O nosso clima futuro: alterações e
impactes no Mediterrâneo e em Portugal
Orador: João Corte-Real
(ASC_ICAAM da Universidade de Évora)
Colaboração: Isilda Menezes Regina Corte-Real
Roteiro?
• Que fazer, que caminhos percorrer, perante a
possibilidade de uma alteração climática à
escala planetária, com impactes negativos nas
escalas regional/local?
• Como sabemos dessa possibilidade?
• Que é o clima? Que tem a ver com o tempo?
• Que é uma alteração climática?
• Como conhecemos o clima futuro?
• Como se avaliam os seus impactes?
• Quais são esses impactes?
Introdução
ÎA atmosfera como componente do
Sistema Climático ou Sistema Terra
ÎMeteorologia
a) Não linear
b) Múltiplas escalas
c) Mecanismos de realimentação
d) Teleconexões
e) Irregular, turbulento ou caótico.
Sensibilidade às condições iniciais.
Processos Fundamentais
1. Advecção
2. Atrito
3. Condução
4. Convecção
5. Transições de Fase da Água
6. Radiação
Processos Radiativos
• Reforço do Efeito de Estufa Natural
• Forçamento Radiativo
Alterações Climáticas
• A “Teoria do Aquecimento Global”
Pode o Homem modificar o
Tempo ou o Clima?
• Alterações na distribuição e intensidade da
precipitação resultantes de alterações na
estabilidade coloidal das nuvens (e.g. inseminação
de nuvens)
• Alterações no balanço radiativo resultantes de
alterações nos aerossóis (e.g. poluição e alteração
da composição da atmosfera).
• Alterações no regime de ventos resultantes de
alterações da rugosidade dos solos ou do albedo
(e.g. substituição de florestas por culturas ou
cidades; incêndios florestais).
• Complicações: n/ linearidade, realimentações e
caos
Estado da Atmosfera
• Composição (concentrações; humidade específica) • Temperatura (T) • Pressão (p) • Velocidade ( ) • Densidade (ρ) V H V V VG = G + G
O TEMPO
• O Tempo (atmosférico; “weather”) é
definido pelo estado instantâneo da
atmosfera.
Estado da Atmosfera
• Observações:
• Superfície: estações meteorológicas,
EMAs
• Altitude: radiosondagens
• Detecção Remota:
• Satélite: geostacionário; órbita polar
• Radar: Tempo e Perfilador
• Meteorologia Sinóptica (escala sinóptica)
• GRUAN (Observações de referência para
Enquadramento Internacional
• Organização Meteorológica Mundial
(OMM)
• Conselho Internacional para a Ciência
(ICSU)
• Painel Intergovernamental para as
Alterações Climáticas (IPCC)
• Centro Europeu de Previsão do Tempo a
Médio Prazo (ECMWF)
• Institutos de Meteorologia
• EUMETSAT
PREVER O TEMPO
Que é prever o tempo?
É determinar os estados futuros da
atmosfera, a partir de um estado
“inicial” conhecido.
É isso possível?
Se sim, como?
PREVER O TEMPO
Prever o tempo: sim, é possível.
Porquê?
Porque as variáveis que definem o
estado instantâneo da atmosfera,
estão ligadas entre si por equações,
que traduzem leis fundamentais da
Física, e que exprimem princípios
globais de conservação (momento
linear, massa, energia, momento
angular).
Como se prevê o tempo?
• No presente, o tempo atmosférico prevê-se,
resolvendo com
o auxílio de computadores
digitais,
o sistema de equações
que resulta,
por aplicação de métodos numéricos
, da
transformação das equações que regem o
comportamento da atmosfera em equações
discretizadas no espaço e no tempo.
• Todos os dias, o Centro Europeu de Previsão
do Tempo a Médio Prazo
(ECMWF),
produz
previsões para dez dias
, à escala global, com
base num estado inicial “observado”,
referente às 12h TUC, do primeiro dia.
As previsões meteorológicas remontam aos finais do século XIX!.
A qualidade das previsões foi melhorando, à medida que a
compreensão dos mecanismos
responsáveis pelo tempo e suas alterações, bem como das escalas envolvidas, foi aumentando,
designadamente:
i) a partir dos anos trinta, com Rossby e a escola de Chicago, a que pertenceram notáveis cientistas da atmosfera;
ii) dos anos 50 com o aparecimento dos computadores digitais; a primeira
previsão numérica do tempo com
sucesso foi realizada na Universidade de
Princeton, por von Neumann, Charney e Fjortoft.
Carta meteorológica do ano de 1978-Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, Lisboa
Desde quando se fazem previsões meteorológicas?
Que é o Clima?
O conceito de clima, envolve a descrição estatística das
condições meteorológicas (i.e. do tempo atmosférico) durante um intervalo de tempo longo –
convencionalmente de 30 anos. Este tratamento estatístico
permite obter um quadro geral das condições meteorológicas típicas numa dada região do planeta,
durante o período de tempo escolhido. O clima é pois uma
representação conceptual do comportamento estatístico da
atmosfera, i.e. o clima “não está lá fora”! O que “está lá fora” i.e. o
que experimentamos é o Tempo. As grandezas que descrevem o Clima são os elementos de clima
Tempo e clima
Citando Mark Twain:
“Climate is what we expect;
weather is what we get”.
Quais os tipos de clima que existem na Terra?
Existem descrições simplificadas dos climas observados na Terra, que se baseiam em certos critérios seleccionados. Em geral, estes sistemas de classificação categorizam o clima de maneira a caracterizar o
ambiente meteorológico e hídrico de uma região em termos da temperatura e da precipitação.
Um dos mais importantes sistemas de classificação dos climas é o
sistema de Köppen, elaborado em 1918 por Vladimir Köppen da Universidade de Graz, Áustria
Que é o Clima?
O clima é influenciado por diversos
condicionantes, designados por
factores de
clima
, que decorrem da complexidade das
interacções entre os diferentes sistemas
que compõem o nosso Planeta,
da radiação
solar
que nos atinge e aquece,
da radiação
infravermelha emitida
pela própria
Terra
para o espaço, dos
parâmetros orbitais da
Terra
(excentricidade da órbita, inclinação
do eixo de rotação da Terra e precessão do
eixo), da latitude, altitude, da orografia, da
distancia ao mar, do tipo de solo e do
• Qualquer mudança significativa nas estatísticas que definem o clima, representa uma mudança climática, uma variação do clima ou uma alteração do clima.
• Variação natural do clima.
Podemos distinguir entre variações livres e forçadas
do clima.
• A Teoria de Milankovitch (mecânica Newtoniana!) • Variações abruptas do clima e surpresas.
O Clima não tem uma natureza constante;
sabemos que no passado o clima da Terra
esteve sujeito a diversas alterações e que
estas vão continuar a ocorrer no futuro, não
apenas devido a “causas naturais” mas
provavelmente também em consequência da
actividade humana (a designada Alteração
do Clima de Origem Antropogénica, ACC).
Estas alterações podem ter uma influência
profunda no ambiente, nos recursos
Variabilidade Natural do Clima
Causas:
• Evolução do Sol e transparência do meio interplanetário
• Composição química da atmosfera
• Tectónicas de Placas (deriva dos continentes, movimento dos pólos, expansão do fundo
oceânico)
• Diastrofismo (epirogénese, orogénese, compensação isostática)
• Factores astronómicos
• Actividade Solar (manchas solares; variações da “constante” solar)
PER
PER
Í
Í
ODOS DE VARIA
ODOS DE VARIA
Ç
Ç
ÃO DE TEMPERATURA
ÃO DE TEMPERATURA
AQUECIMENTO: +0,37°C
¾
DE 1915-1945
ARREFECIMENTO:- 0,14°C
¾
DE 1945-1978
AQUECIMENTO: +0,32°C
¾
DE 1978-1999
Oscilações Naturais dos Campos
da Temperatura em Portugal
Temperatura média anual
LISBOA LT = 0.8º C/100 anos R2 = 35% 14 15 16 17 18 1855 1865 1875 1885 1895 1905 1915 1925 1935 1945 1955 1965 1975 1985 1995 Tm é d ( ºC ) MONTALEGRE LT= 0.1º C/100 anos R2 =3% 8 9 10 11 12 13 1895 1905 1915 1925 1935 1945 1955 1965 1975 1985 Tm é d ( ºC ) PORTO LT =0.8º C/100 anos R2 = 19% 12 13 14 15 16 17 1895 1905 1915 1925 1935 1945 1955 1965 1975 1985 1995 Tmé d (º C ) ÉVORA LT = 0.8º C/100 anos R2 = 11% 14 15 16 17 18 189 5 190 5 191 5 192 5 193 5 194 5 195 5 196 5 197 5 198 5 199 5 Tm é d ( ºC )Temperatura máxima média anual
PORTO LT = 1,5º C/100 anos R2 = 37% 17 18 19 20 21 1901 1911 1921 1931 1941 1951 1961 1971 1981 1991 Tm áx ( ºC ) MONTALEGRE LT = 0,5º C/100 anos R2 = 3% 12 13 14 15 16 17 1901 1911 1921 1931 1941 1951 1961 1971 1981 1991 Tm áx ( ºC ) LISBOA y = 2.0º C /100 anos R2 = 47% 18 20 22 24 190 1 191 1 192 1 193 1 194 1 195 1 196 1 197 1 198 1 199 1 200 1 Tm á x ( ºC ) ÉVORA y = 1.3º C/100 anos R2 = 18% 18 19 20 21 22 23 24 1901 1911 1921 1931 1941 1951 1961 1971 1981 1991 Tm á x ( ºC )Efeitos do aumento da temperatura média e da variância nos valores extremos da temperatura
Que são Modelos?
Um modelo é uma representação mais ou
menos elaborada da realidade.
Um modelo matemático é um modelo,
tratável por computadores digitais.
A investigação das
Alterações Climáticas
baseia-se nos resultados produzidos por
Principais componentes de um
Modelo de Clima
Exemplos:
HadCM2
HadCM3
HadAM3H
HadGEM
ECHAM5
CCM
ARPÉGE
Modelos de Clima
• Modelos de clima não geram previsões de
clima, mas apenas projecções ou cenários
do clima futuro
• Modelos de clima são PCPnnP!
• Que podemos extrair dos modelos?
Estatísticas!
O Painel Intergovernamental para as Alterações
Climáticas (IPCC) estabeleceu quatro famílias de cenários de emissões, cujas características estão descritas em pormenor no ”Special Report on
Emission Scenarios” (SRES); estas famílias foram designadas por A1, A2, B2 e B1; a família A1 é a que descreve uma evolução baseada na
utilização intensiva de combustíveis fósseis; a família B1 assenta na introdução de tecnologias limpas e eficientes.
Projecção da variação do número de dias consecutivos com temperaturas máximas >25ºC – cenário A2 – Projecto MICE Projecção da variação do número de dias com precipitação intensa – cenário A2 – Projecto MICE
Modelos Regionais de Clima (RCMs)
Os AOGCMs fornecem projecções do clima futuro em escalas relativamente largas e não conseguem captar adequadamente os aspectos ou características regionais e locais, as quais são indispensáveis em estudos de impactos. Além disso, fenómenos extremos como
temperaturas severas, ondas de calor, cheias repentinas, etc, não encontram uma
representação suficientemente adequada nos
AOGCMs, i.e. estes modelos não são capazes de descrever correctamente aquele tipo de
fenómenos nem no que respeita a frequências de ocorrência nem no que se refere à sua
Estas dificuldades só podem ser resolvidas se as projecções globais forem completadas por “detalhe regional”; este pode ser dado utilizando modelos regionais de clima (RCMs).
Exemplos: HadRM3H (descontinuado) HadRM3P ou PRECIS
As condições iniciais e de fronteira (dependentes do tempo) para RCMs são extraídas de AOGCMs ou de AGCMs. A
resolução espacial típica de um RCM é ~ 50 km,
contrastando com a de ~300 Km de um AOGCM, o que permite uma muito melhor representação de ilhas, montanhas, contrastes continente-oceano, nuvens, precipitação, etc…
No clima de 2070 – 2099, sob o
cenário de emissões
A2
:
TEMPERATURA
9 Ondas de calor de maior duração e com
temperaturas mais elevadas do que as verificadas no clima de referência
9 Invernos muito mais curtos
9 Decréscimo muito significativo do número de dias com temperaturas inferiores a 0ºC na Europa do norte
PRECIPITAÇÃO
9 Europa Meridional e Mediterrâneo:
Redução da precipitação no Inverno e secas prolongadas no Verão.
9 Europa Setentrional:
Invernos mais chuvosos e períodos de seca mais frequentes no Verão,
9 Número de episódios de precipitação intensa pode aumentar, quer em valor absoluto, quer em proporção da precipitação total
PRECIPITAÇÃO (cont)
9 Na Europa do norte, mais chuvosa no Inverno, haverá mais dias com precipitação intensa
9 Na Europa do sul, mais seca, uma maior proporção da precipitação total cairá em dias muito chuvosos, embora o número total de dias de precipitação intensa decresça 9 Sobre a maior parte da Europa, espera-se um
aumento de precipitação no Inverno e,
consequentemente, um maior risco de ocorrência de cheias
VENTO
9 No período 2070 – 2099 espera-se, sob os cenários A2 e B2, um decréscimo do número total de
tempestades
9 Espera-se, no entanto, um aumento do número de tempestades severas de Inverno, na Europa ocidental
RECURSOS HÍDRICOS
9 Sob o cenário A2, no futuro (2070 - 2099), cheias, secas e episódios de poluição da água dos rios e
aquíferos, serão provavelmente mais frequentes e mais intensos
9 Os efeitos adversos da alteração climática simulada sob o cenário A2, reflectir-se-ão noutros sectores como:
Agricultura
Produção Hidroeléctrica
Seguros de propriedades e bens imóveis Saúde
AGRICULTURA
Sob os cenários A2 e B2, no período futuro 2070-2099, espera-se que a agricultura no Mediterrâneo, particularmente no norte de
África, se caracterize por um decréscimo no rendimento de culturas devido a:
9 Redução do período de crescimento do trigo e girassol
9 Ocorrência de fenómenos extremos nos estádios de desenvolvimento
Risco mais elevado de “stress” térmico no período de floração Risco mais elevado de chuva durante as sementeiras
Chuvadas mais intensas
FLORESTAS
Incêndios nas florestas Mediterrânicas
9 No futuro (2070 - 2099), sob os cenários de
emissões A2 e B2, espera-se um aumento significativo do risco de incêndio, em consequência de:
Um maior número de dias quentes e secos Ondas de calor mais prolongadas
Alargamento da estação de risco de incêndio
9 O aumento do risco será mais elevado em áreas continentais e montanhosas
ENERGIA
Procura de Energia na Europa
9 Temperaturas mais elevadas podem conduzir ao encerramento de centrais térmicas, devido ao
sobreaquecimento e à falta de água, suficientemente fria, a extrair dos rios, para arrefecimento.
9 Decréscimo no consumo de energia para aquecimento, em Invernos mais suaves
9 Aumento do consumo, para arrefecimento, em verões mais quentes
Procura de Energia na Europa do sul
9 Tendência positiva na procura de energia, em resultado do crescimento económico
9 Pico na procura de energia em Dezembro e Julho e mínimo na Primavera e Outono e em
fins-de-semana/feriados
9 Existe, para cada região, uma temperatura bem definida para a qual a procura de energia é mínima
9 O ciclo sazonal da procura irá variar, em resposta ao aquecimento global, com valores baixos de procura no Inverno e valores elevados no Verão
INDÚSTRIA SEGURADORA
9 Seguros para danos em bens imóveis provocados por tempestades, irão crescer cerca de 15% em 2070 – 2099, sob o cenário A2, se forem tomadas medidas de adaptação
9 Sem medidas de adaptação, o crescimento referido será muito maior
9 Estratégias de adaptação incluem o estabelecimento e definição de limiares críticos acima dos quais não
estarão disponíveis seguros, bem como uma maior
TURISMO
Desportos de Inverno nos Alpes
9 Diminuição da espessura da neve em cerca de 20 -30%, sob o cenário A2
9 A altitude mais sensível àquele decréscimo situa-se abaixo dos 1500 m
9 Por cada aumento de temperatura de 1ºC, haverá uma redução de cerca de duas semanas nos dias favoráveis à prática de ski.
Turismo de Verão no Mediterrâneo
9 Verões mais quentes no norte da Europa suscitarão a procura destas regiões por forma a evitar Verões
demasiados quentes no sul
9 Pelas mesmas razões, as populações do norte da Europa, procurarão férias nas suas regiões
9 Férias no Mediterrâneo serão procuradas de
Desde quando se conhecem estes
impactes?
• Desde os anos 90
• Projectos: Medalus, Popsicle, Wrincle,
Swurve
• Dismed, Desurvey, GeneticLand
• Mice, Prudence, Stardex
Cenários para Portugal
• Temperatura
• Precipitação
• Risco meteorológico de incêndio
florestal
14,69 59,00 Model Reference 15,29 97,43 Model SRES_A2a Stdev Mean 2,74 3,30 Model Reference 3,84 3,67 Model SRES_A2a Stdev Mean
-9.5 -9 -8.5 -8 -7.5 -7 -6.5 -6 37 37.5 38 38.5 39 39.5 40 40.5 41 41.5 42 0.3 0.45 0.6 0.75 0.9 1.05 1.2 1.35 1.5 1.65 1.8 1.95 2.1 2.25 2.4 2.55 2.7 2.85 3 DSR Ratio A2a/Reference
“ALL MODELS ARE WRONG.
SOME ARE USEFUL”
Muito Obrigado!
João Corte-Real jmcr@uevora.pt
http://www.icam.uevora.pt