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CARTA PROPOSTA POR UMA POLÍTICA NACIONAL DE CONTROLE E REDUÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS E DE FOMENTO À PRODUÇÃO DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS

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Academic year: 2021

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CARTA PROPOSTA

POR UMA POLÍTICA NACIONAL DE CONTROLE E REDUÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS E DE FOMENTO À PRODUÇÃO DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS

O Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) representado a nível nacional pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), integrante da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, através dos dirigentes e assessorias das 27 Federações Estaduais de Trabalhadores na Agricultura (FETAGs), participantes do Seminário Nacional sobre o Uso de Agrotóxicos na Agricultura: controle e enfrentamento, realizado no CESIR/CONTAG, em Brasília-DF, de 17 a 18 de abril de 2012, vem manifestar seu posicionamento frente ao uso abusivo e indiscriminado de agrotóxicos e seus riscos e impactos à saúde humana, com destaque para sua incisão na saúde do trabalhador e trabalhadora rurais, na população em geral e no ambiente, bem como propor alternativas para o controle e enfrentamento da problemática.

Estudos da Agência Nacional de Vigilância (ANVISA, 2011), denuncia que no período de 2000 a 2010 o comércio do agrotóxico no Brasil teve um crescimento de 190%, mais que o dobro da média mundial, que é de 93% . Esse crescimento representou no ano de 2010, mais de um milhão de toneladas de agrotóxicos comercializados em todo o território nacional, movimentando no país, somente em 2009, recursos da ordem de US$ 7,3 bilhões e em 2011 cerca de 8,5 bilhões (ANVISA, 2011).

Essa discrepância ocorre porque as normas para registro de agrotóxicos no Brasil são de fáceis cumprimento, quando comparado a outros países do mundo, à exemplo dos Estados Unidos e União Européia. O custo para registro praticamente não existe e o tempo é indeterminado. Além dessas facilidades, há também incentivos fiscais à comercialização de agrotóxicos no país, que vão desde a redução até a isenção total do imposto sobre a circulação dessas mercadorias. As empresas de agrotóxicos são desprovidas de qualquer responsabilidade por possíveis danos causados à saúde humana e ao ambiente, posto que quem as assume por lei são os usuários e aplicadores do produto.

Para justificar essas práticas deletérias, o discurso do governo federal e dos grandes produtores vinculados ao agronegócio, tem sido o crescente aumento da produção agrícola brasileira e o superávit na balança comercial, associado a um falacioso discurso do combate à fome, visto ser a agricultura familiar a responsável pela produção de 70% da comida que vai para a mesa dos brasileiros.

Na concepção do MSTTR, parte deste crescimento deve-se ao fato do Estado brasileiro, historicamente, ter optado por um modelo de desenvolvimento baseado no forte incentivo ao latifúndio e às monoculturas de exportação. Este modelo de agricultura, que foi potencializado pelo padrão tecnológico moto-químico promovido pela revolução verde nos anos 40-60, estabeleceu um processo de subordinação profunda dos agricultores às indústrias de produção de insumos e de processamento, reduzindo nossa capacidade de definir preços, se apropriando da renda das famílias rurais.

Esta lógica insustentável, predominante até os tempos de hoje, repercute fortemente na condição social e econômica dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, tornando-nos dependentes de crédito para a compra de insumos químicos retirando grande parte de nossa autonomia. Dessa forma, muitos de nós, trabalhadores e trabalhadoras

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rurais, temos sido expulsos de nossos territórios e nossas terras e se tornando devedores, outros tantos têm ficado doentes e empobrecidos sem garantia de proteção social tendo, ainda, que carregar o ônus do fracasso atribuído pela sociedade.

Os defensores do modelo de desenvolvimento baseado no agronegócio, apregoam falaciosamente que o problema da produção de alimentos, no país e no mundo, está resolvido, contudo, não dimensionam e nem refletem sobre o passivo social e ambiental que ainda está em aberto. Essa contradição se expressa nos 16 milhões de brasileiros extremamente pobres, dos quais aproximadamente 8 milhões vivem no campo, e nos 25,5 milhões de brasileiros que vivem em situação alimentar de risco moderado e grave (IBGE/PNAD 2004/2009). Os danos são ainda maiores quando avaliamos os impactos na saúde humana e o rastro de destruição dos recursos naturais. Segundo a Organização das Nacções Unidas – ONU temos 1 bilhão de pessoas no mundo sofrendo condição de fome.

A magnitude da intoxicação por agrotóxicos em nosso país é alarmante. Além da intoxicação da população em geral, por meio da pulverização aérea e do consumo de alimentos contaminados por diversos e perigosos agentes químicos, convivemos com altos graus de contaminação do solo, das águas e do ar. Afinal apenas 30% do agrotóxico aplicado por avião atinge seu objetivo (Relatório Subcomissão Agrotóxico – Câmara Federal, 2011).

Como não existem normas específicas para aplicação de agrotóxicos para a operação de equipamentos terrestres, como a tração mecânica ou humana (pulverizadores costais), na condição de trabalhadores e trabalhadoras rurais, somos as principais vítimas dos efeitos maléficos da contaminação por agrotóxicos. Todavia, lamentavelmente, inexistem dados ou indicadores confiáveis sobre o impacto da manipulação cotidiana que os agrotóxicos provocam na saúde de trabalhadores (as) rurais, como há também subnotificação nos sistemas de informação de saúde – Rede Sentinela, SINAN e SINITOX – e deficiência nas informações relativas ao sistema de informações do Ministério da Previdência Social e Ministério do Trabalho e Emprego.

De acordo com o Sistema de Informações de Agravos e Notificações (SINAN), no ano de 2010 (dados parciais até maio deste ano), das 6.871 intoxicações por agrotóxicos que foram notificadas, 3.810 (55,45%) dos casos foram classificados como tentativas de suicídios. Outros 1.839 casos (27% do total) foram considerados acidentais. Cerca de 430 notificações (6% dos casos) foram definidas como acidentes habituais com agrotóxicos. Desse universo de registros no SINAN, cerca de 310 casos (4,5%) de intoxicações agudas levaram à óbito e mais de 82% foram tratadas e não deixaram sequelas. Tais dados demonstram a ineficácia do sistema de notificação hoje, ademais, segundo a OMS, para cada caso notificado exitem 50 outros não notificados.

Esses números, apesar de subnotificados, evidenciam que se houver a possibilidade de diagnóstico rápido, muitas sequelas poderão ser evitadas e muitas vidas salvas. Todavia, um dos maiores impedimentos para dar assistência à saúde aos trabalhadores (as) rurais está na dificuldade de comprovar o nexo causal entre agrotóxicos, intoxicações e diversas moléstias, em especial o câncer, que vem crescendo de forma agressiva e avassaladora nas regiões de alta produção agrícola.

Enquanto a rede pública de saúde não estiver devidamente preparada para dar resolutividade a essas demandas, mulheres e homens do campo são obrigados a conviver com a manifestação de diversos sintomas, desde os mais comuns aos mais crônicos.

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geral, destaque-se o caso do município de Lucas do Rio Verde, no estado do Mato Grosso, onde predomina a produção de soja e outros grãos, local onde foi detectada a presença de resíduos de agrotóxicos no leite materno. Lamentamos profundamente que além de proteínas, vitaminas e anticorpos para os recém-nascidos, o leite materno também seja fonte de contaminação por agrotóxicos classificados como altamente tóxicos, como endossulfan, deltametrina, aldrin, HCT, DDT, etc. Muitas mulheres passam por situações de aborto espontâneo e sofrem com gravidezes de risco e com a má-formação fetal decorrentes desse mesmo agravante.

Apesar dessa realidade aterrorizadora, dados da Previdência Social evidenciam que entre os anos de 2006 a 2010 foram concedidos para trabalhadores e trabalhadoras rurais apenas 445 benefícios. Esses números, lamentavelmente, servem apenas para comprovar que a grande maioria dos trabalhadores rurais está fora do Sistema de Proteção Social, em especial a Previdência Social.

Embora o Brasil disponha de uma legislação moderna e atualizada para regular o setor e ainda que o Poder Público detenha importantes atribuições acerca do uso dos agrotóxicos no país – como o controle de registro (ANVISA), o controle e a fiscalização pós-registro (ANVISA, IBAMA, MAPA), as ações públicas neste setor estão aquém do que é necessário, pois estas instituições fiscalizadoras carecem de estruturas técnico-operacionais e financeiras para executarem suas atribuições, tanto nas esferas federal quanto estadual.

Essa deficiência estatal é o que tem justificado o amplo leque de problemas relativos ao uso intensivo e indiscriminado de agrotóxicos no país que precisam ser superados, dentre estas destacamos: deficiência na fiscalização estatal, problemas de registro, ausência de incentivo à produção agroecológica, obstáculos à reavaliação do registro dos agrotóxicos, inexistência de monitoramento sobre a contaminação por agrotóxicos, deficiências de fluxos de dados e sistemas de informações, não rastreamento da produção de alimentos, receituário agronômico, deficiência na assistência técnica, carência de políticas públicas voltadas à pesquisa sobre agrotóxicos e seus impactos à saúde saúde e ambiente, subnotificação das intoxicações, abuso da pulverização aérea.

Neste sentido, a CONTAG entende que a problemática do agrotóxico na agricultura brasileira deve ser analisada, denunciada e superada, instituindo-se políticas de Estado que assegurem o processo de transição do atual modelo produtivo agroexportador para a construção de desenvolvimento rural sustentável e solidário, tendo como protagonista a agricultura familiar de base agroecológica/orgânica.

Dentre os novos caminhos, propomos:

Ações públicas no âmbito do Executivo e Legislativo Federal e outros órgãos de controle

1. Banir os princípios ativos já banidos na Europa, nos Estados Unidos e na China; 2. Instituir Lei Federal para proibição da pulverização aérea e de controle domissanitários da pulverização terrestre mecânica e costal, estabelecendo a distância mínima de 500 metros de povoações, cidades, vilas, escolas do campo, mananciais de água e criação coletiva de animais;

3. Garantir a participação popular na construção do Plano Nacional de Controle e Enfrentamento ao uso dos Agrotóxicos, a ser coordenado pelo Grupo de Trabalho Interministerial, tais como: audiências públicas estaduais e municipais envolvendo a sociedade civil;

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4. Determinar o fim dos incentivos fiscais para a comercialização de insumos agrícolas baseados em produtos tóxicos, estabelecidos pelos convênios firmados entre o Ministério da Fazenda e as Secretarias Estaduais de Fazenda a partir do convênio ICMS 36/92 e os que o sucedem; bem como o fim da isenção de PIS-PASEP, COFINS e IPIs, dentre outros impostos; 5. Estabelecer incentivos fiscais para os produtos de origem agroecológica pelo mesmo instrumento;

6. Criar no MDA políticas de incentivo à produção, aquisição e utilização de insumos agroecológicos e à produção de alimentos saudáveis, de modo a efetivar a implementação da Política Nacional de Agroecologia;

7. Promoção pelo Banco Central, MDA, MDS e outros operadores de linha de crédito, de restrições progressivas à utilização dos créditos oriundos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF para a aquisição de agrotóxicos;

8. Elaborar e implementar de uma Política Nacional de Controle e Redução do Uso de Agrotóxicos e de Fomento à Produção de Alimentos Saudáveis, de dimensão intersetorial, com estabelecimento de tempo para combater de forma efetiva o uso de agrotóxicos no país, assegurada ampla participação da sociedade brasileira, em especial os movimentos sindicais e sociais do campo;

9. Fiscalizar o cumprimento do código do consumidor para que todos os produtos alimentícios tragam no rótulo informação acerca da origem do alimento, dando opção ao consumidor de optar por produtos saudáveis;

10. Ampliar a fiscalização das condições de trabalho dos trabalhadores (as) expostos aos agrotóxicos, desde a fabricação na indústria química até a utilização na lavoura e o manuseio no transporte;

11. Inspeções e ações concretas pelo Ministério Público Estadual e Federal, e organismos de fiscalização do meio ambiente, com maior rigor ao uso de agrotóxicos e às contaminações decorrentes no meio ambiente, no lençol freático e nos cursos d’água;

12. Criar programa nacional de controle que faça o cruzamento fiscal da comercialização e emissão do receituário agronômico, à exemplo do estado do Paraná que instituiu o receituário eletrônico, de modo a combater o contrabando de agrotóxicos no país.

Ações específicas no âmbito da Saúde Pública

1. Ampliar e fortalecer a estrutura da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA em todas as esferas da gestão para que possa desenvolver de forma efetiva suas atribuições, dentre estas as de controle e monitoramento da contaminação da água e dos alimentos por agentes químicos e agrotóxicos, assegurando mecanismos de controle social e gestão participativa que viabilizem a participação dos Movimentos Sindicais e Sociais do Campo nos processos de definição e decisão referente aos agrotóxicos;

2. Definir a validade do registro dos agrotóxicos por cinco (05) anos, assegurando no quinto ano o processo de reavaliação;

3. Sistematizar e divulgar pesquisas acadêmicas relativas aos impactos do uso dos agrotóxicos na saúde humana e ambiente de modo que possam subsidiar e respaldar os processos de reavaliação da ANVISA. Que os resultados destas pesquisas sejam disseminados em linguagem adequada para apropriação de informações pelo conjunto da população brasileira, em especial os trabalhadores (as) do campo e suas organizações,

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entidades e movimentos;

4. Expedir Portaria pelo Ministério da Saúde para organização de um novo padrão de registro, notificação e monitoramento no âmbito do Sistema Único de Saúde dos casos de contaminações por agrotóxicos, seja no manuseio, seja na contaminação por água, meio ambiente ou alimentos, garantindo um processo amplo de orientação/formação a todos profissionais de saúde para esses procedimentos, contribuindo para superação das dificuldades de comprovação do nexo causal entre agrotóxicos, intoxicações e doenças do trabalho, bem como a eliminação dos casos de suicídios;

5. Fortalecer a estrutura da FIOCRUZ, EMBRAPA e outros órgãos e entidades públicas, viabilizando a criação do Instituto de Saúde e Agroecologia, com a finalidade de investir em pesquisa, ensino e políticas de extensão rural baseadas na perspectiva agroecológica que contribuam para a substituição destes insumos e construção um novo padrão tecnológico da agropecuária orientado para a sustentabilidade;

6. Implementar de forma efetiva a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta no âmbito do SUS, em todos os níveis da gestão do SUS, com destaque para as ações em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (a) Rural.

7. Instituir política estadual de apoio aos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (a) em territórios e/ou municípios que apresentem demandas relativas aos trabalhadores(as) da agricultura.

8. Criar e fortalecer centros de pesquisas e de análises toxicológicas do potencial cancerígeno dos agrotóxicos, bem como os CAPS e os hospitais de referência em Saúde do Trabalhador em todos estados.

Referências

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