• Nenhum resultado encontrado

1-Relatório: 1.1- Arquitur - Sociedade de Empreendimentos Turísticos dos Arquipélagos do Atlântico, S. A., veio inter-

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "1-Relatório: 1.1- Arquitur - Sociedade de Empreendimentos Turísticos dos Arquipélagos do Atlântico, S. A., veio inter-"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

Cópias da sentença do 14.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa e dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferi- dos no processo de registo de nome de estabelecimen- to n.° 38 623.

1-Relatório:

1.1 - Arquitur - Sociedade de Empreendimentos Tu- rísticos dos Arquipélagos do Atlântico, S. A., veio inter-

(2)

por o presente recurso ex vi artigo 38.° do Código da Propriedade Industrial do despacho do Sr. Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, proferido em 20 de Maio de 1996, que indefe- riu o pedido de registo de estabelecimento n.° 38 623, ale- gando, em síntese, que:

Em 22 de Agosto de 1994 a recorrente requereu ao INPI a concessão do nome de estabelecimento n.° 38 623, Ho- tel São João - Funchal.

O pedido de registo foi instruído com certificado emi- tido pelo Registo Nacional de Pessoas Colectivas com- provativo de não existir firma ou denominação social sus- ceptível de se confundir com o mencionado nome de estabelecimento e ainda com fotocópia do ofício da Se- cretaria Regional de Turismo, Cultura e Emigração do Funchal.

A sociedade comercial por quotas Teles & C.ª, L.da, veio apresentar reclamação contra a concessão do registo de nome de estabelecimento n.° 38 623, Hotel São João- Funchal, em virtude de ser titular do registo de nome de estabelecimento n.° 18 474, Hotel São João, concedida em 7 de Maio de 1980.

Em 6 de Outubro de 1995 o recorrente contestou esta reclamação.

Teles & C.ª, L.da, veio rebater a contestação apresen- tada.

O Sr. Director, por despacho de 20 de Maio de 1996, indeferiu o pedido de registo do nome de estabelecimen- to n.° 38 623, com fundamento no seguinte parecer:

Os nomes em confronto são semelhantes, quer grá- fica quer foneticamente. Na realidade, o reclamante apenas se distingue do reclamado por indicar a loca- lidade, digo, o reclamado apenas se distingue do re- clamante por indicar a localidade. Porém, se é certo que as distâncias são enormes, não é mesmo verda- de que alguém, conhecendo o hotel da reclamante, iria pensar que se trataria do mesmo quando indo ao Funchal encontrasse o nome reclamado.

Assim, proponho se recuse o registo pedido com base nos artigos conjugados 238.° e 231.°, alíneas m) e g), ambos do CPI.

O despacho recorrido está ferido de erro de facto. O parecer refere que não houve contestação, quando na verdade tal peça existe, tendo de todo sido ignorados em absoluto os argumentos da recorrente.

O despacho recorrido, ao ignorar a contestação do re- corrente, ofendeu o conteúdo essencial de um direito fun- damental, pelo que é nulo - artigo 133.°, n.os 1 e 2, alí- nea d), do CPA.

Caso assim não se entenda, deve o despacho recorrido ser declarado anulável - artigo 135.° do CPA.

Também não é verdade que os nomes dos estabeleci- mentos em confronto sejam susceptíveis de confusão.

Os sinais distintivos são gráfica e foneticamente distin- tos.

A distância física entre ambas é de tal modo grande que afasta hipótese de confusão.

O nome de estabelecimento recusado coloca acento tó- nico na localização geográfica do estabelecimento hoteleiro que pretende identificar, sendo certo que a localização ou âmbito territorial é precisamente um dos critérios legais de aferição de susceptibilidade de confusão entre sinais dis- tintivos - Decreto-Lei n.° 42/89, de 3 de Fevereiro.

Se ali impõe como factor de distinção entre denomina- ções sociais a respectiva localização ou âmbito territorial,

por maioria de razão idêntico critério deve ser observado quanto aos nomes de estabelecimentos.

Entre os comerciantes que exploram os estabelecimen- tos hoteleiros em causa - Arquitur e Teles & C.ª, L.da - não é possível qualquer confusão.

O nome de estabelecimento recusado tem, em si mes- mo, suficiente capacidade distintiva.

O despacho recorrido, ao indeferir o pedido de registo de nome de estabelecimento n.° 38 623, Hotel São João- Funchal, faz errada aplicação dos artigos 23.°, n.° 1, alí- nea g), e 238.° do CPI.

Conclui pedindo que fosse concedido provimento ao re- curso, revogando-se o despacho recorrido.

1.2 - Foi ordenado o cumprimento dos artigos 40.° e 41.° do CPI.

1.3 - O INPI respondeu tempestivamente alegando que tratando-se de nomes com a mesma referência a São João os hotéis podem abrir e a confusão parece inevitável.

1.4-Teles & C.ª, L.da, contestou alegando que quem proferiu o despacho de indeferimento foi o chefe da Divi- são de Marcas do INPI.

A recorrente inviabiliza o seu recurso quando o dirige contra a autoridade administrativa - director do Serviço de Marcas - que nada tem a ver com a proposta do des- pacho recorrido, sendo totalmente alheia ao mesmo.

Assim, impõe-se a rejeição do recurso em virtude de este ter sido dirigido contra a autoridade administrativa alheia à prolação do despacho recorrido e de não ter sido promovido contra a entidade que o proferiu o adequado meio de impugnação.

Quanto ao fundo, a recorrente não pugna pela nulidade ou anulidade do despacho recorrido mas sim pela revoga- ção do mesmo, o que coloca o tribunal em situação de decidir no âmbito de um contencioso de plena jurisdição e não de mera anulação - específico do contencioso ad- ministrativo.

A recorrente teima em obter o nome de estabelecimen- to Hotel São João - Funchal prioritariamente registado em nome de estabelecimento de que Teles & C.ª, L.da, é titu- lar sob o n.° 18 475, Hotel São João.

Dispensa-se de demonstrar a quase usurpação do nome para ofender a inteligência do julgador.

Refere-se ainda que a recorrente já tentara obter o re- gisto sob o n.° 24 307 do nome de estabelecimento Hotel São João, o qual veio a ser recusado por despacho de 25 de Junho de 1985, exactamente com fundamento no nome prioritário n.° 18 475, Hotel São João.

Sendo a Madeira território nacional, é-lhe aplicável o disposto nos artigos 231.°, n.° 1, alínea g), e 232.° do CPI de 1995.

Conclui pedindo pela improcedência do recurso. 2 - Tudo visto, cumpre decidir.

A) Factos provados:

1) Em 22 de Agosto de 1994 a Arquitur - Socieda- de de Empreendimentos Turísticos dos Arquipé- lagos do Atlântico, S. A., requereu ao Instituto Na- cional da Propriedade Industrial a concessão do nome de estabelecimento n.° 38 623, Hotel São João - Funchal;

2) A sociedade Teles & C.ª, Lda, é titular do registo do nome de estabelecimento n.° 18 474, Hotel São João, concedida em 7 de Julho de 1980;

3) O director do Serviço de Marcas do Instituto Na- cional da Propriedade Industrial, por despacho de 20 de Maio de 1996, veio a indeferir o pedido de

(3)

nome de estabelecimento n.° 38 623 - cf. do- cumento a fl. 28;

4) O despacho recorrido foi proferido pelo chefe da Divisão de Marcas Nacionais, Dr. Paulo Serrado; 5) O acto foi praticado no uso da competência dele- gada por despacho de 15 de Dezembro de 1995, publicado no Diário da República, 2.ª série, de 2 de Janeiro de 1996;

6) A recorrente tentou obter o registo sob o n.° 24 307 do nome de estabelecimento Hotel São João, o qual veio a ser recusado por despacho de 25 de Junho de 1985, com fundamento no nome prioritário n.° 18 475, Hotel de São João. B) Os factos e o direito:

Questão da decisão recorrida ter sido proferida pelo che- fe da Divisão do Serviço de Marcas e não pelo respectivo director:

Quid juris?

A questão encontra-se resolvida atento os factos dados como provados sob os n.os 4 e 5.

Assim, improcede nesta parte o suscitado pela recorri- da Teles & C.ª, L."

Questão de nulidade do despacho recorrido em virtude de ter ignorado a contestação, ou seja, ter mencionado a inexistência da mesma:

Quid juris?

Pelo facto de se ter mencionado não houve contesta- ção, não se pode tirar a conclusão, como o fez o recor- rente, de que esta não tenha sido analisada.

Assim, improcede nesta parte o peticionado pela recor- rente, abstendo-me de pronunciar por prejudicado sobre as questões de nulidade e anulabilidade suscitadas.

Questão do registo do estabelecimento Hotel São João - Funchal/versus Hotel São João:

Quid juris?

Da leitura de ambos os nomes resulta desde logo a sua semelhança gráfica e fonética.

A única coisa que as distingue é que o registo, digo, o apelido de registo n.° 38 623 indica a localidade da situa- ção do hotel.

Todos os que tiverem interesse, designadamente os agri- cultores, criadores, industriais, comerciantes e demais em- presários domiciliados ou estabelecidos em qualquer lugar do território português, têm o direito de adoptar um nome e uma insígnia para designar ou tornar conhecidos os seus estabelecimentos, nos termos das disposições seguintes - artigo 228.° do CPI.

Não podem fazer parte do nome ou insígnia de estabe- lecimento nomes, designações, figuras ou desenhos que se- jam reprodução ou imitação de nome ou insígnia já regis- tada por outrem no território nacional - artigo 231.°, alínea g), do CPI -, sendo certo que, infringida esta dis- posição, o registo será recusado - artigo 238.° do CPI. Atento o supra-referido, as semelhanças existentes são de tal ordem que o registo deve ser recusado, uma vez que existe registo anterior.

Nem se diga que pelo facto de o pedido de registo n.° 38 623 pronunciar a localidade seja diferente e distin- tivo do registo n.° 18475, os nomes são deveras confun- díveis, acrescendo que o arquipélago da Madeira é terri- tório nacional.

Assim, indefere-se o requerido. 3 - Decisão:

Pelo exposto e sem necessidade de mais considerandos por discipientes, não concedo provimento ao recurso e mantenho in totum a decisão recorrida.

Custas pelo recorrente. Registe e notifique.

Após trânsito, cumpra-se o artigo 44.° do CPI. Lisboa, 16 de Fevereiro de 1998 (gr. acum. serv.).- Carla Mendes.

Está conforme.

Lisboa, 22 de Julho de 1998. - A Escrivã-Adjunta, (As- sinatura ilegível.)

Acordam os juízes desta Relação:

Arquitur-Sociedade de Empreendimentos Turísticos dos Arquipélagos do Atlântico, S. A., em 22 de Agosto de 1994 requereu ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial o registo do nome de estabelecimento Hotel São João - Funchal.

Reclamou em 17 de Maio de 1995 a Teles & C.ª, L.da, com sede no Porto, por ser titular do registo do nome de estabelecimento n.° 18 474, Hotel São João, concedido em 7 de Maio de 1980.

Contestou a requerente Arquitur em 6 de Outubro de 1995. A Teles & C.ª, L.da, apresentou ainda uma exposição a rebater os fundamentos da contestação.

Por despacho de 20 de Maio de 1996, o director do Ser- viço de Marcas do referido Instituto veio a indeferir a pre- tensão da Arquitur.

Inconformada com tal despacho, recorreu para o tribu- nal de Lisboa, o qual manteve o despacho recorrido de indeferimento e recusa do registo.

Inconformada com a decisão, recorreu agora para este Tribunal.

A recorrente Arquitur formula as seguintes conclusões: a) O parecer subjacente ao despacho recorrido afir- ma expressa e taxativamente que não houve con- testação, quando é certo que a contestação foi apresentada pela recorrente e recebida no INPI em 6 de Outubro de 1995;

b) Ao ignorar em absoluto a contestação apresenta- da pela recorrente, o despacho recorrido, além de padecer de erro nos pressupostos de facto, ofen- deu o conteúdo essencial de um direito fundamen- tal, pois, na prática, a recorrente viu cerceado o seu direito a contestar (artigo 17.°, n.° 1, do CPI), pelo que é nulo ou, pelo menos, anulável (arti- gos 133.° e 135.°, ambos do CPA);

c) A sentença recorrida, porém, em flagrante oposi- ção aos factos constantes dos próprios actos (v. processo administrativo apenso), não deu razão à recorrente, afirmando que, do facto de se ter mencionado que não houve contestação, não se pode tirar a conclusão de que esta tenha sido ana- lisada;

d) A douta sentença recorrida, contudo, não indica quais os fundamentos de facto e de direito subja- centes a tal constatação, nomeadamente os factos que lhe permitiram concluir que a contestação da recorrente teria sido analisada pelos serviços com- petentes;

e) Ao abster-se de indicar os fundamentos de facto e de direito que determinaram a decisão e ao de- cidir de forma contrária aos factos constantes dos autos, a sentença recorrida violou o disposto no artigo 659.°, n.os 1 e 2, do CPC, sendo, em conse- quência, nula [artigo 668.°, n.° 1, alínea b)];

(4)

f) Os nomes de estabelecimento em confronto são gráfica e foneticamente diferentes, não sendo sus- ceptíveis de qualquer confusão fácil;

g) A localização ou âmbito territorial constitui crité- rio legal de aferição da susceptibilidade de con- fusão entre denominações sociais (Decreto-Lei n.° 42/98, de 3 de Fevereiro) e, por maioria de ra- zão, idêntico critério deve ser observado quanto aos nomes de estabelecimento;

h) Acresce que a distância física entre ambos é tão grande que afasta qualquer hipótese de confusão; i) A localização do estabelecimento da recorrente ao fazer parte integrante do próprio nome do estabe- lecimento confere-lhe capacidade distintiva sufi- ciente:

j) A douta sentença recorrida ao manter o despacho recorrido fez errada aplicação dos artigos 231.°, n.° 1, alínea g), e 283.° do CPI, pelo que deve ser revogada.

Os factos relevantes são os seguintes:

1) Em 22 de Agosto de 1994 a Arquitur requereu ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial a con- cessão do nome de estabelecimento n.° 38 623, Hotel São João - Funchal;

2) A Teles & C.ª, L.da, é titular do registo do nome de estabelecimento n.° 18 474, Hotel de São João, concedido em 7 de Julho de 1980;

3) Porque a concessão do registo do nome de esta- belecimento da requerente se confunde com o re- ferido em 2), a Teles & C.ª, L.da, apresentou re- clamação contra a concessão do registo pedido pela Arquitur;

4) A Arquitur, por sua vez, contestou a reclamação referida, embora tal contestação não constasse do processo administrativo;

5) A Teles & C.ª, L.da, veio ainda a apresentar uma exposição escrita rebatendo a contestação apresen- tada, exposição essa que também não foi junta ao processo administrativo;

6) O chefe da Divisão de Marcas Nacionais (Dr. Pau- lo Serrado), no uso da competência delegada por despacho de 15 de Dezembro de 1995, publicado no Diário da República, 2.ª série, de 2 de Janeiro de 1996, indeferiu o pedido de registo da recor- rente por despacho de 20 de Maio de 1996. É com estes factos que cumpre conhecer do recurso. São as conclusões do recurso que delimitam a matéria do mesmo e as questões que devem ser apreciadas, nos termos do artigo 690.° do CPC.

No fundo, duas questões são suscitadas no presente re- curso.

1.ª questão. - O facto de constar do despacho de re- cusa que «não houve contestação» (à reclamação contra o pedido de registo de nome de estabelecimento) e de a mesma ser ignorada e não constar do processo adminis- trativo tornará nulo ou anulável tal despacho?

Transcreve-se o parecer que mereceu a fórmula «con- cordo e indefiro» aposta pelo chefe da Divisão de Marcas Nacionais:

Reclamou Teles & C.ª, L.da, opondo o seu nome n.° 18 475, Hotel de São João. Não houve contes- tação. Os nomes em confronto são semelhantes, quer gráfica quer foneticamente. Na realidade,

apenas o reclamado se distingue do reclamante por indicar a localidade. Porém, se é certo que as dis- tâncias são enormes, não é menos verdade que al- guém conhecendo o hotel da reclamante iria pen- sar que se trataria do mesmo quando, indo ao Funchal, encontrasse o nome reclamado. Assim, proponho se recuse o registo pedido com base nos artigos conjugados 238.° e 231.°, n.° 1, alínea g), do CPI.

Diga-se que releva sobremodo o facto de ter sido dada oportunidade à Arquitur de contestar a posição da recla- mante Teles no âmbito do processo administrativo. A fa- culdade de contestar é um direito de ordem processual previsto no artigo 17.° do Código da Propriedade Indus- trial. Mas o facto de constar do despacho que não houve contestação e o facto de a mesma não constar do proces- so administrativo onde foi proferido o mesmo despacho não conduzem de per si que não tenham sido ponderadas as razões expostas na contestação. Aliás, nesta a Arquitur limita-se a defender a inexistência de confusão entre os dois nomes em confronto.

Por sinal, coincidentemente, e como não podia deixar de ser, o despacho de recusa pronuncia-se, ainda que con- clusiva e genericamente, sobre a semelhança gráfica e foné- tica, apesar da distância territorial entre ambos os estabe- lecimentos. Pronuncia-se forçosa e exactamente sobre os fundamentos da contestação, numa espécie de antevisão. Daqui que não tenha havido uma omissão de pronún- cia e ignorância absoluta sobre as razões apresentadas pela recorrente. Elas foram tidas em conta visto que necessa- riamente o despacho de concessão ou recusa tem de se pronunciar sempre sobre se há ou não imitação com ou- tros nomes já registados.

É certo que a inexistência da contestação no processo administrativo e a declaração de que não houve contesta- ção constitui uma irregularidade processual e não pro- priamente nulidade ou anulabilidade do acto administrati- vo. Mas pelo seu resultado, a mesma é mera irregularidade que não influi decisivamente na apreciação do mérito (ar- tigo 201.° do CPC). Não é de repetir actos inúteis. Assim, não se trata de omissão que conduza à nulidade do despa- cho de recusa. Daí que não se mostre ter havido violação dos artigos 17.°, n.° 1, do CPI e 133.° e 135.° do CPA. Diga-se que muito embora a decisão sob recurso seja muito sucinta e conclusiva quanto aos fundamentos de fac- to e de direito, também nesta parte, no entanto, são de con- siderar suficientes e não omissos. A decisão sob recurso ao afastar radicalmente o vício da falta de consideração da contestação à oposição deduzida pela Arquitur com o argumento de que o facto de constar do despacho admi- nistrativo que não houve contestação (apesar de ela ter existido, embora não junta ao processo) não se pode tirar a conclusão de que esta não tenha sido analisada, é um fundamento, embora indemonstrado e não justificado e daí a necessidade das considerações que nesta parte aqui se expendem. Por outro lado, com eles não está em oposição a decisão sob recurso. É bem diferente uma oposição en- tre fundamentos e decisão, conducente à nulidade da sen- tença, nos termos do artigo 668.°, n.° 1, alínea c), do CPC, da diferente apreciação dos factos conducentes a uma so- lução não prevista e não querida pela parte.

Improcedem as conclusões A) a E).

2.ª questão. - Os nomes de estabelecimento Hotel de S. João e Hotel São João - Funchal são confundíveis pelo consumidor médio?

(5)

Dispõe o artigo 228.° do CPI (Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro): todos os que tiverem legítimo interesse, designadamente os agricultores, criadores, industriais, co- merciantes e demais empresários domiciliados ou estabe- lecidos em qualquer lugar do território português, têm o direito de adoptar um nome e uma insígnia para designar ou tornar conhecidos os seus estabelecimentos, nos termos das disposições seguintes:

Podem constituir o nome do estabelecimento os nomes históricos [artigo 229.°, alínea b), do CPI], como é o caso dos autos.

Não podem fazer parte do nome do estabelecimento no- mes que sejam reprodução ou imitação de nome já regis- tado por outrem no território nacional [artigo 231.°, n.° 1, alínea g), do mesmo diploma].

A propriedade e o uso exclusivo do nome de estabele- cimento é garantido pelo seu registo, sem prejuízo do dis- posto no artigo 8.° da Convenção da União de Paris (arti- go 232.° do CPI).

Dispõe o artigo 193.° do CPI:

A marca registada considera-se imitada ou usurpa- da, no todo ou em parte, por outra quando, cumu- lativamente:

a) A marca registada tiver prioridade;

b) Sejam ambas destinadas a assinalar produ- tos ou serviços idênticos ou de afinidade ma- nifesta;

c) Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética que induza facilmente o consumi- dor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com a marca ante- riormente registada, de forma que o consu- midor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto. Porque melhor será difícil dizer, lança-se mão do ex- posto por Ferrer Correia, in Lições de Direito Comercial, 1973, vol. i, p. 328, acerca das marcas, sendo que o ensi- namento é extensível aos nomes de estabelecimento: «a imitação de uma marca por outra existirá, obviamente, quando, postas em confronto, elas se confundem. Mas existirá ainda quando, tendo-se à vista apenas a marca a constituir, se deva concluir que ela é susceptível de ser tomada por outra de que se tenha conhecimento. Este pro- cesso de aferição da novidade é o que melhor tutela o interesse que a lei visa proteger - o interesse em que se não confundam, através da marca, mercadorias idênticas ou afins pertencentes a empresários diversos. Com efeito, o consumidor, quando compra determinado produto com um sinal semelhante a outro que já conhecia, não tem à vista (em regra) as duas marcas para fazer delas um exa- me comparativo. Compra o produto por se ter convencido de que a marca que o assinala é aquela que retinha na memória. No exame comparativo das marcas feito nestes termos, deve considerar-se decisivo o juízo que emitiria o consumidor médio do produto ou produtos em questão [...] A marca não pode ser semelhante ou igual a outra ante- riormente registada e tal grau de semelhança é aferido pela possibilidade de confusão de uma com outra no mercado consumidor, quando ambas sejam relativas a produtos da mesma espécie ou semelhantes».

Sem dúvida que a proibição da imitação ou usurpação por terceiro de nomes de estabelecimento (tal como das marcas), já registados, pretende evitar a fácil indução em erro do público consumidor/cliente médio de modo a não

confundir um estabelecimento com outro de empresário di- ferente. Ao público não é de exigir sempre um exame muito atento para distinguir que um estabelecimento com o mesmo nome ou semelhante são de empresários dife- rentes, já que tal ónus não lhe incumbe, antes, é o pró- prio princípio da verdade, da especialidade, da identidade e da novidade que exigem que a inconfundibilidade entre os nomes de estabelecimento se imponham por si natural- mente perante o consumidor médio.

Não é necessariamente exigível, para a verificação da imitação, que todos os elementos constituintes do nome do estabelecimento sejam iguais ou semelhantes. Basta que a semelhança se produza em qualquer dos elementos grá- ficos, fonéticos ou figurativos e de tal modo que leve o consumidor a confundir e a pensar que o estabelecimento é do mesmo empresário, quando, na realidade, é de ter- ceiro.

«Deve-se olhar à semelhança do conjunto e não à na- tureza das dissemelhanças ou ao grau das diferenças que as separam. É preciso pensar que o público geralmente não está a pensar na imitação [...]» como refere Pinto Coelho em Lições de Direito Comercial, i, p. 426.

O nome do estabelecimento é um sinal fonético ou grá- fico característico e específico de um estabelecimento de um determinado empresário de modo a torná-lo conheci- do no mercado e a distingui-lo de outros idênticos ou se- melhantes. Tal nome tem de ter capacidade distintiva para ser eficaz e, por isso, não pode ser confundível com outro já existente e protegido por lei e empregue no mesmo ramo de negócio.

No caso concreto dos autos, ambos os nomes em con- fronto são nominativos, grafados em caracteres vulgares, e respeitam ambos à indústria hoteleira.

Os elementos chave mais característicos e dominantes em ambos os nomes são «Hotel S. João» e são eles que o homem médio mais retém no ouvido. É a partir daqui que pode gerar-se confusão entre o público. Ambos são hotéis e ambos com o mesmo nome histórico dum personagem cristão (S. João). O restante é irrelevante, concretamente, é inócua a preposição simples «de» e secundário o nome próprio «Funchal». Este, aliás, não tem expressão porque é o nome da cidade onde se situa e, mesmo que não cons- tasse do nome do estabelecimento, seria sempre referido como elemento de localização.

A indistinção dos elementos dominantes do nome de estabelecimento (Hotel S. João) é que pode induzir o pú- blico em erro. E o perigo de confusão e de erro é tanto mais iminente quando é certo que na vida corrente, atento o princípio do menor esforço e da simplificação das coi- sas, as empresas, sociedades, nomes de estabelecimento são tratados através de um dos seus elementos mais salientes e identificativos - no caso, «Hotel S. João» - com des- prezo pelos outros elementos dissemelhantes porque não impressivos. O homem da rua usará, por certo, para am- bos os estabelecimentos em confronto as palavras «Hotel S. João» e vejam-se as consequências nefastas se a Teles & C.ª, L.da, se decide a constituir e explorar um hotel com esse nome no Funchal.

A entidade detentora do nome de estabelecimento Ho- tel de S. João, primeiramente registado, tem o direito de o ver protegido em todo o território nacional (continente e Regiões Autónomas), como decorre do citado artigo 228.° do CPI.

A Teles & C.ª, L.da, tem todo o direito de poder vir a explorar em qualquer parte do território nacional, desig- nadamente no Funchal, hotéis com o mesmo nome «Ho-

(6)

tel de S. João». Pode muito bem querer constituir uma cadeia de hotéis em várias cidades ou lugares do país com o mesmo nome «Hotel de S. João». Outras empresas ex- ploram cadeias de hotéis com o mesmo nome de estabe- lecimento em várias cidades do país (v. g., Íbis, Novho- tel, D. Pedro ...) e no estrangeiro (Sheraton, Ritz, Continental ...). Daí que a situação e distância geográfi- cas não relevem para o carácter distintivo dos nomes de estabelecimento.

Certamente que, se a Teles & C.ª, L.da, constituir e ex- plorar um Hotel de S. João na cidade do Funchal haverá confusão para o público consumidor que ali se desloque pensando que ambos os hotéis são do mesmo empresário. Clientes haverá que procuram o Hotel S. João - Funchal na convicção de que é o mesmo que Hotel de S. João, daqui advindo prejuízos para o titular deste. Também o eventual mau prestígio que aquele possa ter se repercutirá na clientela deste na convicção de que se trata do mesmo hotel ou do mesmo empresário, quando, na realidade, são estabelecimentos distintos e de diferentes donos.

O facto de o registo conceder protecção em todo o ter- ritório nacional ao nome de estabelecimento, não conduz a que a distância e a localização geográfica do estabeleci- mento (um no Funchal e o outro no Porto) seja um ele- mento de distinção e de não confusão entre ambos os nomes. A situação geográfica só teria relevância para a diferenciação entre ambos se não fosse possível à Teles & C.ª, L.da, constituir e explorar outro hotel, designada- mente no Funchal, isto é, se só pudesse explorar um com aquele nome e no Porto. Mas assim não é, como se disse, visto que pode estabelecer uma cadeia de hotéis com o mesmo nome espalhados em qualquer parte do País (obti- das as necessárias autorizações legais, como é óbvio). Deste modo, afigura-se-nos que entre ambos os nomes há semelhança gráfica e fonética. Diga-se, aliás, que, sen- do a comunicação oral a mais usada pelo consumidor e pelo fornecedor de serviços, é também, consequentemen- te, pela oralização e pela publicidade gráfica que mais confusão pode surgir entre os referidos nomes de estabe- lecimento. E tanto mais grave quanto é certo que ambos se destinam a assinalar a mesma espécie de indústria e serviços (indústria hoteleira).

Afigura-se-nos, pois, que os dois nomes se confundem, sobretudo tendo em conta a eufonia e grafia análogas nos elementos mais impressionantes existentes entre ambos. Daí que haja imitação clara entre os dois nomes capaz de confundir o público consumidor. Por isso, é de recusar o registo do nome de estabelecimento Hotel São João - Funchal a fim de proteger a marca já registada - Hotel de S. João.

Improcedem as restantes conclusões do recurso. Assim, nega-se provimento ao recurso e confirma-se a douta sentença recorrida.

Custas pela recorrente. Notifique.

Lisboa, 3 de Dezembro de 1995. - (Assinaturas ilegí- veis.)

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

Arquitur-Sociedade de Empreendimentos Turísticos dos Arquipélagos do Atlântico, S. A., interpôs do despa- cho que indeferiu o seu pedido de registo de nome de es- tabelecimento, Hotel S. João, recurso, nos termos do arti- go 38.° do Código da Propriedade Industrial.

Reclamou a ora recorrida Teles & C.ª, L.da, com sede no Porto, por ser titular do registo do nome de estabeleci-

mento n.° 18 474, Hotel de S. João, concedido em 7 de Maio de 1980.

Contestou a ora recorrente.

A recorrida rebateu os fundamentos da contestação. O director do Serviço de Marcas do referido Instituto veio a indeferir a pretensão da Arquitur.

De tal despacho recorreu aquela sociedade para o Tri- bunal Judicial de Lisboa, que o manteve inteiramente. A consequente apelação também não teve êxito.

Pediu então a presente revista, concluindo, deste modo, as suas alegações recursivas:

1) O parecer subjacente ao despacho recorrido afir- ma expressa e taxativamente que não houve con- testação, quando é certo que a contestação foi apresentada pela ora recorrente e recebida no INPI em 6 de Outubro de 1995:

2) Ao ignorar em absoluto a contestação apresenta- da pela recorrente o despacho recorrido, além de padecer de erro nos pressupostos de facto, ofen- deu o conteúdo essencial de um direito fundamen- tal, pois, na pratica, a recorrente viu cerceado o seu direito de contestar (artigo 17.°, n.° 1, do CPI): 3) O despacho recorrido é assim nulo ou, pelo menos, anulável (artigos 133.° e 135.°, ambos do CPA); 4) O douto acórdão recorrido, porém, não deu a aten- ção devida a tal vício, afirmando que do facto da contestação não constar do processo administra- tivo não se pode concluir que as razões aí expos- tas não tenham sido analisadas;

5) Isto porque, e de acordo com o douto acórdão re- corrido, o despacho recorrido ter-se-ia pronuncia- do «numa espécie de antevisão» sobre os funda- mentos da contestação;

6) Tal postura, inaceitável, contraria os mais elemen- tares princípios jurídicos, nomeadamente o do contraditório, pelo que o douto acórdão recorrido deve ser revogado;

7) Os nomes de estabelecimento em confronto são gráfica e foneticamente diferentes, não sendo sus- ceptíveis de qualquer confusão fácil;

8) A localização ou âmbito territorial constitui crité- rio legal de aferição de susceptibilidade de con- fusão entre denominações sociais (Decreto-Lei n.° 42/89, de 3 de Fevereiro, e actual Decreto-Lei n.° 129/98, de 13 de Maio) e, por maioria de ra- zão, idêntico critério deve ser observado quanto aos nomes de estabelecimento;

9) Acresce que a distância física entre ambos é tão grande que afasta qualquer hipótese de confusão; 10) A localização do estabelecimento da recorrente, ao fazer parte integrante do próprio nome de estabe- lecimento, confere-lhe capacidade distintiva sufi- ciente;

11) O douto acórdão recorrido ao manter o despacho recorrido fez errada aplicação dos artigos 231.°, n.° 1, alínea g), e 283.°, ambos do CPI, pelo que deve ser revogado.

Não houver contra-alegações. Corridos os vistos, cumpre decidir. Objecto do recurso:

A) Contestação não considerada;

B) Inconfundibilidade fonética ou gráfica; C) Relevância da distância física:

(7)

Factos:

a) Em 22 de Agosto de 1994 a Arquitur - recor- rente - requereu ao Instituto Nacional da Proprie- dade Industrial a concessão do nome do estabe- lecimento n.° 38 623, Hotel São João - Funchal; b) A Teles & C.ª, L.da - recorrida -, é titular do registo do nome de estabelecimento n.° 18 474, Hotel de S. João, nome concedido em 7 de Ju- lho de 1980;

c) Porque a concessão do registo do nome de esta- belecimento da requerente se confunde (') com o referido em b), a Teles & C.ª, L.da, apresentou re- clamação contra a concessão do registo pedido pela Arquitur;

d) A Arquitur, por sua vez, contestou a reclamação referida, embora tal contestação não constasse do processo administrativo;

e) A Teles & C.ª, L.da, veio ainda apresentar uma exposição escrita rebatendo a contestação apresen- tada, exposição essa que também não foi junta ao processo administrativo;

f) O chefe da Divisão de Marcas Nacionais (Dr. Paulo Serrado), no uso da competência de- legada por despacho de 15 de Dezembro de 1995, publicado no Diário da República, 2.ª série, de 2 de Janeiro de 1996, indeferiu o pedido de re- gisto da recorrente por despacho de 20 de Maio de 1996.

Consequências:

O Tribunal da Relação confirmou inteiramente, e sem qualquer declaração de voto, o julgado na 1.ª instância, quer quanto à decisão quer quanto aos fundamentos, nos seguintes termos:

1.ª questão. - O facto de constar do despacho de recusa que «não houve contestação» (à reclamação contra o pedido de registo do nome de estabeleci- mento) e de a mesma ser ignorada e não constar do processo administrativo tornará nulo ou anulável tal despacho?

Transcreve-se o parecer que mereceu a fórmula «concordo e indefiro» aposta pelo chefe da Divisão de Marcas Nacionais:

Reclamou: Teles & C.ª, L.da, opondo o seu nome n.° 18 475, Hotel de S. João. Não houve contestação. Os nomes em confronto são seme- lhantes, quer gráfica quer foneticamente. Na realidade, apenas o reclamado se distingue do reclamante por indicar a localidade. Porém, se é certo que as distâncias são enormes, não é menos verdade que alguém conhecendo o ho- tel da reclamante iria pensar que se trataria do mesmo quando indo ao Funchal encontrasse o nome reclamado. Assim, proponho se recuse o registo pedido com base nos artigos conjuga- dos 238.° e 231.°, n.° 1, alínea g), do CPI. Diga-se que releva sobremodo o facto de ter sido dada oportunidade à Arquitur de contestar a posição da reclamante Teles no âmbito do processo adminis- trativo. A faculdade de contestar é um direito de or- dem processual previsto no artigo 17.° do Código da Propriedade Industrial. Mas o facto de constar do despacho que não houve contestação e o facto de a mesma não constar do processo administrativo onde

foi proferido o mesmo despacho não conduzem de per si que não tenham sido ponderadas as razões expostas na contestação. Aliás, nesta a Arquitur li- mita-se a defender a inexistência de confusão entre os dois nomes em confronto.

Por sinal, coincidentemente, e como não podia dei- xar de ser, o despacho de recusa pronuncia-se, ainda que conclusiva e genericamente, sobre a semelhança gráfica e fonética, apesar da distância territorial en- tre ambos os estabelecimentos. Pronuncia-se forçosa e exactamente sobre os fundamentos da contestação, numa espécie de antevisão.

Daqui que não tenha havido uma omissão de pro- núncia e ignorância absoluta sobre as razões apre- sentadas pela recorrente. Elas foram tidas em conta visto que necessariamente o despacho de concessão ou recusa tem de pronunciar sempre sobre se há ou não imitação com outros nomes já registados.

É certo que a inexistência da contestação no pro- cesso administrativo e a declaração de que não hou- ve contestação constitui uma irregularidade proces- sual e não propriamente nulidade ou anulabilidade do acto administrativo. Mas pelo seu resultado, a mes- ma é mera irregularidade que não influiu decisiva- mente na apreciação do mérito (artigo 201.° do CPC). Não é de repetir actos inúteis. Assim, não se trata de omissão que conduz à nulidade do despacho de recusa. Daí que não se mostre ter havido violação dos artigos 17.°, n.° I, do CPI e 133.° e 135.° do CPA.

Diga-se que, muito embora a decisão sob recurso seja muito sucinta e conclusiva quanto aos fundamen- tos de facto e de direito, também nesta parte, no en- tanto, são de considerar suficientes e não omissos. A decisão sob recurso ao afastar radicalmente o ví- cio da falta de consideração da contestação à oposi- ção deduzida pela Arquitur com o argumento de que o facto de constar do despacho administrativo que não houve contestação (apesar de ela ter existido, embora não junta ao processo) não se pode tirar a conclusão de que esta não tenha sido analisada, é um fundamento, embora indemonstrado e não justifica- do e daí a necessidade das considerações que nesta parte aqui se expendem. Por outro lado, com eles não está em oposição a decisão sob recurso. É bem dife- rente uma oposição entre fundamentos e decisão, conducente à nulidade da sentença, nos termos do artigo 668.°, n.° 1, alínea c), do CPC, da diferente apreciação dos factos conducentes a uma solução não prevista e não querida pela parte.

Improcedem as conclusões A) a E).

2.ª questão. - Os nomes de estabelecimento Ho- tel de S. João e Hotel São João- Funchal são con- fundíveis pelo consumidor médio?

Dispõe o artigo 228.° do CPI (Decreto-Lei n.° 16/ 95, de 24 de Janeiro): todos os que tiverem legítimo interesse, designadamente os agricultores, criadores, industriais, comerciantes e demais empresários, do- miciliados ou estabelecidos em qualquer lugar do ter- ritório português, têm direito de adoptar um nome e uma insígnia para designar ou tomar conhecidos os seus estabelecimentos, nos termos das disposições se- guintes:

Podem constituir o nome do estabelecimento os nomes históricos [artigo 229.°, alínea b), do CPI], como é o caso dos autos.

(8)

Não podem fazer parte do nome do estabelecimen- to nomes que sejam reprodução ou imitação de nome já registado por outrem no território nacional [arti-

go 231.°, n.° 1, alínea g), do mesmo diploma]. A propriedade e o uso exclusivo do nome de es- tabelecimento é garantido pelo seu registo, sem pre- juízo do disposto no artigo 8.° da Convenção da

União de Paris (artigo 232.° do CPI). Dispõe o artigo 193.° do CPI:

A marca registada considera-se imitada ou usurpada, no todo ou em parte, por outra quan- do, cumulativamente:

a) A marca registada tiver prioridade; b) Sejam ambas destinadas a assinalar

produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta;

c) Tenham tal semelhança gráfica, figu- rativa ou fonética que induza facilmen- te o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de asso- ciação com a marca anteriormente re- gistada, de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou con- fronto.

Porque melhor será difícil dizer, lança-se mão do exposto por Ferrer Correia, in Lições de Direito Co- mercial, 1973, vol. i, p. 328, acerca das marcas, sen- do que o ensinamento é extensível aos nomes de es- tabelecimento: «a imitação de uma marca por outra existirá, obviamente, quando, postas em confronto, elas se confundem. Mas existirá ainda quando, ten- do-se à vista apenas a marca a constituir, se deva concluir que ela é susceptível de ser tomada por outra de que se tenha conhecimento. Este processo de afe- rição da novidade é o que melhor tutela o interesse que a lei visa proteger - o interesse em que se não confundam, através da marca, mercadorias idênticas ou afins pertencentes a empresários diversos. Com efeito, o consumidor, quando compra determinado produto com um sinal semelhante a outro que já conhecia, não tem em vista (em regra) as duas mar- cas para fazer delas um exame comparativo. Com- pra o produto por se ter convencido de que a marca que o assinala é aquela que retinha na memória. No exame comparativo das marcas feito nestes termos, deve considerar-se decisivo o juízo que emitiria o consumidor médio do produto ou produtos em ques- tão [...] A marca não pode ser semelhante ou igual a outra anteriormente registada e tal grau de seme- lhança é aferido pela possibilidade de confusão de uma com outra no mercado consumidor, quando ambas sejam relativas a produtos da mesma espécie ou semelhantes».

Sem dúvida que a proibição da imitação ou usur- pação por terceiro de nomes de estabelecimento (tal como das marcas), já registados, pretende evitar a fá- cil indução em erro do público consumidor/cliente médio de modo a não confundir um estabelecimento com outro de empresário diferente. Ao público não é de exigir sempre um exame muito atento para dis- tinguir que um estabelecimento com o mesmo nome ou semelhante são de empresários diferentes, já que tal ónus não lhe incumbe, antes, é o próprio princí-

pio da verdade, da especialidade, da identidade e da novidade que exigem que a inconfundibilidade de entre os nomes de estabelecimento se imponham por si naturalmente perante o consumidor médio.

Não é necessariamente exigível, para a verifica- ção da imitação, que todos os elementos constituin- tes do nome do estabelecimento sejam iguais ou se- melhantes. Basta que a semelhança se produza em qualquer dos elementos gráficos, fonéticos ou figu- rativos e de tal modo que leve o consumidor a con- fundir e a pensar que o estabelecimento é do mes- mo empresário, quando, na realidade, é de terceiro. «Deve-se olhar à semelhança do conjunto e não à natureza das dissemelhanças ou ao grau das diferen- ças que as separam. É preciso pensar que o público geralmente não está a pensar na imitação [...]», como refere Pinto Coelho em Lições de Direito Comer- cial, i, p. 426.

O nome do estabelecimento é um sinal fonético ou gráfico característico e específico de um estabe- lecimento de um determinado empresário de modo a torná-lo conhecido no mercado e a distingui-lo de outros idênticos ou semelhantes. Tal nome tem de ter capacidade distintiva para ser eficaz e, por isso, não pode ser confundível com outro já existente e protegido por lei e empregue no mesmo ramo de negócio.

No caso concreto dos autos, ambos os nomes em confronto são nominativos, grafados em caracteres vulgares, e respeitam ambos à indústria hoteleira. Os elementos-chave mais característicos e domi- nantes em ambos os nomes são «Hotel S. João» e são eles que o homem médio mais retém no ouvido. É a partir daqui que pode gerar-se confusão entre o público. Ambos são hotéis e ambos com o mesmo nome histórico dum personagem cristão (São João). O restante é irrelevante, concretamente, é inócua a preposição simples «de» e secundário o nome pró- prio «Funchal». Este, aliás, não tem expressão por- que é o nome da cidade onde se situa e, mesmo que não constasse do nome do estabelecimento, seria sempre referido como elemento de localização.

A indistinção dos elementos dominantes do nome do estabelecimento (Hotel S. João) é que pode indu- zir o público em erro. E o perigo de confusão e de erro é tanto mais iminente quando é certo que na vida corrente, atento o princípio do menor esforço e da simplificação das coisas, as empresas, sociedades, nomes de estabelecimentos são tratados através de um dos seus elementos mais salientes e identificati- vos - no caso, «Hotel S. João» - com desprezo pelos outros elementos dissemelhantes porque não impressivos. O homem da rua usará, por certo, para ambos os estabelecimentos em confronto as palavras «Hotel S. João» e vejam-se as consequências nefas- tas se a Teles & C.ª, L.da, se decide a constituir e explorar um hotel com esse nome no Funchal.

A entidade detentora do nome de estabelecimento Hotel de S. João, primeiramente registado, tem o di- reito de o ver protegido em todo o território nacio- nal (continente e Regiões Autónomas), como decor- re do citado artigo 228.° do CPI.

A Teles & C.ª, L.da, tem todo o direito de poder vir a explorar em qualquer parte do território nacio- nal, designadamente no Funchal, hotéis com o mes- mo nome «Hotel de S. João». Pode muito bem que-

(9)

rer constituir uma cadeia de hotéis em várias cidades ou lugares do País com o mesmo nome «Hotel de S. João». Outras empresas exploram cadeias de ho- téis com o mesmo nome de estabelecimento em várias cidades do País (v. g., Íbis, Novhotel, D. Pe- dro ...) e no estrangeiro (Sheraton, Ritz, Continen- tal ...). Daí que a situação e distância geográficas não relevem para o carácter distintivo dos nomes de es- tabelecimento.

Certamente que se a Teles & C.ª, L.da, constituir e explorar um Hotel de S. João na cidade do Fun- chal haverá confusão para o público consumidor que ali se desloque pensando que ambos os hotéis são do mesmo empresário. Clientes haverá que procuram o Hotel S. João - Funchal na convicção de que é o mesmo que Hotel de S. João, daqui advindo prejuízos para o titular deste. Também o eventual mau prestí- gio que aquele possa ter se repercutirá na clientela deste na convicção de que se trata do mesmo hotel ou do mesmo empresário, quando, na realidade, são estabelecimentos distintos e de diferentes donos.

O facto de o registo conceder protecção em todo o território nacional ao nome do estabelecimento não conduz a que a distância e a localização geográfica do estabelecimento (um no Funchal e o outro no Porto) seja um elemento de distinção e de não con- fusão. entre ambos os nomes. A situação geográfica só teria relevância para a diferenciação entre ambos se não fosse possível à Teles & C.ª, L.da, constituir e explorar outro hotel, designadamente no Funchal, isto é, se só pudesse explorar um com aquele nome e no Porto. Mas assim não é, como se disse, visto que pode estabelecer uma cadeia de hotéis com o mesmo nome espalhados em qualquer parte do País (obtidas as necessárias autorizações legais, como é óbvio).

Deste modo, afigura-se-nos que entre ambos os nomes há semelhança gráfica e fonética. Diga-se, aliás, que, sendo a comunicação oral a mais usada pelo consumidor e pelo fornecedor de serviços, é também, consequentemente, pela oralização e pela publicidade gráfica que mais confusão pode surgir entre os referidos nomes de estabelecimento. E tan- to mais grave quanto é certo que ambos se destinam a assinalar a mesma espécie de indústria e serviços (indústria hoteleira).

Afigura-se-nos, pois, que os dois nomes se con- fundem, sobretudo tendo em conta a eufonia e gra- fia análogas nos elementos mais impressionantes existentes entre ambos. Daí que haja imitação clara entre os dois nomes capaz de confundir o público consumidor. Por isso, é de recusar o registo do nome de estabelecimento Hotel São João - Funchal a fim de proteger a marca já registada Hotel de S. João. Poderíamos, assim, sem mais, negar a revista, remeten- do simplesmente para a respectiva fundamentação (2), pois as questões constitutivas do objecto do recurso (3) estão correctamente tratadas no acórdão acabado de transcrever. Apenas adiremos a duas breves considerações, uma re- lativa à alegada não consideração da contestação, outra à relevância da distância geográfica.

1 - Contestação não considerada

1 - Na verdade, embora se tenha feito a afirmação de que «não houve contestação» (4), é certo que os argumen-

tos utilizados nesta (5) são, na sua essência (6), tidos em conta no competente parecer, onde afirma:

Os nomes em confronto são semelhantes, quer grá- fica quer foneticamente. Na verdade, apenas o recla- mado se distingue da reclamante por indicar a loca- lidade. Porém, se é certo que as distâncias são enormes, não é menos verdade que alguém conhe- cendo o hotel da reclamante iria pensar que se trata- ria do mesmo quando, indo ao Funchal. encontrasse o nome reclamado.

2 - Certo que, na contestação, a recorrente adiantou outros argumentos que não foram expressamente referidos naquele parecer: a existência de estabelecimentos com no- mes iguais, assim como a falta de prova da propriedade do estabelecimento e do seu efectivo funcionamento.

Tais circunstâncias afiguram-se, porém, para o efeito, padecentes de completa anodinia.

Se existem, por esse País fora, estabelecimentos com nomes iguais, de que são titulares entidades distintas, o problema é dos respectivos empresários, interessados ou não na defesa do nome.

A prova da propriedade e do efectivo funcionamento já se encontra necessariamente feita no respectivo proces- so de registo, conforme dispõe o artigo 234.° do Código da Propriedade Industrial, ao exarar:

Instrução do pedido

Ao requerimento deverão juntar-se os documen- tos seguintes, que respeitarão os requisitos fixados em despacho do ministro responsável pela área da indústria:

a) Certificado do registo predial ou outro títu- lo demonstrativo de que o requerente é ti- tular legítimo do estabelecimento;

b) Documento comprovativo de que o reque- rente possui o estabelecimento de modo efectivo, e não fictício, salvo se o estabele- cimento for uma propriedade agrícola; c) U m fotólito ou outro suporte;

d) Duas representações gráficas da insígnia; e) Documentos comprovativos das autorizações

ou justificações necessárias.

3 - Pretender-se, pois, retirar consequências anulatórias da situação presente dos autos, com as inerentes demoras na obtenção de prolação final, afigura-se que seria, salvo o devido respeito, um acto de servitude dogmática em louvor de formalismo inútil e anacrónico, para além de pura perda de tempo. Isto num caso em que, como pou- cos, se mostra unívoca semelhança e consequente confun- dibilidade entre os nomes em causa. A partícula «de» é de todo irrelevante, em termos de comparação remé- mora (7).

II - Relevância da distância física

1 - Entende a recorrente que a distância geográfica re- tira significado e possibilidade de confusão a qualquer eventual analogia.

2 - As distâncias hoje não têm o mesmo significado e valor relativo que tinham à poucas décadas. É muito mais rápido ir ao Funchal por via aérea, embora com maior dis- pêndio, do que viajar de comboio ou de automóvel do Porto a Lisboa por auto-estrada.

(10)

Depois, trata-se de duas unidades hoteleiras que servem estratos economicamente abastados em que o preço das deslocações são pouco obstativos. Facilmente, pois, esse tipo de clientela se pode deslocar do Porto ao Funchal - e vice-versa -, nomeadamente em épocas festivas. Na- turalmente que quem experimentou o Hotel de S. João, no Porto, gostando do serviço ou não, assim procurará, ou não, o Hotel S. João - Funchal.

Deste modo, decaem as conclusões da recorrente.

(1) Isto é. por assim se haver entendido. (2) Artigo 713.°, n.° 5. do CPC.

(3) Relembremos: contestação não considerada; inconfundibilidade fonética ou gráfica; relevância da distancia física; distinção emergente da referência à localização.

(4) Nada, pragmaticamente, se alteraria se se tivesse afirmado «hou- ve contestação».

(5) Fls. 18 a 20.

(6) Centrada na questão da semelhança.

(7) Como é por demais sabido, a relevância da confusão não pressu- põe a presença directa e simultânea dos nomes a comparar.

Referências

Documentos relacionados

X: fonema consonántico fricativo palatal xordo E: fonema vocálico medio pechado anterior U: fonema vocálico pechado posterior NH: fonema consonántico nasal velar sonoro A:

CARLA ALBUQUERQUE, MARIA ELIZABETE MENDES Gestão da Fase Analítica do Laboratório como assegurar a qualidade na prática, ControlLab, Vol 3 , 2012.. www.controllab.com.br,

Processos de comunicação baseados em ameaça e violência entre terrorista (organização), vítimas (em perigo), e os alvos principais são usados para manipular o alvo

Os resultados do trabalho foram alcançados ao se verificar que a FMEA pode ser empregada como instrumento para a melhoria da qualidade e para o aumento da confiabilidade dos

É com muita satisfação que convidamos vossa empresa a associar-se a esta entidade sindical, que é a única representante legal dos interesses das empresas do segmento de

O artigo 30 da Constituição Federal relaciona as competências atribuídas aos Municípios, entre as quais estão as de legislar sobre assuntos de interesse local, prestar

‡A mesa de perfuração deve ser pressionada para baixo rapidamente mas não

A literatura sobre a implementação de ações afirmativas no Brasil é vasta e aponta diferentes nuances no desenho dessas políticas, entre as quais se destacam os