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É a breve exposição.

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Academic year: 2021

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APELADO: BV FINANCEIRA SA

RELATOR:DESEMBARGADOR ESPEDITO REIS DO AMARAL RELATOR CONVOCADO: JUIZ MARCO ANTONIO ANTONIASSI

RECURSO DE APELAÇÃO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. CONTRATOS DE MÚTUO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

O dever de prestar contas é de quem trabalha ou movimenta valores em prol de terceiro, o que não ocorre nos contratos de mútuo no qual o mutuário toma em empréstimo valores pré-determinados e os utiliza de acordo com sua exclusiva vontade. No caso cumpre apenas ao mutuário o pagamento da dívida de acordo com o ajustado. Falta de interesse de agir constatado. Recente julgado do Superior Tribunal de Justiça neste sentido revendo anterior jurisprudência. Extinção da ação decretada.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de

Apelação Cível nº 1001862-5, de Umuarama - 2ª Vara Cível, em que é Apelante SIDNEI DIAS GOMES e Apelado BV FINANCEIRA SA.

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I - A Apelante ingressou com a presente ação de prestação de contas contra BV FINANCEIRA S/A- CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO tendo como objeto contrato de financiamento.

O Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Umuarama julgou extinto o processo sem resolução de mérito, por carência de ação, condenando o autor ao pagamento das custas e despesas processuais e da verba de sucumbência, esta fixada em R$ 550,00.

Inconformada com a r. sentença de primeiro grau a parte autora apresentou recurso de apelação conforme razões de fls. 24/33.

Aduz a apelante que tem o mutuário interesse processual porque todos os documentos apresentados pelo Apelado são de difícil compreensão. Argumenta, ainda, que o simples envio dos extratos não exime a instituição financeira do dever de prestar contas ante as duvidas do consumidor. Sustenta que a atividade exercida pela instituição financeira no contrato de financiamento importa em atos de administração, pelo fato de realizar o cálculo das parcelas do financiamento. Requereu os benefícios da Justiça Gratuita. Por tais razões pugnou pelo provimento do recurso.

O apelo foi recebido em seu duplo efeito e não foram apresentadas contrarrazões, posto que a petição foi indeferida sem a formação da relação processual.

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II - VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO:

Presentes os requisitos de admissibilidade do presente recurso de apelação é de conhecê-lo.

Já tendo o juízo de primeiro grau concedido ao apelante os benefícios da Justiça gratuita, não há motivo para reanalisar novamente o pedido.

Em relação ao mérito do apelo sempre me filiei à corrente de pensamento que não reconhecia a possibilidade da ação de prestação de contas em caso de contratos de empréstimo.

De acordo com Adroaldo Furtado Fabrício prestação contas significa fazer alguém a outrem, pormenorizadamente, parcela por parcela, a exposição dos componentes de débito e de crédito resultantes de determinada relação jurídica, concluindo pela apuração aritmética do saldo credor ou devedor, ou de sua inexistência. (Comentários ao Código de Processo Civil, arts. 890-945. VIII Vol. Tomo III. 4ª Ed. Forense, Rio de Janeiro, 1992, Cap. IV, § n. 249, p. 228).

Neste passo somente teria o dever de prestar contas quem trabalha ou movimenta valores em prol de terceiro ou mesmo que pertencem a terceiro, a exemplo de tutores em relação aos seus pupilos ou mesmo do mandatário, exemplo maior.

O mesmo Adroaldo Furtado Fabrício aponta casos em que não cabem rigorosamente no conceito de administração de coisa alheia, ou de interesse de outrem, e que, contudo, dão lugar à prestação de contas, a exemplo do que se dá na parceria agrícola ou pecuária, ou ao credor autorizado excepcionalmente a vender bens do devedor para pagar-se com o produto da venda (Ob. e loc. cits.).

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Enfim, em toda a situação onde não se admita que uma parte haja unilateralmente apurando o saldo favorável ou desfavorável a ele próprio, dispensando-se de informar o devedor das contas conducentes a esse resultado (FABRÍCIO. Adroaldo Furtado. Comentários ao Código de Processo Civil, arts. 890-945. VIII Vol. Tomo III. 16ª Ed. Forense, Rio de Janeiro, 1992, Cap. IV, § n. 249, p. 229).

No caso dos autos, em que o pedido de prestação de contas refere-se a mútuo bancário, não há que se falar em entrega de valores pelo apelante ao apelado para fins de administração ou gerência.

Ao apelante foi entregue determinado valor que foi por ele devidamente apropriado, cabendo apenas o pagamento de tal valor de acordo com o que fora convencionado, situação totalmente diversa dos contratos de conta corrente, na qual a instituição financeira gere em favor de seu cliente, lançando os créditos e débitos afins.

No mútuo o banco repassa determinado valor ao mutuário que dele se apropria e utiliza livremente, obrigando-se tão só à devolução do capital com os encargos contratados.

Não se verificando situação de administração de bens ou interesses alheios, descabe a ação de prestação de contas.

A respeito:

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. POSSIBILIDADE JURIDICA DO PEDIDO. CARENCIA DE AÇÃO. CPC, ARTIGO 914. A PRETENSÃO A EXIGIR OU A PRESTAR CONTAS SUPÕE A ADMINISTRAÇÃO, DE UM MODO GERAL, DE BENS, NEGOCIOS OU INTERESSES DE OUTREM. CASO DE CONTRATO DE ESCAMBO MERCANTIL, SEGUNDO A AUTORA DA AÇÃO, OU DE SUCESSIVAS E RECIPROCAS VENDAS MERCANTIS, SEGUNDO A RE. CARENCIA DA AÇÃO PARA PEDIR

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CONTAS, INCLUSIVE ANTE OS TERMOS DA PETIÇÃO INICIAL, EM QUE A DEMANDANTE SE AFIRMA CREDORA DE DETERMINADO PESO DE 'CHAPAS GROSSAS DESCLASSIFICADAS'. DISSIDIO PRETORIANO INDEMONSTRADO. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. (STJ - REsp 9013/MG - QUARTA TURMA - Rel. Ministro ATHOS CARNEIRO - J. 28.05.1991)

Mesmo diante de tal pensamento e das razões expostas, em face de reiterados julgados do Superior Tribunal de Justiça, ressalvando minha posição pessoal, acabei por admitir a ação de prestação de contas nestas circunstâncias.

Ocorre que, recentemente, foi reconhecida pelo mesmo STJ a falta de interesse de agir ao mutuário para pedir a prestação de contas em situação similar, revendo o anterior posicionamento.

Da página eletrônica do STJ colhi a seguinte informação:

Tomador de empréstimo não pode ajuizar ação de prestação de contas para discutir cláusulas contratuais

03/10/2012

Não é cabível ação de prestação de contas para discutir a evolução dos encargos cobrados em contrato de financiamento. Com esse entendimento, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o recurso de um consumidor que pretendia obter o esclarecimento a propósito das taxas, encargos e critérios aplicados no cálculo das prestações de empréstimo adquirido na Real Leasing S/A Arrendamento Mercantil.

O consumidor recorreu de decisão do Tribunal de Justiça do Paraná, que manteve a sentença de extinção do processo, ao entendimento de que o autor carece de interesse processual. "A ação com

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pedido de prestação de contas não é a fórmula processual adequada para que o devedor fiduciante postule a revisão das cláusulas financeiras do contrato”, afirmou o TJ.

O consumidor sustentou, no recurso especial, que não está obrigado a discriminar na petição inicial os lançamentos que considera irregulares, e que a ação postula unicamente a correta aplicação das cláusulas que foram pactuadas, propósito compatível com a ação de prestação de contas.

Interesse de agir

Em seu voto, a relatora, ministra Maria Isabel Gallotti, ressaltou que há consenso de que o titular de conta-corrente bancária tem legitimidade ativa e interesse processual para exigir contas do banco. Segundo ela, a abertura de conta-corrente tem por pressuposto a entrega de recursos do correntista ao banco, seguindo-se relação duradoura de sucessivos créditos e débitos.

No caso de contrato de financiamento, a ministra destacou que não há a entrega de recursos do correntista ao banco, para que este os administre e efetue pagamentos, mediante débitos em conta-corrente. O banco é que entrega os recursos ao tomador de empréstimo, no valor estipulado no contrato, perdendo a sua disponibilidade, cabendo ao financiado restituir o valor emprestado, com os encargos e na forma pactuados.

“Não há, portanto, interesse de agir para pedir a prestação de contas, de forma mercantil, de receitas e débitos sucessivos lançados ao longo da relação contratual. Se o autor não possui os documentos necessários para a compreensão dos encargos contratados, assiste-lhe o direito de ajuizar ação de exibição de documento ou requerer a apresentação de documentos em caráter incidental em ação ordinária de revisão contratual cumulada com repetição de eventual indébito”, afirmou a ministra. Processos: REsp 1244361

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tem o mutuante dever de prestar contas, já que não administra bem alheio, pelo que ao apelante falta interesse de agir.

Por tais razões voto no sentido de ser conhecido e desprovido o recurso de apelação.

III - DECISÃO:

ACORDAM os Magistrados integrantes da Décima Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e negar-lhe provimento.

Presidiu o julgamento, com voto, o Excelentíssimo Senhor Desembargador Albino Jacomel Guerios, e dele participou a Excelentíssima Senhora Desembargadora Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes.

Curitiba, 24 de abril de 2013.

Juiz MARCO ANTONIO ANTONIASSI Relator

Referências

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