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Sintomas depressivos e hospitalizações por insuficiência cardíaca: prevalência, preditores e mortalidade

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Academic year: 2021

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Este trabalho é parte da monografia de Felipe Montes Pena no término do curso de especialização em cardiologia clínica na Universidade Federal Flumin-ense. Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP). Niterói (RJ), Brasil.

1 Especialização em Cardiologia Clínica. Universidade Federal Fluminense. Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP). Niterói (RJ), Brasil. 2 MsC em Ciências Cardiovasculares. Universidade Federal Fluminense. Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP). Niterói (RJ), Brasil. 3 PhD em Pesquisa Clínica. Universidade Federal Fluminense. Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP). Niterói (RJ), Brasil. 4 Especialista em Clinica Medica. Hospital Escola Álvaro Alvim. Campos dos Goytacazes (RJ), Brasil.

Correspondência: Dr. Felipe Montes Pena

Rua Mariz e Barros, número 71. Apartamento 601. Bairro Icaraí. CEP 24220-120. Niterói (RJ). Brasil.

E-mail: fellipena@yahoo.com.br - fellipena@hotmail.com

Recebido: 16/9/2010 Aceitado: 04/11/2010

Sintomas depressivos e hospitalizações

por insuficiência cardíaca: prevalência,

preditores e mortalidade

Felipe Montes Pena

1

, Maria Angela Magalhães de Queiroz Carreira

2

,

Carlos Augusto Cardozo de Faria

3

, Renata de Faria Modenesi

2

, Amanda Ferreira Barcelos

4

,

Maria Clara Teixeira Piraciaba

4

, Sabrina Bernardez Pereira

2

, Jamil da Silva Soares

2

ARTIGO ORIGINAL (Versão original)

Disponível em http://www.insuficienciacardiaca.org

Insuf Card 2010; (Vol 5) 4:178-184

Resumo

Fundamentos. Estudos sobre sintomas depressivos (SD) têm sido feitos em pacientes hospitalizados por

insu-ficiência cardíaca (IC) e tem sido ignorada a influência de várias características.

Objetivos. Avaliar prevalência, preditores e correlação da gravidade dos SD e a mortalidade em hospitalizações

por IC.

Métodos. Estudo prospectivo que analisou hospitalizações consecutivas por IC. Foram analisados dados

so-ciodemográficos, clínicos e o desfecho considerado foi óbito. Na análise dos SD foi utilizado o Inventário de Depressão de Beck. Foi feita análise comparativa entre grupos com e sem SD e submetidos a regressão logística as variáveis com p entre 0,05 e 0,1. Avaliou-se a relação entre a gravidade de SD e mortalidade. Foi utilizado teste qui-quadrado ou exato de Fisher para variáveis categóricas e t de student para contínuas. Foi considerado estatisticamente significante p<0,05.

Resultados. Foram avaliados 103 pacientes, sendo 63,1% mulheres, 50,5% casados e alfabetizados 73,8%. O total

de 75,2% estava em classe funcional II e III de New York Heart Association (NYHA). Hipertensão arterial sistêmica foi a comorbidade mais comum (92,2%). A presença de SD foi presente em 69 (67%) pacientes. Os preditores de SD foram: estado civil (p=0,03) e na regressão logística: sexo (p<0,0001), modo de vida (0,002) e etiologia da IC (p<0,0001). A mortalidade relacionou-se à SD em sintomas moderados (p=0,04) e graves (0,01).

Conclusão. Os SD são comuns em hospitalizações por IC. A prevalência varia conforme características clínicas

dos pacientes. Os preditores foram sexo, estado civil, modo de vida e etiologia da IC. A mortalidade relacionou-se a SD moderados e graves.

Insuf Card 2010 (Vol 5)4:178-184 Palavras-chave: Sintomas depressivos - Insuficiência cardíaca - Hospitalização

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Métodos

Este estudo é uma análise prospectiva de pacientes portadores de insuficiência cardíaca consecutivamente admitidos em enfermarias de cardiologia de três hospitais de atendimento público no município de Campos dos Goytacazes. Os pacientes foram recrutados pelo período de três meses. Todos os pacientes possuíam diagnóstico prévio de insuficiência cardíaca ou foram diagnosticados à admissão pelos critérios de Boston8. A fração de ejeção

de ventrículo esquerdo (FEVE) foi obtida através de ecocardiografia transtorácica e foram incluídos todos os pacientes com FEVE<50%. Os critérios de exclusão do estudo foram: neoplasia grave diagnosticada concomitante ao uso de antidepressivos 30 dias prévios à admissão, desordens que prejudiquem o entendimento e comuni-cação com o pesquisador, história de abuso alcoólico ou dependência nos últimos seis meses, sintomas psicóticos, história de psicose, distúrbio bipolar, demência (ou escore mini mental<23) ou inabilidade para assinar o consenti-mento informado.

Procedimentos

Os pacientes foram submetidos a questionário que in-cluía assertivas sobre dados sociodemográficos como: idade, sexo, estado civil, emprego, nível educacional e renda mensal regular. O estágio da insuficiência cardíaca foi avaliado pela classe funcional da New York Heart

Introdução

A insuficiência cardíaca (IC) é caracterizada por compro-metimento da função cardíaca, alto índice de complicações e diminuição da expectativa de vida. A piora da função cardíaca e ativação neuro-humoral são os definidores das características da IC, que contribuem para deterioração clínica e o foco das intervenções tem sido geralmente o bloqueio do sistema renina-angiotensina e sistema nervoso simpático1,2.

Os sintomas depressivos (SD) têm sido associados e são comuns em pacientes com IC, podendo ser importantes determinantes do estado geral e classe funcional3.O

inte-resse na abordagem psicossocial da IC tem sido reforçado pelos enormes custos produzidos pela associação de SD e IC. Embora revisões sobre a literatura recente identifiquem SD e IC, como importante tema, métodos quantitativos são necessários para definir precisamente a magnitude desta relação4-6.

A forma exata para detecção, prevenção e intervenção sobre os SD, assim como os fatores associados com desen-cadeamento destes nos pacientes com IC devem ser esta-belecidos, devido a não estarem bem definidos os fatores de risco e prevalência em diferentes populações. Portanto, a identificação precoce do potencial acometimento destes pacientes sugere uma redução na incidência de SD7.

O objetivo deste artigo é proceder com análise da presença de SD em pacientes hospitalizados por IC, determinando sua prevalência, variáveis preditoras e correlacionar a gravidade dos SD com a mortalidade.

Summary

Depressive symptoms and hospitalizations for heart failure:

prevalence, predictors and mortality

Background. Studies of depressive symptoms (DS) has been made in patients hospitalized for heart failure (HF)

and the influence of various characteristics has been ignored.

Objectives. To assess prevalence, predictors and correlated to the severity of DS and mortality in HF

hospita-lizations.

Methods. This prospective study examined consecutive hospitalizations for HF. We analyzed sociodemographic

data and clinical outcome was death. In analysis of DS was used Beck Depression Inventory II. Comparative analysis were made between groups with and without DS and subjected to logistic regression variables with p between 0.05 and 0.1. We evaluated the relationship between the severity of SD and mortality. It was considered statistically significant p <0.05.

Results: We evaluated 103 patients, 63.1% women, 50.5% were married and 73.8% literate. A total of 75.2% were in New York Heart Association (NYHA) functional class II and III. Hypertension was the most common co-morbidity (92.2%). The DS was present in 69 (67%) patients. The predictors of DS were: marital status (p=0.03) and logistic regression: sex (p<0.0001), lifestyle (0.002) and etiology of HF (p<0.0001). Mortality was related to the DS in moderate symptoms (p=0.04) and severe (0.01).

Conclusion. The DS are common in HF hospitalizations. The prevalence varies according to clinical

characte-ristics of patients. The predictors were gender, marital status, lifestyle and etiology of HF. Mortality was related to moderate and severe DS.

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Association (NYHA) e também foram obtidas informa-ções sobre fatores de risco cardiovasculares, etiologia da insuficiência cardíaca e tratamento administrado. Não houve pacientes em classe funcional I de NYHA, visto que somente pacientes hospitalizados foram incluídos no estudo. Comorbidades e medicações em uso foram analisadas. Os pacientes foram seguidos até o fim da internação para análise do desfecho, sendo considerado desfecho alvo do estudo o óbito.

Para identificação de sintomas depressivos foi utilizado o Inventário de Depressão de Beck II9,10 para todos os

pacientes nos primeiros cinco dias de hospitalização: esta escala, validada no Brasil e usualmente utilizada em estu-dos internacionais, colabora na identificação de sintomas depressivos e na intensidade destes através de pontuação final obtida pela avaliação de 21 itens. A pontuação varia entre 0 e 63, de acordo com Beck e distribuído da se-guinte forma: de 0 a 9 os DS são considerados ausentes, entre 10 e 18 é considerado moderado, entre 19 e 29 é considerado de moderado a severo e acima de 30 é con-siderado grave. Nós concon-siderado a presença de sintomas depressivos quando pontuação ≥ 10 pontos11. Em adição

a escala original, nós computamos a pontuação excluindo os sintomas somáticos (fadiga, sono e distúrbios do ape-tite) que poderiam causar confusão entre os sintomas da insuficiência cardíaca e os DS, podendo superestimar a associação entre SD e insuficiência cardíaca. A aplicação dos questionários foi realizada por médicos previamente orientados sobre o método.

Análise estatística

Os participantes foram classificados como pacientes com e sem SD baseado no questionário adotado. O teste qui-quadrado e exato de Fisher foram utilizados para determinar quando os fatores sócio-demográficos e clínicos possuíam ou não relação com SD, assim como utilizados para avaliar o nível de sintomas depressivos e a letalidade ao fim da internação. O nível de significância adotado foi p<0,05. As variáveis com p valor entre 0,05 e 0,1 foram incluídas em análise de regressão logística para determinar o poder pre-ditivo para SD. O odds ratio (OR) e intervalo de confiança (CI) 95% foram calculados para as variáveis preditoras.

Resultados

A maioria dos pacientes era do sexo feminino (63,1%), casados (50,5%), alfabetizados (73,8%) e menos da metade renda mensal regular (43,7%). A maioria estava em classe funcional II e III (75,2%). A etiologia não isquêmica foi mais comum 59 (57,3%) e dividiu-se em valvular 17 (28,5%), hipertensos 43 (66,4%), alcoólica 1 (1,7%), miocardite 1 (1,7%) e diabética (1%). O tempo médio de internação hospitalar ficou em 16,3±11,6 dias, variando entre 4 e 65 dias. As características basais da amostra foram apresentadas na tabela 1. A FEVE média

Tabla 1. Características básicas

Factores sociodemográficos n %

Idade (média y desvio padrão) 65,4±13,6 Sexo Masculino 38 36,9 Feminino 65 63,1 Educação Analfabeto 27 26,2 Alfabetizado 76 73,8 Estado civil Casados 51 49,5 Solteiros 52 50,5 Renda mensal Possui 45 43,7 Não possui 58 56,3 Casa própria Possui 65 63,1 Não possui 38 36,9 Modo de vida Vive sozinho 29 28,1 Vive acompanhado 74 71,9

Fatores de risco cardiovasculares

Hipertensão arterial sistêmica 95 92,2

Diabetes Mellitus 35 34 Dislipidemia 47 45,6 Sedentarismo 85 82,5 Tabagismo 36 35 História familiar 95 92,2 Classificação NYHA n % CF II 35 34 CF III 43 41,2 CF IV 25 24,3 Tratamento medicamentoso Inibidores da ECA 69 67 BRA II 31 30,1 Beta-bloqueadores adrenérgicos 81 78,6 Diuréticos tiazídicos 21 20,4 Inibidores da aldosterona 50 48,5

Bloqueadores de canal de cálcio 20 19,4

Nitrato oral 33 32 Acido acetilsalicílico 66 64,1 Anticoagulação oral 10 9,7 Digitálicos 45 43,7 Tienopiridínicos 5 4,8 Vasodilatores arteriais 2 1,9 Estatinas 43 41,7 Diuréticos de alça 59 57,3 Etiologia da IC Isquêmicos 44 42,7 Não isquêmicos 59 57,3

ECA: enzima conversora de angiotensina. BRA: bloqueadores dos receptores da angiotensina. NYHA: New York Heart Association.

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Figura 1. Representação da proporção de pacientes e óbitos de acordo com a gravidade dos sintomas depressivos. Tabela 2. Percentuais, pontuação e relação do escore do Inventário de Depressão de Beck com a mortalidade

Pontuação BDI n (%) OR IC 95% Média (DP) p

Leve 37 (35,9) 0,83 0,27-2,51 14,11±2,73 0,43

Moderado 23 (21,4) 1,00 0,30-3,38 21,96±5,05 0,04

Grave 9 (7,8) 1,70 0,43-6,68 33,87±2,64 0,01

OR: Odds Ratio. IC: intervalo de confiança.

e desvio padrão foi 39,5±7,3 variando entre 21 e 49%. As características basais são apresentadas na Tabela 1.

Prevalência e mortalidade de acordo com o

grau de sintomas depressivos

A amostra do estudo foi analisada com BDI, 69 (67%) dos pacientes com SD foram identificados. Quando estratifica-dos de acordo com a gravidade, 35 (34%) possuíam sinto-mas leves, 22 (21,3%) moderados e 12 (11,6%) possuíam sintomas graves. Quando correlacionados a gravidade dos sintomas com a mortalidade encontramos relação somente quando avaliados os sintomas moderados (OR=1,00; IC95%= 0,30-3,38; p=0,04) e graves (OR=0,83; IC95%= 1,70; p=0,01) (Tabela 2).

Preditores de sintomas depressivos

Os pacientes foram divididos em dois grupos, baseado na presença e ausência de SD de acordo com BDI. A análise univariada foi feita e apresentada na Tabela 3. A única vari-ável significante foi o estado civil (p=0,03). Após esta fase foram consideradas para regressão logística as variáveis: sexo, modo de vida, consumo de álcool, IRC e etiologia da IC. As variáveis preditoras na regressão logística foram consideradas sexo, modo de vida e etiologia da IC (Tabela 4). O odds ratio (OR) e intervalo de confiança (CI) de 95% estão apresentados na Tabela 5.

Discussão

A prevalência encontrada foi de 67% na amostra estudada, os indicadores foram estado civil, sexo, modo de vida, e etiologia da IC. Os pacientes que tinham SD moderados e graves correlacionaram-se com a mortalidade ao fim da internação. Em relação outros estudos que abordam o tema sobre desordens depressivas em pacientes hospitalizados por IC, vários registraram que pacientes na terceira idade exclusivamente, enquanto nossa amostragem incluiu pa-cientes jovens. Por termos uma amostragem mais ampla, é possível evoluir e descrever melhor a prevalência de SD em pacientes hospitalizados por IC, que em outros estudos.

Prevalência de sintomas depressivos na IC

A identificação de pacientes com IC que possuem risco de desenvolvimento de SD é importante devido à associação entre SD e desfechos negativos neste grupo. Aproximada-mente 30% dos pacientes com IC, incluindo hospitalizados e ambulatoriais, têm significativa taxa de SD. Evento que foi expressivo em nossa amostra que obteve 67% de SD entre hospitalizados7,12. Portanto, pacientes com SD e IC

possuem maior risco de mortalidade, hospitalização e piora dos sintomas relacionados à IC, classe funcional e qualidade de vida12. Cumprindo com o objetivo pelo qual

este estudo foi delineado, pudemos identificar os predi-tores que influenciaram a presença de SD e identificar os

Número de pacientes segundo a gravidade dos sintomas depressivos

Número de óbitos segundo a gravidade dos sintomas depressivos

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Todos pacientes Presença de SD Ausência de SD

Variáveis Média±DP Média±DP Média±DP p

Idade 65,43±13,66 66,56±13,18 63,14±14,50 0,26 Variáveis sociodemográficas N (%) N (%) N (%) p Sexo Masculino 38 (36,9) 26 (68,4) 12 (31,6) 0,06 Feminino 65 (63,1) 43 (66,1) 22 (33,9) Estado civil Casados 52 (50,5) 31 (59,6) 21 (40,4) 0,03 Solteiros 51 (49,5) 39 (76,4) 12 (23,6) Renda mensal Possui 45 (43,6) 29 (64,4) 16 (35,6) 0,32 Não possui 58 (56,4) 41 (70,7) 17 (29,3) Nível educacional Alfabetizados 75 (72,8) 52 (69,3) 23 (30,7) 0,39 Analfabetos 28 (27,2) 8 (64,3) 10 (35,7) Modo de vida Vive acompanhado 74 (71,8) 47 (63,5) 27 (36,5) 0,09 Vive só 29 (28,2) 23 (79,3) 6 (20,7) Moradia

Possui casa própria 63 (61,1) 41 (65,0) 22 (35,0) 0,57

Não possui 37 (38,9) 26 (70,3) 14 (29,7) Fatores de risco CV HAS 95 (92,2) 67 (70,5) 28 (29,5) 0,35 Diabetes Mellitus 34 (33,0) 23 (67,6) 11 (32,4) 0,56 Dislipidemia 47 (45,6) 30 (63,8) 17 (36,2) 0,42 Sedentarismo 81 (78,6) 56 (69,1) 25 (30,9) 0,44 Tabagismo 23 (22,3) 13 (56,5) 10 (43,5) 0,23 Outros fatores Anemia 39 (37,9) 29 (74,3) 10 (25,7) 0,26 DPOC 12 (11,6) 8 (66,7) 4 (33,3) 0,6 Hipotireoidismo 6 (5,8) 5 (83,3) 1 (16,7) 0,36 IRC 6 (5,8) 6 (100) 0 (0) 0,09 Consumo alcoólico 20 (19,4) 17 (85,0) 3 (15,0) 0,08 FEVE (media±DP) 39,5±7,34 31±6,32 37±8,42 0,15 Fibrilação atrial 21 (20,4) 14 (66,7) 7 (33,3) 0,58 Drogas utilizadas Inibidores da ECA 69 (67,0) 45 (65,2) 24 (34,3) 0,46 BRA II 31 (30,0) 24 (77,4) 7 (22,6) 0,18 Beta bloqueadores 83 (80,5) 54 (65,0) 29 (35,0) 0,45 Diuréticos tiazídicos 21 (20,3) 15 (71,4) 6 (28,6) 0,45 Inibidores da aldosterona 50 (48,5) 38 (76,0) 12 (24,0) 0,17 BCC 20 (19,4) 15 (75,0) 5 (25,0) 0,33 Nitratos orais 33 (32,0) 22 (66,7) 11 (33,3) 0,56 Ácido acetilsalicílico 57 (55,3) 45 (79,0) 22 (21,0) 0,55 Anticoagulação oral 10 (9,7) 5 (50,0) 5 (50,0) 0,22 Digitálicos 43 (41,7) 30 (69,7) 13 (30,3) 0,45 Tienopiridínicos 5 (4,8) 3 (60,0) 2 (40,0) 0,53 Hidralazina 2 (1,9) 1 (50,0) 1 (50,0) 0,55 Diuréticos de alça 59 (57,2) 46 (80,0) 13 (22,0) 0,12 Classificação de NYHA CF II 36 (34,9) 25 (69,4) 11 (30,6) 0,47 CF III 42 (40,8) 27 (64,3) 14 (35,7) CF IV 25 (24,3) 17 (68,0) 8 (32,0) Etiologia da IC Isquêmicos 43 (41,7) 33 (76,7) 10 (23,3) 0,05 Não isquêmicos 60 (58,3) 36 (60,0) 24 (40,0)

Tabela 3. Comparação entre pacientes com e sem sintomas depressivos relacionados a variáveis clínicas e sociodemográficas

CV: cardiovascular. HAS: hipertensão arterial sistêmica. DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica. ECA: enzima convertidora de angiotensina. BRA: bloqueadores de receptor de angiotensina. IRC: insuficiência renal crônica. BCC: bloqueadores de canal de cálcio. CF: classe funcional. FEVE: Fração de eyeção ventricular esquerda. DE: desvio-padrão.

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Variáveis Odds ratio (IC 95%) Sexo Masculino vs. feminino 1,10 (0,47-2,60) Estado civil Casados vs. solteiros 0,45 (0,19-1,06) Modo de vida

Vive acompanhado vs. vive só 0,45 (0,16-1,25) Etiologia da IC

Isquêmico vs. não isquêmico 2,20 (0,91-5,28) IC: insuficiência cardíaca.

Variáveis β t p

Sexo 0,55 4,4 <0,0001

Modo de vida 0,45 3,19 0,002

Consumo de álcool -0,46 -1,08 0,28

Insuficiência renal crônica -0,31 0,13 0,71

Etiologia da IC 0,74 5,98 <0,0001

IC: insuficiência cardíaca.

Tabela 4. Análise de regressão logística para determinar preditores de sintomas depressivos in pacientes hospitalizados por insuficiência cardíaca

Tabela 5. Apresentação do intervalo de confiança 95% das variáveis preditoras encontradas na regressão logística

pacientes que necessitavam algum tipo de intervenção. Os índices de SD podem varia de acordo com as carac-terísticas da IC afetando a gravidade dos sintomas ou de acordo com o tipo de disfunção (sistólico ou diastólico, função ventricular preservada ou deprimida)13. Embora os

SD estimados podem ser bem menores quando o número de estudo com IC14, a discrepância vista pode ser

resulta-do da forma utilizada para a definição de SD. Em nosso estudo foi utilizado o BDI II para análise da presença de SD. Estudos individuais estimam que a prevalência varie de 9 a 60%, sugerindo um considerável nível de heterogeneidade15.

Preditores de sintomas depressivos em IC

Estudos com pacientes em pós-infarto do miocárdio têm demonstrado que pacientes de baixo nível socioeconô-mico, com classe funcional ruim e várias comorbidades podem ser preditores de SD12,13. Estudos em outras

populações têm avaliado sexo feminino, divorciados ou separados, desempregados e baixo nível socioeconômico como fatores de risco importantes16,17. Alguns destes

achados foram observados em nosso estudo. Em nossa amostra os sexos femininos e divorciados ou separados estiveram correlacionados com a presença de sintomas depressivos, assim como aqueles que vivem sozinhos e a etiologia isquêmica da IC.

Segundo Freedland e cols.18, o sexo feminino foi

asso-ciado com SD quando o critério para SD maiores foi utilizado, mas a prevalência não variou de acordo com o sexo quando foram definidos pela pontuação do BDI. De acordo com Pena e cols.15 ao analisar a influência de fatores

sócio-demográficos na presença de SD na IC, o sexo não influenciou. Três outros estudos encontraram uma liga-ção entre sexo e SD16-18. Apenas um estudo demonstrou

ligação fisiopatológica entre SD e etiologia da IC, sendo que aqueles que possuíam SD e fração de ejeção reduzida obtiveram pior classe funcional18.

Utilização do BDI para avaliar sintomas

depressivos e preditor de mortalidade

O BDI tem sido utilizado comumente para avaliar SD e predição de prognóstico em pacientes com doença cardio-vascular isquêmica e não comumente usado em pacientes com IC. De acordo com Jiang e cols.12, a presença de SD

foi definida quando a pontuação no BDI foi >10 e esteve associado ao aumento de 1,66 vezes no risco para morta-lidade após um ano da admissão.

A pontuação no BDI está correlacionada linear e direta-mente com mortalidade, para isto, a cada ponto computado no BDI, a mortalidade aumenta em 2%. Mesmo quando computamos o BDI entre 5 e 9, que não é definido como presença de SD, foram associados com mortalidade de 21% quando comparado com pontuação <5. Portanto, pacientes com pontuações >19 possuem 83% mais chances de óbito quando comparados com aqueles <519-21.

Em nossa amostra, observamos exatamente estes índices visto que de acordo com a gradação da pontuação obtida no BDI, observamos maiores risco de óbito na internação. Quando avaliados os pacientes de moderado e alto risco obtivemos correlação estatística com mortalidade.

Desfechos em pacientes com sintomas

depressivos e IC

Através da esfera da mortalidade, utilização dos serviços de saúde e associado a eventos clínicos obtidos na aná-lise, em estudos prospectivos de SD e HF observamos resultados indicadores de substancial piora prognóstica da IC em pacientes com SD mais graves. De acordo com os desfechos observados em estudo de depressão ajustado com variáveis múltiplas (idade, classe funcional NYHA, fração de ejeção), sugerindo que a presença de SD seja afetada por características sóciodemográficas e gravidade da IC22.

Estes achados são consistentes com SD na mortalidade em pacientes com doença cardiovascular conforme revisões

(7)

recentes, a mortalidade resultante é reforçada pelas dife-renças na readmissão hospitalar e utilizada dos serviços de saúde por pacientes possuidores ou não de SD23,24.Em

nos-so estudo a mortalidade observado foi mais freqüente de acordo com grau de gravidade dos sintomas depressivos, sendo evidente que este grupo de pacientes possui maior tempo de internação e consumo dos serviços de saúde. A mortalidade global observada em nossa casuística foi de 9 (8,7%) pacientes.

Limitações do estudo

O BDI é utilizado apenas na detecção de SD e não no diagnóstico de depressão, o qual necessitaria a utilização de outros instrumentos. A amostra de tamanho pequeno imprime limitações ao realizar inferências na análise dos resultados. Os resultados obtidos mostram que a associação entre DS e IC não meramente explicada por efeitos emocionais, contudo, merece estudos mais apro-fundados para comprovar não só a relação observada no estudo, como também plausibilidade biológica entre a associação.

Conclusão

A prevalência de SD é muito comum em pacientes hospitalizados por IC, sendo que em nossa amostra ela demonstrou níveis muito superiores a outras casuísticas na literatura. Os preditores de sintomas depressivos fo-ram estado civil, sexo, modo de vida e etiologia da IC e a importância em localizar estes sintomas estão no fato de identificar os pacientes precocemente susceptíveis a desencadeamento destes sintomas, visando práticas e cria-ção de programas apropriados para este grupo específico de pacientes. Outro dado relevante que merecem maior atenção os pacientes com maiores pontuações obtidas no BDI, visto a maior mortalidade e possibilidade de eventos nestes pacientes.

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Referências

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