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Variáveis para implementação de pomares urbanos

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Academic year: 2021

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Gustavo DAlmeida Scarpinella Universidade Federal de São Carlos gscarpinella@gmail.com

Variáveis para implementação de pomares urbanos

Ricardo Siloto da Silva Universidade Federal de São Carlos silotosilva@gmail.com 765

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CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

VARIÁVEIS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE POMARES URBANOS

G. D.A. Scarpinella, R. S. da Silva

RESUMO

A qualificação de áreas públicas a partir do enriquecimento com espécies frutíferas é uma prática cada vez mais observada em diversas cidades brasileiras. No presente artigo, foram analisadas três áreas públicas de recreio em diferentes bairros da área urbana de São Carlos, estado de São Paulo, Brasil, sendo desenvolvida uma discussão a respeito das variáveis propostas e empregadas na implementação de pomares urbanos, tema de central interesse deste artigo. Como procedimentos metodológicos para contextualização e discussão das áreas abordadas, foram adotados a observação direta, pesquisa bibliográfica e o emprego de ferramentas de SIG – Sistema de Informação Geográfica. De uma forma geral, pode ser relatado um bom desenvolvimento do projeto, que neste momento encontra-se na faencontra-se de pré-plantio em duas, das três áreas. Foi programado ao todo o plantio de 143 mudas frutíferas de 22 espécies diferentes, e que pode beneficiar diretamente cerca de 10.000 moradores dos bairros abordados.

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de centros urbanos gera uma série de impactos, desde o adensamento demográfico, que demanda estrutura viária, de moradia e serviços, provocando compactação e impermeabilização do solo, passando pela importação de materiais e energia, produção de resíduos sólidos, líquidos e inertes, e perda de diversidade de fauna e flora.

Como alternativa e contraponto a esta perda de qualidade em um ambiente bastante modificado, há o aproveitamento de áreas públicas - tratadas aqui como espaços livres de uso público – as quais apresentam um grande potencial como espaços verdes (ou não) de convívio social, construção comum de um ideal, fortalecimento da cidadania e da sensação de pertencimento.

Espaços livres de uso público são aqueles que apresentam uma condição diferenciada, uma vez que servem indiscriminadamente à toda população que por esta circula, e que dela usufrui. Sua existência é importante no ato de parcelamento do solo urbano e seus atributos, equipamentos e diferenciais podem proporcionar qualidade de vida, coesão social, espaços para lazer, descanso e atividades esportivas. O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), que define o planejamento e gestão do território urbano, estabelece uma série de diretrizes que visam, em seu conjunto, condicionar que as cidades sejam mais igualitárias, com acesso a bens e serviços públicos de forma mais harmoniosa. Dentre as diversas diretrizes promulgadas por esta lei, podem ser citadas:

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- o direito a cidades sustentáveis;

- a gestão democrática através de associações representativas; - o planejamento do desenvolvimento das cidades;

- a oferta de equipamentos urbanos e comunitários adequados aos interesses e necessidades locais;

- a ordenação e controle do uso do solo (para se evitar, por exemplo, a deterioração de áreas urbanizadas) e;

- a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído.

Desta forma, é aberta uma grande gama de possibilidades para o fortalecimento das políticas públicas e das iniciativas que desenvolvam localmente o ambiente, atendendo aos anseios comunitários, que podem ser diversos e específicos em cada região de uma área urbana. E esta experimentação coletiva pode acontecer nas áreas públicas livres, aliando a melhoria estética com a segurança alimentar, através da implementação de pomares públicos não comerciais.

Muitas pesquisas se dedicam à agricultura urbana, sobretudo às hortas comunitárias. Exemplos internacionais podem ser citados, em estágios diferenciados de características e evolução, como a Alemanha (BENDTA et al. 2013), Estados Unidos (EIZENBERG, 2012, GHOSE & PETTYGROVE, 2014), Índia (WORLDWATCH INSTITUTE, 2014) e Canadá (MONTREAL’S COMMUNITY GARDENING PROGRAM, 2006), dentre outros. No Brasil, este tipo de produção se distribui de forma predominante embaixo de linhas de transmissão e terrenos abandonados ou subutilizados. Silva (2014) faz referência a uma série de iniciativas nacionais de agricultura urbana, mais voltadas às hortas comunitárias. Rio Grande do Norte, São Paulo, Ceará, Santa Catarina e Minas Gerais são citadas. A autora destaca também a iniciativa da distribuição de mudas frutíferas em Lavras (MG) a preços inferiores, em um projeto chamado Pomar Doméstico, o qual visa garantir maior segurança alimentar à população e aumentar sua fonte de renda.

A inserção de árvores frutíferas traz uma série de vantagens se comparada às hortas urbanas: arrefecimento local, cobertura vegetal mais efetiva para o solo, minimizando os riscos de erosão hídrica, maior produção de oxigênio através da fotossíntese e absorção de gás carbônico, maior resistência à seca, frio e outras condições climáticas adversas, sombra ao local após estágio inicial de desenvolvimento, e necessidade de menores cuidados intensivos, por se tratarem de plantas perenes (HASTIE, 2003). Ainda, de acordo com o mesmo autor, se comparadas à arborização urbana convencional, apresentam como vantagens: a floração, que muitas vezes exala perfumes adocicados e agradáveis; a visita de pássaros e outros seres polinizadores e; a possibilidade de coleta de frutos, se bem conduzidas.

Foi objetivo deste artigo a discussão sobre as variáveis de implementação de pomares urbanos, tomando como estudo de caso 3 áreas públicas de uso livre localizadas na área urbana de São Carlos, município situado no centro do Estado de São Paulo.

2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Área de estudo

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Fig. 1 Sequência de aproximação da área de estudo: Brasil, com destaque ao estado de São Paulo; Estado de São Paulo, com destaque ao município de São Carlos e;

Município de São Carlos, com destaque à sua área urbana. Fonte: Elaboração própria.

Fig. 2 Bairros da área urbana de São Carlos em que se inserem as praças tomadas como áreas-piloto. Fonte: Elaboração própria.

São descritos os aspectos gerais do município de São Carlos, pelo fato de as três áreas discutidas estarem inseridas em sua área urbana. Sob as coordenadas geográficas 47º30´ e

48º30´ de longitude oeste e

21º30´ e 22º30´ de latitude sul, sua área municipal é de 1.136,907 km2 e sua área urbana de 67,25 km2. A população estimada do município é de 243.765 habitantes, e a densidade demográfica de 195,15 habitantes/km2 (IBGE, 2017). Possui dois distritos – Água

Vermelha e Santa Eudóxia.

A Tabela 1 apresenta características dos bairros e suas respectivas praças tomadas como áreas-piloto.

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Tabela 1 Caracterização de bairros e praças tomados como estudo de caso Informações/Bairro Jardim Araucária Jockey Clube Jardim Cardinalli Ano de formação do bairro 2015 1955 1974 População aproximada 2.025 7.500 1.300 Área da praça (m2) 3.300 8.000 4.600 Há infraestrutura no

espaço? Não Sim Sim

Número de diferentes espécies inseridas 14 12 12 Número total de exemplares arbóreos inseridos 84 26 33 2.2 Material utilizado

Para a identificação e contextualização geral do município, área urbana, bairros e áreas do sistema de espaços livres de uso público, foi feito o uso de SIG – Sistema de Informação Geográfica – através do software Quantum GIS, versão 2.18. Foram utilizadas imagens de satélite Quickbird, datadas de 2014, com resolução espacial de 0,5 metro, imagens do

Google Earth e cartas da prefeitura municipal de São Carlos. O sistema de projeção

adotado foi o SIRGAS 2000, fuso 23 Sul. Já para a passagem das informações do GPS para o computador, foi usado o software EasyGPS, versão 5.79.

Já para a análise da área e sua contextualização in loco, foram utilizados os seguintes materiais: um GPS de mão da marca Garmin, modelo e-Trex 30, uma trena aberta de 100 metros da marca Vonder, uma trena fechada de 5 metros da marca Lufkin e uma máquina fotográfica da marca Nikon, modelo D5100, com 16,2 megapixel de resolução. Como o foco deste artigo é a discussão sobre as variáveis que conduziram ao estabelecimento dos pomares urbanos, as caracterizações e detalhamento de cada área-piloto não serão abordados em sua forma gráfica.

A base teórica de artigos utilizada nesta investigação foi derivada de fontes como a Science

Direct e o Portal da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A implementação de pomares urbanos não comerciais, dentro desta proposta metodológica de ações, deve atender primeiramente aos seguintes preceitos gerais: áreas livres públicas disponíveis (ociosas ou subutilizadas), coesão social através da constituição de uma Associação de Moradores de Bairro aonde tais áreas forem selecionadas, e seleção de espécies frutíferas adaptadas à região.

De uma forma geral a proposta de ações está bastante alinhada ao Plano de Arborização Urbana de São Carlos – PDAU – por conta da promoção da arborização urbana, integração e envolvimento da população, busca pela revitalização de espaços urbanos, diversificação

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das espécies e proposição de um planejamento conjunto com o poder público local na execução de um projeto que traga benefícios ambientais e sociais. Além disso, esta proposta pode auxiliar o Plano de Manejo de Arborização Urbana da Coordenadoria de Meio Ambiente ao identificar novos espaços potenciais para o plantio em áreas de circulação humana.

Tal proposta de ações objetiva a produção de alimentos de qualidade (de forma acessível e em espaços públicos), e a coesão social e o aumento da sensação de pertencimento que os cidadãos devem resgatar e fortalecer quando se trata de um espaço público. Eis as variáveis, a seguir, apresentadas de forma genérica, onde não se relaciona o que foi executado em cada área-piloto:

a) Seleção do município e mapeamento da área urbana, com a distribuição espacial de seus bairros

Um mapeamento dos bairros urbanos do município é o início da investigação, que possibilitará a contextualização de seu número e dimensão. Tal atividade pode ser elaborada em ambiente de SIG – Sistema de Informação Geográfica - com o emprego de fonte de mapas e imagens provenientes do poder público municipal. Através do SIG é possível a contextualização geral das áreas e, depois, de cada praça de forma mais minuciosa.

b) Identificação das áreas livres de uso público

Etapa também realizada em ambiente de SIG, através da sobreposição de informações gráficas, a distribuição de áreas institucionais e de livres de uso público, sendo selecionadas apenas as últimas em cada bairro da cidade, baseadas em mapa disponibilizado pelo poder público municipal.

Como se trata de uma situação dinâmica - em que a constituição de Associação de Moradores pode estar em fase inicial, já estabelecida ou abandonada - esta etapa deve ser constantemente atualizada. Como fontes de consulta, sugere-se o poder público municipal, (Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano), pesquisa na internet da existência de estatutos e associações do município, e a consulta direta com organizações sociais locais.

c) Identificação e Diálogo das Associações de Moradores de Bairro

Antes da seleção do espaço, é necessário que haja uma investigação sobre quais bairros contam com Associações de Moradores de Bairro devidamente constituída. Depois disso, torna-se indispensável o contato, diálogo e consulta sobre a possibilidade do estabelecimento de tal parceria.

Para se efetivar o plantio e manutenção dos pomares é necessário que, após o aceite da Associação em participar deste projeto, seja determinada a área a ser adotada e quais espécies serão plantadas. Em alguns casos, o bairro pode contar com mais de uma área destinada ao sistema de áreas públicas livres, devendo ser de escolha dos associados, qual espaço será estrategicamente escolhido. Esta área deve ser necessariamente livre de uso público, uma vez que tais parcelas não podem ser convertidas em áreas institucionais.

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d) Caracterização da área selecionada a receber o pomar

A fim de serem mapeados os espaços vazios para inserção de espécies frutíferas, deve ser realizado um levantamento da área estudada, com auxílio de SIG e GPS de mão. Através do SIG, são vetorizados, sobre a imagem de satélite, os seus traços mais importantes, como contorno, caminhos cimentados internos e calçadas, equipamentos públicos e outros elementos. A referência de exemplares vegetais com altura superior a 2 metros de altura, ou aqueles de porte menor, mas que vêm sendo conduzidos de alguma forma por seus cuidadores, também é necessária, para que haja um mapeamento completo do local. As informações armazenadas no GPS podem ser transferidas via cabo para o computador, através de softwares disponíveis na rede, ou via bluetooth. para o software de SIG.

e) Definição, por parte da Associação, das espécies a serem inseridas

Para a seleção das espécies, pode ser realizado um levantamento das frutíferas cultivadas em escala comercial no município, através do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2006). A escolha, desta forma, pode ser baseada na produção histórica local de espécies que apresentem boas condições edafoclimáticas - aspectos relevantes a serem considerados durante a escolha das mudas que constituirão o pomar urbano.

A partir desta lista, a Associação deve selecionar quais frutíferas gostaria de cultivar nos espaços vazios da área de seu bairro. A seleção das espécies e sua localização específica, ocorrerá em função da disposição dos espaços livres e do porte da frutíferas selecionadas, quando adultas.

A inserção destas espécies deve seguir critérios de espaçamento e dimensionamento. É importante ressaltar que o espaçamento entre os exemplares pode diferir para mais do que aqueles citados pela literatura, posto que além das especificações técnicas, devem ser consideradas a função estética e a circulação das pessoas.

f) Mapeamento de tubulação de água e esgoto, fiação subterrânea elétrica e de telefonia ótica

Como o plantio envolve movimentação de terra com maquinário pesado, através da abertura de covas que podem chegar a profundidade de quase 1 metro, é prudente que seja solicitado junto aos órgãos responsáveis o mapeamento de tubulações que podem eventualmente passar sob estas áreas.

Para informações sobre possíveis tubulações de água e esgoto, deve ser contatada a autarquia responsável pelo serviço de fornecimento de água e coleta de esgoto. Quanto à investigação sobre a fiação enterrada, pode ser contatada a Secretaria de Serviços Públicos. Já para a verificação de existência de cabeamento ótico de telefonia, deve ser feito contato com a(s) operadora(s) de telefonia local (ou regional).

g) Preparo do terreno (pré-plantio)

Passadas as etapas de prospecção, o conjunto de ações seguinte consiste no pré-plantio. Após selecionadas as espécies e sua distribuição no espaço, deve ser preparado o solo para o futuro plantio das mudas, formado pelas seguintes etapas:

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Estaqueamento – etapa de definição local das futuras covas, com a demarcação nos

espaços vazios. As estacas deverão permanecer até o plantio, podendo ou não ser substituídas, conforme seu estado de conservação. Após o estaqueamento, uma área com diâmetro de 1 metro de seu entorno deve ser limpa (mecânica ou manualmente), permanecendo assim, para que o acesso e visualização sejam facilitados.

Adubação - Eis aqui a apresentação de uma idealização, ou seja, da ação mais correta para

que o solo esteja adequadamente preparado para receber as mudas. A análise química, através da coleta de amostras deveria ser feita, uma vez que tais áreas públicas provavelmente sofreram empobrecimento de sua camada mais superficial, através do revolvimento com máquinas de terraplanagem ou pela erosão laminar do solo. A coleta de solo resultará em uma amostra composta, em que em diversos pontos de todo o terreno são coletadas porções de terra (a uma profundidade de 0-20 cm). Esta amostra, ao final, é misturada representando toda a área. A análise e a recomendação técnica devem ser individualizadas, por espaço e por cultura. Portanto, para um espaço que vá contar com 12 espécies diferentes de fruteiras, seria necessário o custeio da análise de solo e de 12 recomendações técnicas diferentes. O custo aproximado para esta etapa seria de U$ 140,00, sem considerar o custo de envio das amostras.

Caso não seja possível a análise química do solo, recomenda-se a aplicação de esterco de gado curtido a uma proporção de 10-20 litros por cova, além da aplicação de calcário, cerca de 250 g por cova. Tal ação visa, respectivamente, fornecer mais nutrientes ao solo e garantir que sua acidez seja reduzida. Naturalmente, a segunda possibilidade é financeiramente mais acessível. No entanto, perde-se a precisão da real demanda nutricional para cada fruteira no espaço aonde será plantada.

Coveamento - com dimensões mínimas aproximadas de 0,60 m de profundidade, 0,60 m

de largura e 0,60 m de comprimento, o bom coveamento auxiliará no bom desenvolvimento da planta. Para solos mais compactados, estas dimensões podem ser maiores: 0,70m X 0,70m X 0,70m. As covas devem estar prontas, preferencialmente 2 a 3 meses antes do plantio, para que haja tempo para reação destes compostos (adubo e calcário) com a terra.

Composteira - Também faz parte dos preparos de pré-plantio, o dimensionamento e

implementação de uma composteira. Sua existência torna-se necessária, para que sejam absorvidos ao menos parte dos resíduos produzidos (frutos, folhas e pequenos galhos) e para que estes possam, após seu processo de decomposição, retornar ao solo em forma de composto orgânico, adubando as plantas. O dimensionamento da composteira ocorrerá em função da área trabalhada. Quanto maior a área e o número de exemplares frutíferos, maior deverá ser a composteira.

h) Acesso a água

O acesso à água é outro ponto determinante para o sucesso destes pomares urbanos, uma vez que o desenvolvimento inicial (e em épocas de estiagem) demanda este recurso em maior volume.

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i) Contrapartida do poder público municipal

Naturalmente, há um interesse do poder público que as praças da área urbana sejam bem cuidadas, que surjam iniciativas que as tornem melhores, mais limpas e frequentadas. Por outro lado, a implementação de um pomar urbano, passa necessariamente pela ajuda do poder público municipal, sendo demandadas atividades que vão além da simples manutenção (com podas temporárias) e não podem ser desenvolvidas pela Associação de Moradores de Bairro. Exigem maquinário pesado, autorização especial e envolvem riscos de acidente. Assim, ao ser informado (e depois solicitada tal parceria), o poder público municipal reconhece formalmente o projeto e propicia a melhoria destas áreas através das seguintes atividades, as quais podem ser em maior ou menor volume, dependendo das características e condições de cada espaço:

- Instalação ou reparo de pontos de água nas praças (Serviço Autônomo de Água e Esgoto);

- Remoção de exemplares mortos e destoca de suas raízes (motosserra e trator de esteira, respectivamente);

- Abertura de covas para plantio das mudas (trator com retroescavadeira). j) Treinamento de pessoal

A oferta de um treinamento básico a um grupo reduzido de Associados dos bairros envolvidos, propicia que sejam transferidas informações mínimas necessárias para uma boa condução dos pomares. Podas, adubações, regas e cuidados no controle das principais pragas e doenças estão no escopo deste treinamento, que poderá ser feito pelo autor do projeto (ou seus pares em conhecimento técnico). Desta forma, com tais conhecimentos adquiridos, pode haver uma multiplicação de saberes aos demais associados do bairro. k) Cronograma de atividades

A proposta aqui descrita pode ser desenvolvida em um período de 12 meses, ou até menos, a depender do sucesso de desenvolvimento de todas as variáveis elencadas. Ressalta-se que o condutor do projeto deve, preferencialmente, realizar o plantio das mudas na época de maior precipitação. Isso acarretará em menor mão-de-obra para a irrigação inicial, além de se realizar o plantio na época adequada para seu desenvolvimento pleno. Nada impede que o plantio seja realizado em outras épocas do ano, contanto que haja disponibilidade de água durante as épocas de menor ocorrência pluviométrica. O Quadro 1 apresenta uma proposta de cronograma a ser seguida.

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Quadro 1 Cronograma de atividades sugerido para implementação de pomar urbano. Fonte: Elaboração própria.

Mês Seleç. dos bairros e áreas Contato com as Assoc. Investig. do subsolo Seleção das Espécies Análise quím. do solo Prep. do terreno Estaq. e abertura das covas Aplic. de adubo e calcário Plantio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 l) Busca de parcerias

O aporte financeiro para a implementação de um pomar pode contar com o auxílio da Associação de Moradores de bairro e da universidade (através de reserva técnica). Uma contribuição externa, feita por empresas privadas, pode garantir o pleno desenvolvimento do projeto. Cada município pode ter programas específicos de auxílio à manutenção de praças, ou que favoreçam parcerias público-privadas a partir de redução de impostos ou outros mecanismos de facilitação.

***

A maior parte das variáveis propostas neste artigo foi aplicada nos estudos de caso. Com exceção da busca por parcerias e análise química do solo. A não busca por tais parcerias até o momento não invalida o projeto. Tais prospecções podem ser realizadas a qualquer instante, até porque as áreas necessitarão de manutenção constante, e o eventual auxílio com aporte financeiro posterior também é importante. Já quanto à análise química do solo, houve um consenso pela sua não realização, posto que o parecer técnico para mais de 1 dezena de espécies diferentes em cada praça (e para três espaços diferentes) encareceria expressivamente o projeto.

Não houve maiores dificuldades quanto a caracterização do objeto de estudo ou investigação da existência de Associações de Moradores de Bairro.

Os maiores entraves foram encontrados na baixa adesão dos Associados ao projeto, muito embora tenha havido aprovação e alinhamento ideológico para tal. Dificuldades, também, na morosidade para as repostas ou o desenvolvimento de tarefas por parte do poder público municipal.

Das três praças, o plantio ocorreu até o momento no Bosque das Cerejeiras (praça do bairro Jardim Cardinalli). Na praça do bairro Jockey Clube, os pontos de água ainda não foram instalados e no Jardim Araucária, os pontos foram instalados, mas ainda não foram testados. Na futura praça do Jardim Araucária, as mudas já foram encomendadas. Portanto, no caso da praça do Jardim Araucária, há um certo adiantamento em relação ao andamento das ações. O Quadro 2 apresenta a relação de espécies selecionadas para cada espaço.

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Quadro 2 Relação de fruteiras selecionadas para cada área-piloto.

Espécies frutíferas Bairro

Nome popular Nome científico Jardim Araucária

Jardim Cardinalli

Jockey Clube

Abacate Persea americana 4 - -

Acerola Malpigia emarginata 6 3 2

Amoreira Morus nigra 7 3 2

Araçá Psidium araçá Raddi - 3 -

Carambola Averrhoa carambola 4 - -

Cereja do Rio Grande Eugenia involucrata - 3 -

Coqueiro anão Cocos nucifera 9 - 3

Fruta do Conde Annona squamosa 8 - 2

Fruta do Sabiá Acnistus arborescens - 3 -

Goiaba Psidium guajava 3 - 2

Graviola Annona muricata - 3 -

Grumixama Eugenia brasiliensis - 3 3

Jabuticaba Plinia cauliflora 4 - 2

Laranja Citrus sinensis 20 - 2

Limão Citrus limon 11 - 1

Mamão Carica papaya 3 - -

Manga Mangifera indica 1 - -

Nêspera japonesa Eriobotrya japonica - 2 -

Pitanga Eugenia unifora 2 3 3

Pitomba Talisia esculenta - 2 -

Romã Punica granatum - 2 2

Uvaia Eugenia pyriformis 2 3 2

Total 22 84 33 26

A Figura 3 apresenta algumas fotos dos locais em momentos diferentes.

a

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Fig. 3 Atividades nas praças. (a) Supressão de árvore morta no Jd. Cardinalli; (b) Abertura de covas no Jockey Clube; (c) Plantio no Jardim Araucária.

4 CONCLUSÕES

Dadas as variações de abordagem e as demandas de informações de fonte pública, de fácil aquisição, a presente proposição apresenta-se com segura possibilidade de replicação. As plataformas eletrônicas para trabalho com SIG, também disponibilizadas de forma gratuita, permitiram a redução dos custos deste projeto em qualquer localidade. Os trabalhos pesados, de remoção de exemplares mortos (e suas respectivas destocas) e a abertura das covas nas dimensões técnicas recomendadas em áreas urbanas, são atividades habituais e inerentes ao poder público municipal, que dispõe de maquinário e pessoal apropriado para tal. O acesso a informações como rede de água, esgoto e fiação elétrica enterrada não oneram o projeto.

O gerenciamento do orçamento de cada Associação de Moradores de Bairro, ocorre de forma totalmente independente e autônoma, o que reflete no desenvolvimento e manutenção da praça adotada. Em nenhum caso, foi realizada a análise química do solo, por conta de contenção de despesas. Optaram por concentrar gastos na instalação dos pontos de água (além da mão-de-obra para tal), aquisição das mudas e das mangueiras para a realização das regas periódicas.

Os três espaços adotados como estudo de caso, portanto, embora se encontrem em momentos distintos e com organizações diversas, apresentaram caminhos parecidos quanto à adoção das variáveis aqui elencadas.

No caso específico deste estudo de caso, embora tenha recebido pouca adesão por parte de todos os Associados, a Associação de Moradores, representada pelos seus membros mais atuantes, e o poder público municipal (em nome do Coordenador de Meio Ambiente do município), se mostraram interessados e empenhados no desenvolvimento projeto, formado por suas diversas variáveis, e nos seus desdobramentos.

A perenidade das culturas selecionadas, seu potencial paisagístico, o poder de coesão frente a um objetivo comum, a produção de alimentos saudáveis a custos reduzidos e a tríplice base (universidade x poder público x sociedade civil organizada) nos cuidados com espaço, fazem do pomar urbano uma proposta de vanguarda para a gestão dos espaços públicos verdes das cidades brasileiras no Século XXI. Sem a atuação desta tríplice base, no entanto, o desenvolvimento das variáveis elencadas como ações para a implementação de pomares urbanos, torna-se praticamente inviável.

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5 REFERÊNCIAS

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