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Arquivos como esfera pública informacional na construção da cidadania: o caso da Comissão Nacional da Verdade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL– IACS DEPARTAMENTO DE CIENCIA DA INFORMAÇÃO – GCI CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUIVOLOGIA

CAMILA GOMES DOS SANTOS

ARQUIVOS COMO ESFERA PÚBLICA INFORMACIONAL NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA: O CASO DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. NITERÓI 2016

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CAMILA GOMES DOS SANTOS

ARQUIVOS COMO ESFERA PÚBLICA INFORMACIONAL NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA: O CASO DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE.

Trabalho de Conclusão de Curso I apresentado à Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção da graduação do grau de Bacharel em Arquivologia.

Orientadora: Prof ª. Ma. ALUF ALBA VILAR ELIAS

Niterói 2016

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CAMILA GOMES DOS SANTOS

ARQUIVOS COMO ESFERA PÚBLICA INFORMACIONAL: O CASO DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE.

Trabalho de Conclusão de Curso I apresentado à Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel da graduação em Arquivologia.

Aprovada em __ de __ de _____.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Prof. Dr. (Profª. Drª.) Nome completo (Orientador)(a) - UFF

_____________________________________________ Prof. Dr.. (Profª. Drª.) - Afiliação conforme modelo acima

_____________________________________________ Prof. Dr.. (Profª. Drª.) - Afiliação conforme modelo acima

Niterói 2016

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DEDICATÓRIA

Ao Curso de Arquivologia dа Universidade Federal Fluminense, е às pessoas cоm quem convivi ао longo desses anos. А experiência dе υmа produção compartilhada nа comunhão cоm amigos nesses espaços foi а melhor experiência dа minha formação acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço а Deus, pois sеm Ele еu nãо teria forças pаrа concluir essa longa jornada. À professora Aluf Alba por ter sido paciente e prestativa, me auxiliando e orientando durante todo o processo de elaboração do trabalho.

Aos meus pais Marli e Paulo, que com muito carinho е apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa da minha vida.

Finalmente a todos os professores, tanto da graduação quanto de toda minha vida acadêmica até o presente por terem transmitido nos conteúdos das disciplinas a matéria prima para a construção do meu conhecimento e conclusão da monografia.

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RESUMO

Analisa as funções do arquivo como esfera pública informacional, tendo como fundamento teórico a Teoria da Ação Comunicativa, de Jurgen Habermas. Destaca a importância do direito à informação e acesso às informações arquivísticas na construção da cidadania. Reflete sobre a função social dos arquivos para a cidadania e seu papel de mediador das informações públicas, garantindo a verdade histórica e transparência das ações do Estado, na consolidação da democracia. Enfatizando os arquivos públicos como fontes de informações e como elementos essenciais para garantir o acesso às informações públicas que auxiliam na ampliação da cidadania, pois os mesmos subsidiam os cidadãos para a participação no debate público sobre os temas de interesse da sociedade.

Este papel do arquivo é afirmado partir do estudo da documentação relativa às investigações da Comissão nacional da verdade e seu uso no esclarecimento de casos de violação dos direitos humanos no período de 18/11/1946 a 5/10/1988.

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ABSTRACT

Analyzes file functions of the archives as an informational public sphere, with the foundation on the Theory of Communicative Action of Jurgen Habermas. It highlights the importance of the right to information and access to archival information in the construction of citizenship. Reflects on the social function of archives for the citizens and their mediator role of public information, ensuring the historical truth and transparency of government actions, the consolidation of democracy. Emphasizing the public archives as sources of information and as essential to ensure access to public information that assist in the expansion of citizenship, as they subsidize citizens to participate in public debate on issues of interest to society.

This function of archive is stated from the study of the documentation relating to the investigations of the National Commission of Truth and its use in the clarification of cases of human rights violations during the period between 11/18/1946 and 10/5/1988.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 11

1.1 Problemas de pesquisa ou pergunta de partida... 11

1.2 Justificativa ... 12 1.3 Objetivo ... 13 1.3.1 Objetivo geral ... 13 1.3.2 Objetivos específicos ... 13 1.4 Metodologia ... 14 1.5 Referencial teórico ... 14

2 O ARQUIVO COMO ESPAÇO PÚBLICO INFORMACIONAL ... 20

2.1 Espaço público habermasiano ... 20

2.2 Espaço público informacional ...21

3 O PAPEL DO ARQUIVO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ... 23

3.1 A Lei de Acesso à Informação (LAI) ... 25

4 O CASO DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE ... 27

4.1 A Casa da Morte de Petrópolis ... 27

4.2 O uso dos documentos de arquivo nas investigações ... 32

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 35

REFERÊNCIAS ... 36 ANEXO A – PARTE DO RELATÓRIO DE INÊS ETIENNE ROMEU ENTREGUE AO CONSELHO FEDERAL DA OAB

ANEXO B – LOCALIZAÇÃO DA CASA DA MORTE DE PETRÓPOLIS

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INTRODUÇÃO

Tendo em mente que, embora a informação não seja um fim a ser alcançado por si só, ela é um meio para que o cidadão obtenha transparência nas atividades e decisões tomadas pelo poder público, assim como exigir que seus direitos sejam assegurados. Consequentemente, possibilitando uma reflexão crítica sobre estes.

Partimos do conceito de Esfera Pública (ou Espaço Público), o mesmo pode ser entendido como uma abstração na qual se desenvolvem debates públicos que buscam determinar a ação coletiva em prol do interesse da sociedade e seu funcionamento exige a circulação de informações.

Já Esfera Pública Informacional caracteriza-se justamente por essa circulação de informações, são espaços informacionais complementares. Entendemos que a sociedade civil pode se valer do arquivo para obter elementos que auxiliem na condução dos debates públicos. Pois sabemos que os documentos de arquivo podem e devem se configurar como registros do espaço público de disseminação informacional.

Para que haja uma mobilização da sociedade frente aos poderes é necessário conhecer profundamente cada governo, e isso é possível através do acesso às informações sobre as políticas desenvolvidas. Nesta perspectiva, o arquivo é uma organização que pode assumir a mediação do debate público, já que a produção do debate só pode se viabilizar na medida em que os atores recebam as informações necessárias. Essa concepção pressupõe a existência das instituições arquivísticas que complementam a área de comunicação, produzindo novos espaços de interação informacional, potencializando as condições de funcionamento da esfera pública.

Com base nesta constatação, este trabalho procura entender de que modo os arquivos, como esfera pública informacional, auxiliam na construção da cidadania, observando, como caso, os trabalhos desenvolvidos pela Comissão Nacional da Verdade (2012-2015). Para tanto, usaremos como base teórica elementos da Teoria da Ação Comunicativa de Jürgen Habermas, procurando estabelecer aproximações que nos ajudem evidenciar a importância do direito à informação e acesso às informações arquivísticas na construção de um senso crítico por parte dos cidadãos.

Escolhemos como estudo de caso os trabalhos desenvolvidos pela Comissão Nacional da Verdade, pois consideramos que esta representa uma evolução no processo de justiça de transição que contempla não só verdade, mas memória, reparação e justiça dos fatos.

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Além de servir de exemplo de como os documentos refletem e atestam as ações humanas, servindo como base para a busca do esclarecimento dos atos.

Buscamos investigar e demonstrar a importância do Arquivo na constituição da cidadania e da memória coletiva, usando como base a Comissão Nacional da Verdade, que explana em seus relatórios de pesquisa, a análise de casos em que foram identificadas práticas e normas arbitrárias, mas com valor legal, destinadas a desmobilizar a sociedade e limitar sua participação política aos processos eleitorais fortemente controlados e até mesmo violação dos direitos humanos no período do Regime Militar.

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi instituída pela lei 12.528/2011, com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações dos direitos humanos praticadas no período fixado no Art. 8º do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal (ADTC), ou seja, de 18/11/1946 a 5/10/1988 (datas das promulgações das duas últimas constituições democráticas do Brasil), com o propósito de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.

Reza expressamente a Lei que a CNV deverá ter composição pluralista e que não poderão dela participar aqueles que não tenham condições de atuar com imparcialidade no exercício das suas competências.

Veda ainda o caráter judicial e persecutório, vale dizer, não há que se investigar com fins punitivos, apenas examinar e esclarecer.

Esperamos, por fim, demonstrar que os arquivos públicos contêm indícios e informações em seus documentos que podem ser elementos essenciais para auxiliar na ampliação da cidadania e formação da memória coletiva. Isso reflete uma função social presente nos arquivos e seu papel de mediador das informações públicas.

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1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Um trabalho de pesquisa depende de procedimentos formais, a fim de que alcance seus objetivos. Estes procedimentos formais, também chamados de fases de método de pesquisa constituem-se na formulação do problema de pesquisa, no enunciado das hipóteses, na coleta de dados, na análise e interpretação dos dados (Severino, 1996).

Após o levantamento das publicações, o assunto foi delimitado de acordo com o tema e os objetivos do trabalho. Seguindo a delimitação temática, a presente pesquisa priorizou o levantamento, a analise e a interpretação bibliográfica. Deste modo, a coleta de dados se realizou em fontes virtuais disponíveis.

Os métodos utilizados e os resultados obtidos serão brevemente apresentados e as temáticas são apresentadas, a seguir, em forma de capítulos.

1.1 Problemas de pesquisa ou pergunta de partida

Em uma das publicações da Comissão Nacional da Verdade, relata-se o caso dos centros clandestinos vinculados à estrutura de inteligência e repressão do regime militar. Eram 17 as casas, apartamentos, sítios e fazendas utilizados no país pelas Forças Armadas na ditadura para torturar presos e desaparecer com os corpos dos militantes desaparecidos e suas provas.

O centro mais famoso foi a Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), que operou entre 1971 e 1974. Pelo menos 14 militantes morreram no local com apenas uma sobrevivente.

As casas clandestinas também eram usadas para cooptar militantes de esquerda e transformá-los em infiltrados dentro das próprias organizações.

A emergência da verdade histórica é condição essencial para a promoção da reconciliação nacional, terceira finalidade definida legalmente para a CNV.

A partir do caso do esclarecimento dos mortos e desaparecidos, em que foram usados documentos de arquivos ou o acesso aos arquivos antes inacessíveis, como isso ajudou? Considerando o Arquivo como um elemento da esfera pública informacional, que relação há entre o acesso a esses documentos e a questão da construção da cidadania?

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1.2 Justificativa

Observando as crescentes discussões que vem sendo feitas sobre a Comissão Nacional da Verdade e sobre a valorização da transparência entre governo e população, é possível observar a importância dos Arquivos para dar suporte aos processos de exame e esclarecimento das violações de direitos humanos praticadas no período do Regime Militar a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover uma certa reconciliação nacional.

O que se deve compreender é que os arquivos, além de seu valor primário ou imediato, aquele inerente à criação do documento (valor administrativo, fiscal ou jurídico), também podem apresentar valor secundário ou mediato, que é identificado quando cessa o primeiro e a guarda do documento faz-se necessária permanentemente. Podendo ser valor probatório ou informativo.

Segundo Luciana Duranti, a capacidade dos registros documentais de capturar os fatos, suas causas e consequências, e de preservar e estender no tempo a memória e a evidência desses fatos, deriva da relação especial entre os documentos e a atividade da qual eles resultam, relação essa que é plenamente explorada no nível teórico pela diplomática e no nível prático por numerosas leis nacionais. E é devido à relação que existe entre os documentos arquivísticos que torna esses registros documentais autênticos e dignos de confiabilidade.

Considerando-os como indícios e provas de ações que demarcam a trajetória e história de uma instituição, pessoa ou sociedade.

Sob essa ótica, ganha particular pertinência o motivo pelo qual foi escolhido este tema. Este por sua vez, deve ter utilidade para a conscientização dos de que os arquivos possuem grande influência no processo de formação de cidadania e construção da memória coletiva de qualquer sociedade. Assim como a importância de se preservar e tornar acessíveis os registros decorrentes das atividades humanas exercidas quando necessário for consultá-las.

A acessibilidade das informações é uma chave para o conhecimento dos detalhes que envolvem as atividades do governo e, consequentemente, para o exercício da cidadania.

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1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

O objetivo geral desta pesquisa é entender de que modo os arquivos, como esfera pública informacional, auxiliam na construção da cidadania, observando, como caso, os trabalhos desenvolvidos pela Comissão Nacional da Verdade (2012-2015), a fim de verificar a importância do direito à informação e acesso às informações arquivísticas na construção de um senso crítico por parte dos cidadãos.

1.3.2 Objetivos específicos

 Desenvolver a ideia do arquivo como um elemento importante da esfera pública informacional;

 Apresentar o conceito de esfera pública (informacional) desenvolvido por Habermas (2003);

 Abordar aspectos de uma possível esfera pública informacional em se tratando dos arquivos

 Relacionar os usos do arquivo como mediador no processo de formação de cidadania e constituição da memória coletiva;

 Verificar a importância do acesso às informações públicas para o pleno exercício da cidadania, tomando como base o caso da Comissão Nacional da Verdade.

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1.4 Metodologia

No processo de pesquisa dessa temática, encontramos o artigo Esfera Pública Informacional: os arquivos na construção da cidadania (MORIGI; VEIGA, 2007). Sua leitura permitiu o questionamento sobre o tema, que deu origem à pergunta ponto de partida. Também apresentou o principal referencial teórico para a elaboração da pesquisa, a Teoria da Ação Comunicativa de Jurgen Habermas.

Para investigar o conceito de Esfera Pública Informacional, a pesquisa e o desenvolvimento serão feitos de forma conceitual e teórica, calcada em pesquisa bibliográfica por meio de canais formais. A busca por bibliografia, basicamente artigos de periódicos, será feita em repositórios de artigos de periódicos online. Realizaremos a discussão teórica de algumas categorias importantes que envolvem cidadania, direito à informação, transparência informacional e o papel dos Arquivos nesses processos.

Para relacionar os usos do arquivo como mediador no processo de formação de cidadania e constituição da memória coletiva faremos um levantamento de casos históricos para comprovar e exemplificar esta relação.

Para verificar a importância de acesso da informação utilizaremos os resultados da CNV publicados em seu relatório final.

1.5 Referencial teórico

Antes de desenvolvermos a ideia do arquivo como um elemento da esfera pública informacional é importante apresentar brevemente um conceito do que seria um arquivo.

De acordo com a visão clássica contida no dicionário de terminologia arquivística (2004) "arquivo é o conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, publica ou privada, pessoa ou família, independente da natureza do suporte".

Porém, o conceito que iremos trabalhar é o de arquivo como base da própria ideia de Estado moderno e democrático e aparato para a garantia de direitos, já que segundo a análise de Jardim, (1998) “A informação arquivística reflete e fornece elementos à construção de uma nacionalidade estatal; os dispositivos de gestão dessa informação expressam um domínio do saber – o arquivístico – que resulta dessa

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mesma racionalidade; os arquivos – sejam como conjuntos documentais ou como agências do aparelho de Estado – constituem um mecanismo de legitimação do Estado e simultaneamente agencias do poder simbólico”.

A partir desta afirmação, podemos perceber que Jardim (1998) analisa a questão do Estado como campo informacional. O autor enfatiza a as especificidades dos arquivos e os considera não apenas conjuntos documentais produzidos pela administração burocrática, mas também como instituições inseridas no aparelho burocrático. O arquivo é visto por ele como a “escrita do Estado”.

É de suma importância também buscar uma contextualização histórica da questão do acesso às informações arquivísticas com as reações ocorridas contra o Estado Absolutista, que têm nas revoluções inglesas do século XVII e na Revolução Francesa.

A questão do acesso às informações obriga a uma reflexão, por breve que seja sobre as reações ocorridas contra o Estado Absolutista, que têm nas revoluções inglesas do século XVII e na Revolução Francesa seus marcos cronológicos fundadores. (FONSECA, 1996).

Podemos dizer que a Revolução Francesa foi a consolidadora dos ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade, indo ao encontro da formação do Estado liberal e democrático, inspirado na ideia de estabelecimento de limites ao poder do Estado.

Assim, a questão da imposição de limites contra o abuso de poder do soberano é central para aqueles pensadores cujas ideias formam o arcabouço teórico do Estado democrático [...], considerando a tentativa bem sucedida ou não, de se estabelecer a participação de todos os cidadãos no controle e na limitação do poder exercido pelos dirigentes e pelos aparelhos administrativos (FONSECA, 1996). Segundo a síntese elaborada por Jardim (1996) apud Fonseca (2005 p. 36), as teorias propostas contra os abusos de poder podem classificar-se em três grandes grupos:

 Teorias dos direitos naturais, em cuja base filosófica ergue-se o argumento de que existe, além do direito proposto pela vontade do soberano, um direito inerente ao homem individual pela sua própria condição humana, independente de pertencer a esta ou aquela comunidade política.

 Teorias da separação dos poderes, baseadas na ideia de que, mesmo considerando direitos naturais preexistentes e externos ao Estado, é mais

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conveniente limitar o poder estatal distribuindo-o entre diversas pessoas e diferentes órgãos. Isso por duas razões: cada pessoa terá apenas uma parte do poder, e ninguém jamais terá todo o poder; os diferentes órgãos aos quais serão atribuídas funções distintas exercerão um controle recíproco. As funções do Estado – executiva, legislativa e judiciária – serão exercidas por poderes distintos, de tal modo que possa haver controle mútuo. Essa forma de organização foi chamada de Estado constitucional.

 Teorias da soberania popular ou democracia, cujo argumento principal reside não na limitação do poder do soberano pela evocação dos direitos naturais ou pela distribuição desse poder, mas na obtenção da participação de todos os cidadãos. Trata-se não mais de delimitar o poder do Estado, e sim de mudar seu titular.

Fonseca (2005) conclui que essa síntese possibilita destacar o papel das instituições formadoras da administração pública, aí incluídas as instituições arquivísticas, como base da própria ideia de Estado moderno e democrático.

Além disso, podemos observar que a partir dessa época, com a gradual abertura dos arquivos aos cidadãos, o direito à informação passa a ser encarado como um dever legal do Estado para com os cidadãos, ainda que de forma embrionária. Observamos também o início do reconhecimento do acesso as informações contidas nos documentos de arquivo como direito conquistado.

Nossa realidade atual advém das conquistas sociais iniciadas e desenvolvidas durante a idade moderna. De forma mais significativa e demarcada na história da humanidade, encontraremos seu cerne na segunda metade do século XVIII, com os movimentos iniciados nos EUA que culminaram na Declaração de direitos da Virgínia (1776) e, mais tarde, com os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade estabelecidos pela Revolução francesa 1789. Desse modo, em ambos encontraremos, de forma embrionária o direito à informação como dever legal do Estado para com a população (ELIAS, 2009).

A partir da observação da teoria da soberania popular citada anteriormente, podemos observar que a preocupação agora passa da limitação do poder do soberano pela evocação dos direitos naturais para a preocupação com a obtenção da participação dos cidadãos nas tomadas de decisões no que se diz respeito à Esfera pública.

Partindo do conceito de Esfera Pública (ou Espaço Público), inicialmente denominada por Jurgen Harbemas (1962) como esfera pública burguesa. Esta pode ser

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entendida como uma abstração na qual se desenvolvem debates públicos que buscam determinar a ação coletiva em prol do interesse da sociedade e seu funcionamento exige a circulação de informações.

A Esfera Pública Informacional caracteriza-se pela circulação de informações, são espaços informacionais complementares. Entendemos que a sociedade civil pode se valer do arquivo para obter elementos que auxiliem na condução dos debates públicos. Pois sabemos que os documentos de arquivo podem e devem se configurar como registros do espaço público de disseminação informacional.

Seguindo a linha teórica de Habermas (1962), o autor afirma que a esfera pública burguesa pode ser concebida, antes de mais, como a esfera em que pessoas privadas se juntam enquanto um público; bem cedo, reclamaram que essa esfera pública fosse regulada como se estivesse acima das próprias autoridades públicas; de forma a incluí-las num debate sobre as regras gerais que governam as relações da esfera da troca de bens e de trabalho social basicamente privatizada, mas publicamente relevante. [Para concluir que] O meio deste confronto político era peculiar e não tinha precedente histórico: o uso público da razão pelos intervenientes (öffentliches Räsonnement) (Habermas, 1962: 27).

Segundo o Autor, “O papel da esfera pública burguesa em todo este processo é, pois, fundamental. É nela que se desenvolve uma consciência política que, contra o absolutismo monárquico, pretende não só conceber e exigir leis de caráter genérico e abstrato, como também ambiciona afirmar-se enquanto a única fonte de legitimação das leis”. (Silva, 2001)

Entretanto este conceito de esfera pública burguesa é uma categoria típica de uma época e não pode ser pensada ou deslocada para uma análise que fuja dos contextos da sociedade burguesa. Portanto, esfera pública está inicialmente limitada por seu caráter de categoria histórica.

Habermas (2003) entendeu a esfera pública como “(...) a linha divisória entre Estado e sociedade (...). A esfera pública política (...) intermedeia, através da opinião pública, o Estado e as necessidades da sociedade” (HABERMAS, 2003: 45-46). Portanto, a esfera pública é o espaço em que a sociedade, através da opinião pública, assegura que o Estado agirá de acordo com esta, asseverando institucionalmente “(...) o vínculo entre lei e opinião pública” (p. 101).

A partir desse momento, o conceito de esfera pública para Habermas (2003) pode ser entendido como: “uma estrutura intermediária que faz a mediação entre o

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sistema político, de um lado, e os setores privados do mundo da vida e sistemas de ação especializados em termos de funções, de outro” (p. 103).

Vieira (2001 apud MORIGI; VEIGA, 2007, p. 33) compartilha do mesmo ponto de vista sobre esfera pública ao afirmar “Esfera pública é entendida como arena de formação da vontade coletiva, o local onde os atores sociais devem defender seus argumentos. É a partir daí que se consolida o processo participativo de constituição da cidadania. Na disputa entre posições, defendida pela lógica racional e argumentativa, o cidadão moderno encontra alternativas para a construção da sociedade”.

Podemos então observar a idéia de opinião pública nascida do melhor argumento, visando sempre descobrir o que era simultaneamente justo e bom para a população.

Intrínseca à ideia de uma opinião pública nascida do melhor argumento encontrava-se a pretensão a uma racionalidade moralmente ambiciosa que procurava descobrir o que era simultaneamente justo e bom (Habermas apud SILVA, 2007, p. 125).

Pela autenticidade e valor de prova que possuem os documentos arquivísticos, podemos concluir que o melhor argumento pode e deve ter como base as informações neles obtidas, já que “(...) os registros são os sinais visíveis do cumprimento das ações sobre as quais é exigido um esclarecimento. Além de fornecer informação (...)” (Duranti, 1994).

Temos então o “Arquivo como um elemento da esfera pública, ativando as condições de acessoàs informações públicas, essenciais para a ação política, motor do desenvolvimento da cidadania.” (Veiga; Morigi, 2007).

Podemos conceituar a cidadania da seguinte forma:

A cidadania, então, é vista como um conjunto de direitos e deveres atribuídos a todos os membros de uma sociedade, e que são conquistados pela movimentação dos diferentes grupos sociais. A cidadania é uma conquista produzida pelo desenlace das tramas sócio-históricas, atingindo diferentes níveis nos vários locais do planeta (Veiga, 2007).

Barbalet (1989, p. 12 apud VEIGA, 2007 P. 32), a “[...] cidadania pode ser descrita como participação numa comunidade ou como a qualidade de membro dela”.

Para o pleno exercício da cidadania é necessário que a população tome conhecimento de seus deveres e direitos e um destes é o direito à informação que “deve ser compreendido como um direito relacionado diretamente aos outros direitos,

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incluindo, obviamente, as contradições, e os antagonismos destes. É um direito que fomenta o exercício da cidadania necessário ao exercício pleno do conjunto dos direitos de cidadania e, portanto, um fator decisivo no processo de aprofundamento democrático.” (Gentilli 2002, p. 49 Apud VEIGA, 2007, P. 36).

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2 O ARQUIVO COMO ESPAÇO PÚBLICO INFORMACIONAL

Embora não haja literatura suficiente tratando do assunto, podemos ainda assim identificar os Arquivos como elemento do espaço público informacional. Tal fato mostra a importância de se produzir mais sobre o assunto, pois sabemos que o Arquivo vai além de um local de estoque de documentos.

Esta importância é reconhecida por Veiga e Morigi (2007 p. 38) ao dizer que:

o Arquivo precisa ser compreendido em uma dimensão mais ampla, não apenas como local topográfico onde se guarda e preserva documentos, sobretudo como um espaço capaz de produzir sentidos. Além de sua materialidade física, enquanto acervo de documentos, textos, imagens etc, é preciso compreender o arquivo como uma esfera pública que, ao preservar a memória, também trama sentidos, constrói ideias e configura conhecimento.

Nessa perspectiva, os mesmos autores defendem a ideia do Arquivo como um elemento da esfera pública, ativando as condições de acesso às informações públicas, essenciais para a ação política, motor do desenvolvimento da cidadania.

Falando em comunicação pública e cidadania, é necessário inserirmos o conceito de esfera pública proposto por Jürgen Habermas (1984). Em seu estudo sobre esse espaço, o autor parte da pólis grega e de como o cidadão se comporta na vida pública, estabelecendo uma diferenciação entre a esfera pública e a esfera privada.

2.1 Espaço público habermasiano

Com a emergente discussão e valorização da transparência entre governo e população, torna-se necessário um esforço para trabalhar a noção de esfera pública em termos de um espaço que represente o campo de atuação dos cidadãos como participantes da sociedade civil. Esta ideia foi examinada por diversos autores, porém neste trabalho desenvolveremos a concepção de espaço público elaborada por Habermas (1984).

Citado e explicado por Medeiros (2013), Habermas (2003) deixa explícito no prefácio de seu trabalho "Mudança estrutural da esfera pública", a ideia de esfera pública parte de uma categoria típica de época, sendo engendrada no desenvolvimento da sociedade burguesa com início na Idade Média. Assim, está baseada na expansão do capitalismo, bem como na possibilidade de troca de informações a partir dos meios de discussão existentes na época, principalmente por meio da imprensa, criada nesse

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período. Em virtude de um estado de forças dominantes, como o clero e a nobreza, a sociedade burguesa buscava uma organização representativa junto às políticas da época. Com isso, o indivíduo é partícipe da esfera pública a partir da sua opinião pública, que, na visão de Habermas, advinha de interesses em comum dentro de uma esfera privada, interesses dos burgueses em relação as suas propriedades como forma de garantir a estabilidade do que lhes pertencia, necessitando de esquemas capazes de contrapor as autoridades existentes, como a nobreza e o clero. Assim, como ressalta Habermas (2003, p.110), o "Autoentendimento da função da esfera pública burguesa cristalizou-se no topo da opinião-pública".

Esse é o nascimento de uma sociedade civil burguesa no contexto da contraposição à autoridade, fazendo com que as microrrelações existentes até aquele momento, ou seja, as realizadas de forma doméstica passassem a um espectro mais amplo, assim à luz da esfera pública. Isso posto, as atividades privadas compostas pela família e pelo trabalho necessitavam se orientar por um campo maior: o campo público (Habermas, 2003).

Trazendo para uma época mais recente, podemos observar a Esfera Pública como sendo um “grupo de direitos fundamentais que refere-se à esfera do público pensante (liberdade de opinião e de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de reunião e de associação) e à função política das pessoas privadas nessa esfera pública (direito de petição, direito eleitoral e de voto igualitário etc.)” (Habermas, 2003, p.103).

É nesse ambiente notado por Habermas que se entende a necessidade de discutir dispositivos que permitam a interação entre os atores envolvidos no debate de questões políticas e que se vislumbra, a partir da atual relevância do tema, falar sobre os dispositivos informacionais como instrumentos potencializadores da esfera pública.

2.2 Espaço público informacional

Sem a pretensão de trazer respostas, mas sim, vislumbrar caminhos a serem trilhados, percorre-se brevemente o conceito de esfera pública informacional que se caracteriza pela circulação de informações na esfera pública e que esta pode ser entendida como espaço informacional complementar.

Entendemos que a sociedade civil pode se valer do arquivo para obter elementos que auxiliem na condução dos debates públicos, pois sabemos que os

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documentos de arquivo podem e devem se configurar como registros do espaço público de disseminação informacional.

Ao perceber-se parte integrante do processo de construção do conhecimento, o usuário deixa sua condição de passividade, reconhece seu lugar na cadeia dos acontecimentos e vai tomar a iniciativa necessária para buscar outro conjunto de informações que subsidiem sua tomada de decisão (Veiga; Morigi, 2007 p. 36).

Observamos que a partir da circulação de informações, criam-se e ampliam-se as possibilidades analíticas pertinentes para se pesquisar a democracia, inclusive a brasileira.

Entendemos, nesse sentido, estar clara uma ação propositiva, que possa incidir na configuração do arquivo como esfera pública informacional. Os documentos sob controle dos arquivistas podem se transformar em uma fonte de informação pública, pois neles estão registradas as ações dos governos. Essas informações devem ser disponibilizadas à população, permitindo maior transparência às ações governamentais. Isto possibilita uma participação dos cidadãos no governo, através do debate no espaço público. Conhecendo a realidade governamental, o cidadão tem condições de se posicionar sobre as atividades desenvolvidas, avaliando seus resultados e propondo melhorias (Veiga, 2007 p. 19).

Logo, podemos concluir que os estoques informacionais quando acessíveis ao público podem servir de subsidio para o esclarecimento e debate de questões de interesse coletivo e que os profissionais de Arquivo são os mediadores neste processo, já que a democracia hoje, como defende Veiga, “é passível de construção em dimensões planetárias, de acordo com a atual conjuntura dos povos”.

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3 O PAPEL DO ARQUIVO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

A reflexão sobre o papel do Arquivo, de acordo com Veiga; Morigi, 2007 p. 38, “é essencial no mundo contemporâneo, dentro do espectro da democratização da informação. Para isto os arquivistas precisam superar a visão estabelecida sobre sua prática profissional. As informações arquivísticas precisam ser acessíveis aos cidadãos, e os arquivistas devem ser um vetor de uso, mediadores que possibilitem a acessibilidade dos estoques informacionais sob sua administração”.

Nesta perspectiva, podemos compreender informações arquivísticas como fonte de informação e o papel dos arquivos como espectro da democratização da informação e acessibilidade, fatores essenciais para a promoção da cidadania.

Desse modo informação arquivística pode se definida da seguinte maneira:

Conjunto de documentos recolhidos ao arquivo que tenham a capacidade de fornecer ao usuário conteúdos que possibilitem a execução das tarefas rotineiras. Neste sentido, a informação arquivística é um elemento potencializador das atividades das instituições, pois auxilia na produção intelectual da administração (Veiga; Morigi, 2007 p.37).

Logo, observamos que “a existência de um arquivo organizado e eficiente é primordial para conhecer as atividades do Estado” (Veiga; Morigi, 2007 p. 37). Assim, podemos concluir que o Estado exerce papel de representante do povo e que o mesmo possui a difícil missão de conciliar os interesses da sociedade e que, através da participação dos cidadãos nos assuntos do Estado é possível atender às necessidades e às conveniências do grupo, isto valida a cidadania.

Definimos cidadania, segundo Veiga, 2007, como “um conjunto de direitos e deveres atribuídos a todos os membros de uma sociedade, e que são conquistados pela movimentação dos diferentes grupos sociais”.

Segundo Barbalet (1989, p. 12 apud VEIGA, 2007 P. 32), a “[...] cidadania pode ser descrita como participação numa comunidade ou como a qualidade de membro dela”.

De acordo com Márcia Duarte (2007, p. 111-112), cidadania implica mobilização, cooperação e formação de vínculos de corresponsabilidade para com os interesses coletivos, e a regra da luta pela inclusão são as expectativas e opiniões conflitantes e não o consenso de vontades. Por isso mesmo, as lutas mais recentes por direitos políticos, civis e sociais ajudaram o Brasil a ampliar a noção de cidadania enquanto um direito universal, não restrito a

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grupos ou classes sociais, definindo o cidadão como um sujeito capaz de interferir na ordem social em que vive, participando das questões públicas, debatendo e deliberando sobre elas.

Percebemos nas definições anteriores a importância da participação dos cidadãos no processo de construção e validação da cidadania, como protagonista destacando seu papel relevante ou de destaque nos processos que dizem respeito às questões públicas.

Assim, podemos compreender a relação dos conceitos de cidadania e comunicação pública. Entendendo a comunicação num sentido dialógico, percebe-se seu papel na promoção da participação e do estímulo à prática da cidadania. Observe-se que, sem a participação popular ou com uma participação restrita e limitada, não há prática cidadã. É nesse contexto que reconhecemos a importância da comunicação pública. (Mainieri; Ribeiro, 2011 p. 54)

Nesse contexto de reconhecimento da importância da comunicação pública, os arquivos e seus profissionais exercem papel de mediador na hora de informar e facilitar o acesso do cidadão aos recursos de defesa de seus direitos, ao conhecimento para exercício de seus deveres e aos instrumentos e espaços para participação nas decisões sobre os rumos da sociedade.

Sobre a questão do direito à informação, Reyes Olmedo (2009) apud Lima (2013) afirma:

O direito à informação, como direito humano subjetivo, deu lugar à consideração científica de todas as normas, mais ou menos dispersas, que regulavam as atividades informativas e as mensagens que com respeito a elas era possível difundir. Estas normas, unificadas pelo critério de serviço à realização do direito à informação, constituem o ordenamento jurídico informativo, denominado Direito da Informação [...]

Reyes Olmedo (2009) apud Lima (2013) sinaliza, ainda, que o Direito da/de Informação, enquanto ramo disciplinar irá retirar sua legitimidade do direito à informação, que é o seu objeto principal e que este ramo disciplinar tem em vista dar eficácia desse direito humano subjetivo: “a validade ou legitimidade do Direito da Informação se encontra em que favoreça à realização do direito à informação”

Este direito está relacionado com a liberdade de comunicação e informação. É uma garantia essencial do nosso país. O cidadão é livre para manifestar suas convicções.

Com efeito, parece claro que a liberdade de imprensa enfeixa e representa uma das facetas do direito à informação que compreende o recolhimento e a transmissão de dados, fatos e acontecimentos públicos relevantes; a liberdade de expressão inclui a as artes, propaganda e a publicidade as quais se caracterizam por alta

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capacidade persuasiva, o que não é sinônimo da noção de informação. O aspecto bifronte de se informar e o de ser informado muda o plano de análise das liberdades de expressão e de imprensa (Lima, 2013). Um governo transparente deve facilitar aos cidadãos o acesso às informações de interesse público, divulgando de forma espontânea essas informações, sempre que possível, numa linguagem clara e de fácil entendimento. Aliado a isso, também deve fornecer informações desejadas pelos cidadãos sempre que for requisitado.

Em 1988, a Constituição Federal Brasileira estabeleceu a garantia à nossa sociedade do direito de acesso às informações públicas, desde que isto não provoque riscos à sociedade ou ao Estado. Em 18 de novembro de 2011, esse direito foi regulamentado por meio da Lei nº 12.527, a Lei de Acesso à Informação, que estabelece procedimentos, prazos e normas para que os brasileiros possam de fato ter acesso às informações públicas. Atualmente, segundo pesquisa realizada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), cerca de 90 países já adotaram uma lei de acesso à informação.

A Lei brasileira - Lei 12.527, Lei de Acesso à Informação (LAI) - é bem abrangente e será tratada a seguir.

3.1 A Lei de Acesso à Informação (LAI)

Em 18 de dezembro de 2011, foi aprovada a Lei 12.527, Lei de Acesso à Informação (LAI), que trata do livre acesso para qualquer cidadão às informações contidas nos documentos, tanto nas instituições públicas, quanto nas instituições privadas que recebem recursos públicos. Porém esse acesso encontra alguns obstáculos, pois requer políticas públicas de arquivos que permitam que as informações sejam disponibilizadas.

A necessidade de relacionar a possibilidade de acesso, com as políticas públicas de gestão de documentos nos órgãos públicos é grande. De acordo com José Maria Jardim (2012), um ano depois da entrada em vigor da lei, alguns pedidos de informação ainda não haviam sido atendidos.

Muitas informações estão perdidas, pois, comumente, os documentos, independentemente de seu suporte, não estão organizados, não foram digitalizados, não receberam tratamento técnico e estão armazenados em locais não apropriados; por outro lado, faltam recursos humanos e/ou financeiros para isso. A evolução das instituições públicas na gestão de seus documentos não acompanha a LAI.

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A LAI possibilitou a transparência pública de alguns órgãos e entidades, contudo é importante sua constante revisão para o aprimoramento, o monitoramento do seu cumprimento e, de forma integrada e sistematicamente organizada, o preparo das instituições públicas a fim de responderem às necessidades do cidadão brasileiro/usuário.

De acordo com pesquisa feita em arquivos municipais e estaduais, a falta de organização em acervos públicos, mantém o usuário longe da informação. Os usuários citados na pesquisa são “pesquisadores acadêmicos; funcionários do Estado; autoridades públicas; imprensa; estudantes de primeiro e segundo grau; estudantes universitários; cidadãos em busca de documentos probatórios; religiosos e redes de televisão.” (JARDIM, 1999, p.7)

Por fim, devemos lembrar que a ação da Comissão Nacional da Verdade foi viabilizada pela Lei de Acesso à informação, ambas estabelecidas praticamente na mesma época.

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4 O CASO DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi instituída pela lei 12.528/2011, com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações dos direitos humanos praticadas no período fixado no Art. 8º do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal (ADTC), ou seja, de 18/11/1946 a 5/10/1988 (datas das promulgações das duas últimas constituições democráticas do Brasil), com o propósito de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.

É a partir dos depoimentos e de pesquisas em acervos arquivísticos que a Comissão Nacional da Verdade tem exercido importante papel democrático no que se trata de investigar e possibilitar o esclarecimento dos fatos ocorridos com vítimas de violações e mortes na época da maneira mais imparcial possível. Anteriormente os militares eram a única fonte para estudar o regime.

Embora alguns documentos ainda permaneçam inacessíveis, a abertura de parte do acervo documental da época e esclarecimento de alguns acontecimentos reflete um notável avanço para a democracia e o respeito ao direito de informar e ser informado.

Dos 20 estados existentes no Brasil durante a Ditadura, 11 tiveram essa documentação recolhida. Nos demais, ainda se fazem buscas para localizar o acervo. [...] Desses Arquivos já saíram vários trabalhos importantes que vão ajudando a entender melhor como esses órgãos se organizavam, o que informavam sobre os presos, como eram o processo de construção da verdade, a lógica dos interrogatórios, a dinâmica da censura, os grupos que constituíam os principais alvos (D’Araujo, 2007)

4.1 A casa da Morte de Petrópolis

Em meio a diversos outros casos, a Comissão Nacional da Verdade realizou em 25 de março de 2014, no Rio de Janeiro, audiência pública sobre a Casa da Morte de Petrópolis, imóvel usado pelo Centro de Informações do Exército como local de prisão ilegal, tortura, morte e ocultações de cadáveres de opositores da ditadura. Na audiência, a CNV divulgou seu terceiro relatório preliminar de pesquisa, que teve como fio condutor o depoimento de Inês Etienne Romeu, única pessoa que sobreviveu à casa. Mais de 20 pessoas desaparecidas podem ter sido assassinadas na Casa da Morte.

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Para fins de contextualização, retiramos como exemplo o caso da “Casa da Morte” do Volume III do Relatório final da Comissão Nacional da Verdade (2014 p. 532- 535) com o depoimento de Inês Etienne Romeu:

A Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), foi um dos principais centros clandestinos utilizados pelo regime militar para a prática de graves violações de direitos humanos: detenção ilegal e arbitrária, tortura, execução e desaparecimento forçado. As informações mais importantes a seu respeito têm origem no depoimento de sua única sobrevivente, Inês Etienne Romeu, e são complementadas e corroboradas por documentos produzidos pelo próprio Estado, bem como por testemunhos de ex-presos políticos e depoimentos de agentes da repressão.

Em 1989, Inês Etienne procurou o jurista Fábio Konder Comparato e contou-lhe o calvário que sofreu durante os 96 dias em que esteve detida na Casa da Morte. Comparato explicou-lhe que a jurisprudência à época não admitia ações de indenização por causa da prescrição. Segundo relato do jurista à Câmara dos Deputados, em 24 de setembro de 2009, em audiência pública conjunta da Comissão de Direitos Humanos e de Legislação Participativa, Inês aclarou:

[...] professor, eu não quero um tostão de indenização. Esse dinheiro de indenização vem do povo e a grande vítima é o povo. [...] O que eu quero é que a Justiça do meu país reconheça oficialmente que eu fui sequestrada, mantida em cárcere privado, estuprada três vezes por agentes públicos federais pagos com o dinheiro do povo brasileiro. Comparato apresentou ação judicial à 17a vara de Justiça Federal de São Paulo, que, em dezembro de 2002, julgou procedente a ação,

[...] para o fim de declarar a existência de relação jurídica entre Inês Etienne Romeu e a União federal, por conta dos atos ilícitos de cárcere privado e de tortura praticados por servidores militares no período compreendido entre 05 de maio e 11 de agosto de 1971, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro.

Em 2007, a União desistiu do recurso de apelação, e o Tribunal Regional Federal da 3a região manteve a sentença.

Nascida em Pouso Alegre (MG) em 1942, Inês – que viria a receber o Prêmio Nacional de Direitos Humanos de 2009, na categoria de “Direito à memória e à verdade” – foi bancária, líder estudantil e dirigente da VPR. Foi sequestrada em 5 de maio de 1971 na avenida Santo Amaro, em São Paulo, às 9h da manhã, por agentes comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, conforme relatório de 18 de

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setembro de 1971 entregue por Inês ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 5 de setembro de 1979.138 Nesse documento, Inês diz que estava “em companhia de um velho camponês, de codinome ‘Primo’, com quem tinha encontro marcado desde abril” e que “assistiu impassível” à sua prisão:

O camponês, que era da região de Imperatriz, já havia denunciado um encontro marcado entre ele e José Raimundo da Costa, no qual compareceria também Palhano, ex-líder dos bancários do Rio de Janeiro, para o dia seguinte. Confirmei a informação e disse que desde o dia 10 de março deste ano [1971] estava desligada do movimento e me preparava para deixar o país.

Segundo o documento, a militante foi, em seguida, levada ao DOPS/SP, em cuja sala de tortura foi interrogada. Inês foi colocada no pau de arara e espancada. Recebeu choques elétricos na cabeça, pés e mãos. Os agentes queriam saber seu endereço no então estado da Guanabara, o qual conseguiu ocultar, “para proteger uma pessoa que lá se encontrava”. Em 5 de maio, Inês foi levada ao Rio de Janeiro de automóvel:

[...] Chegamos por volta de 21 horas, parando, inicialmente, em frente ao Ministério da Guerra, na avenida Presidente Vargas, quando, do carro, desceu um indivíduo que se dirigiu ao interior do ministério, pela entrada destinada aos carros, e de lá regressou em companhia de um outro, à paisana, que se incorporou ao grupo. Seguimos, então, para uma delegacia situada na avenida Suburbana, próxima ao largo dos Pilares, onde fui colocada numa cela. Meia hora depois, levaram-me para fazer o reconhecilevaram-mento do local do “encontro” [o qual havia mencionado para evitar a continuação da tortura]. Eu havia dito que teria que andar uns 300 metros, atravessando, inclusive, o viaduto de Cascadura. Retornei à delegacia, onde passei a noite, ouvindo gritos e espancamentos de presos comuns que lá se encontravam. Em seguinte, 6 de maio, ao me aprontar para o “encontro”, fizeram-me calçar meias para ocultar as marcas de espancamento, bem visíveis, em minhas pernas.

Às 12h foi conduzida até o local do “encontro”, e lá se atirou sob as rodas de um ônibus. Os policiais levaram-na então para o Hospital da Vila Militar, onde recebeu transfusão de sangue. Pouco depois, foi transferida ao Hospital Carlos Chagas:

Ao ser feita a ficha de entrada, disse o meu nome e declinei minha condição de presa política. Fui desmentida por um policial que disse ser meu parente e que eu me chamava Maristela de Castro, fornecendo, inclusive, minha filiação. Neste hospital permaneci somente o tempo necessário aos primeiros socorros (suturas etc.). Logo fui transportada para o Hospital Central do Exército [HCE],

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onde tiraram radiografias de minha bacia, constatando-se não haver fraturas e que os ferimentos que tinha no corpo, queimaduras de terceiro grau, foram consequência de ter sido arrastada pela roda traseira do ônibus. Quando do preenchimento da ficha no HCE forneci meu nome verdadeiro, filiação, idade etc., novamente declinando minha condição de presa política e as circunstâncias do acidente. Depois de medicada, foi informada de que receberia alta em cinco dias. Apesar de seu estado de saúde precário, agentes invadiram seu quarto naquela noite de 6 de maio para interrogá-la, mas foram impedidos pelo médico:

[...] Dialogaram asperamente e um dos agentes disse aos berros que “estávamos em guerra” e que não poderia haver obstáculos legais para o que faziam. Mas o médico proibiu o interrogatório dizendo que só poderiam fazê-lo com permissão do diretor do HCE. Em 7 de maio fui visitada, em horários alternados, pelo diretor do HCE, por um psiquiatra e por um capitão do Exército, que queriam saber sobre a minha saúde.

Internada no HCE, Inês ouviu de um médico o relato da noite em que ele estava de plantão e Marilena Villas Boas Pinto teria chegado, já sem vida, ao hospital. Mais tarde, “doutor Pepe”, carcereiro da Casa da Morte, disse a Inês que Marilena ali estivera e que “havia morrido na mesma cama de campanha” que ela ocupava.

A pedido da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Inês ratificou essa denúncia em abril de 1997. Nascida em 8 de julho de 1948 no Rio de Janeiro, Marilena era estudante de psicologia na Universidade Santa Úrsula. Militou na ALN e, depois, ligou-se ao MR-8. Segundo seu atestado de óbito, morreu em 3 de abril de 1971, no HCE, em decorrência de “ferimento penetrante do tórax com lesões do pulmão direito e hemorragia interna”. Após muitas dificuldades, em 8 de abril de 1971, a família de Marilena resgatou seu corpo do hospital. Seu caixão foi entregue lacrado e o seu enterro, no Cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro, teve presença de militares à paisana que intimidaram familiares e amigos.

Em 8 de maio, Inês foi retirada à força do hospital e, vendada, foi levada a uma casa cuja localização não conseguiu identificar naquele momento. O interrogatório iniciou-se a caminho do local, com a advertência de que receberia “o mesmo tipo de tratamento dado pelo Esquadrão da Morte: sevícia e morte”. Ao chegar ao local foi colocada em uma cama de campanha que tinha as iniciais do Centro de Informações do Exército (CIE). O interrogatório continuou “sob a direção de um dos elementos que me torturara em São Paulo”. Inês ermaneceu naquele lugar por 96 dias. Segundo sua irmã Lúcia Romeu, em entrevista para a reportagem “A casa dos horrores”, da revista

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IstoÉ de 11 de fevereiro de 1981, Inês “foi torturada, estuprada, submetida ao pentotal sódico, o chamado ‘soro da verdade’ e, depois de cada uma de suas duas tentativas de suicídio, medicada para recuperar as forças e ser de novo supliciada”

Quando a Lei de Anistia foi aprovada, em 1979, Inês havia cumprido oito anos de pena. Foi libertada em 29 de agosto de 1979. Uma semana depois, compareceu à sede do Conselho Federal da OAB, no Rio de Janeiro, para registrar sua denúncia. Na ocasião, listou nove nomes de desaparecidos sobre os quais teve notícia durante os três meses na Casa da Morte. Destes, seis teriam sido assassinados em Petrópolis: Carlos Alberto Soares de Freitas, Mariano Joaquim da Silva, Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, Heleny Ferreira Telles Guariba, Walter Ribeiro Novaes e Paulo de Tarso Celestino da Silva. Etienne citou ainda Ivan Mota Dias, José Raimundo da Costa e o deputado Rubens Paiva. A CNV não conseguiu comprovar a passagem dos três últimos pela Casa da Morte.

Quase dez anos após sua prisão, em 1981, Inês reconheceu, com a ajuda de Sérgio Ferreira, primo de Carlos Alberto Soares de Freitas, o local da Casa da Morte, ao procurar o endereço relativo a um número de telefone que ouvira durante o cativeiro. O centro clandestino situava-se na Rua Arthur Barbosa, nº 668, em Petrópolis. Segundo o depoimento de Inês no relatório entregue à OAB em 1979,

creio ser uma extensão do telefone do vizinho, ao que parece o locador da casa. Diariamente, este indivíduo, a quem os agentes chamavam Mário, visitava o local e mantinha relações cordiais com os seus moradores. Mário é estrangeiro – possivelmente um alemão – e vive em companhia de uma irmã. Possui um cão dinamarquês, cujo nome é Kill; embora não participe pessoalmente das atividades e das atrocidades cometidas naquele local, tem delas pleno conhecimento. Seu nome é Mario Lodders.

No depoimento, Inês relatou em detalhes, as violências que sofreu e informou os nomes pelos quais conhecia os agentes que trabalhavam na casa. Informou também o nome de nove pessoas mortas na casa. Depois de seu testemunho, as recordações de Inês permitiram, com a ajuda de amigos e jornalistas, a localização do imóvel e de seu proprietário, Mario Lodders, que emprestou a casa, em 1971, para o ex-interventor de Petrópolis, Fernando Ayres da Motta, que a cedeu para a repressão.

O relatório da CNV demonstra que a casa foi criada como um centro de apoio aos DOI-Codis e avalia que as mortes de Chael Charles Schreier, em 1969, na PE da Vila Militar do Rio, e de Rubens Paiva, no Doi-Codi, em 1971, aceleraram seu processo de implementação pelo Centro de Informações do Exército (CIE). A casa foi

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usada também como ponto de apoio dos Doi-Codis de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.

4.2 O uso dos documentos de arquivo nas investigações

Visando cumprir suas atribuições legais, a Comissão Nacional da Verdade apresentou relatórios preliminar e conclusivo sobre o caso, no final do seu mandato. Afinal, no período da ditadura, a Casa da Morte de Petrópolis foi a principal estrutura clandestina utilizada pelos serviços de informações das forças armadas brasileiras para a prática de ocultação de cadáveres e desaparecimento forçado de opositores políticos. Podemos dizer que o aprofundamento das investigações sobre as graves violações de direitos humanos vinculadas à Casa da Morte de Petrópolis constituiu uma das iniciativas mais importantes para o esclarecimento e ampliação do conhecimento público sobre a política sistemática de desaparecimentos forçados adotada pela ditadura militar.

Segundo o relatório preliminar da CNV (2014) que trata da Casa da Morte, de 1964 a 1969, a tortura e as execuções extrajudiciais de opositores políticos foram, na maioria das vezes, encobertas por falsas versões de suicídios, confrontos, fugas e atropelamentos. Nesse período, os corpos de vítimas fatais da repressão eram geralmente entregues às famílias em caixões lacrados, acompanhados da respectiva documentação de óbito e laudos periciais.

A Casa da Morte, à época dos fatos aqui narrados, estava situada em bairro afastado do núcleo da cidade de Petrópolis, em local de difícil acesso, cercado por matas densas. O local reunia, portanto, as condições necessárias para a instalação de um centro clandestino voltado para a prática de tortura, extermínio e desaparecimento forçado de pessoas.

Nesses casos, é possível comprovar, com base em testemunhos e documentos, o translado de prisioneiros entre os DOIs do I Exército, no Rio de Janeiro, do II Exército, em São Paulo e do IV Exército, em Recife, para o centro clandestino do CIE localizado em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. Dessa forma, o CIE na qualidade de órgão do gabinete do Ministro do Exército com atuação em todo território nacional – sua sede, em 1971, ainda se encontrava no Rio de Janeiro – disponibilizava equipes e recursos para desenvolver operações de abrangência

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nacional, em coordenação direta com os comandantes dos DOIs de distintas jurisdições militares.

Em relação à documentação que auxiliou nas investigações, A CNV localizou no Arquivo Nacional a informação nº 2962/71, do CIE, de 6 de dezembro de 1971, que difundiu que o delegado regional de Petrópolis estava em posse de documentos de Paulo de Tarso Celestino da Silva. Nos termos literais do documento: “as fotografias das carteiras de identidade encontradas pertencem ao terrorista, da ALN, Paulo de Tarso Celestino”.

Para justificar a posse dos documentos pela autoridade policial de Petrópolis, a informação nº 2962/71 apresenta uma versão incomum: o documento teria sido casualmente entregue ao delegado por uma prostituta, que o teria encontrado em uma lata de talco em um prostíbulo de Juiz de Fora/MG. A data da informação, 6 de dezembro de 1971, é de pouco depois de 4 meses após o desaparecimento de Paulo de Tarso Celestino, preso por agentes do DOI do I Exército, no Rio de Janeiro, ao lado de Heleny Ferreira Telles Guariba. Na difusão dessa informação, o CIE, que admite a posse de documentos de um desaparecido político na região de Petrópolis, procura justificar-se pelo fato de que Paulo de Tarso Celestino estaria usando em seu nome documento do Ministério da Guerra, com dados verdadeiros do militar Geraldo Franco (Arquivo Nacional, BR NA BSB, V8. AC_ACE_40868_71).

Embora a principal forma de esclarecimento do caso tenha sido o depoimento de Inês Etienne Romeu, verificamos que outros documentos também foram importantes para complementar e embasar a veracidade dos fatos ocorridos.

Finalmente, podemos observar que a partir das provas documentais e depoimentos foi possível a localização da casa onde tais atos violentos foram praticados, assim como a identificação de torturadores, vitimas e a real causa das mortes que foram mascaradas a fim de encobrir os atos de tortura.

Na constituição de seu acervo, a CNV recebeu documentos de comissões da verdade estaduais, municipais e setoriais, arquivos de familiares de vítimas da ditadura e documentos oriundos da cooperação com governos de países como Argentina, Alemanha, Chile, Estados Unidos e Uruguai.

Uma parcela importante dos documentos da CNV se encontra disponível nesta página www.cnv.gov.br, que também faz parte do acervo da Comissão sob a guarda do Arquivo Nacional.

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Em cumprimento do parágrafo único do artigo 11 da Lei 12.528/2011, que criou a Comissão Nacional da Verdade, o acervo documental e de multimídia resultante das atividades da CNV foi recolhido, em 24 de julho de 2015, para guarda permanente no Arquivo Nacional, no qual poderá ser acessado pelo público.

Em 7 de outubro de 2015, foi publicada no Diário Oficial da União (Seção 1, página 5), aPortaria Interministerial no – 1.321-A, de 29 de setembro de 2015, que “declara o recebimento do Relatório da Comissão Nacional da Verdade e declara de interesse público e social o acervo documental e arquivístico reunido pela Comissão Nacional da Verdade.”

O acesso online à consulta dos documentos da CNV, está disponível no Sistema de Informações do Arquivo Nacional SIAN, sob o Código de Referência BR RJANRIO CNV.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os Arquivos são aparatos legais do sistema social do Estado. Ao identificarmos os Arquivos como esfera pública informacional, partindo da analise da Teoria da Ação Comunicativa de Jürgen Habermas, verificamos que é possível recorrer às provas jurídicas que são os documentos de arquivo para sustentar argumentos nos debates em benefício no interesse coletivo, ou também como foi exemplificado, na busca de veracidade dos fatos.

Isto quer dizer que as instituições arquivísticas ao gerir as práticas informacionais – classificação, descrição, avaliação e difusão – das memórias documentárias exercem também um belíssimo papel de suporte à cidadania na busca da verdade registrada dos acontecimentos e também promove a transparência dos atos governamentais. Ter conhecimento sobre esses atos garante o pleno exercício do direito de ser informado fortalecendo a noção de cidadania.

Como vimos, ao tornar acessível as informações contidas nesses registros permite-se que o cidadão exerça seu direito de ser informado, legitimando assim a liberdade de acesso à informação e verdade histórica como um fator importante na consolidação da democracia.

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Referências

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