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RESUMO. Descritores: Obtenção de órgãos. Transplante de órgãos. Doadores de tecidos. Trauma crânio-cerebral. Doador cadáver. Morte encefálica.

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RESUMO

Introdução: No ano de 2002, o Estado do Maranhão teve apenas 0,9 doadores por milhão de população (pmp) notificados à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos Estadual (CNCDO–MA), o que certamente não traduz o número real de potenciais doadores cadavéricos no Estado. Objetivos: Estimar o número de potenciais doadores cadavéricos, a disponibilidade anual de órgãos e tecidos para transplante, e determinar a capacidade de detecção de potenciais doadores pela CNCDO–MA no Município de São Luís, Capital do Maranhão. Métodos: Foram analisadas todas as necropsias realizadas pelo Instituto Médico Legal (IML) da Capital e as notificações feitas à CNCDO–MA no ano de 2003. Consideraram-se potenciais doadores de órgãos e tecidos no IML todos os cadáveres com identificação que tivessem entre 7 dias e 70 anos de idade, com óbito exclusivo por traumatismo crânio-encefálico (TCE), que receberam atendimento hospitalar prévio em São Luís - MA, apresentando ainda sinais vitais, sem lesões de órgãos torácicos ou abdominais ou evidência de contra-indicações absolutas para o transplante. Resultados: Observou-se uma taxa anual de 116,9 potenciais doadores pmp/ano. O diagnóstico de morte encefálica estava registrado em apenas 7,4% dos laudos médicos encaminhados ao IML, sendo que 81,5% dos potenciais doadores tiveram atendimento prévio em hospitais com emergência neurocirúrgica. Estimou-se que a disponibilidade de órgãos e tecidos seria suficiente para atender à demanda anual estimada para esta Capital. Das oito notificações realizadas à CNCDO–MA no ano de 2003, nenhuma foi efetivada e a recusa familiar foi o motivo em (7/8) 87% dos casos. Conclusão: Em São Luís - MA, não há carência de potenciais doadores, e sim falhas na sua detecção e efetivação. (J Bras Nefrol 2006;28(1):25-30)

Descritores: Obtenção de órgãos. Transplante de órgãos. Doadores de tecidos. Trauma crânio-cerebral. Doador cadáver. Morte encefálica.

ABSTRACT

Introduction: In the year of 2002, the Maranhão State had only 0.9 donors per million population (pmp) notified to the State Central of Notification, Procurement and Distribution of Organs (CNCDO–MA), which certainly does not express the real number of potential cadaveric donors in the State. Objective: To estimate the number of potential cadaveric donors, the annual availability of organs and tissues for transplant and to determine the detection capacity of potential donors for CNCDO–MA in the city of São Luís, Capital of Maranhão. Methods: An analysis was made of all the autopsies performed by the Forensic Medical Institute (IML) of the Capital and the notifications received by the CNCDO–MA in the year of 2003. We considered potential donors

Estimativa do Número Potencial de Doadores Cadavéricos

e da Disponibilidade de Órgãos e Tecidos Para Transplantes

em Uma Capital do Nordeste do Brasil

Estimate of the Potential Number of Cadaveric Donors and

Availability of Organs and Tissues for Transplants in a Capital of the

Northeast of Brazil.

Ana Lúcia Guterres de Abreu Santos

1

, Antonio Augusto Moura da Silva

2

, Ricardo Ferreira Santos

3 1Professora Assistente do Departamento de Medicina III, Ex-aluna do Programa de Mestrado em Ciências da Saúde –

Universidade Federal do Maranhão; 2Professor Adjunto do Departamento de Saúde Pública e do Programa de

Mestrado em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Maranhão; 3Professor Adjunto do Departamento de

Medicina I e do Programa de Mestrado em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Maranhão.

Recebido em 19/09/05 / Aprovado em 23/01/06

Endereço para correspondência:

Ricardo Ferreira Santos Av. Colares Moreira 555, sala 101 65075-441 São Luís, MA Fone/Fax: (98) 3235-9129 E-mail: ricana@elo.com.br

Artigo baseado na Dissertação de Mestrado “Estimativa do número potencial de doadores cadavéricos e da disponibilidade anual de órgãos e tecidos em São Luís-Maranhão”, 2005, apresentada ao Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Maranhão. Dados parciais da referida dissertação foram apresentados como Pôster e Tema Livre no IX Congresso Brasileiro de Transplantes em Salvador, BA, no período de 2 a 6 de julho de 2005.

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, em conseqüência de uma série de medidas positivas governamentais, houve um aumento significativo na atividade transplantadora no Brasil. Tal incremento se expressou tanto no número de transplantes quanto no de Hospitais e equipes credenciadas1.

No Estado do Maranhão, entretanto, essa atividade ainda restringe-se à Capital, São Luís, e a um único Hospi-tal. Por falta de equipes habilitadas para os demais órgãos e tecidos e por razões estruturais, é representada exclusi-vamente pelo transplante renal intervivos e um número modesto de transplantes de córnea.

O transplante de rim utilizando doadores cadavé-ricos ainda não é realizado rotineiramente, porque não existem laboratórios especializados para realização dos exames de cross-match. Quanto às córneas, os baixos índices de transplante podem ser atribuídos ao pequeno número de doadores cadavéricos notificados e efetiva-dos2. No ano de 2002, por exemplo, foram notificados

apenas 0,9 doadores por milhão de população (pmp) à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Ór-gãos do Maranhão (CNCDO–MA)3. No mesmo período,

em outros Estados do Nordeste como no Piauí, Ceará e Pernambuco, essa taxa foi quinze vezes maior3. Da

mes-ma formes-ma, efetivou-se apenas 0,5 doador pmp/ano, índice que foi inferior à maioria dos Estados brasileiros3.

Esses dados demonstram que as taxas apresen-tadas pela CNCDO–MA certamente não representam o real número de potenciais doadores cadavéricos no Estado. Na Capital, São Luís, de tão pequeno número de doadores notificados, até as suas características demográ-ficas têm sido difícil estudar.

Nesse contexto de subnotificações e de baixa efe-tivação de doações, o presente estudo objetivou, a partir de dados coletados no Instituto Médico Legal (IML)

lo-cal, estimar o número de potenciais doadores cadavéricos no Município de São Luís, descrever o seu perfil demográ-fico, avaliar a disponibilidade anual de órgãos e tecidos para transplante e determinar a capacidade de detecção de potenciais doadores pela CNCDO–MA, nesta Capital.

MÉTODOS

Consideraram-se potenciais doadores cadavéricos de órgãos e tecidos todos os indivíduos vítimas de morte violenta submetidos à necropsia no Instituto Médico Legal (IML) de São Luís, MA, no ano de 2003, que se adequaram aos seguintes cri-térios: o traumatismo crânio-encefálico (TCE) foi a causa exclu-siva do óbito identificada pela necropsia; idade entre sete dias de vida (limite de idade mínimo para aplicação dos critérios para o diagnóstico clínico de morte encefálica segundo o Conselho Federal de Medicina4) e 70 anos até a data do óbito; tivessem identificação e recebido atendimento hospitalar prévio nesta Capital ainda com sinais vitais, permitindo a oportunidade, por parte da equipe médica, de ter realizado o diagnóstico de morte encefálica; não apresentassem evidências de contra-indicações absolutas para a doação, identificadas na ficha de encaminha-mento hospitalar ao IML ou no laudo da necropsia e nem lesões traumáticas de órgãos torácicos e abdominais. Presumiu-se que todos os cadáveres procedentes de São Luís durante o período do estudo, que tiveram o TCE como causa da morte, foram enca-minhados ao IML para necropsia, pois é esta a determinação da legislação brasileira para todos os óbitos de causa não natural.

Para a estimativa da disponibilidade anual de órgãos e tecidos, foi fixada a idade máxima de 55 anos para os potenciais doadores de rim e de intestino, 50 anos para os de coração, fíga-do e pâncreas, 60 anos para os de pulmão e 70 anos para os de ossos, conforme recomendado pela I Reunião de Diretrizes Bá-sicas para Captação e Retirada de Múltiplos Órgãos e Tecidos da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, 20035. Apesar de não haver idade máxima para a doação das córneas, considerou-se neste estudo 70 anos, pois esta foi a idade limite estabelecida nos critérios de inclusão como potencial doador cadavérico. Considerou-se, ainda, a idade mínima de cinco anos para os doadores de rim, dez anos para os de pâncreas e quinze anos para os doadores de ossos. Para os demais órgãos e tecidos foi considerado o limite mínimo determinado nos critérios de inclusão como potencial doador cadavérico neste estudo. Foram considerados doadores de múltiplos órgãos e tecidos aqueles cadáveres que tinham idade entre 15 e 50 anos na data da necro-psia. Devido à demanda ainda incipiente e à falta de registros nacionais, optou-se por não avaliar, no presente trabalho, a dis-ponibilidade anual de outros tecidos como a pele, esclera, valvas cardíacas, cartilagens, ligamentos e vasos sanguíneos.

Na CNCDO–MA, os dados foram obtidos através da consulta às fichas de notificação de doação e das fichas de estatística mensal enviadas ao Sistema Nacional de Transplante do Ministério da Saúde (SNT–MS). Consideraram-se potenciais doadores de órgãos e tecidos todos os pacientes com diagnóstico clínico de morte encefálica notificados à CNCDO no ano de 2003. Seriam considerados doadores efetivados todos aqueles dos of organs and tissues in IML all cadavers with identification, that had

between 7 days and 70 years of age, with exclusive cause of death listed as head trauma, having received medical care prior to death in São Luís, MA, with still preserved vital signs, without lesions of thoracic and abdominal organs or absolute contraindications to be a donor. Results: The rate observed was 116.9 potential donors per million population per year (pmp/year). The diagnosis of brain death was registered in only 7.4% of the reports sent to IML, and the 81.5% of the potential donors had received treatment prior in hospitals with neurosurgical emergency. It is therefore estimated that the availability of organs and tissues would be enough to assist the annual demand for this Capital. From the eight potential donors notified to the CNCDO–MA in 2003, none became an effective donor and family refusal was the reason in (7/8) 87% of the cases. Conclusion: In São Luís - MA, there is no shortage of potential donors, however, there are failures in their detection and effective use. (J Bras Nefrol 2006;28(1):25-30)

Keywords: Organ procurement. Organ donation. Organ transplantation. Tissue donors. Craniocerebral trauma. Cadaver donor. Brain death.

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quais houvesse a retirada de órgãos e/ou tecidos com a finali-dade de transplante. Era intenção deste estudo demonstrar as va-riáveis demográficas do potencial doador, o Hospital fonte da no-tificação, os órgãos e tecidos por ventura doados e as causas da não efetivação da doação, porém somente o último dado foi pos-sível obter, devido à falta desses registros nas fontes de consultas. Para a avaliação da capacidade de detecção de poten-ciais doadores cadavéricos pela CNCDO Estadual, comparou-se o número de doadores notificados à CNCDO–MA no ano de 2003 com o número de potenciais doadores cadavéricos identi-ficados pelo presente estudo no IML de São Luís, MA, no mes-mo período, avaliando-se a relação percentual.

Considerou-se a população residente da Cidade de São Luís, MA, no ano de 2003 (923.526 habitantes), estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para o cálculo do número de potenciais doadores cadavéricos e da disponibilidade anual de órgãos e tecidos por milhão de população (pmp)6.

RESULTADOS

Estimativa do número potencial de doadores cadavéricos

No ano de 2003, foram realizadas 860 necropsias no IML de São Luís, MA. Deste total, 787 (91,5%) decor-reram de morte violenta, das quais em 223 (28,3%) o TCE foi diagnosticado como causa exclusiva do óbito. Desses cadáveres, 149 (66,8%) receberam atendimento hospita-lar prévio, dos quais 119 deram entrada no Hospital ainda apresentando sinais vitais. Entre eles, quatro (5,7%) tinham idade superior a 70 anos, limite máximo de faixa etária adotado pelo presente estudo para ser considerado um potencial doador. Entre os 115 cadáveres que estavam na faixa etária adequada, excluíram-se sete (6%) por apresentarem uma ou mais contra-indicações absolutas à doação, identificadas nos relatórios hospitalares, esti-mando-se, assim, em 108 o número de potenciais doado-res entre todos os cadávedoado-res necropsiados no IML de São Luís, MA, em 2003. Tal número resultou em uma média mensal de 9,0 (± 4,1) potenciais doadores, ou seja, um potencial doador a cada 3,3 dias. Desse total, 84 (77,7%) foram considerados doadores de múltiplos órgãos por apresentarem idade entre 15 e 50 anos, o que resultou na média de 7,0 (± 3,3) doadores de múltiplos órgãos/mês, ou seja, um a cada 4,3 dias.

A razão entre o número de potenciais doadores identificados (n= 108) e a população de São Luís, MA, no ano de 2003 foi de 116,9 por milhão de população/ano (pmp/ano). O cálculo desta mesma razão em relação aos doadores de múltiplos órgãos (n= 84) foi de 90,9 pmp/ano. As características demográficas dos potenciais doadores identificados estão representadas na tabela 1.

Estimativa da disponibilidade anual de órgãos e tecidos para transplante

A tabela 2 demonstra a estimativa da disponi-bilidade anual de órgãos e tecidos para transplante no município de São Luís, MA, no ano de 2003, baseada na faixa etária dos 108 potenciais doadores identificados. Na figura 1, estes dados são comparados com a estimativa da necessidade mundial de transplantes7.

Tabela 1. Características demográficas dos 108 potenciais

doadores cadavéricos identificados no Instituto Médico Legal de São Luís, MA, no ano de 2003.

Potenciais doadores identificados (n) 108

Doadores de múltiplos órgãos [n (%)] 84 (77,7)

Razão doador/população/ano 116,9 pmp/ano *

Idade (anos)a 31,4 (± 15,5) Sexo (masculino/feminino) [n (%)] 88 (81,4) / 20 (18,6) Cor [n (%)] b Faiodérmicos 75 (78,9) Melanodérmicos 12 (12,6) Leucodérmicos 8 (8,4) Estado Civil [n (%)] c Solteiro 76 (71,6) Casado 27 (25,4) União Consensual 2 (1,8) Divorciado 1 (0,9) Causa de TCE [n (%)] d Acidente de trânsito/Atropelamento 64 (60,3) Homicídio 26 (24,5) Queda acidental 12 (11,3) Outras 4 (3,7)

Diagnóstico de morte encefálica durante

a internação hospitalar [n (%)] 8 (7,4)

Atendimento em Hospital com

emergência neurocirúrgica [n (%)] 88 (81,5) * por milhão de população/ano; amédia (desvio-padrão); bdados não disponíveis em 13 casos; c dados não disponíveis em 2 casos; ddados não disponíveis em 2 casos.

Tabela 2. Estimativa da disponibilidade de órgãos e tecidos para transplante,

a partir de 108 potenciais doadores cadavéricos identificados no Instituto Médico Legal de São Luís – MA, no ano de 2003.

Órgão/tecido Oferta Oferta Oferta Oferta pmp anual (n) mensal (n) diária (n) /ano (n) *

Rim a 190 15,8 2 órgãos / 3,8 dias 205,7

Coração 95 7,9 1 órgão / 3,8 dias 102,8

Fígado 95 7,9 1 órgão / 3,8 dias 102,8

Pâncreas 88 7,3 1 órgão / 4,1 dias 95,2

Pulmão 100 8,4 1 órgão / 3,6 dias 108,2

Intestino 96 8,0 1 órgão / 3,8 dias 103,9

Córnea b 216 18,0 2 tecidos / 3,3 dias 233,8

Osso 97 c 8,0 c 1 doador / 3,3 dias 105,0

* por milhão de população/ano; adois rins por doador; bduas córneas por doador; cnúmero de doadores.

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Notificações de potenciais doadores à CNCDO Estadual no ano de 2003

Apenas oito notificações de potenciais doadores fo-ram registradas pela CNCDO Estadual, todas no muni-cípio de São Luís, MA, e em nenhuma delas o potencial doador foi efetivado. A recusa familiar foi o motivo da não efetivação na maioria (7/8→87,5%) dos casos.

Capacidade de detecção de potenciais doadores de órgãos e tecidos pela CNCDO Estadual no ano de 2003

Quando se comparou a taxa de potenciais doadores cadavéricos, identificados no IML de São Luís, MA, (n= 108) no ano de 2003, com o número de potenciais doado-res notificados à CNCDO nesta Capital (n= 8) no mesmo ano, observou-se que a capacidade de detecção de poten-ciais doadores pela Central foi de apenas 7,4% (8/108) (figura 2).

DISCUSSÃO

No presente estudo, estimou-se o número de potenciais doadores cadavéricos em São Luís, MA, basea-do no registro de necropsias realizadas no Instituto Médico Legal no ano de 2003, demonstrando-se uma taxa de 116,9 potenciais doadores por milhão de população ao ano (pmp/ano) e, destes, cerca de 78% foram conside-rados doadores de múltiplos órgãos.

Esses números, se por um lado podem estar subestimados por não incluírem as outras causas de morte encefálica, por outro podem estar falsamente elevados por presumirem de forma indireta que todos os potenciais doadores identificados tiveram um tempo de internação hospitalar superior a seis horas, intervalo mínimo

neces-sário para o diagnóstico clínico de morte encefálica. Além disso, não foi possível avaliar se todos os óbitos foram decorrentes exclusivamente da evolução da hipertensão intracraniana. Provavelmente, alguns deles foram preci-pitados pela falta de suporte ventilatório e hemodinâmico, devido à carência de vagas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), situação comum principalmente nos hospitais públicos.

Porém, quando se considera estimativas de estudos anteriores, as quais relatam que somente de 15 a 67% dos potenciais doadores tornar-se-ão efetivos, teríamos, com base nos dados aqui apresentados, taxas de efetivação entre 17,5 e 78,3 doadores pmp/ano, o que ainda assim nos incluiria na faixa da estimativa mundial aceitável, que é de 50 a 60 doadores pmp/ano8,9. Ademais, através do

conhecimento desses números, poderíamos adotar estra-tégias no sentido de minimizar as perdas e maximizar a efetivação dos potenciais doadores.

Com relação à disponibilidade de cada órgão ou tecido para fins de transplante, é estimado que, em relação ao rim, seriam necessários 50 a 60 transplantes pmp/ano para atender à demanda8. Essa estimativa baseia-se em

dados de que 40 a 60% dos pacientes que ingressam em diálise poderiam beneficiar-se dessa modalidade terapêu-tica9. Os dados aqui apresentados demonstraram uma

oferta estimada de 205 rins pmp/ano, quatro vezes maior que a necessária. Levando-se em consideração que apenas 15 a 67% dos doadores são efetivados, ainda teríamos uma faixa ampla de 30 a 137 rins para transplante pmp/ ano, o que permitiria atender plenamente à demanda.

A necessidade de transplante para os demais órgãos sólidos é mais difícil de ser calculada, uma vez que os pacientes com insuficiência terminal de fígado, pulmão e coração não costumam ter um registro adequado. De

Figura 1. Estimativa da disponibilidade de órgãos para

trans-plante em São Luís, MA no ano de 2003, comparada à estimativa da necessidade mundial (pmp/ano).

Figura 2. Comparação da distribuição mensal das notificações

de potenciais doadores à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, MA no ano de 2003, com o número de potenciais doadores identificados no Instituto Médico Legal de São Luís, MA, no mesmo período.

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acordo com a literatura, a estimativa da necessidade anual seria em torno de 20 transplantes hepáticos, de 17 trans-plantes cardíacos e de 8 transtrans-plantes pulmonares para cada milhão de população7. Dessa forma, de acordo com

os dados aqui apresentados, teríamos como atender à demanda de todos esses órgãos, desconsiderando-se as causas da não efetivação.

Se estimarmos a necessidade de transplantes baseada na lista de espera no Brasil, o número anual de transplantes por milhão de população deveria ser de cerca de 180 para rim, um para o coração, 33 para o fígado, dois para pâncreas/rim, um para o pulmão e 138 para córneas10.

Segundo o presente estudo, também teríamos como aten-der a essa demanda.

Finalmente, baseando-se na única lista de espera registrada pela CNCDO do Estado do Maranhão, que é a de córneas, os dados apontavam que até 31 de dezembro de 2003 224 receptores estavam à espera deste tipo de transplante, o que significa uma estimativa de necessi-dade na ordem de 242,5 por milhão de população/ano para a cidade de São Luís, MA. Os dados aqui apresen-tados demonstraram que a disponibilidade deste tecido foi estimada em 233,8 pmp/ano, o que geraria um déficit de cerca de 4,0 córneas pmp/ano. Isso pode ser explicado pelo fato de a lista incluir pacientes de todo o Estado do Maranhão e não apenas da Capital.

Três aspectos que influenciam na taxa de disponi-bilidade de órgãos surgiram entre os dados obtidos neste trabalho: o diagnóstico de morte encefálica, a notificação de potenciais doadores e a falta da efetivação por recusa familiar.

Em relação ao diagnóstico de morte encefálica, sabe-se que ele representa o primeiro passo no processo doação-transplante. Neste estudo, através da análise dos laudos médicos enviados ao IML, observou-se que o re-lato desse diagnóstico foi realizado em apenas 7,4% dos potenciais doadores cadavéricos durante o período de in-ternação hospitalar. Talvez isso signifique que esteja ha-vendo falha na primeira etapa do processo doação-trans-plante, ou seja, no reconhecimento do diagnóstico de morte encefálica em nosso meio. Tal fato chega mesmo a ser surpreendente, uma vez que 81,5% dos atendimentos médicos prestados aos potenciais doadores identificados antes do seu encaminhamento ao IML, foram realizados em hospitais que contam com serviço de emergência neurocirúrgica, o que teoricamente facilitaria tal diagnóstico.

Embora sabendo-se que a melhor maneira de se avaliar a taxa de potenciais doadores é através da pesquisa do registro de diagnósticos de morte encefálica em Uni-dades de Terapia Intensiva11, os dados aqui apresentados

demonstraram que em São Luís, MA, provavelmente pou-cos são os casos em que este diagnóstico é registrado nos prontuários médicos, o que certamente subestimaria tais índices.

Outro fator a ser analisado é a baixa taxa de noti-ficação de potenciais doadores à CNCDO Estadual. Du-rante todo o ano de 2003, houve registro de oito notifica-ções, ou seja, apenas 1,4 pmp/ano. À exceção da Paraíba, em todos os outros Estados do Nordeste esta taxa foi maior, com uma média de 25,3 notificações pmp/ano (variação de 7,5 a 78,1pmp/ano)12.

Quando se comparou a taxa de potenciais doadores cadavéricos identificados no IML de São Luís pelo pre-sente estudo (n= 108), com o número de doadores notifi-cados à CNCDO Estadual no mesmo período (n= 8), observou-se uma capacidade de detecção de potenciais doadores, pela Central, de apenas 7,4%. Esse achado pode ser decorrente tanto do não reconhecimento do diagnós-tico de morte encefálica quanto do desinteresse na sua notificação, talvez até pelo simples desconhecimento da sua obrigatoriedade determinada por lei.

Ainda na avaliação que se realizou junto à CNCDO Estadual, observou-se que, dos oito potenciais doadores notificados em 2003, nenhum foi efetivado, sendo a nega-tiva familiar o motivo na maioria dos casos (7/8→87%). Tal distorção ainda persiste, como pode ser observado nos dados de notificações recebidas pelo Sistema Nacional de Transplantes no primeiro semestre de 2004, onde a média percentual de recusa familiar entre os Estados brasileiros foi de 42,3%, bem inferior ao Maranhão, que foi o Estado com a maior taxa de negativas (71%)13.

É sabido que inúmeras variáveis podem influenciar nessa decisão, tais como fatores culturais e socioeconômi-cos, tipo de consentimento adotado, conhecimento prévio do desejo do falecido, forma da abordagem profissional, satisfação com o atendimento hospitalar, entre outras.

Em relação ao caso específico de São Luís, MA, algumas considerações podem ser feitas a partir do que foi observado no funcionamento da CNCDO Estadual no ano de 2003. A referida Central operava com uma única enfermeira de plantão 24 horas por dia, nos sete dias da semana. Na maioria das vezes em que a noti-ficação era recebida, advinda de um outro hospital que não aquele onde está situada a CNCDO, a enfermeira solicitava auxílio ao médico assistente do hospital notificador para que este abordasse a família quanto à possibilidade da doação. É, portanto, fácil supor que essa alta taxa de recusa possa ter ocorrido devido a uma abordagem inadequada.

Dessa forma, estudos posteriores serão necessários para que se possa realmente conhecer o comportamento

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da população local frente à possibilidade da doação dos órgãos e tecidos de um familiar.

Portanto, o presente estudo demonstrou que a des-proporção entre a oferta e a demanda de órgãos para transplante, na maioria das vezes, não se deve a uma falta real de potenciais doadores, mas sim a falhas em sua de-tecção e efetivação. No Maranhão, o não reconhecimento do diagnóstico de morte encefálica e a falta de notificação do potencial doador provavelmente são as principais dificuldades relacionadas à sua detecção, enquanto que os problemas organizacionais e de infra-estrutura, além da elevada taxa de recusa familiar ocasionada por uma abor-dagem inapropriada, constituem os principais entraves à sua efetivação.

CONCLUSÃO

Concluiu-se que o número de potenciais doadores cadavéricos identificados em São Luís, MA (116,9 pmp/ ano), é suficiente para atender à demanda anual de órgãos e tecidos estimada para esta Capital, e o perfil desse potencial doador foi de um indivíduo jovem (média de idade 31 anos), do sexo masculino (81%), faiodérmico (79%) e solteiro (72%), cuja causa do TCE foi acidente de trânsito (60%), e que foi atendido em um hospital com emergência neurocirúrgica (81%). Concluiu-se, ainda, que a capacidade de detecção de potenciais doadores pela CNCDO–MA, calculada pela razão entre o número de doadores cadavéricos identificados no IML e o número de notificações à Central, no mesmo período, foi de apenas 7,4%, não refletindo a real taxa de doadores disponíveis na Capital. Embora não fizesse parte dos objetivos deste estudo, observou-se, também, que está havendo falhas na detecção de potenciais doadores em São Luís, MA, pois em apenas 7,4% daqueles identificados no Instituto Médico Legal (IML) foi realizado o diagnóstico de morte encefálica durante a internação hospitalar. Além disso, pode estar havendo uma abordagem inadequada do doa-dor notificado à CNCDO, já que nenhum daqueles noti-ficados à Central no ano de 2003 foi efetivado, a maioria (7/8) devido à negativa familiar.

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