437/MG, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/09/2008, Dje 01/10/2008; REsp 892.818/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/11/2008, DJe 10/02/2010) 6. Agravo regimental desprovido.”

Em outra oportunidade, o e. STJ julgou a MC nº 17280/RO, rel. Ministro CASTRO MEIRA, 2º Turma, julgada em 21/09/2010, e publicado in DJe 24/09/2010, com a seguinte ementa:

“MEDIDA CAUTELAR. RECURSO ESPECIAL. PLAUSIBILIDADE DO DIREITO ALEGADO. LEI DA FICHA LIMPA. URGÊNCIA. VIABILIDADE DO APELO. JUÍZO DE COGNIÇÃO SUMÁRIA. LIMINAR DEFERIDA. 1. Busca o requerente resguardar a efetividade do julgamento a ser proferido no recurso especial interposto contra aresto do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, proferido nos autos de ação civil pública por improbidade administrativa, ajuizada pelo Ministério Público Estadual, com fundamento nos artigos 9º, 10, 11, 12 e 17, da Lei 8.429/92, de forma a afastar o óbice indicado no art. 1º, I, "l", da LC 64/90, com a redação incluída pela LC 135/10, Lei da Ficha Limpa. 2. Em situações excepcionais, o Superior Tribunal de Justiça admite a concessão do provimento cautelar para assegurar a utilidade do julgamento do recurso especial regularmente interposto, desde que

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efetivamente demonstradas: (a) a plausibilidade do direito alegado; (b) a urgência da prestação jurisdicional; e (c) a viabilidade do apelo nesta Corte. 3. No caso, a regra do art. 26-C da Lei Complementar 64/90, incluído pela Lei Complementar 135/10, dispõe que "[o] órgão colegiado do tribunal ao qual couber a apreciação do recurso contra as decisões colegiadas a que se referem as alíneas d, e, h, j, l e n do inciso I do art. 1º poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade sempre que existir plausibilidade da pretensão recursal e desde que a providência tenha sido expressamente requerida, sob pena de preclusão, por ocasião da interposição do recurso". 4. Em juízo de cognição sumária, vislumbro atendidos os requisitos para o deferimento da medida, principalmente porque a controvérsia travada no especial, em sua grande extensão, limita-se a questões processuais que, se eventualmente acolhidas, podem resultar na alteração do julgado proferido pelo Tribunal a quo. Desse modo, afiguram-se, a princípio, plausíveis as alegações veiculadas no recurso especial. 5. A urgência da prestação jurisdicional fica demonstrada com a proximidade das eleições gerais de 2010, marcadas para o próximo dia 03 de outubro, posto que a demora no deferimento da medida inviabilizará qualquer pretensão eleitoral do requerente. 6. O contexto fático criado com a suspensão do aresto recorrido, o qual confirmou a sentença que condenou o requerente por ato de improbidade administrativa, é perfeitamente reversível, na hipótese de o especial não lograr

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êxito no âmbito desta Corte, consoante o disposto nos §§ 2º e 3º, do art. 26-C, da LC 64/90, incluído pela LC 135/10, in verbis: "§ 2º Mantida a condenação de que derivou a inelegibilidade ou revogada a suspensão liminar mencionada no caput, serão desconstituídos o registro ou o diploma eventualmente concedidos ao recorrente. § 3º A prática de atos manifestamente protelatórios por parte da defesa, ao longo da tramitação do recurso, acarretará a revogação do efeito suspensivo". 7. Medida liminar deferida.”

Cite-se, ainda, o r. acórdão proferido no MC 17112-SP, rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, 1ª Turma, julgado em 21/09/2010, e publicado in DJe de 28/09/2010, com a seguinte ementa:

“PROCESSUAL CIVIL E

ADMINISTRATIVO. MEDIDA CAUTELAR INCIDENTAL PARA EMPRESAR EFEITO SUSPENSIVO A AGRAVO DE INSTRUMENTO AINDA NÃO PROCESSADO NO STJ. MEDIDA LIMINAR DEFERIDA MONOCRATICAMENTE E LEVADA AO ÓRGÃO COLEGIADO PARA SER REFERENDADA. INTERPRETAÇÃO DO ART. 26-C DA LEI COMPLEMENTAR N. 135/2010 (COGNOMINADA "LEI DA FICHA LIMPA"). AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR

ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIOS ENTRE A

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AO ESPORTE, SEM A OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS INSTITUÍDOS PELA LEI MUNICIPAL N. 1.746/70. INSURGÊNCIA DO APELO EXTREMO CONTRA A SUBSUNÇÃO DOS FATOS À NORMA PREVISTA NO ARTIGO 10 DA LEI 8.429/92 SEM QUE TENHA OCORRIDO O EXAME DO ELEMENTO VOLITIVO POR PARTE DO AGENTE PÚBLICO.

QUESTÃO QUE, EM TESE, EVIDENCIA A

POSSIBILIDADE DE ÊXITO DO APELO NOBRE. PRAZO EXÍGUO PARA O TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL

DEFINITIVAMENTE APRECIAR O PEDIDO DE

REGISTRO DE CANDIDATURA E DAS RESPECTIVAS IMPUGNAÇÕES. PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA. 1. Trata-se de medida cautelar, com requerimento para concessão de ordem liminar inaldita altera pars, na qual se objetiva seja conferido efeito suspensivo a agravo de instrumento ainda não processado neste Superior Tribunal de Justiça, interposto contra decisão que inadmitiu, na origem, recurso especial voltado contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 2. Há plausibilidade nas alegações veiculadas no recurso especial no concernente à questão da imputação de conduta ímproba tipificada no artigo 10 da Lei 8.429/92, sem que tenha sido apurado o elemento volitivo do agente. 3. A jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido de que, para que se configure a conduta de improbidade

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administrativa, é necessária a perquirição do elemento volitivo do agente público e de terceiros (dolo ou culpa), não sendo suficiente, para tanto, a irregularidade ou a ilegalidade do ato. Isso porque “não se pode confundir ilegalidade com improbidade. A improbidade é ilegalidade tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo da conduta do agente." (REsp n. 827.445-SP, relator para acórdão Ministro Teori Zavascki, DJE 8/3/2010). 4. No âmbito de uma cognição sumária, o que se vê é que o acórdão de apelação, no tocante ao mérito, nada mais fez do que confirmar a sentença, que, por sua vez, com base exclusivamente na constatação da ilegalidade dos convênios celebrados, imputou aos réus a conduta prevista no artigo 10 da Lei 8.429/92, bem como determinou a aplicação das penas previstas no artigo 12 da mesma lei, sem aferir a culpa ou dolo dos agentes públicos, que são elementos subjetivos necessários à configuração da conduta de improbidade. 5. Ao que tudo indica, contentaram-se as instâncias de origem com uma mera ilegalidade administrativa para a referida condenação, não havendo individualização da conduta e tampouco descrição de atuação dolosa por parte do requerente, de modo que parece provável que o recurso especial do requerente tem chances de ser provido por este STJ quanto a esse ponto, dado que o elemento volitivo é imprescindível para que tenha sustentação qualquer condenação por improbidade. 6. O perigo na demora pode ser observado no exíguo prazo que separava a decisão monocrática

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do prazo final para o Tribunal Regional Eleitoral definitivamente julgar os pedidos de registro de candidatura e os respectivos pedidos de impugnação. 7. A edição da Lei Complementar n. 135/2010 – cognominada “Lei da Ficha Limpa” - impõe a discussão dos efeitos das decisões do STJ no exercício de sua jurisdição especial quando da apreciação de recursos (e de suas respectivas medidas cautelares) tendentes a questionar a legitimidade de condenações, sobretudo em razão das inovações normativas introduzidas pela aludida Lei – e os seus reflexos no tocante à inelegibilidade de candidatos condenados por ato de improbidade administrativa (art. 1º, inciso I, alínea l, da LC 64/1990). 8. A expressão contida no caput do art. 26-C, de que o tribunal, no caso o STJ, “poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade” deverá compreendida como a possibilidade de esta Corte, mediante concessão de efeito suspensivo ao recurso especial, ou por outro remédio processual semelhante, suspender os efeitos da condenação de improbidade administrativa, que, pela nova lei, também constitui causa de inelegibilidade. Precedentes: TSE, Consulta n. 1147-09.2010.6.00.0000, Classe 10, Brasília, Distrito Federal, Relator Ministro Arnaldo Versiani; e Supremo Tribunal Federal, Ag 709.634/DF, decisão do monocrática do Ministro Dias Toffoli, DJ de 2 agosto de 2010. 9. Dessa forma, ainda que o STJ venha a suspender os efeitos de eventual condenação de improbidade administrativa, não lhe caberá deliberar quanto à elegibilidade do candidato, pois

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envolve, naturalmente, outras questões estranhas às ordinariamente aqui decididas. Nessa esteira, cabe comentar, por oportuno, que, pela nova lei, não é qualquer condenação por improbidade que obstará a elegibilidade, mas, tão somente, aquela resultante de ato doloso de agente público que, cumulativamente, importe em comprovado dano (prejuízo) ao erário e correspondente enriquecimento ilícito. 10. A decisão tomada pelo STJ com base no art. 26-C da LC 64/2001 não implica comando judicial que vincule a Justiça Eleitoral ao deferimento do registro da candidatura (não há hierarquia jurisdicional ou funcional entre o TSE e o STJ), mas, sim, importante ato jurídico a respaldar o deferimento dessa pretensão junto à própria Justiça Eleitoral ou, em última análise, ao Supremo Tribunal Federal. 11. Submissão à Turma da liminar que deferiu o efeito suspensivo ao agravo de instrumento interposto pelo recorrente, nos termos do artigo 34, V, do RISTJ.”

É de império ressaltar que para a propositura de tal medida cautelar é imprescindível a demonstração do fumus boni juris e do periculum in mora, e também é necessário que tal providência tenha sido expressamente requerida, sob pena de preclusão, por ocasião da interposição do recurso, ou seja, quando da interposição do recurso especial, é necessário que se requeira na própria peça recursal o efeito suspensivo ao recurso, com a conseqüente suspensão da inelegibilidade, com fulcro no supratranscrito art. 26-C, da LC nº 64/90.

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