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PROPOSTA DE MODELO PARA A v ALORIZA<;Ao
DA
CARNE
DE BOVINOS DE RA<;AS
AUTOcrONES
o
CASO DA RAl;:A MJRANDESAFERNANDO DE SOUSA"
Comunicac;:ao apresentada as " l"S Jornadas Regionais de Agricultura -Rac;:a s Aut6ctones de Bovinos - que futuro? ", Expovez, Arcos de Valdevez, 16 a 17 de Agosto 1991.
PROPOSTA DE MODELO PARA A VALORIZA<;Ao DA
CARNE DE BOVINO DE RA<;AS AUTOCTONES
°
CASO DA RA t;:A MIRA NDESAFernando de Sousa Eng. Zootecnico, ESA Br aga n ~a.
SITUACAO ACTU AL
Desde a decada de 40, com 0 desenvolvimento das vias de comunicag8.o
e a interveng8.o de outros agentes no processo de selecgao e melhoramento animal , 0 solar da raga estendeu-se do concelho de Miranda do Douro aos
concelhos de Vim ioso, Mogadouro, Braganga, Vinhais e algumas freguesias de Macedo de Cavaleiros, limftrofes dos anteriores concelhos (FERREIRA, 1950, 25; e
LEITAO , et ai, 1981 , 81-83) . Esta regiao conhecida por Terra Fria do Nodeste Transmontano (GONCALVES, 199 0) , possui condigoes ambientais que permitiram desenvolvimento de dois grandes sistemas de agricultura (MOREIRA, 1984, 2), onde
os sistemas de explo ragao que os bovinos de raga mirandesa integram desempenham um paps I determinante na economia de muitas exploragoes.
o
sistema de produgao desta raga assenta nas pastagens naturais de regadio e sequeiro, tendo como principais fontes alternativas de alimentagao e suplementagao 0 nabal , os ferrejos , a ferra de centeio, a palha de trigo, 0 milho eos fenos de lameiro e de aveia x ervilhaca (Figura 1). A presenga destes animais nas exploragoes permite aos agricultores tirarem partido da versatilidade e rusticidade que possuem, fazendo baixar 0 grau de dependencia da exploragao
em relagao ao exterior e consequentemente tambem os inputs energeticos para a exploragao .
s - M. obra
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Tr ac~a o
mecanica
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Concentrado
Especialidade
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Fonte :( LOPES, 1990, 17)
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Figura 1 - Sistemas de explora<;:ii.o tradicional do concelho de Bragan<;:a, freguesia de Castrelos, explora<;:6es com 2 a 5 vacas.
A freguesia de Travanca no concelho de Vinhais notabilizou-se porque a manteiga produzida a partir da mirandesa era de excelente qualidade, chegando a funcionar uma industria de lacticinios que abastecia, nas primeiras decadas deste seculo todo 0 norte do distritode Braganga (PEREIRA 1955).
o
sistema de produgao desta raga tem estado orientado para acomercializagao e abate das vitelas aos 6-8 meses e a maior parte dos vitelos dos 10 a 18 meses.
todas as ragas e um valor de pradugao anual superior a 1 milhao de contos
(FRAGATA et a/1991).
A carne desta raga afirma-se na regiao como um produto de grande qualidade, constituindo a posta de mirandesa um dos pratos mais importantes e mais caras da gastranomia local.
O.B9"k
3,36% 3,91%
. ' MIRANDESA
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"llJRINA·m MIRXllJR
fa M!RXCHA
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54,52%
Fonte: (FRAGATA et af,1991).
Fig. 2 - % d05 vitelos abatidps por rwra em 1989 Fig 3 -% dos animais sem desfecho abatidos par ra~ em 1989
Factores de natureza estrutural e comercial contribuiram para que a oferta destes produtos se faga com regularidade ao longo do ano, registando-se um pico de abates no verao (Figura 4), altura em que as criadores encontram melhores pregos e maior facilidade de colocagao dos seus pradutos.
A.
partida, a pulveriza<;ao da produ<;ao poderia ser consideradacomo um obstaculo
a
organiza<;ao e estrutura<;ao da oferta no sentido devir a ser integrada nnm circuito de comercializa<;ao da carne de qualidade. Contudo, este trabalho podeni ser feito pela Associa<;ao dos Criadores de Bovinos de Ra<;a Mirandesa atraves da gestao de informa<;ao do Registo Zootecnico.
Desta forma,a par da disponibiliza<;ao de informa<;ao relativa
a
oferta de animais para abater a Associa<;ao dos Criadores pode
certificar a proveniencia, a idade e ra<;a do animal. A implementa<;ao
600 500 400 300 200 100 o
1 2 3 4 5 .SN'vrrk 8
Fonte: (FRAGATA et a/,1991). bI N'mS/OESFEC
9 '0
"
'2 MffiFig. 4 Numero de carcayas de vitelos e anlmais sam desfecho abatidos durante 0 ano de 1989.
desta ralia uma vez que a Associaliao poderia influenciar a decisao dos seus associ ados no sentido de evitar que ammals
zootecnico fossem abatidos canalizando-os para leiloes
com interesse de reprodutores (Figura 5).
AgricuUor com vacas inscritas
r- no livro geneaJ6gico, PaQamomo or6mio
beneficiadas pm loura da do nllllClIl'IOnlo
ra~ aprovado e que
desenvolve um sistema de
l.£!odu~ tl o adequado .
•
Nascimento 1 (15 dias palo. oornJn icat) Associa¢o de criadofes
do vilelo(a) Regislo Zoo'lecnico
Livro geooal6gico
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~mayao Consumidores
... . . . •• . . . 1
ABATE
_ _ _ _ _ c.wac;lod4 • ..,..., •• • •••• •• •• •• •• C«\ ijc.,.ao
Figura 5 Gestao da informaliao do regis to zootecncico, visando a
A ausencia de industria agro-alimentar e circuitos de comercializac;:ao frageis, desconhecidos e em grande parte dos casos nao beneficiam os produtores. Existem dificuldades na valorizac;:ao e implementac;:ao dos produtos na pr6pria regiao e verifica-se uma ausencia total de marketing e explorac;:ao dos diversos segmentos de consumo (SOUSA eta/1991).
o
DESENVOL VIMENTO DA FILEIRA DO PRODUTOA valorizac;:ao da carne de bovino de rac;:a mirandesa passa pela
certificac;:ao atraves da utilizac;:ao de uma marca colectiva de
identificac;:ao de proveniencia e a integrac;:ao dos seus produtos no segmento de mercado reservado aos produtos de "qualidade".
A manutenc;:ao da competitividade exige uma identificac;:ao dos pontos critic os de fabrico ao longo da fileira do produto (Figura 6).
FACTORES EDAFO-CLIMATICOS
FACTORES
ECNrCQ·C UL TURAIS
OUTROS
ABATE
TECNOlOGIA
CARNE REFEI9AO
TECNQOG1 A TECN ICA
Figura 6 - Pontos criticos da fileira produc;:ao da carne de vitela mirandesa
Na produc;:ao, podem considerar-se como pontos criticos:
- Os factores agro-ecol6gicos associados
a
regiao de produc;:ao.- 0 sistema de produc;:ao.
1975):
- Factores como por exemplo a suplementas;ao com concentrado / cereal ou os desparasitantes.
No abate sao de considerar os seguintes pontos crfticos (DUMONT,
- Condis;oes globais de transporte. - Condis;oes de estabulas;ao e condus;ao.
- Higiene de procedimentos e rapidez de trabalho - Tecnologia de referigeras;ao de carcas;a.
Ao nfvel da 2' transformas;ao poderemos referir por exemplo os seguintes pontos criticos:
- Higiene de procedimentos. _ Varias;oes de temperatura. - Tipo de embalagem.
Por ultimo, no consumidor: a manipulas;ao da carne e a tecnica
de confecs;ao utilizada sao determinantes da qualidade que 0 produto
pode oferecer ao ser consumido.
A par da manutens;ao da qualidade em toda a fileira do produto e necessaria uma correcta distribuis;ao das mais valias, a transparencia de process os e confians;a entre os diferentes agentes economicos intervenientes, pelo que a competitividade do produto exige uma
articulas;ao e urn enquadramento organizacional simplificados,
assentando num sistema de comunicas;ao desenvolvido com a
Aqulslc;Oes
Abate
por contrato
- - - Enpe$a
_ _ CireUb~o do j:raduto
_ _ _ _ • F1uwdelrn!~~
Certili~o. centrcio ~ qualidade
Fonte: (FRAGATA etal,1991).
Comerciallzst;ao
Dcsmancbae embalagem
Figura 7 - 0 enquadramento da raga mirandesa
Por tim, em jeito de conclusao, nao poderemos deixar de citar Fragata et
al (1991), "a estrutura integradora de uma raga local, como 0 bovino mirandes,
deve assentar numa torte organizagao enquadrada por uma poiftica coerente e continua do Estado, em particular nos dominios da investigagao genetica e social, do credito e do desenvolvimento experimental, em articulagao e coerencia com os actores do sistema comercial."
BIBLIOGRAFIA
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PEREIRA, JOAQUIM LIMA (1955) - Inquerito pecuario, Concelho de Vinais - Distrito de Braganc;a,
Servic;o de Reconhecimento e de Ordenamento Agrario .
SOUSA , FERNANDO; MENDONQA, ALVARO; FRAGATA, ANTONIO (1991) - Reflexoes sobre a
valorizac;ao de produtos agro-alimentares de montanha, 0 caso da Terra Fria do Nordeste de Tras-os-Montes, Seminario " Recursos Naturais do Nordeste Transmontano", ESE,
Bragam;a.