Exemplo 1. Aplicando o teorema de Lagrange `a fun¸c˜ao f (x) = ex no intervalo
[ 0, x ] vemos que existe um c ∈ ]0, x[ tal que ex− e0
x − 0 = f′(c) = e
c
Como ec > 1 para c > 0 concluimos que (ex− 1)/x > 1 logo ex > x + 1 para
x > 0.
Podemos usar o teorema de Lagrange para estimar o erro cometido ao aproximar uma fun¸c˜ao pela sua recta tangente:
Exemplo 2. A aproxima¸c˜ao linear diz-nos que, para x ≈ 1, ln x ≈ ln 1 + (ln)′(1)(x − 1) = x − 1
Por exemplo, para x = 1.1 temos ln 1.1 ≈ 0.1. Podemos estimar o erro cometido aplicando o teorema de Lagrange `a fun¸c˜ao f (x) = ln x no intervalo [ 1, 1.1 ]. O teorema diz-nos que existe um c ∈ ]1, 1.1[ tal que
ln 1.1 − ln 1 1.1 − 1 = f′(c) = 1 c Como 1 < c < 1.1, 1 1.1 < 1 c < 1 1 Assim, 1 1.1 < ln 1.1 0.1 < 1 donde concluimos que
0.090909 . . . < ln 1.1 < 0.1
Portanto a aproxima¸c˜ao ln 1.1 ≈ 0.1 ´e por excesso e o erro ´e inferior a 0.01.
1. Propriedades da derivada
Recorde que f′
d(a) ´e a derivada de f `a direita em a e f′(a+) ´e o limite `a direita de
f′: fd′(a) = lim x→a+ f (x) − f(a) x − a e f ′(a+) = lim x→a+f ′(x) f′
d(a) e f′(a+) est˜ao estreitamente relacionadas:
Teorema 1: Seja f uma fun¸c˜ao cont´ınua em [ a, b ] e diferenci´avel em ]a, b[ e vamos supor que existe o limite
lim
x→a+f
′(x) = f′(a+)
Ent˜ao a derivada de f `a direita em a existe e ´e igual a f′(a+).
Analogamente, se f′(b−) existir, f tem derivada `a esquerda f′
Demonstrac¸˜ao. Seja x > a. Pelo teorema de Lagrange aplicado ao intervalo [ a, x ] existe um cx∈ [ a, x ] tal que
f (x) − f(a) x − a = f
′(c x)
Agora, como a < cx < x, se x → a ent˜ao tamb´em cx → a. Assim, substituindo
u = cx, lim x→a+ f (x) − f(a) x − a = limx→a+f ′(c x) = lim u→a+f ′(u) = f′(a+)
A demonstra¸c˜ao para os limites `a esquerda ´e completamente an´aloga. Exemplo 3. Consideremos a fun¸c˜ao
f (x) =®x
3+ 2x2+ x x ≥ 0
sen2x x < 0
f ´e cont´ınua em x = 0 pois f (0+) = f (0−) = f (0) = 0. Para x 6= 0 f ´e diferenci´avel
com derivada
f′(x) =®3x2+ 4x + 1 x > 0
2 sen x cos x x < 0 Ent˜ao f tem derivadas laterais em x = 0 dadas por f′
d(0) = f′(0+) = 1 e fe′(0) =
f′(0−) = 0. Como as derivadas laterais s˜ao diferentes, f n˜ao ´e diferenci´avel em
x = 0.
´
E importante real¸car que as derivadas laterais de f podem existir mesmo quando os limites lim x→a±f ′(x) n˜ao existem! Exemplo 4. Seja f (x) =®x 2sen 1 x x > 0 x2 x ≤ 0
Vamos ver que f ´e diferenci´avel em todos os pontos. Para x < 0, f′(x) = 2x. Assim
f′ e(0) = f′(0−) = 0. Para x > 0, f′(x) = 2x sen 1 x + x2 −x12
cos 1x= 2x sen x1− cos x1
O limite lim
x→0+f
′(x) n˜ao existe pois cos 1 x
n˜ao converge. Mas a derivada `a direita existe! f′ d(0) = lim x→0+ f (x) − f(0) x − 0 = limx→0+ x2sen 1 x − 0 x = limx→0+x sen 1 x = 0 Como as derivadas laterais existem e s˜ao iguais, f ´e diferenci´avel em x = 0 com derivada f′(0) = f′ d(0) = fe′(0) = 0. Assim f′(x) = 2x sen x1− cos x1 x 6= 0 0 x = 0 2x x < 0
Mas f′n˜ao ´e cont´ınua em x = 0 pois como vimos o limite lim x→0+f
Como acab´amos de ver, a fun¸c˜ao derivada f′ pode n˜ao ser uma fun¸c˜ao cont´ınua.
As fun¸c˜oes com derivada cont´ınua dizem-se de classe C1:
Defini¸c˜ao 2: Dizemos que uma fun¸c˜ao f ´e de classe C1 num conjunto A ⊂ R se
a derivada f′ existir e for cont´ınua em A. Escrevemos ent˜ao f ∈ C1(A).
Exemplo 5. As fun¸c˜oes sen x, cos x e ex s˜ao de classe C1 em R. As fun¸c˜oes ln x e
√
x s˜ao de classe C1em ]0, +∞[ .
2. Derivadas de ordem superior
Como j´a referimos, o c´alculo da derivada duma fun¸c˜ao f : D → R produz uma nova fun¸c˜ao f′, a derivada de f , cujo dom´ınio ´e o conjunto dos pontos em que
f ´e diferenci´avel. Nada nos impede ent˜ao de aplicar novamente a opera¸c˜ao de diferencia¸c˜ao, para obter a derivada de f′, que dizemos ser a segunda derivada de
f . Existem v´arias nota¸c˜oes para a segunda derivada de f . As mais comuns s˜ao f′′(x) e d dx df dx = d2f dx2
Podemos derivar de novo, obtendo a terceira derivada, e assim sucessivamente. Mais precisamente, a derivada de ordem n da fun¸c˜ao f , representada por f(n), define-se
por recorrˆencia:
• A derivada de ordem 0 de f ´e a pr´opria fun¸c˜ao: f(0)= f
• A derivada de ordem n + 1 de f ´e a fun¸c˜ao f(n+1)= f(n)′.
´
E costume representar as derivadas de ordem 1, 2 e 3 por f′, f′′ e f′′′
respectiva-mente. Outra nota¸c˜ao frequente, a chamada nota¸c˜ao de Leibnitz, ´e f(n)(x) = d
nf
dxn
Exemplo 6. Seja f (x) = 1 + x + 2x2+ 3x3+ 4x4. Ent˜ao
f′(x) = 1 + 4x + 9x2+ 16x3 f′′(x) = 4 + 18x + 48x2 f′′′(x) = 18 + 96x f(4)(x) = 96 f(5)(x) = 0 e f(n)(x) = 0 para qualquer n ≥ 5.
Exemplo 7. Se f (x) = ex, ent˜ao a derivada f(n) existe para qualquer n ∈ N, e
Exemplo 8. Se f (x) = sen x, ent˜ao f′(x) = cos x pelo que f′′(x) = (cos x)′ =
− sen x. Obtemos sucessivamente
f(3)(x) = − cos x, f(4)(x) = sen x, f(5)(x) = cos x, . . . A defini¸c˜ao de fun¸c˜oes de classe C1 pode ser facilmente generalizada:
Defini¸c˜ao 3: Seja f : D → R uma fun¸c˜ao, I ⊂ D um intervalo aberto.
• Dizemos que f ´e uma fun¸c˜ao de classe Cn em I, e escrevemos f ∈ Cn(I), se
f(n) existir e for cont´ınua em todo o intervalo I.
• Dizemos que f ´e uma fun¸c˜ao de classe C∞ em I se f ∈ Cn(I) para qualquer
n ∈ N.
Repare que f ∈ C0(I) significa simplesmente que f ´e cont´ınua em I.
Observac¸˜ao: Se f(n) existe ent˜ao todas as derivadas f(k) at´e `a ordem n s˜ao
cont´ınuas pois para k < n, f(k) ´e diferenci´avel.
Ilustramos estas no¸c˜oes com alguns exemplos:
Exemplo 9. Consideremos a fun¸c˜ao f : R → R definida por f (x) =®0 , se x < 0;
x2, se x ≥ 0.
Ent˜ao f′(x) = 0 para x < 0 e f′(x) = 2x para x > 0. Logo f′(0+) = f′(0−) = 0
pelo que f ´e diferenci´avel em zero com derivada f′(0) = 0. Ou seja,
f′(x) =®0 , se x < 0; 2x , se x ≥ 0.
Esta derivada f′´e cont´ınua em todo o R portanto f ∈ C1(R). Calculando a segunda
derivada obtemos para x 6= 0
f′′(x) =®0 , se x < 0; 2 , se x > 0. No entanto, f′ n˜ao ´e diferencivel em x = 0, porque f′′
e(0) = f′′(0−) = 0 e fd′′(0) =
f′′(0+) = 2. Assim, f /∈ C2(R).
Exemplo 10. A fun¸c˜ao exponencial f : R → R, dada por f(x) = ex, ´e uma fun¸c˜ao
de classe C∞(R). Para qualquer n ∈ N, a n-´esima derivada de f existe e ´e cont´ınua
em todo o R:
f(n): R → R , dada por f(n)(x) = ex
3. Monotonia e pontos cr´ıticos
Vamos agora ver como o sinal da derivada duma fun¸c˜ao afecta a forma do seu gr´afico. Uma fun¸c˜ao crescente tem taxa de varia¸c˜ao ∆f∆x positiva em qualquer in-tervalo, e em particular, dxdf ≥ 0. Analogamente, dxdf ≤ 0 para qualquer fun¸c˜ao f
decrescente. Vamos agora ver que o rec´ıproco tamb´em ´e verdade, desde que f esteja definida num intervalo:
Teorema 4: Dada uma fun¸c˜ao f cont´ınua em [a, b] e diferenci´avel em ]a, b[ temos: (a) Se f′ = 0 em ]a, b[ ent˜ao f ´e constante em [ a, b ];
(b) Se f′ > 0 em ]a, b[ ent˜ao f ´e crescente em [ a, b ];
(c) Se f′ < 0 em ]a, b[ ent˜ao ´e decrescente em [ a, b ].
Demonstrac¸˜ao. Pelo teorema de Lagrange, dados quaisquer x1, x2 ∈ [a, b] com
x1< x2, existe um c ∈ ]x1, x2[ tal que
f (x2) − f(x1)
x2− x1
= f′(c)
ou, escrito doutro modo,
f (x2) − f(x1) = f′(c)(x2− x1)
Assim, ∆f = f (x2) − f(x1) tem o mesmo sinal de f′(c):
(a) Se f′ = 0 em ]a, b[ ent˜ao f′(c) = 0 logo f (x1) = f (x2) para quaisquer
x1, x2∈ [ a, b ]. Portanto f ´e constante.
(b) Se f′ > 0 em ]a, b[ ent˜ao f′(c) > 0 logo f (x
2) > f (x1). Concluimos que f ´e
crescente.
(c) Se f′ < 0 em ]a, b[ ent˜ao f′(c) < 0 logo f (x2) < f (x1) portanto f ´e
decres-cente.
Exemplo 11. Consideremos a fun¸c˜ao f : [−1, 2] → R definida por f(x) = x3− x.
A derivada f′(x) = 3x2− 1 ´e uma par´abola com zeros em x = ±1/√3. Assim:
• f′(x) > 0 em ] − 1, −1/√3[ e em ]1/√3, 2[ logo f ´e crescente em [ −1, 1/√3 ]
e em [ 1/√3, 2 ] (mas n˜ao na uni˜ao!);
• f′(x) < 0 em ] − 1/√3, 1/√3[ logo f ´e decrescente em [ −1/√3, 1/√3 ].
´
E costume representar o comportamento de f e f′ numa tabela:
−1/√3 1/√3
f′ + 0 − 0 +
f ր ց ր
´
E claro observando a tabela que o ponto x = −1/√3 ´e um m´aximo local e o ponto
x = 1/√3 ´e um m´ınimo local de f .
No exemplo 11 vimos que o sinal da derivada n˜ao s´o nos permite estudar a mono-tonia da fun¸c˜ao mas tamb´em nos permite detectar m´aximos e m´ınimos locais, que ocorrem em pontos onde a derivada se anula.
• Se f ´e crescente em [ a, c ] e decrescente em [ c, b ] ent˜ao c ´e um m´aximo local de f .
• Se f ´e decrescente em [ a, c ] e crescente em [ c, b ] ent˜ao c ´e um m´ınimo local de f .
Deixamos a demonstra¸c˜ao como exerc´ıcio.
Defini¸c˜ao 6: Um ponto c onde f′(c) = 0 chama-se um ponto cr´ıtico de f .
M´aximos e m´ınimos locais s˜ao pontos cr´ıticos mas h´a pontos cr´ıticos que n˜ao s˜ao nem m´aximos nem m´ınimos. O estudo do sinal da derivada permite-nos distinguir estas situa¸c˜oes:
Exemplo 12. Seja f (x) = 3x4− 4x3. Ent˜ao f′(x) = 12x3− 12x2= 12x2(x − 1).
f′ anula-se em 0, 1 e o seu sinal ´e o sinal de x − 1:
0 1
f′ − 0 − 0 +
f ց ց min. ր
Assim, f ´e decrescente para x ≤ 1 e crescente para x ≥ 1, tendo um m´ınimo absoluto em x = 1. x = 0 ´e um ponto cr´ıtico mas n˜ao ´e um extremo de f .
4. Concavidade
Dizemos que uma par´abola ax2+ bx + c tem a concavidade voltada para cima se
a > 0 e voltada para baixo se a < 0. Podemos generalizar esta no¸c˜ao a outras fun¸c˜oes diferenci´aveis:
Defini¸c˜ao 7 (Concavidade): Seja f : D → R uma fun¸c˜ao diferenci´avel, A ⊂ D. Dizemos que
(a) f ´e convexa em A, ou f tem a concavidade voltada para cima em A, se o gr´afico de f estiver por cima de todas as suas rectas tangentes, ou seja, se
f (x) ≥ f(a) + f′(a)(x − a)
para quaisquer a, x ∈ A.
(b) f ´e cˆoncava em A, ou f tem a concavidade voltada para baixo em A, se o gr´afico de f estiver por baixo de todas as suas rectas tangentes, ou seja, se
f (x) ≤ f(a) + f′(a)(x − a)
Figura 1. Fun¸c˜ao convexa (`a esquerda) e cˆoncava (`a direita).
Exemplo 13. Seja f (x) = cx2. A recta tangente ao gr´afico de f num ponto a ´e
y = f (a) + f′(a)(x − a) = c a2+ 2c a(x − a)
Comparando com f (x) temos
f (x) − f(a) + f′(a)(x − a)= c x2
− c a2− 2c a x + 2c a2 = c x2− 2a x + a2 = c(x − a)2
Assim, o gr´afico de f est´a por cima da recta tangente para c > 0 e por baixo da recta tangente para c < 0. Portanto o sinal de c determina a concavidade da
par´abola, como era de esperar.
Observando a figura 1 vemos que, se f tem a concavidade voltada para cima, o declive da recta tangente aumenta `a medida que x aumenta, portanto f′´e crescente.
Assim, a sua derivada (f′)′ = f′′ ≥ 0 ´e positiva. Analogamente, se a concavidade
estiver voltada para baixo, f′´e decrescente pelo que f′′≤ 0. Reciprocamente temos
o
Teorema 8: Seja f uma fun¸c˜ao duas vezes diferenci´avel num intervalo aberto I = ]a, b[ .
(1) Se f′′(x) > 0 em I, ent˜ao f tem a concavidade voltada para cima em I.
(2) Se f′′(x) < 0 em I, ent˜ao f tem a concavidade voltada para baixo em I.
Demonstrac¸˜ao. Provaremos apenas (1) pois a demonstra¸c˜ao de (2) ´e completa-mente an´aloga. Queremos mostrar que para quaisquer x, a ∈ I,
f (x) ≥ f(a) + f′(a)(x − a)
Para x = a n˜ao h´a nada a demonstrar. Vamos assumir que x > a deixando o caso x < a como exerc´ıcio. Pelo teorema de Lagrange existe um c ∈ ]a, x[ tal que
f (x) − f(a)
x − a = f′(c)
Como f′′(x) > 0, f′ ´e crescente. Assim, como c > a, f′(c) > f′(a):
f′(c) = f (x) − f(a)
x − a > f
Como x > a, podemos multiplicar por x − a sem alterar o sentido da desigualdade: f (x) − f(a) > f′(a)(x − a)
Assim, f ´e convexa em I.
Exemplo 14. Voltamos ao exemplo 11 em que f (x) = x3− x. Como f′′(x) = 6x,
temos que:
f′′(x) < 0 para x < 0 e f′′(x) > 0 para x > 0.
Assim o gr´afico de f tem a concavidade voltada para baixo em ] − 1, 0[ e a conca-vidade voltada para cima em ]0, 2[ . Juntando esta informa¸c˜ao com a informa¸c˜ao obtida no exemplo 11 podemos construir a tabela:
−1/√3 0 1/√3
f′ + 0 − − − 0 +
f′′ − − − 0 + + +
f ր ∩ max. ց ∩ ց ∪ min. ր ∪
Podemos agora esbo¸car o gr´afico de f .
GRAFICO
No exemplo 14 o ponto x = 0 ´e um ponto em que a concavidade muda de sentido: a fun¸c˜ao ´e cˆoncava `a esquerda de zero e convexa `a direita. Chamamos a x = 0 um ponto de inflex˜ao:
Defini¸c˜ao 9 (Ponto de inflex˜ao): Dizemos que f tem um ponto de inflex˜aoem c se existir um δ > 0 tal que f ´e convexa num dos intervalos ]c − δ, c[ ou ]c, c + δ[ e cˆoncava no outro.
Exemplo 15. Voltamos ao exemplo 12 em que f (x) = 3x4− 4x3. Ent˜ao f′′(x) =
36x2− 12x. A segunda derivada ´e uma par´abola com zeros em x = 0 e x = 1 3.
Assim
• f′′(x) < 0 para 0 < x < 1
3 logo f tem a concavidade voltada para baixo no
intervalo0,1 3
;
• f′′(x) > 0 para x < 0 e x > 1
3 logo f tem a concavidade voltada para cima
nos intervalos ] − ∞, 0[ e1 3, +∞
;
• Assim, os pontos 0 e 13 s˜ao pontos de inflex˜ao.
Juntando esta informa¸c˜ao com a informa¸c˜ao obtida no exemplo 12 podemos cons-truir a tabela:
0 1/3 1
f′ − 0 − − − 0 +
f′′ + 0 − 0 + + +
Podemos agora esbo¸car o gr´afico de f , tendo em conta que f′(0) = 0 logo a tangente
ao gr´afico ´e horizontal nesse ponto.
GRAFICO
Se c ´e um ponto cr´ıtico de f (isto ´e, f′(c) = 0) ent˜ao a recta tangente ao gr´afico de
f em c ´e horizontal. Se f for convexa numa vizinhan¸ca V de c ent˜ao o gr´afico est´a por cima da sua recta tangente:
f (x) ≥ f(a) + f′(a)(x − a) = f(a) para x ∈ V
Portanto a fun¸c˜ao tem um m´ınimo em c. Esta observa¸c˜ao leva-nos ao
Teorema 10: Seja f uma fun¸c˜ao diferenci´avel no intervalo I =]a, b[ e c ∈ I um ponto cr´ıtico de f . Ent˜ao
(a) Se f′′(c) > 0, a fun¸c˜ao f tem um m´ınimo local em c;
(b) Se f′′(c) < 0, a fun¸c˜ao f tem um m´aximo local em c.
Demonstrac¸˜ao. Vamos apenas provar (a) pois a demonstra¸c˜ao para (b) ´e comple-tamente an´aloga. Se assumirmos que f′′´e cont´ınua ent˜ao, como f′′(c) > 0, f′′> 0
numa vizinhan¸ca de c logo f ´e convexa numa vizinhan¸ca de c. Pelas oberva¸c˜oes
acima, f tem um m´ınimo local em c.
Sem assumir que f′′
´e cont´ınua a demonstra¸c˜ao ´e um pouco mais complicada. Que-remos mostrar que existe uma vizinhan¸ca de c na qual f (x) ≥ f (c). Se f′′
(c) > 0, f′′ (c) = f′′ d(c) = lim x→c+ f′ (x) − f′ (c) x − c = limx→c+ f′ (x) x − c > 0
Assim, para x > c suficientemente pr´oximo de c podemos garantir que f′(x) x−c > 0.
Como x > c, concluimos que f′
(x) > 0. Mais precisamente, existe um δ1 > 0 tal
que
c < x < c + δ1=⇒ f ′
(x) > 0
Mas ent˜ao f ´e crescente no intervalo [ c, c + δ1[ pelo que f (x) ≥ f (c) nesse intervalo.
Analogamente, usando o facto que f′′
e(c) > 0 concluimos que existe um δ2tal que
c + δ2< x < c =⇒ f′ (x) x − c> 0 logo f ′ (x) < 0 pois x < c
Mas ent˜ao f ´e decrescente no intervalo ]c−δ2, c ] pelo que f (x) ≥ f (c) nesse intervalo.
Assim f (x) ≥ f (c) no intervalo ]c − δ2, c + δ1[ . Agora basta tomar δ = min{δ1, δ2}.
Ent˜ao f (x) ≥ f (c) em Vδ(c) ⊂ ]c − δ2, c + δ1[ logo c ´e um m´ınimo local de f .
Exemplo 16. Voltamos de novo `a fun¸c˜ao f (x) = x3− x. Os pontos cr´ıticos de f s˜ao x = ±√1
3. Como f′′(x) = 6x, temos que:
f′′ Å −√1 3 ã = −√6 3 < 0 e f ′′ Å 1 √ 3 ã = √6 3 > 0
logo x = −1/√3 ´e um m´aximo local e x = 1/√3 ´e um m´ınimo local. Esta mesma informa¸c˜ao tinha sido obtida anteriormente analisando directamente o sinal da
Exemplo 17. Voltamos de novo `a fun¸c˜ao f (x) = 3x4− 4x3. Os pontos cr´ıticos de
f s˜ao x = 0 e x = 1. Como f′′(x) = 36x2− 12x, temos que
f′′(0) = 0 e f′′(1) = 24 > 0
logo x = 1 ´e um m´ınimo local, como ali´as j´a sab´ıamos. Como f′′(0) = 0 a segunda
derivada n˜ao nos diz nada sobre o ponto x = 0. Como vimos anteriormente, este
ponto n˜ao ´e nem m´aximo nem m´ınimo local.
Exemplo 18. Sabendo apenas que f′′(c) = 0 nada podemos concluir sobre a
na-tureza do ponto cr´ıtico c. Por exemplo, qualquer uma das fun¸c˜oes u(x) = x3,
v(x) = x4e w(x) = −x4 tem um ponto cr´ıtico em x = 0, e u′′(0) = v′′(0) = w′′(0).
Aula 17: Assmptotas, regra de Cauchy
5. Limites no infinito e ass´ımptotas horizontais
Para tra¸car o gr´afico duma fun¸c˜ao, para al´em de determinar os intervalos de mo-notonia e estudar a concavidade, ´e necess´ario perceber tamb´em o chamado com-portamento assimpt´otico da fun¸c˜ao, isto ´e, entender o que acontece para valores de x arbitrariamente grandes (positivos ou negativos). Se f se aproximar arbitraria-mente dum valor L ∈ R dizemos que f tende para L quando x tende para infinito.1 Mais precisamente:
Defini¸c˜ao 11: Dizemos que lim
x→+∞f (x) = L se dado qualquer ε > 0 existir um
N > 0 tal que
x > N ⇒ |f(x) − L| < ε (x ∈ D) Analogamente, dizemos que lim
x→−∞f (x) = L se dado qualquer ε > 0 existir um
N > 0 tal que
x < −N ⇒ |f(x) − L| < ε (x ∈ D) Por palavras, lim
x→+∞f (x) = L se pudermos tornar f (x) arbitrariamente pr´oximo
de L escolhendo para tal qualquer x suficientemente grande e positivo. Como |f(x) − L| < ε ´e equivalente a L − ε < f(x) < L + ε, podemos interpretar o limite em termos do gr´afico de f do seguinte modo: para x > N o gr´afico de f permanece entre as duas rectas horizontais y = L − ε e y = L + ε.
FIGURA
Portanto o gr´afico de f vai estar arbitrariamente pr´oximo da recta y = L para x suficientemente grande e positivo. Chamamos a esta recta uma ass´ımptota hori-zontal:
Defini¸c˜ao 12: Dizemos que a recta y = L ´e uma ass´ımptota horizontal `a direita do gr´afico de f se lim
x→+∞f (x) = L.
Dizemos que a recta y = L ´e uma ass´ımptota horizontal `a esquerda do gr´afico de f se lim
x→−∞f (x) = L.
Exemplo 19. Vamos ver que lim
x→+∞arctan x = π
2. Dado um ε > 0 queremos
encontrar um N > 0 tal que
x > N ⇒ | arctan x − π/2| < ε Como arctan x < π/2,
| arctan x − π/2| < ε ⇔ π/2 − arctan x < ε ⇔ arctan x > π/2 − ε
⇔ x > tan(π/2 − ε) pois arctan ´e crescente
Assim, basta tomar N = tan(π/2 − ε). De maneira an´aloga podemos verificar que lim x→−∞arctan x = − π 2. ε N
Figura 2. Limite quando x → +∞ do arco-tangente Exemplo 20. Vamos mostrar que lim
x→−∞e
x= 0. Dado ε > 0 queremos encontrar
um N > 0 tal que
x < −N ⇒ |ex− 0| < ε Como ex> 0 para todo o x temos
|ex− 0| < ε ⇔ ex< ε
⇔ x < ln ε pois ex´e crescente
Assim, basta tomar N = − ln ε.
Podemos aproveitar o c´alculo de limites para esbo¸car os gr´aficos das fun¸c˜oes: Exemplo 21. A fun¸c˜ao f (x) = ex tem uma ass´ımptota horizontal `a esquerda:
y = 0. Assim, o seu gr´afico vai estar arbitrariamente pr´oximo da recta y = 0 para valores de x suficientemente grandes e negativos. f′(x) = f′′(x) = ex > 0 logo f
´e crescente e tem sempre a concavidade voltada para cima. Com esta informa¸c˜ao
podemos esbo¸car o gr´afico de f .
GRAFICO
Exemplo 22. A fun¸c˜ao f (x) = arctan x tem duas ass´ımptotas horizontais: y = π2 `a direita e y = −π2 `a esquerda. Assim, o gr´afico de arctan vai estar arbitrariamente
pr´oximo de y =π2 para x ≫ 0 e de y = −π2 para x ≪ 0. f′(x) = 1
1+x2 > 0 logo f ´e crescente, como ali´as j´a sab´ıamos. A segunda derivada ´e
Assim f′′(x) ≥ 0 para x ≤ 0 e f′′(x) ≤ 0 para x ≥ 0 portanto f tem a concavidade
voltada para cima em R− e voltada para baixo em R+, sendo x = 0 um ponto de
inflex˜ao. Podemos agora esbo¸car o gr´afico de arctan x.
-6 -4 -2 2 4 6 -Π 2 Π 2
Figura 3. Gr´afico do arco-tangente
6. Limites infinitos e substitui¸
c˜
oes
Podemos tamb´em definir limites infinitos. A defini¸c˜ao ´e an´aloga `a defini¸c˜ao de limite infinito num ponto a ∈ R.
Defini¸c˜ao 13: Dizemos que • lim
x→+∞f (x) = +∞ se dado qualquer M > 0 existir um N > 0 tal que
x > N ⇒ f(x) > M (x ∈ D) • lim
x→+∞f (x) = −∞ se dado qualquer M > 0 existir um N > 0 tal que
x > N ⇒ f(x) < −M (x ∈ D) • lim
x→−∞f (x) = +∞ se dado qualquer M > 0 existir um N > 0 tal que
x < −N ⇒ f(x) > M (x ∈ D) • lim
x→−∞f (x) = −∞ se dado qualquer M > 0 existir um N > 0 tal que
x < −N ⇒ f(x) < −M (x ∈ D) Exemplo 23. Vamos ver que lim
x→+∞e x
= +∞. Dado M > 0 queremos encontrar um N > 0 tal que
x > N ⇒ ex> M
Mas ex> M ´e equivalente a x > ln M logo podemos tomar N = ln M .
Exemplo 24. lim
x→+∞x = +∞: podemos simplesmente na defini¸c˜ao de limite tomar
N = M .
Os teoremas sobre limites quando x → a, a ∈ R, s˜ao tamb´em v´alidos para limites quando x → ±∞ sendo a demonstra¸c˜ao praticamente idˆentica.
Exemplo 25. J´a vimos que lim
x→+∞x = +∞. Podemos concluir de imediato que
• lim x→+∞x n = +∞ para qualquer n ∈ N; • lim x→+∞1/x = 1/∞ = 0; • lim x→+∞(x + x 2 + 3) = +∞ + ∞ + 3 = +∞.
O teorema sobre o limite duma composi¸c˜ao de fun¸c˜oes pode ser extendido ao caso de limites quando x → ±∞. Recorde que eR= R ∪ {−∞, +∞}. Temos ent˜ao Teorema 14: Seja a ∈ eR. Se (1) lim x→ag(x) = b ∈ e R, (2) lim u→bf (u) = c ∈ e R e (3) g(x) 6= b para x 6= a, Ent˜ao lim
x→af (g(x)) = limu→bf (u) = c
Exemplo 26. Queremos calcular lim
x→+∞e −x2. Seja u = −x2. Ent˜ao u → −∞ quando x → +∞ logo lim x→+∞e −x2 = lim u→−∞e u= 0 A substitui¸c˜ao u = 1/x ´e frequentemente ´util pois transforma um limite quando x → ∞ num limite quando u → 0:
Exemplo 27. Queremos calcular lim
x→+∞x sen 1 x
Escrevendo u = x1 vemos que x sen x1= 1usen u. Quando x → +∞, u → 0 logo lim x→+∞x sen 1 x = lim u→0 sen u u = 1
Exemplo 28. Queremos calcular lim
x→+∞ln x. Seja u = 1 x. Ent˜ao u → 0 + quando x → +∞, logo lim x→+∞ln x = limu→0+ln 1 u = − limu→0+ln u = +∞
O conhecimento dos limites em 0+ e em +∞ ajuda-nos a tra¸car o gr´afico do
loga-ritmo. Como (ln x)′= 1
x> 0 e (ln x)′′= − 1
x2 < 0, ln x ´e uma fun¸c˜ao crescente com concavidade voltada para baixo. Podemos agora tra¸car o gr´afico do logaritmo que, como seria de esperar, ´e a reflex˜ao na recta y = x do gr´afico da exponencial.
2 4 6 8 10 -3 -2 -1 1 2 3
Figura 4. Gr´afico da fun¸c˜ao logaritmo natural
7. Ass´ımptotas obl´ıquas
Comecemos por estudar um exemplo:
Exemplo 29. Vamos estudar a fun¸c˜ao f (x) = x+1x2 . O dom´ınio de f ´e R \ {−1}. lim
x→−1+f (x) = +∞ e x→−1lim−f (x) = −∞
Portanto f tem uma ass´ımptota vertical em x = −1. Para calcular os limites no infinito observamos que
x2
x + 1 = x
1 + 1/x logo x→±∞lim f (x) = ±∞
Para melhor compreender o comportamento da fun¸c˜ao vamos dividir os polin´omios:
x2 x + 1 −x2− x x − 1 − x x + 1 1 Assim, x2 x + 1 = x − 1 + 1 x + 1 Agora observemos que lim
x→±∞
1
x + 1 = 0. Portanto, para valores grandes de x, f (x) ≈ x − 1. Mais concretamente,
lim
x→±∞ f (x) − (x − 1)
= 0
Dizemos que a recta y = x − 1 ´e uma ass´ımptota obl´ıqua do gr´afico de f. Para terminar o estudo da fun¸c˜ao vamos determinar a sua monotonia e concavidade. Derivando obtemos
f′(x) = 1 − (x + 1)1 2 =
x2+ 2x
(x + 1)2
f′ anula-se nos pontos −2, 0 e o seu sinal ´e o sinal da par´abola x2+ 2x:
−2 −1 0
f′ + 0 − s.s. − 0 +
f ր max. ց s.s. ց min. ր
Calculando a segunda derivada obtemos f′′(x) = 2
(x + 1)3
Assim o sinal de f′′ ´e o sinal de x + 1. Portanto f tem a concavidade voltada
para cima em ] − 1, +∞[ e tem a concavidade voltada para baixo em ] − ∞, −1[ . Juntando toda a informa¸c˜ao obtemos a tabela
−2 −1 0
f′ + 0 − s.s. − 0 +
f′′ − − − s.s. + + +
f ր ∩ max. ց ∩ s.s. ց ∪ min. ր ∪
Podemos agora tra¸car o gr´afico de f .
-6 -4 -2 2 4 -8 -4 4 Figura 5. Gr´afico de x2 x+1
Defini¸c˜ao 15 (Ass´ımptotas obl´ıquas): Seja f : I → R uma fun¸c˜ao definida num intervalo I. Dizemos que
• A recta y = m x + b ´e uma ass´ımptota obl´ıqua `a esquerda ao gr´afico de f se lim
x→−∞(f (x) − (m · x + b)) = 0.
• A recta y = m x + b ´e uma ass´ımptota obl´ıqua `a direita ao gr´afico de f se lim
x→+∞(f (x) − (m · x + b)) = 0.
Exemplo 30. Como lim
x→−∞e
x = 0, a fun¸c˜ao f (x) = ex− x tem a recta y = −x
como ass´ımptota obl´ıqua `a esquerda pois lim
x→−∞ f (x) − (−x)
= 0.
S´o em casos simples como no exemplo 30 ´e f´acil adivinhar directamente quais as ass´ımptotas duma fun¸c˜ao. Em geral, para determinar as ass´ımptotas duma fun¸c˜ao usamos o
Teorema 16: Seja f uma fun¸c˜ao definida num intervalo da forma ]−∞, a[ (a ∈ R). Ent˜ao a recta y = mx + b ´e uma ass´ımptota obl´ıqua `a esquerda do gr´afico de f se e s´o se
m = lim
x→−∞
f (x)
x e b = limx→−∞(f (x) − m x)
Analogamente, se f ´e uma fun¸c˜ao definida num intervalo da forma ]a, +∞[, a recta y = mx + b ´e uma ass´ımptota obl´ıqua `a direita do gr´afico de f se e s´o se
m = lim
x→+∞
f (x)
x e b = limx→+∞(f (x) − m x)
Demonstrac¸˜ao. Veremos apenas o caso das ass´ımptotas `a esquerda. Se y = mx + b for uma ass´ımptota obl´ıqua `a esquerda, dividindo f (x) − (mx + b) por x temos que 0 = lim x→−∞ f (x) − (mx + b) x = limx→−∞ Åf (x) x − m − b x ã = lim x→−∞ f (x) x − m Assim, m = lim
x→∞f (x)/x. Uma vez calculado m, b ´e f´acil de calcular:
Como f (x) − (mx + b) → 0 , ent˜ao f (x) − mx → b Reciprocamente, os limites m = lim x→−∞ f (x) x e b = limx→−∞(f (x) − m x) existirem, Como b = lim
x→−∞(f (x) − m x) segue que x→−∞lim f (x) − (m x + b)
= 0 portanto y = mx + b ´e uma ass´ımptota obl´ıqua `a esquerda. A demonstra¸c˜ao para ass´ımptotas `a direita ´e completamente an´aloga.
Exemplo 31. Seja f (x) =√1 + x2. Ent˜ao, como x = ±√x2, f (x) x = √ 1 + x2 x = (» 1+x2 x2 x > 0 −»1+xx22 x < 0 Assim, lim x→−∞ f (x) x = − limx→−∞ … 1 + x2 x2 = − limx→−∞ … 1 + 1 x2 = −1 lim x→+∞ f (x) x = limx→+∞ … 1 + x2 x2 = limx→+∞ … 1 + 1 x2 = 1
Consideremos primeiro a ass´ımptota `a esquerda. Vimos que m = −1. Para calcular b tomamos o limite lim x→−∞ f (x) − mx = lim x→−∞ p 1 + x2+ x = lim x→−∞ √ 1 + x2+ x √1 + x2− x √ 1 + x2− x = lim x→−∞ 1 + x2− x2 √ 1 + x2− x = lim x→−∞ 1 √ 1 + x2− x = 0
Assim b = 0 logo a recta y = −x ´e a ass´ımptota `a esquerda de f. Para a ass´ımptota `a direita, m = 1 e de forma an´aloga vemos que
lim x→+∞ f (x) − mx = lim x→+∞ p 1 + x2− x= 0
Portanto y = x ´e a ass´ımptota `a direita de f .
-4 -2 2 4 2 4 y = x y = −x y =√1 + x2 Figura 6. Gr´afico de√1 + x2
Resumindo, o problema do tra¸cado do gr´afico de uma fun¸c˜ao f passa por determinar • simetrias, se as houver (a fun¸c˜ao ´e ´ımpar? ´e par? ´e peri´odica?)
• o dom´ınio da fun¸c˜ao e eventuais ass´ımptotas verticais • monotonia, m´aximos e m´ınimos locais
• concavidade e pontos de inflex˜ao • ass´ımptotas horizontais ou obl´ıquas
Exemplo 32. Vamos estudar a fun¸c˜ao f (x) = x · e1/x e esbo¸car o seu gr´afico.
• Dom´ınio e ass´ımptotas verticais: O dom´ınio de f ´e o conjunto D = R \ {0}. f ´e cont´ınua logo o ´unico ponto onde f pode ter uma ass´ımptota vertical ´e o ponto zero. Temos que
lim
x→0−f (x) = lim x→0−x · e
1/x
= 0 · e−∞ = 0 , Precisamos tamb´em de calcular o limite
lim
x→0+f (x) = lim x→0+x · e
1/x
Este limite ´e dif´ıcil de calcular directamente (ver os exerc´ıcios no fim da sec¸c˜ao). Voltaremos a este limite na sec¸c˜ao 8 onde vamos ver como calcular facilmente este tipo de limites. Para j´a usamos o resultado sem o demonstrar:
lim
x→0+x · e 1/x
= +∞
A recta vertical x = 0 ´e por isso uma ass´ımptota vertical ao gr´afico de f . • Intervalos de monotonia e extremos: A fun¸c˜ao f ´e diferenci´avel em D =
R\ {0}, com derivada f′: D → R dada por f′(x) = e1/x
Å 1 − 1x
ã .
Como a exponencial ´e sempre positiva, a determina¸c˜ao do sinal alg´ebrico de f′ n˜ao tem quaisquer dificuldades:
f′(x) = > 0 , se x ∈ ]−∞, 0[ ∪ ]1, +∞[; = 0 , se x = 1; < 0 , se x ∈ ]0, 1[;
logo conclu´ımos que f ´e crescente nos intervalos ] − ∞, 0[ e ]1, +∞[ (mas n˜ao necessariamente na uni˜ao!) e decrescente em ]0, 1[ . f tem apenas um ponto cr´ıtico, em x = 1, que ´e obviamente um m´ınimo local. A origem x = 0 n˜ao pertence ao dom´ınio da fun¸c˜ao.
0 1
f′ + s.s. − 0 +
f ր s.s. ց min. ր
• Concavidade e Inflex˜oes: A derivada f′ ´e tamb´em diferenci´avel em D, com
derivada f′′: R \ {0} → R dada por
f′′(x) =e
1/x
O sinal de f′′ ´e o sinal de 1/x3 logo f tem a concavidade voltada para baixo
em ] − ∞, 0[ e a concavidade voltada para cima em ]0, +∞[ . f n˜ao tem pontos de inflex˜ao (x = 0 n˜ao ´e um ponto de inflex˜ao, porque n˜ao pertence ao dom´ınio de f ).
0 1
f′ + s.s. − 0 +
f′′ − s.s. + + +
f ր ∩ s.s. ց ∪ min. ր ∪
• Ass´ımptotas horizontais e obl´ıquas: Como f → ±∞ quando x → ±∞, f n˜ao tem ass´ımptotas horizontais. Como
lim
x→±∞
f (x)
x = limx→±∞e
1/x= e0= 1
as ass´ımptotas obl´ıquas, se existirem, tˆem declive m = 1. Passamos a calcular lim x→±∞(f (x) − x) = limx→±∞(x · e 1/x − x) = lim x→±∞ e1/x− 1 1/x = limy→0± ey− 1 y = 1 (onde se fez a substitui¸c˜ao y = 1/x). Conclu´ımos que a recta de equa¸c˜ao y = x + 1 ´e uma ass´ımptota ao gr´afico de f , tanto `a direita como `a esquerda.
A figura 7 apresenta o gr´afico de f .
-4 -2 2 4 -3 -1 1 3 5
Figura 7. Esbo¸co do gr´afico de f (x) = x ex1
8. Indetermina¸
c˜
oes e o teorema de Cauchy
O estudo do comportamento assimpt´otico de fun¸c˜oes conduz-nos frequentemente a limites dif´ıceis de calcular. Foi esse o caso no exemplo 32 da sec¸c˜ao 7 onde nos depar´amos com o limite
lim
x→0+x exp Å1
x ã
Limites complicados podem tamb´em aparecer ao calcular a derivada de certas fun¸c˜oes. A fun¸c˜ao do pr´oximo exemplo tem propriedades importantes. Voltare-mos a encontr´a-la.
Exemplo 33. Seja f o prolongamento por continuidade de e−1/x2 a R: f (x) =®e−1/x
2
x 6= 0
0 x = 0
Verifica-se facilmente que f ´e cont´ınua mas para calcular a sua derivada na origem deparamo-nos com o limite
lim x→0 e−1/x2 − 0 x = limx→0 1 xe −1/x2
Para o c´alculo deste limite ver o exemplo 39.
Vamos agora estudar uma t´ecnica poderosa para calcular este tipo de limites.
9. A regra de Cauchy
Recorde que, sempre que no c´alculo de limites nos depararmos com uma das ex-press˜oes
∞ − ∞ ± ∞ · 0 00 ±∞
±∞
dizemos que o c´alculo nos conduz a uma indetermina¸c˜ao. Para o c´alculo deste tipo de limites ´e de grande utilidade a chamada Regra de Cauchy:
Teorema 17 (Regra de Cauchy): Seja I = ]a, b[ com a, b ∈ eR e sejam f, g fun¸c˜oes diferenci´aveis para x 6= a, com g′(x) 6= 0 para x 6= a. Se uma das seguintes
condi¸c˜oes se verificar (1) lim
x→a+f (x) = limx→a+g(x) = 0 (indetermina¸c˜ao 0 0) ou
(2) lim
x→a+f (x) = ±∞ e limx→a+g(x) = ±∞ (indetermina¸c˜ao ∞ ∞)
e o limite do quociente fg′′(x)(x) existir em eRent˜ao lim x→a+ f (x) g(x) = limx→a+ f′(x) g′(x)
Um resultado an´alogo ´e v´alido para limites quando x → b−.
A regra de Cauchy n˜ao se aplica s´o a limites laterais. ´E tamb´em ´util enunciar uma vers˜ao da regra de Cauchy aplic´avel a limites do tipo x → a:
Teorema 18: Seja I um intervalo aberto e a ∈ I. Se f e g s˜ao fun¸c˜oes definidas e diferenci´aveis para x 6= a, com g′(x) 6= 0 para x 6= a, e os limites lim
lim
x→ag(x) s˜ao ambos nulos, ou ambos infinitos, e se o limite limx→a
f′(x) g′(x) existir em eR ent˜ao lim x→a f (x) g(x) = limx→a f′(x) g′(x)
Demonstrac¸˜ao. ´E uma consequˆencia imediata da equivalˆencia lim
x→ah(x) = L ⇔ x→alim+h(x) = limx→a−h(x) = L
Demonstraremos a regra de Cauchy na sec¸c˜ao 11 mas deixamos aqui algumas con-sidera¸c˜oes:
• Se f e g forem diferenci´aveis em a ∈ R ent˜ao podemos aproximar os seus valores pela recta tangente:
f (x) ≈ f(a) + f′(a)(x − a)
g(x) ≈ g(a) + g′(a)(x − a) Se f (a) = lim
x→af (x) = 0 e g(a) = limx→ag(x) = 0, ent˜ao
f (x) g(x) ≈ f′(a)(x − a) g′(a)(x − a) = f′(a) g′(a) para x ≈ a
A regra de Cauchy diz-nos que lim x→a f (x) g(x) = limx→a f′(x) g′(x) = f′(a) g′(a)
Por exemplo, os limites not´aveis lim x→0 sen x x = 1 , x→0lim ex− 1 x , x→1lim ln x x − 1
podem ser facilmente entendidos deste modo: a aproxima¸c˜ao pela recta tan-gente diz-nos que sen x ≈ x e ex≈ 1 + x para x ≈ 0 e de facto
lim x→0 sen x x = limx→0 x x = 1 , x→0lim ex− 1 x = limx→0 1 + x − 1 x = 1
Temos tamb´em ln x ≈ x − 1 para x ≈ 1 e lim x→1 ln x x − 1 = limx→1 x − 1 x − 1 = 1
• Se y = mx + b ´e uma ass´ımptota diagonal `a direita ao gr´afico de f e o limite lim
x→+∞f
f (x)
mx + b
Figura 8. Se o limite lim
x→+∞f ′
(x) existir ´e igual a m. A regra de Cauchy confirma a nossa intui¸c˜ao:
m = lim x→+∞ f (x) x = limx→+∞ f′(x) 1 = limx→+∞f ′(x)
• Vamos agora supor que lim
x→+∞f (x) = limx→+∞g(x) = +∞. Assumindo que f e
g tˆem ass´ımptotas diagonais y = m1x + b1 e y = m2x + b2 respectivamente,
temos f (x) ≈ m1x + b1 e g(x) ≈ m2x + b2 para x ≫ 0 Ent˜ao, f (x) g(x) ≈ m1x + b1 m2x + b2 e m1x + b1 m2x + b2 =m1+ b1/x m2+ b2/x → m1 m2
Efectivamente, se os limites lim
x→+∞f
′(x) e lim x→+∞g
′(x) existirem, a regra de
Cauchy diz-nos que lim x→+∞ f (x) g(x) = limx→+∞ f′(x) g′(x) = m1 m2
Vamos agora ver alguns exemplos de aplica¸c˜ao da regra de Cauchy: Exemplo 34. Queremos calcular
lim
x→0
arctan x sen x Trata-se de uma indetermina¸c˜ao do tipo 0
0. Aplicando a regra de Cauchy obtemos
lim x→0 arctan x sen x = limx→0 (arctan x)′ (sen x)′ = limx→0 1 1+x2 cos x = 1
Exemplo 35. Consideremos o limite lim x→0 cos x − 1 +1 2x 2 x4
Como temos uma indetermina¸c˜ao do tipo 00 podemos aplicar a regra de Cauchy
lim x→0 cos x − 1 +1 2x 2 x4 = limx→0 − sen x + x 4x3
Continuamos com uma indetermina¸c˜ao portanto podemos continuar a aplicar a regra de Cauchy. Obtemos sucessivamente
lim x→0 − sen x + x 4x3 = limx→0 − cos x + 1 12x2 regra de Cauchy = lim x→0 sen x 24x regra de Cauchy = 1 24 limite not´avel
Exemplo 36. Queremos calcular o limite lim
x→+∞
sen x + x x Trata-se duma indetermina¸c˜ao do tipo ∞
∞. Aplicando a regra de Cauchy temos
lim
x→+∞
sen x + x′
(x)′ = limx→+∞ cos x + 1
Este limite n˜ao existe! A regra de Cauchy s´o se aplica se o limite do quociente fg′′ existir portanto n˜ao podemos concluir nada. Temos que calcular o limite de outra forma: lim x→+∞ sen x + x x = limx→+∞ sen x x + 1 Como | sen x| ≤ 1, sen xx
≤ 1 x. Como 1 x → 0, concluimos que sen x x → 0 logo lim sen x x + 1 = 0 + 1 = 1.
Podemos combinar a regra de Cauchy com outras t´ecnicas de c´alculo de limite: Exemplo 37. Queremos calcular
lim
x→0+x e 1 x
Com a substitui¸c˜ao u = 1x obtemos lim x→0+x e 1 x = lim u→+∞ 1 ue u
Aplicando a regra de Cauchy obtemos lim
u→+∞
eu
u = limu→+∞
(eu)′
(u)′ = limu→+∞
eu
1 = +∞
A regra de Cauchy ´e apenas v´alida para quocientes. Para aplicar a regra de Cauchy a uma indetermina¸c˜ao do tipo 0 ·∞ temos primeiro que transformar o produto num quociente:
Exemplo 38. Queremos calcular lim
H´a duas formas de transformar este produto num quociente: x ln x = x
1/ ln x = ln x 1/x Escolhemos a mais conveniente:
lim x→0+x ln x = limx→0+ ln x 1/x = lim x→0+ 1/x
−1/x2 (pela regra de Cauchy)
= lim
x→0+(−x) = 0
Exemplo 39. Queremos calcular lim
x→0
1 xe
−1/x2
que ´e uma indetermina¸c˜ao 00. Para fazermos a substitui¸c˜ao u = x1, consideramos primeiro o limite `a direita: quando x → 0+, u → +∞ pelo que
lim x→0+ 1 xe −1/x2 = lim u→+∞u e −u2
que ´e uma indetermina¸c˜ao ∞ · 0. Para aplicar a regra de Cauchy come¸camos por escrever o limite como um quociente:
lim u→+∞u e −u2 = lim u→+∞ u eu2 = lim u→+∞ 1 2u eu2 (regra de Cauchy) = 0
De maneira inteiramente an´aloga provamos que lim
x→0− 1 xe
−1/x2
= 0. Ambos os limites `a direita e `a esquerda s˜ao zero logo o limite ´e zero. Para aplicar a regra de Cauchy a uma indetermina¸c˜ao da forma ∞ − ∞ temos que a transformar primeiro num quociente:
Exemplo 40. Queremos calcular lim
x→π 2
− sec x − tan x Para tal escrevemos
sec x − tan x = cos x1 −sen xcos x =1 − sen x cos x Aplicando a regra de Cauchy temos
lim x→π 2 − 1 − sen x cos x = limx→π 2 − − cos x − sen x = 0
Exemplo 41. Queremos calcular lim
x→0+ »
1/x + 1 −»1/x Para tal escrevemos
… 1 x + 1− … 1 x = … 1 + x x − … 1 x = √ 1 + x − 1 √ x Aplicando a regra de Cauchy temos
lim x→0+ √ 1 + x − 1√ x = limx→0+ 1 2√1+x 1 2√x = lim x→0+ √ x √ 1 + x = 0
Aula 18: Regra de Cauchy
10. Limites de potˆ
encias
Nesta sec¸c˜ao vamos estudar fun¸c˜oes da forma f (x)g(x). Recorde que
f (x)g(x)= exp g(x) ln f (x)
Se soubermos que lim
x→af (x) = b e limx→ag(x) → c, e se b ∈ ]0, +∞[ , a continuidade
das fun¸c˜oes exp e ln mostra que lim x→af (x) g(x)= lim x→aexp g(x) ln f (x) = explim x→ag(x) ln lim x→af (x) = ec ln b= bc
Exemplo 42. Como lim
x→−1+arccos x = π ex→−1lim+arcsen x = −π/2, lim
x→−1+ arccos x arcsen x
= π−π/2= 1/√ππ
Tal como fizemos com a soma, produto e quociente, podemos extender este resultado `a recta acabada eR = R ∪ {−∞, +∞}. Para tal conv´em come¸car por extender a opera¸c˜ao bc. Usando a rela¸c˜ao bc= exp(c ln b) chegamos `a
Defini¸c˜ao 19 (Potˆencias na recta acabada): Seja c ∈ eR, c > 0. Ent˜ao
(+∞)c= +∞ (+∞)−c= 1 (+∞)c = 0 (0+)c= Å 1 +∞ ãc = 0 (0+)−c= 1 (0+)c = +∞
Seja agora b ∈ eR, b > 0. Ent˜ao b+∞=®+∞ b > 1 0+ b < 1 e b−∞= (1/b)+∞= ®0+ b > 1 +∞ b < 1 N˜ao est˜ao definidos: (+∞)0 00 1∞ Exemplo 43. lim x→+∞ n √ x = +∞, confirmando a f´ormula (+∞)1/n = +∞. Exemplo 44. lim x→+∞2 x= +∞, confirmando a f´ormula 2+∞= +∞.
Podemos ent˜ao provar o
Teorema 20: Sejam f e g fun¸c˜oes tais que os limites b = lim
existem em eRe, ou b > 0 ou b = 0+. Ent˜ao, sempre que a express˜ao bc´e v´alida de acordo com as conven¸c˜oes da defini¸c˜ao 19 temos
lim
x→af (x)
g(x)= bc
Demonstrac¸˜ao. Basta escrever fg = exp(g ln f ) e aplicar as regras usuais dos
limites. Exemplo 45. lim x→0+x ln x= (0+)−∞ = +∞
Chamamos os casos (+∞)0, 00 e 1∞ de indetermina¸c˜oes. De facto estas
indeter-mina¸c˜oes derivam da indetermina¸c˜ao ∞ · 0: bc= exp(c ln b) ´e uma indetermina¸c˜ao
se e s´o se c ln b for uma indetermina¸c˜ao.
• Se c = ±∞ e ln b = 0 ent˜ao b = e0= 1 e temos a indetermina¸c˜ao 1∞.
• Se c = 0 e ln b = +∞ ent˜ao b = e+∞= +∞ e temos a indetermina¸c˜ao ∞0
• Se c = 0 e ln b = −∞ ent˜ao b = e−∞= 0 e temos a indetermina¸c˜ao 00
Exemplo 46. J´a encontr´amos o limite lim
u→0(1 + u) 1 u = e
Trata-se duma indetermina¸c˜ao 1∞.
Exemplo 47. Queremos calcular lim
x→0+x
x. Trata-se duma indetermina¸c˜ao 00.
lim x→0+x x= lim x→0+exp x ln x = exp lim x→0+x ln x e j´a vimos que
lim x→0+x ln x = 0 Portanto lim x→0+x x= exp lim x→0+x ln x = e0= 1
Exemplo 48. Queremos calcular lim
x→0−(cos x) 1 sen2x Trata-se de uma indetermina¸c˜ao do tipo 1∞. Temos
lim x→0−(cos x) 1 sen2x = exp Å lim x→0− 1 sen2xln(cos x) ã
Aplicando a regra de Cauchy temos lim x→0− ln(cos x) sen2x = lim x→0− − sen x cos x
2 sen x cos x = − limx→0− 1
2 cos2x = −
1 2
Assim, lim x→0−(cos x) 1 sen2x = exp Å lim x→0− 1 sen2xln(cos x) ã = e−1 2
Exemplo 49. Para calcular lim
x→0+x sen(x)= lim x→0+exp sen(x) ln(x) , basta-nos de-terminar lim x→0+sen(x) ln(x) = limx→0+ ln(x) 1/ sen(x).
Esta ´e uma indetermina¸c˜ao do tipo ∞/∞, e portanto aplicamos a regra de Cauchy: lim x→0+ ln(x) 1/ sen(x) = limx→0+ 1 x −sencos(x)2(x) = − lim x→0+ sen2(x) x · cos(x) = − lim x→0+ sen(x) x · sen(x) cos(x) = −1 · 0 1 = 0 Temos assim que
lim x→0+x sen(x)= lim x→0+e sen(x) ln(x)= e0= 1 .
11. O teorema de Cauchy
Nesta sec¸c˜ao vamos demonstrar a regra de Cauchy. Primeiro precisamos do teorema de Cauchy, uma generaliza¸c˜ao dos Teoremas de Rolle e de Lagrange de utilidade em muitas outras situa¸c˜oes:
Teorema 21 (Cauchy): Sejam f, g fun¸c˜oes cont´ınuas em [ a, b ], e diferenci´aveis em ]a, b[ . Ent˜ao, se g′(x) 6= 0 para qualquer x ∈ ]a, b[ existe pelo menos um
c ∈ [ a, b ] tal que
f (b) − f(a) g(b) − g(a) =
f′(c)
g′(c)
Demonstrac¸˜ao. Seja
K =f (b) − f(a) g(b) − g(a) Ent˜ao
f (b) − f(a) = K g(b) − g(a) que podemos escrever como
f (b) − Kg(b) = f(a) − Kg(a)
Assim, a fun¸c˜ao f (x) − Kg(x) toma os mesmos valores em x = a e x = b logo pelo teorema de Rolle existe um ponto c tal que f′(c) − Kg′(c) = 0, ou seja,
f′(c)
g′(c) = K.
Podemos agora demonstrar a regra de Cauchy. Come¸camos por provar o caso das indetermina¸c˜oes 0/0:
Demonstrac¸˜ao. Dividimos a demonstra¸c˜ao em dois casos:
(1) Consideramos primeiro o caso em x → a+ com a ∈ R. Assumimos que
lim
x→a+f (x) = limx→a+g(x) = 0. Ent˜ao as fun¸c˜oes F, G : [ a, b[ → R definidas por F (x) =®f(x) x 6= a
0 x = a e G(x) =
®g(x) x 6= a
0 x = a
s˜ao cont´ınuas em a. Pelo teorema de Cauchy, para cada x ∈ ]a, b[ , existe um cx∈ ]a, x[ tal que
F (x) G(x) = F (x) − F (a) G(x) − G(a) = F′(c x) G′(cx)
Agora fazemos a substitui¸c˜ao u = cx. Como a < cx < x, quando x → a+
temos u → a+ logo lim x→a+ F (x) G(x)= limx→a+ F′(cx) G′(cx) = limu→a+ F′(u) G′(u).
Basta agora observar que para x 6= a, f(x) = F (x) e g(x) = G(x). Concluimos que lim x→a+ f (x) g(x) = limx→a+ f′(x) g′(x)
(2) Vamos agora considerar o caso em que x → +∞. Seja t = 1x. Ent˜ao t → 0+.
Se fg conduz a uma indetermina¸c˜ao da forma 00 e o limite limfg′′ existir ent˜ao
lim x→+∞ f (x) g(x) = limt→0+ f 1t g 1t = lim t→0+ f′ 1 t −t12 g′ 1 t −t12 (regra de Cauchy) = lim t→0+ f′ 1 t g′ 1 t = lim x→+∞ f′(x) g′(x)
Os casos em que x → b− e x → −∞ demonstram-se de forma completamente
an´aloga.
O caso das indetermina¸c˜oes ∞/∞ ´e mais complicado:
Demonstra¸c˜ao: Vamos apenas fazer o caso em que x → a+com a ∈ R. O caso x →
+∞ pode ent˜ao ser demonstrado exactamente como foi feito para indetermina¸c˜oes 0/0.
Vamos assumir que lim
x→a+g(x) = +∞ (o caso em que g(x) → −∞ ´e completamente
an´alogo).2 Seja a ∈ R, lim x→a+
f′
(x)
g′(x) = L ∈ R. Queremos mostrar que lim x→a+
f (x) g(x) →
L, ou seja, que dado qualquer ε > 0, L − ε < f (x)
g(x)< L + ε
para qualquer x > a suficientemente pr´oximo de a. Como fg′′(x)(x) → L, existe um b
tal que L − ε 2 < f′ (x) g′(x)< L + ε 2
para qualquer x ∈ ]a, b[ . Pelo teorema de Cauchy, f (x) − f (b) g(x) − g(b) = f′ (c) g′(c) com x < c < b logo L −ε 2 < f′ (c) g′(c) = f (x) − f (b) g(x) − g(b) < L + ε 2
Agora multiplicamos tudo por g(x)−g(b)g(x) = 1 −g(b)g(x). Como g(x) → +∞, 1 −g(b)g(x) > 0 para x suficientemente pr´oximo de a logo o sentido da desigualdade ´e conservado:
L − ε 2 1 −g(x)g(b)< f(x)−f (b)g(x) < L +ε 2 1 −g(x)g(b) Daqui deduz-se facilmente que
L − ε 2 1 −g(x)g(b)+fg(x)(b)< f(x)g(x) < L +ε 2 1 −g(x)g(b)+fg(x)(b) Agora, como g(x) → +∞ quando x → a temos
L −ε 2 1 −g(x)g(b)+g(x)f(b) → L −ε 2 e L + ε 2 1 −g(b)g(x)+f(b)g(x) → L +ε 2
Assim, para x suficientemente pr´oximo de a, podemos garantir que L − ε < L −ε 2 1 −g(x)g(b)+g(x)f(b) e L +ε 2 1 −g(b)g(x)+f(b)g(x) < L + ε portanto L − ε < L − ε 2 1 −g(x)g(b)+f(b) g(x)< f(x) g(x) < L + ε 2 1 −g(x)g(b)+f(b) g(x)< L + ε
o que termina a demonstra¸c˜ao.
12. Limites de sucess˜
oes
Recorde que uma sucess˜ao ´e uma regra que associa a cada n´umero natural n ∈ N um real xn ∈ R. Assim, podemos pensar numa sucess˜ao como uma fun¸c˜ao com
dom´ınio N. Aplicando a no¸c˜ao de limite duma fun¸c˜ao em +∞ a sucess˜oes obtemos a no¸c˜ao de limite duma sucess˜ao.
Defini¸c˜ao 22: Seja (xn) uma sucess˜ao. Dizemos que
• lim
n→+∞xn= L se dado qualquer ε > 0 existir um N > 0 tal que
n > N ⇒ |xn− L| < ε
• lim
n→+∞xn= +∞ se dado qualquer M > 0 existir um N > 0 tal que
• lim
n→+∞xn= −∞ se dado qualquer M > 0 existir um N > 0 tal que
n > N ⇒ xn< −M
Os resultados sobre limites de fun¸c˜oes s˜ao tamb´em v´alidos para sucess˜oes. O pr´oximo resultado ´e um exemplo disso:
Teorema 23: Seja f : D → R uma fun¸c˜ao cont´ınua em a ∈ D, e seja (xn) uma
sucess˜ao com limite lim
n→∞xn= a. Ent˜ao limn→∞f (xn) = f (a).
Demonstrac¸˜ao. f (xn) ´e a composi¸c˜ao
n → xn f
→ f(xn)
Como f ´e cont´ınua em a, lim
n→∞f (xn) = f n→∞lim xn
= f (a)
Uma fun¸c˜ao f cujo dom´ınio contem os n´umeros naturais pode ser restringida a N dando origem a uma sucess˜ao xn= f (n).
Exemplo 50. Seja f (x) = x+1ex . O dom´ınio de f ´e R \ {−1}. Restringindo f a N obtemos a sucess˜ao xn= e
n
n+1 cujos primeiros termos s˜ao
x1= e 2 , x2= e2 3 , x3= e3 4 , x4= e4 5 , . . .
Os limites de fun¸c˜oes em +∞ que estud´amos tˆem a sua contrapartida como limites de sucess˜oes:
Teorema 24: Seja f : D → R uma fun¸c˜ao tal que N ⊂ D e seja xn = f (n), n ∈ N.
Ent˜ao, se o limite lim
x→+∞f (x) existir em eR, o limite da sucess˜ao (xn) tamb´em existe
e tem o mesmo valor:
lim
n→+∞xn = limx→+∞f (x)
Deixamos a demonstra¸c˜ao ao cuidado do leitor.
Exemplo 51. Voltemos a considerar a fun¸c˜ao f (x) = ex
x+1. Sabemos que limx→+∞f (x) =
+∞ logo lim
n→+∞ en
n+1 = +∞.
O rec´ıproco do teorema 24 pode ser falso como mostra o exemplo seguinte: Exemplo 52. Seja f (x) = sen(πx) e seja xn = f (n). Ent˜ao xn = 0 para todo o
n ∈ N logo xn→ 0 mas o limite lim
O teorema 24 permite-nos aplicar a regra de Cauchy ao c´alculo de limites de su-cess˜oes:
Exemplo 53. Queremos calcular o limite da sucess˜ao xn = n+1n+2 n . Para tal definimos a fun¸c˜ao f (x) = x+1 x+2 x e calculamos lim x→+∞ Åx + 1 x + 2 ãx = lim x→+∞exp Å x ln Åx + 1 x + 2 ãã = exp Å lim x→+∞x ln Åx + 1 x + 2 ãã A derivada de lnÄx+1 x+2 ä ´e 1
(x+1)(x+2) logo, aplicando a regra de Cauchy temos
lim x→+∞x ln Åx + 1 x + 2 ã = lim x→+∞ lnÄx+1 x+2 ä 1 x = lim x→+∞ 1 (x+1)(x+2) −x12 = −1 Concluimos que lim n→+∞xn= limx→+∞f (x) = e −1
13. Ordem de magnitude
Em muitos casos em que xn→ +∞ e yn→ +∞, ´e ´util comparar a respectiva
“velo-cidade de crescimento” calculando o limite da raz˜ao xn
yn. As mesmas considera¸c˜oes se aplicam a fun¸c˜oes f e g com limite infinito.
Teorema 25: Para quaisquer a > 1 e b > 0, lim x→+∞ ln(x) xb = 0 e x→+∞lim xb ax = 0
De maneira pouco precisa, ´e comum dizer que ln(x) “cresce mais devagar” do que qualquer potˆencia positiva de x e qualquer exponencial ax (a > 1) “cresce mais depressa” do que qualquer potˆencia positiva de x.
Demonstrac¸˜ao. Pela regra de Cauchy, lim x→+∞ ln(x) xb = limx→+∞ 1/x b xb−1 = limx→+∞ 1 b xb = 0
Para a exponencial temos lim x→+∞ xb ax = limx→+∞ x ax/b b = Å lim x→+∞ x ax/b ãb = Ç lim x→+∞ 1 ln a b ax/b åb (regra de Cauchy) = 0
Usando substitui¸c˜oes apropriadas podemos facilmente calcular limites an´alogos em pontos a ∈ R:
Exemplo 54. Para calcular lim x→0xe 1/x2 fazemos a substitui¸c˜ao u = 1 x2. Quando x → 0, u → +∞ logo lim x→0xe 1/x2 = lim u→+∞ eu ±u1/2 = 0
Exemplo 55. Para calcular lim
x→0+x ln(x) fazemos a substitui¸c˜ao u = 1 x. Quando x → 0+, u → +∞ logo lim x→0+x ln(x) = limu→+∞ ln(1/u) u = − limu→+∞ ln(u) u = 0
Naturalmente, o teorema 25 tamb´em se aplica `as sucess˜oes ln n, nb e an.
Exemplo 56. Para calcular o limite lim
n→+∞n 32−n notamos que lim n→+∞n 32−n= lim n→+∞ n3 2n = 0
Teorema 26: Seja a > 1. Ent˜ao lim n→+∞ an n! = 0 e n→+∞lim n! nn = 0
Demonstrac¸˜ao. Para provar que limnn!n = 0 basta observar que: 3 0 < n! nn = 1 n· 2 n· 3 n· · · · · n − 1 n · n n < 1 n
e aplicar o teorema dos limites enquadrados. Para mostrar que lim
n→+∞ cn n! = 0
come¸camos por fixar um inteiro N > c. Ent˜ao c
n < 1 para qualquer n > N logo
cn n! = c 1 · c 2 · · · · · c N | {z } =cN/N ! ·N + 1c · · · c n − 1 | {z } <1 ·nc < c N N !· c n Assim, 0 ≤ c n n! ≤ cN N !· c n Tomando o limite quando n → ∞, obtemos cn
n! → 0 pelo teorema dos limites
enquadrados.
O pr´oximo exemplo ilustra como estes resultados podem ser usados para calcular limites mais complicados:
Exemplo 57. Vamos calcular o limite da sucess˜ao xn = 2n!+2nn+ln n. Este limite d´a origem a uma indetermina¸c˜ao da forma ∞
∞. Para levantar a indetermina¸c˜ao notamos
que n! + 2n 2n+ ln n = n! 1 +2n n! 2n 1 +ln n 2n = 2n!n 1 +2n n! 1 +ln n2n 3a demonstra¸c˜ao rigorosa desta desigualdade, por indu¸c˜ao, fica a cargo do leitor
Agora sabemos que 2n n! → 0, ln n 2n → 0 e n! 2n → +∞ Concluimos que lim xn= lim Ç n! 2n 1 +2n n! 1 +ln n2n å = (+∞)1 + 01 + 0 = +∞ No exemplo 57 us´amos a seguinte ideia: escrevemos xn como um produto
xn= n! 2n 1 + 2n n! 1 + ln n2n em que 1 + 2n n! 1 + ln n2n → 1 e portanto lim xn = lim n!/2n= +∞.
Defini¸c˜ao 27: Dizemos que duas sucess˜oes an e bntˆem a mesma ordem de
mag-nitude, e escrevemos an ∼ bn, se an = bncn em que cn→ 1.
Se bn 6= 0, esta condi¸c˜ao ´e equivalente a an/bn→ 1 pois podemos tomar cn= an/bn.
Exemplo 58. Como vimos no exemplo 57, n! + 2n 2n+ ln n ∼
n!
2n
Este conjunto de ideias ´e particularmente ´util quando aplicado a somas. A ideia ´e pˆor em evidˆencia o termo com maior velocidade de crescimento:
Exemplo 59. ln n + 5n! + 3n− 2n2∼ 5n! pois ln n + 5n! + 3n− 2n2= 5n! Åln n 5n! + 1 + 3n 5n!− 2n2 5n! ã e ln n5n! + 1 + 5n!3n −2n5n!2 → 1. Exemplo 60. 2nn2+2n −nn ∼ n 2 −nn pois n2+ 2n 2n− nn = n2 1 + 2nn2 −nnÄ 2n −nn + 1 ä = n2 −nn · 1 +2nn2 2n −nn+ 1
Este procedimento nem sempre funciona:
Exemplo 61. 3n!+n n˜ao tem a mesma ordem de magnitude que 3n! pois
3n!+n
3n! = 3 n
6→ 1
Exemplo 62. Vamos calcular o limite da sucess˜ao xn = √
4n+n4
3n+1 . Come¸camos por observar que √4n+ n4∼√4n= 2n pois
p 4n+ n4= 4n Å 1 +n 4 4n ã =√4n … 1 + n 4 4n = 2 n … 1 +n 4 4n
Por outro lado 3n+ 1 ∼ 3n pois 3n+ 1 = 3n 1 + 1 3n . Assim, xn= √ 4n+ n4 3n+ 1 = 2n 3n » 1 +n4 4n 1 + 1 3n Concluimos que xn ∼2 n 3n logo lim xn = lim 2n 3n = 0
Observac¸˜ao: Se an ∼ bn ent˜ao lim an = lim bn se os limites existirem, mas o
rec´ıproco n˜ao ´e verdadeiro: lim ln n = lim n = lim 2n = lim n! = +∞ mas todas
Aula 19: Primitivas
Um problema frequentemente encontrado ´e o de determinar o valor duma certa quantidade sabendo a sua taxa de varia¸c˜ao em cada ponto. Por exemplo, podemos saber a velocidade duma part´ıcula e querer calcular a sua posi¸c˜ao. Neste tipo de problemas queremos encontrar uma fun¸c˜ao F cuja derivada seja igual a uma fun¸c˜ao f que conhecemos. Chamamos ent˜ao a F uma primitiva de f :
Defini¸c˜ao 28: Dizemos que uma fun¸c˜ao F ´e uma primitiva de f se F′(x) = f (x).
Exemplo 63. A fun¸c˜ao F (x) = x2 ´e uma primitiva de f (x) = 2x pois F′(x) =
f (x). A fun¸c˜ao G(x) = x2+ 1 ´e tamb´em uma primitiva de f (x) pois G′(x) = 2x =
f (x).
Este exemplo mostra que h´a mais que uma primitiva da fun¸c˜ao f (x) = 2x. Para qualquer constante C, x2+ C ´e uma primitiva de f . De facto, todas as primitivas
s˜ao desta forma:
Teorema 29: Seja F uma primitiva de f num intervalo I. Ent˜ao qualquer pri-mitiva de f ´e da forma F (x) + C para alguma constante C.
Demonstrac¸˜ao. Se G ´e outra primitiva de f ent˜ao (G − F )′ = G′− F′= f − f =
0 logo G − F ´e uma fun¸c˜ao constante. Chamando C ao valor dessa constante,
G(x) = F (x) + C.
Representamos por P(f) o conjunto das primitivas de f. O teorema 29 diz-nos que, se f est´a definida num intervalo e F′(x) = f (x) ent˜ao P(f) = {F (x) + C : C ∈ R}.
´
E comum no entanto escrever simplesmente P(f) = F (x) + C nota¸c˜ao que usaremos no seguimento.
Exemplo 64. Vamos encontrar todas as primitivas de f (x) = sen x. Como a derivada de cos x ´e − sen x, F (x) = − cos x ´e uma primitiva de sen x. Assim,
P(sen x) = − cos x + C
Exemplo 65. Vamos encontrar todas as primitivas de f (x) = −1
x2. Uma das primitivas de f ´e F (x) = 1
x mas o dom´ınio de 1
x n˜ao ´e um intervalo. O teorema
29 s´o se aplica a cada intervalo ] − ∞, 0[ e ]0, +∞[ separadamente. Em cada um destes intervalos vamos ter P(f) = 1/x + C mas a constante C pode ser diferente em intervalos diferentes. Assim, a forma geral duma primitiva de f (x) = −1
x2 ´e P(f) = ®1 x+ C1 x > 0 1 x+ C2 x < 0
As f´ormulas de deriva¸c˜ao d˜ao origem a f´ormulas de primitiva¸c˜ao. Assim, `a f´ormula (xa)′= axa−1 corresponde a f´ormula P(xa) = xa+1
a+1 + C, v´alida para a 6= −1. Para
a = −1 temos
Teorema 30: A fun¸c˜ao ln |x| ´e uma primitiva de x1 em R \ {0}
Demonstrac¸˜ao. Para x > 0, ln |x| = ln x logo (ln |x|)′ = 1
x. Para x < 0 (ln |x|)′ = (ln(−x))′ = − 1 −x = 1 x ´
E ´util agrupar as primitivas numa tabela:
• P(1) = x + C • P(xa) = x a+1 a + 1+ C (a 6= −1) • P Å 1 x ã = ln |x| + C • P(ex) = ex+ C • P(sen x) = − cos x + C • P(cos x) = sen x + C • P(sec2x) = tan x + C • P(sec x tan x) = sec x + C
• P 1 1+x2 = arctan x + C • P √1 1−x2 = arcsen x + C
Exemplo 66. Para calcular P(√x) notamos que √x = x12. Tomando a = 1/2 temos P x21= x 1 2+1 1 2 + 1 + C = 2 3x 3 2 + C
Podemos tamb´em calcular outras primitivas mais complicadas:
Exemplo 67. Queremos calcular P √x+sen x. Vimos no exemplo 66 que P(√x) =
2 3x
3
2 + C e consultando a tabela vemos que P(sen x) = − cos x + C. Assim, 2
3x 3
2′=√x e (− cos x)′ = sen x Mas estas f´ormulas dizem-nos que
2 3x
3
2 − cos x′=√x + sen x Encontr´amos uma primitiva de√x + sen x logo
P(√x + sen x) = 2 3x
3
2 − cos x + C
Generalizando este ´ultimo exemplo temos o
Teorema 31: Se F ´e uma primitiva de f e G ´e uma primitiva de g ent˜ao P(f(x)+ g(x)) = F (x) + G(x) + C e P(af(x)) = aF (x) + C. ´E usual escrever:
• P(f + g) = P(f) + P(g) • P(a f) = a P(f)
Demonstrac¸˜ao. ´E uma consequˆencia imediata das f´ormulas (F + G)′ = F′+ G′
e (a · F )′= a · F′.
Exemplo 68. Vamos calcular as primitivas de f (x) = ex+ 3 sen x + x.
P(ex+ 3 sen x + x) = P(ex) + 3P(sen x) + P(x) = ex+ 3(− cos x) +x 2 2 + C = ex− 3 cos x +1 2x 2+ C Exemplo 69. PÇ ( √ t + 1)2− 1 t å = PÇ t + 2 √ t t å = P 1 + 2t−1 2 = P(1) + 2P(t−1 2) = t + 4√t + C
Sabendo a primitiva duma fun¸c˜ao f podemos calcular a primitiva de f (a x + b) com a, b constantes:
Exemplo 70. Vamos encontrar as primitivas de f (x) = cos(2x). f ´e da forma cos(u) com u = 2x e sabemos que P(cos u) = sen u. A derivada de sen(2x) ´e 2 cos(2x), e portanto a derivada de 12sen(2x) ´e cos(2x) e assim
P cos(2x)= 1
2sen(2x) + C
Exemplo 71. Vamos encontrar as primitivas de f (x) = 1−3x1 . f ´e da forma 1/u com u = 1 − 3x e uma primitiva de 1/u ´e ln |u|. A derivada de ln |1 − 3x| ´e −3 1
1−3x
logo a derivada de −13ln |1 − 3x| ´e 1 1−3x e assim, P Å 1 1 − 3x ã = −1 3ln |1 − 3x| + C
A constante C pode ser determinada se possuirmos informa¸c˜ao extra sobre a fun¸c˜ao F (x). Em aplica¸c˜oes ´e frequentemente conhecermos, al´em da derivada F′(x) =
f (x), o valor da fun¸c˜ao F num ponto.
Exemplo 72. Uma part´ıcula desloca-se com velocidade dada por v(t) = 5 1+t2. Sabemos tamb´em que a part´ıcula se encontra em x = 2 quando t = 1. Queremos calcular a traject´oria da part´ıcula. x′(t) = v(t) logo x(t) ´e uma primitiva de v(t):
P Å 5 1 + t2 ã = 5 P Å 1 1 + t2 ã = 5 arctan t + C
Portanto x(t) = 5 arctan t + C. Para calcular C, usamos a condi¸c˜ao x(1) = 2: x(1) = 5 arctan 1 + C = 5π4 + C = 2 logo C = 2 −5π4
Concluimos que
x(t) = arctan t + 2 −5π4
Exemplo 73. Vamos calcular f sabendo que f′(x) = 1
x2, f (1) = 0 e f (−1) = 3. Uma primitiva de 1
x2 ´e −1x. No entanto o dom´ınio de −x1, R \ {0}, n˜ao ´e um intervalo. Em cada intervalo do dom´ınio vamos ter f (x) = 1
x+ C, mas a constante
C pode ser diferente em intervalos diferentes. Assim, • No intervalo ]0, +∞[ , f(x) = −1 x+ C1. Como f (1) = 0, f (1) = −11 + C1= 0 logo C1= 1 • No intervalo ] − ∞, 0[ , f(x) = −1 x+ C2. Como f (−1) = 3, f (−1) = − 1 −1 + C2= 3 logo C2= 2 Portanto f (x) =®− 1 x+ 1 x > 0 −1x+ 2 x < 0
14. Primitiva¸
c˜
ao por partes
Primitivando a f´ormula para a derivada do produto
( u(x)v(x) )′= u′(x)v(x) + u(x)v′(x)
obtemos uv = P(u′v) + P(uv′) que normalmente se escreve na forma:
Teorema 32 (Primitiva¸c˜ao por Partes): Se u e v s˜ao fun¸c˜oes diferenci´aveis, ent˜ao
P (u′(x)v(x)) = u(x)v(x) − P (u(x)v′(x))
Esta f´ormula transforma o problema do c´alculo da primitiva dum produto P(u′v)
no problema do c´alculo de outra primitiva P(u v′) obtida da primeira primitivando
um dos factores e derivando o outro.
Uma situa¸c˜ao frequente ´e aquela em que v(x) = x e portanto v′(x) = 1:
Exemplo 74. Queremos primitivar a fun¸c˜ao x cos x. Se derivarmos x e primitivar-mos cos x o resultado ´e bastante mais simples. Assim, tomaprimitivar-mos
v(x) = x e u′(x) = cos x donde u(x) = sen x Aplicando a regra de primitiva¸c˜ao por partes chegamos a
Px vcos xu′ = x vsen xu − P 1 v′· sen xu = x sen x + cos x