PERFIL DE AFASTAMENTO, POR MOTIVOS DE SAÚDE, DE
SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RECÔNCAVO DA BAHIA, DE ACORDO COM DADOS DO SIASS
Arianne Gomes Viana 1,Igor Garcia Barreto 1Nancy Alfieri Nunes 2
1
Acadêmicos do Curso de Perícia Oficial em Saúde do Servidor Público Federal do Centro Universitário de Lins-Unilins, Lins-SP, Brasil.
2
Profa Dra. Docente do Curso de Perícia Oficial em Saúde do Centro Universitário de Lins - Unilins, Lins-SP, Brasil.
Resumo
Objetivos: Identificar as principais causas de afastamento dos servidores públicos da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-UFRB por motivo de saúde, identificando o perfil demográfico e profissiográfico desses servidores e as patologias associadas. Métodos: Consiste em um estudo observacional descritivo dos afastamentos dos servidores da UFRB no período de 2 de abril de 2011 a 02 de abril de 2013, utilizando-se dados do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor -SIASS Resultados: Registrou-se 464 afastamentos no período, representando um total de 7916 dias perdidos de trabalho e média de 7,42 afastamentos por servidor. Os episódios de licença para tratamento de saúde-LTS duraram, em média, 17 dias. As doenças do sistema osteomuscular foram as responsáveis pelo maior número de afastamentos. O perfil de servidores responsáveis pelo maior número de licenças foi: sexo feminino, com idade entre 31 e 40 anos, docentes, lotados no Centro de Ciências da Saúde - CCS. Conclusões: O estudo indicou a relevância do afastamento por doenças do sistema osteomuscular, porém, diferiu de outros estudos em relação aos afastamentos por transtornos mentais, os quais apresentam menor importância nos servidores da UFRB em relação a outros trabalhadores, exceto quando consideramos o grupo de docentes. Também apontou pela possibilidade de subnotificação dos casos de acidentes em serviço, fato encontrado na literatura existente.
Palavras chaves - absenteísmo; licença saúde; servidores públicos federais; universidade federal; saúde do servidor. Introdução
É consenso que o trabalho interfere de maneira intensa na saúde de trabalhadores. Tal fato se torna mais evidente quando consideramos que estes passam grande parte do seu tempo e da sua vida exercendo atividades, na maioria das vezes, em condições inadequadas. A associação entre o trabalho e o processo saúde-doença está cada vez mais presente na literatura, sendo possível encontrá-la em diversos estudos [1][2][3][4]. Dessa forma é impossível ser indiferente a esse binômio e às conseqüências que deste podem advir, tanto para os trabalhadores quanto para os empregadores/patrões. O alto número de ausências ou absenteísmo pode ser um sinal de alerta.
O Absenteísmo é definido por Chiavenato [5] como a freqüência ou duração do tempo de trabalho perdido quando os colaboradores não comparecem ao trabalho. A análise do absenteísmo por motivos de saúde, pode se constituir em um importante indicador de saúde na organização. E de posse de registros adequados é possível avaliar aspectos como: agravos de saúde mais recorrentes, freqüência de acidentes em serviço e doenças ocupacionais, etc.
No serviço público federal, a lei 8.112 de 1990 (Regime jurídico de
servidores públicos civis da União, autarquias e fundações públicas federais), dispõe, dentre outros, sobre o direito do servidor de ausentar-se do trabalho por motivos de saúde, sem prejuízo da remuneração, garantindo em seus artigos 81, 82, 83, 202, 203, 204, 207, 211 e 212 as seguintes licenças por motivo de saúde: licença por motivo de doença em pessoa da família, licença para tratamento de saúde, licença à gestante e licença por acidente em serviço ou doença profissional [6]. Entretanto, o registro referente aos dados de saúde do servidor não vinha ocorrendo de maneira uniforme e padronizada nos diferentes órgãos da Administração Pública, fato que comprometia o dimensionamento de tais questões, impedindo a formação de um banco de dados único do servidor que ilustrasse a sua realidade de saúde. Sendo, deste modo, um fator limitador para uma gestão de pessoal mais eficaz, voltada para a saúde do trabalhador [7].
Por isso, diante da necessidade de atuar de maneira mais efetiva na atenção à saúde do servidor, compreendendo e conhecendo o perfil de adoecimento desses trabalhadores, e, a partir daí, atuando na prevenção e promoção de saúde, foi instituída a Política de Atenção à Saúde e Segurança do Servidor – PASS, da qual é parte integrante o Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor – SIASS [7]. Sendo possível, através deste, realizar registros de atestados de saúde, perícias oficiais, exames periódicos de saúde e obter relatórios gerenciais.
O SIASS configura-se, portanto, em ferramenta de grande importância, pois, permite traçar o perfil epidemiológico do servidor público, possibilitando à administração conhecer, dentre outros aspectos, os principais agravos que levam ao afastamento deste, propiciando um planejamento mais eficaz, ao fornecer subsídio para criação de programas de redução de riscos, prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, além de ações de promoção à saúde. Podendo, por conseguinte, proporcionar melhor saúde ao trabalhador, mais qualidade de vida e
redução do absenteísmo. O que poderá, ainda, refletir não só na redução de gastos públicos, mas também, na melhoria da qualidade do serviço prestado à população.
A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB – constitui-se em uma autarquia, criada pela Lei 11.151 de 29 de julho de 2005, por desmembramento da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia - UFBA, com sede e foro na cidade de Cruz das Almas e unidades instaladas nos municípios de Santo Antônio de Jesus, Amargosa e Cachoeira. A Universidade teve suas atividades iniciadas em 03 de julho de 2006.
O objetivo do presente trabalho de pesquisa é traçar o perfil de adoecimento e de afastamento do servidor público federal da UFRB, com base nos dados de licenças por motivos de saúde registrados no SIASS do Serviço Médico Universitário Rubens Brasil - SMURB/UFBA, correlacionando a quantidade de afastamentos com variáveis como: espécie de licença, patologias associadas de acordo com a Classificação Internacional de Doenças – 10ª revisão (CID 10) [8], tempo de afastamento, faixa etária e gênero do servidor, cargo ocupado e local de trabalho.
Metodologia
Visando analisar as principais causas de afastamento do trabalho, por questões de saúde, dos servidores públicos federais da UFRB, foi realizado um estudo observacional descritivo dos servidores, no referido órgão, obtendo-se os dados para esta investigação de forma secundária, junto ao SIASS, abrangendo-se o período de 02/04/2011 a 02/04/2013.
A população de estudo, servidores públicos federais da UFRB, compõe um grupo bastante heterogêneo de trabalhadores, divididos em duas categorias básicas: docentes, sendo estes ligados ao magistério, e técnicos administrativos da educação, sendo estes responsáveis pela parte administrativa de apoio ao ensino superior, com grande variabilidade de cargos e funções.
Atestados de saúde apresentados sugerindo períodos de afastamento por motivo de doença do servidor, por até 5 dias corridos, ou por motivo de doença em pessoa da família por até 3 dias corridos (desde que, nos dois casos, o período total de afastamento não excedesse 14 dias no intervalo de 1 ano) apresentados no prazo máximo de 5 dias, contados da data de início do afastamento do servidor e que contivessem o nome ou codificação da doença, de forma legível, foram lançados administrativamente sem necessidade de submissão à perícia. No SIASS, estes afastamentos foram contabilizados como “Registro de Atestado”. Os casos que não se enquadraram nos critérios descritos acima deveriam ser submetidos à perícia médica ou odontológica, sendo que os afastamentos de até 120 dias, ininterruptos ou não, no período de 12 meses, foram avaliados por perícia singular. Acima deste número de dias, obrigatoriamente, por junta composta por três médicos ou três cirurgiões-dentistas. No sistema, os afastamentos lançados por perícia constaram como: “Perícia Concluída” [9].
O termo afastamento refere-se a todas as licenças por motivos de saúde registradas no SIASS, contabilizando-se as “perícias concluídas” juntamente com os “registros de atestado”. Ao se analisar as variáveis cargo, lotação e espécie de licenças o sistema contabiliza os afastamentos registrados apenas por “perícias concluídas”.
A partir do banco de dados do SIASS, foram obtidos os afastamentos ao trabalho por licença para tratamento de saúde do servidor – LTS, licença por motivo de doença em pessoa da família, licença por motivo de acidente em serviço ou doença profissional e licença à gestante, observando-se também os possíveis desfechos dos afastamentos: retorno ao trabalho, readaptação ou aposentadoria por invalidez. As características demográficas e profissiográficas consideradas neste estudo foram: idade, sexo, cargo e lotação. Do SIASS, foram obtidas variáveis, como
número de dias de licença, tipo de licença e CID-10 [8].
A partir destes dados estabeleceu-se a análiestabeleceu-se do número e duração dos episódios de licença e foram calculados indicadores propostos pela Permanent Commission and International Association on Occupational Health (1973) [10], modificados para o período do presente estudo: FLTS - frequência de LTS (número de episódios de LTS no período / total de servidores no período), DLTS (número de dias de licenças no período / número de servidores no período); e, ainda, o indicador proposto por Hensing et al. (1998) [11], IDA – Índice de Duração do Absenteísmo (número total de dias de LTS / número de episódios de LTS), fazendo-se também, a verificação do IDA por grupo de CID-10.
Os cargos foram agrupados em quatro categorias, a saber: Docente, Assistente em Administração, Técnico em Laboratório e Outros. Essa organização deveu-se à representatividade dos 3 grupos, que juntos correspondem a 81,35% da população estudada.
As análises foram realizadas com o software Excel 2010.
Resultados
No período do estudo, foram registrados 1067 servidores, com idade média de 39,88 anos com desvio padrão (DP) de 10,13 anos e média de tempo no serviço público na UFRB de 3,32 anos, DP=1,95 anos. A população estudada era predominantemente do sexo masculino (53,51%), na faixa etária de 30 a 39 anos (41,70%), submetida a um regime de trabalho de 40 horas semanais. O cargo mais frequente foi o de professor (53,79%), seguido pelo de assistente em administração (22,02%) e pelo de técnico em laboratório (5,53%).
Dentre as espécies de licença aparecem por ordem decrescente: licença para tratamento da própria saúde (240), licença por motivo de doença em pessoa da família (25), licença à gestante (3) e licença por acidente em serviço (2).
Na população estudada, durante os dois anos, registraram-se 0,43 episódios de LTS por servidor (FLTS), uma média de 7,42 dias de afastamento por servidor (DTLS); e IDA total de 17,06, ou seja, cada afastamento teve duração média aproximada de 17 dias.
Foi encontrado um índice de 95,86% de concessões dos pleitos junto à perícia oficial em saúde. Ocorreram 464 afastamentos (perícias concedidas e registros de atestados) no período, representando um total de 7916 dias perdidos de trabalho, sendo que foram registradas apenas duas licenças por acidente em serviço ou moléstia profissional, ambas com o CID-10 S93.4, representando 0,43% dos afastamentos. No mesmo período, contudo, chama atenção a ausência de
CAT/SP (comunicação de acidente de trabalho no serviço público) registradas no sistema.
Houve apenas 01 registro com concessão de aposentadoria por invalidez e nenhum para fins de readaptação.
O detalhamento do IDA, segundo os grandes grupos de classificação internacional de doenças – CID-10, conforme a Tabela 1, mostra que as quatro principais causas de afastamento com tempo mais prolongado em ordem decrescente foram: Gravidez, parto ou puerpério (O00-O99), Neoplasias (C00-D48), Lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98) e Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99).
Tabela 1: Diagnósticos associados aos afastamentos por motivo de saúde em função de dias de absenteísmo, número de episódios e índice de duração do absenteísmo (IDA*), em servidores da UFRB, de 02/04/2011 à 02/04/2013.
Grande grupo da CID-10
Dias de Absenteísmo
N de
episódios IDA
Gravidez, parto ou puerpério (O00-O99) 721 22 32,77
Neoplasias (C00-D48) 742 23 32,26
Leões, envenenamento e algumas outras consequências de
causas externas (S00-T98) 1101 41 26,85
Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) 769 30 25,63 Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo
(M00-M99) 1488 62 24
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E99) 252 11 22,91 Algumas afecções originadas no período perinatal (P00-P96) 45 2 22,5 Doenças do aparelho circulatório (I00-I99) 282 16 17,63 Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os
serviços de saúde (Z00-Z99) 699 41 17,05
Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99) 394 24 16,42 Malformações congênitas, deformidades e anomalias
cromossômicas (Q00-Q99) 30 2 15
Doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99) 356 27 13,19
Doenças do sistema nervoso (G00-G99) 48 4 12
Doenças do ouvido e da apófise mastoide (H60-H95) 50 5 10
Doenças do aparelho digestivo (K00-K93) 487 50 9,74
Doenças do olho e anexos (H00-H59) 105 17 6,18
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99) 139 31 4,48
Doenças da pele e tecido subcutâneo (L00-L99) 15 6 2,5
TOTAL 7916 464 17,06
Fonte: Subsistema Integrado de Atenção à Saúde e Segurança do Servidor
*IDA – Índice de Duração do Absenteísmo = Dias de absenteísmo / número de episódios
Quando se avaliou o número de afastamentos por grupo de CID-10, observam-se as doenças do sistema osteomuscular (M00-M99) em primeiro lugar, seguidas das do aparelho respiratório (J00-J99) e sistema digestivo (K00-K99), ambas com 50 afastamentos.
Detalhando-se os grupos de doenças responsáveis pelo maior número de afastamentos, verifica-se dentre o grupo de
doenças osteomusculares (M00-M99) a dorsalgia (CID-10 M54) como maior causa; já das doenças do aparelho respiratório (J00-J99), a sinusite aguda (J01); das doenças do aparelho digestivo (K00-K99), destaca-se o CID-10 K08 (outros transtornos dos dentes e de suas estruturas de sustentação), conforme observa-se na Tabela 2.
Tabela 2: Diagnósticos mais frequentes associados aos afastamentos por motivo de saúde conforme subgrupos da CID 10, em servidores da UFRB, de 02/04/2011 à 02/04/2013.
Subgrupo da CID-10 e diagnóstico N %
Sistema Osteomuscular (M00-M99) 62 100
Dorsalgia (M54) 32 51,6
Transtorno do Disco Cervical (M50) 5 8,1
Outros 25 40,3
Aparelho Respiratório (J00-J99) 50 100
Sinusite Aguda (J01) 9 18
Influenza Devida a Vírus não Identificado (J11) 7 14
Outros 37 68
Aparelho Digestivo (K00-K99) 50 100
Outros Transtornos dos Dentes e de suas Estruturas de Sustentação (K08) 11 22
Dentes Inclusos e Impactados (K01) 6 12
Outros 33 66
Fonte: Subsistema Integrado de Atenção à Saúde e Segurança do Servidor
As licenças por motivos odontológicos respondem por 5,40% do total de afastamentos no período. Com uma média de faltas ao trabalho de 4 dias. Sendo „dentes impactados‟ e „perda de dentes devida a acidente, extração ou a doenças periodontais localizadas‟, as maiores causas de afastamentos.
Agrupando-se as licenças por grupos
de tempos concedidos de afastamentos observa-se que o maior número de licenças
foram de 6 a 120 dias (236 episódios),
seguidos por até 5 dias (225 episódios) e maior que 120 dias (3 episódios).
Quanto à quantidade de afastamentos por faixa etária verificou-se que o maior número de licenças ocorreu entre servidores de 31 a 40 anos (41,38%), sendo as principais causas de adoecimento representadas pelas doenças do sistema osteomuscular (M00-M99) e doenças do aparelho respiratório (J00-J99). Tabela 3.
Tabela 3: Afastamentos por motivos de saúde em função da faixa etária em servidores da UFRB no período de 02 de abril de 2011 a 02 de abril de 2013.
Faixa etária Nº afastamentos Afastamento (%)
Grupo CID-10 mais recorrente 19 a 30 120 25,86% J(17); M(15) 31 a 40 192 41,38% M(23); J(23) 41 a 50 87 18,75% K(16) 51 a 60 46 9,91% M(15) >60 19 4,09% S(7) Total 464 100% -
Fonte: Subsistema Integrado de Atenção à Saúde e Segurança do Servidor
As mulheres responderam por 62,93% do total de licenças, tendo como principal causa (14,09%) as doenças do sistema osteomuscular. Os homens, por sua
vez ausentam-se mais por motivos de lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências de causas externas. Tabela 4.
Tabela 4: Afastamentos por motivos de saúde em função do gênero em servidores da UFRB no período de 02 de abril de 2011 a 02 de abril de 2013.
Gênero Nº afastamentos Afastamentos (%)
Dias afastamento
Grupo CID-10 mais recorrente
Feminino 292 62,93% 4789 M(41); J(28)
Masculino 172 37,07% 3127 S(22); M(21); K(21)
Total 464 100% 7916 -
Fonte: Subsistema Integrado de Atenção à Saúde e Segurança do Servidor
O cargo com o maior número de afastamentos (perícias concedidas) é o de professores, responsável por 41,76% do total de licenças concedidas no período; seguido pelo de assistente administrativo com 23,81%. A principal causa de licenças
entre docentes está representada pelos transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) e no cargo de assistente administrativo está representada pelas doenças do sistema osteomuscular (M00-M99). Tabela 5.
Tabela 5: Afastamentos por motivos de saúde (perícias concedidas) em função do cargo em servidores da UFRB no período de 02 de abril de 2011 a 02 de abril de 2013.
Cargo Nº afastamentos Afastamentos (%) Dias afastamento
Grupo CID-10 mais recorrente Professores 114 41,76% 3396 F(13); K(12) Assistente em administração 65 23,81% 1828 M(14) Técnico de laboratório área 27 9,89% 480 K(7) Outros 67 24,54% 1728 - Total 273 100% 7432 -
Por fim, conforme a Tabela 6, os locais de trabalho com maior quantidade de afastamentos (com base em perícias concedidas), em ordem decrescente foram: Centro de Ciências da Saúde – CCS; Núcleo de Apoio Técnico Específico GTA-CCAB;
Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas CETEC; Centro de Ciências Agrárias Ambientais e Biológicas – CCAB e Centro de Artes Humanidades e Letras – CAHL.
Tabela 6: Afastamentos por motivos de saúde (perícias concedidas) em função do local de trabalho em servidores da UFRB no período de 02 de abril de 2011 a 02 de abril de 2013.
UORG Nº afastamentos Afastamento (%) Dias afastamento 000024
Centro de Ciências da Saúde - CCS 39 14,23% 1255
000095
Nuc Apoio Tec EspecífGTA-CCAB 22 8,03% 397
000023
Centro de Ciênc Exat e Tecnol CETEC 18 6,57% 676
000022
Centro de Cienc Agrar Ambient Biologicas - CCAB
14 5,11% 307
000025
Centro de Artes Humanid e Letras - CAHL
13 4,74% 389
000028
Coord de Adm de Pessoal 10 3,65% 255
000026
Centro de Formação de professores - CFP
06 2,19% 109
Fonte: Subsistema Integrado de Atenção à Saúde e Segurança do Servidor
Discussão
A identificação de fatores que possam influenciar nos afastamentos dos servidores na UFRB representa uma grande melhoria na forma de entendimento do absenteísmo no referido órgão. A análise destes dados permite um melhor planejamento e implantação de políticas de promoção e proteção à saúde do servidor. Entretanto, este estudo tem restrições, já que não foi possível a investigação de todas as variáveis pretendidas por uma limitação no sistema. Além disso, para uma completa análise do problema dos afastamentos, seria necessário um conhecimento total e atualizado sobre a situação da população de estudo, como: histórico de saúde,
capacidade profissional dos trabalhadores, sua motivação para o trabalho, além de fatores internos e externos ao trabalho, como doenças, acidentes, responsabilidades familiares e particulares e problemas de transporte para o local de trabalho [5]. Parte deste problema poderá ser solucionado com a implantação do módulo de exames periódicos no SIASS, o qual irá ajudar a enriquecer os conhecimentos acerca do estado de saúde dos servidores.
Os resultados deste estudo foram obtidos através da análise de registros oficiais, de forma secundária, obtidos junto ao SIASS, resultando em um baixo custo operacional, constituindo um ponto forte.
Quando considerada a freqüência de afastamentos por motivos de saúde e as patologias associadas, de acordo com a CID-10, foram encontrados resultados semelhantes ao presente estudo em uma pesquisa sobre indicadores de absenteísmo e diagnósticos associados, em uma indústria do petróleo [4], onde houve prevalência de doenças osteomusculares.
Em dados obtidos através do Anuário do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), do ano de 2011 [12] destaca-se, para efeitos de licenças por motivos de saúde, os seguintes CIDs, em ordem decrescente de freqüência: causas externas (S00-T98), seguidas pelas doenças do sistema osteomuscular (M00-M99), transtornos mentais (F00-F99), doenças do aparelho digestivo (K00-K99) e doenças do aparelho circulatório (I00-I99). Tais achados diferem, em parte, dos resultados obtidos na UFRB, nos quais os problemas mentais somente aparecem em 7º lugar na freqüência geral, assim como as doenças respiratórias que estão em 2º lugar, portanto, com maior importância quando comparado ao encontrado no RGPS. Tal fato pode se dever às peculiaridades da legislação do RGPS, na qual os afastamentos por até 15 dias são de responsabilidade das empresas, não aparecendo nas estatísticas do RGPS.
Outro dado que merece uma melhor análise corresponde à escassez de registros de licenças por acidente em serviço ou doença profissional. Neste caso, apenas duas licenças registradas num período de dois anos, não sendo registradas comunicação de acidente de trabalho no serviço público (CAT/SP) no mesmo período. Já existem estudos que apontaram casos de subnotificação das doenças ocupacionais em várias esferas [13] [14] [15]. Outro fator que podemos considerar é a dificuldade em estabelecer o nexo técnico, no caso das doenças relacionadas ao trabalho. No RGPS houve um grande avanço com a instituição do nexo técnico-epidemiológico previdenciário (NTEP) [16].
Os resultados da análise por faixa etária refletem a população de estudo, que é composta na sua maioria por adultos jovens
com idades entre 31 a 40 anos. Nesse grupo as causas mais frequentes de licenças evidenciadas são as doenças do sistema osteomuscular e do aparelho respiratório. É importante considerarmos que a universidade é relativamente nova (com início das suas atividades no ano de 2006), não possuindo ainda um grupo considerável de servidores com mais de 50 anos. Pode-se também inferir desta informação a oportunidade de voltar-se para a promoção de saúde e de hábitos saudáveis desses servidores na tentativa de reduzir a quantidade de adoecimentos futuros. Além de buscar prevenir o aumento e/ou agravamento de doenças osteomusculares através de medidas como reorganização do trabalho e adoção de medidas ergonômicas nos ambientes de trabalho.
Apesar de não representar a maioria dos servidores, as mulheres são as que mais se ausentam por motivos de saúde. Esse resultado confirma outro estudo em que há predomínio de afastamentos por mulheres [17]. Para elucidar tal achado, vários fatores podem ser considerados como: as mulheres buscam com mais freqüência os serviços de saúde do que os homens; necessitam de licenças relacionadas a intercorrências durante a gestação, as quais se dão por períodos relativamente prolongados (neste estudo representa 19,22% do tempo total de afastamento); contudo, é importante considerar que dentre os registros obtidos, há apenas 3 referentes à licença gestante. O que indica que a maioria das gestantes trabalha até o dia do parto, sendo a licença gestante gerada administrativamente sem necessidade de passar pela perícia, portanto não havendo registro no SIASS.
Quando analisamos por cargo, o grupo com maior número de licenças é o de professores, sendo os transtornos psíquicos a maior causa de afastamentos entre eles, quando comparados a outros grupos. Em outros estudos [18][19] foram encontrados resultados semelhantes - os transtornos psíquicos aparecem em primeiro lugar entre os diagnósticos que provocaram os afastamentos de docentes. Embora tais
resultados não sejam suficientes para o dimensionamento real do problema, são úteis, pois indicam a necessidade de maior análise da situação e pesquisa mais detalhada dos fatores envolvidos.
Conclusões
O perfil de adoecimento do servidor da UFRB, com base em licenças por motivos de saúde, pode ser resumido da seguinte forma: quem mais se afasta são servidores do sexo feminino, entre 31 e 40 anos de idade, docentes, seguidos pelos assistentes administrativos, lotados principalmente no CCS. Como principais patologias associadas, estão as doenças osteomusculares (dorsalgia), as doenças respiratórias (sinusite e influenza) e as doenças do aparelho digestivo (patologias bucais).
O registro dos dados de absenteísmo por motivos de saúde possui papel relevante na construção do perfil de saúde do trabalhador, pois permite à administração identificar as principais patologias que acometem os servidores e os riscos inerentes a elas, contudo, não deve ser utilizado de maneira isolada, como única fonte de dados no planejamento das ações de atenção à saúde e segurança do trabalhador. Tal inferência baseia-se, não apenas, nas limitações das informações prestadas, as quais se referem somente ao momento em que o servidor se afasta (sendo insuficiente para a compreensão do ser humano em sua totalidade e dos aspectos que influenciam a sua saúde). Mas também, baseia-se nas limitações percebidas no sistema (SIASS) em uso as quais são:
O uso exclusivo da CID como classificação fornece uma visão restrita, já que possui um enfoque para a etiologia, sem deixar claro os aspectos sobre a funcionalidade;
A não uniformidade nos critérios de escolha dos códigos da CID pelo perito (o que pode resultar em classificações diversas para representar a mesma patologia), sendo necessária capacitação a fim de obter uma padronização;
A limitação do SIASS no oferecimento de um leque maior de possibilidades de avaliação dos dados armazenados, gerando relatórios mais completos;
A necessidade de capacitação contínua dos servidores que utilizam e alimentam o sistema, incluindo aí peritos e profissionais da equipe multiprofissional, a fim de evitar subutilização das ferramentas disponíveis e subnotificações, como as observadas no preenchimento das CAT/SPs.
Tendo sido feito as considerações acima, é importante reafirmar a relevância de tal estudo, já que este nos brinda com informações que, embora não estejam esgotadas, permitirá à Administração nortear as ações de saúde na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. O resultado da pesquisa nos permite concluir pela necessidade de ações voltadas, principalmente, para a prevenção de doenças osteomusculares.
Por fim, sugerimos novos estudos que avaliem a organização do trabalho, assim como os ambientes de trabalho e ergonomia, já que tais fatores estão intimamente associados ao desenvolvimento de doenças osteomusculares e influenciam sobremaneira na Qualidade de Vida no Trabalho.
Referências Bibliográficas
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