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TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Jurídica PROJETO DE LEI Nº 1.572/2011 PROJETO DO NOVO CÓDIGO COMERCIAL. Cácito Augusto Advogado

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PROJETO DE LEI Nº 1.572/2011 – PROJETO DO NOVO CÓDIGO COMERCIAL

Cácito Augusto

Advogado

PARTE I

Apresentado na Câmara dos Deputados pelo Deputado Federal Vicente Candido (PT-SP), o Projeto de Lei (PL) nº 1.572/2011, elaborado pelo jurista Fábio Ulhoa Coelho, visa restabelecer a dicotomia do Direito Privado entre o Direito Civil e o Direito Comercial, “unificado” com o advento do Código Civil de 2002. Tendo em vista o seu tamanho, analisaremos o referido PL em partes.

A primeira grande questão que surge da análise do PL nº 1.572/2011 é a critica feroz que doutrinadores e profissionais do Direito fazem em relação à unificação do Direito Privado realizada com o advento do Código Civil de 2002, que passou a dispor sobre o Direito de Empresa, revogando dois terços do Código Comercial brasileiro, editado em 1850, hoje vigendo apenas a parte referente ao Comércio Marítimo. Para os defensores do novo Código Comercial, a unificação do Direito Privado operada pelo Código de 2002 contraria uma tendência mundial e resulta no enfraquecimento dos valores e princípios que regem os negócios, conforme afirma o jurista Fábio Ulhoa Coelho, autor do texto do PL: “A relação entre as empresas não pode ser tratada da mesma forma que os contratos de consumo, de trabalho e entre vizinhos”.

Com efeito, além das questões dogmáticas e filosóficas, o fato é que o ordenamento jurídico empresarial, com as alterações introduzidas com o Código Civil de 2002, é confuso. A complexidade no regime da sociedade limitada, em razão dos diferentes sistemas de regência supletiva desse tipo societário (CC, art. 1.053 e parágrafo único); a previsão de quórum de deliberação variado e, em alguns casos inexplicavelmente elevado segundo a matéria a ser deliberada pela assembleia ou reunião de sócios da sociedade limitada (CC, arts. 1.061, 1.063, §1º, 1.7071 e 1.076); a dúvida quanto ao valor das cotas do sócio retirante ou expulso (CC, art. 1.031); e outras tantas questões duvidosas e contraditórias do nosso ordenamento jurídico recomendam uma ampla revisão das disposições de Direito Comercial, de forma que nos alinhamos com aqueles que defendem a conveniência e a oportunidade da edição de um novo Código Comercial Brasileiro.

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Conforme sustentado pelo professor Fábio Ulhoa Coelho, o PL nº 1.572/2011 começa por restabelecer os princípios jurídicos norteadores do meio empresarial, dispondo em seu título I, verbis:

“Art. 1º. Este Código disciplina, no âmbito do direito privado, a organização e a exploração da empresa.

Art. 2º. Empresa é a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços.

Art. 3º. Não se considera empresa a atividade de prestação de serviços própria de profissão liberal, assim entendida a regulamentada por lei para cujo exercício é exigida formação superior.

Art. 4º. São princípios gerais informadores das disposições deste Código: I - Liberdade de iniciativa;

II - Liberdade de competição; e III - Função social da empresa.

Art. 5º. Decorre do princípio da liberdade de iniciativa o reconhecimento por este

Código:

I - da imprescindibilidade, no sistema capitalista, da empresa privada para o atendimento das necessidades de cada um e de todos;

II - do lucro obtido com a exploração regular e lícita de empresa como o principal fator de motivação da iniciativa privada;

III - da importância, para toda a sociedade, da proteção jurídica liberada ao investimento privado feito com vistas ao fornecimento de produtos e serviços, na criação, consolidação ou ampliação de mercados consumidores e desenvolvimento econômico do país; e

IV - da empresa privada como importante polo gerador de postos de trabalho e tributos, bem como fomentador de riqueza local, regional, nacional e global.

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Art. 6º. No âmbito deste Código, a liberdade de iniciativa e de competição é protegida mediante a coibição da concorrência desleal e de condutas parasitárias.

Art. 7º. A empresa cumpre sua função social ao gerar empregos, tributos e riqueza, ao

contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural da comunidade em que atua, de sua região ou do país, ao adotar práticas empresariais sustentáveis visando à proteção do meio ambiente e ao respeitar os direitos dos consumidores, desde que com estrita obediência às leis a que se encontra sujeita.

Art. 8º. Nenhum princípio, expresso ou implícito, pode ser invocado para afastar a

aplicação de qualquer disposição deste Código ou da lei.” (Grifos nossos.)

O PL nº 1.572/2011 inova, ao instituir o “exercício de empresa em regime fiduciário”. Nesse regime, o empresário individual institui a separação de seu patrimônio, reservando

parte dele para as atividades empresariais e preservando os demais bens de seu patrimônio privado de responderem por dívidas oriundas de sua atividade econômica. Todavia, ficam

ressalvadas dessa separação as dívidas de natureza trabalhista e tributária. Diz a seção IV do PL, verbis:

“Art. 27. O empresário individual poderá, mediante declaração feita ao se inscrever

no Registro Público de Empresas, exercer sua atividade em regime fiduciário.

Art. 28. Decorre da declaração de exercício da empresa em regime fiduciário a instituição de patrimônio separado, constituído pelos ativos e passivos relacionados diretamente à atividade empresarial.

Art. 29. Ao patrimônio separado poderá o empresário individual transferir dinheiro, crédito de que seja titular ou bem de seu patrimônio geral, a título de capital investido na empresa.

Art. 30. O empresário individual que explora a empresa em regime fiduciário é obrigado ao levantamento de demonstrações contábeis periódicas, em cujo balanço patrimonial serão apropriados unicamente os elementos do patrimônio separado. Parágrafo único. Para o regime fiduciário produzir efeitos perante terceiros, o empresário deve arquivar no Registro Público de Empresas as demonstrações contábeis a que está obrigado.

Art. 31. O resultado líquido da atividade empresarial, apurado anualmente, poderá ser, no todo ou em parte, transferido pelo empresário ao patrimônio geral, segundo o apropriado na demonstração de resultado do exercício.

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Parágrafo único. Poderão ser feitas antecipações em periodicidade inferior à anual, demonstradas em balancetes de resultado levantado na data da transferência.

Art. 32. Na execução judicial contra o empresário individual que explora a empresa em regime fiduciário, em se tratando de obrigação relacionada à atividade empresarial, só podem ser penhorados e expropriados os bens do patrimônio separado.

§ 1º Os bens do patrimônio separado não podem ser judicialmente penhorados e

expropriados para a satisfação de obrigação passiva componente do patrimônio geral do empresário individual.

§ 2º Este artigo não se aplica às obrigações de natureza trabalhista e tributária, sejam ou não relacionadas diretamente com a atividade empresarial.” (Grifos

nossos.)

Na parte referente à “proteção ao nome empresarial”, o PL nº 1.572/2011 afasta uma polêmica envolvendo o artigo 1.166 do Código Civil. Isso porque o artigo 5º da Constituição da República de 1988 (CR/88), em seu inciso XXIX, alçou o nome empresarial ao patamar de direito intelectual, portanto, direito individual. Por outro lado, apesar de ter se consolidado na doutrina e na jurisprudência uma interpretação que dava, pelo disposto na Constituição da República de 1988, uma proteção em âmbito nacional do nome empresarial, o Código Civil de 2002 restringiu essa proteção ao âmbito estadual por força do âmbito da jurisdição da Junta Comercial onde foi registrado, somente estendendo-se nacionalmente caso registrado de acordo com a legislação especial (art. 33 da Lei nº 8.934/1994). Tal dispositivo civil vai de encontro, ainda, ao que prevê a Convenção da União de Paris em seu artigo 8º, ratificada pelo Brasil, que estende, ainda, para o âmbito internacional a proteção de tal identificação.

Parte da doutrina trata a questão evocando a igualdade constitucional de tratamento que deve ser dispensada a nacionais e estrangeiros, visto que, conforme o tratado internacional firmado, não é necessário ao empresário estrangeiro ou à sociedade estrangeira que registre no Brasil seu nome empresarial para que este tenha proteção nacional. Protege o artigo 5º da Constituição da República, dentre outros, a propriedade, e o nome comercial objetivo pode ser considerado um bem, na medida em que a União de Paris o protege como tal, seja para brasileiros, seja para estrangeiros, em todo o território nacional. Assim, o Código Civil dispõe, de forma flagrante, contrária às normas previstas em um tratado internacional retificado pelo Brasil, que impõe a proteção ao nome comercial; uma vez praticados os atos

próprios pelo interessado, tem alcance em todo o território do País e dos países-membros signatários da União de Paris, o que leva alguns a sustentar a inconstitucionalidade do artigo

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Nesse sentido, a jurisprudência vem consolidando nos tribunais superiores o entendimento de que o arquivamento dos atos constitutivos de firma individual e de sociedades na Junta comercial de somente um dos Estados da federação seria suficiente para sua proteção em âmbito nacional, a exemplo do que ocorre com as empresas internacionais.

Solucionando essa questão, dispõe o PL nº 1.572/2011, verbis:

“Art. 48. A inscrição do empresário individual ou o arquivamento do ato constitutivo da sociedade empresária no Registro Público de Empresas asseguram o uso exclusivo

do nome empresarial em todo o país.

Art. 49. É facultado, para fins de facilitação do direito assegurado neste artigo, o

registro do nome empresarial nas Juntas Comerciais de outros Estados além do da sede da empresa.

Art. 50. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato.

Art. 51. A inscrição do nome empresarial será cancelada, a requerimento de qualquer interessado, quando cessar o exercício da atividade empresarial em que foi adotado, ou quando ultimar-se a liquidação da sociedade que o inscrevera.

Art. 52. Expirado o prazo da sociedade celebrada por tempo determinado, esta perderá a proteção do seu nome empresarial.” (Grifos nossos.)

Em seu Capitulo V, o PL nº 1.572/2011, ao dispor sobre “deveres gerais dos empresários”, a escrituração contábil e seu sigilo e valor probante, inova, ao prever a

possibilidade de os livros serem escriturados e demonstrados em meio eletrônico. Diz o PL, verbis:

“Art. 53. O empresário individual e a sociedade empresária são obrigados a manter a escrituração regular e permanente de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e levantarem com base nesta escrituração, quando exigido por lei, demonstrações contábeis periódicas.

Art. 54. O microempresário e o empresário de pequeno porte devem manter a escrituração e levantar as demonstrações previstas na lei específica, submetendo-se às disposições deste Código no que não for nela regulado.

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Art. 55. Os livros podem ser escriturados e as demonstrações contábeis levantadas em

meio eletrônico, desde que certificadas as assinaturas no âmbito da infra-estrutura de Chaves Públicas brasileira (ICP-Brasil).” (Grifos nossos.)

Uma questão que chama a atenção está no Capítulo IV, que dispõe sobre a locação empresarial, em especial a parte referente à locação em shopping centers. Apesar de o PL nº 1.572/2011 assegurar, como regra geral, o direito à renovação do contrato de locação empresarial, uma disposição especial relativiza essa matéria. Isso porque o artigo 106 do PL possibilita à administração do shopping negar a renovação “sempre que a permanência do locatário no local torne-se prejudicial à adequada distribuição de oferta de produtos e serviços no complexo comercial”. Diz o PL nº 1.572/2011:

“Art. 104. É empresarial a locação de prédio urbano em que o empresário locatário instala seu estabelecimento empresarial, desde que:

I - a locação tenha sido celebrada por escrito e com prazo de no mínimo 5 (cinco) anos; e

II - não tenha havido alteração do ramo de empresa explorado no local nos 3 (três) últimos anos de vigência do contrato.

Parágrafo único. O lapso temporal referido no inciso I considera-se cumprido se alcançado pela soma dos prazos ininterruptos de contratos escritos sucessivos.

Art. 105. Na forma da lei especial, o empresário tem direito à renovação do contrato de locação empresarial.

Art. 106. Nos contratos de locação de loja ou espaço em Shopping Center, o

empresário titular deste pode se opor à renovação sempre que a permanência do locatário no local tornar-se prejudicial à adequada distribuição de oferta de produtos e serviços no complexo comercial.” (Grifos nossos.)

Um ponto discutível no PL nº 1.572/2011 em razão dos princípios que nortearam sua confecção, a de ser um diploma normativo com regras destinadas a regulamentar a relação entre empresas, que, nas palavras de seu ilustre autor, “não pode ser tratada da mesma forma que os contratos de consumo, de trabalho e entre vizinhos”, é a parte destinada ao comércio eletrônico, prevista em seu Capítulo V, justamente porque dispõe sobre regras típicas de

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“Art. 108. É eletrônico o comércio em que as partes se comunicam e contratam por meio de transmissão eletrônica de dados.

Parágrafo único. O comércio eletrônico abrange não somente a comercialização de

mercadorias como também a de insumos e a prestação de serviços, incluindo os bancários.

Art. 109. O empresário está sujeito, no comércio eletrônico, às mesmas obrigações

impostas por lei relativamente ao exercício de sua atividade no estabelecimento empresarial, salvo expressa previsão legal em contrário.

Art. 110. O sítio de empresário acessível pela rede mundial de computadores deve conter, em página própria, a política de privacidade.

§ 1º Na página introdutória do sítio, deve ser disponibilizada ligação imediata para a página da política de privacidade.

§ 2º Na política de privacidade do sítio deve ser claramente mencionada a instalação de programas no computador de quem a acessa, em decorrência do acesso ou cadastramento, bem como a forma pela qual eles podem ser desinstalados.

Art. 111. No sítio destinado apenas a viabilizar a aproximação entre potenciais interessados na realização de negócios entre eles, o empresário que o mantém não responde pelos atos praticados por vendedores e compradores de produtos ou serviços por ele aproximados, mas deve:

I - retirar do sítio as ofertas que lesem direito de propriedade intelectual alheio, nas vinte e quatro horas seguintes ao recebimento de notificação emitida por quem seja comprovadamente o seu titular;

II - disponibilizar no sítio um procedimento de avaliação dos vendedores pelos compradores, acessível a qualquer pessoa;

III - cumprir o artigo anterior relativamente à política de privacidade.

Art. 112. O nome de domínio do empresário é elemento de seu estabelecimento empresarial.

§ 1º Configura conduta parasitária o registro de nome de domínio, em que o núcleo distintivo do segundo nível reproduz marca registrada alheia, salvo se feito por quem for também titular, em razão da especialidade, do registro de igual marca.

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§ 2º Na hipótese do parágrafo antecedente, o prejudicado pela conduta parasitária pode pedir em juízo a imediata transferência, para ele, do registro do nome de domínio, além de perdas e danos.

§ 3º Configura ato ilícito qualquer pessoa promover o registro de nome de domínio cujo núcleo distintivo de segundo nível tenha o potencial de prejudicar a imagem ou os negócios de um empresário.”

Em que pese o fato de algumas regras serem destinadas ao ambiente de negócios, com o artigo 112 e seus parágrafos, as disposições sobre comércio eletrônico, por versarem sobre uma típica relação de consumo, não deveriam vir expostas em um diploma destinado a regulamentar as relações empresarias, como exposto pelo ilustre autor da proposta.

Prosseguiremos com a análise do Projeto de Lei mediante posteriores trabalhos técnicos.

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