• Nenhum resultado encontrado

ESPAÇO SAGRADO E A SACRALIZAÇÃO DO ESPAÇO: UM ESTUDO DE CASO DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS NA CIDADE DE FORTALEZA - CEARÁ

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ESPAÇO SAGRADO E A SACRALIZAÇÃO DO ESPAÇO: UM ESTUDO DE CASO DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS NA CIDADE DE FORTALEZA - CEARÁ"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

ESPAÇO SAGRADO E A SACRALIZAÇÃO DO ESPAÇO: UM

ESTUDO DE CASO DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

NA CIDADE DE FORTALEZA - CEARÁ

CHRISTOVAM REIS DOS SANTOS FILHO1

Resumo

O presente trabalho propõe realizar uma interpretação a respeito da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) – Templo Central de Fortaleza -- enquanto forma simbólica espacial. A análise da manifestação no espaço é compreendida na perspectiva da gênese, estruturação, cotidiano e consequentemente formação de uma paisagemsimbólica. O esteio teórico-metodológico se relaciona nos pressupostos da Geografia da Religião, nos quais permitem a compreensão da formação de um lugar sagrado onde a vivência e a percepção dos fiéis da igreja norteia o discurso de uma sacralidade ali existente. A pesquisa se realizará por observações em campo, entrevistas e registros fotográficos, além das leituras referentes aos conceitos. O objetivo é compreender como se forma o espaço sagrado concretizado por pela igreja.

Palavras-chave: Geografia da Religião, Lugar sagrado, Formas simbólicas espaciais. Igreja Universal do Reino de Deus.

Abstract

This paper intent to build an interpretation about the Universal Church of the Kingdom of God (UCKG) - Central Temple of Fortaleza – as a way of a symbolic space. The analysis in space expression is understood in the perspective of the genesis, the structure, the daily life and consequently formation of a symbolic landscape. The theoretical and methodological underpinning is based on assumptions of Religion Geography, in which allow the understanding of the formation of a sacred place where the living and the perception of the faithful guides the speech of an existing sacredness. The survey will be held by field observations, interviews and photographic records, in addition to readings related to the concepts. The objective is to understand how it forms the sacred space embodied by the church. Keywords: Geography of Religion, Sacred place, spatial symbolic forms. Universal Church of the Kingdom of God.

1. Introdução

Na ciência geográfica temos a Geografia Cultural como um campo científico para a compreensão dos aspectos culturais enquanto fenômenos da espacialidade. Portanto, pretende entender e analisar a dimensão espacial da cultura. Nesse aspecto, as diferenças compostas pelas comunidades humanas trazem diferentes manifestações no espaço.

O amparo teórico-metodológico da Geografia da Religião nos permite a compreensão da formação de um lugar sagrado onde a vivência e a percepção

1

Acadêmico em nível de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará. E-mail de contato: santosfilho20@gmail.com

(2)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

norteia o discurso de uma sacralidade ali existente. Logo, propomo-nos a aprofundar a pesquisa sobre o espaço sagrado que ocorre na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Para isso, adotamos autores que abordam a temática da Geografia Cultural, especificamente aqueles que discorrem sobre a apreensão da paisagem e do sagrado, enquanto forma simbólica, como Rosendahl (1996), Claval (2003; 2006), Cosgrove (2003) e Costa (2011; 2015). Com estes autores, objetivamos compreender como se organiza o espaço sagrado representado pela IURD por meio das práticas cotidianas dos fiéis, assim como também identificar os elementos que compõem o espaço sagrado na dimensão objetivada pela paisagem e entorno, entender como a sacralidade desse espaço influi no cotidiano dos fiéis pertencentes a esta igreja e conhecer os atores que participam e organizam o Templo Central da IURD.

As igrejas, enquanto instituições religiosas, podem ser representadas por suas formas simbólicas espaciais, sobretudo no espaço urbano, e constituem parte da paisagem cultural adquirindo formas diversas, nos quais os templos são as formas mais representantes. Espacialmente, essa manifestação obedece às especificidades dos lugares, nos quais os templos funcionam como locais onde os fiéis buscam um direcionamento visando obtenção de espiritualidade junto à realização dos desejos materiais.

O presente trabalho propõe realizar uma interpretação a respeito da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) – Templo Central de Fortaleza, Ceará - enquanto forma simbólica espacial. Este templo localiza-se no centro da cidade de Fortaleza - CE, uma área comercial que atrai um grande fluxo de pessoas. A Igreja Universal do Reino de Deus é orientada pelo neopentecostalismo, a terceira onda do corte histórico-institucional do pentecostalismo (Mariano, 2012). O templo comporta milhares de pessoas e está inserido na paisagem urbana, sendo visitados por várias pessoas, oriundos de diferentes locais da cidade. A análise de sua manifestação espacial é alçada na perspectiva da gênese, estruturação, cotidiano e consequentemente formação de uma paisagem simbólica.

(3)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

2 – Metodologia para o estudo

Os passos iniciais desta pesquisa centralizam-se na leitura da bibliografia e de outras fontes que ainda estão em fase de trabalho. Esta busca de referências se consubstancia através de leituras, fichamentos e resenhas para uma maior sistematização do referencial teórico, que oferecem parâmetros iniciais para alimentação da hipótese do trabalho. A leitura se divide em três grupos: compreensão do espaço sagrado, descrição da igreja e interpretação espacial e social do fenômeno. Estes grupos respaldam e encaminham os outros passos da pesquisa.

A fundamentação teórica da pesquisa é fundamental nessa etapa, pois nos direciona para uma forma de interpretar o objeto sem perder de vista os conceitos chave para a Geografia. Temos um direcionamento tanto no entendimento sobre a produção espacial como as relações sociais envolvidas nele. A descrição do lugar observado se pauta nessas leituras iniciais como uma maneira de corroborar a metodologia aqui utilizada. Aqui cabem as compreensões e discussões de forma, estrutura, função e processo, conforme Milton Santos (1982). A forma que uma igreja possui e sua função perante a sociedade. Como essa forma influencia na sua função ou até que ponto a função justifica a forma.

Com o constructo teórico realizado, seguem-se visitas in loco, para observar o fenômeno identificado pela manifestação de um fenômeno que se espacializa, aqui representado pela IURD, momento este que podemos realizar a observação de uma forma simbólica espacial. Para o campo utilizamos o método exploratório, que “são estudos exploratórios que têm por objetivo descrever completamente determinado fenômeno, como, por exemplo, o estudo de um caso para o qual são realizadas análises empíricas e teóricas.” (LAKATOS, 1996, p. 188). O registro de campo contempla imagens fotográficas, visitas ao templo, configurando espacialidades e temporalidades distintas, com o intuito de verificar a vivência e o comportamento dos fiéis naquele templo sagrado.

Por meio desta observação, espera-se extrair informações que documentos oficiais não permitem analisar. As fotos e textos informativos são aparentes e geralmente os dados são estatísticos, porém a visita em campo, com momentos de interação com os fiéis, permite analisar as reações e emoções

(4)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

sentidas naquele lugar. Esses sentimentos e sensações são descritas e anotadas após um período de visitas e convivência com o grupo.

Para o entendimento do fenômeno em questão, cercaremo-nos dos aportes teóricos calcados na Fenomenologia para estabelecer o método de pesquisa com a finalidade de interpretar os dados obtidos com a observação in loco. Segundo Rocha (2003), “A Fenomenologia é o campo de análise da essência dos fenômenos, tantos materiais (naturais), quanto imateriais (culturais, ideais).”. É por este método que pretendemos ter uma visão singular do objeto, analisando não somente sua aparência, mas também suas essências demonstradas pela paisagem e pelas interações e percepções do lugar em análise. Também é útil este método para percepção e compreensão dos discursos dados pelos entrevistados em campo, suas impressões e sensações sobre o lugar e sobre as ações lá praticadas. Desse modo, tomamos por base esse método para analisar o fenômeno que é o espaço sagrado, representado pelo Templo Central da Igreja Universal do Reino de Deus em Fortaleza-CE.

Além das visitas em campo, realizar-se-ão entrevistas com administradores da instituição e fiéis que frequentam o templo central da IURD em Fortaleza - CE. A maneira de execução das entrevistas serão semiestruturadas, pois “combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto.” (Boni & Quaresma, 2005). Essas entrevistas terão como finalidade, analisar e interpretar geograficamente as impressões que os fiéis têm daquele espaço. O público aferido será amostral, pois se trata de uma pesquisa qualitativa, onde o importante é os detalhes expressos pelos entrevistados.

Em seguida, estabelecerá interpretação e relação dos dados com as perguntas iniciais da pesquisa buscando respondê-las por meio dos resultados obtidos com as entrevistas. Aqui se buscará dar substância e responder aos objetivos propostos em nossa pesquisa. O método norteador, como afirmado antes, será a fenomenologia, linha de pensamento que procura compreender os fenômenos observados, no qual o sujeito é quem descreve o objeto (Spósito, 2004). Isto permitirá manter foco em descrever, analisar, pontuar, e interpretar uma manifestação que ocorre no espaço geográfico. As entrevistas nos fornecerão elementos para que possamos compreender a relação entre os sujeitos e o espaço

(5)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

sagrado, possibilitando entender o objeto apontado pelo pesquisador e assim obter considerações sobre o assunto.

A indagação principal está focada para a ideia de como se organiza o espaço sagrado na Igreja Universal do Reino de Deus; quais elementos compõem o espaço sagrado dessa igreja; como o espaço sagrado modifica o cotidiano dos fiéis e; quem são os atores sociais que participam da produção do templo.

3 – Discussão

Para responder as inquietações da presente pesquisa, nossa bibliografia se embasa primeiramente na compreensão do método fenomenológico, que diz respeito à análise da essência do fenômeno (Rocha, 2003). Criado por Edmund Husserl, a Fenomenologia é “ir ao encontro das coisas em si mesmas” (HUSSERL, 2008, p. 17). Ou seja, é um método de investigação que visa conhecermos de forma qualificada o objeto de nossa pesquisa, um mergulho na capacidade de ver aquela manifestação como resultante das relações de vivência entre as pessoas que se materializaram por meio de práticas, tradições, comportamentos, paisagens ou discursos.

Dentre os autores que buscam a perspectiva fenomenológica, destaca-se Merleau-Ponty, que parte do pressuposto de que o corpo é a chave para a compreensão, isto é, as essências se estudam pela percepção (Souza, 2013). Para Merleau-Ponty “o corpo é um eu natural e como que o sujeito da percepção” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 278). Portanto, deve-se analisar o objeto pela percepção, e este é mediado pelo corpo como um elemento conector entre o sujeito e o objeto. Desta percepção se compreende o fenômeno, o modo que se apresenta.

Como nosso objeto é um fenômeno religioso, compreendemos que nossa percepção se molda no entendimento de que ele faz parte de um conjunto de valores admitidos pelo sistema econômico vigente que perpetua certas concepções de visão de mundo e reprodução do sistema. Durkheim em seu livro “Elementos de

uma vida religiosa” nos coloca que a religião e suas cerimônias cumprem um papel

social, apresentação várias pessoas coletivamente em uma celebração. Estes atos e rituais se passam em um lugar no espaço, daí ser de interesse à Geografia.

(6)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

O ramo da Geografia que tem apreciado os estudos na área da religião é a Geografia Cultural. Nas palavras de Paul Claval, temos nesta abordagem que

A Geografia Cultural está associada às experiências que os homens têm da terra, da natureza e do meio ambiente, estuda a maneira pela qual eles os modelam para responder suas necessidades, seus gostos e suas aspirações e procura compreender a maneira como eles aprendem a se definir, a construir sua identidade e a se realizar. (CLAVAL, 2006. p. 89).

Diante disso, a geografia cultural possui um papel social e uma empreitada a corresponder. Para Cosgrove (2003, p. 103) “a tarefa da geografia cultural é apreender e compreender essa dimensão da interação humana com a natureza e seu papel na ordenação do espaço”. Portanto, objetiva-se a concepção da dimensão cultural no espaço geográfico.

Destarte, entendemos a Igreja Universal do Reino de Deus como uma espacialidade por meio dos sentidos, uma visão humanista da realização do espaço. Isso por que a “se a geografia cultural se dedica à experiência que os homens têm do mundo, da natureza e da sociedade, ela deve partir daquilo que os sentidos lhes revelam” (Claval, 2006). É pelas sensações que as pessoas captam da realidade que elas imprimem suas percepções. Isso faz da geografia cultural “subcampo específico da geografia [...] focalizada na análise dos significados que os diversos grupos sociais atribuem aos objetos e ações em suas espaçotemporalidades.” (Corrêa, 2003). Os significados que elas extraem dos objetos e formas simbólicas construídas pelas pessoas, assim como é em um templo religioso.

Essas formas simbólicas são construídas no espaço, tendo nele um elemento participante dessa construção. Por isso partimos do conceito de espaço para chegar ao entendimento de espaço sagrado. A seguir delimitaremos o conceito espacial, o sagrado e suas manifestações para chegarmos o conceito de espaço sagrado que a IURD representa.

O templo da Igreja Universal do Reino de Deus – Templo Central de Fortaleza – CE é resultado das relações sociais existentes no espaço, no qual este também se apresenta produtor espacial, pois influencia e afeta o modo de relação das pessoas. Faz parte, portanto de uma da formação socioespacial (Santos, 1992).

(7)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

Para Milton Santos (1997) o espaço geográfico constitui "um sistema de objetos e um sistema de ações" que:

é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, [grifo nosso] não considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a história se dá. (SANTOS, 1997. p. 39)

A Igreja Universal do Reino de Deus resulta desse sistema de objetos, formados por elementos simbólicos e pelos sistemas de ações, que são as relações de vivências e manifestações socioespaciais. Esse conjunto indissociável forma um quadro único, materializando-se no templo como espaço simbólico.

O diferencial que o templo tem em relação a outros lugares é a sua sacralidade. Pois “o sagrado manifesta-se sempre como uma realidade de ordem inteiramente diferente da das realidades „naturais‟.” (ELIADE, 1969). Essa realidade se manifesta, revela-se por meio de atos específicos. Essa manifestação chamamos de hierofania. Eliade a coloca como “algo que se nos mostra”. O templo da IURD é sagrado pelo fato de se revelar aos seus frequentadores, e estes “ao aceitar a hierofania, experimenta um sentimento religioso em relação ao objeto sagrado” (ROSENDAHL, 1996). Há uma aceitação de que naquele lugar se manifesta algo, diferente do que ele vive no cotidiano.

Essa diferença é representada pelo par sagrado-profano, que são opostos, mas complementares. Nas palavras de Rosendahl (1996) “o sagrado e o profano se opõem e, ao mesmo tempo se atraem. Jamais, porém se misturam”. Ou seja, há uma percepção que se a hierofania se manifesta, há um profano que se opõe, daí se ter um local que centraliza as ações hierofânicas. O templo religioso se faz presente de uma centralidade, torna-se um ponto fixo absolluto (Eliade, 1969).

Assim, o espaço onde ocorre a hierofania é um espaço sagrado. Neste local o homem “se encontra”, vivendo uma realidade diferente. Em seu livro Espaço

e Religião: uma abordagem geográfica, Rosendahl esclarece que

o espaço sagrado é um campo de forças e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, que transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência. É por meio de símbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado exerce sua função de mediação entre o homem e a divindade. E é o espaço sagrado, enquanto expressão do sagrado, que

(8)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

possibilita ao homem entrar em contato com a realidade transcendente chamada deuses, nas religiões politeístas, e Deus, nas monoteístas. (ROSENDAHL, 1996. p. 30)

A IURD ocupa um papel de lugar sagrado. Costa (2011, p. 35) aponta que “O lugar sagrado é um mundo pleno de significados, sendo também um espaço mítico que responde com sentimento e imaginação às necessidades humanas fundamentais.”. As pessoas sentem necessidades e desejos que são correspondidas pelas visitas ao templo e as práticas litúrgicas, dando sentido aos símbolos que ali existem, e esses, por sua vez, renovam e alimentam as necessidades das pessoas.

Isso é alentado pelos atores que atuam neste espaço. Isto é,

a instituição religiosa referenda um corpo sacerdotal que possui o monopólio das coisas sagradas apoiando-se em princípios de visão relacionados às disposições de crença, as quais, por sua vez, orientam as representações que revigoram esses princípios. (GIL FILHO, 2008. p. 50).

Este corpo sagrado exerce uma orientação simbólica, juntamente com a manifestação do sagrado e, completando, a experiência dos fiéis ao frequentar o templo. Estes são os atores que fazem da IURD um lugar sagrado.

O lugar sagrado produzido espacialmente pela relação do fiel da IURD com o lugar sagrado se concretiza também pelos geossímbolos ali criados. Essas representações simbólicas revestem-se de um poder que gera um interacionismo entre as formas espaciais e o sujeito (Costa, 2009). Ele ressalta as formas simbólicas espaciais, ou seja, a formação de geossímbolos que fazem parte da formação de lugares, por meio da atribuição de significados no espaço considerado real para o homem religioso.

Portanto, temos o Templo Central de Fortaleza da Igreja Universal do Reino de Deus um local onde a sacralidade está inserida por meio da delimitação espacial do lugar, intensificada pela sua representação simbólica, a partir de uma hierofania ali presente, que se manifesta por meio dos atores envolvidos com aquele espaço sagrado. Entretanto, podemos ainda avançar mais na discussão que por hora ainda se encontra em andamento.

(9)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

4. Resultados

Os símbolos existentes na igreja são carregados de significados que só podem ser recebidos a quem frequenta o templo e participa da hierofania. Esses símbolos são percebidos em momentos distintos, quando o fiel busca aquele lugar sagrado. Primeiramente há a grandiosidade das formas do próprio templo, onde há uma clara limitação de onde termina o espaço profano e começa o espaço sagrado. Esse limite é ressaltado com o nome da igreja, as escadarias e o fino acabamento das colunas e portas, fazendo que o fiel realmente se transfira do cenário urbano para um lugar cósmico, onde ele pode transpassar.

Em segundo momento temos os símbolos dentro do templo. A primeira sensação é de grandiosidade, pois é um local para muitas pessoas sentadas, onde elas terão o conforto no tempo sagrado que ali ocorre. Na parte do altar é onde se localiza os símbolos de maior expressão: o púlpito, dois telões para facilitar a visão de quem se senta mais afastado do altar e os adornos de fundo em vidro trabalhado em estilo gótico e acima os dizeres “Jesus Cristo é o Senhor”. Estes elementos dão sentido ao lugar, é o que realmente compõem a sacralização do espaço, pois transmitem uma sensação de potência e a quem está lá coparticipante dessa potência, pois ele recebe o contato com o “Senhor” por meio da adoração, isto é, da hierofania.

E um terceiro momento, temos a figura do sacerdote como aquele que legitima a ação dos fiéis e propicia a mediação entre o transcendente, invisível, mas sentido, com o real, o visível, o espaço sagrado e os fiéis que renovam a sacralidade a cada momento de encontro.

Esses atributos conferem uma singularidade à sua forma simbólica espacial da Igreja Universal do Reino de Deus. O local deixa de ser apenas uma relação de observador e objeto, mas passa a ser atuante direto na sua espiritualidade, pois mesmo que a divindade se mostre onipresente, há locais específicos para sua manifestação e esses lugares são percebidos como algo além de receptáculo, mas elemento fundante de uma renovação mental para aquele que se desloca para o cotidiano profano.

(10)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

5 – Considerações finais

A partir de leituras, observação e conhecimento prévio, objetiva-se que a Igreja Universal do Reino de Deus é um local de refúgio social, onde as relações sociais se desviam da situação vivente do cotidiano.

Nos espaços sagrados há uma separação do vivido cotidiano com um vivido desejado. As pessoas que frequentam a IURD usufruem de um lugar místico, mas também real, uma vez que está concretizado por uma construção e demarcação de espaço, sendo distinto o sagrado do profano. O místico se torna presente por meio da hierofania, que é o “ato da manifestação do sagrado” (Rosendahl, 1996), algo que se revela pelo sagrado que está ligado ao lugar onde é praticada.

No objeto em análise, pressupõe-se que os seus frequentadores percebem esse espaço sagrado como centro de força e ajuda para combater as adversidades sociais produzidas no espaço profano. A sacralização desse espaço o torna imponente e o transforma num local de esperança, enquanto a hierofania se manifesta.

A Igreja Universal do Reino de Deus é um centro de poder que se manifesta no meio de um espaço caótico (nessa concepção, sem ordem, sem um ponto fixo absoluto, conforme Eliade) e fluente de pessoas oferecendo preencher o vazio gerado pelas relações profanas. Essa instituição se presente na paisagem como um elo entre o homem e o transcendental.

No entanto, a pesquisa ainda se encontra em andamento e sem maiores conclusões. Ainda há procedimentos que devemos realizar no trabalho que nos auxiliarão na obtenção de mais qualificadas considerações, uma vez que a proposta do presente trabalho é ir além das aparências e buscar a compreensão das essências. Porém, certamente haverá maiores esclarecimentos com cronograma totalmente concluído.

Referências Bibliográficas

BONI, Valdete e QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais. In: Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC Vol. 2 nº 1 (3), janeiro-julho/2005, p. 68-80.

(11)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

CLAVAL, Paul. As abordagens da geografia cultural. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. C.; CORRÊA, R. L. (org.) Explorações geográficas: percursos no fim de século. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p.

____________. O tema religião nos estudos geográficos. In: Revista Espaço e Cultura. n. 7. pg 37-58 jan-jun/1999 Rio de Janeiro. UERJ-NEPEC.

CORRÊA, R. A geografia cultural e o urbano. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDHAL, Zeny (orgs.). Introdução à geografia cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 167-186.

COSGROVE, Denis. Em direção a uma geografia cultural radical: problemas da teoria. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDHAL, Zeny (orgs.). Introdução à geografia cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 103-134.

COSTA, Otávio José Lemos. Canindé e Quixadá: a construção de dois lugares sagrados no sertão cearense. Tese (Doutorado em Geografia) Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2011.

_________. Sertões de Canindé: uma interpretação geossimbólica da

paisagem. Espaço e Cultura. Disponível em:

<http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/3543/2465>. Acesso em: 19 Mar. 2015.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2001.

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. 4ª tir. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 191p.

GIL FILHO, Sylvio Fausto. Espaço Sagrado: estudos em geografia da religião. Curitiba: Ibpex, 2008. 163p.

LAKATOS, Eva Maria &MARCONI Marina de Andrade, Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais – Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012. 247p.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 662p.

(12)

A

DIVERSIDADE DA

G

EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

ROCHA, Lurdes Bertol. Fenomenologia, semiótica e Geografia da Percepção: Alternativas para analisar o espaço geográfico. In: SANTANA, Antônia Neide Costa & CARACRISTI, Isorlanda (orgs.). Revista Casa da Geografia de Sobral. v. 4/5, n.

1. p. 67-79, 2002/2003. Disponível em: <

http://www.uvanet.br/rcgs/index.php/RCGS/issue/view/9>. Acesso em: 26-03-2015. ROSENDAHL, Zeny. Espaço & Religião: uma abordagem geográfica. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996. 89p.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica, razão, tempo e emoção. 4. ed. 2. reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. 257p.

____________. Sociedade e Espaço: Formação Espacial como Teoria e como Método. In: SANTOS, Milton. Espaço e sociedade: Ensaios. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1982. 156p.

SOUZA. Marquessuel Dantas de. Geografia e fenomenologia: Merleau-Ponty e sua influência na geografia humana. In: Caminhos de Geografia Uberlândia v. 14,

n. 46 Jun/2013 p. 265–272. Disponível em:

<http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/>. Acesso em: 30/06/2014. SPÓSITO, Eliseu Savério. Geografia e Filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UN

Referências

Documentos relacionados

Diante dessa lógica, a arquitetura se apresenta como indispensável para viabilizar a conexão entre o Humano e o Sagrado, uma vez que o terreiro prescinde de um Espaço construído,

O transplante de ilhotas pancreáticas, com a utilização dos protocolos disponíveis atual- mente, mostrou-se efetivo para o tratamento de pacientes com “DM lábil”.

As abraçadeiras tipo TUCHO SIMPLES INOX , foram desenvolvidas para aplicações que necessitam alto torque de aperto e condições severas de temperatura, permitin- do assim,

Após o casamento da Professora com um professor, no encerramento da obra, preterido pela amada, Didi volta a aparecer como um andarilho que recusa o convívio social..

vista o que consta dos autos nº 5187109, designa ANDRÉ COSTA JUCÁ, Juiz de Direito da 2ª Vara (Cível, Criminal, das Fazendas Públicas e de Registros Públicos) da comarca de

Nesta descrição, há uma tentativa de Borges de incutir no leitor uma sensação de consagração, isto é: aquele espaço se apresenta como uma representação do Sagrado, e

Diferente de Brasília, com suas belas e inovadoras edificações, poucas construções se destacam no desenho local (que já não obedece a uma padronização urbana) de Ceilândia.

Por conseguinte, o fabricante não assume a responsabilidade por quaisquer efeitos adversos que possam ocorrer com o manuseamento, armazenamento, aplicação, utilização, utilização