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DISPUTA DE GUARDA: REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NESTE CENÁRIO. Daniela Gonzaga dos Santos

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47 DISPUTA DE GUARDA: REFLEXÕES SOBRE A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA

NESTE CENÁRIO

Daniela Gonzaga dos Santos

RESUMO: O presente artigo objetiva realizar uma revisão bibliográfica acerca da temática de disputa de guarda de crianças com e sem NE (Necessidade Especiais), levantando questões relacionadas à perspectiva psicológica acerca da guarda e seus precedentes legais quando se trata de crianças com NE. Para tanto, utilizou-se artigos publicados nos últimos 10 anos disponíveis nas bases de dados SCIELO e PEPSIC. Foram discutidos os conceitos básicos dessa problemática bem como o papel da psicologia nesses casos, tanto com relação ao vínculo afetivo, quanto no que se refere aos direitos jurídicos e constitucionais da criança e da família. Com base nos achados, foi observado que as questões relacionadas a atuação da psicologia nesse campo, pode contribuir com a forma de compreender e se relacionar com os envolvidos, principalmente, a criança, tornando o processo mais humano.

Palavras-chaves: disputa de guarda; crianças com necessidades especiais; psicologia.

GUARD DISPUTES: REFLECTIONS ON THE ACTIVITY OF PSYCHOLOGY IN THIS SCENARIO

ABSTRACT: This article aims to carry out a bibliographic review about the issue of child custody dispute with and without NE (Special Needs), raising issues related to the psychological perspective about custody and its legal precedents when it comes to children with NE. For this purpose, articles published in the last 10 years available in the SCIELO and PEPSIC databases were used. The basic concepts of this problem as well as the role of psychology in these cases, both with respect to the affective bond, and with regard to the juridical and constitutional rights of the child and the family were discussed. Based on the findings, it was observed that the issues related to the performance of psychology in this field, can contribute to the way of understanding and relate to those involved, especially the child, making the process more human.

Keywords: custody dispute; children with special needs; psychology.

Introdução

A educação especial é uma área de grande interesse à psicologia. O psicólogo atua na diferença individual de cada indivíduo (subjetividade) e deve estar atento às múltiplas formas de educar. A família, sendo um dos coparticipantes do processo, pode ser compreendida como um campo de inúmeras possibilidades de atuação e parceria, aqui, focando nas Necessidades Especiais (NE) de um (a) filho(a) que também ocupa o lugar de estudante. Embora atualmente a relação da família com o ambiente escolar esteja cada vez mais entrecruzada, esse é um cenário relativamente recente.

Ainda, em se tratando de modelos de educação de crianças com NE, há a necessidade de discutir o papel da família, como lugar primeiro onde esta deve ocorrer, sobretudo a educação voltada aos valores morais, isto, claro, sem excluir o papel da escola neste processo. Contudo,

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48 a família como lugar privilegiado para o desenvolvimento social e emocional, passa por processos de ruptura no modelo tradicional de família, na atualidade, e nestes processos, por vezes, os interesses da criança com NE passam para um plano secundário, pois os conflitos de interesses de seus genitores são dados com primordiais naquele momento.

Em disputas de guarda, incluindo de crianças com NE, o princípio do Superior Interesse da Criança deve ser resguardado, preservando os interesses do menor e seus direitos acima dos pertencentes aos pais. A figura de apego com a qual a criança estabelece vínculo permite a criança tomar como modelo. Essa questão implica a parentalidade, a qual se refere a um conjunto de atribuições que inclui as funções materna e a paterna. Sendo a primeira caracterizada pela capacidade de poder reconhecer, acolher, conter, decodificar, nomear as necessidades tanto físicas quanto emocionais da criança. Enquanto que a segunda pela capacidade de poder interditar, dar limites. Ambas se configurando o modelo patriarcal tradicional, no processo de guarda é importante examinar, sobretudo, se o veredicto da lei ou do laço biológico permite que ao lado oposto (em geral, o pai) o exercício da parentalidade. O presente artigo pretende fazer uma revisão bibliográfica acerca da temática de disputa de guarda de crianças com NE, levantando questões relacionadas à perspectiva psicológica acerca da guarda e seus precedentes legais quando se trata de crianças com NE, com o intuito de analisar a atuação da psicologia a esse respeito, ressaltando os interesses da criança, com fator principal deste processo. Para tanto, pretende-se, ainda discutir o papel da psicologia nesses casos, tanto com relação ao vínculo afetivo, quanto no que se refere aos direitos jurídicos e constitucionais da criança e da família.

A Criança Com Necessidade Especiais E A Conceitualizando De Alienação Parental A família, enquanto instituição e sistema, é local que deve assegurar ao sujeito a sua construção pessoal e social, além disto deve assegurar o bom desenvolvimento daquele que é filho. Em seu funcionamento, deve estar apta às mudanças que a interpelam no decorrer da vida, com o intuito de assegurar o desenvolvimento psicossocial de seus membros (Gomes, Pereira & Ribeiro, 2016). Ainda neste sentido, o Estado afirma que esta deve se responsabilizar pela formação moral, preparando os seus membros para o convívio em sociedade — torná-los cidadãos (Brasil, 1990). Em contrapartida o modelo familiar apresentado, aponta a existência de famílias que funcionam de diferentes formas e em virtude de vários fatores, ocorre o dissolvimento conjugal.

Não raro, em casos de divórcios de casais com filhos menores, a decisão pela guarda acaba sendo tomada por meio judicial. Nestes casos a guarda dos filhos pode ser unilateral ou

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49 compartilhada. No entanto, com alguns casais a separação ocorre de forma litigiosa, porém, os conflitos não cessam com o fim do processo jurídico. Tais conflitos, podem ter variadas causas, pois estão intimamente ligados à dinâmica de funcionamento destas antigas famílias. As questões econômicas, relacionadas ao gozo de uma melhor situação financeira por uma das partes; emocionais, advindas de um divórcio desejado apenas por um dos cônjuges, ou ainda ligados à presença de uma terceira pessoa na vida do outro ex-cônjuge, principalmente quando o adultério foi um dos motivos da separação, são os mais comentados (Fonseca, 2006).

Estes conflitos, em sua prática, nomeiam-se Alienação Parental que se configura pelo “afastamento do filho de um dos genitores, provocado pelo outro, via de regra, o titular da custódia” (Fonseca, 2006, p. 164). Este afastamento, ainda, se não identificado e intensificado, traz para a criança consequências emocionais e comportamentais, que posteriormente podem culminar na Síndrome de Alienação Parental (SAP). Esta diferencia-se da primeira mediante sua gravidade, uma vez que o próprio filho, a partir da introjeção de conflitos, passa a afastar-se e a rejeitar terminantemente a presença de seu genitor, por longos períodos de tempo. Tais comportamentos são comumente encontrados em crianças do sexo masculino, com faixa etária entre 8 e 11 anos (Fonseca, 2006). Ainda quanto a caracterização de sua prática a Lei nº 12.318/10, dispõe:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós

Em se tratando da alienação parental de crianças com necessidades especiais, este problema se torna ainda maior, tendo em vista, a problemática supracitada acerca das causas e dos efeitos. Além disto, é sabido que a criança com NEE carece de cuidados especiais, sejam eles educacionais, físicos ou psicológicos. O desgaste causado pelos processos judiciais, neste caso só trazem prejuízos à criança no seu desenvolvimento. Em todos os casos o processo de

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50 alienação, pode ser revertido se uma das partes buscar, dentre as possibilidades, intervenção e auxilio psicológico e judicial.

“Alienação parental pode ser conceituada como o agrupamento de comportamentos, conscientes ou não, que possuem a habilidade de provocar perturbação na relação que se estabelece entre o filho e um dos genitores “(Darmall, 1997, p. 12). A lei nº 12318 de 2010 considera alienação parental como uma interferência psicológica no laço que se estabelece entre a criança ou adolescente e um dos genitores, podendo ser promovida pelos avós por outras pessoas ou por um dos genitores. Alienação parental pode prejudicar a manutenção e o estabelecimento de vínculo entre o filho e o genitor (Brasil, 2010).

A alienação parental acontece, na maioria dos casos, em detrimento de uma separação litigiosa. Como normalmente ocorre neste tipo de processo, são inevitáveis as sequelas, muitas vezes irreversíveis. Neste contexto, os cônjuges separando encontram-se com as emoções afloradas. É um período de competição, de desfazimento da habitualidade, uma perda parcial de suas referências, muda-se de casa, priva-se da convivência com os filhos, dividem-se os bens, enfim, é um recomeço dolorido, desgastante, onde valores antes sublimados são relevados em face ao interesse particular. A detenção do controle sobre o filho e a sua guarda pode ser um marco de vitória, de soberania (Góis, 2010, p. 21).

Esse comportamento pode ser fruto de casos de distanciamento e vingança por parte de um dos genitores. O resultado da alienação parental em geral é a presença de problemas comportamentais, emocionais e desordens psicológicas (Guilhermano, 2012). De acordo com Fonseca (2006), ao passo que a separação do casal é realizada a guarda do filho poderá, pois existe guarda compartilhada concedida a um dos genitores. De igual modo, é permitido ao genitor privado da Guarda participar do desenvolvimento e da educação da criança. Esse direito visa garantir o convívio do menor com ambos os pais, a fim de preservar o vínculo familiar.

O genitor ou a genitora que prática alienação em geral apresenta comportamento característico: restringindo o contato do menor com o outro genitor, ou desqualificando o genitor, o que dificulta a convivência da criança com a sua outra parte da família (Góis, 2010). Esse afastamento leva a criança a se recusar de aproximar-se desse (a) genitor (a), pelo discurso que foi apresentado a respeito dele (a), que não tem interesse de ficar em sua companhia, por exemplo (Fonseca, 2006). Dentre as possíveis causas para alienação são apontadas a não concordância com as condições financeiras advindas do fim do casamento, desejo de posse exclusiva sobre os filhos e até mesmo vingança (Fonseca, 2006; Souza, 2010).

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51 O Princípio Do Superior Interesse Da Criança E O Vínculo Afetivo

Quando os pais disputam judicialmente a guarda do menor, esta pode ser concebida na modalidade unilateral ou compartilhada. No primeiro caso apenas um dos genitores detêm a guarda, sendo este o principal responsável pelo(s) filho(s), permitindo a outra parte apenas visitas domiciliares, e se mantém as obrigações econômicas (Mariano, 2016). Já na segunda modalidade de guarda, os pais, dividem tanto as responsabilidades financeiras, quanto educativas, podendo a ainda a criança alterar sua estadia com seus genitores, em ambas o objetivo principal é a manutenção do vínculo familiar, além de assegurar aos pais o direito de acompanhar o desenvolvimento dos filhos (Ferreira, 2008).

Esta decisão, tomada pelo magistrado, não pode considerar apenas os interesses pessoais dos pais, ou ainda considerado qual dos dois dispõe de maior poder aquisitivo. Nestes casos o interesse da criança, que se desvelam na sua escuta, e sobretudo a manutenção do seu vínculo familiar é primordial (Mendes, 2013).

Juridicamente o afeto possui valor (De Oliveira & Mendes, 2017). O afeto, enquanto aspecto psicológico transcende os vínculos biológicos, uma vez que não se restringe ao estabelecimento de relações baseadas no laço sanguíneo, mas, se refere à vivência de amor, empatia e solidariedade (Dias, 2011). Juridicamente, o afeto implica o princípio da afetividade:

É o princípio que fundamenta o direito de família na estabilidade das relações socioafetiva e na comunhão de vida, com primazia sobre as considerações de caráter patrimonial ou biológico. Recebeu grande impulso dos valores consagrados da Constituição de 1988 e resultou da evolução da família brasileira, nas últimas décadas do século XX, refletindo-se na doutrina jurídica e na jurisprudência dos tribunais. O princípio da afetividade especializa, no âmbito familiar, os princípios constitucionais fundamentais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) e da solidariedade (art. 3º, I), e entrelaça-se com os princípios da convivência familiar e da igualdade entre cônjuges, companheiros e filhos, que ressaltam a natureza cultural e não exclusivamente biológica da família. A evolução da família “expressa a passagem do fato natural da consanguinidade para o fato cultural da afinidade” (este no sentido da afetividade). (Branco, 2006, p. 151).

Dessa maneira, é possível compreender que o afeto possui reconhecimento jurídico, ficando explícito que o casamento não é pré-requisito para existência de afeto entre duas pessoas. Assim sendo, o afeto deve ser considerado na hora da preservação do interesse da criança e da busca em salvaguardar o vínculo afetivo que esta possui com seus gestores.

Uma vez que o afeto deve ser priorizando na escolha da guarda da criança, este precisa ser entendido como individual, e assim, evidenciado de maneira subjetiva em cada ser humano:

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52 A sobrevivência humana também depende e muito da interação do afeto; é valor supremo, necessidade ingente, bastando atentar para as demandas que estão surgindo para apurar a responsabilidade civil pela ausência de afeto. Como mostra Giselle Câmara Groeninga: “O amor é condição para entender o outro e a si, respeitar a dignidade, e desenvolver uma personalidade saudável”, e certamente nunca será inteiramente saudável aquele que não pode merecer o afeto de seus pais, ou de sua família e muito mais grave se não recebeu o afeto de ninguém (Madaleno, 2013, p. 1053).

Assim, pensar o princípio do superior interesse da criança requer a consideração do vínculo que a mesma possui com seus genitores, e tal vinculo depende do afeto que a mesma estabeleceu com estes. O afeto, por sua vez, não depende exclusivamente de laço sanguíneo, visto que se relaciona a uma experiência individual e subjetiva. Por essa razão, se faz necessário compreender os modelos de guarda existentes na atualidade, afim de se refletir a respeito dessas configurações e suas implicações na escolha judicial

A Utilização Da Mediação Como Ferramenta Em Disputas De Guarda

A atuação da psicologia nesse cenário, implica a utilização de Mediação em casos como os de alienação parental. Por mediação, compreende-se uma técnica de resolução de conflitos intermediada por um terceiro (mediador), que pode ser agente público ou privado. O objetivo desse procedimento é solucionar divergências entre pessoas, buscando o mínimo de desgaste possível e preservando os vínculos afetivos entre os envolvidos (Baccelar, 2012).

O conflito, fonte da desavença entre as partes envolvidas, pode ser conceituado como: “(...)uma maneira de ter razão independentemente dos argumentos racionais. É um procedimento contencioso no qual os antagonistas se tratam como adversários ou inimigos.” (Spengler, 2016, p. 109). Para os envolvidos, a presença do conflito é negativo, haja vista acompanhar sentimentos de violência, tristeza, raiva e perda. Tais sentimentos são compreendidos como espirais de conflito, os quais ocorrem em uma escala progressiva, resultando em um círculo de ação e reação (Azevedo, 2016).

Dessa maneira, o conflito se relaciona com acentuação das resistências, um confronto de duas vontades, uma relação onde uma busca dominar a outra impondo sua solução. O conflito no ambiente familiar pode ser entendido como um fenômeno jurídico, quando no caso das separações negativo que pode ocasionar violência e danos físicos e psicológicos, principalmente, quando há menores envolvidos (Bauman, 2004).

A mediação pode ser percebida como uma técnica autocompositiva podendo ser utilizada em diversas áreas, objetivando minimizar danos. Nestes termos, a mediação é conceituada como:

A interferência em uma negociação ou em um conflito de uma terceira parte aceitável, tendo um poder de decisão limitado ou não-autoritário, e que ajuda

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53 as partes envolvidas a chegarem voluntariamente a um acordo, mutuamente aceitável com relação as questões em disputa. Além de lidar com questões fundamentais, a mediação pode também estabelecer ou fortalecer relacionamentos de confiança e respeito entre as partes ou encerrar relacionamentos de uma maneira que minimize os custos e os danos psicológicos (Moore, 1998, p. 28).

Um dos objetivos da medicação é desenvolver a comunicação entre os sujeitos envolvidos no conflito, o que possibilita a aproximação das partes. A mediação não tem como intuito buscar um acordo entre os litigantes, mas permitir o diálogo entre eles, mesmo que essa conversa não resulte em uma solução para o conflito, apesar de que essa solução é desejada pela mediação. Para a psicologia, a mediação implica a proposição de um modelo de justiça que foge da determinação de regras jurídicas rigorosas, abrindo lugar a liberdade de decisão, comunicação e expressão de sentimentos. Assim, não se trata apenas de um meio alternativo de solução ou conciliação. Na mediação promover a comunicação e a escuta mútua das partes por meio de técnicas e procedimentos tem a finalidade de provocar o conhecimento sobre os sentimentos do outro, o que facilita a empatia (Barbosa, 2014).

Nestes termos, o principal objetivo da mediação é a liberdade dada aos envolvidos para a busca de solução consensual, de modo a auxiliar no fortalecimento da confiança e respeito. Assim, busca-se a solução de contendas com o mínimo de danos psicológicos possíveis e custos com o processo judicial. A mediação visa o estabelecimento da comunicação, empoderamento e responsabilização. O propósito é a promoção de um ambiente sem julgamentos e para planejamento do futuro familiar (Groeninga, 2008). Então, entende-se “a mediação é um método disponível para prestar apoio aos pais na busca de um modelo ideal de compartilhamento do convívio com os filhos, após a ruptura da célula familiar” (Silva, 2015, p.162).

Sendo, certamente, o método mais recomendável nas situações complexas, com elevado envolvimento emocional e necessidade de preservar os relacionamentos. Nesse contexto, é nas relações familiares, que a mediação ganha os principais contornos e segundo Fernanda Rocha Lourenço Levy:

É o meio adequado para o tratamento de conflitos entre pessoas que possuam vínculos duradouros, proporciona um espaço seguro e acolhedor para a complexidade das relações familiares. A mediação familiar possibilita o restabelecimento da comunicação entre os mediandos, a reavaliação dos pontos divergentes e convergentes e o desenvolvimento da coparticipação nas decisões tomadas e corresponsabilidade pelas escolhas feitas. (2016, p.131).

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54 Com base no observado, as disputas de guarda em geral envolvem aspectos psicológicos e emocionais. No caso das crianças com necessidade especiais, além das questões relacionadas a própria limitação da criança e do enfrentamento que os pais precisam desenvolver para lidar com os preconceitos sociais e ambientais, em vista da dificuldade de adaptação vivenciada pelas mesmas em um ambiente que não é inclusivo (o meio social), há ainda questões ligadas aos conflitos entre os genitores.

Conclusão

Em outras palavras, os conflitos de guarda, no âmbito judicial, se relacionam diretamente a conflitos psicológico e emocionais entre as partes, que dizem respeito mais a questões dos próprios genitores que da criança. O objetivo final da atuação tanto do sistema judiciário quanto do psicólogo nesse cenário é proporcionar o melhor para criança, levando em consideração os quesitos necessários para o desenvolvimento biopsicossocial do menor. Em geral, quando há disputa judicial, o conflito pode estar mais relacionado à necessidade de fazer o outro sentir dor a fim de justificar a sua própria dor que proporcionar o melhor para criança. por isso é necessário que o psicólogo ao atuar em situações como essa, tenha claro o seu papel mediador como elemento que pode ajudar aos genitores lidarem com diferenças e possíveis feridas decorrentes da separação, contribuindo para a minimização dos efeitos do conflito sobre as crianças envolvidas no processo.

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