RENTABILIZAR
O NEGÓCIO?
Até 2010, o mercado português deverá crescer a um ritmo de 10%. Este crescimento é sinal de um vigoroso desempenho em termos de após-venda, já que a Europa a 25 deverá crescer somente 2% entre 2006 e 2010.
Com um valor superior a 180 biliões de euros, o mercado europeu deverá crescer de forma sustentada em 3,9 biliões até 2010. Embora o crescimento relativo do mercado após-venda seja alimentado pelo crescimento regular do parque automóvel, é também influenciado por duas tendências negativas: menor taxa de substituição de peças
(resultado do aumento da sua longevidade) e forte competição sentida ao nível dos preços praticados.
Num sector definido por um conjunto reduzido de mega tendências, o mercado após-venda nacional deverá aumentar, já que o declínio nas taxas de substituição é mais do
O mercado português
após-venda alcançou
os 3,245 milhões de
euros em 2006 e
apresenta-se em boa
forma, ao contrário
do lento crescimento
que se espera na
Europa a 25.
Simon Hodson,Director de Análise da Unidade Automóvel da Datamonitor
que compensado pelo aumento em volume do parque automóvel e pelo aumento dos preços, ver gráfico 1.
O suave crescimento observável a nível europeu disfarça uma diferença significativa no progresso entre os mais maduros mercados da Europa Ocidental e os emergentes mercados do Leste europeu. Apesar da polarização das tendências, Portugal salienta-se em relação ao fraco crescimento dos restantes países europeus. Efectivamente, prevê-se que as vendas em Portugal deverão alcançar a terceira posição no ranking do melhor crescimento do seu grupo de países, com um aumento de 8,2% de valor dentro de quatro anos.
Em relação à distribuição, as redes dos fabricantes estão a consolidar-se, sendo que dealers e agentes secundários serão ainda mais afectados pela tendência realçada, e a actividade de fusão
Mercado português
deverá consolidar-se
entre os principais agentes no novo sector da distribuição independente (Norauto, Midas, Maxauto, Bricauto, etc.) atingirá o seu pico.
Diminuição de operadores
À medida que a distribuição na Europa evolui, um impacto directo de toda esta nova dinâmica é o fecho previsível de 25 mil operadores até 2010. Como um mercado sui generis entre os países europeus, prevê-se que Portugal venha a assistir a uma diminuição do total de oficinas em cerca de 700 (-5,3%) até 2010. O grosso deste declínio expectável no número de operadores, deriva da previsível redução entre independentes (-9,5%) e operadores ligados a redes de fabricantes (-1,9%).
Apesar de tudo, as oficinas
independentes manter-se-ão como o mais importante canal de negócio após-venda, apesar da redução prevista de 1,2% em termos de lucros. Por outro lado, os auto-centros e serviços rápidos deverão expandir-se de forma substancial, apesar de
provenientes de uma base ainda relativamente reduzida.
Um impacto positivo da tendência de fusões entre os principais agentes no novo mercado de distribuição
independente, é um aumento da sua capacidade de aquisição, o que deverá reduzir os custos para os condutores, devido ao efeito de economia de escala.
Por outro lado, a consolidação da distribuição em Portugal irá reforçar o lucro médio de cada concessionário. Com um retorno médio de 252 mil euros, o valor nacional continua abaixo da média europeia (a rondar os 300 mil euros). Contudo, é previsível um fácil crescimento da média nacional por concessionário, chegando aos 16% em 2010.
Negócio das peças
O grosso do negócio após-venda na Europa tem origem em peças mecânicas e na substituição de peças danificadas em acidentes ou desgastadas pelo uso regular. Da mesma forma, mais de 45% do mercado de após-venda português deriva das peças mecânicas, seguido por peças usadas em reparação de
Datamonitor
acidentes (20%) e regulares peças de substituição (15%). Em 2010, pneumáticos, consumíveis e acessórios, deverão ser os segmentos com crescimento mais significativo, a rondar os 3%.
Assim, é expectável que o
após-venda em Portugal se comporte relativamente bem, comparado com outros mercados da Europa Ocidental. Apesar da substancial consolidação do número de operadores, a Datamonitor prevê um
crescimento do lucro dos restantes players do mercado.
De facto, assim que a confusão gerada pela maré de fusões, a forte consolidação entre garagens independentes se verificar e o avanço dos modernos canais de distribuição tenha as suas
consequências, prevê-se uma fase de maturidade relativamente estável.
Muitos indicadores encorajam e predizem um futuro
positivo para o mercado de após-venda português. Dentro do contexto de um mercado europeu maduro, com o parque automóvel em
crescimento, mais produtos com uma componente tecnológica forte (e com preços superiores), e maior qualidade de serviço, o mercado português deverá ser fortemente estimulado. =
Datamonitor
Lucros do mercado após-venda português aumentam
311 milhões de euros (9.6%) 2006-2010
Datamonitor
Valor do retalho no mercado após-venda português,
por famílias de produto
Dentro do contexto de um mercado europeu maduro, com o parque automóvel em crescimento, mais produtos com uma componente tecnológica forte (e com preços superiores), e maior qualidade de serviço, o mercado português deverá ser fortemente estimulado.
Apesar das inúmeras vantagens que este tipo de produto
apresenta para consumidores, meio ambiente, marcas e reparadores, tem tardado em assumir uma posição de relevo no mercado após-venda automóvel. Mas o que são peças reconstruídas?
Na área automóvel, um produto reconstruído é todo aquele em que as peças de desgaste que o compõem são substituídas por peças novas. A reconstrução é um processo que leva à recuperação do valor acrescentado atribuído ao material, quando o produto foi inicialmente construído.
Este tipo de produto, tem de oferecer ao consumidor a qualidade e fiabilidade da peça nova, pelo que todo o processo de reconstrução terá de ser efectuado de acordo com os padrões de qualidade definidos pela marca.
A base fundamental do produto reconstruído é a peça usada que é substituída na reparação.
As peças
reconstruídas são
uma área de negócio
que em Portugal
tem ainda uma baixa
percentagem
de incorporação
nas reparações auto.
Internacionalmente, a peça usada é conhecida pela designação Core. Ele é o início e o fim do ciclo de vida do produto reconstruído. É portanto fundamental que, por cada peça reconstruída utilizada, exista a devolução do Core para que o processo não sofra interrupções. Devido a diversas circunstâncias, apenas se conseguem recuperar cerca de 80% de todos os Cores substituídos o que, em muitos casos, dificulta a disponibilidade deste tipo de produto.
Existem no mercado diversos elementos iniciados com o prefixo “Re“ que devido à semelhança de processos e do produto final, podem ser facilmente confundidos com peças reconstruídas e causar confusão junto do consumidor. Temos como exemplos:
• Recondicionado: foi recuperada a funcionalidade do produto como novo ou quase como novo, mas não implica que ele continue a ter mesma garantia de qualidade, nem
Álvaro Cardoso,
Responsável do Departamento de Peças da Sorel
Negócio com margem
de progressão
que todos os componentes tenham sido desmontados, limpos ou substituídos.
• Reusar: significa que o produto já foi utilizado anteriormente. Como não sofreu qualquer intervenção, todos os problemas adquiridos durante a primeira utilização, continuam lá.
• Reparar: é colocar operacional um produto que teve uma avaria. Normalmente a intervenção é feita exclusivamente no local ou no componente que a provocou e não em todo o produto. • Reciclar: é retornar o produto à matéria-prima, que
posteriormente pode ser utilizada na construção de uma nova peça. A reciclagem implica a destruição do produto o que, quando se trata de peças para veículos em final de vida, pode levar à não produção de uma peça igual.
Aquilo que diferencia um produto reconstruído de todos os outros é o processo que leva à sua reconstrução e que se desenvolve em sete etapas: • Recolha do Core:
• Inspecção e identificação de falhas; • Desmontagem do produto; • Limpeza dos componentes; • Substituição dos componentes sujeitos a desgaste;
• Montagem do produto;
• Teste e ensaio de funcionalidade. As possibilidades de
reconstrução são vastas e, em teoria, qualquer produto pode ser
reconstruído. Em Portugal os produtos mais comuns são motores, caixas de velocidade, alternadores, transmissões, caixas de direcção, unidades electrónicas, painéis de instrumentos, cabeças de motor, motores de arranque, embraiagens, catalisadores, bombas injectoras, injectores e radiadores.
Vantagens de utilização
A utilização deste tipo de peças tem inúmeras vantagens:
› Para o meio ambiente: • A energia dispendida na reconstrução é substancialmente inferior à necessária para produzir uma nova unidade. Por exemplo, na reconstrução de três
alternadores gasta-se apenas 14% da energia e 12% do material relativamente ao fabrico das peças novas. Em cinco motores de arranque a diferença ainda é maior: 9% de energia e 11% de material; • Reduz a emissão de milhões de toneladas de dióxido de carbono; • Poupa milhões de BTU’s de energia.
› Para as marcas automóveis: • Reduz substancialmente os custos de produção;
• Coloca no mercado peças a preços mais concorrenciais com uma margem de lucro duas vezes superior à das peças novas; • Reduz o custo das garantias. › Para os consumidores: • Têm como opção peças com um custo 30% a 65% inferior ao preço de uma peça nova;
• Com a mesma qualidade; • Com as mesmas condições de garantia.
Este é sem dúvida um negócio com grande margem de
progressão. No entanto, existem, a vários níveis, alguns desafios que têm de ser ultrapassados para que este negócio se possa afirmar e conquistar o seu lugar. Um, se não mesmo o mais importante, é que o consumidor passe a confiar na qualidade das peças reconstruídas. Muitas vezes ainda é feita a associação: reconstruído = pouca qualidade.
Isto só é possível se a rede de reparadores transmitir de forma clara aos clientes, a qualidade e fiabilidade destas peças e as vantagens económicas que esta solução representa.
As marcas têm também um papel importante a desempenhar neste processo alargando o número de produtos disponíveis, facilitando o processo de devolução dos Cores e procurando oferecer estas peças a um preço cada vez mais acessível.
Perante o que atrás foi escrito e em forma de conclusão poder-se-á afirmar que as peças reconstruídas são fiáveis, mantêm os padrões de qualidade na reparação automóvel, são uma área de negócio com enorme potencial de crescimento e uma mais valia para todos os intervenientes bem como para o meio ambiente. =