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O proprietário de microempresa e sua identidade profissional

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA LÚCIA HELENA BURIGO COLOMBO

O PROPRIETÁRIO DE MICROEMPRESA E SUA IDENTIDADE PROFISSIONAL

Palhoça 2009

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O PROPRIETÁRIO DE MICROEMPRESA E SUA IDENTIDADE PROFISSIONAL

Relatório de pesquisa apresentado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, como requisito parcial para obtenção do título de psicólogo.

Área de concentração: Psicologia e Trabalho Linha de pesquisa: Identidade profissional.

Orientador: Prof. Iúri Novaes Luna, Dr.

Palhoça 2009

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O presente trabalho refere-se à identidade profissional de proprietários de microempresas localizadas na região da Grande Florianópolis. Procura articular questões relacionadas à importância do trabalho na constituição da identidade do sujeito com as especificidades da condição de empresário e do lugar que este sujeito ocupa no mundo do trabalho. Tem por objetivo caracterizar a identidade profissional desses sujeitos identificando como eles nomeiam sua atividade profissional e como a atividade deles é nomeada pelos empregados de suas empresas; levantar atribuições mencionadas por eles como sendo de sua responsabilidade; comparar essas atribuições com aquelas definidas para ocupações similares na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, do Ministério do Trabalho e Emprego. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, caracteriza-se como estudo de caso do tipo exploratório e utiliza entrevista semi-estruturada com os proprietários de microempresas e preenchimento de formulário com os empregados das empresas para a coleta de dados. Utilizamos a modalidade de análise de conteúdo por meio da qual foi possível confrontar os dados obtidos com o referencial teórico. Ao final desse estudo, pudemos constatar que a identidade profissional do proprietário de microempresa se constrói num processo e em estreita relação com o desenvolvimento da empresa, nesse sentido, a figura do proprietário se confunde com a da empresa. Verificamos que os proprietários de microempresas demoram algum tempo para se nomearem como empresários, embora já o sejam do ponto de vista legal, a partir da constituição da empresa. Tal fato foi constatado nos dois casos em que a atividade de empresário é exercida há menos de 5 anos, sendo que estes sujeitos atuam no ramo do comércio. Os entrevistados com mais de 20 anos nesta condição se designam empresários e um deles, também vendedor, e atuam na indústria. Outra constatação foi a de que empresários que abriram sua empresa de prestação de serviços na área de sua formação acadêmica (veterinária) ou de exercício profissional anterior (eletricista), preferem se identificar como veterinário e eletricista. Finalmente, constatamos que há uma relativa semelhança entre a forma como os empresários nomeiam sua atividade profissional e a maneira como essa atividade é nomeada por seus empregados, inclusive no que diz respeito à

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1 INTRODUÇÃO ... 4 1.1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA ... 5 1.2 OBJETIVOS ... 8 1.2.1 Objetivo geral ... 8 1.2.2 Objetivos específicos ...8 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 9

2.1 TRABALHO E IDENTIDADE PROFISSIONAL ... 9

2.2 O PROPRIETÁRIO DE MICROEMPRESA NO MUNDO DO TRABALHO...15

2.2.1 Perspectivas do conceito de empresário ... 15

2.2.2 O proprietário de microempresa – quem é esse sujeito?... 19

3 MÉTODO... 23

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA... 23

3.2 PARTICIPANTES ... 24

3.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS... 26

3.4 ANÁLISE DE DADOS ... 30

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ... 31

4.1 ESTUDO DO CASO - JOAQUINA... 31

4.2 ESTUDO DO CASO - RUI... 38

4.3 ESTUDO DO CASO - CLÁUDIO... 43

4.4 ESTUDO DO CASO - MIRO... 48

4.5 ESTUDO DO CASO – ALDO ... 54

4.6 ESTUDO DO CASO – RUBENS ... 59

4.7 RELAÇÀO ENTRE OS CASOS ESTUDADOS... 64

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 66

REFERÊNCIAS ... 68

APÊNDICES ... 71

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista ... 72

APÊNDICE B – Formulário ... 74

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Empresário... 75

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade apresentar os resultados de uma pesquisa acerca da identidade profissional de proprietários de microempresas. Ao abordar essa questão faz-se necessário que se apresente uma contextualização em relação às mudanças já ocorridas e em curso no mundo do trabalho, bem como o significado de identidade profissional, o que consta na subseção “trabalho e identidade profissional” do referencial teórico.

Para se falar em identidade profissional é necessário que se identifique a profissão e se contextualize o exercício das atividades inerentes a ela, no caso do proprietário de microempresa, ao que nos parece, essa atividade ainda não possui uma nomeação consolidada socialmente, motivo pelo qual propomos o presente estudo. No entanto, é necessário conceituar os diversos termos utilizados para nomear a profissão bem como contextualizar o seu exercício, assunto abordado na subseção “o proprietário de microempresa no mundo do trabalho”.

Conforme dados obtidos junto ao site do Ministério do Trabalho e Emprego, em 2002 existiam 2.447.865 empresas com empregados no Brasil, sendo que este número passou para 2.935.448 em 2007, significando um aumento da ordem de 487.583. Deste total, 432.614 são empresas com até 19 empregados, ou seja, microempresas. Na região Sul, houve um aumento na quantidade de empresas na ordem de 110.519, deste total 100.985 é na microempresa. Considerando que a quantidade de novas empresas é maior do que o apresentado, uma vez que os dados apresentam a quantidade de empresas existentes, e para tanto, é preciso que as novas compensem a quantidade de empresas que encerraram suas atividades, podemos supor que há uma quantidade significativa de pessoas que estão preferindo correr os riscos inerentes ao próprio negócio, sendo necessário que se atualizem os conhecimentos nessa área.

As microempresas constituem campo de atuação para o profissional psicólogo, além disso, o proprietário da microempresa também é atendido pelos psicólogos em consultórios e outras áreas de atuação. Assim, conhecer melhor esses sujeitos e o que caracteriza o seu modo de trabalho e de vida, contribui para a prática profissional do psicólogo.

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Ao abordar a questão da identidade profissional do proprietário de microempresa, é necessário que levantemos algumas questões: afinal, ser proprietário de microempresa implica em ser empresário? Além disso, ser empresário é ou não uma profissão? Seria uma ocupação? Estas pessoas abrem um negócio e, na medida em que percebem que estão tendo retorno financeiro, vão ampliando suas instalações e/ou contratando mais pessoas. São eles que tomam as principais decisões inerentes à administração de sua empresa. No entanto, no nosso entender, não há, socialmente, uma clareza sobre a condição profissional destas pessoas. Muitas vezes se apresentam como sendo empresários, comerciantes, em outros casos continuam se identificando pelo exercício da profissão que deu origem ao negócio, como pode ser o caso de cabelereiros, mecânicos, pintores, etc.. Há ainda aqueles que respondem “eu tenho” uma sorveteria, uma oficina mecânica, uma loja, e assim por diante, quando indagados sobre sua profissão, demonstrando que nem eles próprios conseguem definir sua profissão, que implica necessariamente “um ser” algo.

Será que ser empresário caracteriza apenas uma condição de investidor que aplica seus recursos em uma atividade econômica? Neste caso o empresário não exerceria atividades da ordem da administração da sociedade? Isto é, não se envolveria com os negócios da empresa, não manteria contato com fornecedores, clientes, empregados etc., apenas aplicaria seus recursos e acompanharia os resultados financeiros esperando receber seu lucro ou decidindo pela retirada de seu capital, caso os rendimentos não lhe fossem satisfatórios. Não é este o conceito com o qual pretendemos trabalhar, mas com aquele que reconhece no empresário todas as atribuições inerentes ao gerir o seu negócio, conforme preconiza o Código Civil brasileiro, em seu artigo 966 (BRASIL, 2002).

Outra questão a ser considerada é o entendimento sobre o conceito de trabalho. Podemos ou devemos considerar o empresário como um trabalhador? Para Ferretti (1997, p.83) “trabalho é o processo através do qual o homem produz as coisas necessárias à sua existência. Como? Através da transformação da natureza.”

Entendemos que o empresário, tido como aquele que “toma a iniciativa de reunir fatores de produção numa empresa” (FERREIRA, 2004) é um trabalhador na

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medida em que cria as condições necessárias para que o trabalho de outros se realize. Não pretendemos ignorar o caráter lucrativo do trabalho do empresário, mas consideramos que este sujeito, muitas vezes, não é considerado um trabalhador devido à posição que ocupa na sociedade. Vivemos em uma sociedade capitalista, onde as relações de trabalho são baseadas na contradição capital e trabalho; em que, de um lado está o capital, o dono dos meios de produção e de outro os operários (reconhecidos socialmente como trabalhadores). Entretanto, encontramos neste contexto situações em que aquele que é dono do capital também trabalha, muitas vezes lado a lado com seus empregados, isso ocorre, principalmente com os proprietários de microempresas. Daí a importância de se conhecer melhor quem é esse ser social que habita o mundo do trabalho, o que pensa sobre o trabalho, suas dificuldades, quais suas motivações etc.

O artigo intitulado O Trabalho e seus Sentidos, de Morin e outros (2007, p.48), por exemplo, propõe que novas pesquisas sejam feitas sobre o sentido do trabalho, considerando dentre outras coisas, a função ou cargo exercido na empresa e condição social, o que sugere que se realizem pesquisas sobre o sentido do trabalho com sujeitos que se encontram em situação de emprego. Este mesmo artigo apresenta como resultado de uma pesquisa feita por afiliados do grupo MOW - Meaning of Work International Research Team, em mais de oito países, que em todos eles foi encontrado “[...] que o elemento salário faz parte da definição de trabalho [...]”. Não há, no entanto uma ressalva sobre a situação de emprego ou não dos trabalhadores entrevistados, o que nos leva a pensar que a literatura científica, frequentemente, considera como trabalhador apenas aquele que se encontra em situação de emprego, deixando de lado os proprietários de microempresas.

Entendemos que a condição de ser proprietário de microempresa representa a possibilidade de um trabalho distinto do trabalho assalariado, sendo este, um campo de pesquisa pouco explorado pela academia. Há trabalhos referentes ao modo de gerir as empresas, de como os empresários conduzem ou devem conduzir seus negócios, mas que não caracterizam a identidade profissional destes sujeitos. Neste sentido, estudos que caracterizem a identidade profissional de proprietários de microempresas, e outros que permitam compreender essa condição social, considerando estes sujeitos também como trabalhadores e não apenas sob a ótica de serem donos do capital, podem contribuir para a melhoria das relações que se estabelecem no mundo do trabalho de maneira atualizada em relação à realidade

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que permeia estas relações, respeitando as diferenças, mas ultrapassando os preconceitos existentes atualmente.

Entendemos que a nomeação da profissão ou ocupação implica em uma identidade profissional coletiva, sendo esta nomeação de fundamental importância para uma parcela da população que se vê esquecida dos programas governamentais enquanto indivíduos. Há programas de benefícios para as empresas, há programas que se preocupam com as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores assalariados, tais como FGTS e Seguro Desemprego. E quanto aos proprietários de microempresa, qual a proteção social que eles têm à sua disposição para situações de dificuldades? Até porque, até bem pouco tempo, a figura do empresário era visto como sinônimo de status e poder, geralmente vinculado à propriedade de grandes empresas, a mudança só ocorre a partir do Código Civil brasileiro de 2002, e ainda assim, essa mudança talvez não tenha surtido a repercussão desejada não só na sociedade como também no governo, uma vez que a CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, disponível no site do Ministério do Trabalho e Emprego ainda não apresenta a descrição da atividade do empresário enquanto proprietário de empresas em geral.

Entendemos que a caracterização da identidade profissional do proprietário da empresa é de fundamental importância para os trabalhos de psicologia na área de consultoria, mais especificamente no que diz respeito ao diagnóstico organizacional e encaminhamentos daí decorrentes. Não podemos esquecer que estes sujeitos também procuram pelos serviços do psicólogo em outras organizações. A psicologia tem muito a contribuir na prevenção de sofrimento psíquico para estes sujeitos se puder auxiliá-los no processo de condução de suas empresas, não só no ambiente organizacional como também na clínica. Mas para isso é preciso compreender o quanto os processos pelos quais passa a microempresa afetam a vida do empresário e vice-versa. Problemas financeiros na empresa se refletem no modo de vida e saúde do empresário, assim como o apoio ou divergências do empresário com sua família podem afetar a dinâmica da empresa.

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1.2.1 Objetivo geral

Caracterizar a identidade profissional de proprietários de microempresas.

1.2.2 Objetivos específicos

a) identificar como proprietários de microempresas nomeiam sua atividade profissional;

b) levantar atribuições mencionadas por proprietários de micro empresas como sendo de sua responsabilidade;

c) comparar as atribuições mencionadas pelos proprietários de microempresas pesquisados com as atribuições definidas para ocupações similares na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, do Ministério do Trabalho e Emprego;

d) identificar como a atividade de proprietários de microempresas é nomeada por seus empregados.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

No intuito de desenvolver uma compreensão prévia sobre o que envolve a identidade profissional de proprietários de microempresas, buscamos na literatura e informações que pudessem subsidiar a pesquisa. Assim apresentaremos inicialmente as questões relacionadas ao trabalho humano e identidade profissional, para em seguida contextualizar a condição de proprietários de microempresa.

2.1 TRABALHO E IDENTIDADE PROFISSIONAL

Considerando a importância que o trabalho representa na vida das pessoas e a amplitude do significado da palavra trabalho, entendemos necessário apresentar, primeiramente, algumas questões relacionadas ao conceito de trabalho. Genericamente entende-se como trabalho o processo pelo qual o homem age na natureza, transformando-a, de maneira a suprir as suas necessidades. Nesse sentido, pode-se entender o trabalho como atividade inerente à condição humana na medida em que se estuda o trabalho como fazendo parte da vida humana desde os primórdios da civilização.

No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2004) encontramos mais de vinte significados para o vocábulo “trabalho”, que pode ser entendido como a “aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim: o trabalho permite ao homem certo domínio sobre a natureza; divide bem o tempo entre o trabalho e o lazer”. Pode significar “atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento”, assim como “o exercício dessa atividade como ocupação, ofício, profissão, etc.” pode ou não ser assalariado ou remunerado, estar ou não associado à ideia de vínculo empregatício. Para a economia: “Atividade humana, considerada como fator de produção”. Também significa “serviço”, do latim servitiu, que pode ser traduzido como “a escravidão” ou “os escravos” e significa “ato ou efeito de servir”.

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O trabalho está relacionado, ainda, à ideia de dificuldade, incômodo e preocupação. Segundo Albornoz (1994), esta associação decorre do fato da palavra trabalho em português se originar do latim tripalium, que era um instrumento utilizado pelos agricultores para bater o trigo, as espigas de milho e o linho, para rasgá-los e esfiapá-los. Enquanto que a relação à ideia de tortura estaria ligada ao ato de trabalhar, do latim tripaliare, que significa torturar.

Há inúmeras outras questões inerentes ao conceito de trabalho incluindo as forças da natureza, o funcionamento das máquinas, os significados atribuídos pelas religiões ao longo dos tempos, que embora interessantes, fogem do propósito do presente trabalho. Assim, passaremos a tratar das questões mais específicas do trabalho enquanto atividade remunerada e que implica uma sobrevivência em um determinado contexto social.

Ao entendermos o trabalho como atividade inerente à condição humana não podemos deixar de considerá-lo sob o aspecto social. Segundo Ferretti (1997, p. 84) “[...] a ação que modifica a natureza não se limita estrita e exclusivamente à produção de bens materiais, mas à produção de condições que permitam aos homens viverem relacionando-se entre si e com a natureza”. É nesse processo de criação das condições materiais e espirituais da existência humana que se constitui o que se conhece por relações de produção. Assim, o trabalho, embora afete de maneira particular cada indivíduo, implica em um processo que se dá no âmbito social, mediante dependência e reciprocidade, e acompanha os processos de modernização em que as atividades se tornam cada vez mais complexas. Mais do que isso, a cada dia o fazer profissional precisa ser atualizado, surgem novas profissões, algumas profissões são extintas etc.

Uma das categorias apresentadas por Ferretti (1997, p.85) para se compreender como se realiza o trabalho é o processo de trabalho, ou seja, a maneira pela qual um objeto ou conjunto de objetos são transformados em um produto. Para tanto, o homem utiliza-se de sua energia vital (cérebro, músculos e membros) e dos meios de produção. Estes últimos representam os objetos de trabalho (matérias brutas, que se encontram na natureza, e/ou matérias-primas, aquelas que foram retiradas da natureza e já passaram por algum tipo de trabalho humano) e os chamados meios de trabalho (instrumentos de trabalho, instalações, locais de trabalho, vias de acesso e materiais auxiliares). Para facilitar a

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compreensão de como ocorre este processo, o autor estabelece as diferenças entre trabalho, força de trabalho e processo de trabalho:

[...] trabalho (que é o rendimento derivado da aplicação da força de trabalho aos meios de produção, resultando em algo concreto), força de trabalho (que é energia do trabalhador aplicada na produção) e o processo de trabalho (que é o processo pelo qual o trabalhador, aplicando sua força de trabalho aos meios de produção, obtém o produto). As forças que resultam da combinação e aproveitamento dos elementos que compõem o processo de trabalho são chamadas de forças produtivas. Elas determinam a produtividade do trabalho. (FERRETTI, 1997, p.86)

O que vemos atualmente é um crescimento na área de prestação de serviços, o que implica na necessidade de desenvolvimento do trabalhador, pois os conhecimentos, as habilidades e as atitudes, as chamadas competências profissionais, estabelecem o diferencial competitivo no mundo do trabalho. Historicamente o homem sempre teve que se adaptar às mudanças ocorridas no mundo do trabalho. Assim, o trabalho humano só pode ser compreendido levando-se em conta o levando-seu contexto. Em diferentes épocas e lugares podemos perceber diferenças nos processos de trabalho, nos meios de produção e na força de trabalho, uma vez que o trabalho implica em um modo de produção que é característico a cada época e lugar e está vinculado ao modo de vida de uma determinada sociedade, ou como afirma Ferretti (1997, p.87) “O modo de produção, portanto, mais que a produção de bens, diz respeito à maneira como o homem se organiza para produzir sua herança cultural (formas de pensar e agir, de morar, de comer, de se relacionar com os outros etc.)”

No modo de produção capitalista o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de dinheiro e de posse desse dinheiro vai buscar atender suas necessidades comprando bens e serviços. O valor pago a cada trabalhador vai depender de vários fatores, dentre eles a complexidade do trabalho desenvolvido, a necessidade de formação, o local onde esse trabalho é realizado, uma vez que varia de acordo com a condição econômica de cada país em determinado momento histórico etc. Com o dinheiro recebido, o trabalhador estabelece suas prioridades e faz escolhas de acordo com o que o mercado tem a lhe oferecer, dessa forma, o status social de cada trabalhador e de sua família varia de acordo com o que este pode comprar com o dinheiro que recebe por meio de seu trabalho.

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Morin e outros (2007, p.47-48) afirmam que a definição de trabalho já foi estudada em diversos países, por pesquisadores do grupo Meaning of Work International Research Team ([MOW], 1987) e que os resultados mostraram que “o sentido da atividade de trabalho pode assumir desde uma condição de neutralidade até a de centralidade na identidade pessoal e social”. Esses autores mencionam ainda vários estudos, em diversos campos do conhecimento que teriam mostrado “como o trabalho ocupa um lugar central na vida das pessoas e das sociedades industrializadas.” Não há, no entanto, consenso entre os estudiosos sobre o trabalho ser ou não central na vida das pessoas.

Luna (2005, p.84) cita as obras de Claus Offe (1989), sociólogo alemão e Zygmunt Bauman (2001) nas quais os autores defendem a idéia de que o trabalho perdeu a centralidade na sociedade contemporânea. Em contrapartida, apresenta os argumentos de Wanderley Codo (1997) e Ricardo Antunes (2002) para os quais o trabalho ainda é central na vida em sociedade.

Ao contrário daqueles autores que defendem a perda da centralidade da categoria trabalho na sociedade contemporânea, as tendências em curso, quer em direção a uma maior intelectualização do trabalho fabril ou ao incremento do trabalho qualificado, quer em direção à desqualificação ou à sua subproletarização, não permitem concluir pela perda desta centralidade no universo de uma sociedade produtora de mercadorias. (ANTUNES, 2002 apud LUNA, 2005, p.85)

Entendemos que o trabalho continua sendo central na vida das pessoas, determina onde moramos, como vivemos, com quem nos relacionamos etc. Não podemos ignorar uma tendência de busca pela qualidade de vida, jornadas de trabalho reduzidas, priorização da saúde em detrimento de bens materiais etc., mas consideramos que essas mudanças também afetam e são afetadas pelo trabalho. Mesmo pessoas que saem das grandes cidades para viverem em ambiente rural, precisam comercializar seus produtos para adquirir aqueles que não conseguem produzir, ou seja, ainda fazem parte da “sociedade produtora de mercadorias” mencionada por Antunes na citação acima, uma vez que não produzem apenas para consumo próprio e não produzem tudo o que precisam para viver.

A identidade do sujeito, por sua vez, se caracteriza a partir da percepção do próprio sujeito, da percepção dos outros em relação a ele e do que o sujeito imagina que seja a percepção que os outros tem a seu respeito. Para Dubar (2005, p. 136) a identidade é:

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[...] o resultado a um só tempo estável e provisório, individual e coletivo, subjetivo e objetivo, biográfico e estrutural, dos diversos processos de socialização que, conjuntamente, constroem os indivíduos e definem as instituições.

Luna (2005, p.79-80) ao apresentar as discussões sobre a centralidade do trabalho na vida humana nos tempos atuais, aborda a questão argumentando sobre a necessidade de se esclarecer o que se entende como trabalho e como identidade para que se possa então verificar, à luz dessas compreensões, se o trabalho ainda é ou não central na vida das pessoas e até que ponto ele “ainda se configura como uma referência primordial nos processos de construção de identidades”.

A construção da identidade individual só é possível a partir das relações sociais que se estabelecem com indivíduos diferentes, ou seja, quanto mais diversificado for o ambiente em que o indivíduo estiver inserido maior será a possibilidade de esse indivíduo sentir-se como dono de uma identidade única e exclusiva. Ou seja, a identidade individual é construída em um processo de diferenciação em relação a seus pares.

Com a crescente diferenciação da sociedade e a conseqüente individualização dos indivíduos, esse caráter diferenciado de uma pessoa em relação a todas as demais torna-se algo que ocupa um lugar particularmente elevado na escala social de valores. Nessas sociedades, torna-se um ideal pessoal de jovens e adultos diferir dos semelhantes de um modo ou de outro, distinguir-se – em suma, ser diferente [...] (ELIAS, 1994, apud LUNA, 2005, p.81).

Se a identidade se constitui no ambiente social, o trabalho e o ambiente no qual ele se realiza precisam ser considerados na caracterização da identidade do sujeito, daí a expressão identidade profissional. Para Dubar (2005, p.148) a saída do sistema escolar e a confrontação com o mercado de trabalho são acontecimentos importantes para a identidade social. A partir daí podemos pensar a identidade profissional. Segundo o autor:

É do resultado dessa primeira confrontação que dependerão as modalidades de construção de uma identidade ‘profissional’ básica que constitua não somente uma identidade no trabalho mas também e sobretudo uma projeção de si no futuro, a antecipação de uma trajetória de emprego e a elaboração de uma lógica de aprendizagem, ou melhor, de formação. (DUBAR, 2005, p.149)

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Segundo Luna (2005, p.80) a divisão do trabalho, contribuiu para o desenvolvimento de identidades individuais, mas por outro lado, com o passar do tempo, tem dificultado a construção de identidades profissionais.

A divisão do trabalho – em busca do controle da natureza e do aumento da produtividade – ocupa um lugar de destaque na passagem de uma situação onde os pensamentos e as ações eram perpetrados do ponto de vista do “nós”, para uma noção de pensamento e ação individuais. [...] se por um lado a necessidade de ser ‘diferente dos demais’ tornou-se, no decorrer do tempo, uma referência fundamental na construção da identidade individual, por outro lado a divisão do trabalho em uma série de especialidades distintas (tendo como conseqüência a crescente dependência mútua existente entre as pessoas), torna cada vez mais difícil a construção de identidades profissionais, de acordo com a concepção que temos do termo.

Luna (2005, p.81) entende identidade profissional como sendo “a auto-percepção do próprio sujeito e a auto-percepção de outrem sobre ele como alguém que desenvolve uma atividade necessariamente relacionada a um conhecimento e/ou habilidade específicos.” Assim, para se constituir a identidade profissional não basta que o sujeito saiba fazer algo, é preciso que ele se perceba como alguém que sabe fazer e que as pessoas com quem convive também o reconheçam nessa condição. Nesse sentido, por mais que uma pessoa estude e aprofunde seus conhecimentos em determinada área, isso não é suficiente para que se caracterize a sua identidade profissional naquela área.

Diante da diversidade e complexidade que a modernidade impõe ao mundo do trabalho, o trabalhador se vê diante de um dilema: especializar-se o máximo possível em algo muito específico dentro de uma determinada profissão, ou ser aquele que sabe apenas o necessário para garantir o seu sustento ou o cargo que ocupa em uma organização. De qualquer forma, seja qual for a decisão que tomar, não há garantia de seu emprego, uma vez que não depende somente dele, mas do que acontece no contexto em que vive. Há, ainda, a possibilidade de aventurar-se em um negócio próprio, onde não há garantia de renda mínima, direitos trabalhistas e outros benefícios inerentes à condição de empregado, mas se tem um pouco mais de autonomia.

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2.2 O PROPRIETÁRIO DE MICROEMPRESA NO MUNDO DO TRABALHO

Sendo o proprietário de microempresa o sujeito da nossa pesquisa, é fundamental que situemos esse sujeito no mundo do trabalho. Há especificidades em relação à sua atividade que merecem destaque. Abordaremos inicialmente as questões que envolvem o conceito de empresário, uma vez que entendemos ser adequada essa nomeação para designar a atividade exercida por esses sujeitos, apresentaremos parte da legislação que trata do assunto e, por fim, procuraremos situar esse sujeito no mundo do trabalho.

2.2.1 Perspectivas sobre o conceito de empresário

Entendemos que o proprietário de microempresa imbuído das responsabilidades de gerir o seu negócio, desenvolve atividades que caracterizam uma ocupação, e que, no nosso entender, deve ser nomeada de empresário. No entanto, não encontramos nomeação e especificação desta ocupação na CBO – Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e Emprego de modo a caracterizar tal exercício profissional. Na referida classificação a designação de empresário consta apenas como ocupação específica para o caso de empresário de espetáculo, e como sinônimo para empresário rural na agropecuária, não contemplando portanto, a significativa parcela de pessoas que desenvolvem esta atividade atualmente no Brasil e que denominaremos empresários no presente estudo.

A CBO foi instituída pela portaria ministerial nº. 397 de 2002, e, embora tenha por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, não pretende regulamentar o exercício profissional. Ainda assim, é referência de consulta, motivo pelo qual recorremos a ela para desenvolver nosso estudo.

Na tentativa de buscar elementos que contribuíssem para nossa reflexão sobre o que significa ser empresário, recorremos ao Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2004), onde o vocábulo pode significar “aquele que é responsável pelo bom funcionamento de uma empresa”, ou “agente econômico

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que, percebendo oportunidades de lucro, toma a iniciativa de reunir fatores de produção numa empresa”, pode significar também “aquele que se ocupa da vida profissional e dos interesses de pessoas que se distinguem por seu desempenho perante o público: o empresário de um pianista, de um boxeador”, ou ainda “referente a empresa”.

Decidimos então verificar os aspectos legais no que diz respeito à condição de proprietário de microempresa. De acordo com Fonseca (2008, p. 80-83), o uso do termo “empresário” para designar o proprietário de empresa, aparece legalmente no Brasil com o Código Civil de 2002, seguindo o Código Civil italiano de 1942 e adotando a concepção da empresa em substituição à teoria dos atos do comércio, na qual havia a figura do comerciante. Este entendido como sendo aquele que praticava os atos do comércio, ou seja, de intermediação entre o produtor e o consumidor, de caráter profissional, habitual e com intuito lucrativo, e que tinham como finalidade a circulação de mercadorias. O direito do comércio remonta à Idade Média e surgiu com a finalidade de proteger os comerciantes. A partir da Revolução Francesa e a edição do Código Civil francês de 1807, o direito comercial “não mais se aplicava indistintamente a todo e qualquer comerciante, mas apenas àqueles que faziam do comércio profissão habitual”. O Código Comercial brasileiro de 1850 também adotou esse conceito em seu art. 4º dispondo que “ninguém é reputado comerciante sem que faça da mercancia profissão habitual”.

Ao adotarmos o Código Civil de 2002 em substituição à lei do comércio, faz-se necessário que se conceitue os termos que surgem, legalmente, a partir daí, como é o caso do empresário.

O Código Civil brasileiro instituído pela lei 10.406 de 2002 apresenta o seguinte conceito de empresário:

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (FONSECA, 2008, p.82).

Consideramos importante mencionar os três elementos que, segundo Fonseca (2008, p.84-85) integram a noção de empresário. Primeiramente “o exercício da atividade econômica organizada deve se dar profissionalmente, ou seja,

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deve ser desempenhada repetidamente, com habitualidade, isto é, de modo não ocasional” (CORSI, 1992 apud FONSECA, 2008, p. 84). Isso não exclui as atividades praticadas de modo sazonal ou periódico uma vez que há regularidade nos intervalos, como também, aquelas exercidas para atingir uma única e determinada finalidade. Em segundo lugar, implica “o exercício de uma atividade econômica dirigida à produção e circulação de bens e serviços”. (CORSI, 1992 apud FONSECA, 2008, p.85). Estas atividades devem estar voltadas para o mercado no intuito de satisfazer as necessidades de terceiros e não as do empresário. Por último, Fonseca apresenta como elemento que integra a noção de empresário que, “o exercício de tal atividade deve se dar de modo organizado, ou seja, que nele se façam conjugar os elementos essenciais à produção ou circulação de bens e de serviços (trabalho, natureza e capital).”

Cabe esclarecer que para caracterizar a atividade empresarial há necessidade de haver um mínimo de atividade voltada para a organização dos fatores de produção, motivo pelo qual o Código Civil brasileiro em seu art. 966, parágrafo único, exclui do conceito de empresário atividades tidas como de profissionais liberais, que embora exercidas profissionalmente não implicam na organização dos fatores de produção. Entendemos que essa regra também se aplica a alguns serviços exercidos de maneira autônoma. Assim, a simples prestação de serviços que não implique em providenciar matéria-prima, controlar estoque, contratar e gerenciar pessoas, não pode ser considerada como atividade de empresário.

Ainda em relação ao Código Civil brasileiro, gostaríamos de apresentar alguns artigos que tratam da Sociedade Simples, e que, no nosso entender, têm contribuído para que proprietários de microempresa não tenham clareza quanto à nomenclatura de sua atividade econômica.

Art. 997. “A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;[...}

VI – as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;”

Art. 1.013: “A administração da sociedade, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios.”

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Art. 1.018: “Ao administrador é vedado fazer-se substituir no exercício de suas funções, sendo-lhe facultado, nos limites de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados no instrumento os atos e operações que poderão praticar.”

Entendemos que a utilização do vocábulo administrador tem feito com que conste em muitos contratos sociais a figura do administrador, ou sócio-gerente, como forma de distinguir os que são imbuídos da administração da sociedade, daqueles que apenas aplicam seu capital na sociedade, chamados de sócio-quotista. Assim, no capítulo da Sociedade Simples, o empresário assume a designação de sócio, e aquele imbuído das atribuições tidas como próprias das atividades do “empresário” assume a função de administrador. Nesse sentido, acreditamos que tal condição pode se confundir com a profissão de administrador constante na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho e Emprego sob o código 2521, cujo exercício profissional requer curso superior completo em Administração de empresas ou Administração pública, com registro no Conselho Regional de Administração (CRA).

Com relação à terminologia utilizada pelo Código Civil, no que diz respeito aos conceitos de empresário e empresa, há crítica de alguns autores, dentre eles, Fábio Ulhôa Coelho, para o qual:

A lei acaba dando ensejo a confusões entre o empresário pessoa jurídica e os sócios desta. A confusão aumenta, inclusive, pela distância existente entre os conceitos técnicos do direito e a linguagem natural. A pessoa jurídica empresária é cotidianamente denominada ‘empresa’, e os seus sócios são chamados ‘empresários’. Em termos técnicos, contudo, empresa é a atividade, e não a pessoa que a explora; e empresário não é o sócio da sociedade empresarial, mas a própria sociedade (COELHO, 2003 apud FONSECA, 2008, p. 88-89)

Tal situação se agrava entre os leigos que sequer utilizam as palavras empresa e empresário, ainda se fala em firma e patrão, e assim por diante. Há que se levar em conta, também, que a literatura que trata das formas de administrar pessoas, vem se utilizando do termo “organizações” para se referir às sociedades ou empresas. Segundo Coutinho (1999, p. 30) “o termo ‘organização de trabalho’ quer se referir aos espaços onde os atores sociais se organizam para, através de diferentes processos de trabalho, produzirem um serviço ou produto”.

Falta ainda abordarmos o conceito de empreendedor, que segundo Leite e Melo (2008, p.36) deriva do termo entrepreneur traduzido para o português como

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“empresário”, mas que vem sendo entendido como “empreendedor”, no sentido de “empresário bem sucedido”. As autoras apresentam a definição de empreendedor de Schumpeter, uma vez que este distingue o capitalista do empreendedor, de qualquer modo, o empreendedor caracterizaria uma condição temporária.

Mas, qualquer que seja o tipo, alguém só é um empreendedor quando efetivamente levar a cabo novas combinações, e perde esse caráter assim que tiver montado o seu negócio, quando dedicar-se a dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negócios. (SCHUMPETER, 1982 apud LEITE; MELO, 2008, p.37)

Já Malvezzi (1999, p. 66), em seu artigo intitulado Empregabilidade e Carreira apresenta o empreendedorismo como regra para a manutenção de um emprego e denomina esse trabalhador de agente econômico reflexivo, ou seja, aquele trabalhador que comprometido com os resultados, cria competências organizacionais, sociais e econômicas para realizar a transformação que o negócio exige. Assim, o conceito de empreendedor também vale para os empregados, não sendo exclusivo dos empresários.

Considerando o que foi exposto até aqui, podemos constatar que não há unanimidade em nomear a atividade do empresário, e entendemos que as alterações no âmbito legal, trazidas pelo Código Civil de 2002 são recentes e, talvez por isso, alguns proprietários de microempresas ainda não se reconheçam como empresários.

2.2.2 – O proprietário de microempresa – quem é esse sujeito?

Sabemos que é cada vez maior a quantidade de pessoas que decidem abrir o seu próprio negócio. Acreditamos que as contradições no mundo do trabalho têm contribuído para que isso ocorra. A ameaça constante do desemprego, a pressão por cumprimento de metas, a pressão para que os trabalhadores se identifiquem com os valores das grandes organizações, ainda que estes não vejam esses valores se materializarem nas ações daqueles que ocupam cargos mais elevados, empurram os trabalhadores que possuem alguma reserva financeira para uma condição que representa maior autonomia. Muitas vezes, estas reservas são

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constituídas pelos seus direitos enquanto trabalhadores assalariados, a exemplo do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), incentivos para demissão em massa etc. Há ainda, casos, em que a pessoa se utiliza do patrimônio da família ou herança.

Desse modo, ao constituir uma sociedade, ainda que uma microempresa, a pessoa se torna empresário, embora legalmente a constituição da figura de empresário preceda a da empresa, de qualquer forma, não é nosso interesse aqui discutir esta questão. O que nos interessa é constatar que a partir daí o empresário se torna um capitalista, passa a empregar outros trabalhadores e produzir bens e/ou serviços. Não deixa, no entanto de ser um trabalhador, pois, no caso da microempresa, em geral, trabalha lado a lado com seus empregados.

Almeida (2005, p. 33) ao comentar o assunto, transcreve o art. 2º da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, em que consta que “considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço”. Almeida salienta o aspecto relativo aos riscos da atividade econômica, uma vez que estes são exclusivamente do empregador, “não podendo o empregado sofrer qualquer dano em seus direitos em decorrência de queda nas vendas, retração dos negócios ou insolvência da empresa”.

O proprietário de microempresa investe seu dinheiro em uma atividade econômica, utiliza-se da mão-de-obra de outrem com o objetivo de obter lucro, e por isso caracteriza-se como um capitalista. No entanto, este sujeito mantém estreita relação com o ambiente produtivo, trabalhando muitas vezes lado a lado com seus empregados, o que o difere da visão que normalmente temos do capitalista, como sendo aquele que apenas investe seu capital e espera pelos lucros, sem se envolver com o trabalho. Talvez, no senso comum, estejamos confundindo a figura do capitalista com o co-usufrutuário mencionado por Marx, quando ele afirma que:

Contrariamente aos co-usufrutuários da mais-valia que não se encontram em tal relação direta e ativa com sua produção, a classe do capitalista é a classe produtiva por excelência (par excellence). (Como condutor do processo de trabalho, o capitalista pode executar trabalho produtivo no sentido de que seu trabalho se integra no processo de trabalho coletivo objetivado no produto).(MARX, 1978, p.80)

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Verifica-se que nem todas as pessoas que dispõe de um capital o arriscam na atividade produtiva. Há razões pessoais para que as pessoas se tornem empresários, além da possibilidade de obter lucro.

Tolfo e Piccinini (2007) afirmam que pesquisas realizadas pelo grupo MOW(1987) e por Morin (1996, 2001) demonstram que mesmo que tivessem dinheiro suficiente para sua subsistência, os entrevistados continuariam a trabalhar, pois o trabalho também representa uma oportunidade de se relacionar, de ter uma ocupação e ter objetivos. É curioso como as pessoas se sentem constrangidas quando se aposentam e passam a se identificar como “aposentados”, como se tivessem perdido o seu “saber-fazer” profissional. Assim, podemos entender o empresário que ao constituir uma sociedade, vê sentido em seu trabalho e identifica-se com a atividade que escolhe para deidentifica-senvolver, o que não significa dizer que sempre será assim. De qualquer modo, investe seu capital acreditando que terá condições de se manter no mercado.

Há, no entanto, teóricos que desvinculam a figura do empresário do capital. Fonseca menciona Marcondes, para o qual trabalho, natureza e capital constituem-se fatores de caráter objetivo, sendo que a esses fatores correspondem os fatores subjetivos:

[...] o trabalhador, detentor das faculdades pessoais, o proprietário, detentor dos bens naturais, e o capitalista, detentor dos capitais propriamente ditos. E, agora, a essas figuras se junta uma quarta – empresário – inteiramente distinta das precedentes e cujo papel é o de conjugar os bens do proprietário, as faculdades do trabalhador e o capital do capitalista, e de associar, na agricultura, indústria ou comércio, os três serviços produtivos”. (MARCONDES, 1970 apud FONSECA, 2008, p.85).

Cabe ao empresário, além de conjugar os fatores mencionados acima precisa estar atento às mudanças que ocorrem na sociedade e no mercado, uma vez que cabe a ele tomar as decisões estratégicas da empresa.

Sabemos que o modo de vida de uma sociedade muda ao longo do tempo, no entanto, é difícil percebermos como estas mudanças ocorrem quando estamos inseridos nesta sociedade. Segundo Ferretti, as relações de produção que observamos hoje não são as mesmas do passado, “ao contrário, não foram assim no passado e muito provavelmente não serão assim no futuro. O que se quer dizer é que as relações de produção não são naturais, mas sim históricas.” (FERRETTI, 1997, p.85)

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Socialmente, a figura do “empresário” é reconhecido como sendo os proprietários de grandes empresas, que possuem uma situação econômica privilegiada em relação à maioria da população, talvez daí resulte algum receio de proprietários de microempresas se reconhecerem como tal. Além disso, o número significativo de empresas que fecham antes de completar 5 anos de atividade, pode contribuir para uma imagem social negativa, fazendo com que os empresários esperem que a empresa dê sinais de que se manterá no mercado para que eles possam se sentir seguros em se designar como empresários. Luna (2005, p. 80) ao abordar as questões que envolvem a identidade profissional menciona o artigo “análise dos sistemas mundiais” de Wallerstein (1999, p.466), e destaca o trecho em que o autor “nos alerta sobre a necessidade de abrir para exame algumas categorias que, apesar de historicamente construídas, ‘são tão arraigadas no nosso subconsciente’ que se tornam naturais e impedem a exploração de muitas arenas do mundo real.” Nesse sentido, entendemos importante abordar a questão da identidade profissional desses empresários, a partir dos dados que eles próprios podem nos fornecer.

Acreditamos que os proprietários de microempresas assumem para si as decisões estratégicas do negócio, assim como o acompanhamento da produção e muitas vezes têm dificuldades para delegar poderes, seja pelo tamanho da empresa e quantidade reduzida de empregados, seja pela falta de conhecimentos e experiência, o que pode implicar em uma sobrecarga. Tal situação pode gerar um desgaste físico e emocional, principalmente em época de crise, pois o seu descanso também é administrado por ele, não há obrigatoriedade legal para que tirem férias, assim em situação de dificuldade financeira geralmente trabalham muito mais. O psicólogo no exercício profissional, em qualquer área de atuação pode vir a se deparar com questões que envolvem a vida do empresário, seja prestando atendimento a ele, à sua família, ou à empresa. Nesse sentido o presente estudo pode contribuir para que conheçamos um pouco mais esses sujeitos.

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3. MÉTODO

Apresentamos a seguir a maneira pela qual foi realizada a pesquisa com proprietários de microempresas na região da Grande Florianópolis/SC, no segundo semestre do ano letivo de 2009. Iniciamos com a caracterização da pesquisa para em seguida apresentar os participantes, abordamos as questões inerentes aos instrumentos e procedimentos de coleta de dados e finalmente descrevemos a maneira pela qual foram analisados os dados.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Realizamos uma pesquisa qualitativa cujo objetivo foi conhecer como se caracteriza a identidade profissional de proprietários de microempresas. A pesquisa caracteriza-se como estudo de caso do tipo exploratório, sendo que foram estudados os casos de 6 (seis) sujeitos.

De acordo com Chizzotti (2000, p. 102), o estudo de caso pode coletar e registrar dados de um caso em particular ou de vários casos com a finalidade de produzir um relatório ordenado, e crítico ou analítico. Assim, “o caso é tomado como unidade significativa do todo [...] É considerado também como um marco de referência de complexas condições socioculturais que envolvem uma situação.”

Segundo Gil (1999, p.43) as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.

Entendemos que o estudo da identidade profissional implica em considerar a complexidade que envolve a subjetividade humana e o mundo do trabalho, além disso, nosso objetivo diz respeito especificamente aos proprietários de microempresa cuja atividade econômica se diferencia dos trabalhadores assalariados e dos trabalhadores autônomos. Sendo assim, consideramos que o estudo de caso do tipo exploratório é o tipo de pesquisa que nos permite alcançar nosso objetivo.

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3.2 PARTICIPANTES

Participaram da pesquisa 6 (seis) proprietários de microempresas responsáveis pela administração das mesmas, e cujas empresas estão localizadas na região da Grande Florianópolis/SC. Inicialmente, pretendia-se que estes sujeitos estivessem na condição de administradores destas empresas há mais de 5 anos e que possuíssem participação no capital social em percentual superior a 50%. No entanto, diante da dificuldade em encontrar pessoas desconhecidas da pesquisadora, dispostas a participar da pesquisa e que se enquadrassem neste perfil, acabou-se por incluir participantes com mais de dois anos na administração da empresa e participação no capital social da empresa em percentual superior a 33%.

Para fins de identificação quanto ao porte da empresa adotamos o critério de quantidade de empregados de acordo com a classificação utilizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, para fins da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), constante no anuário RAIS, disponível no site do MTE. Assim, considera-se microempresas aquelas que possuem até 19 empregados declarados na RAIS (Relação Anual de Informações Sociais). Com o intuito de garantir o cumprimento do objetivo específico que pretende identificar como a atividade de proprietários de microempresas é nomeada por seus empregados, também foi considerado como critério para participação o fato da empresa possuir uma quantidade mínima de 4 empregados. Desta maneira, participaram da pesquisa proprietários de empresas que possuem entre 4 e 13 empregados.

Por ser este um estudo exploratório, e visando ampliar a possibilidade de coletar informações de realidades variadas, participaram da pesquisa 2 (dois) proprietários de empresas cuja natureza da atividade econômica está ligada à área do comércio, 2 (dois) da indústria e 2(dois) de prestação de serviços.

Com o objetivo de permitir um distanciamento entre pesquisador e pesquisado, tínhamos a intenção de não convidar para participar da pesquisa proprietários de microempresa conhecidos e com os quais tivéssemos algum tipo de contato ou que soubéssemos algo sobre sua atuação como empresário. Para tanto, contamos com a ajuda de familiares que indicaram pessoas, intermediaram contatos ou nos acompanharam na busca de participantes. O primeiro proprietário de microempresa, da área da indústria, foi convidado por intermédio de um empregado

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que é casado com uma pessoa da família da pesquisadora, diante de nossa solicitação houve uma concordância prévia, nos foi fornecido o telefone do empresário, telefonamos, verificamos se atendia os critérios, agendamos e realizamos a coleta de dados piloto.

Para o convite dos demais, percorremos ruas que não costumamos frequentar, uma vez que os sujeitos deveriam ser pessoas estranhas à pesquisadora. Ao longo de algumas quadras consultamos todas as empresas que poderiam atender aos requisitos, conseguimos agendar três coletas de dados para o dia seguinte, duas empresas do comércio e uma da indústria. Posteriormente, nos dirigimos a outro bairro percorremos várias quadras na busca de empresas na área de prestação de serviços, e não obtivemos sucesso. Recorremos à ajuda de um familiar que nos acompanhou em um terceiro bairro onde conseguimos identificar algumas empresas que atendiam aos requisitos, mas cujos sócios não puderam nos atender naquele momento, ficamos com cartões de visita para contato posterior. Destes, conseguimos agendar uma coleta de dados. O familiar que nos acompanhou neste último dia nos indicou outros dois proprietários de microempresa, sendo que os dois haviam passado a administração da empresa para seus filhos. Consultamos uma empresa indicada por outro familiar cujo proprietário concordou em participar.

Segue abaixo quadro com dados de identificação dos proprietários das empresas, sendo usados nomes fictícios para preservar a identidade dos participantes:

Nome fictício

idade Tempo de empresa

Área de atuação Escolaridade / formação

Joaquina 33 2 anos Comércio - floricultura Ensino médio completo Rui 22 2 anos Comércio - verdureira Ensino médio incompleto Cláudio 63 40 anos Indústria - móveis Ensino médio completo Miro 60 28 anos Indústria - papel Ensino médio completo

Aldo 52 9 anos Serviços – auto elétrica Ensino fundamental incompleto Rubens 40 13 anos Serviços - veterinária Pós – graduação

Quadro 1: Dados de identificação dos proprietários das empresas Fonte: elaboração da autora, 2009.

Também participaram da pesquisa os empregados das empresas geridas por estes empresários, cuja quantidade variou entre 4 e 13 empregados por

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empresa, e o total, considerando as 6 empresas, foi de 46 empregados, dos 51 que trabalham nestas empresas, conforme consta no quadro abaixo:

Nome fictício do empresário

Quantidade de empregados que trabalham na empresa

Quantidade de empregados que participaram da coleta de dados

Joaquina 5 5 Rui 8 7 Cláudio 4 4 Miro 10 9 Aldo 8 8 Rubens 16 13

Quadro 2: Quantidade de empregados na empresa e quantidade que participaram da coleta de dados Fonte: elaboração da autora, 2009.

Em três empresas, três empregados em uma delas, e um empregado em cada uma das outras, deixou de participar por não estar presente no momento da coleta de dados.

3.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Utilizamos como instrumentos de pesquisa a entrevista do tipo semi-estruturada com o proprietário da microempresa, cujo roteiro consta como apêndice A do presente estudo, e o preenchimento de um formulário para cada empregado, e este consta como apêndice B. Realizamos, também, consulta ao documento constitutivo da empresa, no caso do proprietário não lembrar a profissão que constava em seus dados de identificação no referido documento. Entendemos que estes instrumentos foram adequados e apresentaram condições para se atingir os objetivos propostos.

A entrevista é um procedimento adequado para pesquisa qualitativa, e consiste em uma conversa conduzida pelo entrevistador com objetivo de obter informações do entrevistado. No contexto da pesquisa a entrevista “serve como um meio de coleta de informações sobre um determinado tema científico” (NETO, 1994, p.57).

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Nesse estudo adotamos a modalidade de entrevista semi-estruturada a qual prevê a utilização de perguntas previamente formuladas, mas o entrevistado pode falar livremente sobre os temas abordados e a seqüência das perguntas não segue, necessariamente, a ordem constante no roteiro, uma vez que o entrevistador procura encaixar as perguntas na fala do entrevistado.

Optamos por utilizar formulário com os empregados por este instrumento permitir que a pesquisadora fizesse as perguntas e preenchesse o formulário com as respostas verbalizadas por cada um dos empregados.

Após a identificação de possíveis sujeitos que poderiam participar da pesquisa, os proprietários de microempresas foram contatados pessoalmente ou por telefone, com o objetivo de convidá-los a participar da pesquisa e confirmar se atendiam os critérios definidos. Havendo concordância por parte do empresário, explicamos as condições necessárias para a coleta de dados e agendamos a visita para a realização da coleta de dados.

Pretendíamos que quando do convite para a participação na pesquisa o proprietário da microempresa fosse informado sobre a duração aproximada da entrevista cuja previsão era de 30 a 45 min.; sobre a necessidade de se garantir disponibilidade de tempo para a coleta de dados; que os empregados deveriam ser comunicados sobre a pesquisa e que seriam convidados para participar durante o horário de trabalho; bem como da necessidade de local que garantisse o sigilo das informações para a realização da entrevista com ele. Na realidade, nem sempre foi possível prestar todos estes esclarecimentos, até porque, em dois casos conversamos com pessoas que trabalhavam com o proprietário e recebemos a confirmação de que eles concordavam em participar da pesquisa por telefone, e só falamos com eles no momento da entrevista.

A coleta de dados foi realizada em visita à sede das empresas. Ao chegarmos em cada empresa, antes de iniciarmos a coleta de dados, verificamos com cada empresário a melhor maneira de proceder, espaço físico disponível etc. Solicitamos que ele nos apresentasse aos empregados, ou indicasse alguém que pudesse nos acompanhar. Em alguns casos a entrevista com o empresário ocorreu antes do preenchimento dos formulários por parte dos empregados, em outros aconteceu o inverso, em decorrência de disponibilidade de tempo do empresário.

As entrevistas foram gravadas, mediante autorização no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Empresário, que consta como apêndice C, e

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posteriormente transcritas. Nenhum empresário optou pela não gravação da entrevista. Nas seis empresas, todos os formulários foram preenchidos pela pesquisadora, por meio de consulta individual a cada empregado, precedido da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Empregado, apêndice D.

Todos os participantes foram informados sobre a pesquisa, receberam os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), alguns preferiram que a pesquisadora lesse o TCLE, alguns fizeram algumas perguntas e todos os que estavam nas empresas durante a coleta de dados concordaram em participar da pesquisa. Em três empresas, três empregados em uma delas, e um empregado em cada uma das outras, deixou de participar por não estar presente no momento da coleta de dados, em uma delas a pesquisadora retornou no dia seguinte em horário diferente, mesmo assim não encontrou com o empregado. Os empresários foram alertados sobre a cláusula referente à autorização para gravação da entrevista que é exclusiva do seu TCLE. Após a assinatura do TCLE passamos à coleta de dados: entrevista ou formulário, conforme o caso.

Inicialmente realizamos uma coleta de dados piloto com o objetivo de verificar se as questões previstas eram de fácil compreensão e não geravam dupla interpretação, bem como verificar o tempo aproximado de duração da etapa de coleta de dados. Nessa etapa a entrevista com o proprietário de microempresa durou 19min:40seg. (tempo gravado) e foram preenchidos formulários com 9 empregados, o que demorou cerca de 60 minutos, considerando o tempo de leitura e assinatura dos TCLE, preenchimento dos formulários e entrada e saída de cada empregado na sala onde estava ocorrendo a coleta de dados.

Após a transcrição dessa entrevista, verificamos a necessidade de poucas alterações no roteiro de entrevista, no que diz respeito à ordem das perguntas. Desse modo, a coleta de dados piloto foi considerada para efeito de análise de dados.

Pretendíamos que a coleta de dados junto aos empregados fosse simultânea, pois tínhamos a preocupação de evitar que houvesse comunicação entre eles durante o processo, no intuito de garantir a particularidade nas respostas, o que não foi possível, devido à dinâmica de trabalho nestas empresas, assim, esta coleta ocorreu de maneira sucessiva, ou seja, os empregados eram chamados um a um, e retornavam a seus postos de trabalho assim que assinavam os TCLE e eram

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preenchidos os formulários. Em nenhuma das empresas observamos, durante a coleta de dados, conversa entre os empregados, ou respostas que indicassem que houve comunicação entre eles durante o processo. Nas primeiras empresas perguntamos aos empregados se preferiam escrever ou que a pesquisadora escrevesse e todos escolheram que a pesquisadora escrevesse, a partir da segunda ou terceira empresa passamos a preencher os formulários sem oferecer a opção dos próprios empregados preencherem. Em algumas empresas a pergunta que pedia para que os empregados dissessem porquê o dono da empresa (era dito o nome do sujeito) tinha a profissão mencionada pelo respectivo empregado, causou estranhamento, ou seja, eles nomeavam a profissão do proprietário da empresa mas tinham dificuldades em explicar porque estavam nomeando a profissão daquela maneira, o que é compreensível considerando a análise que foi feita em cada caso pesquisado.

As entrevistas tiveram duração entre 14 e 29 minutos. Não verificamos o tempo individual de coleta de dados com os empregados. Todas as entrevistas ocorreram em ambiente privativo. As entrevistas de menor duração foram na área de prestação de serviços. A entrevista com o sujeito Cláudio (fabricação de móveis) foi a que apresentou mais de uma interrupção e o barulho que vinha da oficina, por vezes impediu que eu o ouvisse, e por conta disso, a transcrição dessa entrevista foi a mais demorada e difícil. O tempo em que permanecemos em cada empresa para coleta de dados variou entre 2 e 3 horas, sendo que em uma delas foi necessário retornar no dia seguinte para coletar dados com alguns empregados que realizam atividades fora da empresa, sendo necessário que a coleta fosse feita no retorno deles à empresa, antes do intervalo para almoço.

Os dados de identificação da empresa foram obtidos a partir das informações prestadas pelos seus proprietários, e em alguns casos, após a entrevista, eles nos apresentaram o documento constitutivo da empresa para que pudéssemos consultar estes dados, assim como a profissão constante nos seus dados de identificação no referido documento.

Houve necessidade de contato telefônico posterior com dois participantes da pesquisa para que obtivéssemos a informação de sua jornada de trabalho, uma vez que esta informação surgiu em outras entrevistas e entendemos importante que constasse em todos os casos analisados.

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Ao sairmos de cada empresa agradecemos ao proprietário a atenção e disponibilidade em participar da pesquisa e informamos sobre a previsão de conclusão do estudo e forma de divulgação dos resultados.

3.4 ANÁLISE DE DADOS

Como as entrevistas foram gravadas, o seu conteúdo foi transcrito e os dados obtidos foram categorizados. As informações obtidas por meio dos formulários foram organizadas em quadros, separadas por empresa, o que permitiu que estes dados fossem analisados.

A categorização pretende estabelecer classificações. Segundo Gomes (1994, p. 70) “a palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si.”

Para fins de análise, os dados foram categorizados de acordo com as categorias definidas a posteriori, conforme segue:

Categoria Descrição

Identificação Dados de identificação da empresa e do empresário.

Trajetória Origem (família), histórico de trabalhou e/ou formação anterior à empresa, abertura e histórico da empresa.

Atribuições O que é de sua responsabilidade na empresa, o que delega e a quem.

Lugar no mundo do trabalho Se considera trabalhador. Jornada de trabalho. Origem do capital social da empresa.

Nomeação da profissão Qual a profissão que ele diz ter, como se apresenta em relação à profissão, preenchimento de cadastro. Profissão que consta no documento constitutivo da empresa. Como empregados nomeiam. Identidade O que é a profissão que ele menciona. Escolha e identificação com

a profissão. Características que precisa ter, as que ele tem e as que ajudam. Ter jeito para conduzir a empresa. Empresa ser bem sucedida. Pessoa de referência. Atividades com as quais não se identifica. Satisfação e insatisfação.

Tabela 1 - Categorias para análise Fonte: elaboração da autora, 2009.

De posse dos dados categorizados passamos à análise de conteúdo, quando pudemos confrontar os dados obtidos com o referencial teórico e efetuar pesquisa na CBO - Classificação Brasileira de Ocupações no intuito de verificar a descrição existente para as ocupações mencionadas pelos empresários, bem como

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verificar se encontrávamos outras profissões que apresentassem as atribuições mencionadas por estes empresários como sendo de sua responsabilidade. Foi nessa etapa do trabalho que pudemos verificar se os dados obtidos condizem com os argumentos apresentados na fundamentação teórica. Segundo Gomes (1994, p.74) “[...] através da análise de conteúdo, podemos encontrar respostas para as questões formuladas e também podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação (hipóteses).”

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo apresentamos os casos estudados a partir dos dados coletados, bem como as articulações possíveis com o referencial teórico constante no segundo capítulo do presente estudo.

Os casos estão na sequência por área de atuação, comércio, indústria e prestação de serviços, por considerarmos que dessa maneira facilitará o desenvolvimento de nossa análise e acompanhamento por parte do leitor.

4.1 ESTUDO DE CASO – JOAQUINA

Joaquina é proprietária de uma empresa no ramo de plantas ornamentais, em sociedade com duas irmãs, desde o início de 2007. A principal atividade da empresa é o comércio, sendo Joaquina responsável pela loja, uma de suas irmãs assumiu a manutenção das plantas, na área externa da loja, e a outra faz a prestação de serviços externos (confecção e manutenção de jardins). A empresa possui cinco empregados, sendo uma vendedora, uma florista, uma atendente e dois jardineiros.

A entrevistada tem 33 anos, cursou técnico em contabilidade e informou ter feito apenas um curso de arte floral, de 30 horas, relacionado à empresa. Ela é casada, seu marido é empresário, não tem filhos e vem de uma família de agricultores. Seus pais cursaram até a 4ª série do ensino fundamental, tem nove

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