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CORRUPÇÃO E LAVAGEM DE DINHEIRO

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CORRUPÇÃO E LAVAGEM DE DINHEIRO

José Maria Luna∗

O Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal - Unafisco Sindical saúda a iniciativa de criação da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção, recentemente noticiada pela imprensa. A idéia de combater a corrupção remete imediatamente à necessidade de adotar medidas capazes de reduzir ou mesmo eliminar a prática de lavagem de dinheiro, como reconhecem, aliás, os criadores da mencionada Frente Parlamentar. De fato, impedir a legitimação do dinheiro ilícito significa aumentar o risco e reduzir o apelo das atividades criminosas, o que, em muitos casos, resulta mais eficiente do que um ataque direto a essas atividades, conforme afirmam especialistas na matéria. E não é por acaso que os crimes contra a Administração Pública estejam relacionados entre os denominados crimes antecedentes da lavagem de dinheiro (artigo 1º, V da Lei nº 9.613, de 03/03/1998).

Evidentemente, os servidores da Secretaria da Receita Federal, exatamente por atuarem no órgão responsável pela Administração Tributária brasileira, inclusive quanto aos tributos relacionados ao comércio exterior, são partes interessadas no problema e peças imprescindíveis aos programas de combate á lavagem de dinheiro. Por este motivo, mas também por uma questão de cidadania, a atual Diretoria Executiva Nacional do Unafisco Sindical entende ter o dever de contribuir com a discussão do tema, seja auxiliando a definir e delimitar o problema, seja

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apontando fragilidades na legislação, seja sugerindo os necessários aperfeiçoamentos. São exemplos dessa preocupação, o seminário "Combatendo a Impunidade – Crimes financeiros e lavagem de dinheiro", promovido pelo Unafisco Sindical, em conjunto com outras entidades representativas de servidores públicos (ANDPF, SINAL, APCF e ANPR) e realizado no dia 13/08/2003, em Brasília; a criação de grupo de discussão sobre a matéria na Rede Mundial de Computadores - Internet; e a oficina "Justiça fiscal e social versus endividamento e lavagem de dinheiro", realizada pelo Unafisco, juntamente com o Sindicato Nacional Unificado dos Impostos (SNUI), da França, e a Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos (ATTAC), em 19/01/2004, no IV Fórum Social Mundial, em Mumbai, Índia. As principais informações ali apresentadas e as conclusões decorrentes estão resumidas nos tópicos seguintes.

A Lavagem de Dinheiro no Mundo

A lavagem de dinheiro é um crime de alto potencial lesivo à sociedade e consiste na tentativa de dar aparência lícita a recursos oriundos de atividades criminosas. Trata-se de modalidade criminosa de recente tipificação penal, porém que figura nos anais criminais de longa data. Alguns autores reputam seu surgimento às atividades criminosas implementadas nos primeiros vinte anos do século XX. Avalia-se que a lavagem de dinheiro envolva de 2% a 5% do PIB mundial. Envolve três etapas que, às vezes, se sobrepõem: colocação (conversão para ocultar as origens), difusão (operações financeiras complexas) e integração (movimentação para atividades comuns).

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Os Paraísos Fiscais

A maioria das grandes empresas multinacionais foge da tributação mediante o uso de empresas de fachada residentes em paraísos fiscais. As grandes organizações financeiras e empresariais do mundo contemporâneo movimentam centenas de bilhões de dólares por meio de suas filiais, coligadas ou controladas, residentes em países livres de imposto. O governo dos Estados Unidos, que defende o interesse destas empresas, tem bloqueado iniciativas contra os paraísos fiscais. Atualmente, há mais de cem países (incluindo colônias ou dependências de países do chamado Primeiro Mundo) que realizam operações de lavagem de dinheiro. Os paraísos fiscais são os centros mundiais do dinheiro sujo e precisam ser combatidos em escala mundial se quisermos construir as bases para outro mundo. O sigilo absoluto acoberta o dinheiro proveniente de todo tipo de crime ou atrocidade contra a humanidade.

A legislação tributária brasileira define como paraíso fiscal o "país que não tributa a renda ou que a tributa à alíquota máxima inferior a 20%" (art. 24 da Lei 9.430/96). Entretanto, os rendimentos sobre o capital auferidos no Brasil são tributados a alíquotas inferiores a 20%, enquanto os rendimentos do trabalho sofrem a incidência progressiva de até 27,5%. As elevadas taxas de juros são justificadas para manter o fluxo de capital esperto e volátil. A ironia é que boa parte desse capital é brasileira. Depois de passar por paraísos fiscais como Jersey, Bahamas ou Cayman, esse capital, até recentemente, voltava ao Brasil com os privilégios de investimento externo.

De 1991 até setembro de 2000, entraram no país, pela Bolsa de Valores de São Paulo, US$ 159,4 bilhões e saíram US$ 145,5 bilhões. Estima-se que pelo menos 25% dos investimentos externos da Bovespa são de brasileiros que, dessa forma, evitam a tributação. Do que entra como

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investimento direto no país, quase 10% chegou pela via suspeita dos paraísos fiscais. Em 1997, o Brasil recebeu mais investimentos oriundos das Ilhas Cayman do que de qualquer outro país do mundo, exceto os EUA.

A Lavagem de Dinheiro no Brasil

Até 1994 a inflação não fazia do Brasil um país atraente para a lavagem de dinheiro. Mas com a estabilização da moeda, altas taxas de juros, estabilização econômica, somadas à grande extensão territorial, transformaram o Brasil num dos países mais atraentes para essa modalidade do crime organizado, de tal modo que, de acordo com

estudos internacionais, o País tornou-se a vigésima maior “lavanderia” do

mundo. Além disso, a livre movimentação de capital vem sendo

estimulada, no Brasil, pelo crescente afrouxamento da legislação fiscal e cambial. Para a financista francesa Marie Chrystine Dupuis, responsável pelo Programa Global da ONU Contra a Lavagem de Dinheiro do Crime Organizado, há cinco motivos para o Brasil ser um dos países do Terceiro Mundo mais tentadores para a lavagem de dinheiro:

1. posição geográfica do Brasil numa região produtora de drogas;

2. importância de sua praça financeira, com extensa rede bancária;

3. existência de bolsas de valores com volume expressivo de transações;

4. dependência de capitais externos para fechar suas contas públicas;

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5. opção política de seguir a cartilha do FMI como condição para se inserir na nova ordem mundial e o conseqüente processo de desregulamentação e descontrole das operações financeiras.

A Legislação Brasileira.

No Brasil, a lavagem de dinheiro foi criminalizada pela Lei nº 9.613/1998. Além da tipificação do crime de lavagem de dinheiro, a Lei cuida das seguintes matérias: disposições processuais; efeitos da condenação; bens, direitos ou valores oriundos de crimes praticados no estrangeiro; pessoas sujeitas à Lei; identificação dos clientes e manutenção de registros; comunicação de operações financeiras e responsabilidade administrativa.

Embora se reconheça que a Lei da Lavagem de Dinheiro representa um avanço, tem sido objeto de críticas o fato de sua aplicação estar restrita aos ganhos decorrentes dos crimes nela especificados (crimes antecedentes). Sonegação fiscal, por exemplo, não está incluída.

A mencionada Lei também criou, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades. Porém, a falta de estrutura desse Conselho – até 2002 ele dispunha de apenas 18 funcionários – impede que a lei seja cumprida. Ainda não é possível constatar se os problemas serão resolvidos ou ao menos minorados com a recente criação do Gabinete de Gestão Integrada de Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro, fruto do Encontro Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro (ENCLA), realizado em Pirenópolis (GO), entre 5 e 7 de dezembro de 2003.

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O Brasil dispõe também de uma lei do sigilo bancário (Lei Complementar nº 105/2001), em que se reconhece o direito da administração tributária tomar conhecimento das informações relativas à CPMF (artigo 1º, § 3º, III) e às contas bancárias (artigo 6º). Esta Lei Complementar também autoriza que o poder executivo estabeleça critérios pelos quais as instituições financeiras serão obrigadas a informar à Receita Federal a ocorrência de operações financeiras (artigo 5º). O artigo 6º da mencionada Lei Complementar é regulamentado pelo Decreto nº 3.724, de 10/01/2001, enquanto que o artigo 5° é regulamentado pelo Decreto nº 4.489, de 28/11/2002. A fiscalização, no entanto, é muitas vezes dificultada pela existência de atos administrativos bastante restritivos, como é o caso da Portaria nº 180/2001, da Secretaria da Receita Federal, pela qual a instauração de procedimento fiscal sobre o titular da conta bancária não é suficiente para permitir a requisição de informações relativas à movimentação financeira das pessoas que com ele transacionaram, o que gera a necessidade de abertura de um número excessivo de ações fiscais.

As Contas CC5

As transações de remessa de recursos para o exterior não são devidamente controladas. Teoricamente, a Receita Federal tem acesso às informações sobre as transações bancárias por meio da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Porém, o controle só pode ser feito com o dinheiro movimentado dentro do país.

Para fazer transferências internacionais em moeda nacional, são usadas as contas CC5 (assim denominadas por serem, primeiramente, reguladas pela Carta Circular nº 5, do Banco Central). Atualmente, a norma reguladora dessas transferências é a Circular 2.677, que, na verdade, permite a remessa ilegal por não exigir qualquer documentação

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para remessa (Art. 10, § 1º), abrindo, assim, oportunidade para surgimento do denominado "laranja" e por não exigir registro no sistema de movimentações de valores abaixo de R$ 10 mil, tornando possível as fraudes por meio do envio de vários cheques de menor valor, comprados de factorings.

Movimentações ilegais

Desde junho de 2000, não cabe ao Banco Central rastrear movimentações suspeitas, mas os próprios bancos é que devem comunicar tais movimentações ao COAF (e não mais ao BC). Isso paralisou o exame e abertura de novos processos. Muitos bancos não apenas deixam de comunicar como até acobertam operações desse tipo. Houve casos, inclusive, de o banco não ter sequer comunicado ao Banco Central a própria existência de contas CC-5. E não era uma instituição financeira qualquer, mas sim um dos três maiores bancos do país, cujo nome consta do relatório final da CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso Brasileiro sobre os Precatórios. Aliás, a CPI dos Precatórios demonstrou claramente como se processa o ciclo de corrupção que se inicia com o desvio de recursos públicos e se completa com operações de lavagem de dinheiro. Está em curso no Congresso Nacional uma outra CPI que objetiva investigar um volume gigantesco de recursos para o exterior (estimado em, no mínimo, US$ 30 bilhões). É a chamada CPI do Banestado.

Em vista desses reiterados escândalos financeiros de grandes proporções defendemos a apuração sem tréguas do "Caso Banestado" e que sejam revistos com a máxima urgência os atos normativos que permitem o envio descontrolado de dinheiro para os paraísos fiscais. Em resumo, é necessário que os órgãos responsáveis pela fiscalização – principalmente a Receita Federal e o Banco Central – tenham o controle do fluxo dos recursos financeiros que entram e saem do Brasil. Só assim é

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que os recursos provenientes do “caixa dois”, do crime organizado e da corrupção, seriam detectados, e a lavagem de dinheiro poderia ser impedida.

Sugestões

Como forma de combater a sonegação, a lavagem de dinheiro e a corrupção, o Unafisco Sindical sugere a adoção de medidas que visem:

a) alterar a atual legislação sobre sigilo bancário de modo a permitir a atuação conjunta da Receita Federal e do Banco Central com livre acesso aos bancos de dados das duas instituições;

b) exigir o registro no sistema de câmbio de qualquer movimentação, independente do valor, para se coibir as fraudes;

c) extinguir a CC-5 e utilizar o mercado de câmbio normal para todas as transferências;

d) controlar as atividades financeiras, por meio do fortalecimento do COAF, transformando-o em órgão atuante e com total acesso às bases de dados das instituições de origem;

e) controlar, efetivamente, a movimentação financeira internacional de capitais por meio da cobrança da Taxa Tobin.

Brasília, 1º de fevereiro de 2003 Unafisco Sindical

Referências

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